quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Por O Globo

Rigor é essencial ao regular uso de IA nas eleições

TSE precisa aumentar vigilância sobre tecnologias que disseminam mentiras de forma cada vez mais verossímil

Os avanços e o barateamento das ferramentas de inteligência artificial (IA) despertam a cada dia mais preocupação. São impressionantes os vídeos, imagens e áudio sintéticos. Eles se tornaram perfeitamente verossímeis e estão ao alcance de qualquer um munido de ferramentas digitais simples. De tão bem feitos, fica difícil determinar se são mensagens fraudulentas ou fidedignas. É enorme o potencial para abuso, desinformação e crimes eleitorais, com dano evidente à democracia. À medida que a eleição se aproxima, a situação só tende a piorar. Por isso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão regulador das eleições, precisa aumentar a vigilância e o rigor.

Ninguém fala para o eleitor não polarizado, por Vera Magalhães

O Globo

Derrapadas do bolsonarismo e de Lula têm tudo para afugentar o contingente decisivo de eleitores ainda em disputa

Falta menos de um ano para a eleição presidencial, e um livro lançado nesta terça-feira mostra que existem mais matizes no eleitorado brasileiro do que o termo polarização permite enxergar — e nenhum dos dois lados hegemônicos da política brasileira tem sido eficaz em falar com os grupos ainda não fidelizados. Pelo contrário: as recentes derrapadas de Lula e do bolsonarismo, a maioria delas provocada por barbeiragens próprias, têm tudo para afugentar o decisivo contingente de eleitores ainda em disputa.

Em “Brasil no espelho”, livro do cientista político Felipe Nunes que reúne as conclusões da maior pesquisa já feita pela Quaest para entender as ideias, os valores e as crenças dos brasileiros, fica mais nítida a divisão social do país — e, com isso, também a inclinação política de cada um dos grupos mais expressivos. A pesquisa classifica os brasileiros em conservadores cristãos (27% do total), dependentes do Estado (23%), ligados ao agro (13%), progressistas (11%), militantes de esquerda (7%), empresários (6%), liberais sociais (5%), empreendedores individuais (5%) e a extrema direita (3%).

Alcolumbre avacalha um ritual, por Elio Gaspari

O Globo

Uma crise sem um fiapo de interesse público

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, criou uma crise com o Planalto sem que haja nela um só fiapo de interesse público. Tudo por causa da escolha, por Lula, do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a cadeira vaga no Supremo Tribunal Federal. Alcolumbre queria o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco.

Aos fatos:

A prerrogativa constitucional de nomear ministros do STF é do presidente da República, e só dele. A preferência de Alcolumbre, como o pato ao tucupi, é uma escolha dele. A preferência de Lula por Messias é uma prerrogativa.

Faça-se de conta que Alcolumbre se aborreceu por não ter sido avisado. Essa manha é pueril.

A guerra da sabatina, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Crises fabricadas pelo senador do Amapá independem de currículo dos indicados ao STF

Em 2021, Davi Alcolumbre retardou por longos quatro meses a sabatina de André Mendonça, indicado ao Supremo. Queria forçar o governo Bolsonaro a devolver o controle sobre a distribuição das emendas ao Orçamento.

Em 2025, Davi Alcolumbre marcou uma sabatina a jato para Jorge Messias, indicado ao Supremo. Quer forçar o governo Lula a negociar, mas jura não estar em busca em nenhum “ajuste fisiológico, com cargos e emendas”.

O presidente do Senado mudou a tática, mas joga o mesmo jogo. Usa uma atribuição da Casa, a de avaliar os candidatos à Suprema Corte, para barganhar interesses alheios aos currículos dos indicados.

A crise atual começou a ser fabricada em outubro, quando o ministro Luís Roberto Barroso antecipou sua aposentadoria. Alcolumbre tentou emplacar o aliado Rodrigo Pacheco, mas não foi atendido.

Ciência e soberania, Por Roberto Medronho

O Globo

O domínio de tecnologias críticas é decisivo para reduzir a dependência externa em setores estratégicos

O conceito de soberania evolui historicamente. Frequentemente, está associado ao controle do território, à capacidade militar e à autodeterminação política. Entretanto, no século XXI, a soberania não é garantida apenas com fronteiras bem protegidas, nem com a afirmação da personalidade independente do Estado, de sua autoridade plena e governo próprio. Em tempos de interdependência global e rápidas transformações científicas, a verdadeira soberania de uma nação depende, cada vez mais, da educação, da ciência, da tecnologia e da inovação.

O domínio de tecnologias críticas é decisivo para reduzir a dependência externa em setores estratégicos como saúde, energia, defesa e agricultura. Durante a pandemia de Covid-19, o mundo presenciou episódios que demonstraram de maneira cabal essa vulnerabilidade.

‘Vidas Secas’, o elo perdido entre o craque Reinaldo e o ator Wagner Moura, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O craque não participava de organizações de esquerda, era apenas um dos maiores atacantes de sua geração e comemorava seus gols com o punho cerrado

A decisão da Comissão de Anistia de reconhecer o ex-jogador José Reinaldo de Lima, ídolo do Atlético Mineiro e da Seleção Brasileira, como vítima da perseguição política da ditadura militar ilumina uma faceta menos lembrada, porém decisiva, da repressão brasileira: a violência cotidiana, difusa, que atingia não apenas militantes clandestinos, mas qualquer cidadão que ousasse romper o enquadramento simbólico e disciplinador imposto pelo regime.

Reinaldo não conspirava, não participava de organizações de esquerda. Era apenas um dos maiores atacantes de sua geração, um jovem negro, carismático, que comemorava seus gols com o punho cerrado, marca dos movimentos de direitos civis norte-americanos, que simbolizava autoestima, dignidade e autonomia. Para os generais e para a cúpula da antiga Confederação Brasileira de Desportos, aquele gesto era uma mensagem perigosa para os torcedores e demais jogadores.

1% mais rico concentra 37,3% da riqueza declarada no IR, aponta relatório da Fazenda

Por Bruna Lessa / O Globo

Levantamento integra informações da Receita Federal e da PNADC para medir a desigualdade de renda e patrimônio no país

A parcela equivalente ao 1% mais rico da população deteve 37,3% da riqueza declarada à Receita Federal em 2023, apontou relatório divulgado nesta segunda-feira pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda. O estudo consolida informações do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) e combina esses dados com pesquisas domiciliares para medir a distribuição de renda e patrimônio no país.

De acordo com o relatório, quando se observa somente a riqueza declarada ao IRPF, a concentração é ainda mais acentuada do que na renda. Entre os 10% mais ricos, a fatia chega a 64,2% do total do patrimônio informado pelos contribuintes. Já os 5% mais ricos concentram 54,7%.

Esses números, segundo a SPE, ainda podem subestimar a desigualdade real. Isso porque o estudo classifica os grupos a partir da renda declarada — e não do patrimônio acumulado —, o que pode deslocar parte dos contribuintes com grande volume de bens, mas baixa renda tributável, para faixas inferiores da distribuição.

Objetivos e consequências da estratégia de Michelle, por Fernando Exman

Valor Econômico

Lula é o principal beneficiário do racha na família Bolsonaro e, consequentemente, dentro no PL

Michelle Bolsonaro movimenta-se para obter, como enumera um arguto observador da política nacional, o segundo de dois requisitos para quem pretende concorrer à Presidência da República ou pelo menos interferir nas discussões sobre a vaga de vice.

O primeiro requisito, uma base eleitoral robusta, em tese ela já possui. Segundo pesquisas de opinião, a ex-primeira-dama apresenta uma potencial massa de votos maior do que a dos enteados. Personifica, portanto, a maior probabilidade de a família Bolsonaro estar na chapa vitoriosa nas próximas eleições presidenciais.

Ary Oswaldo, Itamar e a festa errada, por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

O risco de o ano legislativo acabar sem votação do projeto que detalha a parte administrativa da reforma tributária está no radar do governo

Homem de hábitos refinados, Ary Oswaldo Mattos Filho soltava um raro e envergonhado palavrão, dos brandos, quando falava sobre o destino da reforma tributária que elaborou, a primeira pós-Constituição de 1988. O trabalho estava na reta final quando o então presidente da República, Fernando Collor, renunciou para escapar do impeachment. Era dezembro de 1992. Como se sabe, a reforma não andou.

Quatro anos atrás, quando a reforma tributária dava sinais de que poderia finalmente decolar, a coluna quis saber a opinião de Mattos Filho. Ele estava pessimista quanto ao andamento daquela proposta, como de outras reformas econômicas.

“É o presidente errado, com a maioria errada no Congresso, e com uma percepção errada de que só mexendo do lado da receita a coisa anda”, afirmou.

O retrocesso patrocinado por Motta, por Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Ministério Público pede socorro ao Senado: Câmara aprovou medida que ajuda os bandidos

Não adianta dizer que se trata de narrativa. Ou de que tudo é invenção do Planalto. Hugo Motta e os açodados deputados que votaram o projeto de lei Antifacção e buscam impor o mesmo ritmo frenético aos senadores deveriam ler o artigo do procuradorgeral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, e dos promotores Lincoln Gakiya e Aluisio Antonio Maciel Neto, do Ministério Público de São Paulo, publicado no Blog do Fausto Macedo.

Primeiro porque, entre os autores, estão alguns dos responsáveis pelas mais importantes ações contra o crime organizado no País. Não é à toa que Gakiya tem a cabeça a prêmio pelo PCC. Eles elogiam os avanços do projeto. Listam a ação civil autônoma de extinção de domínio, a criação do crime de domínio social estruturado, a repartição entre União e Estados dos bens apreendidos, o endurecimento da progressão de regime carcerário e os instrumentos de cooperação e inteligência. Só então abordam o retrocesso patrocinado por Motta.

Não é o Estado que estabelece a verdade, por Nicolau da Rocha Cavalcanti

O Estado de S. Paulo

Criticar o Poder Judiciário é um direito, mesmo que as críticas sejam duras ou injustas. Não cabe criminalizar a opinião

Ficamos todos um pouco obnubilados – incrédulos, há de se reconhecer – com a atividade de metalurgia artesanal de Jair Bolsonaro, curioso com sua tornozeleira eletrônica. Tenha qual sido o real motivo, o uso do ferro de solda sobre o dispositivo eletrônico conferiu legitimidade à prisão preventiva decretada horas depois por Alexandre de Moraes.

Mas a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) não falava apenas em violação da tornozeleira eletrônica como fundamento para a prisão. Dizia: “As manifestações do filho do réu no referido vídeo revelam o caráter beligerante em relação ao Poder Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal, em reiteração da narrativa falsa no sentido de que a condenação do réu Jair Bolsonaro seria consequência de uma ‘perseguição’ e de uma ‘ditadura’ desta Suprema Corte”.

Desaforo fiscal, por Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Se todos os gastos previstos saírem do papel, o ajuste exigido a partir de 2027 terá de ser muito maior

O cenário para o risco fiscal do Brasil em 2026, ano da eleição presidencial, é o seguinte: os investidores vão seguir aceitando desaforos nas contas públicas, com o governo jogando “lixo” para debaixo do tapete, ou seja, manobrando para colocar gastos extras para fora dos limites fixados no arcabouço fiscal, enquanto sonham com um robusto ajuste a partir de 2027.

É o que se deduz dos juros reais de 7,3% que o governo está pagando pelos títulos públicos com prazo de dez anos. Nessa taxa, já está precificada pelos investidores muita notícia ruim na área fiscal, com a expectativa de aceleração na trajetória da dívida pública. O problema é que há um risco concreto para surpresas negativas, o que poderá fazer com que os juros reais de dez anos retornem, em 2026, aos patamares exorbitantes do início deste ano, quando a taxa desses papéis chegou perto de 8%.

Pouso suave do PIB vai pesar menos, com inflação contida e emprego ainda forte, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

IBGE divulga nesta quinta número de crescimento da economia no terceiro trimestre

Afora aberrações, resultado não deve alterar estimativas de alta de uns 2,1% no ano

Até agora, não há indício de que a economia brasileira não vá crescer uns 2,1% neste ano. No ano passado, o PIB cresceu 3,4%, o melhor desempenho desde 2011 (descontada a distorção causada pela variação excessiva da epidemia). Depois da Grande Recessão (2014-2016) e antes da epidemia, de 2017 a 2019, a taxa média de crescimento havia sido a miséria de 1,4% ao ano. Vai ser pouso suave.

Nesta quinta-feira (4), o IBGE divulga o PIB no terceiro trimestre e eventuais revisões. Pelo que se chuta de modo mais ou menos informado, o número trimestral não deve alterar a previsão para o ano.

O bolsonarismo sobrevive sem Bolsonaro? Por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

A prisão abre disputa, mas não destrói a identidade construída em uma década

Mesmo tendo se organizado em torno de um indivíduo, ele não é só um personalismo

E agora —com Bolsonaro fraco, preso e sem um herdeiro ungido—, o que será do bolsonarismo? A identidade política que moldou a direita na última década se dissolve? Fragmenta-se entre os filhos que tentam manter a marca como patrimônio familiar e os políticos que disputam o espólio eleitoral?

A dúvida só faz sentido porque nem todos estão convencidos de que o bolsonarismo exista como fenômeno substantivo ou que resista com o seu líder nessa condição.

Essas leituras minimalistas ignoram o que sabemos sobre identidades políticas. A psicologia social —especialmente a Teoria da Identidade Social— mostra que adesões duráveis não se reduzem ao carisma de um líder nem se desfazem automaticamente quando ele cai ou morre.

Uma identidade pode se organizar de muitas maneiras.

Pastores no Senado, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Apoiadores de Messias querem levar clérigos ao Congresso para pressionar por aprovação

Lógica religiosa, que opera com absolutos morais, não combina bem com lógica da política, que privilegia negociações

Deu na Folha que aliados de Jorge Messias pretendem abarrotar o Senado de pastores para pressionar os parlamentares a aprovarem seu nome para o STF.

Messias é evangélico e seus apoiadores imaginam que a assembleia de clérigos poderá amainar a resistência de senadores a seu nome, que é muito mais política do que religiosa, curricular ou pessoal.

Misturar religião com política é uma combinação complicada. O ideal, na democracia, seria separar inteiramente as duas esferas. Mas é impossível fazer isso pela simples razão de que ambas as atividades são exercidas por humanos. E todo humano tem uma identidade religiosa. Mesmo eu, ateu irredutível e desprovido de qualquer traço identificável de espiritualidade, ocupo um lugar no espectro da religiosidade, que vai da descrença absoluta à devoção compulsiva.

Morada de transgressões, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O passivo de infrações à lei e ao regimento se acumula sem que o presidente da Câmara se oponha

Hugo Motta não é permissivo sozinho: tem a colaboração da Mesa Diretora e do colégio de líderes

Como chefe da Câmara, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) tem se mostrado um compassivo presidente de agremiação corporativa conivente com ilícitos —legais e regimentais— em defesa de seus filiados.

Do mais grave ao mais imperdoável na escala de inadmissível tolerância, temos os casos de descumprimento de ordem judicial até a impunidade de promotores de motim, passando pela convivência pacífica com deputado em exercício no exterior.

Poesia | De que serve a bondade, Bertold Brecht

 

Música | Roberta Sá & Moreno Veloso - Um passo à frente

 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Derrota ambiental

Folha de S. Paulo

Ao derrubar vetos de Lula, Congresso mina desenvolvimento sustentável e contenção da crise do clima

Flexibilização sem respaldo técnico pode afetar agronegócio, devido a regras internacionais que limitam produtos ligados ao desmatamento

No meio do entrevero político entre Palácio do Planalto e Congresso Nacional, a preservação do ambiente sofreu derrota temerária quando Câmara e Senado, na quinta (27), derrubaram 52 dos 63 vetos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na lei que flexibiliza o licenciamento ambiental no país, aprovada pelos parlamentares em julho.

O setor de fato necessita de uma regulação mais moderna e simplificada, que alie a proteção de biomas ao desenvolvimento sustentável. Contudo, em vez de elaborarem uma abordagem técnica, parlamentares abusaram de dispositivos com viés paroquial ou que atendem a determinados grupos políticos e econômicos.

A progênie da brasilidade, por Merval Pereira

O Globo

De vez em quando, e com segundas intenções, os três filhos mais velhos de Bolsonaro se unem para afastar “interesseiros”.

A família Bolsonaro vem se esmerando em destruir-se publicamente, com intrigas e acusações em tom elevado que transformam a privacidade em ação política, para o bem e para o mal. Samuel Johnson, pensador britânico do século XVIII, dizia que os personagens das peças de Shakespeare resumiam a “progênie da humanidade”, sem faltar “nenhum tipo humano relevante, ou sentimento”. Como ele, muitos de nossos especialistas em Shakespeare gostam de fazer comparações de personagens dele com políticos brasileiros, pois também nossa política abarca a “progênie da brasilidade”, já que os parlamentares representam a diversidade dos eleitores. A começar pelo próprio Bolsonaro.

Usando comentários de amigos especialistas em Shakespeare, como o economista Gustavo Franco e o advogado e escritor José Roberto Castro Neves, que doam seu tempo para ilustrar amigos como eu nas sutilezas do mestre de Stratford-upon-Avon, não resisto a comparar a família Bolsonaro à família do Rei Lear, embora a deste fosse composta de filhas mulheres, e a daquele de homens. A tragédia da família Bolsonaro tem tons shakespearianos, e o ex-presidente brasileiro disputa o amor de seus filhos colocando uns contra os outros. Mas, de vez em quando, e com segundas intenções, os três mais velhos se unem para afastar “interesseiros”.

Descaminhos do Congresso, por Fernando Gabeira

O Globo

Redemocratização viveu sobressalto em 2018. Mas avisos já haviam sido dados nas manifestações de 2013

Parlamentares brasileiros, parabéns: vocês arrasaram. Numa só noite derrubaram os vetos de Lula ao projeto da devastação e demoliram o alicerce de nossa legislação ambiental.

Verdade é que foram cautelosos no timing de destruir as regras de licenciamento. Não foi durante a COP, para que os estrangeiros não vissem nosso atraso. Naturalmente, imaginam que as notícias não correm rápido, nem que temos concorrentes internacionais a nosso agronegócio. Daqui a pouco, poderíamos firmar o acordo entre Mercosul e União Europeia. A contribuição de vocês pode ser decisiva para o fracasso.

Vivemos semanas estranhas. Por delicadeza, veria nelas certo realismo fantástico dos trópicos. Mas seria comunicar uma aura romântica a algo que me parece pura degradação de nossa vida política.

Fim do ano melhor do que o esperado, por Míriam Leitão

O Globo

Inflação cai, preço dos alimentos surpreendem e dólar recua: 2025 termina melhor do que projetado pelos economistas

O ano termina melhor do que o esperado e melhor do que começou. No início de 2025, o cenário de mercado era de inflação em 6% e de alta de alimentos entre 8% e 9%. A projeção da inflação está entre 4% e 4,4%, e a inflação de alimentos fecha o ano em 1,35%. A taxa de câmbio estava em R$ 6,18 em janeiro. Atualmente, o dólar gira em torno de R$ 5,35. Quem faz essa comparação entre o que se esperava no começo do ano e o que realmente aconteceu é Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual.

Alguns números da economia brasileira são realmente surpreendentes. A inflação de alimentos, por exemplo, fez uma trajetória totalmente diferente do que se esperava.

— No ano passado, a inflação de alimentos foi 8,2%, e foi um dos fatores que impactou negativamente a aprovação do presidente. No início do ano, a expectativa era de 9%. Vai fechar o ano em 1,3%. Houve uma queda muito forte da inflação de alimentos e o cenário em geral é bem melhor do que o projetado no começo do ano — disse Mansueto.

Europeus com o rabo entre as pernas, por Pedro Doria

O Globo

Regras para usos considerados de “alto risco” de IA foram adiadas para dezembro de 2027

Muito discretamente, no último dia 19, a Comissão Europeia soltou um comunicado à imprensa anunciando uma imensa mudança no pacote de regulações de inteligência artificial. Um press release, só isso. Horas depois, um funcionário da Comissão desceu para falar com repórteres e tentar saciar quaisquer dúvidas. Não era ninguém com cargo alto na burocracia. Quem escreveu sobre a coletiva improvisada nem mencionou seu nome. Foi assim que a Europa comunicou ao mundo que as pesadas regras para usos considerados de “alto risco” de IA não começam em agosto de 2026. Ficaram adiadas para dezembro de 2027. A UE deu para trás.

Quando a Lei de IA foi aprovada, em março de 2024, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, fez discurso. A ela seguiu-se a vice-presidente, depois o comissário do Mercado Interno Europeu. Queriam as manchetes dos jornais do continente e conseguiram.

‘Gastança’ e circulação da renda, por Luiz Gonzaga Belluzzo

Valor Econômico

A análise de Keynes deve ser aplicada às decisões de gasto do governo: as autoridades podem decidir gastar mais em uma situação de desalento do dispêndio privado

Ao deambular pelos caminhos do debate econômico contemporâneo, a mídia frequentemente assusta o leitor ou espectador. Nos templos da austeridade, a fé midiática reza a ladainha da “gastança” e do risco fiscal. Os editoriais e opiniões — dia sim, outro também — reafirmam suas crenças ao exorcizar o Risco Fiscal, Demônio de Plantão. As manchetes que encimam as peças opinativas repetem à saciedade: “O Problema é o Gasto”.

As avaliações do momento econômico invertem as relações entre gasto e renda. Nota-se a prevalência de concepções que parecem acreditar na anterioridade da arrecadação de impostos em relação aos gastos do Estado. É a falácia que proclama “Primeiro arrecada e depois gasta”. Em sua dinâmica, as economias de mercado capitalistas insistem em desacreditar essa falácia.

Edinho Silva prega ‘maturidade’ em crise com Congresso

Por Camila Zarur / Valor Econômico

Presidente do PT minimizou tensionamento do Senado com governo federal

O presidente nacional do PT, Edinho Silva, minimizou o tensionamento das relações entre Legislativo e Executivo e afirmou que é preciso ter “maturidade política” para colocar os interesses da sociedade acima de “divergências menores”. A declaração foi dada pelo dirigente partidário na segunda-feira (1) em conversa com jornalistas, no Rio de Janeiro, e vem na esteira da mais nova crise institucional entre Planalto e Senado.

No domingo (30), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), enviou uma carta pública ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando a demora do mandatário em encaminhar ao Senado a indicação do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF). O senador também reclamou de que o Executivo estaria criando a “falsa impressão” de que “divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”.

Um plano B para Lula no STF, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Na eventualidade de Messias vir a ser rejeitado, alternativa é indicar uma mulher que enfrente golpistas

O mapa de votos em poder do Palácio do Planalto mostra que o ministro da Advocacia-Geral da União tem um terço dos votos do Senado. Um outro terço votará com o presidente da Casa. O terceiro votará contra a indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal. Sem o apoio do senador Davi Alcolumbre (União-AP), portanto, o ministro da AGU não chegaria a 30 votos.

O mesmo mapa parece ter norteado o presidente do Senado na carta divulgada neste domingo, um monumento à habilidade de tornar toda a Casa cúmplice de seu jogo. É possível que Alcolumbre não tenha posto cargos sobre a mesa neste momento, mas não dá para dizer que um presidente de Casa Legislativa que indica de ministérios (Desenvolvimento Regional e Comunicações) a postos comissionados do Senado, tome por ofensiva uma negociação que leve em conta a negociação de cargos.

Na rota de colisão com Alcolumbre, governo Lula corre risco de naufrágio, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A resistência a Messias reflete a nova correlação de forças do Senado. Alcolumbre tornou-se fiador informal das indicações ao Judiciário e não gostou de ver sua autoridade contrariada

Quando a marcação é constante e a distância diminui, a rota é de colisão, ensinam os velhos navegantes. É mais ou menos o que está acontecendo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), por causa da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), em vez do nome do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que teria amplo apoio dos colegas.

Criou-se uma situação muito complicada, porque Lula não pode recuar — se o fizer, não nomeará mais ninguém que dependa de aprovação do Senado — nem Alcolumbre pode perder a votação, porque isso fragilizaria sua liderança irremediavelmente. Caso o nome de Messias não seja aprovado, o que não acontece desde o governo do presidente Floriano Peixoto, no começo da República, Lula também não indicará Pacheco. Terá de apresentar outro nome, que forme maioria no Senado. É ou não é uma rota de colisão?

Michelle no olho do furacão, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Crise com Michelle confirma que todos brigam e ninguém tem razão no PL e na família

O PL vai meter a colher hoje em mais uma crise na família Bolsonaro, que enveredou ainda mais profundamente por um caminho que pode ser definido como “todos brigam e ninguém tem razão”. Depois de meses de desgaste com as verdades sobre o golpe do patriarca Jair, as graves inconsequências do 03 Eduardo e, por último, o descontrole do até então controlado 01 Flávio, quem entra no olho do furacão é Michelle.

O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, cortou o cargo e o salário de R$ 46 mil de Jair no PL depois da prisão definitiva, mas não mexeu nos de Michelle, importante ponte com o eleitorado feminino e evangélico que a leva aos vários cantos do País, à chance de disputar o Senado pelo DF e até – quem diria? – às pesquisas presidenciais de 2026.

Que Alcolumbre é esse? Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Hipótese 1. Davi Alcolumbre é um governista. Foi assim com Bolsonaro; e com Lula, até aqui. Um governista de oportunidades. Governista condicional, aquele tipo bem-disposto, que pende à facilitação, desde que contemplado a cada votação de interesse do Planalto. Contemplado com lotes de influência na superfície do Estado. Aquele Alcolumbre que, negociando, fez os vales dos rios São Francisco e Parnaíba se estenderem até o Amapá.

Esse mágico, tendo agendado a sabatina de Jorge Messias para o próximo dia 10 como forma de garantir a sua incontornabilidade no processo, estaria agora à espera Lula. Pronto para conversar. Em política, ponto de não retorno é temperatura difícil de alcançar. Alcolumbre, talvez esticando a corda com mais tensão que o habitual, teria estreitado a margem de negociação. Margem estreita não deixa de ser margem. Haveria um caminho.

O mapa ainda indica o caminho, por Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

É preciso estabelecer metas, prazos, condições e responsabilidades para a redução, no ritmo possível, do uso dos combustíveis fósseis para assegurar vida melhor no futuro

A ausência de qualquer referência à expressão “combustíveis fósseis” no documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), que se reuniu em Belém, dá a sensação de que alguma coisa muito importante para o futuro da humanidade foi deixada de lado. A sensação tem motivos. Um “mapa do caminho”, nome precioso de um roteiro que se pretendia desenhar para a transição energética que levasse à redução do uso de combustíveis fósseis até seu fim em algum momento, chegou a ser discutido com intensidade, mas nada disso apareceu no documento final. Houve, em alguns grupos ativos nas discussões, certa descrença na capacidade dos líderes mundiais de encontrar respostas efetivas para o aquecimento global.

Quem irá conter o Supremo? Por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Quem pode conter o STF por fora é o Congresso, seja pela votação de novos ministros ou outras vias

Na ausência da autocontenção, Legislativo não deve se furtar de agir

Uma série de bons artigos —Malu Gaspar e Pablo Ortellado no Globo, Fernando Schuler no Estadão e Lygia Maria aqui na Folha— tem debatido os possíveis abusos do Supremo no contexto da trama golpista. Agora que Bolsonaro foi condenado, é hora do Supremo conter os abusos que foram necessários para condená-lo e voltar à normalidade. Claro que a própria Justiça não pode jamais aceitar esses termos, pois seria a admissão de uma Justiça parcial e, portanto, injusta, mas é assim que o debate público tem tratado a questão.

Não vi ainda argumento decisivo para a premissa central aí: a de que os "abusos" do Supremo (lembrando que todos têm suas justificativas jurídicas) foram necessários, decisivos, para as condenações.

Em alguns casos isso é obviamente falso. Tanto a decisão de levar o caso para a primeira turma —em vez do plenário— e a decisão de Moraes de não se declarar impedido para julgar o caso são decisões frequentemente apontadas como abusivas. Independentemente de se a crítica é correta ou não, elas foram irrelevantes para o resultado final. Os golpistas terminariam condenados de qualquer jeito. Mas e sem os inquéritos de ofício, mantidos durante a longa omissão da PGR? Sem eles, haveria a denúncia e o caso? Talvez nunca saibamos.

Sem anistias, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Premiê israelense submete pedido de perdão judicial ao presidente Isaac Herzog

Países em que erosão institucional não foi completa deveriam rejeitar casuísmos

Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israelsolicitou perdão judicial ao presidente do país, Isaac Herzog. Netanyahu responde a três processos criminais por corrupção, fraude e quebra de confiança. Em Israel, o cargo de presidente é essencialmente cerimonial, mas conserva alguns poderes reais, incluindo o de graça.

A exemplo da cogitada anistia a Jair Bolsonaro, esse é um tema que divide o país. Netanyahu, a exemplo do que dizem bolsonaristas, afirma que o perdão é necessário para a reconciliação nacional. Quem é contra a medida pondera que livrar a barra do premiê sem nenhum tipo de punição e sem que ele nem precise admitir culpa seria um incentivo ao vandalismo institucional.

Cacoete não republicano faz a crise, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Sendo papel do Senado aprovar indicação ao STF, em tese uma recusa não seria razão de conflito

O hábito da sabatina apenas protocolar fez da desaprovação uma derrota do presidente a ser evitada

Qual seria o tamanho, a durabilidade e os efeitos da presumida crise institucional caso o Senado recuse a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal?

Não há resposta precisa, mas há suposições possíveis. A falta do elemento surpresa diminuiria a dimensão; com altos e baixos, o conflito duraria até a eleição do próximo Congresso e a consequência tanto pode ser o acirramento como o apaziguamento pragmático dos ânimos, a depender dos interesses em jogo.

Que segredos Ramagem, ex-chefe da Abin, levou para os EUA? Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Condenado na trama golpista, deputado passou a perna no Judiciário

Decisão de entregá-lo às autoridades brasileiras está nas mãos de Trump

Que segredos e mistérios esconde Alexandre Ramagem? Que tipo de vantagem ou chantagem ele tem na manga?

O arrivista que em 2018 se aproximou de Bolsonaro após a facada em Juiz de Fora e um ano depois foi nomeado diretor-geral da Abin está leve e solto, curtindo a vida adoidado em Miami, enquanto os comparsas do chamado núcleo crucial da trama golpista se veem obrigados a ler "Crime e Castigo", de Dostoiévski, para reduzir a pena e a caprichar nos atestados médicos para mudar de endereço. Eis por que advogados do general Heleno alegaram que seu cliente começou a sofrer de Alzheimer em 2018 —que ano terrível para todos os brasileiros, não?

Poesia | Ode Marcial, de Fernando Pessoa

 

Música | Gal Costa - Folhetim (Chico Buarque)

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Opinião do dia – Paul Samuelson*

“De que uma economia é inservível se não opera no sentido de indicar os meios pelos quais, com recursos escassos, se possa promover o máximo de bem-estar possível para a maior parte da população."

*Paul Samuelson (1915-2009), economista norte-americano, amplamente reconhecido como um dos formuladores mais importantes das ciências econômicas modernas. Prêmio Nobel de Economia,1994.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

PL do devedor contumaz merece tramitação célere

Por O Globo 

Proposta só avançou depois de operações contra PCC e Refit. Não é preciso esperar outra para aprová-la

Foi preciso autoridades estaduais e federais deflagarem a megaoperação contra o grupo do setor de combustíveis Refit, apontado como maior sonegador do país, para que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciasse o relator do projeto de combate a devedores contumazes, deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP). Espera-se que não haja mais procrastinação. É inaceitável que empresas usem a inadimplência fiscal como estratégia de negócio, deixando de pagar impostos de forma intencional e reiterada para levar vantagem sobre a concorrência.

A proposta cria o Código de Defesa do Contribuinte para coibir a atuação de fraudadores. De autoria do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ela toma o cuidado de não atingir empreendedores de boa-fé em dificuldades financeiras. Não será afetado quem tiver aderido a programas de regularização com o Fisco ou questione a dívida nas esferas administrativa ou judicial, tendo apresentado garantias ou amparado por teses de repercussão geral.

Chantagens que custam bilhões à sociedade, por Bruno Carazza

Valor Econômico

A prática de aprovar pautas-bomba quando o Presidente desagrada o Parlamento não vem de hoje, mas precisa ser eliminada do jogo político brasileiro

Tudo bem o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), preferir seu colega Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para ocupar a cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal. Acontece que essa competência cabe ao chefe do Poder Executivo - e Lula optou por Jorge Messias. Faz parte do jogo. O que não dá é, em retaliação, querer impor uma conta bilionária para a sociedade devido à sua insatisfação política.

Em nota oficial divulgada nesse domingo (30), Alcolumbre negou que “divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”. Para ele, o presidente da República tem a prerrogativa de indicar ministros ao STF, enquanto é tarefa dos senadores aprovar ou rejeitar o nome. Se fosse simplesmente assim, estava resolvida a questão.