quinta-feira, 31 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Anulação de sentenças contra Dirceu reflete desmonte da Lava-Jato

O Globo

Tijolo por tijolo, vai ruindo a maior operação contra a corrupção da História brasileira

Em 2021, no julgamento que anulou a condenação do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava-Jato, por suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que a decisão valia apenas para Lula: “A suspeição do julgador se fundamenta em fatos concretos e específicos contra Luiz Inácio Lula da Silva em razão de interesses políticos próprios do ex-juiz Sergio Moro. Assim, a suspeição declarada não é aqui estendida a outros processos ou réus da denominada Operação Lava-Jato”.

A História mostrou que não seria assim. Outros se beneficiaram dessa jurisprudência. No episódio mais recente, o próprio Gilmar anulou, na última segunda-feira, as condenações do ex-ministro José Dirceu, estendendo a ele os efeitos da decisão sobre Lula. Foram anuladas também as condenações de Dirceu noutros tribunais baseadas nas decisões de Moro. Com isso, Dirceu fica desimpedido para concorrer nas próximas eleições.

O populismo prevalece - Merval Pereira

O Globo

Lula e Bolsonaro sabem que, numa disputa presidencial no Brasil, vale mais o carisma dos candidatos que programas de governo

Já fizemos duas consultas populares sobre o melhor sistema de governo para o país, uma em janeiro de 1963, outra em abril de 1993. Nas duas o presidencialismo venceu o parlamentarismo. Não é à toa, portanto, que o ex-presidente Jair Bolsonaro esnoba as alternativas que se colocam no campo da direita, e Lula continua imbatível como grande líder da esquerda. Os dois sabem que, numa disputa presidencial no Brasil, vale mais o carisma dos candidatos que programas de governo.

A vitória da centro-direita nas eleições municipais recentes demonstra que os partidos dessa tendência estão mais organizados nacionalmente que a esquerda, e Bolsonaro, mesmo tendo evidentemente saído menor desta eleição, continua sendo a melhor opção eleitoral da direita. Errou em São Paulo, quando ficou tentado a apoiar Pablo Marçal e disse que o prefeito Ricardo Nunes, afinal reeleito, não era o seu candidato ideal. O governador Tarcísio de Freitas bancou o prefeito desde o início, ganhou e cacifou-se como principal alternativa na corrida presidencial.

O acordo sobre o ajuste fiscal - Míriam Leitão

O Globo

As medidas de cortes de gastos do governo estão na avaliação jurídica antes do anúncio. Uma tarefa árdua num orçamento tão engessado

O acordo interno do governo sobre as medidas fiscais tem mais relevância do que parece. Normalmente, em qualquer governo, há visões diferentes de onde se esteja. Nesse, a Casa Civil quer mais investimento para viabilizar o PAC e a Fazenda quer reforçar o arcabouço fiscal. Os dois ministérios chegaram em entendimento sobre isso e agora é redação, avaliação jurídica e anúncio. A estratégia para abreviar o tempo no Congresso será apensar as medidas a alguma proposta de emenda constitucional que esteja tramitando. O que se fala no governo é que a dinâmica dos gastos obrigatórios tem que ser compatível com os limites do arcabouço fiscal. Isso é bem difícil.

Lula e Maduro numa relação abusiva - Malu Gaspar

O Globo

Os manuais de psicologia definem um relacionamento tóxico como aquele em que um dos lados ofende constantemente o outro com agressões, humilhações e por vezes violência física. Em geral, o ofensor pede perdão e promete mudar de comportamento, mas depois o ciclo recomeça, diante de uma vítima incapaz de reagir. Relações bilaterais não são namoro, e movimentos diplomáticos deveriam ser guiados por estratégia e racionalidade. Mas tudo na novela entre Brasil e Venezuela lembra a história de uma relação abusiva.

No último capítulo, nesta quarta-feira, Nicolás Maduro chamou seu embaixador para consultas, passo que pode ser seguido pelo rompimento de relações, e o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela enviou para a aprovação dos parlamentares uma moção declarando persona non grata o assessor especial do presidente LulaCelso Amorim.

O presente de Maduro para Lula - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Ao atacar a política externa brasileira, presidente venezuelano oferece a Lula a possibilidade de se reconciliar com a frente ampla que o elegeu

Nicolás Maduro deu um presente a Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente não o merecia, mas só tem a agradecer. A hostilidade venezuelana à diplomacia brasileira não poderia ter vindo em momento mais alvissareiro. Foi a carona que Lula precisava para alcançar o vento à direita que varreu o Brasil no domingo.

Maduro convocou o embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell, e, na ausência da embaixadora, o encarregado de negócios da Embaixada Brasileira em Caracas, Breno Hermann, para pedir explicações. A atitude ainda está separada por alguns degraus do rompimento de relações, mas dá pro gasto.

EUA abrem mais investigações para sobretaxar produtos brasileiros - Assis Moreira

Valor Econômico

Com Kamala Harris ou Donald Trump na Casa Branca, a onda protecionista nos EUA continuará forte

Os Estados Unidos abriram seis investigações contra três produtos brasileiros recentemente, numa sinalização de que o apetite para frear importações e proteger a indústria americana tende a continuar forte em Washington, seja quem for o próximo presidente a ocupar a Casa Branca.

Na semana passada, no auge da campanha eleitoral para a presidência, o US International Trade Commision (USITC) deflagrou duas investigações (dumping e subsídio) contra cápsula dura vazia exportada pelo Brasil sob alegação de causar prejuizos a produtores americanos.

No dia 18 deste mês, o órgão votou a favor de continuar duas investigações para sobretaxar produtos de aço resistentes à corroção originários do Brasil, igualmente sob a alegação de que seriam ‘vendidos abaixo do valor de mercado e subsidiados’ pelo governo brasileiro.

O voto dos trabalhadores nos republicanos - Eric Posner

Valor Econômico

Os mercados de trabalho, ao contrário da maioria dos mercados de produtos, são locais. As pessoas não simplesmente arrancam suas raízes e vão caçar emprego noutro lugar

Uma característica marcante da política dos Estados Unidos hoje é a fuga dos “trabalhadores” - ou seja, em geral operários ou funcionários - do Partido Democrata. Durante muitas décadas após o New Deal, os democratas eram o partido que defendia os sindicatos, a segurança no local de trabalho e o salário mínimo, e os republicanos eram os campeões das empresas.

No entanto, segundo o Gallup, a proporção de republicanos que se identificam como “classe trabalhadora” ou “classe baixa” cresceu de 27% em 2002 para 46% atualmente, enquanto a parcela de democratas da classe trabalhadora caiu ligeiramente (de 37% para 35%). Além disso, enquanto 46% dos eleitores brancos de famílias sindicalizadas apoiavam os democratas em 1968, essa proporção caiu para cerca de 33% em 2020, quase empatando com os republicanos. Desde a década de 1990, as pessoas em locais mais pobres e da classe trabalhadora têm preferido cada vez mais os republicanos aos democratas.

Economia, Kamala e Trump – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

PIB dos EUA vai bem, salários nem tanto; confiança econômica é das mais baixas em 30 anos

economia americana vai bem. Mas a popularidade de Joe Biden foi mal e Kamala Harris pode perder a eleição por uma ninharia de votos —ou ter mais eleitores do que Donald Trump no país inteiro e perder a eleição por causa de umas dúzias de distritos em meia dúzia de estados.

No entanto, "economia" é uma palavra vaga para pensar o que se passa na vida do eleitorado e nos seus tantos grupos diversos. Além do mais, vivemos em um tempo em que "economia", em qualquer sentido ou aspecto, pode fazer pouco efeito relevante. Para usar outra frase lunática de Trump como metáfora: "Poderia parar no meio da Quinta Avenida [Nova York], atirar em alguém e ainda assim eu não perderia votos", disse o candidato republicano em 2016.

Maduro passou um recibo para Lula – Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

O problema é que, até outro dia, Lula jurava que era possível ter uma conversa limpa com o ditador

O governo de Nicolás Maduro atualizou sua lista de inimigos do regime, lacaios da Casa Branca e operadores de uma conspiração contra a Venezuela. Agora, esse rol nada seleto inclui o brasileiro Celso Amorim. A chancelaria de Maduro emitiu uma nota em que chama o assessor de Lula de "mensageiro do imperialismo norte-americano".

Os delírios da ditadura são um recibo em papel passado da mágoa com o governo brasileiro pelo veto à entrada da Venezuela no Brics. Maduro não queria apenas a carteirinha de sócio de um clube frequentado por países influentes. Ele procurava uma credencial para romper o isolamento e lustrar a fraude que comandou para permanecer no poder.

Cartilha para eleger Tarcísio - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Meios, modos e eufemismos na promoção de um extremista à Presidência

Domingo passado, o governador Tarcísio de Freitas, após votar, convocou entrevista coletiva na TV. Não sozinho, mas ao lado de seu candidato a prefeito. Ocasião estranha para interação com a imprensa. Faltavam horas para o fechamento das urnas e não havia fato excepcional que pedisse, naquele minuto específico, uma coletiva.

Uma jornalista de cartilha perguntou: "O que aconteceu em relação ao PCC?" Tarcísio respondeu: "Teve o ‘salve’. Houve interceptação de conversas de presídios por parte de organização criminosa orientando determinadas pessoas a votar em determinado candidato". Outra voz emenda: "Qual era o candidato?" Tarcísio bateu: "Boulos".

A voz rouca de Bolsonaro - William Waack

O Estado de S. Paulo

Quadro político e judicial limita as opções do ex-presidente para se livrar de denúncias

O grande teste imediato para averiguar o peso político de Jair Bolsonaro e seu papel na direita é saber se consegue mobilizar no Legislativo forças suficientes para compensar o que enfrentará no Judiciário. Simplificando, é anistia versus denúncia. As articulações no Legislativo estão criando um tipo de geringonça política na qual Bolsonaro “comanda” um agrupamento nutrido. Porém, é apenas um entre pelo menos outros três.

A leitura dos fatos feita pelos operadores desse “Centrão radical” (na expressão do cientista político Carlos Pereira) – um amálgama que se acomoda em qualquer lado – é a de que Bolsonaro tem peso significativo, porém se afastando da condição de fator dominante nesse setor do espectro político. Em outras palavras, dado o fato de que Bolsonaro depende do Legislativo para se livrar da cadeia e voltar a disputar eleições, as raposas felpudas na Câmara entendem que o capitão lhes deve mais e não o contrário (não existe gratidão em política). O Senado talvez venha a ser mais sorridente para Bolsonaro e o que ele significa, mas só em 2026.

O lugar e a força da extrema direita - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Minoria no Brasil, ela não é pequena nem irrelevante

Há muito enraizadas na base do sistema político, as forças de direita saíram ainda mais encorpadas das recentes eleições municipais. Como se sabe, tais forças se espalham por muitos partidos —entre eles, ganharam os mais pragmáticos e dispostos a negociar e compartilhar o governo federal com o PT.

Jair Bolsonaro quedou apequenado na disputa, embora as legendas que abrigam seus correligionários mais fiéis —PL e Republicanos— tenham crescido em número de prefeituras (de 556 para 949) e população que administram (de 7,5% para 18,2 % dos brasileiros). A extrema direita é de fato minoritária no voto e na simpatia que lhe dedicam os brasileiros. Não é um caso isolado.

Entrevista | Maria Hermínia Tavares*: ‘Boulos precisará construir uma outra persona política’

Hugo Henud / O Estado de S. Paulo

Encerrada a eleição, esquerdas têm de pensar em como atrair ‘centristas’, diz professora da USP

“Para superar a rejeição da maioria, ele (Guilherme Boulos) precisará construir uma outra persona política. A de líder de movimento social que aposta na ação direta tem alta rejeição dos eleitores”

Em meio aos desafios enfrentados pela esquerda nas eleições de 2024, a cientista política e professora emérita da USP Maria Hermínia Tavares de Almeida defendeu em entrevista ao Estadão uma tática mais eficaz para atrair o eleitor centrista, considerando o fortalecimento das legendas de direita e de centro, e sugeriu que Guilherme Boulos (PSOL) terá de construir nova “persona política” para superar a rejeição.

O pragmatismo da política local ganhou mais força do que projetos ideológicos?

Tudo indica que Ricardo Nunes fez coisas, que a Prefeitura esteve presente nos bairros mais pobres e que o prefeito tem o que mostrar. Mas não é possível deixar de lembrar que o que parece estar acontecendo aqui – ou seja, a reeleição – ocorreu em muitas outras cidades e costuma ocorrer. Prefeitos se reelegem. Nunes tem uma enorme coalizão e muitos recursos do fundo eleitoral. A máquina da Prefeitura é poderosa. Entre um prefeito que mostra o que fez e um candidato que diz que fará, o eleitor prudente pode estar inclinado a votar no primeiro.

O que acha que faltou à campanha de Boulos para obter um desempenho mais favorável?

Não teve a ver com a campanha propriamente. Para superar a rejeição da maioria, ele precisará construir outra persona política. A de líder de movimento social que aposta na ação direta tem alta rejeição.

Quem sai mais fortalecido na chamada “primária” da direita em São Paulo?

Em São Paulo, saem fortalecidos o prefeito e o governador (Tarcísio de Freitas). No País, do PSD de Gilberto Kassab, a direita pragmática, ávida de recursos e poder. Direita pragmática que sempre predominou nas eleições municipais e para a Câmara Federal desde 1985.

Tarcísio pode consolidar uma nova liderança à direita, fora do bolsonarismo?

O governador apostou e ganhou. Saiu com uma imagem mais nítida. A liderança à direita está em disputa: há outros candidatos fortes, como o governador (Ronaldo) Caiado (de Goiás). Jair Bolsonaro tem força e catalisa eleitores de extrema direita. Por enquanto, tem que ser levado em conta por qualquer político que aspire a ser governador ou presidente unificando as forças de direita. O discurso do governador continua mostrando sua lealdade ao ex-presidente e sua identificação com propostas caras aos bolsonaristas, na educação especialmente. O empenho de separá-lo de Bolsonaro é maior entre os analistas, que buscam figuras de direita mais “razoáveis”, do que do próprio governador.

Os resultados municipais podem influenciar a eleição presidencial de 2026?

Não creio. O pleito presidencial tem outra lógica. De toda forma, essas eleições confirmaram que as direitas são muito fortes, o centro tende a gravitar em torno delas, e as esquerdas são minoritárias e precisam pensar em como atrair, de maneira consistente, centristas mais resistentes a ideias escancaradamente reacionárias como escolas cívico-militares, cura gay, proibição total do aborto, predação ambiental.

*Cientista política, é pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e professora emérita da USP

 

Só falta Sérgio Cabral no velório da Lava-Jato - Luiz Carlos Azedo -

Correio Braziliense

O ex-governador está na expectativa de decisões dos ministros do Supremo Gilmar Mendes, sobre a Operação Calicut, e Dias Toffoli, no caso de Curitiba

No rastro da desconstrução da Operação Lava-Jato, com a anulação das condenações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), que voltou à vida política plena, podendo concorrer a qualquer cargo político, a bola da vez é o ex-governador fluminense Sérgio Cabral Filho, que ficou preso de novembro de 2016 a dezembro de 2022, quando obteve o direito de prisão domiciliar. Dois meses depois, deixou a prisão domiciliar. Ele fora condenado a mais de 400 anos de prisão. Cabral não tem condenação em última instância, ou seja, sem chance de recurso. Como já foi sentenciado em segunda instância, porém, é impedido pela Lei da Ficha Limpa de disputar eleições. Ele governou o estado de 2007 a 2014.

Eleição: vencedores ocultos - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Os grandes eleitores no pleito de 2026 não serão da  direita,  da esquerda, do centrão, do lulismo, do bolsonarismo,  fascistas ou  comunistas. Serão  as novas tecnologias.  Os verdadeiros vencedores estão ainda ocultos, e insurgirão no meio do  processo eleitoral. Com isso, estaria com os dias contados o modelo de polarização ideológica, cujo propósito, explícito, é evitar a pulverização de recursos entre muitos partidos políticos e, implícita, de gerar negócios nem sempre confiáveis. O sistema está viciado . A inteligência artificial já sabe.

Chegou-se a registrar no Congresso  Nacional a presença de representações de 38 partidos políticos. Essa pluralidade  sempre era acusada, entretanto, de desaguadouro de negociatas com recursos públicos, quando da sua repartição e apropriação .    E não  havia necessidade sequer de prestar contas - senão partidária, ao Superior Tribunal Eleitoral ,que quase sempre fez  "vistas grossas" para o problema.

Agora vieram as eleições municipais.  Os analistas parecem muito conservadores ao refletir as possíveis consequências. Somados, no segundo turno, os votos dados aos perdedores ( 42 %, estimativa) mais a abstenção de  29,26,%,  percebe-se que os vencedores não receberam  mais de 40% dos votos . Em Santos a abstenção superou os  votos do vencedor.  

Lançamento | Livro de Paulo Fábio

Amigas e amigos. 

Compartilho com vocês a peça para a reta final da divulgação do livro. Ela pode, inclusive, ser postada no Instagram no formato carrossel. 

Muito grato a @diogodafaire pela criação desse presentaço. E a cada um(a) de vocês que puder dar uma última força para fazer do livro um texto de informação e reflexão e também pretexto para um encontro feliz na sexta-feira. Até lá!