*Karl Marx (1818-1883), Critica da
filosofia do direito de Hegel, p.50. Boitempo Editorial, 2005
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
domingo, 14 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Karl Marx* (Democracia)
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Brasil reforça desigualdade com gasto e juros altos
Por Folha de S. Paulo
Governo Lula busca justiça tributária, mas
impede avanço ao favorecer rentismo com despesas descontroladas
Serão R$ 1 tri em juros pagos neste ano a
quem tem dinheiro aplicado, o que estimula perpetuação de desigualdades via
'financeirização'
A desigualdade é traço característico da
história da humanidade, e soa utópica uma configuração igualitária entre todos
do ponto de vista econômico. A maior tentativa de experiência moderna nesse
sentido foi a falida União Soviética, que acabou aderindo ao sistema
capitalista no início dos anos 1990.
Afinal, alguns indivíduos ousam mais do que outros, correm riscos e acabam recompensados por criar oportunidades e invenções que os enriquecem, ao mesmo tempo em que espraiam bem-estar social com produtividade.
É bom o Brasil sair às ruas. Por Dorrit Harazim
O Globo
Sobram motivos para a crescente ira cívica
diante do apodrecimento moral, ético e político da Casa do Povo
Uma parte do Brasil promete ir às ruas hoje.
A esbórnia encenada na Câmara acéfala do minúsculo Hugo Motta, e pela liderança
ressentida de Davi Alcolumbre no Senado, conseguiu atropelar o torpor nacional.
Truculência institucional à parte, o estopim para a convocação dos movimentos
sociais de esquerda foi a aprovação do PL da Dosimetria, que reduz as penas
para condenados nos atos antidemocráticos do 8 de Janeiro, enxugando para pouco
mais de 36 meses os 27 anos de prisão do chefe da quadrilha e ex-presidente,
Jair Bolsonaro.
Sobram, portanto, motivos para a crescente ira cívica diante do apodrecimento moral, ético e político da Casa do Povo. Mas indignação sem ação serve apenas para aplacar a consciência do indignado — libera-o da obrigação de analisar como chegamos a este nível de apodrecimento. Ir às ruas empunhando um cartaz “Congresso Inimigo do Povo” é fácil, porém quase suicida — equivale ao direitista “STF Inimigo do Povo”. Bem mais eficaz é tomar as ruas nomeando quem julgamos indignos do voto recebido e trabalhar para que não sejam reeleitos.
País em transe. Por Merval Pereira
O Globo
Ministro do STF viajar de jatinho particular
de empresário com advogado de banqueiro corrupto é uma versão moderna dos
favores dos senhores de engenho.
O cineasta Glauber Rocha esteve presente na boca de repórteres, comentaristas e locutores na semana passada, quando a crise institucional estava em seu auge. Tratou-se de um lapsus linguae coletivo, erro acidental que altera o sentido do que se quer falar considerado pela psiquiatria expressão de pensamentos reprimidos. O objeto dos comentários era a cassação do deputado do Psol Glauber Braga, mas o ambiente político era o dos filmes do outro Glauber, que muitos anos antes, na década de 1960, mostrou nas telas em filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol ou Terra em Transe as trapaças dos deputados corruptos, dos empresários venais, dos donos de terras que exploram os trabalhadores, o mesmo panorama que, 65 anos depois, nos confronta hoje.
Entre as dores e as artes do Brasil. Por Míriam Leitão
O Globo
A arte vira abrigo em uma semana de tensão
institucional entre os Três Poderes e afrontas ao Estado de Direito
A literatura e o teatro me protegeram
enquanto eu atravessava a tormentosa semana que passou. Conflitos entre poderes
chegaram ao nível de se temer pela firmeza dos edifícios. Uma ventania, que
lembrou ciclone, varreu São Paulo avisando que os extremos do clima chegaram.
No domingo, li “Coração sem medo” de Itamar Vieira Junior e, logo de início, me
encantei com esta frase: “As águas, as águas daquele instante, correm para
sempre e sem destino”.
Nos dias da semana, o Congresso nos deu seguidas razões para a descrença. Na terça-feira, as cenas de briga física no arranca-deputado da cadeira da presidência da Câmara foram inomináveis. Votações ruins na madrugada informaram que o parlamento brasileiro espera os eleitores dormirem para sorrateiramente cumprir seus desígnios. A quinta-feira amanheceu sobre o nosso espanto porque a Câmara havia ultrapassado todos os limites, atacando uma das bases fundantes do Estado de Direito: a de que ordem judicial se cumpre.
A doutora Viviane Moraes e o Master. Por Elio Gaspari
Dois dias depois, a repórter Malu Gaspar deu
detalhes do negócio:
O contrato entre o escritório da doutora
Viviane e o banco do doutor Daniel Vorcaro previa uma remuneração total de R$
129 milhões ao longo de 36 meses. Isso daria o pagamento de R$ 3,6 milhões
mensais, e uma mensagem capturada pela PF indica que o doutor Vorcaro instruiu
sua tesouraria para dar prioridade aos pagamentos ao escritório.
A banca da doutora Viviane atuou em pelo menos um caso, com uma equipe de dez
advogados, entre os quais estavam seu filho e sua filha.
Viviane Barci de Moraes é a mulher do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A equipe de Malu Gaspar procurou o escritório da doutora, representantes do banco e o próprio ministro Alexandre de Moraes. Silêncio total.
Em maio de 2024 o banco Master custeou uma farofa londrina que incluía um painel enfeitado pelo ex-primeiro ministro Tony Blair, um farofeiro cosmopolita. O ministro Alexandre de Moraes esteve em painéis do evento.
O governo Boric, sucessão chilena e isolamento de Lula. Por Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
As eleições no Chile simbolizam o esgotamento
de um ciclo da esquerda latino-americana, que não traduziu vitória eleitoral em
hegemonia social e avanço econômico
Os chilenos vão às urnas hoje para escolher
seu novo presidente. À noite saberemos quem ganhou as eleições, se Jeannette
Jara — militante comunista, representante das esquerdas — ou José Antônio Kast
— líder extremista do Partido Republicano, candidato das direitas. O presidente
do Chile, Gabriel Boric, encerra um ciclo político no qual governos de
centro-esquerda e centro-direita, desde a redemocratização, se alternaram no
poder. Nada será como antes no Chile.
O fracasso do governo Boric expressa o esgotamento de um projeto pautado pela promessa de renovação geracional e moral, que se perdeu entre maximalismos identitários, incapacidade de construir maiorias sociais estáveis e uma leitura equivocada das prioridades chilenas após o chamado "estalido social", que durou de 2019 a 2021. Ao fim de quatro anos, Boric entrega um país mais inseguro, politicamente fragmentado e desconfiado do Estado, sem ter conseguido converter seu capital simbólico renovador em governabilidade efetiva.
‘Boa sorte’, Flávio! Por Eliane Cantanhêde
O Estado de S. Paulo
Flávio livra Tarcísio da armadilha de Lula,
que o trata como ‘candidato de Bolsonaro’
Ao retirar a Lei Magnitsky de Alexandre de Moraes e sua mulher, Viviane, Donald Trump decretou o isolamento de Jair Bolsonaro, encerrou a carreira de traidor da Pátria do 03, Eduardo, e deixou a candidatura (ou “candidatura”) do 01, Flávio, à Presidência ainda mais desamparada. Lula agradeceu a Trump, mas quem faz a festa é o Centrão. Por ora.
Gilberto Kassab, do PSD, sigla do Centrão que tem mais municípios no País, deu a deixa. Na véspera do recuo do presidente americano, Kassab desejou um protocolar “boa sorte” a Flávio e declarou apoio a Tarcísio de Freitas (SP), com o cuidado de citar os também governadores Ratinho Jr. (PR) e Eduardo Leite (RS) como planos B e C.
Emprego, inflação e governo em nova disputa. Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo
Apesar do crescimento recente, é muito arriscado apostar em condições favoráveis no futuro próximo
Mais empregos, mais consumo e mais comida são os dados mais positivos no final do terceiro ano do atual mandato do presidente Lula, mas a qualidade dos empregos tem sido contestada e o mercado aponta insegurança nas contas públicas. Os 4,46% de inflação nos 12 meses até novembro indicam algum avanço na contenção dos preços. Mas essa taxa está muito próxima do teto da meta, 4,5%, e dificulta a redução dos juros. A taxa básica de 15% fixada pelo Banco Central deverá permanecer até o começo do ano e depois será reduzida lentamente, se nenhuma faísca reavivar a inflação. Há quem proponha o abandono da meta de 3% com tolerância de 1,5 ponto porcentual, mas a mudança pode ser perigosa, se resultar em maior tolerância a desarranjos das contas públicas.
Trump busca distensão com Brasil. Por Lourival Sant’Anna
O Estado de S. Paulo
Decisões de Trump, de adotar ou retirar sanções, se restringem a cálculos políticos do presidente
A decisão de retirar Alexandre de Moraes e
sua mulher Viviane Barci da lista de sancionados pela Lei Magnitsky é parte da
mudança radical na estratégia de Donald Trump para o Brasil. A aprovação do
projeto de lei que reduz as penas para os acusados de tentativa de golpe,
incluindo Jair Bolsonaro, explica o timing do anúncio, mas não a decisão em si,
que já estava tomada.
Até porque o projeto ainda pode ser vetado por Lula. Se o governo americano quisesse ir em outra direção, poderia usar o escândalo envolvendo a contratação milionária de Viviane pelo banco Master, como pretexto até para adotar sanções secundárias contra bancos e empresas que prestam serviços ao casal.
Relação entre Motta e Lira azeda com sequência de crises. Por Beatriz Roscoe
Valor Econômico
Ex-presidente da Câmara afirmou a aliados que era preciso "reorganizar" a Casa
A relação entre o presidente da Câmara dos
Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL),
voltou a azedar na última semana, após declarações de Lira a aliados em que
classificou a Câmara como uma “esculhambação” e disse que era preciso
“reorganizar” a Casa. Motta rebateu dizendo que a Presidência da Casa não deve
servir como “ferramenta de revanchismo”.
Mesmo assim, os dois estiveram juntos na sexta-feira (12), depois de a Polícia Federal (PF) vasculhar o gabinete na Câmara de uma ex-assessora de Lira. A investigação, conduzida pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), mira irregularidades em emendas parlamentares.
O novo sistema político corrupto. Por Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
Todas as grandes operações recentes de
polícia e Justiça esbarram na cúpula do poder
Além da roubança, caso das emendas deturpa
eleições, votações parlamentares e negócios
O deputado federal Arthur Lira (PP-AL) e o
senador Ciro Nogueira (PP-PI)
comandaram o semipresidencialismo de avacalhação de Jair Bolsonaro, a partir de
2021. Lira era presidente da Câmara; Nogueira, ministro da Casa Civil. Tentam
manter o mando puxando por exemplo as cordinhas que movimentam o presidente da
Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que se enrola no barbante.
Poderosos têm muitos amigos, assessores, indicados e aliados. Lira e Nogueira são uns azarados, por assim dizer. Seus companheiros aparecem na mira de investigações como Carbono Oculto, Poço de Lobato, Banco Master e, nesta semana, em mais uma rodada de apuração do rolo das emendas parlamentares.
Trump larga Bolsonaro. Por Celso Rocha de Barros
Folha de S. Paulo
Sem a perspectiva de uma vitória fácil e
barata, Trump deixou o Brasil de lado
A democracia brasileira ganhou sua
queda-de-braço com a superpotência, mas continua ameaçada pelos bolsonaristas
É cedo para dizer que Trump não causará mais
problemas ao Brasil, mas o líder americano já não parece disposto a nos causar
problemas por causa de Jair
Bolsonaro.
Na sexta-feira (12), o governo Trump
retirou Alexandre
de Moraes e sua esposa da lista de sancionados pela Lei Magnitsky.
Jair continua em cana.
A dupla de palhaços Bananinha e Pauleta havia prometido para Trump uma vitória fácil e barata no Brasil. Segundo a cascata que vendiam, a população brasileira estava prestes a se revoltar contra Lula e o STF porque acreditava que a eleição de 2022 havia sido roubada. Em 2022, diziam, Jair teria tentado se rebelar contra isso, sem, entretanto, conseguir apoio do governo Biden. Se Trump acendesse a fagulha, mentiam Bananinha e Pauleta, o Brasil explodiria em uma revolta que instauraria em Brasília um governo 100% dócil diante dos Estados Unidos.
Com disputa entre Poderes, Brasil vive baderna institucional. Por Christian Lynch
Folha de S. Paulo
Colapso do presidencialismo de coalizão
implodiu modelo de governabilidade e abriu caminho para Executivo fraco
Centrão se apropriou do Orçamento federal e
busca, em afronta ao STF, absoluta impunidade de seus membros
[RESUMO] Em análise da conjuntura
política do país, autor argumenta que reconstruir um modelo de governabilidade
estável se tornou inviável, já que cada Poder busca reafirmar a sua supremacia
sem um pacto mínimo de convivência. Enquanto o Executivo busca recuperar seu
poder de agenda, o STF resiste
a perder espaço, a extrema direita bolsonarista tenta voltar à Presidência e o
centrão se empenha em consolidar sua hegemonia no Congresso.
O artigo 2º da Constituição afirma
que os Poderes da República são "independentes e harmônicos entre
si". Trata-se de uma quimera: se são independentes, não são
automaticamente harmônicos e, se pretendem sê-lo, precisarão moderar essa
independência.
A harmonia institucional não decorre do texto constitucional, mas de modelos de governabilidade criados a partir de sua interpretação —modelos capazes de coordenar expectativas, prerrogativas e ambições de cada Poder, criando previsibilidade em suas relações. Quando esses modelos existem, o regime constitucional respira; quando se desfazem, o país entra em espiral de instabilidade.
Transparência afugenta as excelências. Por Dora Kramer
Folha de Paulo
O Supremo cobra correção a todos, mas não
enquadra os seus às boas práticas da ética do comportamento
Negação ao código de conduta submete STF à lógica
do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço
O Supremo Tribunal Federal cumpre
seu dever quando avaliza atuação do ministro Flávio Dino no
encalço dos parlamentares que violam requisitos de transparência e absoluta
correção no uso das emendas ao Orçamento.
Parte do tribunal, contundo, prefere que os outros façam o que dizem os juízes, mas os deixem livres para fazerem o que bem entendem. É o que se depreende da resistência à criação de um código para regular condutas no exercício da magistratura.
Um clã bizarro no palco eleitoral. Por Muniz Sodré
Folha de S. Paulo
Briga da família Bolsonaro lembra "A
Megera Domada", uma das primeiras comédias shakespearianas
A mulher de 'seu' Jair evoca a Catarina da
obra por ser considerada tanto pelos enteados como pelo PL uma 'personagem
incontrolável'
O apetite sucessório é só mordida e entredevoração. Houve quem associasse o racha no clã Bolsonaro à disputa entre as filhas do "Rei Lear", de Shakespeare, pela tomada do poder. O rei enlouquece, as filhas morrem. A briga do clã, entretanto, tem mais a ver com "A Megera Domada", uma das primeiras comédias shakespearianas, que narra os percalços da indomável Catarina com Petrúcio, o fidalgo de Verona, seu pretendente. Ao olhar woke, uma trama misógina. No fundo, uma bem-humorada discussão sobre desigualdade de gênero.
sábado, 13 de dezembro de 2025
Opinião do dia - Luiz Werneck Vianna*
Tal tarefa ainda se faz mais difícil em razão
dos partidos terem subestimado sua radicação no mundo popular que ficou sob a
influência dos pentecostais e de sua canhestra ideologia da prosperidade,
cenário agravado pela condenação por parte da hierarquia da Igreja católica da
teologia da libertação com que seus intelectuais tentavam se comunicar com os seres
subalternos. Os efeitos nefastos dessas orientações produziram uma limpeza de
terreno favorável a destituição da política e à difusão de valores
antidemocráticos nesses setores.
Tal desertificação da política, contudo, tem
remédio já conhecido, uma ida ao povo por parte de seus políticos e
intelectuais, uma medicação de uso continuado a demandar tempo na sua
aplicação. Em nossa desastrada experiência republicana já fizemos uso dessa
recomendação, e já está passando da hora o momento de aprendermos as boas
lições do nosso passado.”
*Luiz Werneck Vianna (1938-2024), Sociólogo,
“Bons remédios não se esquecem”. Blog Democracia Política e novo Reformismo,
7/12/22.
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Inimigos do povo
Por CartaCapital
O Parlamento se firma como o covil do
golpismo
Irritado com a repercussão nas redes e fora delas da expressão “Congresso, inimigo do povo”, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ordenou à polícia legislativa a investigação do que considera um “ataque” ao Parlamento. Pai, mãe, padastro e padrinho do orçamento secreto, Alcolumbre não consegue largar o vício do poder acumulado pelo Legislativo durante o período em que o Brasil tinha na Presidência da República um cidadão que abandonou os afazeres do cargo para se dedicar exclusivamente ao planejamento de um golpe de Estado. O amapaense recorre a um subterfúgio típico: agressor, posa de agredido e atribui aos outros o seu comportamento autoritário. Na Câmara, Hugo Motta igualmente se faz de ofendido, embora com menos brio e altivez. E vale-se da truculência e da censura contra aqueles que denunciam suas manobras.
Constranger, reagir, enfrentar. Por Flávia Oliveira
O Globo
Inconformismo, em vez de resignação; empenho,
em vez de omissão; ação, em vez de passividade
Nesta semana, a polícia do Rio de Janeiro voltou ao Complexo do Salgueiro, na Região Metropolitana, em mais um capítulo da política de enfrentamento ao Comando Vermelho. Cerca de mil agentes participaram de nova etapa da Operação Contenção, a mesma que, em fins de outubro, deixou 117 civis e cinco agentes mortos nas regiões do Alemão e da Penha, Zona Norte da capital. Cinco anos atrás, uma mal explicada incursão de policiais civis e federais no mesmo conjunto de favelas de São Gonçalo tirou a vida do adolescente João Pedro Mattos Pinto, aos 14 anos. O assassinato dentro da casa de parentes, em plena pandemia da Covid-19, levou o ministro Edson Fachin, hoje presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a proibir operações em comunidades durante a crise sanitária.
Desordem e progressão. Por Eduardo Affonso
O Globo
Os que roubaram os pensionistas do INSS logo
estarão soltos (isso se um dia chegarem a ser presos). Idem para o político
corrupto
A palavra do ano, para a equipe do dicionário
Cambridge, foi parassocial (aquela
sensação de intimidade — não recíproca — com figuras públicas). O Oxford veio
de rage bait (conteúdo
criado para gerar engajamento na força do ódio). No Brasil, segundo a
consultoria Cause e o instituto de pesquisa Ideia, foi “incerteza”. Eu teria votado
em “progressão”, com novo sentido, o de retrocesso.
Na cadeia, progressão é o regime que permite ao condenado cumprir apenas 1/6 da pena. Na escola, o que empurra o aluno adiante, mesmo que ele não tenha aprendido nada. É o Estado não educando no sistema educacional nem reeducando no sistema penitenciário. A aposta é que o aluno incapaz de entender a tabuada do 2 se recupere magicamente mais tarde, quando chegar à tabuada do 7. Que o criminoso adquira, na rua, os princípios morais que lhe faltavam antes do curto estágio de confinamento.
O dever moral do ministro Alexandre de Moraes. Por Thaís Oyama
O Globo
Situação revelada por colunistas do GLOBO,
embora lícita do ponto de vista legal, abre amplo espaço para discussão
Foi com um silêncio olímpico que o ministro do STF Alexandre de Moraes reagiu a três recentes revelações da imprensa envolvendo seu nome. A primeira, feita pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim, mostrava que, entre os documentos recolhidos pela polícia na operação que prendeu o banqueiro Daniel Vorcaro, estava um contrato firmado entre o agora liquidado e suspeito de transações fraudulentas Banco Master e o escritório comandado pela mulher do magistrado, a advogada Viviane Barci de Moraes, em sociedade com filhos do casal. A segunda revelação, esta feita pela colunista Malu Gaspar, também do GLOBO, foi que o contrato em questão atingia uma cifra astronômica, em torno de R$ 130 milhões — número nunca antes visto, nem mesmo no firmamento dos escritórios mais estrelados do país (um dos maiores valores conhecidos até hoje era o contrato estimado em R$ 60 milhões entre o falecido Márcio Thomaz Bastos e as empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa na Lava-Jato). A terceira notícia, também dada por Malu Gaspar, é sobre o tipo de serviço que o escritório Barci de Moraes se dispôs a prestar ao Master.
O juiz venceu. Por Carlos Andreazza
O Estado de S. Paulo
Ainda que anestesiado pelo ritmo dos despachos em Brasília, operações a cada lance mais criativas-ousadas, o cronista peleja para não se acomodar ante as notícias recentes que comunicam – como se prática natural – acordos políticos firmados entre ministro do STF e os donos do Senado; de repente admitido que uma ADPF possa ser instrumentalizada, ademais cassando um direito político, para forçar que o Congresso, submetido, reforme a lei nos termos das “orientações” do juiz-parlamentar.
Não faltaria ao rito viciado a corrupção da palavra, de modo que o juiz que legisla, na verdade, orienta. O juiz venceu. Jogou e venceu. Sem surpresas. O Judiciário brasileiro – para prazer do Direito Xandônico – é o mais forte do mundo. (Venceu a Magnitsky!)
No fundo do poço, outro poço. Por Roberto Amaral*
“Cuidemos. A República pode afundar.”
– Manuel Domingos Neto
Sinal dos tristes tempos: devemos comemorar a suspensão por seis meses do
mandato do deputado Glauber Braga, decretada pelo plenário da Câmara Federal na
última quarta-feira (10/12/2025). No dia anterior, por ordem do presidente da
Casa, ele fôra agredido por gendarmes da polícia legislativa.
As hosanas são justificadas porque o corretivo previamente decidido pela
direita era a pura e simples cassação do mandato do parlamentar fluminense,
cumulada com oito anos de inelegibilidade — sua virtual expulsão da vida
pública, que ele tanto dignifica. Antes disso, pelas artes e sortilégios
de Artur Lira – dublê de capo e feiticeiro –, Glauber era
submetido ao Conselho de Ética. Nada ouviu ali que merecesse ser tomado como
acusação séria, mas teve a perda do mandato indicada. A espada de Dâmocles pesa
sobre sua cabeça desde março.
O ritual das candidaturas. Por André Gustavo Stumpf
Correio Braziliense
Neste final de 2025, a questão sucessória já
se impõe no horizonte dos atuais líderes políticos brasileiros. Todos tentam
alcançar o melhor lugar para sensibilizar o eleitor
A crise do sistema democrático acontece, normalmente, nos pródromos da eleição presidencial. É o período em que os sinais da tensão originária pela substituição no poder começam a tomar conta do cenário político. Neste final de 2025, a questão sucessória já se impõe no horizonte dos atuais líderes políticos brasileiros. O presidente Lula trabalha com um olho na administração diária e outro travado na eleição de 2026, quando ele tentará o quarto mandato. As rebeliões, os projetos, os discursos e as reviravoltas acontecem em torno da dança da sucessão. Todos tentam alcançar o melhor lugar para sensibilizar o eleitor.
A baderna da Câmara dos Deputados. Por Juliana Diniz
O Povo (CE)
Jornalistas e toda imprensa tiveram o acesso
negado ao recinto, um episódio também sem precedente, e extremamente
preocupante
A semana da Câmara dos Deputados proporcionou um teste difícil até para o mais otimista dos cidadãos. Como disse o deputado Arthur Lira: a Casa virou uma grande esculhambação. Entre os feitos, destaco a aprovação do PL da Dosimetria, que reduz as penas dos condenados pela tentativa de golpe de estado, e a liberação de Carla Zambelli da cassação, mesmo após ter sido condenada com trânsito em julgado e presa na Itália, à espera de extradição.
Meu estimado bandido. Por Alvaro Costa e Silva
Folha de S. Paulo
Acordo na Câmara tem a ver com emendas e
campanha presidencial
Jogados aos leões, Glauber Braga e Carla
Zambelli salvaram-se
Os embalos na Câmara são
um primor de organização e não acontecem ao acaso ou de surpresa, como se quer
dar a entender. Deles fica de fora a plebe ignara, pobres mortais que, por não
terem pulseirinha vip, jamais poderiam se misturar com a nata em ambiente tão
fino e conservador.
A coisa é preparada nos mínimos detalhes para se precipitar no momento oportuno, a tradição obrigando que o clímax seja atingido na alta madrugada. A sessão que aprovou o PL da Dosimetria, que reduz a pena de Bolsonaro e outros golpistas, terminou às quatro da manhã de quarta (10), um mês após a condenação do ex-presidente no STF.
Tarcísio, o leal. Por Ana Luiza Albuquerque
Folha de S. Paulo
Bolsonaristas radicais não gostam do
governador, mas ele esteve ao lado do ex-presidente nos momentos mais críticos
Jair retribuiu indicando Flávio para
concorrer à Presidência; após três dias, Tarcísio quebrou o silêncio e falou em
outras candidaturas
Tarcísio de Freitas não agrada bolsonaristas radicais. Não se sabe por qual motivo: se porque o governador come com garfo e faca, frequenta reuniões na Faria Lima ou visita gabinetes do Supremo Tribunal Federal (ou todas as opções).
Eles alegam que o governador de São Paulo não é leal a Jair Bolsonaro. Nos momentos mais críticos, porém, ele esteve, sim, ao lado do ex-presidente —por lealdade genuína ou cálculo político.
Código de conduta é antídoto contra fragilização do Judiciário. Por Oscar Vilhena Vieira
Folha de S. Paulo
Medida contribui para preservar a confiança
dos cidadãos nos juízes e tribunais
Edson Fachin acerta ao buscar fortalecer
independência, imparcialidade e integridade da Justiça
A Justiça brasileira se beneficiaria muito
com a adoção de um código de conduta. A autoridade da Justiça deriva de sua
capacidade de aplicar a lei com independência, imparcialidade, consistência,
integridade e em prazo razoável. Quando o comportamento dos magistrados
compromete a reputação dos tribunais, a autoridade da Justiça declina e cresce
a disposição para desrespeitar suas decisões ou mesmo afrontá-las.
A Justiça brasileira desempenhou e desempenha um papel fundamental na defesa da democracia. Num mundo marcado por crescentes ataques às instituições constitucionais, a postura do Judiciário brasileiro tem se demonstrado um indispensável ativo democrático. Mas isso não é suficiente para garantir sua autoridade.
Precisamos falar sobre Hugo Motta. Por Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Jovem presidente da Câmara dos Deputados vai
acumulando erros em ritmo impressionante
Inexperiência explica apenas parte dos
equívocos cometidos ao longo do mandato
A inexperiência é o único defeito que não
piora com a idade. Devemos, então, concluir que há esperança para Hugo Motta,
o jovem presidente da Câmara que vem metendo
os pés pelas mãos num ritmo que surpreende até seus padrinhos
políticos?
Só nesta semana ele cometeu dois lapsos graves. Preocupado em não reeditar a frouxidão com que lidou com o motim de parlamentares bolsonaristas em agosto, resolveu enfrentar a rebelião do deputado Glauber Braga com firmeza. Mandou suspender a transmissão ao vivo da sessão —o equivalente legislativo do policial desligando a câmara corporal—, retirou a imprensa do plenário e soltou a Polícia Legislativa em cima dos insurgentes. Os agentes da ordem não foram delicados nem urbanos.
Vacina contra o autoritarismo. Por Cláudio Couto
CartaCapital
Não é razoável imaginar que apenas 21
senadores possam afastar um ministro do STF. Gilmar Mendes tem boas razões para
querer proteger a Corte do constante assédio da extrema-direita
Uma nova crise na relação entre os poderes se abriu com a recente decisão, do ministro Gilmar Mendes, de declarar inconstitucionais trechos da Lei do Impeachment de 1950 referentes à cassação de ministros do Supremo Tribunal Federal. A decisão respondeu à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) proposta pelo partido Solidariedade e pela Associação dos Magistrados Brasileiros.
A ética e o STF. Por Aldo Fornazieri
CartaCapital
Se exigem que o cidadão comum cumpra a lei,
os magistrados devem ser os primeiros a fazê-lo de forma exemplar
Péricles (495–425 a.C.) foi o mais importante governante da Atenas Clássica e o maior símbolo da democracia antiga. Administrou a cidade por 30 anos, eleito anualmente. Era muito rico, mas lutava contra a aristocracia. Não se trata de listar suas reformas, sempre voltadas a ampliar a democracia. Péricles foi um líder inspirador, que governou pelo exemplo, com grandeza moral incomparável, impulsionando o povo e seus seguidores a uma vida politicamente engajada. Adquiriu, com mérito, a fama de incorruptível.
Papai Estado. Por Luiz Gonzaga Belluzzo e Nathan Caixeta
CartaCapital
Nas crises bancárias, há quem sempre queira
trocar a mão invisível do mercado pelo colo seguro do Leviatã
O desfecho do episódio iniciado pela identificação de fraudes e de prejuízos bilionários nas demonstrações contábeis do Banco Master (e fora delas) permanece um mistério para os interessados no espólio dos ativos da instituição. O que nos parece certeiro e registrado nas histórias do capitalismo é a inevitável intervenção do Estado, quando o mercado, livre, leve e solto, apronta suas trapalhadas. O noticiário e as análises midiáticas em torno do tema correm para particularizar as culpas, na tentativa de salvar a reputação da mão boba e invisível do mercado.
Evolução harmônica. Por Cristovam Buarque
Veja
É preciso entender o mundo como uma coisa só
Nesta semana, a UnB comemorou trinta anos do Centro para o Desenvolvimento Sustentável (CDS). Quando concebido, em 1990, e quando criado, em 1995, mesmo ano da COP1, em Berlim, o CDS apresentava duas ousadias: do ponto de vista da estrutura universitária, adotava o estudo multidisciplinar, fora dos departamentos especializados por categoria do conhecimento; e do ponto de vista da concepção de progresso, adotava a crítica ao desenvolvimento baseado no crescimento econômico. Passados trinta anos, a própria ideia de desenvolvimento sustentável está em crise. Os conceitos de “desenvolvimento” e de “sustentabilidade” deixaram de indicar rumo desejável para o progresso. Apesar do sucesso de centenas de egressos de cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior, surgiu a ideia de o CDS se transformar em um Centro para a Evolução Harmônica da humanidade — entre os seres humanos, e deles com a natureza e seus povos.
O desafio maior: a guerra que não pode ser perdida. Por Marcus Pestana
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna*
Os alemães, depois de 1945, solenemente prometeram que sua
tragédia nacional não mais se repetiria, e conseguiram. Seremos capazes do
mesmo?”
*Luiz Werneck Vianna (1938-2024). Sociólogo, “A patologia brasileira
e seus remédios”, Blog Democracia Política e novo Reformismo, 15/1/2023.
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
PEC que acaba com escala 6 por 1 não passa de populismo
Por O Globo
Sem aumentar produtividade, reduzir jornada de trabalho equivale a
incentivar o desemprego e a pobreza
Num rompante demagógico, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) reduzindo a jornada de trabalho de 44 horas semanais para 36 horas ao longo de cinco anos. A PEC determina o fim da escala 6 por 1 e, em seu ímpeto populista, consegue ser ainda mais radical que um Projeto de Lei em debate na Câmara prevendo redução da jornada para 40 horas. Ante a proximidade do recesso parlamentar, o texto só deverá ser analisado no ano que vem. O prazo largo é a única boa notícia, tamanho o risco embutido na proposta.











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