quarta-feira, 15 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Apagão deve acender alerta em Brasília

Por O Globo

Acidentes acontecem, mas sistema elétrico brasileiro está mais instável em razão da regulação deficiente

Ainda estão sob investigação as causas do apagão que atingiu todas as unidades da Federação na madrugada desta terça-feira, provocando interrupções no fornecimento de energia a partir de 0h32. A falta de luz durou entre menos de dez minutos e duas horas. Tivesse acontecido durante o dia, certamente o apagão teria levado o caos à população, como já se viu noutras ocasiões. Por isso o episódio deve servir de alerta em Brasília.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, minimizou a falha, dizendo que o dano foi “pontual”. “Não é falta de energia, é um problema na infraestrutura que transmite a energia. Não houve grandes danos ao sistema”, afirmou. Pelas informações divulgadas pelo ministério, um incêndio na subestação de Bateias, na Região Metropolitana de Curitiba (PR), derrubou o fornecimento, desconectando o fluxo de energia entre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Com isso, foi necessário desligar 10 megawatts de carga, por prevenção. O sistema, diz o governo, cortou de forma controlada a energia em cada estado próximo para que não houvesse interrupção de maior porte.

Lula disposto a testar cacife, por Vera Magalhães

O Globo

Presidente planeja insistir em tentativa de obter receita frustrada com a MP que caducou usando vitórias recentes, mas chance de êxito é incerta

Lula está diante de um daqueles momentos-chave na trajetória de um governo. No prazo de uma semana, colheu sua maior vitória no Congresso e uma derrota considerável. Agora, parece disposto a testar o cacife que acumulou nas últimas rodadas do jogo da política. Trata-se de movimento ousado.

A maior vitória foi a aprovação rápida e unânime da reforma do Imposto de Renda na Câmara. Uma conjunção astral rara permitiu aquele resultado: a ousadia dos deputados uma semana antes, ao se lambuzarem com a PEC da Blindagem, levou uma multidão às ruas contra a sem-vergonhice na política, algo que não acontecia havia muito tempo. O jeito para os senhores deputados foi enfiar a viola no saco e dar ao presidente seu principal trunfo eleitoral.

O lobby da jogatina prevaleceu, por Elio Gaspari

O Globo

As casas de apostas mostraram seu poderio

Na balbúrdia que acompanhou a agonia da Medida Provisória do IOF, registrou-se, como se fosse um fato da vida, que o governo desistiu de aumentar de 12% para 18% a taxação dos lucros das casas de apostas. Na negociação dessa MP, diversos setores da economia foram buscar sua fatia de benefícios ou escapar dos dentes do Leão da Receita. O agronegócio pegou sua fatia; a turma do papelório se protegeu. Depois de muita conversa, mesmo desidratada, a MP alternativa foi a pique. O governo terá de buscar outros caminhos, visto que não gosta da ideia de cortar despesas.

Contudo ficou uma pergunta: como as casas de apostas conseguiram baixar sua alíquota de 18% para 12%? A Viúva perderia R$ 1,7 bilhão em 2026. Mistério. Vale lembrar que as casas de apostas já movimentam mais dinheiro que o centenário jogo do bicho. Segundo o Banco Central, seriam até R$ 30 bilhões por mês.

Toma lá, tira cá, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao anunciar demissões, Planalto escancara fisiologismo na relação com o Congresso

O Planalto avisou: vai punir deputados que controlam cargos, mas votam contra o governo. As demissões começaram na sexta passada. Miram indicados do Centrão em ministérios, autarquias e bancos federais.

Ao justificar as degolas, a ministra Gleisi Hoffmann disse que “quem quer ficar no governo tem que votar com o governo”. Ela comparou os aliados infiéis a visitantes que “vivem na sua casa, comem da sua comida, mas não são leais com você”.

O ministro Celso Sabino preferiu recorrer a uma metáfora conjugal. “Não dá pra ser casado e levar vida de solteiro”, resumiu.

‘É simples, mas muda vidas’, por Sérgio Magalhães

O Globo

As cidades são nosso maior patrimônio material e também nosso principal desafio socioambiental e civilizatório

O título acima é uma afirmação do antropólogo colombiano Santiago Uribe, a propósito da experiência de sua cidade, Medellín, em programas de urbanismo inclusivo, dita em recente entrevista a Bolívar Torres, no GLOBO. Em tempos com tantas complexidades, parece duvidoso que algo simples possa mudar vidas. Sabe-se, porém, que, na Colômbia, programas de urbanização de favelas e qualificação urbana alcançaram redução expressiva da pobreza e da violência. Mas será trabalho simples?

Abrigando 85% dos brasileiros, as cidades são nosso maior patrimônio material e também nosso principal desafio socioambiental e civilizatório. A violência, que ocorre em todo o país, vista injustamente como expressão carioca, tem nas cidades seu cerne.

Foi necessário que o crime organizado se evidenciasse nas finanças e na política nacionais para que o Estado parecesse despertar da letargia. Quanto tempo perdido! Quantas vidas! São sendo ensaiadas medidas para atacar os sintomas da crise, o que é necessário. Mas e para as causas do quadro?

Lula escolhe a roupa para ir às eleições de 2026, por Fernando Exman

Valor Econômico

Na visão de integrantes do Planalto, a coalizão que será construída para o anao que vem também não pode tirar a identidade do projeto que o presidente quer apresentar à sociedade

Obra-prima da música popular brasileira, “Com que roupa”, de Noel Rosa, serve de trilha sonora para algumas das reuniões realizadas pelos estrategistas políticos do Palácio do Planalto neste momento de reenquadramento das relações do governo com o Centrão.

O samba foi composto em 1929, quando Noel tinha 19 anos, e gravado no ano seguinte. Ganhou ruas e rádios no carnaval de 1931. Teve papel determinante para que o samba nascido no morro fosse adotado pelo asfalto e, impulsionado pelas frequências do principal meio de comunicação da época, mudasse a história do gênero musical. É um marco da música popular brasileira.

Marina Silva coloca o dedo na ferida da crise climática, por Daniela Chiaretti

Valor Econômico

Ministra propôs, de maneira indireta, que os negociadores desenhem uma rota para que o mundo deixe de produzir e consumir combustíveis fósseis

No segundo dia da Pré-COP, em Brasília, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, colocou o dedo na ferida da crise climática e apontou um caminho de solução. Falou aos delegados sobre o centro do problema das negociações e que poucos querem mencionar: o distanciamento dos países dos combustíveis fósseis.

A decisão foi tomada em Dubai, na COP28, há dois anos, mas deixada de lado na conferência seguinte, a COP29, em Baku. Não se falou dela no Azerbaijão. Ressuscitou este ano, nas palavras da ministra Marina Silva, em vários discursos em eventos internacionais. Mas só agora, na Pré-COP, em Brasília, parece que a ficha caiu.

Marina Silva fez um discurso forte nesta direção na abertura da plenária “Implementando o Balanço Global: Transições Energéticas”. Ali sugeriu que os negociadores apresentem um “roadmap” para que o mundo deixe a dependência dos combustíveis fósseis.

Fundos da tributária valem a pena, diz Appy, por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Secretário destaca crescimento econômico a ser proporcionado pela reforma e seu impacto sobre a arrecadação

Até mesmo um feito histórico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a aprovação da reforma tributária, tem repercussão no “fiscal”. No bojo da reforma, foram criados quatro fundos que receberão recursos da União para irrigar os cofres de Estados. A conta começa em R$ 8 bilhões e chega a R$ 60 bilhões ao ano a partir de 2043.

É uma dinheirama. Como já mostramos neste espaço, a conta ultrapassa R$ 1,57 trilhão até 2046. O cálculo é de Cristiane Schmidt, ex-secretária de Fazenda de Goiás.

Nobel 2025: é preciso política inteligente para crescer, por Roberto Luis Troster

O Estado de S. Paulo

Inovações tecnológicas são uma commodity. A questão é como se apropriar delas para nosso progresso

O Prêmio Nobel de Economia deste ano foi concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, por suas contribuições seminais para a compreensão do crescimento econômico impulsionado por inovações técnicas e institucionais.

De acordo com Mokyr, o crescimento sustentado é a combinação de conhecimento com uma sociedade aberta a mudanças. Já a contribuição de Aghion e de Howitt para receberem o prêmio foi pela teoria do crescimento baseada nos pilares de “destruição criativa” e “criação destrutiva”.

O primeiro termo, “destruição criativa”, foi popularizado por Joseph Schumpeter na primeira metade do século passado, apontando como as inovações são propulsoras do progresso. Inovações técnicas e institucionais dando mais eficiência à economia, com ganhos que superam as perdas.

Pânico no Congresso, por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Quarenta mil emendas estão no radar do STF e investigações descobrem mais desvios

Investigações da Polícia Federal indicam que o desvio de emendas parlamentares começou a se entrelaçar com o crime organizado para lavagem de dinheiro. Foi assim no Maranhão, onde no ano passado um agiota que fazia negócio com emendas acabou assassinado, e tem sido assim em vários rincões do País.

No próximo dia 23, o ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino promoverá uma audiência pública para verificar como anda o monitoramento sobre o destino das emendas.

O Tribunal de Contas da União informou já ter capacidade para rastrear 70% das transferências Pix de 2025. São aqueles repasses que geralmente caem num caixa único de prefeituras e, com isso, conseguem escapar da fiscalização.

Secretarias combinadas, por Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

bancada de deputados federais do DF precisa compreender sua responsabilidade com as cidades do Entorno. Não é decente nem inteligente cuidar de Brasília como se fosse uma ilha separada do resto do país, especialmente do seu ao redor integrado

Brasília foi planejada e construída para 500 mil habitantes. Hoje, tem quase 5 milhões, incluindo as 11 cidades vizinhas interligadas demográfica, econômica e culturalmente, formando um dos maiores complexos urbanos do Brasil, dividido entre duas unidades da Federação: Distrito Federal e Goiás. Com dois governadores e 11 prefeitos, a eficiência para resolver problemas comuns da região fica comprometida. Não faz sentido imaginar que o governador do DF possa assumir sozinho a responsabilidade de todo esse complexo urbano, sem a participação do governador de Goiás e dos prefeitos das cidades vizinhas, mas também não faz sentido que os líderes goianos ignorem a relação de suas cidades com o DF. Os problemas desse complexo urbano devem ser enfrentados pelo conjunto de sua administração não serão resolvidos plenamente.

Não existe outra solução, por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

O plano anunciado por Donald Trump, com direito a ofensiva midiática, não trará qualquer perspectiva de paz verdadeira se não abraçar a causa palestina

A criação de um Estado da Palestina independente, soberano e próspero é a única saída para pôr fim ao conflito no Oriente Médio. Qualquer outra medida parece temporária e paliativa, sem atacar o cerne de uma onda de violência, dor e ódio que se arrasta desde 1948. Naquele ano, Israel foi oficialmente criado, com a ajuda do brasileiro Oswaldo Aranha (1894-1960), então presidente da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foge — como o diabo da cruz — de qualquer debate sobre o reconhecimento da Palestina. Talvez pelo fato de saber que a principal justificativa para Israel manter a postura bélica na região passa pela existência do movimento islâmico palestino Hamas, o qual se intitula a "resistênca palestina", e de outras facções, como a Jihad Islâmica. A mescla de fundamentalismo religioso e político se escora na luta pelo Estado Palestino e pelo fim da ocupação.

Supremo julga militares, enquanto PL da Dosimetria encalha na Câmara, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O PL da Dosimetria tem o objetivo de reduzir as penas dos condenados pela tentativa de golpe de Estado, porém não avança, devido às divergências com bolsonaristas

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu, nesta terça-feira, a condenação dos sete réus do chamado núcleo 4, responsável por ações de desinformação vinculadas à trama golpista que organizou a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal federal (STF). Enquanto o julgamento de mais esse grupo de militares e agentes públicos envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 avança na Primeira Turma do STF, agora presidida pelo ministro Flávio Dino, o PL (Projeto de Lei) da Dosimetria, cujo relator é o deputado Paulinho da Força (Solidariedade), está empacado na Câmara.

O PL da Dosimetria tem o objetivo de reduzir as penas dos condenados pela tentativa de golpe de Estado, porém também não avança, devido às divergências entre o Centrão, que apoia a mudança, e o PL e os demais integrantes da bancada bolsonarista, que querem uma anistia para Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de prisão em regime fechado. O ex-presidente quer recuperar a liberdade e o direito a concorrer à Presidência nas eleições de 2026.

Como o mundo evitou a explosão da bomba econômica de Trump, segundo o FMI, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Motivos citados pelo Fundo são os mesmos que podem explicar futuro tumulto, bolha inclusive

Como vai o PIB global? Melhor do que se temia, mas pior do que precisamos, diz chefe do FMI

A economia americana não levou um tombo, apesar das rasteiras de Donald Trump. Por ora, apenas tropeçou e anda um pouquinho mais devagar. Os donos do dinheiro grosso nos EUA não se incomodaram com a rasteira, vide os trilhões de dólares que investem em inteligência artificial (IA) e negócios associados. Até por isso também, o PIB americano deve crescer mais do que se esperava em 2025 (2%, diz o FMI), embora menos do que em 2024 (excepcionais 2,8%).

No "Perspectiva Econômica Mundial" do FMI que acaba de sair, os autores parecem desnorteados e desconcertados. No comentarismo econômico mundial, há gente bestificada, com exceção do pessoal de bancões, lucrando na vida adoidado, como se viu pelos balanços divulgados nesta terça.

Não é voto, é veto: país vai de novo votar para impedir o outro lado, por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

A polarização empurra o voto ao veto: escolhe-se barrar, não preferir

O país vota por medo, não por esperança; um ciclo que se repete desde 2018

É cada vez mais provável que a eleição de 2026 repita o padrão das duas últimas eleições presidenciais: um plebiscito em que cada eleitor decide qual lado deseja impedir que esteja no poder.

Em toda pesquisa, eleitores declaram-se fartos de tanta polarização; em todas elas, sinalizam que, no fim das contas, acabarão votando para evitar o que lhes parece o mal mais danoso. Vota-se, enfim, não para resolver problemas, mas para evitar o problema político que o lado preterido representa. Não é voto, é veto.

Obscuro objeto do saber, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Cotados para o Supremo são examinados sob critérios distantes do notório saber jurídico

Principal requisito exigido pela Constituição fica relegado ao plano das irrelevâncias

Quando o presidente da República vem a público dizer que não pretende indicar "um amigo" para o Supremo Tribunal Federal, que optará por profissional do direito "gabaritado" a guardar a Constituição, involuntariamente expõe a distorção presente nessas escolhas. Há vários governos.

Não é, ou não deveria ser, uma opção o mandatário escolher pelo preparo substantivo para a função. É a Lei Maior que estabelece o critério de notório saber. Quanto ao requisito da amizade é o que, junto com confiança do Palácio, trânsito na política e agrado dos pares do STF, vem sendo posto à mesa das especulações sobre os atributos dos mais cotados.

Ideias sagradas, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Tanto conservadores como progressistas tentam blindar suas ideias favoritas de erosão

Para que sociedades evoluam é preciso que haja espaço para um pouco de iconoclastia

Uruguai está a um passo de aprovar uma lei de eutanásia. Um dos argumentos usados pelos que se opõem à proposta, notadamente os religiosos, é que a autorização legal para antecipar a morte erode a ideia de que a vida é valiosa e deve ser preservada. Haveria um prejuízo social nessa desvalorização da vida.

Essa família de argumentos não é exclusividade do pensamento conservador. A esquerda recorre a eles com frequência quando defende proibições a fim de evitar a "normalização" de alguma conduta que ela julga reprovável.

COP 30: sanha arrecadatória, responsabilidade difusa, por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Ideal seria   que o Brasil fosse diferente após a Conferência do Clima (COP 30), prevista para 10 a 21 de novembro próximo, em Belém, no Pará. As expectativas fraquejam diante das preliminares. Não se trata de criminalizar apenas o oportunismo da rede hoteleira local elevando os preços praticados na província a imaginários níveis internacionais, dificultando o quórum para reunião.  Nenhum dos países comprometidos   com a redução das emissões de carbono, assumida na Conferência de Paris, em 2015, está conseguindo fazer o dever de casa:   nem os mais ricos, muito menos os mais pobres, que teriam de abrir mão do modelo industrial, ainda no início, como proposta política para o desenvolvimento nacional, e que também não alcançaram à plenitude da sociedade digital.