segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Direita pode disputar nas urnas sua vaga no 2º turno

Por Folha de S. Paulo

Datafolha indica que disputa irá à 2ª rodada; oponente de Lula é capaz de atrair votos avessos ao petista

É considerável ainda a probabilidade de que setores moderados do eleitorado venham a decidir a eleição por pequena margem, como em 2022

A principal incógnita da política nacional hoje é quem ocupará o posto de maior líder da direita com a neutralização de Jair Bolsonaro (PL), inelegível e condenado por tentativa de golpe de Estado. O que parece mais provável —e reforçado por mais uma pesquisa do Datafolha— é que a direita terá um lugar no segundo turno da disputa presidencial de 2026.

A outra vaga, salvo reviravolta improvável, será de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o incumbente que preserva um capital eleitoral invejável, mas não suficiente, nas hipóteses mais fortes, para encerrar o pleito na primeira rodada.

Entrevista | 'Tarcísio não entrará partido nas eleições', avalia cientista política

Por Marcos de Mora e Souza / Valor Econômico

Lara Mesquita diz que governador tomará sua decisão eleitoral só em março, quando terá que escolher se afasta ou não do governo para se candidatar; naquele momento, terá conversa definitiva com Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre pena de prisão por tentativa de golpe de Estado, escolheu seu filho Flávio - conforme este anunciou na sexta-feira - para representá-lo nas eleições para a Presidência da República em 2026. Para Lara Mesquita, cientista política e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, o anúncio deve ser encarado como um movimento provisório e parte de uma jogada política que busca dar munição à família nas negociações com o próprio campo da direita, sobretudo com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

No domingo (7), dois dias após o anúncio da pré-candidatura, Flávio admitiu que pode não levar o projeto até o fim. "Eu tenho um preço para isso. Vou negociar", disse a jornalistas, sinalizando que esse "preço" seria a aprovação de uma anistia aos condenados por atos golpistas, que poderia livrar seu pai da prisão. O senador afirmou que vai se reunir nesta segunda-feira (8) com dirigentes de partidos de direita para tratar de sua participação nas eleições.

O governador de São Paulo tem aparecido como o nome mais forte do bolsonarismo para a disputa com o presidente Lula ao Planalto no próximo ano. Mesquita avalia que Bolsonaro nutre duas grandes expectativas em relação ao candidato que vier a disputar pela direita: que defenda suas bandeiras, de modo a mantê-lo relevante como referência política, mesmo preso; e que faça o possível para anistiá-lo.

Mas são demandas que Tarcício (muito mais do que alguém da família) talvez tenha dificuldades de bancar, avalia a cientista política. 

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Porque os governadores estão mais fortes, por César Felício

Valor Econômico 

Caixa reforçado aumenta cacife de chefes regionais em 2026

Não é produto de política pura e muito menos uma coincidência o fato de todas as alternativas presidenciáveis à família Bolsonaro serem de governadores. Cinco de uma vez (Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado e Eduardo Leite) é algo nunca visto na relativamente curta história democrática brasileira, e tanto entusiasmo em relação a esta turma se explica pela maré favorável generalizada na opinião pública, manifestada em pesquisas de avaliação de governo. A raiz dessa bonança é fiscal, como se tentará explicar nesta coluna.

Consistentemente os governadores têm desempenho melhor que o presidente nestes levantamentos, fenômeno que não é restrito aos que sonham com o Planalto. São raros governantes estaduais que contam com menos de 50% de aprovação em seus Estados. Nos dez Estados onde houve levantamentos recentes feitos pela Quaest ou pela Atlas Intel não há nenhum abaixo desse limiar, seja de direita ou esquerda, do norte ou do sul.

Numa Brasília que busca blindagem, quem a perdeu fixa preço, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Bolsonaro inverte o jogo e mostra que a unidade da direita deveria interessar mais a quem ainda não perdeu sua liberdade

O Centrão pretendia relegar o bolsonarismo a uma máquina recauchutada de votos posta para trabalhar em troca de uma promessa futura de indulto. A candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) mostra que o ex-presidente quer conjugar o verbo no presente e trocar um indulto por anistia. Vale-se, para isso, do ambiente conturbado no Congresso com a queda de braço com o Supremo Tribunal Federal. A blindagem que, em diferentes gradações, tanto parlamentares quanto togados temem perder já não é mais uma amarra para Jair Bolsonaro. Por isso, paradoxalmente, é quem tem mais liberdade no tabuleiro.

Pré-candidatura de Flávio embaralha direita para 2026, por Joelmir Tavares

Por Valor Econômico

Leitura inicial do entorno de Tarcísio é a de que movimento do filho de Bolsonaro faz com que governador saia, momentaneamente, de foco

O anúncio de que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi escolhido para receber o apoio do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na corrida ao Palácio do Planalto em 2026 foi visto com surpresa e cautela por parte das lideranças de direita, que agora refazem cálculos. Fontes ouvidas pelo Valor relataram um cenário de ceticismo, neste primeiro momento, e o desejo de observar os desdobramentos. No núcleo duro do bolsonarismo, contudo, as manifestações têm sido em tom de entusiasmo com a hipótese.

No entorno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vinha sendo tratado como o nome predileto de setores da direita e do Centrão, a leitura inicial é a de que o movimento de Flávio faz com que ele saia de foco, ao menos momentaneamente. Tarcísio foi avisado por Flávio da decisão do ex-presidente antes de a informação vir a público, em coluna do portal Metrópoles, na tarde desta sexta-feira (5). O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, confirmou a decisão da legenda no mesmo dia.

‘O grande porrete’ não vive duas vezes, por Demétrio Magnoli

O Globo

Opinião pública americana é avessa a uma guerra na América do Sul, especialmente a própria base ideológica trumpista

‘Fale suavemente e carregue um grande porrete.’ Trump recupera o aforismo empregado por Theodore Roosevelt na década inicial do século XX, mas com um desvio. A parte do “grande porrete” encontra-se à vista de todos, no sul do mar do Caribe, às portas da Venezuela, sob a forma do porta-aviões USS Gerald Ford e seu grupo de combate naval. O “fale suavemente” aplica-se exclusivamente a outros lugares: nas relações de Trump com Vladimir Putin e Xi Jinping.

A operação de mudança de regime na Venezuela desenrola-se à sombra de um álibi pelicular: a “guerra ao narcoterrorismo”. Destinada a conferir um verniz de legalidade a ações letais contra pretensos narcotraficantes, a fórmula se aplica à ditadura de Maduro, designado pela Casa Branca como chefe de um certo Cartel de los Soles.

Doutores por experiência de vida, por Preto Zezé

O Globo

Celso Athayde, Mano Brown e Emicida já eram referência para a favela muito antes da academia

Recentemente estive numa universidade para testemunhar um momento histórico: o título de honoris causa concedido a meu irmão Celso Athayde. Enquanto ele subia ao palco, passou um filme na minha cabeça. Não era só sobre ele. Era sobre uma linhagem inteira, uma genealogia da rua, da favela e da inteligência orgânica brasileira que, enfim, começa a ser reconhecida pelas instituições formais.

Há algum tempo, Mano Brown recebeu honoris causa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Depois, Emicida foi homenageado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Três homens, três trajetórias, três impactos profundos na cultura brasileira. E os três — cada qual numa etapa da minha vida — foram a base da minha formação como homem preto, favelado, politizado e orgânico.

A República? Ora, a república, por Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

O problema está justamente no vale-tudo, tudo mesmo, em que prevalece a mistura de interesses pessoais e partidários

Claro que é prerrogativa do presidente da República indicar nomes para o Supremo Tribunal Federal. Está na letra da lei. Mas o espírito da lei pede mais. O indicado, além do notório saber jurídico e da reputação ilibada, deve ser capaz de exercer a neutralidade e a independência para julgar até o próprio presidente que o indicou. Ingenuidade, dirão — e com razão, quando se observa a prática política de hoje. O problema está justamente aí, nesse vale-tudo — tudo mesmo — em que prevalece a mistura de interesses pessoais e partidários.

O presidente Lula exerce sua prerrogativa quando indica Jorge Messias, advogado-geral da União, a uma vaga no Supremo. Mas qual a principal credencial do indicado? Ser próximo do presidente, um quadro de sua confiança — como admitem abertamente seus colaboradores. Messias não é um estranho no mundo jurídico. Mas é, antes de tudo, um quadro do PT — tendo participado de várias gestões petistas e assessorado parlamentares do partido.

O 'preemptive strike' do Supremo, por Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Antes que os poderes sejam reduzidos, o Judiciário aumenta suas defesas – aqui e no restante do mundo

A decisão do ministro Gilmar Mendes – restringindo a possibilidade de pedidos de impeachment contra ministros do STF exclusivamente à Procuradoria-Geral da República – foi recebida com surpresa e acusada, por alguns, de autoproteção corporativa. Mas, ao contrário do que parece, o movimento deve ser interpretado como parte de um fenômeno bem documentado na literatura de ciência política e do Direito comparado: Cortes reagindo preventivamente quando percebem ameaça política real.

Em democracias, tribunais constitucionais dependem de legitimidade e de estabilidade institucional para exercer suas funções. Quando ambos os pilares começam a estremecer por ataques diretos de outros Poderes, é comum que as Cortes adotem decisões que funcionam como escudos preventivos contra tentativas de redução de suas competências ou capturá-las politicamente.

O STF está se paquistanizando? Por Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Cortes por vezes combinam ativismo e populismo, mas este não é o caso da decisão sobre o impeachment

A cornucópia de desvios no caso paquistanês permite distinções finas nas patologias que também se manifestam no nosso STF

Em 2018, comovido com o infortúnio de um estudante de medicina sem condições de pagar as mensalidades de uma universidade privada, o presidente da Suprema Corte do Paquistão, determinou que o próprio tribunal custeasse seus estudos.

Ele também criou uma comissão para a análise da ração de galinhas. E outra para se contrapor a política de taxação zero de remessas do exterior implementada pelo governo. Seus apoiadores justificam suas ações por causa da inação do Poder Executivo. A corte também cancelou os direitos políticos do primeiro-ministro Nawaz Sharif quando vieram à tona os Panamá Papers. Dez anos antes ocorreu o inverso: o governo militar destituiu o então presidente do tribunal e mais 60 juízes. Juízes populistas e juízes independentes por vezes se confundem.

A flor do estado inconstitucional das coisas, por Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Diversos direitos e garantias não passam de letra fria para a maioria negra da população nacional

A intolerância em relação à prática de religiões de matriz africana é outro exemplo de violação constitucional

É imperativo admitir que a perenidade do racismo no Brasil é fruto do estado inconstitucional das coisas. Independentemente do que preconizam as leis e as normas, a distância entre o direito formalizado (formal) e o que se materializa (material) é monumental.

Diversos direitos e garantias não passam de letra fria (ou melhor dizer morta?) para a maioria negra (56%, IBGE) da população nacional. A interseção étnico-racial presente na violação de direitos fundamentais (vida, liberdade, segurança, igualdade e propriedade estão previstos no Art. 5º da Constituição Federal) é gritante e deixa claro que características típicas desses preceitos, como universalidade e inalienabilidade, não se aplicam a todos.

A casa de Louis Aragon, por Ivan Alvas Filho*

Eu parei diante daquela casa, como que estatelado. Eu me recordo da imponente grade de ferro que me separava por alguns bons metros da fachada da velha morada. Melhor seria dizer: do frontispício, palavra que, na minha imaginação, remete àquelas frontarias das igrejas barrocas, portanto templos sagrados, do interior de Minas Gerais.

Já não me recordo bem porque fui parar ali. Acredito que visitava um amigo pelas redondezas e, como estava de carro, resolvi conhecer, ainda que somente pelo lado de fora, a casa do poeta.

Pois é um poeta – e dos grandes  –  que estou relembrando aqui.

Refiro-me a Louis Aragon, ou o outro nome da consciência sensitiva francesa ao longo do século XX. Mais: de sua consciência política também, pois ninguém, como Aragon, revelou tanta coragem na resistência às tropas nazistas que invadiram seu país em um certo 10 de agosto de 1940.

Poesia | Tabacaria, de Fernando Pessoa

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Música | Elis Regina - Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues / Alcides Gonçalves)

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domingo, 7 de dezembro de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci* (Grande política – pequena política)

“Grande política (alta política) — pequena política (política do dia a dia, política parlamentar, de corredor, de intrigas). A grande política compreende as questões ligadas à fundação de novos Estados, à luta pela destruição, pela defesa, pela conservação de determinadas estruturas orgânicas econômico-sociais. A pequena política compreende as questões parciais e cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura já estabelecida em decorrência de lutas pela predominância entre as diversas frações de uma mesma classe política. Portanto, é grande política tentar excluir a grande política do âmbito interno da vida estatal e reduzir tudo a pequena política (Giolitti, baixando o nível das lutas internas, fazia grande política; mas seus súcubos, objeto de grande política, faziam pequena política). Ao contrário, é coisa de diletantes pôr as questões de modo tal que cada elemento de pequena política deva necessariamente tornar-se questão de grande política, de reorganização radical do Estado. Os mesmos termos se apresentam na política internacional: 1) a grande política nas questões relacionadas com a estatura relativa de cada Estado nos confrontos recíprocos; 2) a pequena política nas questões diplomáticas que surgem no interior de um equilíbrio já constituído e que não tentam superar aquele equilíbrio para criar novas relações.”

*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.3. p.21. Civilização Brasileira, 2007.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Abertura comercial terá efeito imediato na produtividade

Por O Globo

Acordo Mercosul-UE e redução do tarifaço de Trump são cruciais para sanar deficiência crônica do Brasil

Nos últimos cinco anos, a renda per capita cresceu 1,7% ao ano no Brasil. O principal motor do avanço foi a queda no desemprego. Em outubro, ele caiu a 5,4%, nível mais baixo da série histórica iniciada em 2012. Mas é impossível o desemprego seguir caindo de forma indefinida sem gerar pressão inflacionária. A situação atual da economia expõe, ao mesmo tempo, o limite das políticas de estímulo ao consumo e a dificuldade crônica do Brasil de enfrentar sua maior deficiência— a improdutividade.

Quem substituirá Tarcísio? Por Merval Pereira

O Globo

Assim como Bolsonaro, o senador Flávio não tem experiência de gestão de coisa nenhuma, e, diferente do pai, não tem votação própria, depende do apoio dele para se eleger qualquer coisa.

A partir da decisão do ex-presidente Bolsonaro de indicar seu filho Flávio para candidato à presidência da República, abre-se um caminho para aqueles que conseguirem substituir o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas na preferência da classe média e do mercado financeiro, que já mostrou sua preocupação com a fragilidade de Flávio e a vantagem que o presidente Lula ganha com uma escolha tão desastrada para disputar com ele.

Só o fato de que a família Bolsonaro pretende fechar entre os seus as decisões da campanha eleitoral retira da candidatura a possibilidade de ampliar sua penetração em outros setores da sociedade. Os candidatos alternativos à polarização entre lulistas e bolsonaristas terão um espaço ampliado à direita e ao centro, pois a preferência por Tarcísio de Freitas indica que o que esse nicho eleitoral buscava era um candidato competitivo que tivesse o apoio de Bolsonaro, mas que fosse distante o suficiente dele para ter autonomia de voo quando governasse.

Pesadelo Zero Um, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Candidatura do Zero Um divide as direitas e vira pesadelo para Faria Lima e Centrão

A Faria Lima sonhou com Tarcísio de Freitas e acordou com Flávio Bolsonaro. O capitão frustrou quem esperava que ele entregasse seu espólio de votos a um político com outro sobrenome. Na sexta-feira, Jair informou à praça que o candidato é o Zero Um.

Só quem não conhece o ex-presidente acreditou que ele facilitaria o jogo para o consórcio que une os donos do PIB ao Centrão. Bolsonaro nunca deu bola a partidos, acordos ou expectativas alheias. Sempre agiu pela lógica do clã. No poder, descartou e humilhou aliados que atravessaram o caminho dos filhos. Na cadeia, deixa claro que só confia na prole.

O poder da blindagem, por Elio Gaspari

O Globo

Gilmar blinda Supremo, Toffoli tranca o Master e CPMI não ouvirá Lulinha

Houve um tempo em que o poder de uma pessoa podia ser medido pela sua capacidade de abrir portas. Hoje, mede-se também pela sua capacidade de fechá-las. Depois da demolição da Lava-Jato esse movimento era previsível, numa escala menor.

1 - Gilmar blinda o Supremo:

Num espaço de poucos dias, o ministro Gilmar Mendes passou a tranca no direito dos cidadãos de abrir processos de impedimento de juízes do Supremo Tribunal Federal. De agora em diante, só quem pode fazer isso é o procurador-geral da República.

Pode parecer que o ministro queira blindar o tribunal diante da possibilidade de a oposição conseguir no que vem o número de senadores capazes de impedir os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Parece e é isso mesmo.

O Orçamento sequestrado, por Míriam Leitão

O Globo

O Congresso captura parte expressiva do Orçamento, prejudica a governabilidade e distorce o funcionamento da democracia

O presidente Lula disse que o Orçamento foi sequestrado. E foi. O presidente da Câmara, Hugo Motta, disse que as emendas são uma prerrogativa do Congresso. E são. O erro está no valor exorbitante a que as emendas chegaram e no modo como são usadas pelo Legislativo. O montante de R$ 50 bilhões é uma distorção institucional. O fato de a Comissão Mista de Orçamento ter aceitado emendas de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem é uma aberração. É preciso olhar além da briga cotidiana.

Lula falou que 50% do Orçamento foi sequestrado. Na verdade, é 50% dos recursos disponíveis, não do Orçamento como um todo, claro. Mais de 90% do dinheiro vai para despesa obrigatória ou tem destinação estabelecida na Constituição. Sobra pouco, e é esse restante que está em disputa.

Sem poesia nem rima, por Dorrit Harazim

O Globo

Trump faz do combate à imigração sua arma política mais potente neste segundo mandado. Demoniza o ‘outro’

A história talvez seja apócrifa, mas é boa. Conta-se que, quando Sam Goldwyn decidiu investir na versão para cinema de “The children’s hour”, primeira obra de dramaturgia da americana Lillian Hellman, ele foi avisado pelos executivos da MGM de que, na peça, as protagonistas eram lésbicas. Temiam, portanto, que os censores da indústria cinematográfica da época impusessem restrições. O chefão de Hollywood, segundo a história, deu de ombros e foi em frente:

— Qual o problema? Façam com que as protagonistas sejam albanesas.

Não sendo americanas, não manchariam a ficção nacional.

Donald Trump tem se alimentado com voracidade desse artifício, produzindo um cruel roteiro de entretenimento pessoal: a criação de inimigos imaginários para consolidar seu poder interno. O histórico de insultos a cidadãos de “países de merda” ou do “Terceiro Mundo”, como gosta de adjetivar, é antigo em Trump e sempre lhe rende manchetes. Também o surto de nativismo cru e asco humano dirigido contra somalis na semana passada, durante uma reunião ministerial na Casa Branca, atingiu o objetivo: obnubilou o restante do noticiário. (Só esqueceram de lhe avisar que Iman, a supermodelo nascida em Mogadíscio e ícone do mundo fashion, fez seu patrimônio líquido de US$ 200 milhões como imigrante nos Estados Unidos.)

Lula na Sapucaí, o “dedazo” de Bolsonaro e o desfile do “bloco de sujos”, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Na política, um sistema de pesos e contrapesos preserva a cooperação institucional. A independência entre os Poderes parece ter perdido esse equilíbrio silencioso. Falta harmonia.

Não é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não mereça um enredo de escola de samba, pois sua vida romanesca serve até para a teledramaturgia. Mas a estreia da Acadêmicos de Niterói no Grupo Especial em 2026, conduzindo pela Sapucaí um enredo que celebra sua trajetória pessoal, é um caso típico de culto à personalidade, que só não é comparável ao estilo norte-coreano porque lá a sociedade foi militarizada e, aqui, é carnaval. Não seria nada mais justo se 2026 não fosse um ano eleitoral.

A avenida transforma líderes em alegorias, memórias em canto coletivo e contradições nacionais em poesia. O processo político não é um desfile na Sapucaí, porém, as escolas de samba nos dão um ensinamento precioso para a política, que nos faz muita falta nesse momento de estresse entre os Poderes. Toda grande escola, para desfilar na avenida, precisa de um diretor de harmonia, alguém capaz de garantir que o conjunto avance sem “atravessar” o samba e abrir grandes espaços na pista.

A faixa e a cela: o Brasil que transforma presidentes em réus, por Christiany Fonseca*

Correio Braziliense

A prisão de ex-presidentes passou a compor o noticiário como se fosse previsão de chuva. Por que tantos presidentes transitam tão perto da ilegalidade?

No Brasil, a Presidência da República é a única função em que o ocupante sobe a rampa como monarca imaginário e, ao final, desce as escadas da história como investigado ou até como preso. É um cargo que oferece pompa, aparato oficial e plateia permanente, mas que devolve, inevitavelmente, o espelho mais cruel do poder: aquilo que o presidente fez quando acreditou que o país dormia. Aqui, o poder não transforma. O poder revela.

Da redemocratização para cá, sete presidentes chegaram ao topo do sistema político. Quase a metade terminou descobrindo o Estado sob outra perspectiva, a de quem conhece a burocracia não pela liturgia do cargo, mas pelas engrenagens do processo penal. Isso não é coincidência, não é azar estatístico e não é acidente histórico. É um ritual brasileiro que se repete com precisão irritante. Celebramos a posse como se fosse um épico nacional e assistimos ao pós-mandato como um inevitável acerto de contas.

Não a Flávio é sim a Tarcísio, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Rejeição a Flávio e ao sobrenome Bolsonaro desencadeia campanha pró Tarcísio

O tímido lançamento do senador Flávio Bolsonaro à Presidência, por ele próprio, numa mera notinha, deixa dúvidas se é para valer ou não, racha a direita e é comemorado pelo lulismo. Tudo somado, o principal efeito foi o oposto do desejado pela família: deflagrar uma campanha de setores políticos, econômicos e financeiros a favor de Tarcísio Gomes de Freitas. O não a Flávio é o sim a Tarcísio contra Lula.

Como levar a sério um lançamento feito pelo próprio interessado, numa nota desenxabida, no fim tarde de uma sexta-feira? A primeira impressão foi natural: isso não é sério, foi só para conter a onda pró Michelle, enquanto é tempo. Ou seja, movimento preventivo.

Anúncio de candidatura de Flávio freia outros nomes da direita e deve beneficiar Lula, dizem analistas

Por Lilian Venturini e Ma Leri / Valor Econômico

Já um nome menos associado a Jair Bolsonaro, a depender do cenário, impõe mais dificuldades ao atual presidente

São Paulo - O lançamento da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República deve ter como efeito inicial um freio nas articulações de outros nomes da direita para 2026. O processo, no entanto, pode acabar favorecendo a formação de quadros independentes do bolsonarismo, avaliam cientistas políticos ouvidos pelo Valor. Há a leitura, ainda, de que o cenário -- se confirmado -- seria mais vantajoso para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve tentar a reeleição.

"É um banho de água fria em alguns candidatos. Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo] dizia que não era candidato, mas se movia como se fosse. O anúncio significa um freio de mão nesse processo, paralisa. Vai levar alguns dias, se não semanas, para avaliar se é definitivo ou não, que jogo é esse, se tem negociação, o que está por trás. Empaca o ritmo da direita", afirma o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.

Indicação de Flávio Bolsonaro divide governadores da direita e acelera debates sobre 2026

Por Victoria Neto / Valor Econômico

Em comum, destacaram que o processo eleitoral ainda está em construção e que as definições devem amadurecer nos próximos meses

Rio - O anúncio de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de que ele foi indicado pelo pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, para disputar a Presidência da República dividiu reações entre governadores do Sul e Sudeste. Enquanto os filiados ao PL declararam apoio imediato à decisão, outros afirmaram respeitar a escolha, mas defenderam que seus partidos devem manter projetos próprios – caso de Ratinho Júnior e Eduardo Leite (ambos do PSD) e Romeu Zema (Novo). Em comum, destacaram que o processo eleitoral ainda está em construção e que as definições devem amadurecer nos próximos meses.

As declarações foram dadas em coletiva neste sábado (6), no encerramento da 14ª edição do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), no Rio. O evento foi realizado na capital fluminense desde quinta-feira (4), sob a presidência do governador do Estado, Cláudio Castro (PL).

Bolsonaro cobra o preço final das escolhas da direita, por Igor Gielow

Folha de S. Paulo

Lançamento da candidatura do senador Flávio em 2026 empareda Tarcísio e o centrão, deixando ambos sem opção boa

Se renunciar ao bolsonarismo, campo assumirá traição; se ficar com ele, ganha a radioatividade apontada no Datafolha

A redemocratização brasileira é marcada por contradições. Se o país e o Congresso que o espelha são reinos do conservadorismo de baixa extração, o poder federal passou 20 anos nas mãos de pessoas mais à esquerda, ainda que só nominalmente.

O fastio que emergiu nas ruas de 2013 e em sua mutação à direita em 2016 desaguou no bolsonarismo, que aproveitou-se da implosão do sistema político via corrupção e Lava Jato para propor um novo paradigma —farsesco e golpista, como se provou.

Se no começo apenas militares saudosos da ditadura embarcaram no projeto, logo ele encantaria setores da finança e do empresariado e, principalmente, ganharia tração popular. Alquebrado, o sistema tradicional e a esquerda assistiram à ascensão do hoje prisioneiro Jair Bolsonaro (PL).

Se 'Flávio 26', e finança azeda, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Líderes de centrão e direitas ainda tentam entender o que se passa com os Bolsonaros

Tombo de sexta no mercado foi exagero, mas preços financeiros devem piorar um tanto

Assim que soube de "Flávio 26", a maioria dos donos do dinheiro vendeu ações, reais e títulos da dívida pública. Foi o maior paniquito em quatro anos, com juros e dólar em alta forte. É óbvio medo de que "Flávio 26" facilite Lula 4. Mas suponha-se que Flávio Bolsonaro viesse a aparecer bem nas pesquisas. "O mercado" voltaria a se animar, aceitando assim qualquer coisa que não seja Luiz Inácio Lula da Silva?

A hipótese por ora é improvável e a pergunta pode parecer piada, mas dá o que pensar nas dificuldades do governo em 2026 e de um possível Lula 4.

A velha escuridão que nos segue, por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Isso se aplica ao momento presente da escuridão que nos segue desde a formação moderna do país

Velhice aqui pautada não é o amadurecimento biológico; é o fato institucional sem a necessária renovação existencial

Diz um provérbio russo que peixe começa a feder a partir da cabeça ("ryba is galovy gniot", para conferência dos cultores da língua). Como em todo provérbio, há um jogo entre a significação aparente e o sentido oculto. Isso se aplica ao momento presente da escuridão que nos segue desde a formação moderna do país: o julgamento de generais, almirante e oficiais menores não é só fato inédito nas Forças, mas também atestado de velhice de uma casta, entranhada como um alien nas vísceras da República.

Caso de família, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Candidatura de Flávio parece mais um jogo de equilíbrio de forças nas internas do clã Bolsonaro

'Seu Jair' corre o risco de ver sua liderança contestada abertamente pela direita insatisfeita

Não parece ter sido coincidência: na terça-feira (2), Michelle Bolsonaro derrota os enteados no lance do veto à aliança do PL com Ciro Gomes (PSDB) no Ceará; na sexta (5), o primogênito Flávio Bolsonaro diz que recebeu do pai sinal verde para se lançar candidato a presidente pelo partido.

A aparência é muito mais de um jogo de equilíbrio das forças familiares do que propriamente do lançamento de uma candidatura para valer, daquele que representaria a direita na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente seria o maior beneficiário dela e, portanto, deve estar achando ótimo.

Flávio candidato prova que a direita errou, por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Ex-presidente sinaliza que prefere manter identidade autoritária do movimento a ceder espaço para direita tradicional

Indicação de filho mais velho mostra que movimento bolsonarista resiste à absorção pelo centrão

Com a indicação de Flávio Bolsonaro como seu candidato à Presidência da República, Jair tenta soldar as rachaduras em seu círculo familiar. Mais do que isso, tenta preservar a identidade autoritária e populista de seu movimento, resistindo às tentativas de absorção pelo centrão.

Desde o início de sua carreira política, Bolsonaro administra sua máquina política como uma empresa familiar. É fácil entender por quê: seus filhos nunca tiveram qualquer capital político independente do pai; se não o obedecerem, Jair os condenará ao ostracismo político e, pior, à necessidade de arrumar emprego.

Poesia | Aos que vierem depois de nós - Bertolt Brecht, Tradução Manuel Bandeira

 

Música | Simone - Tô Voltando

 

sábado, 6 de dezembro de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci

“Referências ao senso comum e a solidez de suas crenças encontram-se frequentemente em Marx. Contudo, trata-se de referências não à validez do conteúdo de tais crenças, mas sim a sua solidez formal e, consequentemente, à sua imperatividade quando produzem normas de conduta. Aliás, em tais referências, está implícita a afirmação da necessidade de novas crenças populares, isto é, de um novo senso comum e, portanto, de uma nova cultura e de uma nova filosofia, que se enraízem na consciência popular com a mesma solidez e imperatividade das crenças tradicionais."

Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, 4ª Edição, v,1, p.118. Editora Civilização Brasileira, 2006.

 

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Descaso com crise fiscal contamina Orçamento de 2026

Por O Globo

Acordo entre Congresso e governo amplia gastos em ano eleitoral, desprezando custo para o país

O descaso do governo e do Congresso com a crise fiscal ficou flagrante na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 aprovada nesta semana. É como se, em Brasília, as leis gravitacionais que regem a economia tivessem sido revogadas, e a classe política vivesse num universo paralelo, onde as despesas pudessem subir até a estratosfera, o dinheiro crescesse feito mato em meio à grama da Praça dos Três Poderes, e o contribuinte estivesse sempre disponível para arcar com tudo, sem custo para o crescimento e o desenvolvimento do país.

O Judiciário mais forte do mundo, por Thaís Oyama

O Globo

Faz tempo que ‘forte’ deixou de ser adjetivo inocente. Passou a servir de aposto a políticos como Trump, Putin, Orbán, Erdogan

Alexandre de Moraes disse que “não há no mundo Poder Judiciário tão forte quanto o do Brasil”. O devaneio napoleônico do ministro do STF foi proclamado em evento nesta semana para explicar à plateia por que motivo o Judiciário sofre ataques contínuos de seus “inimigos”. É, segundo Moraes, uma reação proporcional à grandeza da instituição — que ele poderia ter enaltecido como “atuante", “independente”, “inquebrantável” ou outra dezena de adjetivos de que seu vasto vocabulário de juiz certamente dispõe. Preferiu dizer que é porque o Judiciário brasileiro é “forte” — segundo ele, o mais forte das galáxias.

Faz tempo que “forte” deixou de ser um adjetivo inocente. Na tradição da ciência política que fala em “Estados fortes” e “Estados fracos”, os Estados Unidos da Guerra Fria eram o modelo de Estado fraco, por ser descentralizado e baseado no sistema de freios e contrapesos. O Estado forte por excelência era a União Soviética: centralizado, opaco, autoritário.

A crise mais urgente, por Flávia Oliveira

O Globo

O país sempre foi território hostil às pessoas do sexo feminino, mas a brutalidade alcançou patamar inaceitável neste 2025

A despeito do esforço dos homens dos Poderes em buscar holofotes para o permanente estado de crise entre Executivo, Legislativo e Judiciário, não há nada mais urgente no Brasil do que a epidemia de violência contra mulheres. O país sempre foi território hostil às pessoas do sexo feminino, mas a brutalidade alcançou patamar inaceitável neste 2025, em que agressões e assassinatos, em vias públicas, são filmados e exibidos em looping sem que Lulas, Alcolumbres, Mottas e Gilmares interrompam as picuinhas de Brasília em socorro ao grupo populacional que é maioria na população, no eleitorado e no comando das famílias. O Ministério da Justiça registra quatro feminicídios, sete homicídios, 196 meninas e mulheres vítimas de estupro a cada dia. E o país segue funcionando como se violentadas elas não fossem.

Quatro mortes e uma prisão, por Eduardo Affonso

O Globo

Instituições psiquiátricas, não para prender, dopar ou isolar, mas para socorrer, teriam salvado João e Gerson de si mesmos

Os personagens desta crônica se chamam Leona, Layse, Allane, Gerson e João. Deveria haver também um anjo, mas este só costuma aparecer nas narrativas sobrenaturais, e estamos no Brasil, no âmbito do surreal. Desses cinco, quatro estão mortos — e a sobrevivente continua condenada à prisão perpétua, sem ter jamais cometido crime algum.

Layse e Allane morreram por ser mulheres — o que, pela legislação, não é conduta passível de pena capital. Mas calhou de seu caminho profissional cruzar o de João, que padecia de uma doença severa e não tratada — cujo nome foi tão banalizado que perdeu a gravidade: misoginia.

Flávio Bolsonaro se lança à Presidência com aval do pai

O Globo

Por Luísa MarzulloLauriberto PompeuGabriel Sabóia e Jeniffer Gularte 

Centrão frustrado, apoio da família e silêncio de Tarcísio: tudo sobre o anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro

Senador diz ter sido escolhido por Bolsonaro para disputar o Planalto em 2026

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou nesta sexta-feira (5) ter sido escolhido pelo pai, Jair Bolsonaro, para concorrer à Presidência da República em 2026. Com o movimento, o ex-presidente passa a centralizar, da cadeia, o projeto político de parte da oposição, além de frustrar partidos do Centrão, que buscam uma união em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na sexta, dirigentes de partidos como PP, União Brasil, Republicanos e PSD avaliavam que a indicação de Flávio, caso seja concretizada, irá isolar o bolsonarismo, levando essas legendas a adotar a neutralidade no ano que vem.

O entendimento, contudo, é que esse cenário pode ser revertido. Integrantes desses partidos acreditam que Flávio não possui musculatura para decolar em uma campanha presidencial e a iniciativa servirá para testar o sobrenome Bolsonaro na pré-campanha. Essa é a mesma leitura do Palácio do Planalto, que por enquanto comemora a desarticulação da direita.