sábado, 31 de agosto de 2024

Opinião do dia -: Karl Marx* (Democracia)

“Hegel parte do Estado e faz do homem o Estado subjetivado; a democracia parte do homem e faz do Estado o homem subjetivado. Do mesmo modo que a religião não cria o homem, mas o homem cria a religião, assim também não é a constituição que cria o povo, mas o povo a constituição. A democracia, em um certo sentido, está para as outras formas de Estado como o cristianismo para as outras religiões. O cristianismo é a religião ’preferencialmente’, a essência da religião, o homem deificado como uma religião particular. A democracia é, assim, a essência de toda constituição política, o socializado como uma constituição particular; ela se relaciona com as demais constituições como gênero como suas espécies, mas o próprio gênero aparece, aqui, como existência e, com isso, como uma espécie particular em face das existências que não contradizem a essência. A democracia relaciona-se com todas as outras formas de Estado como com seu velho testamento. O homem não existe em razão da lei, mas a lei existe em razão do homem, é a essência humana, enquanto nas outras formas de Estado o homem é a existência legal. Tal a é a diferença fundamental da democracia. "

*Karl Marx (1818-1883), Critica da Filosofia do Direito de Hegel, p. 50. Boitempo Editorial, 2005

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Musk deve cumprir ordens, mas STF não pode extrapolar

O Globo

Liberdade de expressão não justifica que redes sociais fujam a suas responsabilidades jurídicas

A reação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), à recusa do empresário Elon Musk em cumprir decisões judiciais para remover contas e publicações ilegais de sua rede social X e em indicar um representante legal para responder por suas decisões no Brasil apresenta pontos extremamente controversos. O primeiro foi notificá-lo por meio de um post em rede social, o próprio X. Que farão agora os oficiais de justiça diante da árdua tarefa de notificar alguém que evita ser encontrado? Usar as redes sociais do cidadão? Cabe tal procedimento em nosso sistema de justiça ou a inovação valerá apenas para ministros do Supremo?

É verdade que Musk acabou dando ciência à notificação, ao respondê-la de modo grosseiro. Mas o certo teria sido enviar uma carta rogatória, a que o comum dos mortais tem de recorrer quando depara com situação semelhante. O segundo ponto, ainda mais heterodoxo e esdrúxulo, foi o congelamento das finanças de outra empresa controlada por Musk, a Starlink, que nada tem a ver com o X e oferece serviço essencial de internet por satélite em regiões remotas — a medida é tida como ilegal por juristas respeitados. É certo que chegar a Musk é difícil, mas, por moroso que seja o processo, ele tem de ser feito dentro da lei. Espera-se que o plenário do STF corrija esses desvios. Nenhum ministro deve ser considerado imune a erros ou dono da palavra final.

Marco Aurélio Nogueira - Sem eleições limpas, a democracia sofre

O Estado de S. Paulo

Candidatos há que costumam fraudar eleições mediante formas ‘discretas’: mentiras, fuga do debate público, ausência de programas e intenções

Eleições são decisivas para o bom funcionamento da democracia. Por meio delas, mostra-se a qualidade da representação, a resiliência da estrutura institucional e o desempenho governamental. Governantes são premiados ou castigados pelos eleitores quando buscam sua reeleição. Políticos insurgentes podem ganhar o palco da política quando reúnem bons votos. Eleitores extravasam nas urnas suas esperanças, seu descontentamento e sua desconfiança nos políticos.

Diferentemente da Venezuela e de outras ditaduras praticantes do autoritarismo eleitoral, o Brasil tem convivido bem com as eleições. Elas foram suspensas e reprimidas durante a ditadura militar, entre 1968 e 1972, mas a queda do regime ditatorial se deu por via eleitoral, mediante a qual preparou-se o caminho para que o regime fosse se desfazendo, primeiro a partir das bordas e, depois, em seu sistema nervoso central.

Carlos Melo – Frentes políticas contra os filhos da fúria

O Globo

Mesmo que formalmente reverencie ex-presidente, ele não é seu discípulo ou fiel a seus interesses

A disputa patrimonial na extrema direita nacional é a sensação da temporada. Está além das eleições municipais. Pablo Marçal ocupou espaço sem pedir licença; contestado, resistiu. Debilitou as forças de Jair Bolsonaro e pôs em dúvida sua liderança. Modelo 4.0 do reacionarismo, reduz o ex-presidente a uma versão beta, ultrapassada, cheia de bugs. Mesmo que formalmente o reverencie, Marçal não é seu discípulo ou fiel a seus interesses. Antes, parece a kryptonita de Bolsonaro.

Mais ousado, de ataques mais baixos, fortes e desconcertantes, o ex-coach se coloca não apenas como empecilho para a reeleição do prefeito Ricardo Nunes, mas também como pesadelo às pretensões do ex-presidente e, talvez, aos projetos de Tarcísio de Freitas, que, ironicamente, passam a ser percebidos como parte do sistema.

Contudo Marçal não é novo, menos ainda surpreendente. Brota da mesma escuridão do presente. Pertence à novíssima geração de extremistas reacionários, antissistema, candidatos a autocratas, montados num pretensioso anarcocapitalismo que confunde esforço pessoal e empreendedorismo com bizarrice, caos e carnificina social.

Pablo Ortellado - Democracia sai derrotada

O Globo

A disputa entre Elon Musk e Alexandre de Moraes tem provocado defesas apaixonadas e unilaterais, alimentadas pela dinâmica polarizada que exige apoio entusiasmado ao adversário do inimigo. Uma análise cuidadosa sugere, porém, que os dois, Musk e Moraes, cada um a sua maneira, contribuem para o enfraquecimento da democracia brasileira.

Os inquéritos dos movimentos antidemocráticos conduzidos por Moraes apresentam problemas de forma, como já discuti noutras ocasiões nesta coluna, mas também de conteúdo. No que se refere às publicações nas mídias sociais com conteúdos ilícitos, Moraes tem adotado uma abordagem mão pesada.

No passado, a punição-padrão para uma publicação considerada ilícita pela Justiça era a exclusão dela especificamente. Considerava-se que a exclusão da conta do infrator configurava censura prévia, uma vez que o impedia de cometer um novo ato ilícito antes mesmo de ser cometido. Os inquéritos do STF, porém, tornaram triviais as suspensões de contas, em vez de apenas das publicações problemáticas.

Eduardo Affonso - Mátria amada, Brasil!

O Globo

Nosso belo hino, decentemente executado por qualquer banda de música, funciona como kryptonita para cantores populares

O Hino Nacional não dá sorte, coitado. É sonoro, poético, arrebatador, mas ele mesmo não se ajuda. A começar pela letra — hermética, quilométrica, redigida na fronteira entre o hipérbato e a sínquise, eivada de proparoxítonas (é provável que, nesse quesito, só perca para “Construção”, de Chico Buarque, e “O drama de Angélica”, de Alvarenga e Ranchinho).

Suas estrofes são intercambiáveis, sem obedecer a uma sequência lógica — e a maior dúvida da nossa literatura não é se Capitu traiu Bentinho, mas se o “sonho intenso” vem antes ou depois do “amor eterno”. (Repare: sempre haverá uma pausa dramática ao fim do refrão Ó Pátria amada,/Idolatrada,/Salve! Salve!, e nos quedamos em obsequioso silêncio, à espera de ver — ouvir — para onde vai aquela minoria que inventou uma fórmula mnemônica para não se perder.)

Há quem diga que a melodia foi inspirada em obras de Beethoven, Rossini, Liszt, Paganini, Neukomm e do padre José Maurício — mas ninguém sabe ao certo, nesse caso, quem é o ovo, quem é a galinha.

Carlos Alberto Sardenberg - Prejuízos à vista

O Globo

A despesa do INSS cresce pela concessão de novos benefícios, em número bem superior ao que será eliminado

INSS deve gastar neste ano cerca de R$ 900 bilhões em benefícios previdenciários, como aposentadorias, pensões, auxílios-doença, e outros pagamentos obrigatórios, que compõem 33% das despesas totais do governo federal. Para 2025, a previsão é de R$ 1 trilhão. Menos uma economia de R$ 7 bilhões que o governo pretende obter passando um pente-fino nos benefícios.

Ridículo, não é mesmo? Um corte de 0,7%.

A redução foi anunciada nesta semana, quando o governo também informou que ampliará o programa vale-gás a partir do próximo ano. A ideia é distribuir um botijão a cada dois meses para 20 milhões de famílias. O custo final será de R$ 13,5 bilhões anuais, ante os R$ 3,5 bi gastos atualmente.

Dora Kramer - Discurso caduco

Folha de S. Paulo

PT paga o preço da falta de renovação, atrelado à visão passadista de Lula

A interdição ao crescimento de novas lideranças com obediência cega e longeva aos ditames de um só líder cobram um preço alto ao PT. Atrelado a uma visão passadista de seu comandante, tem dificuldade de dialogar com o novo tempo.

As pesquisas indicam que o partido se arrisca na presente campanha municipal a repetir o fracasso de 2020, quando não conseguiu eleger ninguém nas capitais e se viu reduzido a 183 prefeituras no país, numa desidratação e tanto para quem já teve 638. Isso foi há 12 anos.

Pode ganhar em São Paulo? Pode, mas para se tornar competitivo precisou recorrer a alguém de fora de seus quadros, porque é Guilherme Boulos (PSOL) e não um petista, o candidato em condição de colocar a esquerda na disputa.

Alvaro Costa e Silva - A moda 'fofa' dos pets nas campanhas políticas

Folha de S. Paulo

Novos cabos eleitorais miam, latem e abanam o rabinho

Em contraponto ao conteúdo sensacionalista e assumidamente picareta das campanhas, o cabo eleitoral da moda são os pets. No país que deu votos de protesto para uma rinoceronte e um chimpanzé —Cacareco na eleição paulistana de 1959 e Macaco Tião na carioca de 1988—, a repórter Fernanda Alves mostrou que os animais de estimação participam de agendas na rua e até de debates. E, claro, são presença incessante nas redes.

É a tática da fofura contra a da baixaria. No Rio, o candidato a prefeito Marcelo Queiroz (PP) tem na pauta animal sua maior bandeira, a ponto de promover "cãominhadas" em Copacabana. Tarcísio Motta (PSOL) é um orgulhoso pai de pets (um gato e um cão). Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) abriga quatro cachorros da raça spitz e Tabata Amaral faz questão de lembrar que adotou sete animais.

Hélio Schwartsman - Desespero ambiental

Folha de S. Paulo

Aquecimento global vai criar tentação de recorrer às geoengenharias; seria bom acordar desde já regras para isso

Cedo ou tarde vai acontecer. A crise climática veio para ficar. Algumas nações sofrem bem mais do que outras. É mais ou menos inevitável que em algum momento algum país ou bloco de países se sinta tentado a apelar para medidas drásticas. Na prancheta, elas existem.

Geoengenharia é o termo guarda-chuva para descrever intervenções humanas com o objetivo de conter o aquecimento global. Ela abarca desde técnicas pouco polêmicas de sequestro de CO2 atmosférico, como o reflorestamento, já amplamente utilizado, até ideias mais ousadas, como a fertilização de oceanos com compostos de ferro, a fim de estimular a produção de fitoplâncton, que também fixa carbono. O problema é que isso nunca foi tentado em grande escala e poderia gerar efeitos adversos dos quais nem desconfiamos.

Demétrio Magnoli - Ser e não ser

Folha de S. Paulo

Os 3 principais candidatos em São Paulo encaram uma versão aditiva da encruzilhada clássica

Ser ou não ser? O dilema envolve uma alternativa implacável: a morte ou, talvez pior, uma vida de dor. Diferentemente de Hamlet, os três principais candidatos à prefeitura paulistana encaram uma versão aditiva da encruzilhada clássica: ser e, simultaneamente, não ser. Ricardo Nunes precisa ser e não ser bolsonarista. Guilherme Boulos está condenado a ser e não ser da esquerda irredutível. Pablo Marçal deve solucionar a equação de ser e não ser o arauto do individualismo antissocial.

Nunes, o vereador cinzento elevado pelo destino à prefeitura, não é nenhum Eduardo Paes. O carioca, com gestão bem avaliada, move-se fora do campo de força da polarização nacional e, por representar a única opção não-bolsonarista viável, recebeu sem contrapartida o apoio de Lula. Já o paulistano, alcaide sofrível, depende do eleitorado bolsonarista para sonhar com o triunfo.

Carlos Andreazza - Xandão censor

O Estado de S. Paulo

A razão para a censura sempre é virtuosa

A Folha tentou entrevistar Filipe Martins e foi proibida por Alexandre de Moraes. Censura prévia. Esqueça Martins e as certezas sobre o ex-assessor de Bolsonaro. A entrevista foi censurada previamente. O Supremo formulando novas restrições à liberdade de imprensa.

Não importa quem seria o entrevistado; tampouco as investigações que correm contra ele. Importa que um jornal está impedido de ouvir sujeito em nada impedido – se válida a Constituição – de falar à imprensa. Censura. Prévia.

Importa também que Martins esteve preso ilegalmente por meses, documentado – provado bem cedo – que as razões para aquela preventiva não se sustentavam. Prisão que Moraes manteve, à revelia das provas e da manifestação da PGR. Revogada apenas no começo deste agosto, impostas medidas cautelares.

Luiz Gonzaga Belluzzo - A economia do gasto e da renda

CartaCapital

Se setor privado e governo cortam gastos, a renda agregada cai e o risco de crédito sobe

Nos tempos da crise financeira de 2008, Paul Krugman discorreu a respeito das relações entre gasto, renda e dívida. Peço licença ao leitor de CartaCapital para relembrar as afirmações do economista americano:

Nossa dívida (privada) consiste principalmente de dinheiro que devemos uns aos outros; ainda mais importante, nossa renda provém principalmente de vender coisas uns aos outros. Seu gasto é minha renda e meu gasto é sua renda. Assim, o que acontece se todo mundo reduzir gastos simultaneamente a fim de reduzir ­suas dívidas? Resposta: a renda cai.

Outro exemplo de inconsistência conceitual está abrigado na separação entre oferta e demanda, apresentada nos manuais de Macroeconomia. A separação – o “lado da demanda” e o “lado da oferta” – não faz sentido para o tratamento da “economia como um todo”, tal como a concebia Keynes, o John Maynard.

Em uma carta endereçada aos assessores de Roosevelt, Keynes desfiou argumentos a respeito das relações oferta e demanda.

Aldo Fornazieri - O custo da omissão

CartaCapital

Os incêndios devastadores provam o fracasso do governo Lula no enfrentamento dos problemas ambientais

O sucesso ou o fracasso do governo Lula no enfrentamento dos problemas ambientais e da crise climática não pode ser medido pelo metro do que tem sido feito em relação à gestão criminosa e devastadora do governo de Jair Bolsonaro nessas áreas. O metro precisa ser definido em relação às urgências e necessidades que esses temas requerem em termos de ações de uma administração com consciência da gravidade desses problemas. E se o metro deve ser esse, não há o que tergiversar: o governo Lula tem fracassado no enfrentamento dos desafios.

No governo Bolsonaro, o negacionismo da crise climática era ideológico. No governo Lula, o negacionismo é omissivo. Isto é, o governo não faz o que deveria ser feito de forma consciente. E aqui não se trata de jogar o peso do fracasso nos ombros do Ministério do Meio Ambiente, do Ibama e demais institutos ou do Ministério dos Povos Indígenas. Bolsonaro deixou o ministério, o Ibama e demais institutos esquálidos. Lula os mantém esquálidos, depauperados, sem recursos e sem meios e condições para agir. Esta é a natureza do negacionismo omissivo que domina a cúpula do atual governo.

Marcus Pestana - O jogo ainda aberto da democracia brasileira

O emocionante jogo entre o legado da redemocratização e os passivos da Nova República chegou ao placar apertado de 4 x 3, a favor de nossa recente democracia construída nos últimos 40 anos. Mas a peleja não havia terminado. E, infelizmente, esse jogo de ida terminou 6 x 4 com a virada feita pelos gargalos e fracassos colhidos. Quais foram os últimos três gols que tomamos?

O primeiro e mais agressivo é a permanência de um quadro inaceitável de desigualdades de renda e riqueza. Segundo o Observatório Brasileiro das Desigualdades, a desigualdade subiu de 2022 para 2023. Em 2023, o rendimento médio dos 1% mais rico da população foi 31,2 vezes superior ao dos 50% mais pobres. Ou seja, o que já era escandalosamente ruim, piorou um pouco. Este quadro de desigualdades de renda é agravado pelas condições sub-humanas de moradia, insuficiência alimentar, falta de coleta de esgoto e água tratada, péssima qualidade do ensino, baixo acesso aos bens culturais, subemprego, qualificação profissional precária, dificuldades de acesso ao SUS, deficiências do sistema de transporte público. Quando se joga o foco para o Nordeste e o Norte do Brasil, os indicadores pioram ainda mais e muito. Não foi esse o sonho acalentado pelos líderes do movimento das Diretas-Já e por nossos Constituintes de 1988. Gol das forças do retrocesso, empate de 4 x 4.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Opinião do dia – Karl Marx* (A vontade humana}

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada.”

*Karl Marx (1818-1883). “O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852”, p.7. Os Pensadores, Marx, v. II. Editora Nova Cultura /Abril, 1988.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Intervenção no mercado de gás traz preocupação

O Globo

Há dúvida sobre a segurança jurídica dos decretos e sobre a capacidade de execução da ANP

Sob o pretexto duvidoso de contribuir para a “transição energética”, o governo anunciou nesta semana medidas destinadas a reduzir o preço do gás. Prometeu que, até o ano que vem, estenderá o vale-gás dos atuais 5,6 milhões de famílias para 20,8 milhões. Ao mesmo tempo, promoveu uma intervenção explícita no mercado de gás natural, na tentativa de aumentar a oferta. Apesar de bem recebida pela indústria consumidora, a última medida deve ser vista com cautela.

Desperta preocupação a aliança entre um governo que acredita na intervenção estatal nos mercados e um setor da economia conhecido pelo poder de pressão política. Há três anos, a Medida Provisória que abriu caminho à privatização da Eletrobras encheu de benefícios as usinas a gás e encareceu a conta de luz de todos. No mandato de Dilma Rousseff, o governo também interveio no setor de energia com consequências desastrosas. O risco é, mais uma vez, a gestão petista repetir erros.

Vera Magalhães - STF deve agir com a régua de Musk?

O Globo

Ministros temem que confronto de Moraes com dono do X, que demonstra não ter nada a temer, provoque perda de credibilidade internacional do Supremo

Como a Justiça pode e deve lidar com um bilionário dono de uma plataforma de mídia que se recusa a cumprir a lei e as decisões judiciais e resolve enfrentar as autoridades de um país como forma de influenciar politicamente o debate público e sabotar a democracia?

As leis brasileiras relativas às redes sociais e os ritos do Judiciário, se seguidos à risca e dentro de suas limitações, têm se mostrado insuficientes para lidar com Elon Musk, que personifica a descrição acima. Como driblar o impasse, provocado pelo magnata com o claro intuito de desmoralizar as instituições do Brasil e de incendiar a extrema direita, que tem sido investigada pelo ministro Alexandre de Moraes pelas investidas contra a democracia em diferentes inquéritos?

As análises jurídicas embasadas apenas na jurisprudência existente não parecem dar conta das nuances do embate entre Musk e STF, com Moraes à frente. As últimas decisões anunciadas pelo ministro são no mínimo inusitadas. Citação judicial a Musk pelo próprio X e bloqueio de contas de outra empresa ligada a ele, a Starlink, diante da retirada dos responsáveis legais pelo X do Brasil, são considerados ilegais por especialistas insuspeitos de ter algum tipo de simpatia pelos expedientes de Musk.

Luiz Carlos Azedo - Guerra nas estrelas — Musk escala crise com Moraes

Correio Braziliense

A suspensão de atividades de empresas que não cumprem as regras está prevista no Marco Civil da Internet, caso da X. Houve episódio semelhante com a Telegram

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de contas da empresa Starlink, do empresário Elon Musk, para quitar multas do X (antigo Twitter) por descumprir ordens judiciais. Oficialmente, a empresa questiona a constitucionalidade da medida, tomada para punir a plataforma X.

A Starlink é uma companhia de exploração espacial que atua no desenvolvimento de constelações de satélites pela SpaceX, também de Musk. O objetivo dela é levar conexão de internet para áreas remotas do planeta onde o acesso é baixo ou zero.

“.Hoje, a Starlink está conectando mais de um quarto de milhão de clientes no Brasil — da Amazônia ao Rio de Janeiro —, incluindo pequenas empresas, escolas e socorristas, entre outros”, afirmou a empresa, no final da tarde de ontem, e garantiu que fará o possível para não interromper suas atividades no Brasil.

Maria Cristina Fernandes - Contra Musk, Moraes segue a trilha do Pastor Sargento Isidório

Valor Econômico

Ordem do ministro em seu embate contra o empresário se dá no vácuo regulatório do Brasil

Como o capital do X foi fechado depois de sua aquisição por Elon Musk, há mais de dois anos, não há como saber o quanto a ameaça de suspensão de suas atividades no Brasil, feita pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre Moraes, repercutiria nas contas da empresa.

Embora não rasgue dinheiro, Musk já deu sinais de que está disposto a colocá-lo a serviço dos bastiões da extrema-direita, em linha com um modelo de negócios em que o ódio gera mais engajamento e lucro.

Basta ver o que Musk fez com o X. Ao cobrar pelo acesso exclusivo (“premium”) em vez de ampliar o espaço para propaganda, demonstra que quer manter a plataforma sob suas próprias regras em vez de ceder às regras de monetização que obrigam um ambiente mais transparente.

Bruno Boghossian - Moraes e Musk vão cantar vitória

Folha de S. Paulo

Delinquência do bilionário ateia fogo em discussões sobre limites para redes; ministro encontrou razão para medida drástica, mas STF fica mais longe da autocontenção

Para fazer política, Elon Musk queima dinheiro com gosto. Em 2022, o bilionário pagou caro para transformar o Twitter num cantinho acolhedor para discursos radicais. Há poucos meses, ele anunciou que gastaria uma bolada para mudar a sede de suas empresas para o Texas, em protesto contra uma lei de identidade de gênero aprovada na Califórnia.

A decisão de ignorar decisões judiciais no Brasil e fazer provocações a Alexandre de Moraes segue uma filosofia parecida. Nos negócios, cavar o bloqueio do X não faz nenhum sentido. O histórico internacional de Musk também prova que ele não age por princípios. O que o empresário quer é cantar uma vitória política.

Flávia Oliveira - Transporte estatizado entra na disputa municipal

O Globo

Naturalização da tarifa zero é realidade na campanha eleitoral ora em curso

Se anos atrás alguém do futuro aparecesse para contar que, em pleno 2024, os prefeitáveis do Rio de Janeiro debateriam — à esquerda e à direita — tarifa zero no transporte público e sistema de ônibus estatizado, gargalharíamos. Pois a naturalização do tema é realidade na campanha eleitoral ora em curso. A troca de ideias, de tão civilizada, dá a impressão de que a vida carioca foi inoculada pelo (bem-vindo) vírus do Estado de Bem-Estar Social. Assim seja.

Nesta semana, a GloboNews entrevistou, no Rio, os três candidatos com as maiores intenções de voto da última pesquisa Datafolha. Passaram pelas sabatinas os deputados Tarcísio Mota (PSOL), Alexandre Ramagem (PL) e o prefeito Eduardo Paes (PSD), que pleiteia o quarto mandato. Todos eles apresentaram programas de governo em que o setor público é protagonista na mobilidade urbana; a tarifa zero, discutida; e a empresa pública Mobi-Rio, resultante da encampação por Paes do sistema de BRTs, bem-vista.

Marcos Augusto Gonçalves - Marçal vive glória ainda incerta

Folha de S. Paulo

Será preciso acompanhar passo a passo o quadro eleitoral paulistano para uma avaliação mais firme sobre chances do ex-coach

A rápida ascensão de Pablo Marçal nas pesquisas de intenção de voto interferiu no mapa político paulistano e nacional de maneira que não se previa. A trollagem do autodenominado ex-coach seria, sim, para dar algum resultado. Esperava-se que pudesse levá-lo a ganhar alguns pontos nas sondagens, mas que acabaria ficando por ali, como terceiro colocado sem aspirações à vitória. Acumularia cacife para tentar negociar alguma coisa no segundo turno.

Agora, já é outra história. Depois de o Datafolha flagar, em duas semanas, o salto de 14% das intenções para 22%, foi a vez da pesquisa Quaest reafirmar o empate técnico entre o deputado Guilherme Boulos, o prefeito Ricardo Nunes e Pablo Marçal.

Bernardo Mello Franco - Bolsonaro costeou o alambrado

O Globo

Se for trocado por Pablo Marçal na eleição de SP, Ricardo Nunes não terá a quem culpar

Na segunda-feira, Pablo Marçal culpou Carlos Bolsonaro pela derrota do pai na corrida presidencial. “Ele é um retardado mental. Um estúpido”, disparou. Dois dias depois, o vereador e o coach se falaram por telefone. Ao relatar a conversa, Carluxo engoliu os desaforos e elogiou o detrator. “Queremos rumar nas mesmas direções”, garantiu.

Interpretar o Zero Dois não é tarefa para iniciantes, mas desta vez a mensagem foi clara. O clã mediu os riscos e desistiu de declarar guerra a Marçal. O armistício abre caminho para uma aliança no segundo turno da eleição paulistana. Ou no primeiro, se a candidatura de Ricardo Nunes derreter nas próximas semanas.

Andrea Jubé - Lula, Boulos e a esquerda que sabota a esquerda

Valor Econômico

Crescimento de Marçal nas pesquisas mostra que campanha de candidato do Psol tem que ajustar rota

É sempre bom relembrar aos incautos: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por um triz. Por uma margem apertada de apenas 2,1 milhões de votos, ou 1,8% dos votos válidos. O petista obteve 60,3 milhões de votos, e o adversário 58,2 milhões, num universo de quase 21% de eleitores ausentes.

Quem não identifica nesses números a expressão de um eleitorado majoritariamente conservador, que por pouco não manteve Bolsonaro e a direita radicalizada por mais quatro anos no poder, ignora a verdade dos números, ou vive em uma bolha.

Eliane Cantanhêde – Nem padrinhos nem partidos

O Estado de S. Paulo

País está polarizado, mas PT e PL comem poeira nas capitais. Padrinho, padrinho, para que te quero?

Jair Bolsonaro apoiou Ricardo Nunes, abraçou Pablo Marçal, mais adiante ele e os filhos atacaram o ex-coach e agora, que ele está empatado com Nunes, Carlos Bolsonaro recua e lhe manda um “fraterno abraço”, defendendo um “coração mais leve” e o que "o povo realmente anceia (sic)". Durma-se com um barulho desses, mas a Quaest acaba de mostrar o que é mais instigante: 49% dos eleitores paulistanos preferem um candidato independente.

Ou seja, com polarização nacional ou não, o eleitor não quer saber de padrinhos, mas sim do candidato que mexer com sua alma, corresponder às suas crenças e, principalmente, se mostrar capaz de cuidar dos seus direitos e interesses se eleito. Só 32% preferem um prefeito apoiado pelo presidente Lula, e 17%, por Bolsonaro.

José de Souza Martins – Um camelô no mundo da riqueza

Valor Econômico

Silvio Santos personificou e disfarçou o atraso do nosso capitalismo inconcluso

A morte do empresário e comunicador Silvio Santos tem tido a previsível repercussão que deve ter o desaparecimento de uma pessoa com extraordinária influência na alteração de costumes mercantis. De certo modo, ele foi o criador de uma versão da pós-modernidade brasileira.

Desmercantilizou a mercadoria, separou-a das relações de compra e venda, situou-a no terreno antimercantil da incerteza, da sorte e mesmo do acaso. Sobretudo o de um imaginário de festa.

Despiu-a da fria racionalidade própria do mercado para dotá-la de uma racionalidade tropical e calorosa, numa sociedade em que o dinheiro e a mercadoria, historicamente, são excepcionais, usados como se destituídos de seus atributos próprios, mesmo na vida cotidiana como se cotidianos não fossem. Silvio Santos chegou a isso de maneira meramente intuitiva.

Fernando Gabeira - Queimando mata e dinheiro público

O Estado de S. Paulo

O uso caótico do dinheiro público é apenas mais um sintoma de um processo autodestrutivo que precisa ser estancado

Discutir o Orçamento nacional, para muita gente, é algo tão excitante como uma reunião de condomínio. No entanto, o País está em chamas, e nos últimos meses perdemos mais de R$ 10 bilhões com o avanço das mudanças climáticas, a ausência de políticas preventivas e algumas atividades criminosas. Foram as cheias do Sul e seca e queimadas na Amazônia, no Pantanal e em São Paulo, para mencionar apenas alguns casos.

O dinheiro que o governo arrecada precisa resolver uma série de importantes problemas que vão desde o combate à fome até a gestão do sistema de saúde, passando, entre outros, pelos gastos astronômicos da máquina administrativa. O que se vê no noticiário é uma grande disputa por verbas entre governo e Congresso, mas quase nenhuma discussão sobre a qualidade dos gastos no Brasil.

Vinicius Torres Freire - BC quer dar um susto no dólar caro?

Folha de S. Paulo

Banco Central anuncia que vai vender dólar à vista nesta sexta; medida seria pontual

Lá por junho e julho, havia gente graúda no mercado financeiro a dizer que o Banco Central precisava dar um susto no dólar caro. Para resumir conversa complicada, a sugestão era mostrar a donos do dinheiro que o preço do dólar não estava destinado apenas "ao infinito e além", diminuindo o incentivo para operações montadas com essa premissa —ou pelo menos encarecendo lances e jogadas baseadas em um dólar "unidirecional" (para cima).

Essa conversa quase desapareceu. Na noite desta quinta-feira (29), o Banco Central anunciou que nesta sexta (30) irá leiloar até US$ 1,5 bilhão, em si mesmo um valor pequeno. Vai vender dólar à vista, em suma, uma raridade nos últimos anos. Na praça, a conversa era que o mercado ficaria "estressado" no último dia útil deste mês, o que costuma ocorrer, em níveis mais ou menos homeopáticos, tumulto neste caso piorado devido a mudança em um fundo.

Pode ser uma boa desculpa para dar um susto e um tombinho no dólar caro, um ligeiro safanão na ideia de "unidirecionadade". Ou pode não ser quase nada mesmo, apenas uma medida pontual de prudência para um caso isolado. Talvez saibamos um tanto mais disso quando os mercados estiverem operando, nesta sexta-feira.

Rogério F. Werneck - Fixação em ideias desastrosas

O Globo

Até quando o país terá de arcar com os custos proibitivos do negacionismo de Lula?

O país continua assombrado por um mistério. Por que Lula e o PT insistem em mostrar tamanho apego a ideias que se mostraram completamente desastrosas em governos petistas passados?

Antes de conjecturar sobre isso, vale mencionar a notícia recente que enseja essa indagação mais ampla. Vem de novo sendo aventada pelo governo a ideia de lançar mão dos fundos de pensão de empresas estatais para bancar investimentos em projetos do PAC.

Não foi uma surpresa que tal despropósito tenha sido recebido com imediata saraivada de críticas contundentes repisadas no passado. Mario Henrique Simonsen já dizia, há mais de 50 anos, que a preservação de reservas técnicas na área estatal era missão quase impossível, tendo em vista a recorrente tentação dos governos de turno de perceber tais reservas como dinheiro público ocioso.

Celso Ming - A trombada dos juros com a gastança

O Estado de S. Paulo

A feroz hostilidade do presidente Lula à política do Banco Central (BC), com a qual seu futuro presidente, Gabriel Galípolo, terá de lidar tem a ver com uma mentalidade antiga do que tem de ser uma política fiscal e sua relação com a política de juros.

Para o presidente Lula, tanto a rigorosa disciplina na administração das contas públicas como a política de juros de controle da inflação são exigências do mercado, que trombam com uma política de desenvolvimento e de emancipação da pobreza. Gastar menos ou cobrar mais juros, entendem Lula e as antigas esquerdas do Brasil, é empurrar uma conta injusta para a população mais pobre.

Para eles, os banqueiros adoram juros altos porque ganham mais dinheiro com o retorno dos empréstimos. Este é grave erro de entendimento. Banqueiro ganha mais com juros baixos. Os juros são o preço do dinheiro. Se o juro está alto é porque o dinheiro, por certas razões, está escasso e os banqueiros têm menos recursos para emprestar. Se os juros estão mais baixos é porque há mais dinheiro disponível e, por isso, também, os banqueiros pagam menos pelo dinheiro dos aplicadores que lhes é dado por empréstimo. Ou seja, juros altos pouco ou nada têm a ver com ganância dos banqueiros.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Opinião do dia – Eric Hobsbawm* (Importância da política)

Permitam-me dizer, para concluir, porque escolhi, neste capítulo, concentrar-me em Gramsci como teórico político. Não foi só por ele ser um teórico invulgarmente interessante e admirável. Em, decerto, porque ele oferece uma receita para a forma como os partidos e os Estados devem organizar-se. Como Maquiavel, ele é um teórico de como as sociedades deveriam ser fundadas ou transformadas, não de pormenores constitucionais e muito menos das trivialidades de que se ocupam os jornalistas políticos. Foi porque, entre os teóricos marxistas, foi ele quem percebeu com maior clarividência a importância da política como uma dimensão especial da sociedade e porque ele compreendeu que a política envolve mis do que o poder. Isso é de enorme importância prática, e não menos para os socialistas.

Eric Hobsbawm (1917-2012), “Como Mudar o Mundo”, p. 300 – Companhia das Letras, 2011

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Maior desafio de Galípolo é manter confiança no BC

O Globo

Novo presidente precisará pautar sua gestão por parâmetros técnicos, como tem feito no cargo de diretor

Como esperado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o economista Gabriel Galípolo para comandar o Banco Central (BC) a partir de janeiro, depois que acabar o mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto. Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC, terá o desafio de manter a confiança na condução da política monetária. Pelo que tem demonstrado até aqui, não há motivo para duvidar de sua capacidade de executar a tarefa.

Qualquer nome indicado para comandar o BC será sempre alvo de escrutínio. No caso de Galípolo, a vigilância será maior. O motivo é a campanha — injusta — promovida por Lula contra Campos Neto desde o início do governo. Até o final do ano, o chefe do Executivo terá de escolher mais três diretores do BC. Com isso, a maioria dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) terá sido indicada por ele. Cria-se naturalmente o temor de interferência na política monetária.

Merval Pereira - O voto inválido

O Globo

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), numa jurisprudência do século passado, considera que votos nulos não existem, “é como se nunca tivessem sido dados”

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, voltou atrás na inclinação de anular seu voto no caso de segundo turno na capital paulista entre o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, e o coach Pablo Marçal, do PRTB. Ele anunciara a tendência numa entrevista, e Carlos, filho de Bolsonaro, indignou-se. Foi às redes sociais para afirmar que “não há voto nulo contra a esquerda”.

Tarcísio logo retratou-se, dizendo que, embora apoie o atual prefeito, Ricardo Nunes, e tenha dúvidas sobre propostas de Marçal, votará nele no caso de a disputa ser contra Boulos. Sobretudo, a reação de Carlos e o recuo de Tarcísio sugerem que os bolsonaristas de maneira geral estão liberados para votar em Marçal ainda no primeiro turno, o que deverá enfraquecer o apoio a Nunes.

Por que o voto nulo não se transforma em instrumento efetivo de protesto do eleitor? Porque a Constituição Federal de 1988 e a Lei das Eleições consideram como votos válidos somente os nominais e de legenda, determinando a exclusão de brancos e nulos para os cargos de prefeito, governador, presidente e vice-presidente. Isso significa que tanto os votos em branco quanto os nulos não são considerados no cálculo final das urnas. São inválidos e descartados na contagem eleitoral.