terça-feira, 25 de novembro de 2025

Opinião do dia -: Karl Marx* (Democracia)

“Hegel parte do Estado e faz do homem o Estado subjetivado; a democracia parte do homem e faz do Estado o homem subjetivado. Do mesmo modo que a religião não cria o homem, mas o homem cria a religião, assim também não é a constituição que cria o povo, mas o povo a constituição. A democracia, em um certo sentido, está para as outras formas de Estado como o cristianismo para as outras religiões. O cristianismo é a religião ’preferencialmente’, a essência da religião, o homem deificado como uma religião particular. A democracia é, assim, a essência de toda constituição política, o socializado como uma constituição particular; ela se relaciona com as demais constituições como gênero como suas espécies, mas o próprio gênero aparece, aqui, como existência e, com isso, como uma espécie particular em face das existências que não contradizem a essência. A democracia relaciona-se com todas as outras formas de Estado como com seu velho testamento. O homem não existe em razão da lei, mas a lei existe em razão do homem, é a essência humana, enquanto nas outras formas de Estado o homem é a existência legal. Tal a é a diferença fundamental da democracia. "

*Karl Marx (1818-1883), Critica da Filosofia do Direito de Hegel, p. 50. Boitempo Editorial, 2005

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Sabatina de Messias deve se concentrar no aspecto jurídico

Por O Globo

Como manda a Constituição, cabe ao Senado avaliar credenciais técnicas, deixando de lado inclinações políticas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o ministro Jorge Messias, advogado-geral da União, à vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso há pouco mais de um mês. A despeito da demora no anúncio, não se pode dizer que tenha causado surpresa. Messias sempre foi favorito. Por mais que fosse esperada, a escolha gerou mal-estar no Senado, onde ele será sabatinado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), queixou-se de não ter recebido ao menos um telefonema sobre a indicação. Alcolumbre defendia o aliado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga.

O fim da farsa, por Merval Pereira

O Globo

Proximidade da eleição presidencial no ano que vem impossibilita que Executivo e Congresso continuem o simulacro de entendimento a que dedicaram esforços vãos nos tempos recentes, fingindo que temos um governo de união nacional

A proximidade da eleição presidencial no ano que vem impossibilita que Executivo e Congresso continuem o simulacro de entendimento a que dedicaram esforços vãos nos tempos recentes, fingindo que temos um governo de união nacional. Nunca se gostaram, têm ideologias distintas e, ao contrário da vitória apertada do candidato petista sobre o bolsonarismo, no Congresso a vantagem deste, aliado ao Centrão, dá larga margem vitoriosa à oposição. O rompimento quase simultâneo dos líderes governistas com os presidentes da Câmara e do Senado reflete a impossibilidade de a farsa continuar. Daqui para a frente os embates serão permanentes.

A escolha do deputado Guilherme Derrite para relator do Projeto de Lei Antifacção na Câmara explicitou a distância que separa o governo da maioria dos parlamentares, e não poderia ter sido lida de outra maneira pelo governo. Causou o rompimento do presidente Hugo Motta com o líder petista Lindbergh Farias, mas foi mais profundo que isso. O próprio presidente Lula sentiu-se traído por Motta, pois acreditava piamente conseguir lidar com os políticos do Centrão. Esqueceu, Lula, que há em jogo o controle do poder central — o que sempre interessa ao Centrão.

O ostracismo de Bolsonaro, por Míriam Leitão

O Globo

O episódio do ataque à tornozeleira deixa o ex-presidente ainda mais enfraquecido politicamente

Preso e inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro está duplamente fora do jogo político. Está muito próximo o fim do prazo dos embargos e o início do cumprimento da longa pena a que foi condenado. “Os prazos conduzem a isso”, disse uma fonte sobre a perspectiva de Bolsonaro seguir da prisão preventiva para o cumprimento da pena, sem voltar à prisão domiciliar. O episódio revela um personagem que lembra o realismo fantástico latino-americano. Um ex-presidente que imaginava estar acima da lei, com uma solda na mão, insone, no meio da noite, tortura uma tornozeleira para que ela confesse ter uma escuta embutida. Preso, alega delírio persecutório.

Para esquecer o chanceler alemão, por Fernando Gabeira

O Globo

O Brasil está tranquilamente inserido no mapa dos lugares atraentes do mundo. Isso não significa que todos gostarão

Ao sair de Belém, o chanceler alemão, Friedrich Merz, disse que a comitiva do seu país ficou contente ao deixar aquele lugar. Foi um deus nos acuda; do presidente ao Senado, muitos protestos. Volto ao assunto para propor uma visão mais leve, quem sabe para ser usada numa próxima vez.

Para começar, confesso que gosto de Belém. Passo manhãs inteiras no Mercado Ver o Peso, deslumbrado com a profusão de cores e aromas dos produtos da floresta. Frequento o Museu Goeldi e sua área externa com a velha sumaúma e vitórias-régias. Gosto de comer um peixe chamado filhote, numa crosta de castanha, com risoto de jambu.

Fiz um curto documentário sobre a música, focado em Nilson Chaves, e, às vezes, me vejo cantarolando uma de suas canções: O sol da manhã rasga o céu da Amazônia /Eu olho Belém da janela do hotel.

A guerra está chegando, por Pedro Doria

O Globo

Chineses e americanos, em algum ponto, começarão a trabalhar para evitar que o outro chegue na ponta

Existe um jeito de compreender o movimento da inteligência artificial (IA), seu desenvolvimento, que explica muito da maneira como os Estados Unidos entendem a relação com a China neste governo Donald Trump. Essa maneira de compreender IA encontra eco em alguns, no Vale do Silício. Mas não todos. Independentemente disso, todos no Vale acreditam que a tese mais popular em Washington os beneficia. Então, seja por apoio sincero, seja por puro cinismo, todo mundo embarcou.

A ideia começa pela crença de que a Inteligência Artificial Geral (IAG) está a poucos anos de distância. Para os mais pessimistas, até cinco. Alguns acham que vem antes. IAG é, na definição usada por quem pensa geopolítica, um sistema de IA capaz de desempenho superior à maioria dos humanos em análise de informação, ciberataques, desenho de armas químicas e biológicas. Também na prevenção. Inteligência capaz de fazer melhor que a maioria de nós pesquisa científica, desenvolvimento de software, desenho de logística, robôs. Inovação industrial e predição financeira. E, naturalmente, persuasão, propaganda, manipulação política.

Bolsonaro preso e indicação de Messias estressam relações no Congresso, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lula faz avaliação de que deve resistir às chantagens do Centrão, que gosta de ser tratado como governista e se comporta como oposição

A semana começa com o governo politicamente fragilizado em duas frentes simultâneas: no Senado, com a reação negativa do seu presidente, Davi Alcolumbre (União-AP), à indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Supremo Tribunal Federal (STF); e na Câmara, cujo presidente, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), rompeu com o líder do PT, Lindbergh Faria, por causa de agendas identificadas com a oposição nas quais o Palácio do Planalto foi derrotado.

O clima está ainda mais tenso porque a prisão preventiva do ex-presidente de Jair Bolsonaro no sábado, por causa da violação de sua tornezeleira eletrônica, reanimou articulações por uma anistia e reacendeu o confronto com o Judiciário.

A escolha de Messias contrariou diretamente o presidente Davi Alcolumbre, que atuava para emplacar o nome do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Irritado com o anúncio, Alcolumbre pautou horas depois a votação de uma proposta de aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde, considerada uma “pauta-bomba” pelo impacto fiscal. A leitura entre parlamentares foi imediata: o Senado decidiu impor custo político à decisão do Planalto.

Mudanças que blindam contra a chantagem, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O reforço na governança do BC impediria que o crime organizado faça uso do sistema financeiro em larga escala

Com o rompimento do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), com o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), a crise entre Congresso e governo perdeu o disfarce. Enquanto o estremecimento se restringia ao Senado, ainda se podia considerar o fator Jorge Messias, ministro da Advocacia-Geral da União escolhido para o Supremo Tribunal Federal em detrimento do preferido da Casa Legislativa que o chancela, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Com a adesão de Motta, sem ingerência sobre o mandato em questão, ficou claro que a crise extrapola o STF. A única pauta em que cabe a zanga do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) e de Motta é aquela que mora na intersecção de duas operações da Polícia Federal, a Carbono Oculto e a Compliance Zero, que levou à prisão de Daniel Vorcaro e à liquidação do seu banco, o Master.

Fatores decisivos nas eleições de 2026, por Christopher Garman

Valor Econômico

Para antecipar o resultado das urnas será útil observar se a economia e os programas do governo podem ajudar a aprovação de Lula, e quais temas geram mais preocupação entre os eleitores

Quem será o candidato de oposição à Presidência em 2026 parece ser a pergunta que está consumindo a atenção tanto de Brasília quanto do mercado financeiro. Lideranças dos partidos de centro — e de boa parte da direita — estão em campanha aberta para que o ex-presidente Jair Bolsonaro apoie uma candidatura de Tarcísio de Freitas. Bolsonaro segue dividido entre apoiar alguém de sua própria família e o governador de São Paulo, que só disputará o Planalto com a bênção do ex-presidente. A prisão antecipada de Bolsonaro e sua saúde e seu estado emocional potencialmente mais precários tornam cada vez mais difícil antecipar qual será sua decisão.

Há um fato novo no combate ao massacre dos juros, por Pedro Cafardo

Valor Econômico

Investimentos bilionários têm sido inviabilizados por uma Selic e por spreads bancários que a CNI considera ‘bem acima da dose de remédio necessária para domar a inflação’

Mais de uma vez observou-se neste espaço que a indústria brasileira jogou contra seus próprios interesses durante décadas ao fazer lobbies (legítimos) no Congresso Nacional.

Durante um longo período, de 1996 a 2021, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) conseguiu incluir mais de 3 mil projetos no Congresso que teoricamente beneficiariam a indústria, mas que, na prática, colaboraram para a desindustrialização.

A nova Doutrina Monroe e o PT, por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

A nova atitude de Washington para com as Américas cria grandes desafios para a política externa do PT

O ministro da Guerra dos EUA chamou as Américas de “quintal dos EUA” e o presidente Trump disse que “os países da região terão de optar entre os EUA e a China”.

No início de seu mandato, o presidente dos EUA ameaçou ocupar o Canal do Panamá e renomeou o Golfo do México como Golfo da América. Nos últimos meses, medidas de força e de favorecimento, como o apoio a Javier Milei, na Argentina, têm indicado o crescente interesse de Washington sobre a região. Na semana passada, três medidas confirmaram a mudança da política e da estratégia dos EUA em relação às Américas.

‘Terrivelmente evangélicos’, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Não é com vigília ou uma nova toga no STF que Bolsonaro e Lula vão converter o eleitorado

Quando o presidente Lula indica Jorge Messias para o Supremo e o senador Flávio Bolsonaro convoca uma “vigília de oração” em apoio ao pai, a um ano das eleições, eles escancaram o quanto os líderes políticos e candidatos estão cada vez mais “terrivelmente evangélicos”, numa competição que tem pouco a ver com religião e muito com votos.

Como se sabe, Messias ganhou as bênçãos de Lula por ter apoio do PT e do Planalto e lealdade inquestionável ao atual presidente. Mas não foi à toa que Lula, sem dizer isso, deixou clara a escolha de Messias numa roda de orações com pastores no Planalto, onde o único convidado foi justamente ele.

Agora é Flávio, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Jair Bolsonaro violou a tornozeleira eletrônica. Ato individual objetivo. E admitido. Meteu-lhe um ferro quente. Descumprimento de medida cautelar. Razão para que a prisão preventiva fosse decretada. A razão. A única incontroversa. Razão que é marginal na decisão de Alexandre de Moraes, merecedora de parágrafo en passant, inserido improvisadamente na sequência de um “além disso”, à décima-quarta página de um documento com dezessete. A referência à fuga do deputado Ramagem – como exemplo do “perigo da liberdade” – leva mais atenção.

O ex-presidente seria preso preventivamente no sábado ainda que com o aparelho intacto, prisão que tem como centro a convocação de vigília pelo senador Flávio Bolsonaro; e que se dá nos termos do 8 de Janeiro permanente, o fundamento mantenedor – a ameaça golpista constante – dos inquéritos xandônicos. Prisão, de Jair, que tem como agente o filho Flávio, “the next”, cujo chamamento ao “Senhor do Exércitos” para salvar o Brasil de “ladrões, bandidos e ditadores” – ação-discurso de um terceiro – materializou o descumprimento de cautelar pelo pai.

Toda a saga vivida por Jair Bolsonaro é um manual de estupidez na vida política, por João Pereira Coutinho

Folha de S. Paulo

É como se ele proclamasse 'nenhum fato me vai derrotar'

Ele teve opções, mas fatos não mudam 'cabeças blindadas'

Acompanho a saga de Jair Bolsonaro com fascínio quase filosófico: o que leva um homem a agir, de forma tão consistente, contra seus próprios interesses?

A pergunta surgiu durante o seu governo, continuou com sua reação à pandemia , aprofundou-se com a tentativa de golpe —e encontra agora um desfecho teatral com a prisão preventiva depois de tentar arrancar a tornozeleira eletrônica.

Por "curiosidade", justificou ele.

A vigília convocada pelo filho é apenas mais uma prova de que genética não perdoa.

Alguns dirão que essa tendência antecede a política e já vem dos quartéis —o que talvez autorize a piada "de soldado a soldador" que anda circulando por aí.

Mas o assunto é sério: como explicar a estupidez na política?

O tema raramente recebe a devida atenção. Hannah Arendt, em análise célebre, afirmou que Adolf Eichmann representava a "incapacidade de pensar" que define a "banalidade do mal". Eichmann seria estúpido —e sua estupidez foi instrumentalizada no Holocausto.

Reeducando Bolsonaro, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Sistema permite abater quatro dias de pena para cada livro lido

Sugiro que ex-presidente comece seu programa de leitura por Hegel

Dentro de mais alguns diasJair Bolsonaro se tornará oficialmente um reeducando, que é como chamamos os presos com sentença condenatória que cumprem a pena que lhes foi imposta. O radical "educ" entra aí porque um dos objetivos do Estado ao punir um criminoso é reintegrá-lo à sociedade, um processo no qual a educação é variável-chave.

Não é por outra razão que o sistema prevê a remição de pena por leitura, o que significa que reeducandos podem abater quatro dias de prisão para cada livro lido, até o limite de 12 livros anuais ou 48 dias. O ano do preso bibliófilo fica um mês e meio menor.

STF virou joguete dos Poderes, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Cadeiras no Supremo viram objetos de interesses pessoais do Executivo e arma de pressão do Legislativo

A preservação da independência e do prestígio do tribunal é ignorada no jogo rasteiro das indicações

O Supremo Tribunal Federal é um lugar sério demais para se brincar de diversidade. Ali, o jogo tampouco permite que o dono da banca se dê ao dever de observar preceitos relativos às profundidades do saber jurídico.

Tudo indica serem essas as ideias que motivam o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) na escolha de suas indicações ao STF.

O festival de burrices e bandidagens de Bolsonaro, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Grande parte da classe política continua a defender o capitão preso

Colaborador do ex-presidente, Ramagem prova que a Câmara é uma mãe com golpistas

Não importa o que Jair Bolsonaro faça: uma longamente planejada ruptura da ordem democrática, enfraquecendo as instituições e valendo-se de meios violentos, ou, condenado a mais de 27 anos de prisão, um lance grotesco de bandido pé de chinelo, tentando violar a tornozeleira eletrônica.

Qualquer que seja a última burrice ou pilantragem, uma grande parcela da classe política continua sempre ao lado do capitão —por interesses eleitorais e golpismo enraizado. Tarcísio de Freitas escreveu nas redes que ele é inocente e sua prisão, injusta. Ao menos ficou ruborizado?

Coop30 - Sonhos que quase viraram pesadelos, por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Prisão de Bolsonaro, do presidente do Banco Master, dos  responsáveis  pelo assalto aos aposentados do INSS,  discussão da PEC da Bandidagem, prejuízo bilionário nos Correios, indicação, pelo mesmo  presidente, do 11o ministro do Supremo Tribunal Federal  com ligações políticas  explícitas, destaque midiático para os líderes de quadrilha presos, há anos, na Papuda, culminando o noticiário dos jornais com o comovente  assassinato, em Brasília, de uma criança de 7 anos por ciúme entre casal. Este foi  cenário  de fundo  que abrigou a trigésima  Conferência do Clima, realizada  em Belém (Pará), na última semana.

Frankenstein e a Liberdade como não dominação, por Vagner Gomes

Chegamos ao ponto da alternativa populista ao republicanismo. E agora, quanto à relação entre a tradição republicana, como a concebo, e talvez a alternativa mais relevante representada pela concepção liberal da política?

A tradição republicana, como argumentarei, compartilha com o liberalismo a presunção de que é possível organizar um Estado viável e uma sociedade civil viável em uma base que transcende muitas divisões religiosas e afins. Nesse sentido, muitos liberais reivindicarão a tradição como sua. Mas o liberalismo tem sido associado, ao longo dos duzentos anos de Seu desenvolvimento, e na maioria de suas variantes influentes, se deu com a concepção negativa de liberdade como ausência de interferência, e com a suposição de que não há nada inerentemente opressivo em algumas pessoas terem poder dominante sobre outras, desde que não exerçam esse poder e não seja provável que o exerçam. Essa relativa indiferença ao poder ou à dominação tornou o liberalismo tolerante a relações no lar, no local de trabalho, no eleitorado e em outros lugares, que o republicano deve denunciar como paradigmas de dominação e falta de liberdade. E isso significa que, se os liberais se preocupam com questões de pobreza, ignorância, insegurança e similares, como muitos se preocupam, isso geralmente se deve a algum compromisso independente de seu compromisso com a liberdade como não interferência: digamos, um compromisso com a satisfação das necessidades básicas ou com a realização de uma certa igualdade entre as pessoas. (PETTIT, Phillip. Republicanism: Theory of Freedom and Government. p. 9)

Poesia | Não chore mais o erro cometido, de William Shakespeare

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Música | Zeca Pagodinho e Marisa Monte - Preciso me encontrar

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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Opinião do dia - Karl Marx* - Democracia

“Dignidade pessoal do homem, a liberdade, seria necessário primeiramente despertá-la no peito desses homens. Somente esse sentimento que, com os gregos, desaparece desse mundo, e que, com o cristianismo, se evapora no azul do céu pode de novo fazer da sociedade uma comunidade dos homens, para atingir seus fins mais elevados: um Estado democrático.”

*Karl Marx (1818-1883), Euvres, III, Philosophie, p. 383, citado em “A democracia contra o Estado”, p.54. Editora UFMG, 1998.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

COP30 deixa sabor de frustração

Por O Globo

Conferências multilaterais não têm se mostrado à altura do desafio de conter a emergência climática

Nada mais simbólico que o incêndio na Zona Azul, área oficial da COP30, em Belém. O fogo, felizmente controlado, foi a última evidência da desorganização que prejudicou a conferência do clima desde o início — sentida nos preços extorsivos de diárias de hotel e alimentação, na qualidade sofrível do ar-condicionado (movido a diesel) ou na reprimenda oficial da ONU aos organizadores. Tudo isso poderia ser encarado como mero transtorno se a COP30 tivesse obtido sucesso em sua missão principal: gerar instrumentos capazes de conter outro fogo, o aquecimento da atmosfera que desarranja o clima na Terra. Mas também nisso ela deixou a desejar.

Era, é verdade, possível prever resultados modestos. A Cúpula dos Líderes que antecedeu a COP30 atraiu pouco mais de 30 chefes de governo e Estado, menos da metade do registrado no ano passado e um terço dos presentes na Rio-92. Entre os ausentes, Donald Trump, presidente do país que mais poluiu desde a Revolução Industrial, e Xi Jinping, líder do maior emissor de gases. Sem aval dos dois, qualquer avanço já seria relativo. Também não compareceram líderes de países como Austrália, Indonésia, Turquia, Argentina ou Japão. A COP30 passou a ser encarada como encontro de “implementação” de decisões tomadas. E, mesmo com metas pouco ambiciosas, as conquistas ficaram aquém do necessário.

A vida nas favelas que o Brasil insiste em não ver, por Preto Zezé

O Globo

O país gosta de apontar o criminoso como inimigo, mas ignora que ele é produto das próprias omissões

Desde “Falcão — meninos do tráfico” e das imagens da invasão do Alemão, muita coisa mudou e, ao mesmo tempo, nada mudou. A pesquisa Raio-X da Vida Real, feita pela Data Favela com quase 4 mil pessoas envolvidas no crime, revela dinâmicas que o país evita encarar. Não é só tráfico, é um Brasil que produz, abandona e depois pune seus próprios filhos.

Metade dos entrevistados tem até 26 anos. Na favela, a juventude é curta porque a oportunidade também é. Para muitos, o tráfico vira primeiro emprego e primeiro reconhecimento num país onde o Estado chega tarde com a escola e cedo com a viatura. Estamos formando uma geração que envelhecerá sem Previdência, renda ou proteção — uma bomba-relógio que nem entrou no Orçamento.

O crime se nacionalizou, mas a base continua sendo o cria: o jovem que conhece cada viela e morre primeiro. Nada disso é novidade. Está nas músicas de MV Bill — “Soldado do morro”, “Falcão, soldado morto”. O país apenas não quis ouvir.

Cai também o mito da família desestruturada. A pesquisa mostra que 52% têm filhos e metade vive em casal. São famílias reais, com afeto e rotina, vivendo sem direito. Falta proteção, não laço.

Caso Master deixa lições, por Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Empresas e instituições financeiras públicas são geridas conforme múltiplos interesses políticos

Está no documento da Polícia Federal que levou à liquidação do Banco Master: as letras financeiras (LFs) dessa instituição “não eram atrativas a investidores privados”. O Master oferecia aos compradores dessas letras uma rentabilidade de encher os olhos: 130% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). E qualquer pessoa mais ou menos informada sobre o mercado financeiro sabe como é difícil bater o CDI. Por que então esse tipo de papel era rejeitado por investidores privados? Três motivos: o prazo excessivo, dez anos; a falta de credibilidade do emissor; e a falta de cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Master é um banco político, por Demétrio Magnoli

O Globo

O Brasil é um país de portas giratórias. O banqueiro patrocinava, oficial ou informalmente, eventos dos grupos de lobby

Tudo o que ronda o escândalo do Banco Master é estranho, do ponto de vista dos analistas econômicos. Nada no caso, porém, provoca genuína estranheza entre os analistas políticos.

A operação de venda do Master ao Banco de Brasília (BRB) foi anunciada em março, mas apenas em setembro barrada unanimemente pelo BC. Há tempos, o radar detectava objetos estranhos no céu. O banco de Daniel Vorcaro cresceu, ao longo dos últimos anos, oferecendo CDBs com taxas de juros muito superiores às dos concorrentes.

— O Master vinha apresentando problemas desde o ano passado, pois tinha ativos incertos e passivos certos. O BC realmente dormiu no ponto e só acordou agora — registra o ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas.

Por que a demora, diante da pilha de evidências do esquema de alavancagem radical?

Uma semana para provar que assunto nunca falta, por Bruno Carazza

Valor Econômico

Banco Master, COP30, Messias no STF, reação de Alcolumbre, recuo de Trump no tarifaço e prisão de Bolsonaro: de tédio a gente não morre

Há sete anos recebi o convite improvável de Maria Cristina Fernandes para ser colunista do Valor. Depois do impensado impulso de aceitar (“a hora do ‘sim’ é o descuido do ‘não’”, já cantava Vinicius de Moraes), dois pensamentos passaram a me aterrorizar.

Acima de tudo estava a responsabilidade de escrever num espaço que, desde o lançamento do jornal, havia sido ocupado por grandes analistas políticos como Fernando Limongi, Marcos Nobre, Renato Janine Ribeiro, Luiz Werneck Vianna, Fábio Wanderley Reis e Fernando Abrucio. Como se isso não bastasse, ainda havia a pressão da periodicidade: será que eu teria repertório para um texto semanal, numa publicação com um público tão qualificado e exigente?

Cenário de divisão da direita sem Bolsonaro é provável

Valor Econômico, por César Felício

Preso e sem perspectivas de socorro, ex-presidente tem pouco estímulo para transferir eleitorado a liderança de fora da família

A antecipação da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro abre portas para um cenário de consolidação da divisão da direita na eleição presidencial de 2026. Bolsonaro mantém como ativo a força eleitoral, hoje com viés de baixa, não de alta. Encarcerado, sem perspectivas de construção de uma saída política no Congresso para anular sua condenação, mesmo com pressão dos Estados Unidos, não há estímulos para a transferência do legado.

Especialistas em pesquisas eleitorais e em marketing político já calculam o que é reserva de mercado do bolsonarismo puro dentro do eleitorado antipetista, avaliado em cerca de 50% do total nacional. Há unanimidade entre eles de que o ex-presidente representa a faixa majoritária dos que se dizem de direita, mas não tem mais as exclusividade deste contingente, o que tende a torná-lo mais radical.

“Pesquisa nossa feita depois da condenação judicial mostra que 35% do eleitorado brasileiro se classifica como sendo de direita e 63% nominam Bolsonaro como principal liderança. Isso no eleitorado total indica 22% de bolsonaristas puros”, comenta o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe, que avalia ser esse o potencial de transferência.

Aliados de Bolsonaro veem crescer favoritismo de Tarcísio, por Andrea Jubé e Joelmir Tavares

Valor Econômico

Governador de São Paulo é visto como nome que une centro, direita e bolsonaristas

Aliados do núcleo principal de Jair Bolsonaro avaliam que o episódio da prisão preventiva, que revogou a domiciliar e remanejou o ex-presidente para uma cela na sede da Polícia Federal, dificulta as comunicações, mas não interdita as discussões sobre quem será o herdeiro político do líder da oposição. A percepção é de que o fato fortalece o favoritismo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao mesmo tempo em que esvazia a possível candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Um desses aliados disse ao Valor que Tarcísio continua sendo o nome que une o centro, a direita e o bolsonarismo, especialmente se for ungido pelo ex-mandatário como o seu candidato à Presidência. Na visão desta fonte, a retirada de Bolsonaro do regime domiciliar deverá alertá-lo para a importância de ele escolher o nome mais competitivo de seu campo político para ganhar o seu apoio e enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2026.

Só a busca por blindagem une o bolsonarismo e o Centrão, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Grupo político mais renhido do entorno de Bolsonaro parece ter visto uma senha para a resistência

A perspectiva de que viesse a perder a possibilidade de uma prisão domiciliar, pelo indício de fuga, é suficiente para o ex-presidente ter mudado a versão sobre sua motivação para a violação da tornozeleira de “curiosidade” para “alucinação”. Se a mudança de versão não lhe devolverá, tão cedo, a chance de ficar preso em casa, tampouco será suficiente para arrefecer a resistência do bolsonarismo a uma candidatura única do campo da direita.

Por mais desmoralizante que a história da tornozeleira possa parecer, e o silêncio dos advogados sobre a violação é reveladora, a “paranoia” da qual Jair Bolsonaro se diz possuído reforça a vitimização como narrativa. Um dos poucos a se pronunciar sobre o tema, a partir do depoimento do ex-presidente na audiência de custódia, foi o influenciador Paulo Figueiredo.

Antecipação de prisão pode forjar aliança do Centrão com bolsonarismo, por César Felício

Valor Econômico

A possibilidade de um alinhamento pleno entre os dois blocos levou deputados de esquerda a baixarem a euforia com a tão esperada prisão

As notas em redes sociais do ex-presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, preso preventivamente nesse sábado (22), são as mais sugestivas das primeiras consequências políticas de um evento esperado desde o início do ano. O Congresso Nacional deve retomar os trabalhos esta semana com uma aliança tácita entre o Centrão e o bolsonarismo para beneficiar o líder condenado.

Lira ainda mantém em mãos muitas das rédeas que operam as emendas parlamentares na Câmara e é a eminência parda na gestão do sucessor, o presidente da Câmara Hugo Motta (PP-PB). Com a centena de parlamentares da "União Progressista" (PP mais União Brasil) alinhada à oposição, Kassab é o fiel da balança que forja uma maioria parlamentar.

Prisão rara indica robustez institucional, por Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Democracias têm enorme dificuldade em julgar e impor penas de prisão a chefes do Executivo

A prisão de Jair Bolsonaro e a perspectiva de início de cumprimento de uma pena severa têm produzido interpretações polares — para uns, justiça; para outros, perseguição. Reações semelhantes ocorreram quando Lula foi preso e, depois, solto. Como demonstrei no artigo escrito com André Klevenhusen, In Court we Trust? Political Affinity and Citizen’s Attitudes Toward Court’s Decision, a forma como indivíduos avaliam decisões judiciais é amplamente afetada por vieses políticos e afetivos.

Mas o ponto central é outro: democracias encontram enorme dificuldade em julgar e impor penas privativas de liberdade a chefes do Executivo. Quando conseguem fazê-lo, demonstram força institucional – não fragilidade.

Bolsonaro preso, mas a página não foi virada, por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Um espectro sempre acompanhou o bolsonarismo, o de que a força pode se impor sobre as instituições

Realisticamente, contudo, ele ainda detém uma carta poderosa: a escolha de seu sucessor em 2026

Foi um anticlímax. Veio num momento em que ninguém esperava, cedo da manhã do sábado, dias antes do aguardado "transitado em julgado". Flávio Bolsonaro conclamara os militantes para uma vigília, uma "luta" espiritual pedindo ao "Senhor dos Exércitos" que corrija os erros da Justiça humana. Mas não deu tempo de colocar as tropas em posição. As câmeras da mídia também não estavam prontas. A prisão de Jair Bolsonaro em nada lembrou o espetáculo da prisão de Lula em abril 2018 na sede dos metalúrgicos, quando uma multidão veio defender o ex-presidente e dificultar o trabalho da polícia.

A ordem de Alexandre de Moraes foi correta. A aglomeração de defensores fora do condomínio poderia gerar tumulto e violência. Além disso, Bolsonaro tentou violar a tornozeleira com um ferro de solda. Não está claro se houve algum plano mirabolante ou se —o que é mais provável— foi puro fruto de um surto psiquiátrico. Seja como for, o mais seguro para todos os envolvidos —especialmente Bolsonaro— é o que aconteceu: sua transferência para a superintendência da PF com o devido acompanhamento médico constante.

Direita não precisa mais de Bolsonaro, Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Pá de cal foi jogada pelo próprio Jair, que derreteu sua tornozeleira e seu capital político

Candidaturas alternativas de direita ainda têm longo caminho e grande pedra chamada PF

Jair Bolsonaro derreteu sua tornozeleira e seu capital político. Se antes era a direita que precisava do bolsonarismo, agora o cenário mudou.

Há meses o bolsonarismo estava em crise. O número de apoiadores em protestos de rua declinou, assim como seu impacto nas redes sociais. Para piorar, o fim do tarifaço para produtos agrícolas enterrou de vez a estratégia de Eduardo Bolsonaro para salvar o pai.

O fracasso retumbante de Eduardo fez com que passasse o bastão para o irmão mais velho, Flávio Bolsonaro. Porém, após o fiasco de uma caminhada promovida em outubro, na qual compareceram 2.000 pessoas, Flávio tentou reacender o ânimo dos apoiadores, mas apenas acelerou o enterro político de sua família.

Prisão de Bolsonaro é ponto fora da curva entre democracias em crise, por Ana Luiza Albuquerque

Folha de S. Paulo

Independência do Judiciário garantiu prisão de líder autoritário populista condenado

Medida não é suficiente para mudar condições que permitiram sua chegada ao poder

Jair Bolsonaro é o primeiro dos grandes líderes da leva de autoritários populistas do século 21 a ser preso por atentar contra a democracia. Seus aliados internacionais seguem não apenas livres, mas firmes.

Nos Estados UnidosDonald Trump voltou à Presidência antes que o julgamento de seus processos atrapalhasse seus planos eleitorais. Na HungriaViktor Orbán se prepara para uma difícil eleição, mas os 15 anos que acumula no poder podem ser um trunfo para garantir sua permanência como primeiro-ministro.

Enquanto isso, Bolsonaro passará seus dias, ao que parece, em uma sala da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Cabe perguntar: por que o ex-presidente teve um destino diferente dos seus pares?

Em primeiro lugar, a manutenção de uma Suprema Corte independente foi fundamental para fazer valer a lei e punir a ameaça democrática. Cientistas políticos que estudam a qualidade das democracias costumam identificar o Judiciário como o último bastião frente aos avanços de um autocrata.

Dulce/Márcia, por Ivan Alves Filho

Eu a conheci como Márcia, militante aguerrida do Partido Comunista Brasileiro, o velho Partidão. Somente alguns anos depois, apesar de eu viver com sua irmã, Ana Cláudia, é que eu soube seu verdadeiro nome: Dulce Rosa.

Um nome inspirado por alguma canção popular mexicana, dir-se-ia. Um nome bonito demais da conta, como falariam os mineiros. Um nome que ela, devido à luta clandestina, tinha que omitir de quase todo mundo.

Tendo convivido com ninguém menos do que Luiz Carlos Prestes em Moscou, atuou politicamente com Salomão Malina e Givaldo Siqueira, Dulce/Márcia foi ainda amiga pessoal de Gregório Bezerra, cujas memórias datilografava na antiga União Soviética. Dela, pode-se dizer que pautou sua vida pela defesa intransigente da Democracia, tanto no plano político quanto no social. E pagou por isso um preço muito alto, traduzido por clandestinidades e exílios.

Poesia | Sentimento do Tempo, de Paulo Mendes Campos