quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Opinião do dia - Antonio Gramsci* (Partido Político)

"Será necessária a ação política (em sentido estrito) para que se possa falar de "partido político"? Pode-se observar que no mundo moderno, em muitos países, os partidos orgânicos e fundamentais, por necessidade de luta ou por alguma outra razão, dividiram-se em frações, cada uma das quais assume o nome de partido e, inclusive, de partido independente. Por isso, muitas vezes o Estado-Maior intelectual do partido orgânico não pertence a nenhuma dessas frações, mas opera como se fosse uma força dirigente em si mesma, superior aos partidos e às vezes reconhecida como tal pelo público. Esta função pode ser estudada com maior precisão se se parte do ponto de vista de que de um jornal (ou um grupo de jornais), uma revista (ou um grupo de revistas) são também "partidos", "frações de partido" ou "funções de determinados partidos",

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, V. 3, p. 349, Civilização Brasileira, 2007

 

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Projeto no Senado melhora e equilibra lei do impeachment

Por Folha de S. Paulo

Relatório dispensa espírito de autoproteção do ministro Gilmar Mendes e eleva barreira da petição popular

Projeto limita ações demagógicas sem retirar dos brasileiros e seus representantes o direito de pleitear cassação de altas autoridades

O abuso cometido pelo ministro Gilmar Mendes na liminar que retirou de cidadãos e de seus representantes eleitos o direito de propor a expulsão da corte de ministros por crime de responsabilidade pode ter deflagrado uma reação virtuosa no Congresso Nacional. Parlamentares se mobilizam para modernizar a lei do impeachment, de 1950.

Está marcada para esta quarta-feira (10) na Comissão de Constituição e Justiça do Senado a apreciação do texto do relator Weverton Rocha (PDT-MA), que apresenta inovações na legislação que tipifica os crimes de responsabilidade e dispõe sobre seus aspectos processuais.

Autoridade não se exerce à força. Por Vera Magalhães

O Globo

Cenas de violência como as vistas na Câmara não são aceitáveis num país democrático

Desde que assumiu o comando da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) vem sendo testado em sua autoridade. Ao definir uma extensa agenda de votações para as duas últimas semanas úteis no Legislativo, ele esperava limpar a pauta e zerar as pendências que fizeram de 2025 um ano truncado por solavancos institucionais.

Mas as cenas de truculência vistas nesta terça-feira e a maneira como ele manejou mais uma crise mostram que Motta ainda enfrenta muita dificuldade em comandar uma Casa cada vez mais cindida pela polarização política e em fazer valer sua autoridade sem precisar apelar ao uso da força — algo incabível quando se trata de uma Casa de representantes eleitos pelo povo.

A pauta anunciada por Motta inclui tanto projetos prioritários para o governo Lula, que ele acordou com o ministro Fernando Haddad, quanto a proposta que mexe na dosimetria das penas dos condenados por tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023 e também por urdirem a trama golpista ocorrida ainda no governo Jair Bolsonaro.

O cambalacho de Hugo Motta. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Refém de padrinhos, presidente da Câmara revela fraqueza política que nem truculência em plenário é capaz de disfarçar

No sábado, Flávio Bolsonaro abriu um leilão para retirar sua recém-lançada candidatura à Presidência. “Eu tenho preço para isso”, informou, sem corar. O senador não quis dizer o que ou quanto cobraria para sair da disputa. Diante da insistência dos repórteres, arriscou um gracejo: “Quem dá mais?”.

Ontem o deputado Hugo Motta fez seu lance. De surpresa, pautou a votação de um projeto sob medida para reduzir as penas dos golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal. O objetivo, claro, é livrar o capitão da cadeia. Pela manobra, sua temporada no xadrez seria abreviada para pouco mais de dois anos.

A conduta do Supremo. Por Elio Gaspari

O Globo

Um freio de arrumação faria bem ao tribunal

Se o ministro Edson Fachin conseguir que seus colegas aceitem se submeter a um código de conduta, terá marcado sua passagem pela presidência do Supremo Tribunal Federal. Não será fácil.

Na semana em que o ministro Gilmar Mendes decidiu blindar os colegas, soube-se que seu colega Dias Toffoli foi ao Peru para assistir à final da Libertadores. Viajou no jatinho de um empresário, na companhia do advogado Augusto de Arruda Botelho, descendente do Barão do Pinhal, contratado por Luiz Antonio Bull, diretor de compliance do Banco Master. Quatro dias depois, o ministro baixou uma ordem de sigilo no processo e determinou que novas investigações devessem passar primeiro por seu crivo.

Agenda de Motta atropela governo e favorece oposição na Câmara. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Presidente da Câmara está cada vez mais alinhado aos adversários de Lula, sobretudo ao projeto do Centrão de unificar a oposição em torno de Tarcísio de Freitas

A iniciativa do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de pautar simultaneamente a mudança na dosimetria das penas aplicadas aos envolvidos no golpe de 8 de janeiro e os processos de cassação de mandato de Glauber Braga (PSol-RJ), Carla Zambelli (PL-SP), Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) produziu mais estresse político em Brasília.

Não apenas porque favorece abertamente a oposição e ameaça impor novas derrotas ao governo Lula, mas também porque revela um método de condução da Câmara que combina improviso, força bruta e ausência de mediação política. O resultado é um presidente fragilizado perante a opinião pública, tentando impor autoridade pelo braço e não pela construção de consensos.

Truculência destoa do pacto pelo PL da dosimetria. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Retirada de Glauber Braga da mesa pela polícia legislativa contrasta com motim do “8 de janeiro de paletó” e com o clima de acordão que marca o PL da dosimetria

A truculência com a qual o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) foi retirado, pela polícia legislativa, da Mesa da Câmara à qual se sentou em protesto contra a inclusão do seu processo de cassação na pauta, destoou do acordo de gabinetes que resultou no PL da dosimetria. Há quatro meses, Motta não avocou a polícia legislativa nem para dissolver o motim que levou os bolsonaristas a ocupar, por 48 horas, a mesa diretora, nem para retirar os jornalistas do plenário, como o fez nesta terça, quando também cortou a transmissão da TV Câmara.

Aquele motim, que visava a pressionar pela votação da anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro, desmoralizou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O episódio desta terça terminou de minar sua autoridade. O motim não impediu que, um mês depois, o Supremo Tribunal Federal condenasse os golpistas do 8 de janeiro, a começar pelo ex-presidente. A truculência contra Braga se dá na esteira de um acordo entre gabinetes do Congresso e do STF.

Centrão vira credor de Bolsonaro e se vinga da esquerda. Por César Felício

Valor Econômico

A demora de Motta, em justificar ao plenário o uso da força, coloca dúvidas sobre a sua liderança na demonstração de força dada pelo Centrão

Há um encadeamento de fatos fundamental para se entender o vencedor do jogo que se desenrolou nesta terça-feira no Congresso. A cronologia começou na quarta-feira passada, quando as chances de um impeachment futuro de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no Senado viraram fumaça com uma canetada do ministro Gilmar Mendes. Na sexta-feira, o ex-presidente Jair Bolsonaro pulverizou a articulação da cúpula do Centrão em torno de uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao escolher o primogênito senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) como seu candidato em 2026. No domingo, Flavio declarou que sua candidatura tinha “um preço”. Na terça, o presidente da Câmara surpreendeu o Colégio de Líderes ao impor como pauta um combo que tinha como seu item número 1 o projeto da Dosimetria. Com a anuência do PL.

Casos de dois ex-tucanos que assombram Tarcísio. Por Fernando Exman

Valor Econômico

Os passos de Tarcísio estão sendo observados por bolsonaristas e petistas

As experiências de dois ex-pré-candidatos a presidente da República pelo PSDB justificam a cautela do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em meio às turbulências provocadas pelo anúncio da pré-candidatura à Presidência do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Na dúvida, que se adote uma postura ambígua, da qual a família Bolsonaro não possa reclamar nem os eleitores de direita e centro-direita lamentar.

Foi nesse contexto que Tarcísio disse na segunda-feira (8), em Diadema (SP), respeitar muito o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele reiterou sua gratidão e lealdade ao ex-mandatário, acrescentando que Flávio, por ser a escolha do pai para representá-lo na eleição presidencial, “vai contar com a gente”. Por outro lado, ressalte-se, ponderou que Flávio se junta agora a um rol mais amplo de outros governadores da oposição que colocaram seus respectivos nomes à disposição para tentar tirar o PT do Palácio do Planalto. E concluiu: está cedo e ainda há tempo de maturação.

Não dá para levar a candidatura de Flávio Bolsonaro a sério, afirma presidente do PT

Por Andrea Jubé e Sofia Aguiar / Valor Econômico

Edinho Silva afirma que filho de ex-presidente errou 'timing' e diz que o PT não vai tirar o foco do governador Tarcísio de Freitas

O presidente nacional do PT, Edinho Silva, afirmou na terça-feira (9) que a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República não pode ser levada à sério, e ainda ironizou que o potencial adversário na sucessão presidencial errou o “timing” ao já colocá-la em negociação. Edinho afirmou que o PT não vai tirar o foco do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), elogiou o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e disse que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) estará no papel que desejar em 2026.

“Eu tenho 40 anos de militância política e nunca vi isso na minha vida”, disse Edinho, ao comentar os recentes movimentos de Flávio. Na sexta-feira (5), o primogênito do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que obteve o apoio do pai para se lançar candidato ao Palácio do Planalto. No domingo (7), contudo, disse que tinha um preço para retirar a postulação. Depois, Flávio afirmou que sua candidatura é “irreversível”.

Centrão esnoba Flávio. Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Kassab procura Ratinho Jr., Ciro não vê chance em nome bolsonarista e Tarcísio dá apoio tímido

Desde que lançou sua candidatura ao Palácio do Planalto, na sexta-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL) só colheu desconfianças. O movimento serviu para unir o Centrão contra sua entrada no páreo como o principal desafiante do presidente Lula. Mas não foi só isso: o grupo também ampliou a procura de nomes para a disputa de 2026.

A aparente unidade do Centrão não significa que o consórcio de partidos lançará apenas um concorrente ao Planalto. Um personagem de bastidor, no entanto, deve ser observado com lupa nessa história: o presidente do PSD, Gilberto Kassab.

Secretário de Governo da gestão Tarcísio de Freitas, Kassab não foi anteontem ao jantar oferecido por Flávio Bolsonaro a dirigentes do Centrão. Marcos Pereira, que comanda o Republicanos, partido de Tarcísio, também não apareceu por lá.

Como ficam Flávio, Tarcísio e Ratinho na corrida maluca de centrão e direitão até 2026. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Lei permite troca de candidatos até em setembro, mas calendário político é outro

Direitas nem sabem o que fazer da incerteza, mas primeiro trimestre é decisivo

Em tese e de acordo com a lei, partidos podem substituir seus candidatos a presidente no máximo até 20 dias antes da eleição, que é no 4 de outubro de 2026. Na política, o calendário é outro e incerto. Como não se sabe se Flávio Bolsonaro é candidato-bomba ou se vai ser biribinha e estalinho, a incerteza ficou mais extensa.

Centrão e direitão não gostaram da candidatura, menos ainda da rasteira (trata-se aqui de PSDRepublicanosUnião Brasil e Progressistas). Não entendem o que querem os Bolsonaro. Ainda vão começar a discutir o que fazer até para lidar com a incerteza. Não vão se mover por Flávio. Ao contrário.

Em teoria, é possível tirar o chifre da cabeça do jumento até setembro de 2026. Flávio poderia renunciar à candidatura, mas seria preciso que um Tarcísio de Freitas (ou um "x") estivesse candidato por outro partido. Ou que Flávio renunciasse para que Tarcísio (ou "x") passasse a ser o candidato de uma improvável coligação já montada. Parece maluquice, mas pensem no Brasil desde 2016.

Sob suspeita. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Desde a Antiguidade, não parecer culpado é preocupação de quem ocupa cargos políticos

Código de ética para magistrados é primeiro passo necessário para melhorar imagem do Judiciário

É batata! Sempre que um juiz é apanhado em situação de promiscuidade com políticos e empresários, algum colunista ou editorialista lembrará o caso de Pompeia, não a avenida paulistana, mas a segunda ou, dependendo da fonte, terceira esposa de Júlio César, cujo envolvimento num rocambolesco escândalo deu origem à expressão "à mulher de César não basta ser honesta; é preciso que pareça honesta".

Polos políticos concentram rejeição. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula e família Bolsonaro são campeões no ranking dos reprovados pela população, aponta o Datafolha

Candidatos menos conhecidos podem crescer, desde que se mostrem melhores que os famosos ao eleitor

Projeções de voto a nove meses da eleição obviamente não retratam o que sairá das urnas. As medidas de rejeição, contudo, dão uma pista. Mostram como o eleitorado vê os presumidos pretendentes.

olhar captado pelo Datafolha não é nada bom para os nomes mais representativos das torcidas em disputa nas duas últimas eleições. O presidente Lula (PT) e os Bolsonaros (todos do PL) lideram o ranking dos rejeitados.

Quem quer blindagem agora é o STF; e o país escolhe campeões, não princípios. Por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Câmara fecha o cerco contra investigações e Gilmar dificulta reação do Senado

E continuamos dando aval para que o nosso lado ultrapasse limites

Nas últimas semanas, dois movimentos distintos, mas intimamente relacionados na percepção pública, reposicionaram o equilíbrio de forças entre Congresso e Supremo. Primeiro, a Câmara aprovou a chamada PEC da Blindagem, que dificulta a abertura de processos criminais e a prisão de parlamentares, exigindo autorização prévia das Casas Legislativas e reforçando o foro privilegiado.

Mais recentemente, o ministro Gilmar Mendes, em decisão monocrática, suspendeu trechos da Lei do Impeachment e restringiu a legitimidade para pedir o impedimento de ministros do STF, agora concentrada na Procuradoria-Geral da República, além de elevar o quórum no Senado para esse tipo de processo.

Tarcísio, a modernidade de papelão. Por Ricardo Queiroz Pinheiro

Há algo que me irrita profundamente no debate público: a naturalidade com que se vende Tarcísio de Freitas como novidade. A facilidade com que se atribui a ele a imagem de gestor moderno, técnico, quase redentor. Não que eu tenha qualquer ilusão com os pruridos da mídia liberal e com os profissionais da higienização do discurso. Mas a coreografia em torno de Tarcísio é explícita e caricata demais: uma operação de marketing político que depende de amnésia coletiva e da viralização da cartilha liberal. A falta de memória reposiciona a continuidade da “Ponte para o Futuro — Parte 2” como se ela não tivesse mostrado seu esgotamento e falência na vida cotidiana, e como se o país não tivesse aprendido o preço de um Estado reduzido ao papel de fiador de interesses privados.

O que hoje se chama de modernização não passa da atualização de uma engrenagem antiga. Mas ela não retorna idêntica. A gestão Tarcísio em São Paulo deixa isso evidente. Ela vem acelerada pela ansiedade do capitalismo pós-crise de 2008 — esse período descrito pelo filósofo italiano Franco “Bifo” Berardi, referência central da crítica à aceleração, como o momento em que o sistema “sobrevive como uma boca aberta que mastiga o presente”. A aceleração imediatista — exaustiva, saturada, incapaz de planejar — deu nova vida ao patrimonialismo brasileiro: agora com jargão corporativo, linguagem de compliance, consultorias onipresentes e fundos de investimento ditando prioridades. A lógica é devorar o Estado, não estruturá-lo — fingir um Estado mínimo só para maximizar o domínio de quem se serve dele.

Poesia | Mensagem à Poesia - Vinicius de Moraes

 

Música | Marisa Monte - Depois

 

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci* (Sobre o conceito de partido político)

"Quando se quer escrever a história de um partido político, deve-se enfrentar na realidade toda uma série de problemas muito menos simples do que aqueles imaginados, por exemplo, por Robert Michels, considerado um especialista no assunto 

O que é a história de um partido? Será a mera narração da vida interna de uma organização política, de como ela nasce, dos primeiros grupos que a constituem, das polêmicas ideológicas através das quais se forma seu programa e sua concepção do mundo e da vida? Tratar-se ia, neste caso, da história de grupos intelectuais restritos e, em alguns casos, da biografia política de uma individualidade singular.

Portanto, a moldura do quadro deverá ser mais ampla e abrangente. Será preciso escrever a história de uma determinada massa de homens que seguiu os iniciadores, sustentou-os com sua confiança, com sua lealdade, com sua disciplina, ou que os criticou "realisticamente", dispersando-se ou permanecendo passiva diante de algumas iniciativas. Mas será que esta massa é constituída apenas pelos adeptos do partido? Será suficiente acompanhar os congressos, as votações, etc., isto é, todo o conjunto de atividades e de modos de existência através dos quais uma massa de partido manifesta sua vontade? 

Evidentemente, será necessário levar em conta o grupo social do qual o partido é expressão e a parte mais avançada: ou seja, a história de um partido não poderá deixar de ser a história de um determinado grupo social. Mas este grupo não é isolado; tem amigos, afins, adversários, inimigos. Somente do quadro global de todo o conjunto social e estatal (e, frequentemente, também com interferências internacionais) é que resultará a história de um determinado partido; por isso, pode-se dizer que escrever a história de um partido significa nada mais do que escrever a história geral de um país a partir de um ponto de vista monográfico, pondo em destaque um seu aspecto característico. 

Um partido terá maior ou menor significado e peso precisamente na medida em que sua atividade particular tiver maior ou menor peso na determinação da história de um país. Desse modo, é a partir do modo de escrever a história de um partido que resulta o conceito que se tem sobre o que é um partido ou sobre o que ele deva ser. O sectário se exaltará com os pequenos fatos internos, que terão para ele um significado esotérico e o encherão de entusiasmo místico; o historiador, mesmo dando a cada coisa a importância que tem no quadro geral, acentuará sobretudo a eficiência real do partido, sua força determinante, positiva e negativa, sua capacidade de contribuir para a criação de um acontecimento e também para impedir que outros acontecimentos se verificassem."

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere. V.3 P.87. Civilização Brasileira, 2007.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Doutrina Trump semeia instabilidade regional

Por Folha de S. Paulo

Republicano amplia ameaça à Venezuela a outros países da América Latina e revive obsoleta Doutrina Monroe

Documento sugere intimidação bélica ao enfatizar que é preciso reajustar presença militar e "garantir que países da região sejam estáveis"

Uma potencial derrubada do regime de Nicolás Maduro por pressão ou ataque militar dos EUA não traz perspectiva de pacificação em curto prazo na Venezuela. Ao contrário, ameaça levar o país à ebulição e, pior, criar precedente para intervenções semelhantes na América Latina.

Não pode restar dúvida de como é nefasta a presença de uma ditadura na região —que transitou de regimes de exceção para o Estado de Direito e ainda vê-se exposta a riscos pontuais para a democracia. O atual isolamento do chavismo evidencia o grau de contrariedade de seus vizinhos.

O crime na política, por Merval Pereira

O Globo

Para surpresa de ninguém, e isso é o mais grave, a Assembleia Legislativa do Rio votou pela soltura de seu presidente, Rodrigo Bacellar, preso por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) sob a acusação de vazar informações de uma ação da Polícia Federal

Para surpresa de ninguém, e isso é o mais grave, a Assembleia Legislativa do Rio votou pela soltura de seu presidente, Rodrigo Bacellar, preso por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) sob a acusação de vazar informações de uma ação da Polícia Federal (PF) contra o ex-deputado TH Joias, ligado à facção criminosa Comando Vermelho. A infiltração do crime organizado nas instituições políticas brasileiras é um fato, e a votação de ontem confirma que, no Rio, ela já está impregnada no cotidiano. O presidente da Alerj era um potencial candidato à sucessão de Cláudio Castro ao governo do estado, apoiado pela máquina política bolsonarista que tenta se organizar para enfrentar o atual prefeito Eduardo Paes, apoiado por Lula. O berço do bolsonarismo está, portanto, dominado pelo crime organizado, e também por isso a disputa com o STF recende a retrocesso no combate à corrupção.

Contas públicas e a reação do mercado, por Míriam Leitão

O Globo

Apesar de resultados melhores do que o previsto nas contas públicas, o governo enfrenta desconfiança do mercado em relação ao controle fiscal

O ano vai terminar com um déficit primário de 0,5% do PIB, abaixo do esperado pelo mercado, 0,8%. Isso na metodologia do Banco Central, que inclui todos os gastos, mesmo os que ficam fora do arcabouço. Assim, repete-se a história de 2024, em que o mercado estimava 0,9% do PIB de resultado negativo e terminou em 0,4%, incluindo todas as despesas. As contas estão com um desempenho melhor do que o projetado, mesmo assim, o governo é visto como descontrolado do ponto de vista fiscal. O que há de verdade e preconceito nessa avaliação?

Violência está ligada à crise da masculinidade, por Fernando Gabeira

O Globo

O retorno conservador à vida doméstica tradicional se mostra cada vez mais improvável diante do avanço da sociedade

No fim de novembro, um homem atropelou propositalmente uma mulher, arrastando-a por mais de 1 quilômetro. Ela teve as pernas amputadas. Os casos de violência aguda não cessam de aparecer, ampliando as estatísticas de feminicídio no Brasil. Talvez valha a pena analisar isso como problema mais profundo. A grande transição vivida pela sociedade merece uma visão política mais ampla.

Nos Estados Unidos, o debate é intenso, como mostra Oliver Stuenkel. O que acontece com os homens, perguntam os analistas? O desempenho deles é mais baixo nas escolas e universidades, eles sofrem mais de depressão e alcoolismo e são mais inclinados ao radicalismo político. Um dos setores mais violentos da extrema direita são os celibatários involuntários (incels), que atacam feministas nas redes sociais, atribuindo a elas seu fracasso sentimental. Eles inspiraram um jovem que matou dez pessoas em Toronto.

A briga da IA esquentou, por Pedro Doria

O Globo

O nível de alucinação caiu, a capacidade de desenvolver argumentos complexos cresceu

Na semana passada, o CEO da OpenAI, Sam Altman, mandou um e-mail a todos os funcionários da empresa. O título: “Code Red”. Alerta vermelho. Altman cancelou todos os projetos paralelos em que o time estava envolvido. Entre eles, um agente para compras, que permitiria a qualquer um ter uma IA que vai às lojas virtuais e já separa todos os produtos que quer. Facilitaria imensamente a compra de passagens aéreas, com as diferenças de valor flutuando de um dia para o outro. Outro projeto suspenso foi a publicidade para as contas gratuitas de ChatGPT. Mas há razão para o alerta. O Google está chegando perto demais.

A cartada de Bolsonaro, a perplexidade do Centrão e o favoritismo de Lula, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O sobrenome Bolsonaro reativa, imediatamente, o antipetismo mais extremo. Mas, também resgata, com igual força, o antibolsonarismo que foi decisivo em 2022

A decisão de Jair Bolsonaro de lançar o filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como seu representante na disputa presidencial de 2026 estava escrita nas estrelas. Mesmo assim, sua antecipação caiu como uma bomba no tabuleiro político — e, sobretudo, no coração do Centrão. O movimento atropelou negociações em curso para unificar a oposição em torno da candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e embaralhou pactos tácitos que estavam escalando os confrontos do Congresso com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com o Supremo Tribunal Federal (STF).

O anúncio do senador mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo condenado e preso, não pretende exercer um papel decorativo enquanto cumpre pena por tentativa de golpe de Estado. Continua a operar politicamente com a convicção de que ainda possui o maior ativo eleitoral da direita. A perplexidade do Centrão não nasce exatamente da surpresa, mas da reversão de expectativas em torno das articulações para tornar irreversível a candidatura de Tarcísio. A aposta era transformar o bolsonarismo numa usina de votos da direita, direcionável em troca de um compromisso futuro com o indulto presidencial.

Tarcísio deu corda a uma família de enforcados, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Tarcísio joga com o prazo de 4 de abril para levar o bolsonarismo a concluir pela inviabilidade de Flávio e capitular

Ante a chantagem do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sobre o preço para a retirada de sua candidatura, o governador Tarcísio de Freitas resolveu pagar para ver com o apoio à sua pré-candidatura. Como está tratando com uma família de enforcados, resolveu fornecer corda para ver até onde vão bancar a candidatura própria que não os devolverá à Presidência da República e dificultará a que a direita se una para alcançá-la.

Numa época em que a direita tinha prumo no Brasil, um dos seus melhores frasistas, Marco Maciel, costumava dizer que quem tem prazo não tem pressa. O governador paulista agiu sob este adágio. Como não se propõe a pagar o preço fixado pelo senador para retirar sua candidatura, a anistia a Jair Bolsonaro, Tarcísio resolveu pagar para ver se a família vai bancar o rumo traçado.

Tarcísio sinaliza apoio a Flávio, e PSD reitera Ratinho Junior, por Cristiane Agostine, Ma Leri e Joelmir Tavares

Valor Econômico

Candidatura do filho de Bolsonaro enfrenta resistência na direita e no centro e deve levar à pulverização de nomes para 2026

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sinalizou na segunda-feira (8) apoio à pré-candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em 2026, mas disse ser cedo para avaliar se a estratégia é a mais correta. O governador avaliou que o senador se soma a outros nomes da oposição como opções, como os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO) e Ratinho Junior (PSD-PR).

“O [ex] presidente Bolsonaro é uma pessoa que eu respeito muito. Sempre disse que eu ia ser leal ao Bolsonaro, que eu sou grato ao Bolsonaro. Tenho essa lealdade, é inegociável”, disse Tarcísio. “O Flávio disse da escolha que o Bolsonaro fez pelo nome dele, e é isso. O Flávio vai contar com a gente. O Flávio tem uma grande responsabilidade a partir de agora. Ele se junta a outros grandes nomes da oposição, que já colocaram seus nomes à disposição”, afirmou o governador, depois de participar de um evento da gestão em Diadema (SP).

O STF está brincando com fogo, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Decisões monocráticas de Gilmar e Toffoli respingam nos demais e fortalecem tese de impeachment

O Supremo está brincando com fogo e com a sua própria credibilidade, ao tomar decisões monocráticas, ora por autoblindagem, ora carregadas de suspeitas sobre motivações e interesses. O risco não é de um ministro ou outro, é da credibilidade da Corte e das instituições brasileiras.

Gilmar Mendes “decretou” que só a PGR pode pedir impeachment de integrantes do STF e aumentou o quórum para a votação no Senado. Em seguida, Dias Toffoli avocou para a Corte e para si o caso do Banco Master, transformando o segredo de justiça em sigilo total. Para proteger quem?

Ex-ministros do STF temem que tenham sido movimentos casados e essa percepção se tornou mais aguda com a informação de que, dias antes de se autoconceder protagonismo na ação do Master, Toffoli voou para Lima num jatinho com... o advogado de um dos diretores do banco, já preso.

O combo Flávio Bolsonaro, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

A candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência vende um combo: 1) reage às insurreições regionais, reafirma a liderança de Jair (depois de haver prosperado a imagem do mito doente) e tenta amarrar, sob a gestão da família, o controle da direita; 2) dá recado à ação emancipadora – a do bolsonarismo sem Bolsonaro – puxada pelos donos do Centrão e governadores direitistas: não haverá solução que possa prescindir do bolsonarismo puro-sangue; 3) e, nesses termos, botando o preço lá no alto e se avocando como pauteiro da chapa, pretende deflagrar-condicionar a negociação.

Jair disparou uma ordem unida. Reação aos movimentos de independência acelerados neste pós-Bolsonaro. Ato que obriga os agentes políticos a se posicionar; que exige adesão dos que, ante a omissão do líder, armavam dissidências. Se o que lhe cobravam era a delegação sobre quem o representaria, aí está.

A estratégia dos EUA e a Doutrina Monroe, por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

A nova estratégia de Washington para as Américas, na prática, afirma que a região pertence à área de influência dos EUA

O governo Trump divulgou, na semana passada, sua Estratégia de Segurança Nacional, em que define a visão de médio e longo prazo dos EUA, as prioridades internas e externas e o relacionamento de Washington com as regiões globais. O pragmatismo e o realismo da política externa dos EUA têm como único objetivo, como ressaltado no documento, proteger os interesses nacionais fundamentais e colocar os EUA em primeiro lugar.

Flávio Bolsonaro diz agora que candidatura é irreversível e que sobrenome é vantagem sobre Tarcísio , por Thaísa Oliveira & Carolina Linhares

Folha de S. Paulo

Senador muda discurso logo após ter afirmado que poderia desistir de concorrer por um preço

Filho de Jair Bolsonaro afirma que seu nome é viável e representa luz no fim do túnel para bolsonaristas

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que se lançou à Presidência da República e ameaçou desistir em seguida, voltou atrás e agora afirma que sua candidatura é irreversível.

"É irreversível. Minha candidatura não está à venda", disse à Folha, nesta segunda-feira (8), pouco mais de 24 horas após afirmar que sua desistência teria um preço.

O filho de Jair Bolsonaro (PL) afirmou ainda que seu sobrenome é uma vantagem sobre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que até então era o candidato preferido da maior parte da classe política para representar o bolsonarismo em 2026.

"Eu também atendo a todos os requisitos [para concorrer ao Planalto], com a vantagem de que tenho sobrenome Bolsonaro", disse Flávio, ao ser questionado sobre a preferência por Tarcísio.

Tarcísio declara apoio a Flávio, mas diz que direita terá mais candidatos em 2026, por Bruno Ribeiro

Folha de S. Paulo

Governador de São Paulo cita Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Jr. como possíveis postulantes à Presidência

Durante entrevista coletiva, político buscou fugir do tema e tratar de outros assuntos sobre o estado

O governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos), declarou nesta segunda-feira (8) apoiar a candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para a Presidência. No entanto, Tarcísio, que era cotado para disputar o mesmo cargo, disse que a direita deve ter outros candidatos no pleito.

"Ele [Flávio] esteve comigo na sexta-feira [5] passada. Nós conversamos sobre isso. O presidente Bolsonaro, que é uma pessoa que eu respeito muito —eu sempre disse que eu ia ser leal ao Bolsonaro, que sou grato ao Bolsonaro e tenho essa lealdade inegociável— ele disse, o Flávio, da escolha dele [Bolsonaro] e é isso", afirmou.

"O Flávio vai contar com a gente. O Flávio tem uma grande responsabilidade a partir de agora que se junta a outros grandes nomes da oposição que já colocaram seus nomes à disposição", complementou, citando como alternativas Ronaldo Caiado (União Brasil), Romeu Zema (Novo) e Ratinho Jr. (PSD).

Entre a Constituição e a conjuntura, por Renato Janine Ribeiro

Folha de S. Paulo

Interferência do STF tem sido pequena, apenas no que é obviamente criminal; ainda se está aquém do que se poderia ou, talvez, deveria

Majoritária no Congresso, extrema direita está afrontando a Carta de 1988

A atual discussão política brasileira omite uma questão crucial. Nossa Constituição, adotada em 1988, não se limita, como a dos EUA, a desenhar a máquina do Estado. Ela define a sociedade que o Brasil quer ser: justa, solidária, sem pobreza, com as pessoas tendo uma série de direitos —educação e saúde para todos, acesso a cultura e lazer—; enfim, uma série de valores inspirados no que o século 20 aprendeu de melhor após duas guerras mundiais e dois totalitarismos opostos.

O essencial é que o conteúdo da Constituição fique acima da divisão partidária: na disputa entre direita e esquerda, ambas devem atender às finalidades previstas na Constituição —uma com mais políticas sociais e intervenção estatal, outra com mais liberalismo e menos regulação—, mas sempre no espírito da Carta. Qualquer governo deveria aumentar o salário mínimo, melhorar a distribuição de renda, combater a injustiça social, elevar a expectativa de vida, diminuir a mortalidade infantil e garantir uma educação cada vez melhor.

É sério isso? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ao ungir Flávio como sucessor político, Bolsonaro tenta prolongar relevância política

Cena foi mal coreografada e ninguém acreditou que candidatura do filho é para valer

Eu até entendo o que Jair Bolsonaro quis fazer ao ungir o filho Flávio como seu substituto na disputa presidencial. O ainda capitão deve ter imaginado que o gesto pacificaria a família, que está em pé de guerra, e prolongaria por mais algum tempo o maior poder político que ainda lhe resta, que é o de influir sobre o campo da direita no primeiro turno da eleição do ano que vem.

O raciocínio se assenta sobre uma assimetria fundamental. Se Bolsonaro der sua bênção a algum candidato da direita sobre o qual não tenha controle total, como Tarcísio de Freitas ou a algum outro governador, ele na prática se condena à irrelevância, pois teria esgotado seu poder derradeiro.

O insensato mundo dos Bolsonaros, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Flávio não esperou o anúncio da candidatura esquentar para admitir que topa desistir mediante uma boa oferta

O primogênito desqualifica o pai ao exibir como selo de qualidade a promessa de ser um Bolsonaro diferente

Se insensatez e afobação fossem fatores primordiais na escala do eleitorado para a escolha de governantes, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) poderia se considerar eleito presidente.

Menos de 48 horas depois de dizer que disputaria o Palácio do Planalto com o aval do pai, o senador confessou que sua candidatura tem preço e ainda reconheceu defeitos graves na própria ascendência ao exibir como selo de boa qualidade a promessa de ser "um Bolsonaro diferente".

Nos celulares de Bacellar, o futuro do bolsonarismo no Rio, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Prisão do presidente da Alerj tumultua ainda mais as eleições

Ressurge a opção da candidatura Washington Reis contra Paes

Até para os padrões surreais da política fluminense, a cena impressiona pelo descaramento e o amadorismo. Mas sobretudo por revelar o grau de infiltração criminosa nas instituições, risco para o qual a Agência Brasileira de Inteligência alertou em recente relatório.

Imagens das câmeras do condomínio do ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Joias, o mostraram em setembro fazendo uma mudança rápida e destruindo provas. Era a noite anterior à Operação Zargun, na qual ele foi preso sob a acusação de fazer negócios com o Comando Vermelho.