sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Fim dos tempos. Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Só São Paulo está às escuras? Ou o Congresso, o STF, o Brasil e o mundo também?

A semana e o ano vão fechando com uma sensação de fim dos tempos, em que você olha para um lado e vê a Câmara imoral e o Senado raivoso, olha para outro e vê o Supremo em chamas e, ao virar para o Planalto, vê um palanque, onde Lula, em campanha, finge que não tem nada a ver com isso.

Tudo é espantoso no Congresso, a dita “casa do povo”, onde o tal “povo” não é ouvido e se choca, dia sim, outro também, com as decisões mais estapafúrdias, como a Câmara manter o mandato da deputada Carla Zambelli, condenada, foragida e presa. Pura confrontação contra o STF, e Alexandre de Moraes anulou a decisão, jogando álcool na fogueira entre os Poderes.

Câmara votou e aprovou ajuda a Beira-Mar, Marcola e André do Rap para salvar Bolsonaro e generais. Por Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Projeto da chamada dosimetria estabelece regime carcerário mais brando do que o aprovado pelos deputados e senadores na Lei Antifacção para chefes de milícia e de organizações criminosas e autores de crimes hediondos e feminicidas

Um dos únicos pontos incontroversos da Lei Antifacção que o Senado votou na terça-feira e aprovou sem alterar o que fora enviado pela Câmara dos Deputados foi modificado pelos próprios deputados durante a votação do projeto da chamada dosimetria. Para favorecer Jair Bolsonaro e os oficiais generais condenados pela tentativa de golpe, após a eleição de 2022, os parlamentares reverteram as modificações da Lei de Execuções Penais, derrubando de um terço a quase pela metade o tempo de permanência na cadeia dos chefes do crime organizado no País.

Caso seja aprovado como está pelos senadores e após a PL Antifacção, o projeto da dosimetria, que visava aliviar a cadeia de Bolsonaro, vai dar um presente de Natal para bandidos como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e André de Oliveira Macedo, o André do Rap. Isso porque ele reduz o tempo que esse tipo de criminoso deve permanecer na cadeia, em regime fechado, antes de passar para o regime semiaberto, em relação ao que o próprio Senado aprovara no projeto antifacção, noite de terça-feira à noite, horas antes da Câmara votar a dosimetria.

As más notícias de 2025 para 2026. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Poderes em conflito e parlamentar fugindo da polícia e salivando por emendas são problema

Preço da vitória de Lula 4 parece mais alto; corte de juros do BC pode ficar mais tumultuado

A primavera começou com promessa de melhoria no tempo ruim da política brasileira. As manifestações contra a anistia dos golpistas ajudaram a derrubar a PEC da Blindagem, por exemplo. Mas o ambiente continuaria poluído, sabíamos então; piorou. O mormaço tóxico vai entrar pelo ano eleitoral de 2026. Venenos:

1) A parlamentagem tentando fugir da polícia e da Justiça, querendo peitar um STF de fato fora da casinha institucional, refratário até à ideia de seguir um código de conduta, vergonha na cara básica;

2) A falta de pagamento de emendas parece assunto tão velho que mal se fala dele. Mas é o que move o clero ainda mais baixo (pois é quase tudo baixo no Congresso). É fácil arregimentar votos contra o governo quando a massa parlamentar saliva de raiva e fome de dinheiro;

3) Era sabido que derrota da direita tenderia a mexer com preços da finança (dólar, juros), ainda mais dada a indiferença de Lula 3 em relação ao conserto das contas públicas. Com o anúncio da candidatura-bomba e por ora derrotada de Flávio Bolsonaro tivemos uma medida desse custo, precocemente alto;

4) Aumentou o risco de um 2026 politicamente mais tumultuado. Além dos conflitos abertos entre Poderes, vê-se que a finança está bem mais avessa à Lula 4 do que se imaginava. E daí? Não deve ser tranquila a campanha de redução da taxa básica de juros, da Selic.

Kassab defende Tarcísio para a Presidência e descarta aliança com Flávio no primeiro turno. Por João Gabriel

Folha de S. Paulo

Presidente do PSD disse que seu partido deve ter nome independente dos bolsonaristas

Ele desconversou sobre possível apoio a Lula mesmo no segundo turno

O presidente do PSDGilberto Kassab, defendeu que o atual governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos), concorra à Presidência em 2026, mesmo diante da candidatura de Flávio Bolsonaro (PL), e indicou que uma aliança nacional com o filho de Jair Bolsonaro não deve acontecer no primeiro turno.

"Eu ainda entendo que o Tarcísio é o melhor candidato para o Brasil", disse nesta quinta-feira (11), durante um evento do Todos pela Educação, em Brasília.

"Desejo boa sorte a ele [Flávio], que ele possa fazer uma boa campanha. Mas o PSD sempre teve a sua posição muito clara. O PSD tem como uma decisão apoiar o Tarcísio caso ele seja candidato. E se ele não for candidato, nós temos dois pré-candidatos dentro do partido", completou em referência a Ratinho Júnior, do Paraná, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul.

Nuclearização da política. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Perda de mandato de Carla Zambelli é inevitável, se não já, em março, por faltas

Deputados aproveitam imprecisão constitucional para antagonizar STF

Lembram de Trump e Kim Jong-un discutindo, em 2018, quem tinha o maior "botão nuclear"? Os dois terminaram amiguinhos, mas o embate entre eles prenunciava o estilo hiperbólico, com toques de 5ª série, que viria a dar o tom da política nos anos 2020.

polêmica não cassação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) se inscreve nessa tendência, facilitada pelo oceano de imprecisões e contradições que povoam nossa Constituição cidadã.

Motta vai de mal a muito pior. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Com truculência e censura, presidente da Câmara relega o patrimônio democrático de sua geração

Leniência e decisões equivocadas marcam a falta de predicados para o exercício de função que exige liderança

Nascido em novembro de 1989, em meio à primeira eleição presidencial direta e quatro anos depois de reinstituída a democracia no Brasil, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) não poderia ter permitido —até por questão geracional— que sob sua presidência a Câmara vivenciasse cenas de truculência como as exibidas na última terça-feira (9).

Um deputado tratado a golpe de mata-leão pela Polícia Legislativa e outros empurrados ao chão, enquanto a imprensa era proibida de registrar as agressões e o sinal de transmissão da TV da Casa era cortado, foi algo tão chocante quanto inédito.

Hugo Motta é a atração maior do circo do acordão de Natal. Por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Poderes negociam acerto afobado que garanta as regalias e blindagens de cada parte

Lula, feitas as contas, não tem muito do que se queixar, como ele mesmo declarou

O presidente da Câmara, Hugo Motta, tem atributos cênicos para inspirar um desses personagens esquisitos de séries de streaming. Mas isso é apenas um gracejo inconsequente para falar da grande estrela midiática desse circo do acordão de Natal que vem sendo negociado no shopping center de nossa política institucional.

Por essa geringonça, os Poderes, dobrados por interesses corporativos e eleitorais, negociam um acerto meio afobado que garanta as regalias e blindagens de cada parte, mantendo-se o grande pacto da indulgência que preside o sistema.

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna*

“Durante quatro anos, dia a dia, fomos testemunhas de ações liberticidas que intencionavam abater quaisquer laços orgânicos em nossa vida comum, negando-se realidade fática à existência dessa coisa chamada de sociedade. O fascismo e sua pregação neoliberal das hostes bolsonaristas só admitiam o indivíduo isolado, mônada de interesses privados somente postos em ordem pela intervenção mítica do chefe da nação. Nesse sentido, havia algo de misticismo no chienlit brasileiro de 8 de janeiro, em que uma massa de indivíduos ignaros, à falta física do seu chefe, tentou baixar o seu espírito como num culto religioso a fim de realizar a obra que lhe cabia no sentimento de todos. Bolsonaro encarnou, assim em unção mística, a depredação em que cada manifestante em êxtase destruía um ícone nacional.

Os alemães, depois de 1945, solenemente prometeram que sua tragédia nacional não mais se repetiria, e conseguiram. Seremos capazes do mesmo?”

*Luiz Werneck Vianna (1938-2024). Sociólogo, “A patologia brasileira e seus remédios”, Blog Democracia Política e novo Reformismo, 15/1/2023.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

PEC que acaba com escala 6 por 1 não passa de populismo

Por O Globo

Sem aumentar produtividade, reduzir jornada de trabalho equivale a incentivar o desemprego e a pobreza

Num rompante demagógico, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) reduzindo a jornada de trabalho de 44 horas semanais para 36 horas ao longo de cinco anos. A PEC determina o fim da escala 6 por 1 e, em seu ímpeto populista, consegue ser ainda mais radical que um Projeto de Lei em debate na Câmara prevendo redução da jornada para 40 horas. Ante a proximidade do recesso parlamentar, o texto só deverá ser analisado no ano que vem. O prazo largo é a única boa notícia, tamanho o risco embutido na proposta.

Poesia | Lira do amor romântico, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Chico Buarque & Simone - Iolanda (Pablo Milanez)