Correio Braziliense
A Câmara precisa explicar à sociedade: como
se exerce um mandato sem direitos políticos? Como votar, discursar ou
representar cidadãos a partir de uma cela em outro país? E, indo além, qual
será o entendimento da Câmara diante dos casos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre
Ramagem, que estão no exterior?
No Brasil, decisões tomadas enquanto o país
dorme raramente produzem bons resultados para a democracia. A madrugada, que
deveria ser espaço de pausa e recolhimento, tornou-se palco de votações de
grande impacto nesta semana, conduzidas longe do olhar mais atento da
sociedade. Os episódios recentes na Câmara dos Deputados, como a rejeição da
cassação do mandato de Carla Zambelli e a aprovação do chamado PL da
Dosimetria, reforçam essa tendência preocupante.
A manutenção do mandato de Carla Zambelli,
condenada definitivamente pelo Supremo Tribunal Federal a 10 anos de reclusão
e, atualmente, presa na Itália, expõe uma fratura institucional e uma
contradição política difícil de justificar. A própria Comissão de Constituição
e Justiça, a tão conhecida CCJ, havia recomendado a perda do mandato por
"incompatibilidade fática absoluta" entre o regime fechado e o
exercício da representação popular. Essa constatação elementar permanece sem
resposta e deve ser dada pela Mesa Diretora da Câmara: como se exerce um
mandato sem direitos políticos? Como votar, discursar ou representar cidadãos a
partir de uma cela em outro país? E, indo além, qual será o entendimento da
Câmara diante dos casos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem, que estão no
exterior?