sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Opinião do dia – Theodor W. Adorno* (Radicalismo de direita)

“Bom, minhas senhoras e meus senhores, eu repito que estou consciente de que o radicalismo de direita não é um problema psicológico e ideológico, mas um problema muitíssimo real e político. Mas aquilo que é objetivamente falso, não verdadeiro de sua própria substância, o força a operar com meios ideológicos, isto é, nesse caso, com meios propagandísticos.  E por isso, além da luta política e dos meios puramente políticos, ele deve ser enfrentado no seu próprio terreno. Mas não se trata de colocar mentira contra mentira, de tentar ser tão esperto quanto eles, mas de realmente contrapor-se a eles com uma força decisiva da razão, com a verdade realmente não ideológica.

Talvez alguns entre os senhores me perguntarão ou me perguntariam o que penso sob o futuro do radicalismo de direita. Penso que essa pergunta é falsa, pois ela é demasiado contemplativa. Nessa forma de pensar, que vê de antemão essas coisas como catástrofes naturais, sobre as quais se fazem previsões assim como sobre furacões ou sobre desastres meteorológicos, há já uma espécie de resignação na qual as pessoas desligam-se enquanto sujeitos políticos, há aí uma má relação de espectador com a realidade. Como essas coisas vão evoluir e a responsabilidade sobre como elas vão evoluir – isso depende, em última instância, de nós. Agradeço pela atenção.

*Theodor W. Adorno (11/9/1903-6/8/1969), filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, entre outros. Conferência realizada no dia 6 de abril de 1967, a convite da União dos Estudantes Socialista da Áustria. “Aspectos do novo radicalismo de direita”, p.76. Editora Unesp, 2020.

 

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Por que estados e municípios aplicaram no Master?

Por Folha de S. Paulo

Entidades previdenciárias fizeram aportes vultosos no banco agora quebrado, o que exige investigação

Cumpre também esclarecer os motivos para a falha dos órgãos reguladores, sobretudo o BC, em identificar e prevenir o problema

Com decretação da liquidação extrajudicial do Banco Master pelo Banco Central, o país começa a conhecer em detalhes os caminhos e participantes que levaram ao descalabro financeiro que agora penaliza poupadores e pensionistas.

Os primeiros valores divulgados já são alarmantes: cerca de R$ 41 bilhões a serem cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para um total de 1,6 milhão de investidores até o limite individual de R$ 250 mil.

Há muito mais a saber na investigação de fraude estimada em R$ 12 bilhões, envolvendo carteiras de crédito consignado falsificadas, criadas por meio de associações fantasmas. Será preciso mapear os canais de influência que permitiram ao banco, como se suspeita, inflar ativos.

A saída é o federalismo cooperativo, por Fernando Luiz Abrucio*

Valor Econômico

É preciso ter articulação institucionalizada, constante, com planejamento conjunto e aprendizado mútuo entre os entes para se combater o crime organizado

A trajetória do projeto de lei antifacção na Câmara Federal foi uma estrada pavimentada por erros. A escolha politizada do nome do relator parece ser o maior deles, mas talvez tenha sido só o primeiro equívoco. Algo pior ocorreu do ponto de vista da política pública. O deputado Derrite escolheu inicialmente um modelo que dificultava a cooperação entre estados e União, quando o crime organizado só pode ser combatido juntando esforços. Depois ele tentou matizar isso nas seis versões de uma peça legislativa frágil e apressada. Ao final, a Polícia Federal continuou enfraquecida e nada de inovador foi criado para ampliar as parcerias federativas. Seguindo essa linha, as facções só podem agradecer aos deputados.

Os equívocos da Câmara provavelmente vão ser corrigidos pelo Senado. A escolha do senador Alessandro Vieira para relator já demonstra a completa diferença de critérios de seleção. Enquanto o deputado responsável pelo projeto o subordinou à discussão da eleição presidencial de 2026, Vieira tem optado por um caminho diferente, não se filiando automaticamente nem ao governo nem à oposição. Mais do que isso: já como presidente da CPI do Crime Organizado tem priorizado a discussão técnica e a conversa com especialistas - Derrite não ouviu nenhum importante estudioso do assunto. Vieira tende a produzir uma peça legislativa mais consistente, sem respostas rápidas e populistas, gastando o tempo necessário para pensar no país, e não nas torcidas partidárias do jogo eleitoral.

Religião e incertezas, por José de Souza Martins*

Valor Econômico

Dados do censo revelam vacilações e incertezas quanto à fé

Os dados preliminares e incompletos do Censo Demográfico de 2022 sobre religiões no Brasil, agora divulgados, na diversidade de grandes grupos de crença (e descrença) trazem indícios de vacilações e incertezas quanto à fé e, provavelmente, ao lugar da fé na vida dos diferentes grupos populacionais.

Em princípio, os dados censitários indicam a persistência do declínio da proporção de católicos no conjunto da população. E indicam a multiplicação geométrica da proporção de evangélicos. Ao mesmo tempo, num país supostamente religioso como o Brasil, não deixa de surpreender o número dos sem religião, sem contar os que não sabem definir sua religião ou que não a declararam. A que se deve agregar indicações de outras fontes sobre os que têm fé mas não perfilham uma confissão determinada: os chamados “desigrejados”.

Lula se veste com as roupas e armas de Jorge, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Indicação de Messias ao STF prorroga a temporada de embates do governo com o Congresso

A indicação do ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) prorroga a temporada de embates do governo com o Congresso, em meio à ressaca governista ante a aprovação do relatório do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) ao PL Antifacção na Câmara dos Deputados.

Em questão de horas após a indicação de Messias, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), anunciou a inclusão na pauta de terça-feira (25) do projeto que regulamenta a aposentadoria dos Agentes Comunitários de Saúde e de Combate às Endemias - uma verdadeira bomba fiscal. Foi a primeira retaliação de Alcolumbre, que havia trabalhado pelo seu antecessor no cargo, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Incêndio na Zona Azul foi o anticlímax de uma COP tropical pautada pela esperança, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Apesar de tudo, a COP30 deixa legados. O evento recolocou a Amazônia no centro da discussão climática, demonstrando que na floresta também se decide o futuro do planeta

A COP30, em Belém, encerra-se sob um clima melancólico, simbolizado pelo incêndio no Pavilhão dos Países da Zona Azul, porém, deixa avanços que merecem ser registrados, mesmo em meio às dificuldades políticas, diplomáticas e climáticas. O incidente ocorrido na véspera do encerramento — rapidamente controlado e sem vítimas — tornou-se uma metáfora perfeita da conferência: um evento intenso e plural, com grande participação de ambientalistas, cientistas, povos originários e indígenas, no entanto, vulnerável às tensões e contradições que atravessam a agenda climática global.

A evacuação da Blue Zone, principal área de negociações, suspendeu trabalhos justamente quando se esperava uma definição sobre o chamado "Mapa do Caminho", documento crucial para orientar a eliminação gradual dos combustíveis fósseis nas próximas décadas. Ainda que a ausência deliberada de uma delegação oficial do governo Trump e as resistências de China, Índia e Arábia Saudita tenham travado o processo, uma coalizão de 82 países, unindo Norte e Sul globais, manifestou-se a favor de uma referência concreta à transição energética — movimento que reposiciona o debate e pressiona os grandes emissores.

No Congresso, Lula x Tarcísio já começou, por Raquel Landim

O Estado de S. Paulo

Se Derrite saiu vitorioso, ponto para Tarcísio também, que poderá apresentar como seu o marco legal

A direita ainda espera o aval de Jair Bolsonaro para seu candidato para 2026, mas no Congresso já tivemos uma prévia da disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Tarcísio de Freitas.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, deu início ao confronto ao escolher o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) para relatar o PL Antifacção.

A despeito de ter experiência na área, ele é também secretário de segurança pública de São Paulo e sua indicação foi vista pelo PT como uma operação política para tirar a autoria do projeto do colo do presidente e jogar no do governador de São Paulo. O governo fez o que pode, apontando os erros do projeto como o enfraquecimento da Polícia Federal e da Receita.

Derrite não se importou de ir admitindo os recuos e apresentou nada menos que seis versões do projeto.

As muitas guerras de Lula, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo.

Lula anunciou Messias no dia errado, na hora errada, e pode colher derrotas

Em mais uma semana tensa, com derrotas, oposição alvoroçada e atropelos, inclusive na COP 30, o presidente Lula encomendou mais uma crise com o Congresso e aumentou o mal-estar com o Judiciário ao oficializar Jorge Messias para o Supremo. Mesmo a comemoração do recuo nos 40% de produtos agrícolas deixa dúvidas. Assim, Lula viaja para o G-20 na África do Sul, no próximo sábado, com o incêndio em Belém controlado, mas o circo pegando fogo.

Lula demorou para anunciar Messias, escolheu o dia errado, irritou seu aliado mais estratégico no Congresso, arriscou-se a uma derrota histórica e a uma sequência de bombas fiscais no Senado, até aqui sua terra firme para escapar do pântano na Câmara.

Como na nomeação de Cristiano Zanin, seu advogado na Lava Jato, a de Messias, advogado-geral da União, era líquida e certa desde sempre. Lula foi adiando o anúncio para ganhar, além de tempo, uma votação ou outra no Senado – como a isenção do IR até R$ 5.000,00. É incrível, mas depois de meses e de toda a pressão por uma mulher negra no STF, anunciou Messias justamente no Dia da Consciência Negra.

Belém e Brasília: a saga das discussões, por Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Tanto os negociadores de Belém como os de Brasília estão diante de fatos complexos, situações que foram longe demais para serem resolvidas numa mesa de debate

Belém–Brasília. Dois grandes desafios na mesa de negociação. Na última, o problema da segurança pública no Brasil. Em Belém, as consequências das mudanças climáticas. O caso brasileiro tinha tudo para ser mais fácil. Não são mais de cem países em cena. É apenas o Brasil num momento especial: a proximidade das eleições.

Em Belém, a conjuntura também é negativa para amplos acordos. Alguns países, como os europeus, estão às voltas com custos militares. Quase todos os outros são pressionados internamente com problemas diversos, além da questão ambiental. Interessante que, em Belém, o que fragmenta, quase sempre, é o interesse nacional. A Arábia Saudita, por exemplo, aceita a ideia de superar os combustíveis fósseis, mas recusa qualquer tipo de compromisso como, por exemplo, data para encerrar o uso ou mesmo questionamento sobre os subsídios.

O governo do 'eu sozinho', por Vera Magalhães

O Globo

Nomeação de Messias, que desagrada Alcolumbre, mostra estilo de gestão baseado na autossuficiência, mesmo em condições adversas

Lula resolveu testar, na reta final do terceiro mandato, um novo estilo de governar: autossuficiência na adversidade. É o tipo de opção que cai bem em filmes de ação, aqueles em que o herói se vê sozinho na mata ou num país hostil e resolve enfrentar bandidos, zumbis ou a Yakuza na base do “eu sozinho”. Para governar, não parece ser uma receita muito boa.

As coisas vão mal com a Câmara, e o Senado parece ser o último bastião de (mínima e circunstancial) governabilidade? Então vamos implodir as pontes também com o Senado. Parece ter sido esse o raciocínio a recomendar ao presidente a ideia de designar para o STF o candidato rival do preferido de Davi Alcolumbre no exato momento em que tramita na Casa presidida por ele um dos projetos mais importantes para o governo no palanque de 2026.

Prenda-me se for capaz, Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Condenado por tentativa de golpe, deputado repousa em condomínio de luxo em Miami

Alexandre Ramagem foi condenado a 16 anos de prisão por integrar o núcleo da quadrilha que tentou dar golpe de Estado no Brasil. A dias de ir para a cadeia, mandou-se para a Flórida, onde agora repousa num condomínio de luxo com lago artificial e praia particular.

O ex-diretor da Abin não é o primeiro da turma a evaporar do país. Nos últimos meses, quatro parlamentares bolsonaristas embarcaram rumo aos Estados Unidos para escapar do alcance da lei.

Quando a virtude cega, por Pablo Ortellado

O Globo

Passamos a aceitar, quase sem escândalo, que uma instituição cultural possa estigmatizar publicamente uma ativista ambiental pelos feitos de um tio-bisavô

A Bienal de São Paulo anunciou o cancelamento de uma atividade que aconteceria no dia 6 de novembro, no contexto da COP30, reunindo a princesa Esmeralda da Bélgica e o fotógrafo João Farkas. Os dois fariam um debate sobre arte e conservação ambiental. João Farkas é fotógrafo, autor do livro “Amazônia ocupada”. Esmeralda de Réthy é jornalista e ativista ambiental, presidente do Fundo Rei Leopoldo III para Exploração e Conservação da Natureza.

Trump discrimina menos o Brasil, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

EUA incluem produtos alimentícios brasileiros na lista do 'destarifaço' mundial

Conversa sobre itens industriais e barreiras não tarifárias deve ser mais difícil

O Brasil enfim entrou no trem de corte de impostos de importação dos Estados Unidos, "tarifas", o expresso da impopularidade de Donald Trump, diminuída por queixas a respeito do custo de vida. Com quase uma semana de atraso, o presidente americano cancelou aquele imposto extra de 40% sobre certos produtos brasileiros. Atraso: na sexta passada, Trump mandara reduzir a zero, para o mundo inteiro, Brasil inclusive, aquelas "tarifas recíprocas" de 10% sobre produtos alimentícios e fertilizantes.

Boa notícia, em termos. Além do "destarifaço" para carne de boi, café, certas frutas, outros produtos alimentícios e de peças e partes de aviões, o tom do decreto de Trump que anunciou o "destarifaço" parcial indica que as relações com o Brasil estão menos amargas. Trump ainda escreve que "...o alcance e a gravidade das políticas, práticas e ações recentes do governo do Brasil constituem ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos". Mas esse resumo dos dissabores foi reduzido e não indicou vontade de bater mais.

Nada além do interesse eleitoreiro, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O protagonismo da segurança pública no debate eleitoral interdita a chance de providências efetivas

Ocupados em demarcar palanques, políticos de direita e de esquerda ignoram as urgências da população

segurança pública está no topo das preocupações da população e por isso é candidata a figurar como principal tema das eleições de 2026. Como a campanha já começou, é exatamente esse protagonismo o que interdita providências efetivas.

Uma bandeira em disputa impossibilita qualquer tentativa de unificação de propósitos e integração de ações, requisitos básicos para estruturação e organização do Estado para enfrentar o problema da criminalidade que assola o país.

Só a direita é extremista? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Aceito provocação de leitor e tento explicar critérios para uso de ultra e extremo na política

Não é a veemência com que se defende uma ideia que caracteriza o extremismo, mas a natureza do posicionamento

O leitor Guilherme Fernandes me cutuca: "Prezado Helio, Bom dia! Queria um esclarecimento. O que significa ultradireita, além de alguém com quem vc não concorda? Pergunto isso pois, raramente, vejo Boulos sendo descrito como extrema esquerda… ou Jean Willys…".

Aceito a provocação. Costumo reservar o prefixo "ultra" e o adjetivo "extremo" para grupos ou indivíduos com atuação contra o sistema. E o que significa ser antissistema? Essa é uma categoria que comporta uma ampla gama de ações, que vão desde não aceitar derrotas eleitorais até tentar implementar medidas que violam ou debilitam cláusulas pétreas do Estado liberal democrático e de Direito.

Meus leitores bolsonaristas, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Nunca escrevi a favor de qualquer governante, de direita ou de esquerda

Com Bolsonaro aprendi que a corrupção é fichinha diante da ameaça à democracia

Sempre que faço alguma restrição à esquerda nesta coluna, meus fieis leitores bolsonaristas (todos os cinco) me honram com comentários entusiasmados, em que me cumprimentam pelo que não escrevi ou me atribuem uma súbita conversão à direita. Um dia saberão que, em quase 60 anos de profissão, em jornais, revistas e livros, nunca escrevi uma palavra a favor de qualquer governante, seja presidente, seja governador, seja prefeito, de direita ou de esquerda. Prefiro escrever contra.

Vamos conversar sobre adaptação para resiliência/sobrevivência? Por Antônio Márcio Buainain*

Jornal da Unicamp

A COP-30 seguirá seu curso — necessária, simbólica, global, mas a verdadeira prova do nosso futuro não está nos pavilhões das conferências

ACOP-30 está em andamento, ocupando os noticiários com imagens de delegações, mesas redondas e discursos que, por alguns dias, empurram o clima para o centro da agenda pública global. Como sempre, há a expectativa de que, desta vez, os compromissos ambiciosos se traduzam em algo mais concreto: planos de ação robustos, com financiamento adequado e capacidade real de implementação. Esses encontros são importantes — criam pressão política, mobilizam recursos, sinalizam intenções. Mas é curioso como, mesmo com toda essa liturgia global, seguimos discutindo a mudança climática num plano abstrato demais, distante da materialidade das decisões. Falamos do planeta quando deveríamos falar também da paisagem; discutimos o sistema climático quando deveríamos discutir o território, onde as pessoas vivem, trabalham, produzem e enfrentam, de forma concreta, os efeitos das transformações.

Poesia | Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, de Fernando Pessoa

 

Música | Caetano Veloso e seus filhos cantam "Força Estranha" no Altas Horas

 

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Opinião do dia - Jürgen Habermas* (Os direitos humanos)

“Os direitos humanos formam uma utopia realista na medida em que não mais projetam a imagem decalcada da utopia social de uma felicidade coletiva; antes, eles ancoram o próprio objetivo ideal de uma sociedade justa nas instituições de um Estado constitucional.

Naturalmente, essa ideia transcendente de justiça introduz uma tensão problemática no interior de uma sociedade política e social. Independentemente da força meramente simbólica dos direitos fundamentais em muitas das democracias de fachada da América do Sul e de outros lugares, na política dos direitos humanos das Nações Unidas revela-se a contradição entre a ampliação da retórica dos direitos humanos , de um lado, e seu mau uso como meio de legitimação para as políticas de poder usuais, de outro.”

*Jürgen Habermas (Düsseldorf, 1929) é um filósofo e sociólogo alemão, ‘Sobre a Constituição da Europa’ (2011), pp. 31-2, Editora Unesp, 2012.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ruína do Master expõe incúria de fundos públicos

Por O Globo 

Não há justificativa para Previdência do funcionalismo investir em papéis do banco que todos sabiam definhar

É fundamental que a polícia investigue com rigor os investimentos dos fundos de Previdência de estados e municípios em títulos do Banco Master, cuja liquidação extrajudicial foi decretada nesta semana. De outubro de 2023 a dezembro de 2024, R$ 1,9 bilhão foi aplicado em papéis do Master por 18 fundos do funcionalismo público — metade disso pelo Rioprevidência, do governo do Rio de Janeiro. As dificuldades do Master eram conhecidas, e não há justificativa plausível para tais investimentos. No fim do ano passado, o Tribunal de Contas do Estado do Rio apontou irregularidades e fez um pedido para o Rioprevidência suspender novas aplicações no Master. Foi ignorado. Não há notícia de que o governador Cláudio Castro (PL-RJ) tenha se esforçado para proteger o patrimônio dos funcionários do estado.

Linguagem simples, por Merval Pereira

O Globo

Juridiquês” é uma maneira empolada de explicar as decisões do Judiciário e geralmente quer revelar uma sofisticação de linguagem que não passa de presunção, sem conexão com a realidade.

A busca por “linguagem simples” ganhou força com a assinatura, pelo presidente Lula, da lei que proíbe o uso da linguagem neutra na administração pública em todos os níveis, como União, estados e municípios. A regra determina que órgãos públicos sigam a norma culta, sem usar “novas formas de flexão de gênero e de número das palavras da língua portuguesa, em contrariedade às regras gramaticais consolidadas, ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) e ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, promulgado pelo Decreto nº 6.583, de 29 de setembro de 2008”.

A lei vale para todos, por Julia Duailibi

O Globo

O fato de ele ser ex-presidente influenciará os próximos passos. Mesmo sem qualquer previsão legal

Jair Bolsonaro deverá ser preso nos próximos dias. A discussão agora é se a pena de 27 anos e três meses começa a ser executada em regime fechado ou se ele continua em casa, onde cumpre prisão cautelar num outro processo, em que seu filho Zero Três foi denunciado e se tornou réu.

Bolsonaro não tem direito a qualquer regalia por ter sido presidente. A lei não prevê isso. Ao contrário, prega que todos os brasileiros são iguais. Mas ele terá eventual direito a domiciliar se, e apenas se, ficarem comprovadas questões humanitárias, como as de saúde. Embora seja uma previsão ignorada para a maioria, ela se faz valer quando o preso tem recursos. Deveria valer para todos, mas o fato de ser aplicada a figurões não a torna ilegal. Ilegal é receber o benefício só porque ocupou o mais alto cargo da República.

Antes tarde do que mais tarde, por Malu Gaspar

O Globo

A operação da Polícia Federal (PF) que prendeu Daniel Vorcaro e outros dirigentes do Banco Master por falsificar títulos de crédito para encobrir um desvio de R$ 12,2 bilhões do Banco de Brasília, o BRB, foi certeira, mas o Banco Central não precisava ter esperado até que surgisse uma fraude tão grosseira para começar a agir.

As peripécias de Vorcaro são acompanhadas com lupa no mercado já há alguns anos, pelo menos desde 2021, quando seu banco passou a crescer vertiginosamente vendendo títulos que prometiam rendimentos extraordinários aos clientes e pagando comissões fora do comum aos corretores.

Cientistas avisam: não há mais tempo, por Míriam Leitão

O Globo

Eles cobram mais empenho para o fim do uso dos combustíveis fósseis e Lula entra na força- tarefa para destravar as negociações

Uma grande tempestade despencou sobre Belém logo após os cientistas fazerem mais um de seus alertas, em tom bem duro: “Estamos numa encruzilhada planetária. A COP 30 tem uma escolha: proteger as pessoas e a vida, ou proteger a indústria do combustível fóssil”, escreveram. Naquele mesmo momento, em outro lado da Blue Zone, o presidente Lula estava recebendo o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Carsten Schneider. Ao sair, o alemão afirmou que apoia o mapa do caminho para sair dos combustíveis fósseis. Oitenta e dois países já fizeram isso, entre eles, Reino Unido, Noruega, França, México, Quênia, Portugal e Holanda.

A hora de a América Latina se ajustar, por Assis Moreira

Valor Econômico

O custo será mais doloroso se a região demorar a construir uma base mais sólida capaz de elevar a produtividade e promover inclusão e sustentabilidade

A América Latina necessita realmente reconfigurar sua composição econômica para responder aos desafios atuais. É a mensagem, nada nova, mas revigorada, agora num cenário global mais turbulento, feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em novo relatório sobre as perspectivas econômicas da região, na qual o Brasil tem forte peso, a constatação é de que o crescimento econômico está desacelerando na América Latina, em linha com a economia global. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) per capita estabilizou-se próximo ao seu crescimento potencial. A inflação persistente, as vulnerabilidades fiscais, as tensões geopolíticas e as perturbações relacionadas ao clima continuam a representar riscos, variando conforme as diferentes estruturas econômicas, composições das exportações e capacidades institucionais.

A Black Friday do Estado policial, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Quem entrar no gabinete de Lula movido pela expectativa de arrancar panos quentes no Master corre o risco de sair com as mãos abanando

Quem entrar no gabinete presidencial movido pela expectativa de arrancar panos quentes, tamanho é o imbricamento do caso Master, corre o risco de sair com as mãos abanando. Lula I e II tinham um projeto de poder. O de Lula III é um projeto de legado que passa, sim, pela extensão do poder até 2030, mas se invalidará se abrigar as petições desta pauta, venham do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal, da Casa Civil ou do Ministério das Minas e Energia.

Sem preso algemado, condução coercitiva, imprensa na porta das operações, coletivas espalhafatosas ou uma máquina de conluios como a de Curitiba, é o Estado policial que está de volta. Na verdade, uma prolongada Black Friday do Estado policial, que vai garantir emoção na folhinha do calendário até o fim do primeiro semestre de 2026. Dos desdobramentos dos inquéritos que resultaram no desbaratamento das fraudes do INSS ao caso Master, passando pela operação Carbono Oculto e pela venda de sentenças no STJ, cabe tudo lá.

Bolsonaro 2026, nem com Fux ou Kassio, por Carolina Brígido

O Estado de S. Paulo

Mesmo com apoio de integrantes da cúpula do Judiciário, não há condições de reverter inelegibilidade

Jair Bolsonaro deposita em dois ministros a esperança de ter o rosto estampado nas urnas em 2026. No Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux é o relator de um recurso contra a inelegibilidade. Em junho do ano que vem, Kassio Nunes Marques assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Embora ambos tenham afinidade ideológica com o ex-presidente e não economizem demonstrações públicas nesse sentido, não há caminho jurídico capaz de reverter a situação eleitoral do capitão agora.

Daniel Vorcaro e o funk ostentação, por William Waack

O Estado de S. Paulo

Daniel Vorcaro criou um “hedge” político que consistia em levar todo mundo para a festa. Nada de novo ou original. Periodicamente alguma figura de ascensão meteórica na arte de juntar dinheiro – em geral, às custas de trouxas – garante seus negócios chamando quem está próximo do cofre e/ou da máquina pública.

O que fez o ex-banqueiro sentir-se tão à vontade foram dois fatores, um de longo prazo e o outro o resultado das novas tecnologias (leia-se redes sociais). O primeiro é o velho patrimonialismo brasileiro, na forma de agrupamentos privados apelidados de partidos que entendem como ninguém de dinheiro de trouxas (contribuintes). Tem sempre dinheiro público envolvido em manobras como as de Vorcaro e de seus antecessores.

Caso Master enseja modernização do Estado, por Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Episódio deveria servir para que o poder público repensasse as normas atuais, endurecendo-as

Ocaso do Banco Master está sendo amplamente discutido, graças ao bom trabalho do jornalismo brasileiro, a partir de veículos sérios, com profissionais aptos ao exercício do ofício. É hora de refletir e de agir sobre as brechas regulatórias; elas ainda permitem o surgimento de monstrengos perigosos, como se vê.

A atuação firme do Banco Central é motivo de orgulho. A autonomia da instituição é essencial para a boa condução da política monetária e igualmente importante para garantir a solvência, a organização e o funcionamento do sistema financeiro. O recente episódio noticiado a respeito das pressões de parlamentares para alterar a legislação e avançar sobre diretores do Banco Central não pode ser esquecido.

Banco Master e PL Antifacção deixam Lula e Hugo Motta em rota de colisão, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A crise do Master desmontou uma engrenagem de proteção política que vinha funcionando nos bastidores de Brasília. O banqueiro Daniel Vorcaro investiu pesado na construção de blindagem institucional

A aprovação do PL Antifacção por 370 votos a 110, em meio à maior operação da Polícia Federal desde o início do governo Lula, pode ser um ponto de ruptura entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que estão em rota de colisão e trocam farpas pelas redes sociais. De um lado, uma derrota legislativa contundente em um tema tão sensível, a segurança pública, mostrou a fragilidade da base de apoio do governo na Câmara e pôs em xeque sua governabilidade. De outro, revelou o grau de infiltração do Banco Master no sistema político e financeiro, com ramificações que atingem diretamente o núcleo do Centrão que hoje comanda a Câmara.

O que as eleições no Chile revelam, por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Houve metamorfose nas forças políticas em três democracias sul-americanas

É provável que o próximo presidente seja de direita

Eleições sempre podem trazer surpresas. Mas é provável que o próximo presidente do Chile seja um político de ultradireita: José Antonio Kast. Embora no primeiro turno tenha sido superado pela candidata da coligação de esquerda Unidade pelo Chile, ele tem agora mais chances de crescer, somando os votos de dois outros candidatos direitistas, do que sua adversária comunista Jeanette Jara.

A possível vitória de Kast vem sendo interpretada de duas maneiras. A primeira prevê que ela selará uma virada histórica à direita na América do Sul, antecipada pela eleição de Bolsonaro em 2018 e seguida pelas vitórias de Javier Milei, na Argentina, em 2023, de Daniel Noboa, no Equador, e de Rodrigo Paz, na Bolívia, ambas em 2025.

Congresso quase inteiro está caladinho sobre o Master e o BRB, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Caso Americanas, que era roubança privada, teve CPI. Rolo com banco estatal não vai ter?

CPIs têm dado em nada, mas frente ampla de inquéritos dificulta a vida dos malandros

O Congresso não tem vontade alguma de criar uma CPI do Master-BRB. Um deputado federal, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), tenta arrumar assinaturas para o requerimento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. "Não vai rolar", diz uma dúzia de seus colegas da Câmara. Querem ver o assunto cair morto em um caixão.

Pelo menos desde que o BRB decidiu comprar o Master, em março, se diz que Daniel Vorcaro tinha muito amigo e contato importante em Brasília, o que em si não quer dizer nada. Banqueiros e empresários muito maiores têm ainda mais amigo e contato importante em Brasília. Não quer dizer que corrompam.

O silêncio parlamentar, no entanto, é sintomático.

Ministro banqueirófilo pode julgar banqueiro? Por Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Decisão do STF sobre Vorcaro, seja qual for, exalará todos os cheiros da suspeita

Banqueiro acusado de crimes contra o sistema financeiro patrocinou elites políticas, jurídicas e empresariais

Daniel Vorcaro é acusado de crimes contra o sistema financeiro. Teria praticado as mais desvairadas aventuras com dinheiro público e privado, fundos de previdência estatais, recursos de aposentados, falsificado títulos de crédito, negociado CDBs de contos de fadas.

Sob a condescendência do Banco CentralCade, Fundo Garantidor de Créditos, além de governos municipais e estaduais que bancaram suas promessas, o Banco Master explodiu e acaba de ser liquidado pelo Banco Central. Vorcaro segue em prisão preventiva enquanto advogados trabalham juridicamente e "sócio-politicamente" para tirá-lo de lá.

Entre Belém e Berlim, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Fala condenável do primeiro-ministro da Alemanha reflete uma visão neocolonial

Forma europeia de hierarquizar o mundo mostra que pouco se aprendeu sobre justiça climática

Entre Belém e Berlim, não há comparação. Apenas o governo sediado em uma delas definiu que possui um problema de "paisagem urbana" (lido como referência xenófoba a imigrantes); apenas uma delas decidiu retomar a venda de armas a Israel na última segunda-feira (17); apenas uma delas reprime de forma violenta protestos pró-Palestina; e apenas o governo sediado em uma delas cometeu um genocídio na Namíbia, pelo qual deve bilhões de euros. Spoiler: não é Belém, no Pará.

Cala a boca já morreu' morreu mesmo, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Há 10 anos, a ministra Cármen Lúcia libertou as biografias no Brasil

E, ao contrário do que temiam, os artistas não tiveram suas intimidades bisbilhotadas

Dez anos se passaram desde que, em junho de 2015, a ministra do STF Cármen Lúcia liquidou com a censura prévia que dois impertinentes artigos do Código Civil impunham às biografias produzidas no Brasil. Por esses artigos, os biógrafos eram obrigados a pedir a autorização de seus biografados ou dos herdeiros deles para investigar-lhes a vida e descrevê-la em livro. Se essa obrigação parece justa ao leigo, imagine um biógrafo alemão tendo de pedir à família de Adolf Hitler que o autorizasse a escrever uma biografia do homem. O Brasil era o único entre as democracias a praticar esse estrupício —e, não por acaso, debochado pelos de fora ao saberem que aqui era assim.

A História e as suas camadas, por Ivan Alves Filho

Por nossa casa no Rio de Janeiro transitavam, ao longo dos anos, Astrojildo Pereira, Nelson Werneck Sodré, Oscar Niemeyer, Domingos da Guia, Ismael Silva, Gerardo Mello Mourão, João Saldanha, Sílvio Caldas, Ferreira Gullar, Carlos Alberto Caó de Oliveira, Fernando Ferrari, Giocondo Dias e Luiz Carlos Prestes. Outros que eu não me recordo de ter visto lá em casa, mas que eram amigos de meu pai, e que eu também conheci, foram Prudente de Morais, neto, Doutel de Andrade, Benjamin Cabello e Alberto Passos Guimarães. Com o tempo, algumas dessas amizades foram sendo transferidas também para mim. E eu fui criando outras pela vida afora, naturalmente. 

Poesia | Por Luciana Braga e Ana Beatriz Nogueira - A máquina do mundo, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | 'A cara do Brasil, por Celso Viáfora

 

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Opinião do dia -Jürgen Habermas* (O discurso democrático)

“O Estado democrático de direito se tornou um projeto, ao mesmo tempo resultado e acelerador de uma racionalização do mundo da vida que vai muito além do aspecto político. O verdadeiro conteúdo deste projeto é a institucionalização gradualmente melhorada dos procedimentos de formação coletiva racional da vontade, os quais não podem prejudicar os objetivos concretos dos participantes. Cada passo nesse caminho tem repercussões sobre a cultura política e sobre as formas de vida. Porém, por outro lado, sem a contrapartida de uma cultura política e de formas de vida racionalizadas, não poderiam surgir formas de comunicação adequadas à razão prática.

*Habemas, Jürgen (1929). Facticidade e Validade: contribuições para uma teoria discursiva do direito e da democracia. Trad: Felipe Gonçalves Silva e Rúrion Melo. p.651, São Paulo: UNESP, 2020.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

BC e PF agiram na hora certa contra Master e Vorcaro

Por O Globo

Liquidação do banco e prisão do dono não esgotam investigação. Ela deve mirar agora braço político do esquema

Veio em boa hora a decisão do Banco Central (BC) de decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master. Sob a acusação de negociar títulos fajutos de crédito, o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Master, foi preso pela Polícia Federal (PF) quando estava prestes a decolar de Guarulhos num jatinho rumo à Ilha de Malta. A PF prendeu ainda seu sócio Augusto Lima e outros executivos do banco. A Justiça afastou a cúpula do Banco de Brasília (BRB), também alvo das investigações. Entre os crimes investigados pelas autoridades estão gestão fraudulenta e temerária. Apesar das cifras bilionárias envolvidas, a liquidação do Master não representa risco para o sistema bancário brasileiro. Ao contrário, demonstra a independência e a agilidade da vigilância do BC para preservá-lo.