*Paul Samuelson (1915-2009), economista
norte-americano, amplamente reconhecido como um dos formuladores mais
importantes das ciências econômicas modernas. Prêmio Nobel de Economia,1994.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Paul Samuelson*
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
PL do devedor contumaz merece tramitação célere
Por O Globo
Proposta só avançou depois de operações
contra PCC e Refit. Não é preciso esperar outra para aprová-la
Foi preciso autoridades estaduais e federais
deflagarem a megaoperação contra o grupo do setor de combustíveis Refit,
apontado como maior sonegador do país, para que o presidente da Câmara, Hugo
Motta (Republicanos-PB), anunciasse o relator do projeto de combate a devedores
contumazes, deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP). Espera-se que não haja
mais procrastinação. É inaceitável que empresas usem a inadimplência fiscal
como estratégia de negócio, deixando de pagar impostos de forma intencional e
reiterada para levar vantagem sobre a concorrência.
A proposta cria o Código de Defesa do Contribuinte para coibir a atuação de fraudadores. De autoria do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ela toma o cuidado de não atingir empreendedores de boa-fé em dificuldades financeiras. Não será afetado quem tiver aderido a programas de regularização com o Fisco ou questione a dívida nas esferas administrativa ou judicial, tendo apresentado garantias ou amparado por teses de repercussão geral.
Chantagens que custam bilhões à sociedade, por Bruno Carazza
Valor Econômico
A prática de aprovar pautas-bomba quando o
Presidente desagrada o Parlamento não vem de hoje, mas precisa ser eliminada do
jogo político brasileiro
Tudo bem o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP),
preferir seu colega Rodrigo
Pacheco (PSD-MG) para ocupar a cadeira de ministro do
Supremo Tribunal Federal. Acontece que essa competência cabe ao chefe do Poder
Executivo - e Lula optou
por Jorge Messias.
Faz parte do jogo. O que não dá é, em retaliação, querer impor uma conta
bilionária para a sociedade devido à sua insatisfação política.
Em nota oficial divulgada nesse domingo (30), Alcolumbre negou que “divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”. Para ele, o presidente da República tem a prerrogativa de indicar ministros ao STF, enquanto é tarefa dos senadores aprovar ou rejeitar o nome. Se fosse simplesmente assim, estava resolvida a questão.
Tarcísio reforça alinhamento com bolsonarismo
Por Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico
Governador adota pautas como anistia a Bolsonaro, ataques ao STF, defesa de prisão perpétua e cita El Salvador como exemplo de modelo de segurança a ser seguido
Cotado para ser o candidato da direita na disputa presidencial de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reforçou seu alinhamento com o bolsonarismo e tem feito gestos para demonstrar sua lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso após condenação por tentativa de golpe de Estado. Tarcísio adotou pautas como a anistia e o indulto a Bolsonaro, articula no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar garantir a prisão domiciliar do ex-presidente e definiu como uma de suas bandeiras a linha-dura na política de segurança, com a defesa até mesmo de prisão perpétua para criminosos no país.
Entrevista | Direita vive atritos sem sinalização de Bolsonaro sobre sucessor
Por Joelmir Tavares / Valor Econômico
Fragmentação em 2026 pode beneficiar Lula, diz cientista política Graziella Testa
Preso na última semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “não está fora do jogo eleitoral”, mas pode ver seu campo político chegar dividido à eleição de 2026, por ter aberto mão de organizar a sucessão política na direita antes de começar a cumprir sua pena, o que pode favorecer o projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A análise é de Graziella Testa, doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Bolsonaro - que foi condenado
pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a uma pena de 27 anos por
tentativa de golpe de Estado e está inelegível até 2060 - deverá ainda ser um
cabo eleitoral relevante no próximo ano, na avaliação da especialista, mas é
exagerado esperar uma transferência automática de votos do ex-presidente, seja
para alguém da família ou não.
Os governadores cotados para a corrida presidencial, como o de São
Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tendem a continuar na “tentativa de
equilibrar pratinhos”, diz Testa, sobre a postura de evitar um rompimento com o
bolsonarismo e acenar ao centro, faixa do eleitorado que ela considera decisiva
no resultado.
Apesar dos problemas na
oposição, Lula vive uma situação na relação com o Congresso que “sempre tem
como ficar pior”, analisa a professora, ao comentar as rusgas com os
presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP). A proximidade cada vez maior das eleições e o
poder anabolizado de partidos do Centrão ajudam a explicar as novas tensões,
diz ela.
A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:
Mito? Por Denis Lerrer Rosenfield
O Estado de S. Paulo
O problema que se coloca é o de como o bolsonarismo pode sobreviver sem um líder
A imagem do ex-presidente Bolsonaro, em vídeo gravado sobre a violação da tornozeleira eletrônica, é devastadora, fazendo desmoronar sua figura pública. No exercício da Presidência, transmitia a mensagem da masculinidade em motociatas que atravessavam o País, apresentando-se, em casaco de couro, como um mito imbatível, capaz de superar toda e qualquer adversidade. Começou a fraquejar quando a tentativa de golpe se mostrou inviável, dada a intervenção do Alto Comando do Exército, recluindo-se cada vez mais. Após ter se tornado réu, recolheu-se à prisão domiciliar, culminando nessa cena patética de um homem que confessa, abatido, candidamente, para uma agente penitenciária, que violou a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. Ela, inclusive, se dirige a ele como “seu Jair”, sem nenhuma consideração para com sua prerrogativa presidencial.
Sem vencedores na guerra entre Poderes, por Diogo Schelp
O Estado de S. Paulo
A análise aos vetos pode replicar o que atingiu a Lei de Licenciamento Ambiental
A frase “vencer uma guerra é tão desastroso
quanto perdê-la”, de autoria da escritora britânica Agatha Christie
(1890-1976), certamente se aplica aos embates atuais entre o governo Lula e o
Congresso Nacional. Seria compreensível se o comportamento de ambos os lados se
justificasse ao menos pela necessidade de sobrevivência, ou seja, evitar ser
obliterado eleitoralmente no pleito de 2026. Mas não é assim.
No Legislativo, a oposição faz o que oposições fazem para marcar posição, custe a quem custar. E o Centrão trata de mostrar quem dá as cartas – até mais do que de fato suas atribuições permitem. Lula, do outro lado, estaria decidido a não ceder às pressões do Congresso ou a não fazer o ramerrame necessário da articulação política, crente de que o esperneio legislativo será compreendido em ano eleitoral como um jogo das elites, acima do qual ele pretende pairar impávido.
Europa está numa encruzilhada histórica, por Oliver Stuenkel
O Estado de S. Paulo
A União Europeia consegue operar em um cenário de rivalidade entre grandes potências?
Depois de séculos exercendo um papel central na ordem internacional e projetando poder para além de suas fronteiras, a Europa encontra-se na defensiva, tentando administrar e conter o peso de China, EUA e Rússia dentro e ao redor de seu território. Esse fenômeno, apelidado de “corrida pela Europa” por analistas como Gideon Rachman, no Financial Times, reflete o novo cenário em que atores de fora disputam influência no continente. A dificuldade europeia de responder à altura à invasão russa à Ucrânia, à concorrência tecnológica chinesa e às tarifas dos EUA são reflexo de sua atual fragilidade e divisão interna.
A lei é definitiva, até mudar, por Carlos Alberto Sardenberg
O Globo
O arranjo é conhecido há décadas: o
vencimento básico fica abaixo do teto, mas aí se somam os penduricalhos
À primeira vista, parece não existir qualquer
exagero ou problema econômico na remuneração dos servidores públicos. Desses,
segundo um estudo por amostragem, apenas 1,34% recebem acima do teto
constitucional de exatos R$ 46.336,19 mensais. Haveria aí, no máximo, um
problema moral — a desigualdade salarial dentro do funcionalismo —, mas nenhum
dano econômico substantivo para as finanças do país.
É verdade que existe um problema moral nessa história —, mas não é a desigualdade. Ou, pelo menos, a desigualdade não é o principal desequilíbrio. A verdadeira questão aparece numa segunda vista, quando se olha quem recebe as remunerações acima do teto. São principalmente os juízes — cuja função é fazer cumprir as leis.
Tornozeleira fala, por Miguel de Almeida
O Globo
Muitos ouvem vozes. São sintomas da democracia. Até escolher mal faz parte
Quando escrevi aqui que Bolsonaro parecia
ouvir vozes, leitores me condenaram. Não direi felizmente, mas agora ele mesmo
confessou o fato ao tentar romper a tornozeleira. Acreditou que o aparelho
emitisse mensagens — talvez alienígenas. Dá para entender, enfim, a lógica por
trás de seus seguidores e de hábitos tão estranhos quanto ajoelhar-se e rezar
para um pneu.
Nesse cenário existem dois atores — o
ex-presidente e seus simpatizantes radicais. A mão e a luva. O político não
existiria sem eles. Suas parvoíces, insultos e preconceitos encontram eco — e
voto — numa parcela da população.
O capitão deu rosto ao “tiozão do zap”, o personagem doméstico que repassa fake news e tem opinião até sobre embargos infringentes. O tiozão pode ser o tio, o cunhado ou aquele parente que nunca se interessou por política. Claro que é um comportamento importante, porque traz ao debate público personagens ausentes. Mobiliza.
Reparação racial é necessária, por Irapuã Santana
O Globo
Não se trata só de reconhecer o racismo, mas
de efetivar a responsabilidade civil do Estado de forma concreta
O STF retomou recentemente o julgamento da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 973, ação que traz à
luz o debate imprescindível sobre as violações maciças de direitos da população
negra no Brasil.
Nesse cenário, é imperativo iniciar a análise
com um justo e necessário elogio à postura do ministro Luiz Fux, cujo voto
demonstrou sensibilidade ímpar e compromisso republicano ao reconhecer a
omissão histórica do Estado brasileiro no enfrentamento ao racismo.
O ministro, com a dignidade que o cargo exige, não se furtou a diagnosticar a gravidade do cenário, denunciando medidas que visaram a impor à população negra um ciclo perverso de exclusão e violência, tornando sua relatoria um marco de reconhecimento institucional que merece todos os aplausos da sociedade civil e trazendo um filtro antidiscriminatório ao Direito Constitucional brasileiro, que servirá de estudo para as futuras gerações.
O apoio silencioso que pode virar o jogo a favor de Messias no Senado, por Malu Gaspar
O Globo
Enquanto mapeiam votos e fazem as costuras
políticas no Senado, aliados de Jorge Messias acreditam
que ele vá contar com um apoio importante, mas silencioso, na batalha para
driblar a resistência do presidente da Casa, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), e conseguir os 41 votos
necessários para confirmar a sua indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Pelo menos cinco aliados de Messias ouvidos
reservadamente pelo blog calculam que muitos senadores evangélicos, inclusive
os bolsonaristas, podem votar favoravelmente mesmo que nunca admitam em
público.
A análise da indicação de Messias está marcada para o próximo dia 10 e o voto é secreto, o que abre margem para traições de todos os lados.
Eu gostaria de saber o que está acontecendo com o Brasil, por Ivan Alves Filho
“Se todos quisermos, poderemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la”. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes
Eu gostaria de saber o que está acontecendo com o Brasil uma vez que apresentamos quase quarenta cinco mil assassinatos por ano.
Eu gostaria de saber o que está acontecendo
com o Brasil quando os dados apontam que existem cerca de trinta e cinco mil
acidentes fatais de trânsito anualmente.
Eu gostaria de saber o que está acontecendo
com o Brasil quando, entre as 20 cidades mais perigosas do mundo, duas são
brasileiras, a saber, Rio de Janeiro e São Paulo.
Eu gostaria de saber o que está acontecendo com o Brasil quando duplicamos, em 15 anos, se tanto, o número de pessoas morando em favelas, hoje em torno de 16 milhões de brasileiros.
Democracia parece valor secundário para parte da elite política brasileira, por Lara Mesquita
Folha de S. Paulo
Punição a golpistas convive com um eleitorado
disposto a flexibilizar a defesa da democracia e aceitar desvios autoritários
Racionalidade semelhante orienta setores da
elite política de oposição ao governo Lula, ainda que não necessariamente
bolsonaristas
A recente condenação e prisão de um
ex-presidente e de militares de alta patente por planejarem e
tentarem derrubar o regime democrático brasileiro deveria revigorar nossas
esperanças na resiliência da democracia.
Ainda assim, esse tipo de evidência judicial
e institucional precisa ser interpretado com cautela, pois pesquisas mostram
que eleitores podem
relativizar princípios democráticos quando outros valores pesam
mais.
Pesquisas de opinião reforçam essa impressão. Levantamento do Datafolha realizado a pedido da OAB mostra que 74% dos entrevistados afirmaram que a democracia é sempre melhor que qualquer forma de governo, sugerindo um consenso normativo em torno da democracia.
O que não mata a democracia a fortalece? Por Marcus André Melo
Folha de S. Paulo
A punição aos envolvidos no complô terá
efeito dissuasório; mas, isso já ocorrera porque o desfecho foi o não evento
O que teria ocorrido sob o contrafactual do
encarceramento de Getúlio após o Estado Novo?
Mitrídates 6º foi rei do Reino do Ponto, um estado
localizado no norte da Anatólia. Seu pai, Mitrídates 5º, governou o Ponto até
ser assassinado por envenenamento. Temendo sofrer destino semelhante,
Mitrídates 6º passou a ingerir diariamente pequenas doses de diferentes tipos
de veneno como forma de desenvolver tolerância. Ironicamente, essa estratégia
teve consequências inesperadas: ao tentar suicidar-se após a invasão do Ponto
pelo Império Romano, não teve sucesso devido ao elevado grau de imunidade que
havia adquirido. O que o levou a ordenar que um guarda o assassinasse.
A prática deu origem ao termo "mitridização", o processo pelo qual organismos vivos, mediante exposição contínua e crescente a determinadas toxinas, desenvolvem resistência ou imunidade a elas. Trata-se de um mecanismo baseado na sensibilização progressiva e na produção de defesas específicas contra o agente tóxico.
Congresso é a maior fonte de risco fiscal antes das eleições, por Silvio Cascione
O Estado de S. Paulo
Pautas-bomba surgem de repente, e é difícil
prever o próximo movimento e quanto ele custará
O maior risco fiscal antes das eleições de 2026 não vem do Poder Executivo, mas do Congresso. Iniciativas legislativas de forte apelo social e alto custo têm avançado sem coordenação com a equipe econômica e sem indicação de fontes de financiamento. A mais emblemática é o PLP 185, aprovado por larga maioria no Senado, que cria aposentadoria especial com integralidade e paridade para agentes comunitários de saúde e de combate a endemias. Trata-se de um debate legítimo sobre o papel central desses profissionais no SUS, mas que hoje é instrumentalizado politicamente para impor uma derrota ao governo, num momento em que as tensões entre Planalto e Congresso são mais visíveis.
domingo, 30 de novembro de 2025
Opinião do dia - Norberto Bobbio* (Democracia)
*Norberto Bobbio (1909-2004), filósofo político, historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício italiano. Teoria Geral da Política - A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos. P.387.Editora Campus, Rio de Janeiro. 2000.
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Supersalários são combustível da desigualdade
Por O Globo
Remuneração acima do teto recebida pela elite
do funcionalismo custa R$ 20 bilhões ao ano, conclui estudo
Não é surpreendente, mas nem por isso deixa
de ser estarrecedor o quadro exposto pelo estudo a respeito de supersalários no
poder público realizado pelo pesquisador Sérgio Guedes-Reis para as
organizações da sociedade civil República.org e Movimento Pessoas à Frente. O
gasto brasileiro com pagamentos acima do teto salarial estipulado na
Constituição somou nada menos que R$ 20 bilhões entre agosto de 2024 e julho
deste ano — ou dois terços do que o governo busca para cumprir a meta fiscal do
ano que vem. Por qualquer parâmetro, o Brasil é o país que mais gasta com a
elite do funcionalismo numa amostra de 11 países.
O gasto brasileiro com supersalários — cerca de US$ 8 bilhões pelo critério de conversão adotado — equivale a 21 vezes o que gasta a Argentina, segundo país com mais pagamentos acima do teto. Depois vêm Estados Unidos e México,únicos com gastos acima de US$ 200 milhões. França, Itália, Colômbia, Portugal e Alemanha despendem menos de US$ 4,2 milhões, ao redor de 0,05% do total brasileiro. A distorção é tão grande que o excedente do teto constitucional pago no Brasil a 40 mil servidores públicos daria para financiar um salário mensal de R$ 2.200 a 9,1 milhões de brasileiros — ou 18,8% dos empregados com carteira assinada.
Crise de lógica, por Merval Pereira
O Globo
Para punir o governo, a Câmara aprovou o
projeto que concede gratificação especial para agentes de saúde, sem dizer de
onde vai sair o dinheiro.
A escolha pelo eleitor de candidatos a
deputado estadual ou federal deveria ser feita pelo partido ou coligação de que
ele participa, e não por suas qualidades pessoais. Essa escolha pessoal serve
mais para as disputas majoritárias, especialmente Governador ou presidente da
República. Se o eleitor desse prioridade à organização partidária, tenderia a
votar para dar aos candidatos majoritários o apoio necessário para que
governassem. Se as legendas partidárias significassem alguma coisa lógica com
seu programa oficial, não aceitariam certos candidatos, por fragilidade moral
ou desencontro ideológico. Mas o que importa é o voto na urna, que aumenta os
fundos de financiamento.
No Brasil, dificilmente o governante tem a maioria na Câmara dos Deputados ou na Assembleia Legislativa. Esse desencontro obriga a que o candidato majoritário eleito tenha que fazer alianças fora de seu arco partidário, o que invariavelmente inclui acordos com parlamentares de campos opostos, e mesmo distintos ideologicamente. Esses acordos são regidos por interesses pessoais, que desvirtuam o sentido da coalizão partidária estendida, muitas vezes sem nenhuma lógica.
O Congresso não derrotou o governo. Derrotou o país, por Míriam Leitão
O Globo
Na semana em que o Brasil puniu golpistas pela primeira vez, parlamentares impõem um retrocessos brutal, com ameaças ao meio ambiente
A democracia brasileira não permite descanso.
Na mesma semana em que o Brasil atravessou uma fronteira histórica para
fortalecer os pilares do regime das liberdades, o Congresso humilha o país
mostrando que é capaz de tudo para atender a interesses menores. Não foi o
governo que o Congresso derrotou com suas pautas-bomba e destruição das leis de
proteção ambiental e do patrimônio histórico. Foi o país.
O Brasil nunca havia punido golpistas. Passou toda a história republicana assombrado por golpes, tentativas de golpes, quarteladas e pela ideia dos militares de que lhes cabia tutelar o poder civil. Prender generais e um ex-presidente condenados após o devido processo legal por tentativa de golpe é um passo gigante. Os que têm a democracia como valor supremo poderiam, quem sabe, depois disso, descansar um pouco da grande batalha.
As encrencas de Augusto Heleno, por Elio Gaspari
O Globo
O general Augusto Heleno, condenado a 21 anos
de prisão, revelou durante um exame médico que convive com o mal de Alzheimer
desde 2018. Um ano depois desse diagnóstico, ele passou a ocupar a chefia do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
A trama golpista de 2022/2023 não foi a única
encrenca pela qual Augusto Heleno passou. Na manhã de 21 de outubro de 1977, o
capitão Augusto Heleno era ajudante de ordens do ministro do Exército, general
Sylvio Frota, que acabara de ser demitido pelo presidente Ernesto Geisel. Por
volta das 10 horas da manhã, do carro de seu chefe tentou telefonar para o
general Fernando Bethlem, comandante das guarnições do Sul, convocando-o para
reunião do Alto Comando na qual Frota pretendia emparedar Geisel. Não o achou,
pois Bethlem foi para o Palácio do Planalto, onde recebeu o convite para
assumir o ministério.
Um ano depois, Augusto Heleno era vigiado pelo Serviço Nacional de Informações: “Vale lembrar que o capitão de cavalaria Augusto Heleno, ex-ajudante de ordens do general Sylvio Frota e que com o mesmo continua a manter estreita ligação, e o capitão de infantaria paraquedista Burnier (filho do brigadeiro Burnier) e ligado ao general Hugo Abreu, irão cursar a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais.”
Homens ocos, por Dorrit Harazim
O Globo
Melhor sair logo da escuridão e da indignação
fácil. E encarar quem somos nós, que aceitamos o que vemos
Três meses atrás, no Festival de Veneza, a
estreia mundial do filme “A voz de Hind Rajab” recebeu ovação histórica de 23
minutos. A diretora tunisiana desse longa híbrido acredita que ele consiga ser
um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme Internacional em março de 2026. Ele
reconstitui as últimas horas de vida da menina palestina Hind, de 6 anos,
passadas dentro de um automóvel que acabara de ser perfurado por 335 disparos.
O tio, a tia e três primos espremidos nos dois bancos do carro familiar foram morrendo
a seu lado. E a menina, agora sozinha, aciona o número de emergência do
Crescente Vermelho que toda criança ou adulto de Gaza sabe de cor. A voz
infantil tem urgência adulta e é indelével:
— Estou com medo, por favor, venham.
O fato ocorreu em 29 de janeiro de 2024. Como se sabe hoje, ninguém veio —ou melhor, os dois socorristas que tentaram chegar até Hind de ambulância foram igualmente metralhados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI). O conjunto de corpos em carcaças retorcidas ali ficou por 12 dias até ser recolhido.
A Igreja dos pobres, por Bernardo Mello Franco
O Globo
Movimento chacoalhou a América Latina ao
aproximar o catolicismo das lutas populares
No fim dos anos 1970, os militares que
mandavam em El Salvador adotaram um lema macabro: “Seja patriota, mate um
padre”. O país era refém da miséria e da ditadura. Na ausência de uma oposição
livre, a tarefa de defender os mais vulneráveis sobrava para a Igreja Católica.
O arcebispo de San Salvador, dom Óscar Romero, era a face pública da resistência. Chamado de “porta-voz dos que não têm voz”, notabilizou-se por criticar a violência do regime e defender uma Igreja solidária aos pobres. Em março de 1980, foi assassinado em plena missa por um atirador do Exército.
Um novo ciclo político se abre diante de uma onda reacionária global, por Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Mas falta direção
estratégica. Falta o movimento político mais profundo do que a agitação
radical, que permita avançar na modernização em bases democráticas
A percepção de que há uma corrida mundial
para reinventar o Estado não é nova, mas nunca foi tão flagrante e urgente. As
mutações tecnológicas, a reconfiguração das subjetividades na chamada
“sociedade líquida” e a crise dos mecanismos tradicionais de representação,
como os partidos, o parlamento e a imprensa, colocaram os países diante de
escolhas dramáticas. No turbilhão, democracias representativas parecem correr
atrás dos acontecimentos, enquanto regimes autoritários, por concentrarem
poder, reprimir dissensos e eliminar freios e contrapesos, conseguem produzir respostas
mais rápidas e, em certos casos, mais eficazes à necessidade de modernização.
A Arábia Saudita talvez seja o exemplo mais eloquente dessa contradição: moderniza sua economia com velocidade quase futurista, mas à custa de liberdades civis, participação política e direitos humanos. Já no Ocidente, democracias centrais como a França se contorcem diante da pressão das ruas, da polarização ideológica, da erosão de partidos tradicionais e da incapacidade de produzir reformas que mobilizem consenso.
Chega de intermediários! Por Eliane Cantanhêde
O Estado de S. Paulo
Grande vitorioso com a prisão de Bolsonaro, Centrão se torna principal adversário de Lula
O grande vitorioso com a prisão de Jair
Bolsonaro é o Centrão, que se descola do ex-presidente e pega em armas contra o
presidente Lula no Congresso para fazer jus ao próprio apelido, tornar-se
alternativa à polarização política e aventurar-se por mares nunca dantes
navegados: a disputa da Presidência da República. Chega de intermediários! É hora
de candidatos próprios.
Assim, o grande adversário de Lula em 2026 deixa de ser o bolsonarismo e passa a ser o Centrão, que nada mais é do que direitão e ocupa o vácuo eleitoral criado pela prisão, soluços e delírios de Jair Bolsonaro, a beligerância antipatriótica de Eduardo Bolsonaro e o salve-se quem puder na turma e na família.
Hora de pensar no interesse nacional, por Lourival Sant’Anna
O Estado de S. Paulo
Trump elevou de 25% para 50% a tarifa sobre a Índia por causa da importação do petróleo russo
A fragilidade da ordem mundial se tornou
ainda mais evidente nos últimos dias, com as tensões entre China e Japão e os
obstáculos a um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia. O Brasil importa 90% dos
fertilizantes que consome, dos quais 25% vêm da Rússia e 20% da China.
Estudo do Insper Agro Global lista os riscos comerciais, geopolíticos e logísticos dessa dependência. O Brasil, cuja economia é fortemente impulsionada pelo agronegócio, responde por 23% das importações mundiais de fertilizantes. Dessa maneira, a economia fica exposta às variações de preços, que dependem diretamente do custo do gás e do carvão. De 2020 para cá, a energia subiu 105% e os fertilizantes, 129%.
A urgência do crescimento, por Ana Paula Vescovi*
Folha de S. Paulo
Brasil precisa criar consensos mínimos,
capazes de orientar reformas
Falta engajar a sociedade no desafio de crescer mais e de modo sustentado
A Europa discute
um dos temas mais relevantes desde a criação da União
Europeia. O relatório Draghi e o estudo da London School of Economics
recolocaram no centro da agenda uma pergunta que deveria ser simples, mas que
raramente recebe respostas claras: o que precisa ser feito para que o
continente volte a crescer de forma sustentada? A partir disso, formou-se algo
novo: os movimentos em busca de um consenso de longo prazo, capaz de sobreviver
a governos, orientar investimentos estratégicos e manter a coesão entre os
países.
O diagnóstico europeu claramente é que, sem crescimento, não há como financiar a transição energética, a defesa do continente, lidar com o envelhecimento populacional e garantir autonomia tecnológica em um mundo mais competitivo. Tudo passa por produtividade e inovação, integração de padrões industriais e segurança institucional. A região escolheu discutir um novo projeto; se vai prosperar, a história há de contar.
O Brasil com menos empregados domésticos, por Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
Proporção de trabalhadores domésticos no
total cai ao menor nível de que se tem registro
Mercado de trabalho vai bem, mas esfria;
mulheres fogem de emprego na casa dos outros
Os empregados domésticos nunca foram tão
poucos em relação ao total dos trabalhadores, ao menos desde 2012, desde quando
há estatísticas comparáveis, e desconsiderados os números distorcidos da época
da epidemia. Em outubro deste ano, eram 5,4% do total. Em março de 2012, eram
6,8% (e sempre mais de 6,3% até a Covid-19). Sim, mais de 1 de cada 20 pessoas
ocupadas no país é doméstico. São 5,6 milhões, mas não atraem tanta atenção
quanto os trabalhadores por aplicativo, 1,7 milhão. Continuam quase invisíveis
no debate público —é secular.
São dados baseados na Pnad do IBGE. Dizem algo sobre mudanças no mundo do trabalho e até sobre a inflação e a taxa de juros do Banco Central.
Direita precisa se perguntar: valeu a pena? Por Celso Rocha de Barros
Folha de S. Paulo
Graças a Bolsonaro, morreu todo o trabalho de
décadas que PSDB e PFL fizeram para livrar a direita da associação com a
ditadura militar
Bolsonarismo atrapalhou processo orgânico de
crescimento de uma direita com enraizamento social
Agora que Jair está em cana, opa, calma aí,
não consigo abandonar esse começo de frase ainda não, me deixe saborear, agora
que o Jair está em
cana, rapaz, que gostinho de justiça e bolo da vovó que sinto após
dizer isso em voz alta.
Vou ter que dizer de novo, agora que o Jair
está em cana, olha só, se o golpe tivesse dado certo, eu teria sido assassinado
no pau-de-arara.
Se está achando ruim, vá ler outra coluna,
quero mais é dizer de novo, agora que Jair está em cana por ter tentando roubar o voto
dos pobres e usar as armas da República para matar seus
adversários.
Desculpa, foram anos ouvindo gente dizer sem rir que o charlatão do Guedes era competente, mas OK, parei, agora que o Jair está em cana por ter tentado roubar o voto dos pobres e usar as armas da República para matar seus adversários, Vacina! Vacina!
Legalidade é o melhor remédio, por Dora Kramer
Folha de S. Paulo
O histórico de escândalos nas altas esferas
poderia colocar o país no lugar de paraíso de ilegalidades
A boa notícia é que desde a redemocratização muitas malfeitorias explodiram, mas várias foram implodidas
Quatro
ex-presidentes presos, dois impeachments em 24 anos, cinco ex-governadores
de um só estado (RJ) com passagens pela cadeia é um portfólio e
tanto, para o bem e para o mal.
Diz muito sobre a conduta das autoridades,
mas diz muito também sobre o histórico nacional de tolerância com os poderosos,
não só da política estrito senso, como atividade profissional.
Até o início da década dos 1990, os barões do jogo do bicho no Rio de Janeiro eram tratados como celebridades, financiadores de campanhas eleitorais em cena aberta.
Uma gafe muito instrutiva, por Muniz Sodré
Folha de S. Paulo
Lapso verbal de Lula é acidente de percurso
que deixa claro que o problema da droga é também de linguagem
As estruturas burocráticas de repressão
travam uma guerra de enxugar gelo contra a narcocracia internacional
Todo homem de Estado comete gafes. O chanceler
alemão Friedrich Merz disse estar "contente" por
deixar Belém e
retornar a seu país, que "é lindo". Fez feio. Em Bolsonaro, a frase
"eu não sou estuprador, mas se fosse não iria estuprar porque ela não
merece", a propósito de uma parlamentar, não é gafe, mas exposição de um
"self" maligno: ele próprio foi uma gafe republicana.
Lula é reincidente. A sua última merece discussão por um possível mal-entendido. Ele deixou escapar algo como "traficante é vítima do usuário". Literalmente, a frase é um absurdo para o senso minimamente ciente do mal que o narcotráfico inflige à sociedade e às famílias. Cansaço ou falta de concentração prejudicam o processamento mental, levando a lapsos de linguagem.
sábado, 29 de novembro de 2025
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Congresso promove retrocesso ao derrubar vetos de Lula
Por O Globo
Para atingir Executivo, Parlamento deteriora
proteção ambiental e quadro fiscal. Maior derrotado é o Brasil
Congressistas podem ter mirado no governo, mas atingiram duramente o Brasil ao derrubar, na quinta-feira, vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva interpostos a dois projetos: o que muda regras de licenciamento ambiental e o que estabelece o Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados (Propag). No primeiro, abriram a porteira à devastação do meio ambiente, mandando às favas qualquer preocupação com a preservação e ameaçando as metas ambientais brasileiras, logo depois do fim da COP30, em Belém. No segundo, beneficiaram estados endividados pondo em risco o equilíbrio das contas públicas. Em suma, um desserviço ao país.
Girando em falso, por Marco Aurélio Nogueira
O Estado de S. Paulo
A insistência em viver a disputa eleitoral
como um choque entre polos enraivecidos dificulta que forças de mediação entrem
em campo
Numa bela passagem de Minha Formação (1900), Joaquim Nabuco estampou um pensamento que permanece instigante mesmo depois de ter atravessado tempos e gerações. Escreveu: “Há duas espécies de movimento em política: um, de que fazemos parte supondo estar parados, como o movimento da Terra que não sentimos; outro, o movimento que parte de nós mesmos. Na política são poucos os que têm consciência do primeiro, no entanto esse é, talvez, o único que não é uma pura agitação”.
A frase famosa pode nos ajudar a refletir
sobre o Brasil.
Fazemos parte da política que se movimenta, mas não supomos estar parados. Imaginamos estar na vanguarda dela, conduzindo-a. Na verdade, mais colidimos do que interagimos com ela. Os mais dinâmicos e espertos fazem da política uma via de ascensão. Nossa política é movimento permanente, desatento ao que importa.
Mutações não podem desvirtuar a essência da Constituição, por Oscar Vilhena Vieira
Folha de S. Paulo
Sistema político brasileiro passa por
acentuado processo de mutação
Força está migrando para o Poder que tem
menos confiança da população
O sistema político brasileiro vem passando
por um acentuado processo de mutação no que se refere à relação entre os
Poderes. Embora não se deva cravar que abandonamos o chamado presidencialismo
de coalizão, fica cada vez mais claro que o presidente perdeu a posição de
dominância em relação ao Legislativo, tornando-se cada vez mais dependente do
equilíbrio de forças dentro do Supremo Tribunal Federal.
A derrubada dos vetos presidenciais à nova lei de licenciamento ambiental e a ameaça de não ratificação da nomeação de Jorge Messias para o STF confirmam esse processo de realocação de forças, em que o Parlamento busca ao mesmo tempo impor maiores custos de governabilidade ao Executivo e reduzir a influência do Executivo na composição do Supremo. Afinal, o Supremo não apenas tem jurisdição criminal sobre os membros do Parlamento como também decide vários temas de interesse dos parlamentares.



























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