sábado, 1 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

 

Denúncia comprova necessidade de ataque ao CV

Por O Globo

Operação deveria ser seguida de ocupação permanente, com policiamento e serviços públicos

São estarrecedores os métodos do Comando Vermelho (CV) para manter o controle do complexo de favelas do Alemão e da Penha. A denúncia do Ministério Público que serviu de base à megaoperação das polícias do Rio na última terça-feira é repleta de revelações sobre práticas repugnantes da facção. Mensagens interceptadas demonstram que o CV montou uma estrutura complexa de domínio, altamente hierarquizada e militarizada, levada a cabo por meio de tortura, execuções sumárias determinadas por um “tribunal” do tráfico e até um departamento para cuidar de propinas pagas a agentes da lei. Não há como nenhuma sociedade civilizada tolerar esse abominável estado de exceção.

Pejotização é inconstitucional, por Miguel Reale Junior

O Estado de S. Paulo

A fraude da pejotização não pode ser legitimada pelo Judiciário

O Supremo Tribunal Federal (STF) está julgando a licitude de contratos de prestação de serviços adotados em substituição ao contrato de trabalho para cumprimento de atividades-fim da empresa empregadora.

Diante do elevadíssimo número de processos sobre essa questão, objeto também do Recurso Extraordinário com Agravo n.º 1.532.603/PR, o ministro Gilmar Mendes, relator, determinou a suspensão de todos os feitos, atribuindo, assim, à matéria o caráter de repercussão geral. Logo, a decisão de mérito a ser proferida deverá ser observada por todos os tribunais.

Urgência Lewandowski; Xandão corregedor, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

É instrutivo observar a forma modesta como reagem Lula e Tarcísio de Freitas aos eventos havidos no Rio de Janeiro. O protagonismo da questão “segurança pública” para 2026 parece incômodo a ambos. Já que não podem ter sido pegos de surpresa pela centralidade eleitoral do tema, a hipótese é de que esse incômodo derive da existência concreta do fato “maior operação policial da história contra uma facção criminosa”; como se esperassem que o assunto se derramasse etereamente ano que vem adentro.

Esse era o desejo. O mundo real se impôs. Aí está o episódio; enclave material – um marco – a pressioná-los. Estão cobrados. Instados a se posicionar; e tendo ambos pouco a oferecer em matéria de realizações para segurança pública. Lula, ademais, limitado sob a dificuldade histórica da esquerda em se apropriar da atividade policial como valor, ao mesmo tempo ciente de que a maioria da população aprova a operação. Daí que, não lhe faltando chances de falar a respeito, tenha privilegiado a prudência de comentar em rede social.

Falta nome para isso, por Flávia Oliveira

O Globo

Foi o episódio mais letal da História do país, num território tragicamente acostumado a contar óbitos às dezenas

Quem vive, circula pelos bairros, acompanha a (in)segurança pública no Rio de Janeiro já se acostumou a superlativos. No estado, faz tempo, perdeu-se a conta dos inimigos públicos número um; apreensões de fuzis batem recordes sucessivos; confrontos armados multiplicam cadáveres. O que aconteceu nesta semana nos complexos do Alemão e da Penha, contudo, foi além dos padrões do ambiente hiperviolento da metrópole. Uma única operação contra o Comando Vermelho, a facção majoritária no estado, deixou mortos quatro policiais e 117 suspeitos. Foi o episódio mais letal da História do país, num território tragicamente acostumado a contar óbitos às dezenas.

Das cinco ações policiais de maior letalidade já registradas no Rio, segundo o Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (Geni/UFF), quatro ocorreram sob a gestão de Cláudio Castro, governador reeleito em 2022. Até a última terça-feira, o número máximo de mortes fora na operação da Polícia Civil no Jacarezinho, em maio de 2021, quando morreram um policial e 27 civis. O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) costumava classificar como chacina as ocorrências com três ou mais mortes. Nos últimos anos, a mudança de escala fez o Geni batizar de megachacinas os episódios com pelo menos oito óbitos. Não há nome para o que aconteceu no Alemão e na Penha nesta semana.

A leucena e o Alemão, por Eduardo Affonso

O Globo

A tal pacificação incluía implantar um policiamento mais presente e mais humano, permitir acesso aos serviços básicos

A leucena é uma planta exótica que prolifera de forma desenfreada. Sua estratégia é produzir muitas sementes, que germinam com facilidade, e liberar um composto que inibe o crescimento de outras espécies ao seu redor. Virou uma praga nas margens do Canal de Marapendi, sufocando a vegetação nativa e ameaçando a biodiversidade.

Volta e meia acontece uma “revitalização” do canal. As folhas são varridas (as amendoeiras que as produzem continuam lá, sem dar frutos comestíveis, sem atrair pássaros, sem permitir que a flora se desenvolva). Mesmo as árvores mortas permanecem. É trabalhoso remover o tronco e as raízes, plantar no lugar uma quaresmeira, um ipê, um jequitibá. As leucenas são cortadas — arrancá-las também dá trabalho — e rebrotam com ainda mais vigor. A erva-de-passarinho que estiver ao alcance da mão vai para a caçamba — o resto é deixado e se espalha para parasitar (até matar) o que tiver sobrevivido às espécies invasoras.

Dependente e ocupado ideologicamente, o Brasil resiste, por Roberto Amaral*

“Onde o poder público descuidou da integridade física dos mais pobres, o regime democrático não passa de uma fachada de papelão esburacada por tiros, chamuscada por pólvora queimada e borrifada de sangue.”
Eugênio Bucci, O Estado de SP, 30/10/2025
 
Nascemos como mera feitoria, ponto de apoio para naus sedentas de água, remanso de piratas e aventureiros. Na Colônia, sem povo, nosso destino foi traçado como economia primário-exportadora fundada na escravidão de negros e indígenas, a serviço das demandas do consumo europeu, via Lisboa — a metrópole decadente, salvando-se como entreposto de nosso comércio: pau-brasil, açúcar, minérios, algodão, carne, café... — que exportávamos, e de entrada do que necessitávamos, que era quase tudo.

Essa economia e esse comércio estabeleciam as bases da aliança do latifúndio e da incipiente burguesia comercial (que incluía os comerciantes, os traficantes de gente e os contrabandistas, de um modo geral) com a Coroa portuguesa e seus primeiros agentes — exatores do fisco, militares e o clero. Eram as raízes de uma estranha nação sem povo e, assim, sem projeto.

No Império, exportávamos mão de obra escrava (sob a forma de açúcar, minérios etc.) e tudo importávamos, como reclamava Joaquim Nabuco ainda no Segundo Reinado:

“[...] o Brasil é uma nação que importa tudo: a carne-seca e o milho do Rio da Prata, o arroz da Índia, o bacalhau da Noruega, o azeite de Portugal, o trigo de Baltimore, a manteiga da França, as velas da Alemanha, os tecidos de Manchester, e tudo o mais, exceto exclusivamente os gêneros de imediata deterioração. A importação representa assim as necessidades materiais da população toda, ao passo que a exportação representa, como já vimos, o trabalho apenas de uma classe.” (Discurso no Senado, 1884)
Esqueceu-se de dizer que importávamos também ideologia.

Sobre a mão de obra escrava se estabeleciam a economia e a política do Império, quando — é ainda a voz de Nabuco — “o espírito comercial e industrial do país parecia resumir-se na importação e na venda de africanos”, prenunciando o atraso relativo que se acentuaria nos dois séculos imediatos. 

Crime organizado não será combatido pelos gigolôs da violência, por Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

A macabra operação no Rio evidencia o fracasso país em dar segurança aos cidadãos

Governantes tem baixíssimo interesse em realmente enfrentar o problema da criminalidade

O estado de exceção é a antítese do Estado de Direito. Enquanto no Estado de Direito estamos todos submetidos ao império do direito, no estado de exceção imperam a violência e o arbítrio. Nestas quatro décadas de democracia não fomos capazes de universalizar o respeito às leis, especialmente para as populações pretas e pobres.

É cada vez maior o número de brasileiros que estão cotidianamente submetidos ao domínio perverso do crime organizado, que ocupa o vácuo deixado pelo Estado. Estima-se que facções criminosas e milícias dominem hoje mais de 20% da região metropolitana do Rio de Janeiro, explorando não apenas o tráfico mas todos os tipos de atividade. O Rio, no entanto, é apenas a ponta do iceberg.

A guerra de Castro, por Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Terrorismo, em qualquer de suas definições, inscreve-se no campo da política

Face à mexicanização do Brasil, o governo ainda não criou um diretório unificado antifacção

"Narcoterrorismo" –a palavra saltou da boca de Trump para a de Cláudio Castro, governador do Rio, enquanto tramita a PEC patrocinada por Derrite, secretário de Segurança de SP, que reclassifica as facções do tráfico como "terroristas". Palavras, às vezes, geram atos. A transferência das facções do universo da segurança pública para o da guerra propicia execuções sumárias, extrajudiciais, de supostos "combatentes inimigos". É o que fazem as bombas dos EUA no Caribe e no Pacífico. É o que fez no Rio a megaoperação de Castro.

Crise no Rio é deixa para bolsonarismo priorizar segurança e largar Bolsonaro, por Igor Gielow

Folha de S. Paulo

Agenda da violência é tema espinhoso para Lula e a esquerda, que nunca soube lidar com o problema

Gradação de reação de governadores no apoio a Castro mostra que há temor de associação com barbárie

A crise decorrente da ação mais letal da história da polícia do Rio, que até aqui deixou 121 mortos, tornou-se uma tábua de salvação discursiva para a direita e encurralou o governo Lula (PT), que vinha surfando uma onda de boas notícias rumo a 2026.

O embrião da reação é a criação do Consórcio da Paz, mais um grupo de trabalho num país acostumado a anunciá-los quando não tem solução para um problema. Assim, a associação entre governadores do espectro anti-PT serve de palanque de uma disputa retórica num campo em que a direita costuma ter vantagem.

É evidente que matar gente, promover encarceramento em massa e outras medidas "simples" (aspas compulsórias) não resolvem fundamentos da segurança pública.

O presente de Lula para Trump, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Há consenso no governo de que o Brasil terá de ceder e reduzir a tarifa do combustível

Impasse é político também porque o agro pressiona líderes do Congresso

Já há consenso no governo Lula para reduzir a taxa extra cobrada sobre o etanol norte-americano em troca de avanços nas negociações em relação ao tarifaço de 50% aplicado por Donald Trump a produtos brasileiros.

Integrantes do governo já comentam nos bastidores sobre a possibilidade de zerar a tarifa do etanol. Nos últimos dias, passou também a ser discutida a oportunidade de um anúncio da medida antes mesmo da primeira reunião de negociação do tarifaço, em Washington, com o vice Geraldo Alckmin e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores).A reunião pode acontecer na semana que vem ou na próxima.

Todos que apoiam a chacina são fascistas? Por Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

Foi chacina sim, mas nem todo apoio à chacina é de extrema direita; parte é medo antigo, dor acumulada e certeza de abandono

Brasil é conservador e se agarra a respostas autoritárias quando o Estado some

A foto dos corpos alinhados no chão não pede legenda. Foi chacina. Chacina não é um desastre natural que mata por acaso, como um terremoto ou uma enchente. A operação comandada pelo governador do RioCláudio Castro, teve planejamento, fuzil, aval e coletiva de imprensa. É bom lembrar que no Brasil não existe pena de morte –oficialmente, não.

As reações, como sempre, vieram no automático da nossa rinha: um lado romantiza a violência estatal, o outro finge que segurança pública se resolve com discurso. Tratar morto como "dano colateral" é covardia travestida de coragem. E, ainda assim, há algo que precisa ser dito com a mesma franqueza: para parte de quem aplaude, não é ideologia — é desespero.

Uma pesquisa da AtlasIntel, divulgada nesta sexta (31), mostra que oito em cada 10 moradores de favelas do Rio de Janeiro apoiam a "ação" contra o Comando Vermelho nos Complexos da Penha e do Alemão. Sim, foi uma chacina. Portanto, é preciso olhar com mais atenção porque tanta gente aplaude o discurso criminoso de que a mortandade produzida pelo Estado foi um sucesso.

Inovação e desenvolvimento no Brasil, por Marcus Pestana

O incremento da produtividade no Brasil, nos últimos anos, tem sido muito baixo. Entre 2019 e 2024, o aumento médio da produtividade por hora trabalhada foi de apenas 0,28% ao ano. A produtividade do trabalhador brasileiro corresponde a ¼ do norte-americano.

A produtividade está essencialmente ligada a três fatores: qualidade do capital humano (educação de alto nível e qualificação profissional); poder de inovação científico-tecnológico; e, infraestrutura (economias externas com efeitos multiplicadores sobre a geração de renda e a competitividade da economia).

Teríamos algum traço genético que nos impede de alçar voos maiores na corrida pela inovação e ganhos relevantes de produtividade? Claro que não. Vejamos, através de 3 exemplos concretos, como o brasileiro sabe fazer.

A mina de futuro, por Cristovam Buarque

Veja 

A revolução é oferecer escola de qualidade independente da renda

O Brasil sempre transformou suas terras em riqueza, mas ainda se recusa a aproveitar a mina de conhecimento dos cérebros de seus habitantes. Preferimos gastar bilhões de reais para perfurar o solo no fundo do mar a investir em escolas com qualidade para todos. Da ideia de que o atraso dos países vinha da exploração de nossas minas, difundiu-se o conceito, criado pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano, de “veias abertas” pelo colonialismo. A globalização acabou com a nitidez entre centro e periferia, mas ainda não percebemos os “neurônios ofuscados” pelas elites nacionais que impõem colonização interna ao manter o sistema educacional dividido entre escola-senzala e escola-casa-grande, que nega o aproveitamento de milhões de cérebros.

Massacre inútil, por André Barrocal

CartaCapital

As facções criminosas estão mais poderosas e não vão desaparecer com a execução de seus integrantes, como aposta o governador do Rio

A violência é a maior preocupação dos brasileiros em diversas pesquisas. Por trás do medo está o crime organizado. O PCC, de São Paulo, e o Comando Vermelho, do Rio, são as maiores entre 88 facções mapeadas pelo Ministério da Justiça. Grupos do gênero espalham-se nas ruas e nos negócios, estão por trás de muitos dos 40 mil assassinatos anuais e ajudam a, digamos, girar a roda da economia. A um ano das eleições, a população vê em cena dois modelos para enfrentar o problema. Um é do governo Lula, cristalizado em operações da Polícia Federal de agosto que atingiram o mercado financeiro e tomaram 1,2 bilhão de ­reais do PCC. Sem disparar um único tiro. É a aposta na inteligência. O outro é o do governador Cláudio Castro, do Rio, que prefere o confronto e acaba de liderar a maior chacina policial da história do Brasil, graças a uma violenta incursão no quartel-general do CV. Certos governadores direitistas apoiam a solução “tiro, porrada e bomba” e viajaram ao Rio para parabenizar Castro pela matança.

Início da caminhada, por Jamil Chade

CartaCapital

Pedido de perdão pelos crimes da ditadura foi histórico, mas novos passos terão de ser dados

Em um ato histórico, a presidente do Superior Tribunal Militar, Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, pediu desculpas pelos crimes da ditadura. Diante de uma Catedral da Sé lotada, durante a cerimônia que marcou os 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog, sua atitude pode ser considerada como um divisor de águas na história da instituição. O gesto acena para o futuro. Em seu discurso, a ministra deixou claro que não tolerará novos atentados contra a democracia. Em outras palavras, o STM não fechará os olhos para generais envolvidos em conspirações golpistas.

O tour asiático rende frutos, por Aldo Fornazieri

CartaCapital

Durante a visita oficial à Indonésia e à Malásia, Lula amealhou ganhos políticos, diplomáticos e também econômicos

viagem de Lula à Indonésia e à Malásia, para o encontro da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), foi bastante exitosa, tanto do ponto de vista político quanto do diplomático e econômico. Poderia ter sido perfeita não fosse a infeliz declaração do presidente de que “os traficantes são vítimas dos usuários de drogas também”.

Do ponto de vista político, o maior feito foi o encontro com o presidente dos EUA. A reunião transcorreu de forma cordial, sem os constrangimentos que Donald Trump frequentemente impõe a mandatários de outros países. A foto dos dois líderes se cumprimentando e sorrindo alcançou recorde de visualizações e engajamentos nas redes sociais de Lula.

Não confunda Cupom com Copom, por Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

Economistas desconhecem a importância do Cupom Cambial na fixação de câmbio, juros e inflação

O que será, que será?… / O que não tem certeza nem nunca terá / O que não tem conserto nem nunca terá / O que não tem tamanho… (O Que Será, música de Chico Buarque).

Miragem é um fenômeno óptico causado pelo desvio da luz (refração) que ocorre através de camadas de ar com temperaturas diferentes, que cria imagens deslocadas ou invertidas de objetos distantes. A imagem que sempre nos vem à mente é de uma pessoa morrendo de sede, vagando moribunda no deserto, pensando em encontrar um oásis. O desditado corre e se joga ansiosamente atrás de água, cai na real, mergulhado na areia.

Nas miragens da macroeconomia mainstream, muitos vivem a ilusão do Banco Central de um país de moeda não conversível com total independência para fixar a taxa de juros básica. Essa miragem está inscrita no regime de meta de inflação. Um delírio teórico não causado pelo cansaço de caminhar exaustivamente no deserto, mas por achar que somos o Federal Reserve (Banco Central norte-americano) e nossa moeda igual ao dólar. Cansaço algébrico, econométrico, miragem de manual de macroeconomia.

Acreditam como Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, na consigna: todos somos um! Os donos da certeza não tomam conhecimento da arbitragem entre câmbio e juros. Tal fenômeno não existe: é uma miragem do setor financeiro internacional.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) seria uma espécie de encontro entre os Cavaleiros da Távola Redonda e Ricardo Coração de Leão. Decidem de forma totalmente independente, sem dar a mínima para a relação câmbio–juros submetida inexoravelmente às valorizações e desvalorizações do ativo subjacente: o dólar.

Poesia | Vinicius de Moraes - Dia da Criação (Porque hoje é sábado)

 

Música | Zeca Pagodinho - Toda a hora

 

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Retomar território é essencial no combate ao crime

Por O Globo

Operações policiais são necessárias, mas só políticas sociais consistentes garantirão o domínio do Estado

A megaoperação no Rio contra o Comando Vermelho (CV) reacendeu o debate sobre os desafios do combate a organizações criminosas que dispõem de armamento de guerra e sofisticação militar. Operações policiais são necessárias para enfraquecê-las. Mas os resultados costumam ser parciais e, quase sempre, efêmeros. Há décadas, diferentes governos tentam enfrentar as quadrilhas, mas o problema persiste. É preciso políticas mais consistentes e duradouras. Retomar e manter o território é crítico para garantir a segurança das cidades e o bem-estar da população.

Apesar de os estados canalizarem recursos vultosos à segurança pública, é o crime que tem se expandido. Na Região Metropolitana do Rio, entre 2008 e 2023, a extensão territorial sob domínio de facções criminosas ou milícias cresceu de 8,8% para 18,2%. O avanço não ocorre só no Rio e é visível para o cidadão comum, exposto a uma rotina de tiroteios e crimes de toda sorte.

Lula vai à COP com rastro de problemas para depois, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Presidente deu sinais de que vai adiar a nomeação do novo ministro do STF para meados de novembro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinais de que vai adiar a nomeação do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) para meados de novembro, depois da abertura oficial da Conferência Mundial do Clima das Nações Unidas (COP30) em Belém, no dia 10 de novembro.

Se não mudar de ideia, Lula passará os próximos 10 dias longe de Brasília, deixando pelo caminho um rastro de problemas, como a crise de segurança pública, intensificada pela oposição, e a pressão de aliados pela indicação do sucessor de Luís Roberto Barroso no STF.

O escritório e o consórcio com os sinais trocados no Rio, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Dúvida é se nova estrutura será capaz de romper os limites impostos pelos arranjos locais entre o crime e o Estado em um ano eleitoral

O “Consórcio da Paz” é uma ideia capenga do ponto de vista operacional, mas uma bela jogada de marketing, como o próprio governador do Rio, Cláudio Castro, reconheceu, ao agradecer o nome de batismo ao governador Jorginho Mello (SC). Busca contemplar a fatia do eleitorado que mantém alguma capacidade de se comover com as famílias de 121 pessoas mortas e se contrapõe ao “Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado” anunciado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, ao lado de Castro, na véspera. Na jogada pretendida pelos governadores de direita, eles cuidam da paz, e o escritório, anunciado por um governo de esquerda, cuida do crime.

Lula adota retranca na segurança, por Vera Magalhães

O Globo

Temor do entorno do presidente com o tema pauta resposta contraditória e, para alguns, omissa à operação que resultou em 121 mortes no Rio

A cautela extrema demonstrada pelo governo federal na reação à Operação Contenção, realizada na terça-feira pelas polícias do Rio nos complexos do Alemão e da Penha, se deve ao reconhecimento, por parte do Palácio do Planalto, de que o tema da segurança pública é o mais delicado para Lula na campanha do ano que vem — na avaliação de auxiliares, mais espinhoso até que a economia e o nó fiscal.

Existe uma profusão de pesquisas demonstrando a centralidade que o assunto adquiriu na percepção do eleitorado. Violência é a maior preocupação dos brasileiros em relação ao país, segundo a Pesquisa Nacional de Vitimização e Segurança Pública realizada pela Quaest para a UFMG em 2023 e neste ano. O mesmo instituto vem medindo a avaliação da população quanto à atuação do governo Lula no tema da segurança. Dados de março mostram que ela é negativa para 38%, e apenas 25% a classificam como positiva.

O marketing da matança, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Depois de elogiar ação com 121 mortos, governadores bolsonaristas anunciam "Consórcio da Paz"

Dois dias depois da maior carnificina da História do Rio, uma comitiva de governadores de direita desembarcou ontem no Palácio Guanabara. Os visitantes foram manifestar apoio a Cláudio Castro. Entre sorrisos e afagos, descreveram a operação que deixou 121 mortos como “sucesso” e “divisor de águas”.

O mineiro Romeu Zema reclamou que a ação policial estaria sendo “erroneamente considerada a mais letal”. “Deveria ser considerada a mais bem-sucedida”, afirmou. O goiano Ronaldo Caiado disse ter ficado “orgulhoso” do banho de sangue nas favelas. “Ô Cláudio, meus parabéns!”, empolgou-se.

Castro anunciou a criação de um certo “Consórcio da Paz”, formado por governadores de oposição. Atribuiu a ideia ao catarinense Jorginho Mello, a quem apresentou como “nosso marqueteiro”.

Brasil vive momento Bukele, por Pablo Ortellado

O Globo

Direitos humanos também são violados pela ação violenta e cotidiana dos bandidos

A violenta ação policial nos complexos da Penha e do Alemão e o apoio popular amplo que ela recebeu nos colocam diante de um dilema: após um período prolongado de deterioração da segurança pública, será necessário flexibilizar o Estado de Direito para proteger com eficácia a população? Em termos mais concretos: diante da falência completa da segurança pública no Rio de Janeiro, autorizaremos a polícia a cometer execuções extrajudiciais, algumas das quais seriam ilegais até mesmo segundo o Direito de Guerra?

Ninguém viveu melhor esse dilema do que El Salvador. Nos anos 2010, a violência urbana no país era crítica, com a maior taxa de homicídios do mundo. Bairros inteiros eram controlados por gangues como Mara Salvatrucha ou Barrio 18. Em 2019, Nayib Bukele assumiu a Presidência do país e adotou um plano de controle territorial que envolveu emprego maciço de policiais e militares nos territórios controlados pelas gangues.

Lula corre atrás do prejuízo depois de megaoperação contra traficantes no Rio, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Cláudio Castro apresentou-se como um governador “em guerra”, cercado por armas e cadáveres, e retratou sua ação como defesa do “povo abandonado pelo Estado”

A megaoperação policial realizada pelo governo do Rio de Janeiro, sob comando de Cláudio Castro, expôs o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma das situações políticas mais delicadas de seu terceiro mandato. Retornando da Malásia, onde havia participado de uma cúpula diplomática e se reunido com Donald Trump, Lula foi surpreendido por uma operação que resultou em mais de 120 mortos — o maior número da história do país — e reacendeu a tensão entre o discurso federal de respeito aos direitos humanos e a escalada de combate ao “narcoterrorismo” defendida por governos estaduais e forças de segurança pública.

O governador fluminense não apenas conduziu uma operação de grande envergadura militar, mas transformou-a em ato político. A reunião de governadores da oposição no Rio de Janeiro, Nesta quinta-feira, sinaliza que a pauta da segurança pública, sensível e popular, foi apropriada pela oposição como eixo de confronto direto com o governo federal. A proposta de tratar facções, como o Comando Vermelho e o PCC, como organizações terroristas reforça essa guinada discursiva, buscando ocupar o espaço deixado pela ausência de maior protagonismo federal na área.

Condescendência, não! Barbárie, jamais! Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Direita quer ‘consórcio da paz’ e crime organizado como terrorismo. Isso resolve o quê?

Assim como a família Bolsonaro deu de presente a bandeira da soberania nacional para o presidente Lula, o governador Cláudio Castro deu a matança do Rio para a direita, e de mão beijada – ou melhor, suja de sangue. O passo seguinte foi criar um “consórcio de paz” com governadores aliados e lutar para classificar o crime organizado como “terrorismo”. Castro, porém, pode ter repetido o erro bolsonarista: exagerar na dose.

A questão da segurança é a maior preocupação do brasileiro e estará no centro das eleições de 2026, a direita defendendo o “prende e arrebenta”, ou o “bandido bom é bandido morto”, e a esquerda sendo acusada de ser “conivente com o crime” e “vir com essa história de direitos humanos para defender bandidos”.

Segurança pública e disputa eleitoral, por Orlando Thomé

Correio Braziliense

O tema voltará a ocupar as atenções de partidos e candidaturas, mas, infelizmente, em um debate que tende a ser marcado pela conhecida, de tão antiga, dicotomia: de um lado, a defesa do aumento da repressão e das punições; de outro, a ideia de que não há saída sem o enfrentamento das causas sociais

Todas as pesquisas têm revelado que segurança pública é o tema que mais aflige a sociedade brasileira. O crescimento vertiginoso do crime organizado não chega a ser uma novidade, mas sua infiltração de maneira abrangente em diversas atividades econômicas formais era algo ainda pouco conhecido da maioria da população e que veio à tona com a Operação Carbono Oculto, conduzida com extrema competência pela Receita Federal, em conjunto com Polícia Federal, GAECO do Ministério Público de São Paulo, Ministério Público Federal, Polícias Civil e Militar, Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, Agência Nacional do Petróleo e PGE/SP.

O PSD e os ‘pantalones largos’, por Fabio Giambiagi

O Estado de S. Paulo

Entre um governo do PT com os cacoetes de uma esquerda arcaica e uma oposição liderada pelo PL com um bando de aloprados, o PSD precisa ser para o Brasil do futuro o que o PSDB já foi

Passei a infância na Argentina, na década de 1960. Na cultura da época, eu e os meninos jogávamos bola e vivíamos de calça curta, até os 12 ou 13 anos, quando virávamos hombrecitos. Como “rito de passagem”, na transição para o que seria a vida adulta, trocávamos então a calça curta pelos pantalones largos (na língua de Cervantes, largo significa “comprido”). Parodiando aquela época, está na hora de o PSD colocar os pantalones largos.

Nossa política sofre de um mal: a falta de equilíbrio. Vinte anos atrás, os embates políticos tinham de um lado um governo do PT que reduzia a relação dívida líquida/PIB, com Lula amigo de George W. Bush; e, de outro, a oposição bem-comportada do PSDB.

China e EUA concordam em evitar guerra comercial aberta e imediata; e só, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Xi Jinping e Donald Trump apenas recolocam relações sino-americanas na situação de setembro

EUA aliviam sanções contra empresas; China alivia em terras raras, de venda ainda restrita

China e Estados Unidos concordaram em evitar guerra econômica aberta; aceitaram fingir que querem ou podem chegar a um acordo. É o que se depreende do resultado mínimo do encontro entre Xi Jinping e Donald Trump. A situação voltou apenas para onde estava em meados de setembro. A China prometeu aliviar em terras raras, comprar uma soja; os americanos prometeram sancionar menos empresas chinesas e deram uma gorjeta em tarifas.

O assunto não é blablá de política internacional. A depender do tamanho do risco de conflito, grande, taxas de juros e preços de moedas variam muito, como sentimos até aqui neste canto do mundo. Alteram-se decisões de investimento, estratégias de comércio, portas de comércio se abrem e se fecham, no curto e médio prazo.

'Purgatório da beleza e do caos', por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Dominação de territórios se espalha e ameaça a soberania do país sob olhar atordoado do Estado

Matanças como a de 28 de outubro, dia de São Judas, um dos mais cultuados no Rio, retratam a falência do método

Com toda certeza o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, um homem de alto saber jurídico, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, não sabe o que é o dia a dia das pessoas numa favela do Rio de Janeiro ou comunidades desassistidas país afora.

Pobre de origem, o presidente Luiz Inácio da Silva, cujas agruras da infância pertencem a outro tempo, também não. A quase totalidade de deputados e senadores tampouco sabe o que é viver refém do crime na porta de casa.

Governadores e prefeitos convivem mais de perto com a tragédia da criminalidade que se espalha pelo Brasil, mas talvez não tenham tempo nem disposição para vivenciar o cotidiano dos cidadãos sitiados em territórios dominados. Ainda que tivessem a atenção necessária, não poderiam sozinhos dar conta do problema com suas polícias.

O custo econômico da violência, por Bráulio Borges

Folha de S. Paulo

Reduzir violência na América Latina ao nível mundial pode somar 0,5 ponto percentual ao PIB

Erosão democrática pode reverter ganhos associados à redução de homicídios

megaoperação policial que deixou mais de 120 mortos no Rio de Janeiro reacende um debate crucial para o Brasil: qual é o custo real da violência e da criminalidade para nosso desenvolvimento econômico e social? Esse episódio ilustra de forma bastante dramática um problema que deve estar custando ao Brasil pontos preciosos de crescimento econômico, entre outros impactos deletérios.

Há diversas métricas para medir o grau de violência e a criminalidade. Um dos mais acompanhados é o número de homicídios cometidos a cada 100 mil habitantes. No caso do Brasil, esse indicador vinha em tendência de alta desde o começo dos anos 1990, atingindo um pico em 2017, com cerca de 31 homicídios por 100 mil habitantes.

'O Agente Secreto' é Fellini no Recife, filme B e bom cinema, por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Kleber Mendonça Filho conta histórias paralelas, como a da Perna Cabeluda, além da trama central do enredo

Filme faz passeio felliniano pela paisagem humana e urbana do Recife e expõe faceta empresarial na ditadura

Há muito o que falar sobre "O Agente Secreto", de Kléber Mendonça Filho, melhor diretor no festival de Cannes —que também premiou o ator Wagner Moura, protagonista da história. Falarei um pouco.

O filme não se concentra numa narrativa central, embora ela exista, mas cercada de outras situações e derivas, uma delas marcante, que nos acompanha como uma espécie de filme B dentro filme. É a história, em clima fantástico e popular, da Perna Cabeluda. Isso mesmo, uma perna que aparece na barriga de um tubarão, é cercada de mistério, roubada do Instituto Médico Legal e transformada pelo disse que disse do povo e pela imprensa num ser com vida própria, que faz aparições violentas em horas noturnas na cidade.

Poesia | Nada é impossível de mudar, de Bertolt Brecht

 

Música | Roberta Sá e Martinho da Vila - Amanhã é sábado

 

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais | Opiniões

Operação policial no Rio foi resultado de planejamento

Por O Globo

Letalidade alta deve ser investigada, mas houve preocupação das autoridades em preservar moradores

As polícias Militar e Civil do Rio correram enorme risco ao entrar no quartel-general do Comando Vermelho durante a megaoperação de terça-feira nos complexos do Alemão e da Penha. Os traficantes demonstraram resistência incomum — a ponto de, pela primeira vez, usarem drones para lançar bombas nos agentes —, matando quatro policiais e ferindo outros 15. Os policiais prenderam 113 suspeitos — entre eles lideranças do CV, não apenas do Rio — e apreenderam mais de cem armas. É revelador que a operação, a mais letal na história do Rio, tenha deixado mais de uma centena de mortos. Mas ela foi resultado de planejamento para tentar preservar os moradores e encurralar os traficantes nas matas, onde ocorreu a maior parte dos confrontos.

Lula vive boa fase da Lua, por Carlos Melo

O Globo

Não existe postulante ao Planalto posicionado para além dos clichês da polarização mutuamente estimulada

Dizem que o presidente Lula nasceu virado para a lua: há cem dias, estava nas cordas. Os erros da oposição o empurraram de volta ao centro do ringue. Deram-lhe a agenda de que carecia: “pobres x ricos”, “soberania nacional”, a “blindagem” do Centrão. Apesar de percalços naturais, Lula comete menos erros, aproveita a maré. As curvas dos gráficos de popularidade têm reagido.

Precificaram sua derrota, mas o jogo empatou. Hoje, o governo tem a vantagem anímica da partida. Abatida, a oposição, sem unidade ou método, tenta emplacar sua agenda: a segurança pública. Busca deter um Lula fortalecido pelo veneno que ela mesma destilou. É a política.

É óbvio, tudo pode mudar: fatos dramáticos como os do Rio de Janeiro, nesta semana, podem influenciar o quadro. Há também a complicada conciliação de interesses nos palanques regionais. E, na esquerda, o bom momento tem sido mau conselheiro. Contudo já existem elementos favoráveis ao projeto de reeleição.

Uma crise em duas imagens? Por Malu Gaspar

O Globo

A imagem que traduzirá para a História a operação policial mais letal que já se fez são as dezenas de corpos estirados no chão de uma praça vizinha aos complexos do Alemão e da Penha, recolhidos na mata pelos próprios moradores. São cadáveres de homens muito jovens, quase todos negros, um com a cabeça cortada, outros com marca de algemas nos pulsos. Para o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), são criminosos, não vítimas. Não mereciam nem sequer prisão ou julgamento, mas eliminação.

Por esse viés, 121 mortos são prova de sucesso, embora no Brasil não haja pena de morte e, pelo menos oficialmente, não se autorizem execuções sumárias em ações policiais. A justificativa para a matança é que estamos em guerra, e não se faz guerra sem mortes. Boa parte da população endossa esse discurso, daí por que Castro tem capitalizado politicamente a operação.

Pouco importa que não se tenha capturado o principal alvo, Edgar Alves de Andrade, o Doca, responsável pela expansão do Comando Vermelho, prestes a concluir a tomada das Zonas Oeste e Sudoeste do Rio de Janeiro.