terça-feira, 7 de janeiro de 2025

O Que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ordem judicial para investigar israelense foi descabida

O Globo

Justiça brasileira extrapolou sua competência em caso de soldado reservista que já saiu do país

A decisão da Justiça Federal de acatar pedido feito pela Fundação Hind Rajab, uma ONG pró-palestina, para que Yuval Vagdani, um soldado reservista israelense de 21 anos de férias na Bahia, fosse investigado sob a suspeita de ter cometido crimes de guerra na Faixa de Gaza foi descabida. O soldado deixou o Brasil no fim de semana, mas o episódio ficará marcado como um excesso do Judiciário local. Coube ao Ministério Público Federal (MPF) explicar que Vagdani não era residente no Brasil e, segundo o Direito Internacional, o Juízo Federal carece de “competência para analisar o tema”.

Em petição feita em dezembro, os advogados Maira Pinheiro e Caio Patricio de Almeida, contatados pela Hind Rajab, pediram apuração na seção judiciária da Bahia. “Após cumprir seu serviço militar como membro do 432º Batalhão das Brigadas Givati e, de maneira sorridente e debochada, documentar a própria participação no cometimento de crimes de guerra, o noticiado [Vagdani] viajou com amigos e encontra-se neste momento em Morro de São Paulo, conforme registro publicado por ele próprio na rede social Instagram em 25 de dezembro de 2024”, escreveram os advogados.

Feliz Ano Novo - Merval Pereira

O Globo

“Ainda estou aqui” leva aos cinemas do país milhões de brasileiros para conhecer uma parte de sua História que lhes tem sido negada por anos a fio

A explosão de alegria que a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro nos proporcionou tem diversos significados, como uma hipotética revanche da mãe, Fernanda Montenegro, que, na opinião de Glenn Close, e de todos os brasileiros, deveria ter ganhado o Oscar de melhor atriz em 1999 pelo filme “Central do Brasil”, em vez de Gwyneth Paltrow. O reconhecimento mundial de um ícone brasileiro, assim como foi com Vini Jr. sendo escolhido o melhor jogador do mundo pela Fifa, sempre levanta o astral de um país como o nosso, se debatendo há anos entre tapas e beijos para se equilibrar como uma sociedade justa e o menos desigual possível.

Mas o que o filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, tem de mais edificante é levar aos cinemas do país milhões de brasileiros para conhecer uma parte de sua História que lhes tem sido negada por anos a fio. Especialmente uma juventude que, nascida já na redemocratização, não aprende na escola o que se passou antes de nascerem.

Contra a marcha da insensatez - Paulo Hartung

O Estado de S. Paulo

A prescrição recomenda fugir das armadilhas da repetição de erros, do desperdício das lições da História e da cegueira em face da racionalidade

Há exatos 40 anos à disposição dos leitores, o livro A Marcha da Insensatez: de Troia ao Vietnã, da historiadora norteamericana Barbara W. Tuchman (1912-1989), porta mensagem atualíssima àqueles que conduzem os destinos de nações e, também, àqueles com responsabilidades sobre o fazer político-institucional. Sua análise centra-se no fato de que, ao longo dos tempos, repetem-se ações governamentais que se voltam contra o interesse dos próprios governos e de seus governados, numa prevalência da insensatez sobre a prudência.

No livro, a autora pergunta: “Por que os detentores de altos cargos agem tantas vezes de forma contrária ao que a razão aponta e o interesse próprio esclarecido sugere?”. As repostas variam, conforme cada caso, mas o grande valor dessa abordagem é apontar que impulsos guiam, História afora, uma marcha da insensatez persistente e onipresente – e quiçá nos fazer enxergar nossa própria realidade; descobrir se também estamos na trilha dos insensatos (falta de racionalidade e bom senso), em vez de seguirmos na marcha da prudência (qualidade de quem age cautelosa e racionalmente para evitar más consequências dos seus próprios atos).

Maledicência - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

No dia 23 de dezembro de 2024, Flávio Dino suspendeu o pagamento de emendas de comissão. Já o fizera em agosto, num período em que a distribuição estava limitada pela Justiça Eleitoral. A nova suspensão, coincidente com o início do recesso parlamentar, viria logo depois de o governo aprovar o seu pacotinho fiscal. A cronologia dos atos sugere. O ministro suspendera o movimento em agosto, quando emendas não podiam ser pagas. Suspendeu-o novamente em dezembro, coincidindo com o começo das férias no Congresso – e após o governo ter aprovado seus projetos no Parlamento.

Só pode ser suspenso de novo o que fora liberado. Liberado em 2 de dezembro. Mesmo com a evidência de que a Lei Complementar 210 afrontava as determinações do Supremo.

Gastança e especulação -Luiz Gonzaga Belluzzo

Valor Econômico

Nas profundezas do processo de criação de valor e geração de rendimentos está o demônio da liquidez

Esparramados nos jornais e salpicados nos debates televisivos, editoriais, artigos e matérias de economia tocam o realejo da “gastança” e da “especulação”.

Começamos com a gastança. Marx, Keynes e Schumpeter desvendaram entre as funções dinheiro sua forma capitalista de riqueza-potência, a ponte que enseja a passagem para o futuro.

Ademais de um meio de circulação de mercadorias e ativos existentes, o dinheiro em sua forma capitalista é, sobretudo, uma aposta na geração e acumulação de riqueza futura, o que envolve a aquisição de meios de produção com o propósito de capturar um valor monetário acima do que foi gasto. Se não há aposta na criação de riqueza futura, não há gasto e, se não há gasto, o circuito da renda monetária fenece.

Crédito e dívida são essencialmente formas de criação de moeda como riqueza potencial. Isso significa que, no capitalismo, o dinheiro não se limita a facilitar a troca de mercadorias e serviços, mas engendra sistematicamente a multiplicação de ativos na economia. Assim devemos considerar a construção de uma nova fábrica ou as apostas nos mercados futuros que cuidam da flutuação de preços dos ativos subjacentes, tais como commodities, juros e câmbio. Sempre de olho no futuro.

2025 deve ter idas e vindas na agenda fiscal - Luiz Schymura

Valor Econômico

Tudo leva a crer que o ano será de muita turbulência, fazendo com que as expectativas dos agentes econômicos fiquem muito voláteis

O ano de 2025 se inicia trazendo muitas indagações sobre o caminho da economia política internacional. Não por acaso, há muita atenção e preocupação com as consequências para a economia brasileira. Como destaca meu colega Bráulio Borges, a incerteza sobre a política comercial dos EUA quase quadruplicou entre agosto e novembro, atingindo o maior nível já registrado desde 1960, quando tem início a série histórica do indicador baseado em notícias (Monthly TPU index). Estudo usando esse indicador aponta que aumentos da incerteza comercial global geram impacto negativo bem evidente no investimento privado.

A IA de 2025 não é como a do ano passado – Pedro Doria

O Globo

Dois jogadores podem fazer com que este ano de 2025 seja bem diferente no terreno da inteligência artificial. Um já era conhecido, mas deu mesmo as caras nas últimas semanas de dezembro. O outro, para quem não acompanha esse mundo com a lupa, parecerá ter surgido do nada. É uma IA chinesa, a DeepSeek, que, tendo sido treinada apesar dos muitos limites tecnológicos impostos pelos Estados Unidos, parece que em várias funções é superior ao GPT. Com duas diferenças relevantes: foi treinada com muito menos dinheiro e é livre. Qualquer um pode baixar, usar, sem custos.

Oito de Janeiro de 2023 jamais pode ser esquecido - Jorge Messias

O Globo

A sociedade brasileira demonstrou o apego ao regime democrático. E atribuo isso à resposta institucional firme

Há dois anos testemunhamos uma série de acontecimentos que constará dos anais da sociedade brasileira como um dos mais sombrios momentos da nossa democracia.

Acompanhamos atônitos o intolerável! Extremistas inconformados com o resultado eleitoral levando adiante um ataque contra as instituições republicanas, atentando, mais precisamente, contra a democracia brasileira.

Não foram meras investidas às sedes dos Poderes da República. Na verdade, foi uma tentativa violenta de tomar o poder, em afronta, afinal, ao Estado de Direito.

Também não foram acontecimentos isolados, mas o que aconteceu no 8 de Janeiro de 2023 foi o clímax de eventos decorrentes do processo de radicalização política, alimentado pela disseminação de notícias falsas, desinformação e discursos de ódio, que se apresentaram como ameaças reais à nossa estabilidade democrática.

Eliane Cantanhêde – De alma lavada

O Estado de S. Paulo

O Globo de Ouro de Fernanda Torres, a três dias do segundo ano do 8/1, é um troféu à democracia

O Globo de Ouro da nossa Fernanda Torres e o próprio lançamento de Ainda Estou Aqui lavam nossa alma brasileira e vêm num momento muitíssimo especial, com o mundo tomando rumos preocupantes e o Brasil comemorando a resistência da nossa democracia e alertando para o risco que todos corremos de um golpe de claro viés militar.

Fernanda mobilizou o Brasil e surpreendeu o mundo ao encarnar a grande guerreira Eunice Paiva e trazer o troféu justamente três dias antes de o aterrorizante 8 de janeiro de 2023 completar dois anos. Um prêmio para o talento incontestável de uma atriz incrível, com uma mãe incrível e de uma família incrível, mas também para nós, brasileiros.

O filme de Walter Salles, estrelado também por Selton Mello, impecável no papel de Rubens Paiva, já seria fantástico em qualquer época, mas é especialmente oportuno ao enaltecer a resistência quando o País comemora a vitória da democracia. A Polícia Federal investigou e o Supremo Tribunal Federal vem punindo com rigor os atos e os criminosos que vandalizaram o Planalto, o Congresso e o próprio STF. E a investigação e as punições não acabaram.

Consagração de Fernanda Torres celebra a democracia – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Ainda estou aqui é um exemplo da história como presente, quando o ex-presidente Bolsonaro e um grupo de militares são acusados de tentativa de golpe de Estado

Na sequência do ano novo, um rito de passagem no qual as esperanças se renovam, o Brasil se ufana com a merecidíssima conquista do Globo de Ouro de melhor atriz por Fernanda Torres, protagonista do filme Ainda estou aqui, de Walter Salles, sucesso de bilheteria no Brasil e da crítica mundial.

O filme não repetiu o feito de Central do Brasil, do mesmo diretor, que ganhou o Globo de Ouro em 1999, mas redimiu a não premiação de Fernanda Montenegro, sua protagonista, diva da cultura brasileira — numa das melhores interpretações de sua carreira no cinema —, que aparece no final do filme, quando a matriarca da família Paiva já estava com Alzheimer.

Foi bonito ver ícones do cinema mundial, como Kate Winslet e Tilda Swinton, reverenciarem a vitória de Fernanda Torres, o que significa o reconhecimento também da qualidade do nosso cinema pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, a meca da industrial cinematográfica mundial. Uma vitória da cultura brasileira e, ao mesmo tempo, um resgate da nossa história política.

Eunice, Fernanda e a luta contra o esquecimento - Patrícia Machado*

Correio Braziliense

A história de Eunice Paiva, vivida intensamente por Fernanda Torres, nos lembra que a memória é um campo de batalha onde o esquecimento e a impunidade precisam ser confrontados

Em uma das cenas mais emblemáticas protagonizadas por Fernanda Torres em Ainda estou aqui, da areia da praia a personagem Eunice Paiva olha para a rua enquanto a família feliz se reúne para uma fotografia. Fernanda não diz nada, mas, com um olhar expressivo, que se direciona para longe da câmera, antevê o futuro. Ali, a personagem pressente o que está por vir. A passagem de um veículo do Exército pela orla da praia de Ipanema contrasta com o dia ensolarado e anuncia tempos trágicos para a família Paiva e para o Brasil.

Hoje, o país comemora a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro, que encarnou a história de uma mulher que foi vítima da ditadura militar. Para além das lutas políticas de Rubens e Eunice, o filme foca em um momento que sintetiza os efeitos de uma política autoritária que perpetua a impunidade. Na sala de cinema, assistimos aos policiais invadirem a casa de um deputado, homem de classe média alta, e o levarem embora, sem nenhuma explicação. Rubens Paiva nunca mais retorna. Os responsáveis pelo crime não foram punidos, o corpo de Rubens nunca foi encontrado e a justiça não foi feita. Uma história que grande parte do país desconhecia ou simplesmente esqueceu.

Democracia não é o que você pensa - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Direita deve rechaçar negacionismo das urnas, e esquerda precisa evitar associar oposição a ameaça democrática

A diplomação do próximo presidente americano transcorreu sem incidentes. As urnas só são contestadas —como no 6 de janeiro de 2021— quando Trump perde. Ou quando Bolsonaro perde. Nesta quarta, no 8 de janeiro, será nossa vez de lembrarmos a versão brasileira do pastiche americano.

Em 21 de março de 2022 escrevi nesta Folha: "De uma coisa podemos ter a mais tranquila certeza: caso perca as eleições, Bolsonaro tentará desacreditar as urnas e causar tumulto, numa reedição da invasão do Capitólio americano em janeiro de 2021" na coluna "O Telegram tem o direito de ignorar a Justiça brasileira?". Dito e feito. Não era uma previsão arriscada. A estratégia era explícita.

Aqui, como lá, fomos submetidos a meses de mentiras sobre as urnas, vindas sempre do mesmo grupo. Depois da derrota, o fanatismo precisou de uma catarse. Lá, acreditaram que poderiam impedir a diplomação na marra. Aqui, que a quebradeira dos prédios públicos provocaria uma intervenção militar.

STF brinca com o casuísmo - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Corte não tem controle sobre a forma como a sociedade interpreta suas decisões e por isso precisa fugir de polêmicas menores

Se há algo que nenhum autor controla, é a forma como será interpretado. Karl Marx provavelmente ficaria chocado com o caráter autoritário dos regimes que proclamavam agir segundo suas ideias. O projeto marxista, afinal, era um plano de emancipação, não de subjugação, da humanidade.

E a forma como cada texto, palavra ou gesto é interpretado depende muito do ambiente circundante. Se em tempos de paz social dá para travar debates públicos sobre questões polêmicas de modo razoavelmente maduro, em momentos de grande polarização afetiva ocorre o inverso. Aí, tudo o que fuja a um juramento de lealdade total a um dos lados na contenda será visto como manifestação de apoio ao outro polo.

Dino mexeu num vespeiro - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A cada decisão de Dino, ficam mais claras as ilegalidades no uso das emendas

A cada movimento do ministro Flávio Dino no universo das emendas parlamentares, ele nos mostra que mexeu num ninho de marimbondos dos mais perigosos.

Recentemente foram um projeto militar e organizações não governamentais, mas já estão implicados órgãos do Executivo, prefeituras, deputados, senadores e respectivos apaniguados.

A Polícia Federal está no encalço desse pessoal, cujas atividades há muito estavam a requerer controle. Convém pontuar que Flávio Dino não está à frente do assunto por vontade própria.

O bloco dos inelegíveis - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Colecionador de escândalos e inquéritos, Washington Reis é o candidato do bolsonarismo à sucessão de Cláudio Castro

Com a desculpa de agir em nome da liberdade ou da pátria, certos políticos se movimentam num reino independente, onde só a sua lei vale. Na hora de gerir o que na verdade é um negócio particular, não há diferença entre legalidade e ilegalidade. Comportam-se como gângsteres.

inelegibilidade, por exemplo, tornou-se uma virtude. Inelegível, mas insistindo em candidatar-se, Bolsonaro quer um companheiro de condição para governar o Rio a partir de 2027: Washington Reis, secretário de Transportes de Cláudio Castro. Este, por coincidência, está ameaçado de ficar inelegível e de ter o mandato cassado.

Em 2016, Reis foi condenado no STF a sete anos de prisão por crime ambiental ao fazer um loteamento clandestino em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, seu reduto eleitoral. Apesar da sentença, não cumpriu pena. Ele diz ter meios jurídicos para derrubar o impeditivo, embora tenha sido obrigado a abandonar a chapa de Castro em 2022.

Viva a arte, viva o cinema brasileiro - Guto Rodrigues

Estou muito feliz com a consagração de Fernanda Torres, como melhor atriz, no Globo de Ouro, um momento histórico inesquecível. A arte e a ética corrigem as deformações e a insanidade da vida, não joga pra debaixo do tapete, os crimes dos algozes da ditadura, não se conformam com o "melhor é deixar pra trás".

Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, traz tanta verdade, tanta leveza e serenidade. Uma frágil mulher desafia e desvela a face oculta e monstruosa da ditadura, nos revelando que não é possível deixar que se exaltem torturadores, assassinos como o ídolo de Bolsonaro, Coronel Ustra.

A veneranda Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, em cena curta, sem fala, acometida pelo Alzheimer, expressa em seu rosto, ao ouvir reportagem sobre seu marido Rubens Paiva, que nem a doença que destrói as funções cerebrais conseguiu apagar sua triste perda.

Parabéns, Fernandinha Torres, minha lindinha, 25 anos depois, você com sua grandeza e simplicidade completa a jornada que sua mãe iniciou também, com Walter Sales.

O fascismo que governou, recente, o nosso país e tentou acabar com a cultura e diminuir e desvalorizar seus artistas, ocasionando por desgosto, a perda do ator Flávio Migliaccio, para o suicídio.

Com a vitória de Fernanda Torres a arte e a ética dão a volta por cima e o colocam em seu lugar de desprezo, insignificância e repulsa. Ditadura nunca mais! Viva a arte, viva o cinema brasileiro!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Mudança climática impõe às cidades maior preparação

O Globo

De 3 mil municípios que enfrentaram desastres nos últimos anos, 60% não têm planos de risco ou de contingência

A tragédia vivida pelos gaúchos no ano passado, quando chuvas torrenciais mataram mais de 180 moradores, deixaram milhares de desabrigados, levaram serviços ao colapso e comprometeram a infraestrutura, deveria ter surtido efeito pedagógico em políticos e gestores. Esperava-se que se preparassem melhor para eventos climáticos cada vez mais frequentes e devastadores. Pelo visto, pouco se aprendeu com as cenas dramáticas que comoveram o Brasil.

Dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostram que, de 2.977 cidades de estados que registraram desastres climáticos nos últimos anos, a maioria (60%) não tem planos de risco ou de contingência, como mostrou reportagem do GLOBO. O levantamento inclui municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e Espírito Santo. Na Bahia, de 417 prefeituras, apenas 25 (6%) produziram planos de riscos. Mesmo no Rio Grande do Sul, que guarda cicatrizes do dilúvio, de sete municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre atingidos pelas cheias, apenas dois se prepararam.

A única certeza de 2025: nova reforma eleitoral - Bruno Carazza

Valor Econômico

Por determinação constitucional e oportunismo, classe política já se movimenta para mudar as regras para a eleição do ano que vem

Começou a segunda metade do governo Lula 3 e são muitas as indefinições no horizonte. A começar pela batalha relativa às emendas orçamentárias, que mobiliza a cúpula dos Três Poderes, passando pelas dúvidas quanto à sustentabilidade do arcabouço fiscal e o teste da autonomia do Banco Central com uma diretoria alinhada ao presidente num cenário de juros em elevação, e finalmente chegando às movimentações para a corrida presidencial de 2026, o ano promete fortes emoções.

A única certeza que temos, porém, é que até o dia 4 de outubro o Congresso aprovará uma nova lei que mudará as regras do processo eleitoral brasileiro. Trata-se de um fenômeno tão certo quanto os ciclos lunares, uma vez que a nossa Constituição possui um dispositivo determinando que qualquer lei que altere as regras eleitorais só entra em vigor um ano após a sua publicação (CF, art. 16). O fato de ser uma norma constitucional não quer dizer nada - haja vista a quantidade de comandos de nossa Carta Magna que sequer foram regulamentados e aqueles que, mesmo o sendo, são simplesmente ignorados pelo poder público.

Virada de ano num país que não muda – Fernando Gabeira

O Globo

Projeto de reduzir custos do governo revelou como é difícil o gasto racional; estamos longe de um nível necessário de austeridade

A virada do ano mexe com todos. Creio, no entanto, que para os mais velhos não há grandes planos. Apenas a gratidão por sobreviver. Tendemos a cortar o tempo em fatias menores: as tardes de maio, manhãs de domingo, a hora do crepúsculo, algumas auroras, o momento do adeus.

Comprei um aplicativo de gravação que registra a voz, estampa o texto e ainda dá um título. Uso para mandar alguns roteiros de estudo para minha filha, que viaja muito e gosta de estar em dia com alguns temas, como a crise do Oriente Médio, presente em muitas conversas.

O título de uma gravação despretensiosa diz muito para mim: “A arte de adiar a morte, as histórias de Sherazade”. Personagem fascinante das Mil e Uma Noites, ela usava sua habilidade de contar histórias como um artifício para adiar sua execução.

Diante do Quarteto do Caos – Demétrio Magnoli

O Globo

Jimmy Carter, o melhor ex-presidente da História dos Estados Unidos, terá seu funeral de Estado na quinta-feira. Trump prometeu comparecer. Há, na desafortunada Presidência do democrata, uma lição preciosa para o chefe do Maga.

Carter, homem de convicções morais, escolheu o pragmatismo na hora de confrontar os grandes dilemas geopolíticos de sua época. Seguindo o rastro de seu antecessor republicano, o sombrio Nixon, consolidou a aproximação com a China, estabelecendo relações diplomáticas e reconhecendo o princípio de “uma China”. Por meio daquele gesto, os Estados Unidos enterraram a ideia de independência de Taiwan, em troca do compromisso tácito chinês de não invadir a ilha rebelde.

Sob a inspiração de Kissinger, Nixon aproveitou a oportunidade de aprofundar a cisão entre China e URSS. Carter concluiu o edifício da parceria, convencido de que o país pós-maoista ainda miserável estava destinado a restaurar sua grandeza de outrora.

Para evitar o custo alto do juro, governo precisa dar resposta fiscal - Sergio Lamucci

Valor Econômico

Para impedir que as taxas fiquem nas alturas, causando estragos na atividade e elevando a dívida pública, o governo precisa enfrentar a expansão dos gastos obrigatórios

A economia brasileira começa 2025 com juros elevadíssimos, que terão impacto sobre o ritmo de crescimento da economia, ao afetar a vida de empresas e consumidores, e sobre as contas públicas, ao elevar os gastos financeiros do setor público. Para evitar que as taxas fiquem nas alturas por muito tempo, segurando a atividade e elevando ainda mais a dívida pública, o governo precisa enfrentar com firmeza a expansão das despesas obrigatórias, algo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se recusado a fazer. O custo da inação na área fiscal tem se traduzido num dólar na casa de R$ 6, em um mundo mais adverso para emergentes, e em juros de longo prazo na casa de 7,5%, descontada a inflação.

Céu de brigadeiro para a direita mundial - César Felício

Valor Econômico

Alemanha, Austrália, Canadá são alguns dos países onde a esquerda tende a perder espaço

A vitória de Donald Trump nas eleições americanas no ano passado pode ser a primeira de uma série mundial de guinadas conservadoras.

O ano de 2025 no mundo não será tão agitado eleitoralmente como 2024, mas poderá representar uma troca de guarda em nações cuja política doméstica tem o condão de mudar o equilíbrio de poder em blocos regionais inteiros. Trump e o quase futuro copresidente dos Estados Unidos Elon Musk arregaçaram as mangas, especialmente o último, para interferir em processos eleitorais alheios. Na maioria dos casos, contudo, a tendência conservadora precede a intromissão da dupla de extremistas que tomará conta da Casa Branca.

Consequências econômicas de Trump 2.0 - Simon Johnson*

Valor Econômico

Trump está herdando uma economia forte, mas suas políticas mais emblemáticas farão quase nada de positivo pelos trabalhadores menos escolarizados ou melhorarão significativamente a vida da maioria dos americanos

O segundo governo de Donald Trump começa ao meio-dia de 20 de janeiro. Sua campanha eleitoral ininterrupta desde que perdeu para Joe Biden em 2020 sugere uma reformulação mais bem organizada de seu primeiro mandato, com o mesmo foco nos cortes de impostos para estimular a economia, tarifas mais altas para reformular o comércio dos EUA com o mundo, e a deportação do maior número possível de imigrantes para gerar mais oportunidades para os trabalhadores americanos. Mas os tempos mudaram e é improvável que a realidade corresponda à retórica.

Em 2016, quando Trump conquistou a presidência pela primeira vez, os EUA experimentavam um período prolongado de inflação baixa. O Federal Reserve (Fed) manteve as taxas de juros próximas de zero ao longo de todo o seu governo. Mas desta vez, é bem diferente. A inflação disparou durante a pandemia, e o Fed ainda está em guarda contra um ressurgimento - daí as taxas de juros permanecerem relativamente altas. Os cortes de impostos propostos por Trump implicam um estímulo fiscal para uma economia com baixo nível de desemprego. Qualquer sinal de superaquecimento será enfrentado por uma política monetária ainda mais apertada.

Remédio ou veneno? - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Decisão do STF de ligar a execução de emendas às regras do arcabouço recria o poder do Executivo

Quando maiorias devem governar e quando elas devem ser controladas? Essa é a pergunta que os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt se propõem a responder no artigo When should the majority rule? que acaba de ser publicado no Journal of Democracy.

Contrariando a interpretação dominante, que assume que “o sucesso duradouro de democracias necessariamente requer limites significativos à própria democracia”, Levitsky e Ziblatt argumentam que a atuação de controles que limitam ações de governos majoritários pode tanto fortalecer a democracia liberal, como também minar o seu funcionamento.

Precisamos estimular as conciliações de conflitos - Maria Tereza Aina Sadek

Folha de S. Paulo

É uma ênfase na convivência, na pacificação e na possibilidade de harmonia

Ouvimos com frequência sobre o excesso de ações judiciais tramitando no sistema judiciário brasileiro (segundo o Conselho Nacional de Justiça, eram 84 milhões em 2023), o que pode justificar em parte a também propalada morosidade nas soluções dos conflitos. Faz parte dessa realidade o fato de o Brasil ter a maior quantidade de advogados por habitante do mundo (1 para cada 253 pessoas).

Esses números superlativos não significam o atendimento ao que assegura a Constituição de 1988 quanto ao acesso de todos à Justiça (parágrafo 4º, art. 153: "a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual"). Sabe-se que um número restrito de litigantes concentra percentual expressivo dos casos em tramitação.

Mas há um ponto menos explorado nesse cenário complexo: o insuficiente estímulo à conciliação, que poderia não apenas reduzir a sobrecarga do Judiciário mas também atender melhor a população, a partir de soluções mais rápidas de litígios.

8 de janeiro precisa de contexto - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Imagens isoladas não são capazes de evocar a gravidade do ocorrido

Na próxima quarta, os ataques de 8 de janeiro completam dois anos. No entanto, ainda que a invasão à praça dos Três Poderes tenha se tornado simbólica da tentativa de golpe promovida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, suas imagens isoladas não são capazes de evocar a gravidade do ocorrido para parte expressiva da população.

Para muitos, as fotos e vídeos de milhares de pessoas comuns vestidas com as cores nacionais invadindo a praça dos Três Poderes e quebrando vidros de prédios indicam um ato de vandalismo reprovável, porém sem conexão com uma tentativa de golpe.

Tapa na cara - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Prefeito eleito defender a ditadura militar evidencia que a estupidez não está disposta a fazer concessão à civilidade no Brasil

Começar o ano ouvindo um prefeito reeleito democraticamente fazer apologia da "liberdade de expressão em defesa da ditadura militar" (como ocorreu na capital do RS) é uma triste evidência de que a estupidez não está disposta a fazer concessão à civilidade no Brasil.

Não há "valor maior" que a vida, um direito fundamental ameaçado quando há emprego exacerbado da força e intimidação moral. Aplica-se ao traficante que executa um jovem com tiro na cabeça por uma pisada no pé, ao policial que xinga e defende a "aniquilação" de uma jornalista durante as compras no supermercado, e aos políticos que se esquecem dos horrores e dos mortos e desaparecidos na ditadura.

Com essa polícia, para que bandidos? – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Suspeito é aquele que passa pela frente, e tome gás de pimenta, tiro pelas costas ou voar da ponte

Confira se essa descrição se aplica a alguma cidade que você conheça. Apesar do luxo de seus quarteirões abastados, ela abriga 2.000 favelas. Nelas, os moradores vivem em casas improvisadas, com puxadinho de tijolo aparente, alugadas do dono do pedaço. As ruas não têm calçamento, o correio não chega, e a luz é fornecida por "gatos". Não há rede de esgotos. Muita gente boa mora ali, mas suas visitas não lhe batem à porta com três dedos —já entram com o pé na porta. Cada favela é controlada por uma facção. Se às vezes a chapa esquenta, com tiros e granadas, é porque esse controle está sendo disputado por outra facção, pela milícia ou pela polícia.

domingo, 5 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Crime organizado representa ameaça para a democracia

O Globo

Facções criminosas aterrorizam países latino-americanos e buscam infiltrar instituições para garantir impunidade

Brasil não é o único país da América Latina cujas instituições se revelam incapazes de deter o crime organizado. Tráfico de drogas, de pessoas, roubo de combustíveis, mineração e desmatamento ilegais movimentaram, em 2021, entre US$ 68 bilhões e US$ 170 bilhões no Brasil, no México e na Colômbia, segundo análise do grupo Global Financial Integrity. Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estimou em 3,4% do PIB o custo do crime organizado para 22 países em 2022.

Pelas estatísticas das Nações Unidas, o Equador tem taxa de homicídios de 27 por 100 mil habitantes, o México de 26 e o Brasil de 21, ante média global de 5,8. O crescimento econômico saltaria 30% caso essas taxas caíssem pela metade nos centros urbanos, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). O PIB da região cresceria meio ponto percentual se elas estivessem na média global. “Pesquisa rigorosa e dados melhores são essenciais para formular políticas públicas que reduzam o crime com eficácia”, escreveram Ilan Goldfajn, presidente do BID, e Rodrigo Valdés, diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental. Eles citam êxitos recentes na Jamaica, onde crimes de gangues caíram 68%, e na província argentina de Rosário, onde houve redução de 65% nos homicídios em 11 meses.

Desafios do federalismo contemporâneo - Ricardo Lewandowski*

O Globo

Problemas exigem que os governantes dos entes federados abandonem quaisquer veleidades independentistas

Existem, do ponto de vista estrutural, duas formas de Estado: os unitários e os compostos. Os primeiros têm um único governo e não apresentam divisões internas, salvo para fins administrativos. Como regra, têm pequenas dimensões demográficas ou territoriais e são étnica e culturalmente homogêneos.

Os Estados compostos, em geral, são representados pelos estados federais, subdivididos em unidades política e administrativamente autônomas. Ocorrem em países de grande expressão territorial ou demográfica e até com expressiva diversidade étnica ou cultural.

A Federação é um fenômeno recente. Surgiu da união das 13 ex-colônias britânicas da América do Norte, que se transformaram em Estados soberanos em 1776, após sua independência da Inglaterra. Em 1787, adotaram uma Constituição comum, abdicando de sua soberania, embora mantivessem considerável grau de autonomia.

Cavalo-de-pau – Merval Pereira

O Globo

No mundo financeiro, acredita-se que só um “cavalo-de-pau” pode nos salvar. Uma maneira delicada de dizer que só um outro governo, não esse, colocará o país nos trilhos novamente

O presidente Lula tem fama de gastador, e a percepção de que o futuro da economia brasileira está ameaçado devido a essa tendência só pode ser revertida pelo próprio, que é quem comanda, sem contraste, um governo que tem um presente econômico bastante bom, mas que pode se transformar em uma crise grave fiscal.

Não é à toa que, no mundo financeiro, acredita-se que só um “cavalo-de-pau” pode nos salvar. Uma maneira delicada de dizer que só um outro governo, não esse, colocará o país nos trilhos novamente. A maldade do mercado financeiro, que faz o dólar e a Bolsa subirem ao anúncio de uma doença do presidente, reflete esse anseio por um novo governo, cruel recado, mesmo que metafórico.

Anote este nome - Dorrit Harazim

O Globo

Foi de Stephen Miller a decisão de implantar a política de separação forçada de famílias que cruzavam a fronteira ilegalmente

Convém falar de Stephen Miller. Primeiro, porque faltam poucos dias para o triunfal retorno de Donald Trump à Casa Branca como 47º presidente dos Estados Unidos. Segundo, porque, ao contrário dos crepitosos nomes já elencados para compor o primeiro escalão do novo governo, fala-se pouco de Stephen Miller. Ele prefere assim, basta-lhe saber ser o membro mais influente, temido, autoritário e perigoso da constelação trumpista. Deve achar ridículas as ostentações de ego de um Elon Musk ou Robert Kennedy Jr., pois prefere movimentar-se à sombra do poder. É de lá que pretende continuar a semear sua ideologia do ódio.

Miller, de apenas 39 anos, é a matriz teórica da agenda supremacista adotada por Trump. Está na órbita do movimento Make America Great Again desde a eleição de 2016, quando mal tinha dobrado a curva dos 30 — primeiro como autor dos discursos de campanha de Trump, depois como idealizador obsessivo das políticas anti-imigração encampadas pelo chefe. Agora, em 2025, volta a assumir seu poder influenciador sem ocupar qualquer ministério ou cargo que exija confirmação pelo Senado. Será apenas “vice-chefe de políticas”, o que não quer dizer nada, mas, no seu caso, é tudo o que quer: acesso irrestrito e gabinete vizinho a Trump.

A COP30 entre a diplomacia e o folclore – Elio Gaspari

O Globo

Começou a contagem regressiva para a 30ª Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, a ser realizada em Belém (PA), de 10 a 21 de novembro. Já germinaram duas correntes. Uma privilegia as discussões técnicas e a negociação diplomática. A outra estimula eventos folclóricos. Elas podem conviver, mas basta perder a mão para se produzir situações ridículas, como a da recente passagem do presidente americano Joe Biden por Manaus (AM).

Os eventos têm a virtude de distrair a atenção de quem quer debates sérios. Como a Amazônia é um prato cheio para encenações, a marquetagem tende a privilegiar eventos cenográficos. Eles darão brilho às figuras de penetras infiltrados no cenário de uma reunião diplomática.

A mídia no centro dos desafios - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

O Supremo vai precisar da comunicação para agir, com rigor, dentro do arcabouço legal

O Brasil nunca foi fácil, trivial, previsível, mas este 2025 vai dar o que falar – e o que escrever! A economia cravejada de interrogações, a política num caminho perigoso e pavimentado por emendas bilionárias, o Judiciário afundando com o peso de “penduricalhos” e diante de um dos desafios mais difíceis da história, as Forças Armadas em meio a um julgamento inédito de altas patentes, as polícias aterrorizando em vez de defender os cidadãos, o crime organizado vencendo a guerra. E o mundo de ponta-cabeça.

O Executivo terá de calibrar a política externa, com a presidência dos Brics, COP 30, Donald Trump no poder, os destroços de Gaza, a Ucrânia ao deus-dará, crises por toda parte; a economia, entre o populismo e o pragmatismo duro e insensível; a relação com um Congresso cada vez mais voraz, reacionário e sem compromisso com a Nação; a violência fora de controle, com governadores de oposição contra a ação federal direta. E, claro, os erros, titubeios e a saúde do presidente Lula.

A especulação e os equívocos da esquerda - Maílson da Nóbrega

O Estado de S. Paulo

A recente elevação do dólar e dos juros futuros mostrou a desinformação de políticos de esquerda

Até o século 17, o significado da palavra especulação nada tinha a ver com o mercado financeiro. Ainda hoje é assim nos países desenvolvidos. Segundo o Dicionário Oxford, especulação quer dizer “the forming of a theory or conjecture without firm evidence” (a formação de uma teoria ou conjectura sem firme evidência). Por exemplo, especular sobre a demissão de um ministro.

Na acepção moderna, ao se referir ao mercado financeiro, o Oxford define especulação como “investment in stocks, property, etc. in the hope of gain but with the risk of loss” (investimento em ações, propriedades, etc., na esperança de ganho, mas com risco de perda). Em países emergentes, nos quais o anticapitalismo gera desconfiança em relação às atividades das instituições financeiras e das bolsas de valores, muitos veem a especulação como algo nocivo. Isso pode ser consequência de desinformação, que costuma estar presente em grande parte da sociedade e da classe política.