sexta-feira, 14 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

PF faz bem em apertar cerco por fraude no INSS

Por O Globo

Operação prendeu ex-presidente do instituto, acusado de atuar em favor de confederação sindical

A Polícia Federal (PF) apertou o cerco contra os suspeitos da fraude bilionária que lesou aposentados e pensionistas por meio de descontos indevidos. Prendeu nesta quinta-feira o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, demitido após o escândalo vir à tona. Ele é acusado de ter atuado para liberar descontos a favor da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura depois de parecer contrário da procuradoria do INSS e de receber propina de uma das entidades investigadas (a defesa dele considerou a prisão “completamente ilegal” e alegou que Stefanutto tem colaborado com as apurações).

A operação da PF, em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), cumpriu dez mandados de prisão e 63 de busca e apreensão em 14 estados e no Distrito Federal. Entre os alvos estavam José Carlos Oliveira, ministro do Trabalho e Previdência no governo Bolsonaro (ele terá de usar tornozeleira eletrônica), o deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) e o deputado estadual do Maranhão Edson Araújo (PSB). São investigados os crimes de inserção de dados falsos em sistemas oficiais, constituição de organização criminosa, estelionato previdenciário, corrupção ativa e passiva, além de atos de ocultação e dilapidação patrimonial. As medidas foram autorizadas pelo ministro André Mendonça, relator do caso no Supremo.

O protagonismo ambiental dos invisíveis, por José de Souza Martins

Valor Econômico

Pequenas iniciativas mostram uma insurreição e o germe de um imenso movimento social em favor do planeta e do que ele representa para a condição humana

“Seu” Joãozinho, um antigo morador de favela que existia à margem de um córrego, hoje ladeado pela avenida Escola Politécnica de São Paulo, nos fundos da Cidade Universitária, viu ali um terrenão que poderia ser aproveitado para o bem comum.

Nas margens plantou árvores, especialmente árvores frutíferas que alimentassem os pássaros que buscassem refúgio na cidade, expulsos das matas devastadas do entorno. “Seu” Joãozinho se aposentou e retornou à sua localidade do interior. Deixou o pomar que civiliza a avenida.

Presidente é maior perdedor, mas não há ganhador claro, por César Felício

Valor Econômico

Recuo generalizado do presidente só encontra explicação no impacto da operação policial do Rio

Se antipetismo se dividir, sobrenome Bolsonaro não é passaporte para segundo turno

A pesquisa de cenários eleitorais divulgada na quinta-feira (13) pela Genial/Quaest mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdendo terreno e competitividade de forma generalizada. Sinaliza pouco, contudo, sobre quem poderá enfrentá-lo em 2026. Lula está em situação de empate técnico no segundo turno, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível e às portas da prisão. Três pontos percentuais os separam, em outubro eram 10.

A vantagem de Lula cai nas simulações que o contrapõem a Ciro Gomes (PSDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL), Eduardo Bolsonaro (PL), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil), Eduardo Leite (PSD) e Ratinho Júnior (PSD). Ou seja, todos.

Se nove adversários se saem melhor contra Lula nesta rodada do que se saíam há um mês, a notícia está no enfraquecimento do incumbente, uma paradoxal variável constante; e não no fortalecimento dos rivais. Uma prova está no fato de que a queda de Lula nas simulações foi maior do que a subida do oponente em cinco dos nove casos e igual em outros três. O único que teve ganho líquido em relação a Lula foi Leite, mas o governador gaúcho é uma espécie de plano D do PSD, que aposta primeiro em Tarcísio, depois em Ratinho, depois em não ter candidato. Lula batia Leite por 47% a 22%. Agora, por 41% a 28%.

A direta piscou, o ‘pato-manco’ bateu asas e decolou, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Num cenário em que a maioria dos brasileiros aplaude a ação no Rio contra o crime, mesmo sob suspeita de excessos, é preciso prestar atenção em Cláudio Castro

Algumas máximas do poder de tão reiteradas, viram chavões, como a de que a política é como nuvem, cada hora está de um jeito. Ora atribuem a lição a Ulysses Guimarães, ora a uma raposa mineira, o ex-governador Magalhães Pinto. Outro clichê é de que não existe lugar vazio na política, logo uma raposa felpuda fareja o abate e ocupa o território. A autoria é desconhecida, mas a inteligência artificial sugere que a origem remonte a trecho de um dos “Sermões” do Padre Antônio Vieira: “A natureza não admite vácuo, nem a política o deve admitir”.

Raposa é outro chavão, usado para políticos sagazes e com faro para o poder. Condenado pelo envolvimento na tentativa de deslegitimar a eleição presidencial de 2022, em que saiu derrotado, o ex-presidente Jair Bolsonaro exibe um repertório de erros inclusive anteriores à trama golpista, como a conduta temerária na pandemia, e as agressões às instituições democráticas. Equívocos admitidos até mesmo por seus aliados, e que não autorizam considerá-lo uma “raposa”.

Anísio Teixeira: missão educação, Silvestre Gorgulho

Correio Braziliense

Anísio Teixeira defendeu uma educação universal e a implantou em Brasília. Seu objetivo era, com a educação, gerar uma revolução social

A vida ensina sempre. E, em 1665, em São Luís do Maranhão, o Padre Antônio Vieira ensinou que a "educação e a humildade são moedas de ouro. Valem muito em qualquer lugar e em qualquer tempo". A essas duas virtudes, quando se fala do professor Anísio Spínola Teixeira, temos que acrescentar pelo menos mais uma: visionário. 

Anísio Teixeira defendeu uma educação universal e a implantou em Brasília. Seu objetivo era, com a educação, gerar uma revolução social. Não defendia uma meia revolução, mas uma revolução total. Tinha um propósito certeiro: "Educação não é privilégio. É valor universal. Tem que ser gratuita, interativa e acessível a todos". 

Oposição pauta agenda negativa na Câmara para impedir reeleição de Lula, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A inflexão no cenário eleitoral não está apenas no escândalo do INSS ou na disputa sobre segurança pública. Inflação, deficit fiscal e juros altos se tornaram munição da oposição

A oposição conseguiu abalar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez, com uma agenda negativa focada nas bandeiras da ética e da ordem. O resultado está explícito nas intenções de voto dos brasileiros: em todos os cenários para a corrida eleitoral de 2026, a vantagem de Lula sobre os adversários voltou a diminuir, e a rejeição aumentou, conforme levantamento da Genial/Quaest divulgado nesta quinta-feira. Fazem parte dessa agenda, entre outros temas, a questão da segurança pública e o escândalo do INSS.

A crise com os Estados Unidos, depois do encontro da Malásia, entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desescalou, mas isso não tem impacto no cotidiano da população. O êxito da realização da COP30 em Belém, no Pará, sem embargo das eventuais críticas à organização do evento, também não teve grande repercussão na avaliação do governo por parte dos que não vivem na Amazônia.

O fator Derrite, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Derrite veio para relatar o PL Antifacções ou enfraquecer Lula e fortalecer a oposição?

O que o discurso da soberania fez, a operação contra traficantes no Rio desfez e o presidente Lula enfrenta duas rebordosas que se retroalimentam: sua recuperação de popularidade estancou e sua vantagem despencou num eventual segundo turno com pelo menos seis adversários, inclusive o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que sai propositalmente dos holofotes.

Esse é o sumo da nova pesquisa Quaest, derrubando a previsão de que Lula atingiria a esta altura aprovação maior que a desaprovação e já estaria em condições até de sonhar com vitória em primeiro turno. Nada disso. As curvas de popularidade não se inverteram, não há vitória possível na primeira rodada com tantos candidatos e até o segundo turno ficou bem mais apertado.

O alerta do STF a Derrite, por Raquel Landim

O Estado de S. Paulo

Gilmar e Moraes também avisaram do perigo de tirar atribuições da Polícia Federal

No início da semana, o presidente da Câmara, Hugo Motta, foi ao Supremo visitar os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Guilherme Derrite, relator do PL Antifacção, conversou com Gilmar por telefone.

Motta e Derrite queriam o aval dos ministros para o projeto de lei, que ainda estava na primeira versão. O diagnóstico foi duro: era inconstitucional. Igualar facções criminosas a organizações terroristas, disseram os ministros, poderia ter consequências graves. Permitiria que o americano Donald Trump fizesse intervenções como já ocorre no México, na Venezuela e na Colômbia. E isso seria dor de cabeça não só para Luiz Inácio Lula da Silva, mas para qualquer presidente que suba a rampa do Planalto em 2027.

O legado de Ruth Cardoso, por Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo

Ruth e Fernando Henrique Cardoso vinham ambos de uma tradição de compromisso com as questões sociais, mas por caminhos distintos

O livro Comunidade Solidária: Memória e Legado – homenagem a Ruth Cardoso, publicado pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, é importante não só pela homenagem e registro que fica, como também por chamar a atenção para um momento importante de inflexão na história das políticas sociais brasileiras. Professora de antropologia da Universidade de São Paulo desde a década de 50, casada com seu colega Fernando Henrique, Ruth se vê, em 1995, alçada subitamente à situação de “primeira-dama”, cujo lado cerimonial procurava evitar, sem com isso deixar de estar ao lado do marido e buscar um lugar próprio de atuação conforme suas próprias ideias.

Ruth e Fernando Henrique Cardoso vinham ambos de uma tradição de compromisso com as questões sociais, mas por caminhos distintos. Aluno de Florestan Fernandes e Roger Bastide, a tese de doutorado de Fernando Henrique foi sobre o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul, em que combinava o olhar antropológico sobre a população escravizada com a interpretação crítica marxista do capitalismo. Seu envolvimento com as questões sociais leva à perseguição pelo governo militar, e, no final dos anos 60, no exílio, torna-se célebre com o livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina, em que interpreta os problemas de pobreza e subdesenvolvimento como consequências das assimetrias do sistema capitalista internacional. No final dos anos 70 começa sua carreira política em defesa da democracia, tornando-se, depois, o presidente do Plano Real, responsável pelo fim da inflação e pela modernização da economia.

Lula precisa mudar de assunto, por Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Relatório desastrado e apressado de Derrite dá munição ao presidente e divide até a direita

Reeleição depende de o petista tirar a discussão da segurança pública e focar em outras áreas

A escolha desastrada de Hugo Motta para relatar o projeto antifacção e o parecer apressado do deputado Guilherme Derrite (PP) permitiram ao PT e ao governo vencer na opinião pública uma primeira batalha, mas a reeleição de Lula depende é de uma mudança de assunto.

O pensamento majoritário no Brasil sobre segurança pública é desconectado do que pensam o presidente e seu partido. No imaginário popular, são operações como a do Rio, com centena de mortos, que vão diminuir a explosão de golpes e roubos de celular –mesmo que PCC e Comando Vermelho tenham pouca relação com esses crimes.

A população aplaude praticamente qualquer medida para endurecer o combate ao crime. Classificar facções como grupos terroristas? "Esqueça os especialistas, é uma ótima ideia!" Até a PEC da Segurança Pública, que 99% mal devem saber do que trata, registra apoio amplo na sociedade.

A eterna ofensiva contra o aborto legal, por Priscilla Bacalhau

Folha de S. Paulo

Nem sempre é razoável exigir consentimento da família para o procedimento

Meninas vítimas de estupro são submetidas a um calvário institucional

O debate sobre aborto legal volta e meia reaparece disfarçado de polêmica moral, apesar de ser permitido por lei em casos específicos desde 1940. No último dia 5, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de decreto legislativo para derrubar a resolução do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) que estabelecia diretrizes para o atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. O Senado, por sua vez, deve deixar o tema suspenso por ora. Enquanto isso, mais uma vez, a ânsia por votos conservadores se sobrepõe à garantia de direitos.

Analisar cabeça por cabeça, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Como definir quem acredita que a Terra é quadrada, oval ou trapezoide?

E como explicar que pessoas de esquerda achem que houve fraude e Bolsonaro ganhou?

Há dias, ouvi de um homem cordial, culto e respeitado que os acontecimentos do 8/1 em Brasília —invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso nacional e do STF por uma multidão de bolsonaristas— não eram suficientes para configurar um golpe de Estado. "Não havia uma liderança", ele disse. "E como dar um golpe de Estado sem líder?" Ao ouvir que há toneladas de admissões, confissões, delações, planos, minutas, vídeos, áudios e mensagens incitando ao quebra-quebra, que serviria de pretexto para uma intervenção militar —o golpe—, classificou tudo de "ficção".

A incompetência de Lula 3 no INSS, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Além de pilhado por ladrões, INSS é incapaz de fazer serviço básico, com filas enormes

Descaso com reformas essenciais faz país enfrentar riscos, como o de estouro no setor elétrico

Polícia Federal diz que tem mais político no listão da propina de uma das gangues da roubança no INSS. Suponha-se, por hipótese, que uma bancada de parlamentares ou figurões oposicionistas apareça com a boca na botija, com mala de dinheiro ou com notas no fundilho das calças, por assim dizer, esse clássico anacrônico da corrupção nacional (rouba-se com Pix). Ainda assim, vai ser difícil que Luiz Inácio Lula da Silva escape de perder pontos nas pesquisas.

massacre do Rio e a campanha do "mata, prende e arrebenta" da direita já pareciam conter o breve inverno de recuperação de Lula 3 (julho a setembro). A maré vira. Assim foi também porque o governo e esquerdas oficiais quase nada têm a oferecer em planos e resultados de contenção do crime, menos ainda no caso de facções.

Dinheiro é o vale ideal, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Governo foi muito tímido na nova regulamentação dos vales refeição e alimentação

Não vejo razão para não trocar vales por dinheiro, que é aceito em todos os lugares e não gera custos de administração

O governo Lula foi é tímido na nova regulamentação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), dominado pelas empresas que administram benefícios como os vales restaurante e alimentação. Eles são essencialmente uma forma piorada de dinheiro. Só podem ser recebidos por estabelecimentos específicos como restaurantes e supermercados credenciados, que ainda precisam pagar altas taxas às administradoras pelo "privilégio" de aceitá-los.

Inflexão à esquerda foi decisão de risco, por Vera Magalhães

O Globo

Pesquisa Quaest que mostra pausa na recuperação do petista acontece depois de acenos a convertidos e divergência em relação ao caminho para segurança pública

Os dois blocos da mais recente pesquisa Quaest, o que trata da avaliação de Lula e de seu governo e o que traz cenários para a eleição presidencial, mostram que a clara inflexão feita pelo presidente à esquerda nos últimos meses não obteve, ao menos por enquanto, respaldo do eleitorado. Pelo contrário: ele pode ter afugentado um eleitor que “voltava” para o petista depois da sabotagem promovida por Eduardo Bolsonaro contra o Brasil nos Estados Unidos.

Antes mesmo de ser levado a empunhar a bandeira da soberania nacional devido às ações do filho de Jair Bolsonaro para obter sanções contra o país, Lula já vinha apostando na retomada do discurso do “nós contra eles”, desta vez traduzido numa defesa da justiça tributária em que ele representaria os trabalhadores e a classe média, e a oposição e o Congresso promoveriam os interesses dos BBBs, banqueiros, bets e bilionários.

Roubalheira ecumênica, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Esquema para lesar aposentados atravessou governos Bolsonaro e Lula

A nova fase da Operação Sem Desconto expôs uma roubalheira ecumênica. As investigações indicam que políticos à esquerda e à direita se lambuzaram no esquema do INSS. Formaram uma frente ampla para tomar dinheiro dos aposentados.

Ontem a Polícia Federal prendeu Alessandro Stefanutto, ex-presidente da autarquia federal. Indicado pelo PDT, ele é acusado de receber mesada de R$ 250 mil de uma entidade sob suspeita. Para esconder a propina, diz a PF, usou até uma pizzaria.

Quando a gatunagem veio à tona, o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, afirmou que a escolha de Stefanutto era de sua “inteira responsabilidade”. O pedetista caiu, mas o governo não se livrou do desgaste. O investigado foi nomeado em julho de 2023, seis meses depois de Lula subir a rampa.

‘O agente secreto’ é equívoco político, por Pablo Ortellado

O Globo

Filme aponta para questões relevantes, mas as trata de modo esquemático

Estreou nos cinemas “O agente secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho. Vencedor de duas premiações importantes em Cannes, ele tem recebido reconhecimento quase unânime da crítica. O filme, porém, está atravessado por equívocos políticos.

Conta a história de Marcelo Alves (Wagner Moura), um professor de engenharia da Universidade Federal de Pernambuco perseguido por Ghirotti, funcionário graduado do governo, durante o período da ditadura militar. Ghirotti, convencido de que o desenvolvimento tecnológico brasileiro deve se concentrar no Sudeste e de que o departamento de Marcelo precisa de um “banho de imersão” no setor privado, ameaça fechá-lo.

Durante um jantar, o desentendimento entre os dois esquenta, e a mulher de Marcelo termina agredindo o filho de Ghirotti. Ela morre em seguida, em circunstâncias não explicadas (talvez assassinada?), e Marcelo se lança numa longa fuga que o leva a São Paulo, depois de volta ao Recife, onde se refugia num predinho com outros perseguidos. Tenta se reunir com o filho, que vive com os avós, para se exilar no exterior, quando descobre que é procurado por pistoleiros.

Viena – Áustria, 1913, por Cláudio Carraly*

No ano de 1913, Viena era uma cidade em efervescência. Uma metrópole na encruzilhada de antigas tradições e inovações modernistas, um caldeirão de ideias onde culturas e ideologias se misturavam. Era também o lar temporário de figuras que, embora ainda não soubessem, moldariam profundamente todo o século XX.

Entre os mais notáveis residentes dessa época estavam Sigmund Freud, Leon Trotsky, Joseph Stalin e Ludwig Wittgenstein, cada um em diferentes estágios de sua jornada pessoal, mas todos movidos por uma busca insaciável por entendimento e transformação.

Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, estava em Viena há décadas. Sua prática clínica e suas teorias sobre o inconsciente desafiavam as noções tradicionais sobre a mente humana. Freud via essa cidade como o epicentro de uma revolução silenciosa na compreensão do comportamento humano, uma revolução travada nas profundezas da psique.

Leon Trotsky, na época, estava exilado da Rússia czarista e residia em Viena, onde escrevia para um jornal revolucionário. Articulava suas ideias sobre a revolução socialista e o papel da classe trabalhadora na luta contra a opressão da monarquia russa. Para Trotsky, Viena representava um lugar de relativa liberdade para organizar a oposição no exílio e planejar um futuro grandioso para sua pátria.

Joseph Stalin, ainda conhecido como Koba, estava em Viena por um breve período, também exilado e em busca de refúgio. Era um verdadeiro trabalhador em prol da revolução, profundamente envolvido com as atividades do partido. Entre os citados, era sem dúvida o nome menos conhecido, mas suas ambições já eram evidentes para aqueles que o conheciam.

Ludwig Wittgenstein, um jovem filósofo austero e introspectivo, estava na cidade durante uma pausa de seus estudos em Cambridge. Absorvido em questões de lógica e linguagem, já começava a delinear as ideias que mais tarde formariam a base de seus estudos. Para ele, Viena era um lugar onde as questões sobre o significado e a expressão podiam ser exploradas em meio ao ruído do mundo real.

Poesia | Quero, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Beth Carvalho - O mundo é um moinho / As rosas não falam (Cartola)

 

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Politização não pode prejudicar combate a facções

Por O Globo

Projeto contra crime organizado deve ser encarado como política de Estado, não como fonte de dividendo eleitoral

Não resta dúvida de que o Projeto de Lei (PL) Antifacção que tramita no Congresso é vital para a sociedade brasileira. Por isso tem sido lamentável e deletéria a politização que cerca a proposta, com oposição e governo medindo forças em busca de dividendos eleitorais. Nem todas as desavenças foram superadas, mas é essencial que sejam.

A tramitação começou mal, quando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), escolheu para relatar o projeto o deputado linha-dura Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança licenciado de São Paulo. Era previsível que a escolha acirrasse os ânimos. As primeiras versões propostas por Derrite continham equívocos, como a tentativa de equiparar facções criminosas a grupos terroristas e de engessar a autonomia da Polícia Federal (PF). A reação do Planalto foi descabida. Representantes do Executivo cogitaram até recorrer ao Supremo. Governo e oposição se esgrimiam para as respectivas claques nas redes sociais, esquecendo que o inimigo é outro. Motta e Derrite apresentaram uma versão corrigindo as principais distorções, mais próxima da proposta original, mas o Planalto continuou insatisfeito.

O ‘Agente Secreto’ secreta a gente, por Eugênio Bucci

 

O Estado de S. Paulo

Vá ao cinema. Você vai ver um Pernambuco como não imaginava ser possível, durante um horror difícil de conceber, numa obra sem paralelos

A viatura da polícia sai da estrada perrengue e passa a rodar no chão sem calçamento, para contornar o posto de gasolina que é uma biboca, um desterro. Estamos no meio do nada, sob o sol esturricante. Na bomba de gasolina, um Fusca amarelo acaba de ser abastecido. O motorista, camisa branca de manga curta, bem abotoada, tinha ordenado ao frentista barrigudo e suarento: “Pode completar”. Metros adiante, sobre a areia empedrada, um cadáver de pernas abertas, coberto por um papelão, atrai moscas sem rumo e cães sem dono. Fora isso, fede, empesteia o agreste. O ano é 1977. O lugar é Pernambuco.

A radiopatrulha estaciona. Descem dois agentes da lei. Óculos escuros. Nenhum deles dá a mínima para o defunto. O objetivo é outro. O sargento vai até o Fusca, pede a habilitação do moço e começa a implicar. Pergunta do extintor. Avisa que terá de entrar no carro para inspecionar alguma coisa lá dentro. Vai achacar. O tempo se arrasta, morno e seco. A fedentina avança. Quando o sargento fica de costas para a câmera, podemos observar que o cinto de couro escuro foi afivelado às pressas, estirado por cima de um ou dois dos passadores da calça cáqui.

Bolsonaro em declínio político acelerado, por Carolina Brígido

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro amarga derrotas jurídicas enquanto vê capital político murchar em reveses no Congresso

A temporada de reveses políticos e jurídicos de Jair Bolsonaro deve ser sacramentada com a chegada dele à Penitenciária da Papuda. Segundo fontes do Supremo Tribunal Federal (STF), esse é o destino penal mais provável do ex-presidente. Mas a definição do endereço do réu para os próximos anos, centro da polêmica em Brasília, escamoteia algo maior: o ocaso político acelerado do capitão.

No último mês, Bolsonaro deixou de ser quem define os rumos da oposição e passou a frequentar o noticiário a partir das derrotas judiciais amargadas. O plano de anistia perdeu tração. Deputados conservadores tentaram inserir no projeto Antifacção mecanismos para reeditar a blindagem a criminosos, mas nem cogitaram incluir o perdão a golpistas.

A nova velha Selic e a opção pela estagnação, José Serra

O Estado de S. Paulo


O BC poderia começar dizendo as razões que levam o Brasil a ser submetido a uma taxa real de juros que é a segunda mais alta do mundo

Semana passada o Comitê de Política Monetária (Copom) brindou a todos os brasileiros com uma decisão que só não surpreende aqueles que vivem do juro pago pelo Tesouro Nacional, aquele mesmo que todo brasileiro financia com seus impostos. Diversos indicadores recentes compõem um ambiente econômico que aponta a manutenção do juro em 15% ao ano como um equívoco de política econômica. E, por favor, não venham com a ladainha de que o Banco Central é um organismo meramente técnico. É da natureza da política monetária que ela seja uma política do Estado.


A famosa ata do Copom, que já parece estar sendo submetida a um maior número de exegeses do que a própria Bíblia Sagrada, declara a primazia do instrumento único da política monetária no Brasil. O ato declaratório, com soberbo ar científico, reza ao Brasil: “O Comitê avalia que a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”.

O real e concreto debate do clima, por Míriam Leitão

O Globo

Na COP, o que parece teórico é concreto. Entre siglas e discursos, o mundo tenta proteger pessoas contra as tragédias que são cada vez mais frequentes

O BID anunciou ontem, durante a COP30, a a primeira garantia de um banco multilateral para restauração florestal. Serão US$ 15 milhões para a Triunfo do Xingu. No mundo das COPs, em que se fala até em trilhão, o que são esses milhões? Quem já foi à APA Triunfo do Xingu valoriza a notícia. Foi a unidade de conservação mais desmatada em 2021. Fui lá em 2022. Viajei quilômetros sem ver árvore. No local, existem grileiros, bois, matas derrubadas. É um dos muitos pontos onde se luta na Amazônia para manter a floresta em pé. O BID vai garantir investimento para restauração feita em parceria público-privada.

A COP e as negociações sem fim, por Julia Duailibi

O Globo

Com tanto para debater, vem a impressão de que não dará tempo de a humanidade evitar o colapso

Uma das coisas mais angustiantes de cobrir uma COP é saber o que de concreto pode sair daqui para evitar que fritemos sob o calor em alguns anos. Muitas plenárias discutindo temas menos urgentes, linguagem diplomática repleta de generalidades e uma penca de chavões nos discursos dos participantes inundam os debates. É inevitável a sensação de que estamos patinando, e o gelo derrete sob os nossos pés.

A própria agenda da COP30 é um desafio por si só, composta por nada menos que 145 pontos, com assuntos que vão de gênero a financiamento. Desses, 20 são considerados o núcleo duro, justamente por demandarem resultados objetivos. É o caso da agenda da adaptação, que definirá em Belém cem indicadores de como os países devem lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Para ter uma ideia, esse ponto da agenda é dividido em três. Para cada um deles, uma reunião específica. Com tanto para debater, vem a impressão de que não dará tempo de a humanidade evitar o colapso.

Ação iníqua, por Merval Pereira

O Globo

Segurança será mesmo ponto crucial na campanha da reeleição do presidente Lula, um ponto de preocupação generalizada.

A dificuldade para chegar a consenso sobre questões fundamentais da política de segurança pública do Estado brasileiro reflete o embate político entre polos opostos. Deveriam estar unidos em torno de um tema que não deveria ser politizado.

A escolha do secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, para relatar o projeto foi uma decisão política do presidente da Câmara, Hugo Motta, claramente tendenciosa a favor da candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à Presidência da República. O projeto do governo foi sequestrado pela oposição para transformá-lo em instrumento político, com a neutralização da ação da Polícia Federal para que parlamentares fossem protegidos de investigações.

Muita lambança, pouca substância, por Malu Gaspar

O Globo

A saga de Guilherme Derrite (PP-SP) e suas diferentes versões do relatório para o marco legal da segurança pública na Câmara dos Deputados serve bem como parábola do jeito brasileiro de lidar com problemas complexos. Diante de uma crise, logo surge uma nova lei criada às pressas como se fosse a solução mágica que faltava. A partir daí, todo o debate sobre o que realmente importa fica em segundo plano, quando não interditado.

Desde que a operação da polícia do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho (CV) escancarou o fosso em que nos encontramos no combate ao crime organizado, estamos presos nessa espiral. O açodamento e o tumulto em torno de cada versão do texto só azedaram ainda mais o ambiente.

Aflito para mostrar liderança e alguma realização que melhore a imagem da Câmara pós-PEC da Blindagem, seu presidente, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que aprovaria quanto antes uma proposta para atacar as organizações criminosas.

O governo Lula, que cozinhou em banho-maria por meses a PEC da Segurança Pública, enviou finalmente o texto ao Congresso. E a oposição, que há tempos busca uma forma de se pendurar em Donald Trump, pôs na roda seu Projeto de Lei que transforma facções criminosas e milícias em terrorismo.

Derrite dividiu até a bancada da bala, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Oposição se dividiu, adiou a votação mas mantém o domínio da pauta da segurança

O adiamento da votação do relatório do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) deveu-se ao temor de que se repetisse o desastre da PEC da blindagem. Esta pauta, conjugada à anistia, foi uma dobradinha entre Centrão e bolsonarismo. O relatório de Derrite, conjugado à equiparação entre facção criminosa e terrorismo, é a repetição da dobradinha, mas colocou em conflito interesses que extrapolam o dueto entre bolsonaristas e o Centrão.

Este conflito ficou patente na sucessão de versões do relatório. Foram quatro, em cinco dias desde a escolha do relator, a última delas protocolada na quarta, às 19h37. Obrigado a recuar na restrição de prerrogativas da Polícia Federal pela repercussão na opinião pública, e na equiparação entre facção criminosa e terrorismo por uma pressão que vai da Faria Lima ao STF, Derrite dificultou, em quatro versões, o confisco de bens dos líderes do crime organizado. O tema é de mais difícil digestão pelo grande público mas fica claro quando examinado à luz da guerra de classes do crime.

Direita complica a si mesma, por William Waack

O Estado de S. Paulo

A disputa política em torno do “marco legal do combate ao crime organizado” é a evidência mais recente da falta de direção das correntes políticas de direita. Possuem o que é necessário: o abrangente e candente tema da segurança pública, no qual o governo perde e elas ganham. Mas o necessário é suficiente?

Em menos de uma semana essas correntes “perderam a mão” depois da euforia causada pelas pesquisas indicando enorme apoio popular à megaoperação contra o CV no Rio. Auxiliadas ainda pela soberba de Lula, que afrontou essa onda.

Foram ao Congresso dispostas a enfiar goela abaixo do governo seus postulados, seguras de que tinham consenso, votos, a razão e o apoio popular. Terminaram esse primeiro esforço adiando o que diziam ser inadiável, que é a aprovação de vastas alterações em leis.

Queda de braço sobre segurança pública tem viés de secessão, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Guilherme Derrite não é um caso isolado: ele expressa uma cultura política de extrema-direita que concebe o Estado como força tutelar e disciplinadora, não como mediador de direitos da sociedade

A disputa entre o governo federal e os governadores de oposição sobre a política de segurança pública e a legislação penal não é apenas técnica ou operacional, mas política, histórica e federativa. O impasse na definição do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), adiada mais uma vez na Câmara, revela a persistência de um modelo de poder local armado, forjado há mais de um século, e que hoje se expressa na política nacional por meio de figuras como o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), relator do PL Antifacção. Derrite é policial militar formado na cultura da antiga Força Pública paulista, que durante décadas funcionou como um verdadeiro exército estadual.

Criada em 1831 e consolidada na República Velha, a Força Pública de São Paulo foi a mais poderosa corporação policial do país. Seu efetivo, treinamento e armamento rivalizavam com os do Exército. Em 1932, ela constituiu o núcleo militar da Revolução Constitucionalista, quando São Paulo se insurgiu contra Getulio Vargas em nome da Constituição, mas, também, da autonomia estadual. Derrotada militarmente, a Força Pública manteve o prestígio político e a identidade castrense.

O PL pró-facção de Derrite, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Certas medidas parecem contrárias a facções, mas as beneficiam

Idas e vindas no projeto não surpreendem quem conhece trajetória de Derrite

A extrema direita brasileira ensaiou o nome de Guilherme Derrite para ministro da Justiça e Segurança Pública em um eventual governo Tarcísio de Freitas e em apenas 24 horas o ensaio virou tragicomédia. O périplo acabou com o deputado tendo que se justificar com um amadorismo constrangedor, por que incluiu medidas a favor do crime num projeto de lei que tinha como intenção combatê-lo.

Derrite entregou, originalmente, um PL pró-facção. Subordinar a Polícia Federal ao crivo dos governadores estaduais apenas beneficia o crime organizado, que, por essência, é interestadual e internacional. Derrite tenta resolver problema complexo com mais pena, não com mais inteligência. Em vez de apoiar a cooperação entre órgãos, blinda líderes do crime expandindo o foco da lei em tipos penais menores, como obstruir via pública, que atinge só o chão da fábrica do crime organizado, não quem manda nele.

Querem driblar o imposto dos milionários, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Lei que cria imposto mínimo nem foi sancionada, mas empresas buscam fórmulas para escapar do pagamento

Tentativas de drible serão teste para a equipe de Haddad

Mais ou menos como aconteceu em Serra Pelada nos anos 1980, na busca por ouro, empresas, tributaristas, consultorias e associações estão quebrando a cabeça para encontrar formas de escapar do pagamento de Imposto de Renda sobre dividendos, medida aprovada pelo Congresso Nacional e ainda pendente de sanção do presidente Lula.

Os dividendos são isentos de tributação no Brasil, mas essa renda obtida pelos acionistas de empresas será alcançada pela mordida da Receita Federal com a criação do imposto mínimo para os super-ricos, criado para compensar a perda de arrecadação com a isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000.

Criticado, Trump rever tarifaço no Brasil, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Popularidade do presidente americano está no nível mais baixo desde a posse

Derrota eleitoral, inflação e lobbies empresariais podem ajudar a aliviar tarifaço

A popularidade de Donald Trump está no nível mais baixo desde a posse. Mais que no fundo do poço de abril, de tarifaço e tumulto financeiro. Na média das pesquisas calculada pelo Silver Bulletin, 55% dos americanos desaprovam o desempenho de Trump, 41,4% aprovam. O saldo negativo era, pois, de mais de 13 pontos nesta quarta. No início do mandato, janeiro, o saldo era positivo, quase 12 pontos.

O Partido Republicano perdeu de lavada a eleição parcial da semana passada. Nas pesquisas de boca-de-urna, eleitores citavam o custo de vida como preocupação maior (é um problema mundial, desde 2022, convém prestar atenção).

A lição de Barack Obama ao Partido Democrata, por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Ex-presidente comemora vitórias do partido em Nova York e na Virgínia

Para Obama, eleição dos democratas representa o pluralismo, característica da América

"Vencemos com Abigail Spanberger, vencemos com Zohran Mamdani. Eles são parte de uma visão de futuro", comemorou o ex-presidente Barack Obama no podcast Pod Save America, logo depois das eleições de 4/11.

Com a vitória de Abigail, o governo da Virgínia passará às mãos de uma ex-deputada ultramoderada, que foi agente da CIA e defende mão dura contra o crime; já a maioria dos nova-iorquinos sufragou um jovem imigrante muçulmano assumidamente socialista. Engajado na oposição ao trumpismo, o único negro a ocupar a Casa Branca pronunciou outro de seus discursos, nos quais a razão é sócia da empatia.

Poesia | Navegue, de Fernando Pessoa

 

Música | Um Índio por Caetano Veloso