quinta-feira, 31 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Anulação de sentenças contra Dirceu reflete desmonte da Lava-Jato

O Globo

Tijolo por tijolo, vai ruindo a maior operação contra a corrupção da História brasileira

Em 2021, no julgamento que anulou a condenação do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava-Jato, por suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que a decisão valia apenas para Lula: “A suspeição do julgador se fundamenta em fatos concretos e específicos contra Luiz Inácio Lula da Silva em razão de interesses políticos próprios do ex-juiz Sergio Moro. Assim, a suspeição declarada não é aqui estendida a outros processos ou réus da denominada Operação Lava-Jato”.

A História mostrou que não seria assim. Outros se beneficiaram dessa jurisprudência. No episódio mais recente, o próprio Gilmar anulou, na última segunda-feira, as condenações do ex-ministro José Dirceu, estendendo a ele os efeitos da decisão sobre Lula. Foram anuladas também as condenações de Dirceu noutros tribunais baseadas nas decisões de Moro. Com isso, Dirceu fica desimpedido para concorrer nas próximas eleições.

O populismo prevalece - Merval Pereira

O Globo

Lula e Bolsonaro sabem que, numa disputa presidencial no Brasil, vale mais o carisma dos candidatos que programas de governo

Já fizemos duas consultas populares sobre o melhor sistema de governo para o país, uma em janeiro de 1963, outra em abril de 1993. Nas duas o presidencialismo venceu o parlamentarismo. Não é à toa, portanto, que o ex-presidente Jair Bolsonaro esnoba as alternativas que se colocam no campo da direita, e Lula continua imbatível como grande líder da esquerda. Os dois sabem que, numa disputa presidencial no Brasil, vale mais o carisma dos candidatos que programas de governo.

A vitória da centro-direita nas eleições municipais recentes demonstra que os partidos dessa tendência estão mais organizados nacionalmente que a esquerda, e Bolsonaro, mesmo tendo evidentemente saído menor desta eleição, continua sendo a melhor opção eleitoral da direita. Errou em São Paulo, quando ficou tentado a apoiar Pablo Marçal e disse que o prefeito Ricardo Nunes, afinal reeleito, não era o seu candidato ideal. O governador Tarcísio de Freitas bancou o prefeito desde o início, ganhou e cacifou-se como principal alternativa na corrida presidencial.

O acordo sobre o ajuste fiscal - Míriam Leitão

O Globo

As medidas de cortes de gastos do governo estão na avaliação jurídica antes do anúncio. Uma tarefa árdua num orçamento tão engessado

O acordo interno do governo sobre as medidas fiscais tem mais relevância do que parece. Normalmente, em qualquer governo, há visões diferentes de onde se esteja. Nesse, a Casa Civil quer mais investimento para viabilizar o PAC e a Fazenda quer reforçar o arcabouço fiscal. Os dois ministérios chegaram em entendimento sobre isso e agora é redação, avaliação jurídica e anúncio. A estratégia para abreviar o tempo no Congresso será apensar as medidas a alguma proposta de emenda constitucional que esteja tramitando. O que se fala no governo é que a dinâmica dos gastos obrigatórios tem que ser compatível com os limites do arcabouço fiscal. Isso é bem difícil.

Lula e Maduro numa relação abusiva - Malu Gaspar

O Globo

Os manuais de psicologia definem um relacionamento tóxico como aquele em que um dos lados ofende constantemente o outro com agressões, humilhações e por vezes violência física. Em geral, o ofensor pede perdão e promete mudar de comportamento, mas depois o ciclo recomeça, diante de uma vítima incapaz de reagir. Relações bilaterais não são namoro, e movimentos diplomáticos deveriam ser guiados por estratégia e racionalidade. Mas tudo na novela entre Brasil e Venezuela lembra a história de uma relação abusiva.

No último capítulo, nesta quarta-feira, Nicolás Maduro chamou seu embaixador para consultas, passo que pode ser seguido pelo rompimento de relações, e o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela enviou para a aprovação dos parlamentares uma moção declarando persona non grata o assessor especial do presidente LulaCelso Amorim.

O presente de Maduro para Lula - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Ao atacar a política externa brasileira, presidente venezuelano oferece a Lula a possibilidade de se reconciliar com a frente ampla que o elegeu

Nicolás Maduro deu um presente a Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente não o merecia, mas só tem a agradecer. A hostilidade venezuelana à diplomacia brasileira não poderia ter vindo em momento mais alvissareiro. Foi a carona que Lula precisava para alcançar o vento à direita que varreu o Brasil no domingo.

Maduro convocou o embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell, e, na ausência da embaixadora, o encarregado de negócios da Embaixada Brasileira em Caracas, Breno Hermann, para pedir explicações. A atitude ainda está separada por alguns degraus do rompimento de relações, mas dá pro gasto.

EUA abrem mais investigações para sobretaxar produtos brasileiros - Assis Moreira

Valor Econômico

Com Kamala Harris ou Donald Trump na Casa Branca, a onda protecionista nos EUA continuará forte

Os Estados Unidos abriram seis investigações contra três produtos brasileiros recentemente, numa sinalização de que o apetite para frear importações e proteger a indústria americana tende a continuar forte em Washington, seja quem for o próximo presidente a ocupar a Casa Branca.

Na semana passada, no auge da campanha eleitoral para a presidência, o US International Trade Commision (USITC) deflagrou duas investigações (dumping e subsídio) contra cápsula dura vazia exportada pelo Brasil sob alegação de causar prejuizos a produtores americanos.

No dia 18 deste mês, o órgão votou a favor de continuar duas investigações para sobretaxar produtos de aço resistentes à corroção originários do Brasil, igualmente sob a alegação de que seriam ‘vendidos abaixo do valor de mercado e subsidiados’ pelo governo brasileiro.

O voto dos trabalhadores nos republicanos - Eric Posner

Valor Econômico

Os mercados de trabalho, ao contrário da maioria dos mercados de produtos, são locais. As pessoas não simplesmente arrancam suas raízes e vão caçar emprego noutro lugar

Uma característica marcante da política dos Estados Unidos hoje é a fuga dos “trabalhadores” - ou seja, em geral operários ou funcionários - do Partido Democrata. Durante muitas décadas após o New Deal, os democratas eram o partido que defendia os sindicatos, a segurança no local de trabalho e o salário mínimo, e os republicanos eram os campeões das empresas.

No entanto, segundo o Gallup, a proporção de republicanos que se identificam como “classe trabalhadora” ou “classe baixa” cresceu de 27% em 2002 para 46% atualmente, enquanto a parcela de democratas da classe trabalhadora caiu ligeiramente (de 37% para 35%). Além disso, enquanto 46% dos eleitores brancos de famílias sindicalizadas apoiavam os democratas em 1968, essa proporção caiu para cerca de 33% em 2020, quase empatando com os republicanos. Desde a década de 1990, as pessoas em locais mais pobres e da classe trabalhadora têm preferido cada vez mais os republicanos aos democratas.

Economia, Kamala e Trump – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

PIB dos EUA vai bem, salários nem tanto; confiança econômica é das mais baixas em 30 anos

economia americana vai bem. Mas a popularidade de Joe Biden foi mal e Kamala Harris pode perder a eleição por uma ninharia de votos —ou ter mais eleitores do que Donald Trump no país inteiro e perder a eleição por causa de umas dúzias de distritos em meia dúzia de estados.

No entanto, "economia" é uma palavra vaga para pensar o que se passa na vida do eleitorado e nos seus tantos grupos diversos. Além do mais, vivemos em um tempo em que "economia", em qualquer sentido ou aspecto, pode fazer pouco efeito relevante. Para usar outra frase lunática de Trump como metáfora: "Poderia parar no meio da Quinta Avenida [Nova York], atirar em alguém e ainda assim eu não perderia votos", disse o candidato republicano em 2016.

Maduro passou um recibo para Lula – Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

O problema é que, até outro dia, Lula jurava que era possível ter uma conversa limpa com o ditador

O governo de Nicolás Maduro atualizou sua lista de inimigos do regime, lacaios da Casa Branca e operadores de uma conspiração contra a Venezuela. Agora, esse rol nada seleto inclui o brasileiro Celso Amorim. A chancelaria de Maduro emitiu uma nota em que chama o assessor de Lula de "mensageiro do imperialismo norte-americano".

Os delírios da ditadura são um recibo em papel passado da mágoa com o governo brasileiro pelo veto à entrada da Venezuela no Brics. Maduro não queria apenas a carteirinha de sócio de um clube frequentado por países influentes. Ele procurava uma credencial para romper o isolamento e lustrar a fraude que comandou para permanecer no poder.

Cartilha para eleger Tarcísio - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Meios, modos e eufemismos na promoção de um extremista à Presidência

Domingo passado, o governador Tarcísio de Freitas, após votar, convocou entrevista coletiva na TV. Não sozinho, mas ao lado de seu candidato a prefeito. Ocasião estranha para interação com a imprensa. Faltavam horas para o fechamento das urnas e não havia fato excepcional que pedisse, naquele minuto específico, uma coletiva.

Uma jornalista de cartilha perguntou: "O que aconteceu em relação ao PCC?" Tarcísio respondeu: "Teve o ‘salve’. Houve interceptação de conversas de presídios por parte de organização criminosa orientando determinadas pessoas a votar em determinado candidato". Outra voz emenda: "Qual era o candidato?" Tarcísio bateu: "Boulos".

A voz rouca de Bolsonaro - William Waack

O Estado de S. Paulo

Quadro político e judicial limita as opções do ex-presidente para se livrar de denúncias

O grande teste imediato para averiguar o peso político de Jair Bolsonaro e seu papel na direita é saber se consegue mobilizar no Legislativo forças suficientes para compensar o que enfrentará no Judiciário. Simplificando, é anistia versus denúncia. As articulações no Legislativo estão criando um tipo de geringonça política na qual Bolsonaro “comanda” um agrupamento nutrido. Porém, é apenas um entre pelo menos outros três.

A leitura dos fatos feita pelos operadores desse “Centrão radical” (na expressão do cientista político Carlos Pereira) – um amálgama que se acomoda em qualquer lado – é a de que Bolsonaro tem peso significativo, porém se afastando da condição de fator dominante nesse setor do espectro político. Em outras palavras, dado o fato de que Bolsonaro depende do Legislativo para se livrar da cadeia e voltar a disputar eleições, as raposas felpudas na Câmara entendem que o capitão lhes deve mais e não o contrário (não existe gratidão em política). O Senado talvez venha a ser mais sorridente para Bolsonaro e o que ele significa, mas só em 2026.

O lugar e a força da extrema direita - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Minoria no Brasil, ela não é pequena nem irrelevante

Há muito enraizadas na base do sistema político, as forças de direita saíram ainda mais encorpadas das recentes eleições municipais. Como se sabe, tais forças se espalham por muitos partidos —entre eles, ganharam os mais pragmáticos e dispostos a negociar e compartilhar o governo federal com o PT.

Jair Bolsonaro quedou apequenado na disputa, embora as legendas que abrigam seus correligionários mais fiéis —PL e Republicanos— tenham crescido em número de prefeituras (de 556 para 949) e população que administram (de 7,5% para 18,2 % dos brasileiros). A extrema direita é de fato minoritária no voto e na simpatia que lhe dedicam os brasileiros. Não é um caso isolado.

Entrevista | Maria Hermínia Tavares*: ‘Boulos precisará construir uma outra persona política’

Hugo Henud / O Estado de S. Paulo

Encerrada a eleição, esquerdas têm de pensar em como atrair ‘centristas’, diz professora da USP

“Para superar a rejeição da maioria, ele (Guilherme Boulos) precisará construir uma outra persona política. A de líder de movimento social que aposta na ação direta tem alta rejeição dos eleitores”

Em meio aos desafios enfrentados pela esquerda nas eleições de 2024, a cientista política e professora emérita da USP Maria Hermínia Tavares de Almeida defendeu em entrevista ao Estadão uma tática mais eficaz para atrair o eleitor centrista, considerando o fortalecimento das legendas de direita e de centro, e sugeriu que Guilherme Boulos (PSOL) terá de construir nova “persona política” para superar a rejeição.

O pragmatismo da política local ganhou mais força do que projetos ideológicos?

Tudo indica que Ricardo Nunes fez coisas, que a Prefeitura esteve presente nos bairros mais pobres e que o prefeito tem o que mostrar. Mas não é possível deixar de lembrar que o que parece estar acontecendo aqui – ou seja, a reeleição – ocorreu em muitas outras cidades e costuma ocorrer. Prefeitos se reelegem. Nunes tem uma enorme coalizão e muitos recursos do fundo eleitoral. A máquina da Prefeitura é poderosa. Entre um prefeito que mostra o que fez e um candidato que diz que fará, o eleitor prudente pode estar inclinado a votar no primeiro.

O que acha que faltou à campanha de Boulos para obter um desempenho mais favorável?

Não teve a ver com a campanha propriamente. Para superar a rejeição da maioria, ele precisará construir outra persona política. A de líder de movimento social que aposta na ação direta tem alta rejeição.

Quem sai mais fortalecido na chamada “primária” da direita em São Paulo?

Em São Paulo, saem fortalecidos o prefeito e o governador (Tarcísio de Freitas). No País, do PSD de Gilberto Kassab, a direita pragmática, ávida de recursos e poder. Direita pragmática que sempre predominou nas eleições municipais e para a Câmara Federal desde 1985.

Tarcísio pode consolidar uma nova liderança à direita, fora do bolsonarismo?

O governador apostou e ganhou. Saiu com uma imagem mais nítida. A liderança à direita está em disputa: há outros candidatos fortes, como o governador (Ronaldo) Caiado (de Goiás). Jair Bolsonaro tem força e catalisa eleitores de extrema direita. Por enquanto, tem que ser levado em conta por qualquer político que aspire a ser governador ou presidente unificando as forças de direita. O discurso do governador continua mostrando sua lealdade ao ex-presidente e sua identificação com propostas caras aos bolsonaristas, na educação especialmente. O empenho de separá-lo de Bolsonaro é maior entre os analistas, que buscam figuras de direita mais “razoáveis”, do que do próprio governador.

Os resultados municipais podem influenciar a eleição presidencial de 2026?

Não creio. O pleito presidencial tem outra lógica. De toda forma, essas eleições confirmaram que as direitas são muito fortes, o centro tende a gravitar em torno delas, e as esquerdas são minoritárias e precisam pensar em como atrair, de maneira consistente, centristas mais resistentes a ideias escancaradamente reacionárias como escolas cívico-militares, cura gay, proibição total do aborto, predação ambiental.

*Cientista política, é pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e professora emérita da USP

 

Só falta Sérgio Cabral no velório da Lava-Jato - Luiz Carlos Azedo -

Correio Braziliense

O ex-governador está na expectativa de decisões dos ministros do Supremo Gilmar Mendes, sobre a Operação Calicut, e Dias Toffoli, no caso de Curitiba

No rastro da desconstrução da Operação Lava-Jato, com a anulação das condenações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), que voltou à vida política plena, podendo concorrer a qualquer cargo político, a bola da vez é o ex-governador fluminense Sérgio Cabral Filho, que ficou preso de novembro de 2016 a dezembro de 2022, quando obteve o direito de prisão domiciliar. Dois meses depois, deixou a prisão domiciliar. Ele fora condenado a mais de 400 anos de prisão. Cabral não tem condenação em última instância, ou seja, sem chance de recurso. Como já foi sentenciado em segunda instância, porém, é impedido pela Lei da Ficha Limpa de disputar eleições. Ele governou o estado de 2007 a 2014.

Eleição: vencedores ocultos - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Os grandes eleitores no pleito de 2026 não serão da  direita,  da esquerda, do centrão, do lulismo, do bolsonarismo,  fascistas ou  comunistas. Serão  as novas tecnologias.  Os verdadeiros vencedores estão ainda ocultos, e insurgirão no meio do  processo eleitoral. Com isso, estaria com os dias contados o modelo de polarização ideológica, cujo propósito, explícito, é evitar a pulverização de recursos entre muitos partidos políticos e, implícita, de gerar negócios nem sempre confiáveis. O sistema está viciado . A inteligência artificial já sabe.

Chegou-se a registrar no Congresso  Nacional a presença de representações de 38 partidos políticos. Essa pluralidade  sempre era acusada, entretanto, de desaguadouro de negociatas com recursos públicos, quando da sua repartição e apropriação .    E não  havia necessidade sequer de prestar contas - senão partidária, ao Superior Tribunal Eleitoral ,que quase sempre fez  "vistas grossas" para o problema.

Agora vieram as eleições municipais.  Os analistas parecem muito conservadores ao refletir as possíveis consequências. Somados, no segundo turno, os votos dados aos perdedores ( 42 %, estimativa) mais a abstenção de  29,26,%,  percebe-se que os vencedores não receberam  mais de 40% dos votos . Em Santos a abstenção superou os  votos do vencedor.  

Lançamento | Livro de Paulo Fábio

Amigas e amigos. 

Compartilho com vocês a peça para a reta final da divulgação do livro. Ela pode, inclusive, ser postada no Instagram no formato carrossel. 

Muito grato a @diogodafaire pela criação desse presentaço. E a cada um(a) de vocês que puder dar uma última força para fazer do livro um texto de informação e reflexão e também pretexto para um encontro feliz na sexta-feira. Até lá!







quarta-feira, 30 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Prisão de bicheiro traz oportunidade contra o crime

O Globo

Desta vez, Justiça não deveria impedir que Rogério Andrade fique preso e que sua quadrilha seja desbaratada

A prisão do bicheiro Rogério Andrade, na manhã desta terça-feira no Rio de Janeiro, representa um passo importante no enfrentamento à máfia dos jogos de azar que há anos, graças à leniência das autoridades, protagoniza uma guerra sangrenta pela disputa de território na cidade. Sobrinho do conhecido bicheiro Castor de Andrade, que morreu em 1997, Rogério é acusado de ser o mandante do assassinato do também contraventor Fernando Iggnácio (genro de Castor) em novembro de 2020. Na decisão judicial , Rogério é citado como chefe de um grupo criminoso “voltado para a prática de diversos crimes”, entre os quais homicídio, corrupção, contravenção e lavagem de dinheiro.

A escuta contra a política troncha - Vera Magalhães

O Globo

População se deixou seduzir por candidatos mais pragmáticos, que olham para suas necessidades sem superioridade sociológica da esquerda

Raro exemplo de renovação da centro-esquerda brasileira, o prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), forneceu na última segunda-feira, no Roda Viva, reflexões valiosas para seu campo político a respeito do muito que deveria mudar para responder à preocupante desconexão com o eleitorado evidenciada pelas disputas municipais.

Um dos maiores erros que os políticos podem cometer, disse ele, é achar que sabem tudo, que têm solução para tudo sem ouvir o povo. Contou a história de uma obra da prefeitura que comanda para reformar um campo de várzea que era troncho (torto), e a comunidade fez um protesto para evitar que fosse deixado reto. Ele mandou parar a obra e ouvir todos os que usavam o campo.

— Ganhou para ficar troncho mesmo. Você precisa combinar com o povo — contou.

A parábola — saborosíssima, à moda das que seu pai, Eduardo Campos, que morreu em plena campanha presidencial há dez anos, adorava contar — ilustra à perfeição um dos pecados mortais da esquerda lulista: achar que tem o mapa para o coração dos mais pobres e a receita de como resolver a vida deles.

Um carimbo para o PCC - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao citar facção contra rival, governador admitiu que crime manda cada vez mais em estado que o elegeu

Ao festejar a reeleição em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes chamou Tarcísio de Freitas de “líder maior” e o lançou à Presidência em 2026. “Seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro”, proclamou.

O saldo das urnas reforçou Tarcísio como virtual candidato das direitas caso seu padrinho, Jair Bolsonaro, permaneça inelegível. Mas o governador manchou a vitória ao jogar sujo para ajudar Nunes no dia da eleição.

Sem apresentar provas, Tarcísio disse que o Primeiro Comando da Capital (PCC) teria orientado voto em Guilherme Boulos, adversário do prefeito. Depois seus aliados atribuíram a acusação a bilhetes apócrifos, vazados pela polícia que ele controla.

Tarcísio só erra numa direção – Elio Gaspari

O Globo

O governador teve seu momento Pablo Marçal

Pelo andar da carruagem, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, será candidato à Presidência em 2026. Sua vitória eleitoral e muitos aspectos de sua gestão qualificam-no para isso. Ele produziu uma imagem austera, próxima do unicórnio de político técnico. Como se sabe, unicórnio não existe.

Tarcísio de Freitas é um exemplo dos poucos momentos virtuosos na passagem de Jair Bolsonaro pela Presidência da República. Ele o escolheu para o Ministério da Infraestrutura sem conhecê-lo. No Planalto, foi Bolsonaro quem o convenceu a disputar o governo de São Paulo.

Tarcísio seria um bolsonarista moderado. Como ensina a repórter Flávia Oliveira, “bolsonarista moderado é como cabeça de bacalhau, não existe”. Na tarde de domingo, tendo ao lado o prefeito Ricardo Nunes, Tarcísio disse o seguinte:

Há boas notícias no resultado das eleições – Zeina Latif

O Globo

A vitória do centro poderá influenciar o pleito em 2026. Há boas chance de haver candidatos competitivos de perfil moderado

A melhor notícia das eleições municipais é o sinal de redução da polarização (entre extremos), tema já discutido aqui. Somados, os partidos de centro — PSD, MDB, PP, União Brasil, Republicanos e Podemos — conquistaram 19 capitais e 3.365 municípios.

Não que os partidos de centro sejam garantia de gestão eficiente e probidade administrativa. Trata-se, na verdade, de ter um ambiente mais propício ao diálogo, ingrediente fundamental para o avanço de reformas.

Mesmo nos municípios, há importantes agendas estruturantes a serem abraçadas, como nas políticas de uso e ocupação do solo, na agenda ambiental, na educação infantil e nos marcos regulatórios para o empreendedorismo. A missão de prefeitos vai muito além da zeladoria.

Lula e Bolsonaro ficaram em segundo plano nas campanhas.

Trump é o homem que queria ser rei - Martin Wolf

Valor Econômico

Com os EUA, o grande bastião da democracia no século XX, sob controle autoritário, haveria uma oscilação no equilíbrio global contra a democracia liberal, não só em termos de poder, mas também em termos de credibilidade ideológica

O que um segundo mandato de Donald Trump significaria para os EUA e o mundo? Os otimistas podem apontar para o que aconteceu da última vez: sua presidência, eles poderiam afirmar, foi cheia de alarde e fúria. Mas isso pouco significou. Ele governou de maneira mais convencional do que muitos temiam. Além disso, no fim, foi derrotado por Joe Biden e partiu. Partiu com má vontade, é verdade. Mas o que mais se poderia esperar? Ele partiu mesmo assim. Por que não seria parecido se ele conquistasse um segundo mandato, como sugerem as pesquisas?

Trump é especialista em promessas vazias. Em 2016, uma peça central de sua campanha foi o “muro” pelo qual o México pagaria. No fim, não houve muro, quanto mais qualquer dinheiro do México. Desta vez ele prometeu reunir e deportar até 11 milhões de estrangeiros em situação irregular. A operação necessária para isso seria imensamente cara e polêmica. De fato, como exatamente muitos milhões seriam deportados e para onde?

O complexo processo de reflexão interna do PT - Fernando Exman

Valor Econômico

Avanço nas eleições, além de reduzido, foi muito concentrado e frustou o Palácio do Planalto

A reação de parte da cúpula do PT ao balanço eleitoral feito pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, Alexandre Padilha, evidencia como vai ser complexo o processo de reflexão interna que o partido inevitavelmente enfrentará.

Complexo e intenso. Ele terá como pano de fundo as articulações para a sucessão da presidente do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR). Uma disputa que definirá, entre outros aspectos, qual será a postura da sigla nas negociações com os partidos de centro para as eleições de 2026 e seu discurso em relação à política econômica do Ministério da Fazenda e, também, ao Banco Central sob o comando de Gabriel Galípolo.

De forma franca, Padilha colocou o dedo na ferida. Após reunir-se com Gleisi e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada na segunda-feira (28), avocou a condição de filiado e integrante da bancada federal do PT para defender que a sigla faça “uma avaliação profunda” do resultado das eleições. Disse que a legenda permanece na zona de rebaixamento em que entrou nas eleições municipais de 2016, o que irritou os correligionários e provocou o embate.

Eleição não muda jogo para Lula e Bolsonaro - Christopher Garman

Valor Econômico

É preciso ter muita cautela para não extrapolar para a disputa presidencial de 2026 conclusões exageradas sobre as eleições municipais

Passado o segundo turno das eleições municipais, comentaristas e lideranças partidárias estão tirando duas conclusões sobre os resultados das urnas - ambas tremendamente exageradas.

A primeira é que a dominância dos partidos de centro e direita mostraria que o país está migrando para a direita, criando um cenário difícil para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores em 2026. A segunda é que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria perdido força, já que não conseguiu eleger seus candidatos em várias cidades (particularmente Goiânia e Belo Horizonte), indicando que o eleitorado estaria começando a privilegiar candidatos mais ao centro e a rejeitar a polarização.

De fato, o resultado das urnas sinaliza que partidos de centro e direita reforçaram sua posição nas prefeituras locais, o que vai ajudá-los a eleger deputados em 2026. Mas diz pouco sobre a eleição presidencial de 2026, e não deve ser visto como um sinal de fragilidade - nem de Lula, nem de Bolsonaro.

O ‘modo disputa’ de Lula e o fator Dirceu - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Presidente acha que ex-chefe da Casa Civil pode ajudar o PT e o governo no diálogo para 2026

Encerradas as eleições municipais, com desfecho favorável à centrodireita, o governo Lula vai ligar agora o “modo disputa” 2026. Além de promover uma reforma ministerial para a segunda metade de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará reforçar a articulação política com o Congresso e acha que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pode ajudar nessa tarefa.

Dirceu já vem atuando longe dos holofotes. No rol de seus interlocutores estão os ministros Fernando Haddad (Fazenda), José Múcio (Defesa), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Renan Filho (Transportes) e Sílvio Costa Filho (Portos e Aeroportos). Para Lula, o ex-chefe da Casa Civil tem como auxiliar em várias “missões”, como a de reconstruir o PT – que vai renovar sua cúpula em 2025 –, melhorar o diálogo com empresários e políticos do Centrão, além de ampliar as conversas com a ala do MDB que não quer se aliar ao governador Tarcísio de Freitas, em 2026.

Sangue na água da direita – Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Grito de independência da 'direita moderada', no entanto, ainda sai trêmulo

Jair Bolsonaro desfilou pelo Congresso como se não carregasse nas costas um saco de derrotas amargas nas eleições municipais. Circulou por gabinetes para negociar uma anistia e fez pouco caso dos políticos que dizem enxergar uma direita sem seu comando. "Já tentaram várias vezes e não conseguiram", afirmou. "Eles têm uma utopia."

As duas pontas estão conectadas. O plano de Bolsonaro para conseguir uma anistia, emparedar tribunais e recuperar o direito de se candidatar depende da leitura que as elites da direita fazem sobre o poder do ex-presidente. Se esses líderes entenderem que há outros caminhos para o sucesso eleitoral, não haverá muita pressa para salvá-lo.

Brasil um tédio desesperador - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

País fica travado por adiar decisão óbvia, se ocupa de ninharia e o direitão toma conta

Quando se assunta com gente do governo o que seria o plano de contenção de gastos Haddad-Tebet, o que mais se ouve é desconversa, desconhecimento ou desprezo. Quando vazam medidas "em estudo", parte do governo sabota as ideias, até em público.

Deve ser por isso que Fernando Haddad procura despistar todo o mundo a respeito do que seria seu plano, como o fez nesta terça (29): não haveria data para divulgar o pacote ou tamanho dele. Talvez seja melhor não contar nada, discutir o assunto só com o presidente da República e, assim, evitar sabotagens nas internas. Afinal, governo e PT brigam em público até por picuinhas municipais.

Esquerda esqueceu arte de mudar de assunto - Rui Tavares

Folha de S. Paulo

Concentrar campanha na verdade indesmentível de que Trump é horrível não deixa de ser fazer dele o centro da conversa

Sim, foi um circo de horrores o comício de Donald Trump e dos seus aliados no Madison Square Garden, em Nova York. Sim, o racismo, a misoginia e até o fascismo descarado dos discursos é demasiado escandaloso para não merecer resposta. E sim, é possível que alguns dos comentários que ali foram feitos prejudiquem a campanha do republicano a poucos dias das eleições. É compreensível que os democratas cedam à tentação de fazer disso o assunto da campanha na reta final.

Pergunto-me, porém, se foi devidamente levado em conta que concentrar a campanha na verdade indesmentível de que Trump é horrível não deixa de ser, apesar de tudo, fazer de Trump o centro da conversa.

E se há razão para essa eleição estar muito mais difícil para Kamala Harris do que precisaria é que a sua campanha não conseguiu segurar e prolongar o tema da alegria e da novidade que fugazmente foi o seu após a convenção do Partido Democrata em agosto.

O recado das urnas para a esquerda - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Se fossem seriamente escutados, quem sabe esses eleitores não responderiam?

As semanas seguintes às eleições costumam ser momentos de avaliações sobre perdas e ganhos na política institucional, além de oportunidade para compreender o estado atual da correlação de forças no cenário político. Isso é natural, afinal, mandatos permanecem uma medida objetiva de força política. As urnas sempre transmitem mensagens importantes e cabe aos interessados decifrá-las com precisão para, então, tomar as devidas providências.

Vamos por partes. Quero me concentrar hoje em um aspecto específico da mensagem que a esquerda recebeu nas eleições municipais: sua relação com uma parte significativa dos eleitores parece ter se perdido de vez.

Dirceu volta à cena com anulação de penas - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Gilmar Mendes anulou todos os atos processuais produzidos pelo ex-juiz Sergio Moro em duas ações penais contra o ex-ministro petista, por parcialidade

A anulação das condenações do ex-deputado federal José Dirceu, pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), trouxe o petista histórico de volta à cena política do país, com plenos direitos políticos. Dirceu havia sido condenado a 23 anos e três meses de prisão pelo então juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR), que apontou o ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula como suposto beneficiário de R$ 15 milhões em propinas pagas pela empreiteira Engevix, por cinco contratos de obras da Petrobras.

Dirceu vinha mantendo discreta atuação política, sempre nos bastidores, mas circulava com desenvoltura e, toda vez que aparecia em público, em algum evento social que reunisse políticos, era reverenciado pelos interlocutores. Já havia retomado também a militância no PT, participando de reuniões e conversas informais, com a mesma discrição. Agora, livre das condenações, deve intensificar sua atuação, mas não decidiu ainda se pretende voltar à cúpula do PT e/ou disputar eleições. Oráculo dos principais dirigentes petistas nunca deixou de ser.

Poesia | Os fios e o desafio - Marcelo Mário de Melo

(Em memória do poeta Antônio Cícero) 

Pois o corredor da morte
é o corredor da vida 
um fio que se desenrola 
logo após vida nascida. 

Fio que se perde de vista 
ao se olhar da janela 
mas que pulsa à distância 
além da paisagem bela. 

São duas pontas de um fio 
que vão se aproximando 
até que o fio da nascença 
 vê o fio da morte chegando. 

É o mandato da velhice 
da doença terminal 
ante o mandato da vida 
impondo o ponto final. 

Entre os fios o desafio 
 de uma consciência clara. 
A consciência da morte 
natural comum não rara.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Acordo sobre as emendas significa avanço institucional

O Globo

Projeto de lei precisará estabelecer critérios de transparência e rastreabilidade exigidos pelo Supremo

Depois de um período de desentendimentos, Legislativo e Executivo buscam enfim um acordo, mediado pelo Judiciário, sobre as emendas parlamentares. Sua suspensão foi determinada em agosto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STFFlávio Dino, numa decisão liminar depois referendada pelo plenário da Corte e reafirmada neste mês. A intervenção abrupta e abrangente do STF acirrou a tensão entre as instituições. Felizmente, foi aberta uma negociação que poderá ser encerrada com êxito nesta semana, com a apresentação ao Congresso de um Projeto de Lei Complementar estabelecendo regras para liberação e aplicação dos recursos.

Em reunião entre integrantes do STF, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, e representantes do Executivo, foram alinhados pontos de uma proposta que será levada a plenário na Câmara e no Senado. A votação desse projeto poderá representar um marco para disciplinar o avanço do Congresso sobre o Orçamento da União nos últimos anos.

O peso do dinheiro - Merval Pereira

O Globo

Ficou claro que saber gastar em obras importantes para os moradores é fundamental para obter resultados eleitorais

A eleição municipal que terminou domingo ficou conhecida como a “das emendas parlamentares”. Mas poderia também ser chamada de “eleição dos fundos”. Nunca ficou tão claro o poder do dinheiro na definição dos resultados finais, especialmente na reeleição da maioria esmagadora dos prefeitos de capitais.

O sistema de reeleição ficou consolidado com a vitória de quase 80% dos incumbentes. Pode ser bom por garantir a permanência de gestores bem avaliados, mas também ser reflexo da máquina estatal, impulsionada pelas verbas públicas. Os prefeitos, de costume, são fundamentais para a eleição do Congresso e, como chamou a atenção o diretor da Quaest, Felipe Nunes, podem impedir que a renovação política se faça a partir das bases.

A supervisão do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais será cada vez mais necessária, para que o abuso do poder político e econômico não distorça os resultados das urnas. Ao mesmo tempo, ficou claro que saber gastar o dinheiro em obras importantes para os moradores é fundamental para obter resultados eleitorais positivos. A mudança essencial é que os partidos políticos ganharam independência ante o governo central, cujo partido não detém o controle do Congresso.