sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Marco Aurélio Nogueira: O tamanho da indefinição

- O Estado de S. Paulo

O Brasil não acabará depois das eleições, seja quem for o vencedor do pleito presidencial

O mundo gira e a caravana roda. Com o avançar do calendário eleitoral, a definição dos candidatos, de suas coligações e seus compromissos, com as primeiras pesquisas e os debates iniciais, subiu a temperatura e ingressamos em um tempo de tomadas de posição.

Não há porque temer esse tempo ou fugir dele em nome do candidato ideal ou de uma candidatura única que jamais existiu, que dificilmente poderia existir e que nem sequer deveria ser tida como exigência democrática. Democracia é pluralidade, divergência, choque de opiniões, manifestação de preferências. Numa época de partidos e verdades em crise, pregar a ordem unida é caminhar às cegas, sem poder de convencimento.

Guerras entre candidatos são suicidas, mas não há como contorná-las: lutam pela própria afirmação, não pela afirmação de um campo ou polo. É da lógica da disputa eleitoral. O sangue que escorre dos guerreiros pode mesmo adubar candidaturas autoritárias. Não há como evitar isso, ao menos no primeiro turno. Correr riscos é um dos preços da democracia.

A sabedoria está em minimizar os efeitos, evitar que os choques ultrapassem o razoável, traduzindo-se em agressão e ruptura. Mentiras escabrosas e campanhas negativas de desconstrução são tóxicas, envenenam a democracia. Não se trata somente de cordialidade, mas de bater sem deixar marcas e sem poupar o adversário principal, facilitando-lhe a vida.

Sempre será preciso fazer a análise concreta da situação concreta. A frase é marxista, mas não é preciso ser marxista para aceitá-la: trata-se de um suposto do realismo político e do esforço que se deve fazer para enxergar o todo, com suas determinações, suas possibilidades reais e as relações de força que nele têm lugar. Alcançar uma compreensão abrangente e a mais racional possível é boa norma de conduta na política.

Fernando Gabeira: Uma visão da campanha

- O Estado de S.Paulo

Por enquanto, os candidatos hipnotizam com suas propostas. Não se preocupam em mobilizar, dividir papéis. Nesse sentido, é uma campanha analógica, embora, paradoxalmente, tenha invadido as redes sociais.

Estou em Boa Vista, pela quarta vez visito a fronteira Brasil-Venezuela. No princípio era apenas um aviso de que algo poderia sair do controle. Nas últimas viagens, era uma certeza.

O chamado socialismo do século 21 foi pro espaço. Seus estilhaços caem dentro do território brasileiro, na forma de onda migratória, crise energética, revolta e violência. Logo no Brasil, arruinado por uma experiência de esquerda e hoje governado pelos parceiros eleitorais do PT.

Não sei se isso vai repercutir na campanha eleitoral brasileira. É tudo tão longe. E aqui não temos o hábito de avaliar criticamente o passado. A esquerda comporta-se como se nada tivesse acontecido. Sua proposta nostálgica é uma viagem ao início do século, voltar a ser feliz.

Não se discute o processo de democratização, sua esperança de usar o Estado para a redução das desigualdades, superar por meio de uma ação de governo todos os grandes problemas do País. A própria Constituição foi escrita nessa ânsia de promover a justiça social, com juros limitados a 12% e uma previsão de imposto sobre grandes heranças. Ficou no papel, mas revela um pouco do espírito da época, que acabou encontrando sua maior expressão no governo de esquerda.

Ainda hoje, a ilusão de que o governo vai resolver todos os grandes problemas sobrevive. Os próprios candidatos revelam seus programas, dizem o que vão fazer em cada área, como se estivessem vendendo o serviço que nos prestarão.

Há pouco espaço nesse tipo de discurso para a participação social, exceto consumir bens e serviços. O PT, por exemplo, tende a igualar felicidade ao aumento de consumo. Um bom exercício para seus militantes seria, por exemplo, refletir sobre esta questão: muita gente diz que votaria em Lula, mas quase ninguém, exceto CUT e MST, se mobiliza para tirá-lo da cadeia.

Minha hipótese é de que todos recebem bem a ideia de aumento de consumo, mas poucos se interessam por valores. No caso de Lula, pode até ser que não se movam baseados num valor: o respeito à independência da Justiça. Mas se isso é verdade, como explicar sua opção eleitoral?

Parto da esquerda para avançar no espectro e constato que a maioria dos candidatos se apresenta como alguém que vai realizar inúmeras tarefas, como se estivesse vendendo seus serviços a clientes cuja única missão é comprá-los. Dificilmente mencionam nos debates o papel que destinam à sociedade na grande tarefa da reconstrução. Basta votar certo, isto é, no orador, que tudo se vai resolver a partir do esforço e competência dele.

Merval Pereira: Os problemas de ‘Andrade’

- O Globo

Para se ter ideia da dificuldade do vice que virará candidato, no Nordeste, onde Lula impera, ele não passa de um desconhecido

Quando o já então ex-presidente Lula escolheu o ex-ministro Fernando Haddad para disputar a eleição na prefeitura de São Paulo pelo PT, em 2012, comentou que ele tinha “jeito de tucano”, e talvez a população da capital pudesse votar nele. Haddad foi eleito, mas não conseguiu se reeleger. Deu errado a transposição do petista para o figurino tucano, e, em 2016, o candidato do PSDB, João Doria, acabou vencendo no primeiro turno, fato inédito na disputa pela prefeitura paulistana. O jeito tucano não resistiu a um mandato.

A vitória imediata de Doria foi decidida nos últimos momentos, pelo voto útil dos que não queriam o PT na prefeitura, que descarregaram os votos no tucano. Lula na ocasião estava livre, leve e solto e não conseguiu transferir votos suficientes para seu escolhido, nem ele convenceu o eleitorado de que era um tucano travestido de petista.

Na eleição de 2010, Lula havia transferido para a desconhecida Dilma sua popularidade transformada em votos, mas é difícil encontrar líderes populares que, sem poder participar da campanha eleitoral presencialmente, tenham tido sucesso. O exemplo clássico é Perón, na Argentina, que, do exílio em Madri, lançou para as eleições de 1973 Héctor José Cámpora a presidente. Vencedor por larga margem de votos, o novo governo anistia Perón e renuncia, convocando novas eleições presidenciais, vencidas por Perón, tendo como vice sua mulher, Isabelita. Há no PT quem jogue com essa carta.

Um exemplo que já faz parte da história política brasileira ocorreu na Bahia, em 1982. O candidato oficial era Clériston Andrade, que morreu em um acidente de helicóptero em outubro, poucos dias antes da eleição para governador, e Antônio Carlos Magalhães, cujo grupo político era hegemônico no estado naquele momento, tirou do bolso do colete para sucedê-lo João Durval Carneiro, ex-secretário estadual e várias vezes deputado federal.

Míriam Leitão: PSDB: agenda reformista é real?

- O Globo

PSDB diz que fará um forte ajuste fiscal, mas se aliou aos partidos do centrão, que têm barrado a agenda de modernização do país

O PSDB promete eliminar o déficit em dois anos, mas não fica claro como isso será feito. O espaço para corte é mínimo, e o partido não faz de forma explícita a defesa de se tirar da Constituição as destinações obrigatórias. A Caixa poderá ser privatizada. O partido promete não aumentar impostos e garante reduzir fortemente as renúncias fiscais. A reforma da Previdência terá idade mínima de 65 anos e vai buscar aumento da contribuição, em vez de redução de benefício.

A terceira entrevista com assessores econômicos de candidatos foi com o economista Persio Arida, doutorado pelo MIT, e um dos formuladores do Plano Real. O grande problema dos tucanos é que, para serem coerentes, eles precisam explicitar o ajuste que pretendem fazer para tirar o país do buraco fiscal. Isso exige defender propostas impopulares. Persio Arida diz que um presidente ao chegar tem muita força e lembrou que Collor aprovou até o confisco.

Com essa força, ele afirma que Geraldo Alckmin fará o ajuste fiscal e sem aumento de impostos. O PSDB também defende a taxação de lucros e dividendos, com redução do imposto sobre empresas, como outros partidos têm proposto. A ideia tem sido o grande consenso desta eleição, mas a execução pode ser diferente. Se não vai aumentar tributos, de onde virá um ajuste tão rápido? Ele diz que serão cortados gastos. Hoje, de R$ 1,3 trilhão de despesas primárias, só R$ 128 bilhões podem ser mexidos pelo governo e aqui estão investimentos e custeio. 

Eliane Cantanhêde: Alckmin e o 2º turno

- O Estado de S.Paulo

Bolsonaro ganha no 1.º turno e perde no 2.º; Alckmin é forte no 2.º turno, se chegar lá...

Geraldo Alckmin (PSDB) patina no primeiro turno, mas bate todos os adversários no segundo, exceto Marina Silva (Rede). Jair Bolsonaro (PSL) é o oposto: campeão no primeiro turno sem Lula, perde de todos os outros no segundo, exceto Fernando Haddad (PT), que nem candidato é. Isso atinge a percepção de que Alckmin é fraco e Bolsonaro é forte, o único “anti-PT”.

Segundo o Datafolha, Alckmin cresceu de cinco a seis pontos entre abril e agosto nos cenários de segundo turno, registrando linha ascendente contra todos os adversários, inclusive Bolsonaro. Em abril, os dois tinham empate de 33% num eventual confronto direto. Hoje, Alckmin tem 38% contra 33% de Bolsonaro.

Mesmo em relação a Marina, a única que venceria Alckmin se o segundo turno fosse hoje, a tendência é favorável a Alckmin. A diferença era de 44% a 27% em abril e passou a ser de 41% a 33% agora. Ela caiu, ele subiu.

Alckmin também derrotaria Ciro Gomes (PDT), de 37% a 31%, e teria mais do que o dobro do que Haddad. Em abril, o tucano tinha 37% contra 21% do petista. Agora, 43% a 20%, com a ressalva de que Haddad ainda faz uma meia campanha e vai crescer bastante a partir da propaganda eleitoral na TV, que começa dia 1.º de setembro, com Lula de candidato e Haddad de “vice”, lado a lado. E vai continuar crescendo quando Lula for impugnado e ele assumir de fato a candidatura.

Vera Magalhães: Campanha de Geraldo Alckmin é a famosa casa em que falta pão

- O Estado de S.Paulo

Dito popular, tão gasto quanto verdadeiro, assola alguma campanha eleitoral do tucano

Em casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão. Não raro, esse dito popular, tão gasto quanto verdadeiro, assola alguma campanha eleitoral. Quando acontece, o pão em falta se chama votos. A casa da vez é o QG de Geraldo Alckmin.

O tucano apostou tudo numa grande coligação que lhe daria muito tempo de TV e capilaridade nos Estados. Obteve. De posse de quase metade do tempo de TV e ainda patinando nas pesquisas – o que era previsto; sua aposta é crescer depois do início do horário eleitoral – começam as divergências de como usar essa arma.

Apoiadores de Alckmin se dividem entre os que acham que ele deveria ser mais incisivo em confrontar Jair Bolsonaro e se apresentar como anti-Lula – posto hoje ocupado pelo candidato do PSL – e os que afirmam que ele tem de insistir no discurso de conciliação, para se beneficiar dos votos de qualquer um dos dois lados caso vá ao 2.º turno com o outro.

Bruno Boghossian: Luz e sombra

- Folha de S. Paulo

Ações e investigações contra candidatos crescem em série na largada da eleição

Sob ataque permanente de setores da política, o Judiciário deve ter cuidado para não alimentar com as próprias mãos o discurso daqueles que se esforçam para lançar suspeitas sobre sua atuação.

Na largada de uma eleição já caracterizada por embates entre os dois campos, três protagonistas da disputa entraram na mira de juízes e promotores. O STF decidirá na próxima semana se abre processo contra Jair Bolsonaro por racismo. Fernando Haddad virou réu por improbidade. Geraldo Alckmin prestou depoimento em um inquérito de caixa dois.

Candidatos não são imunes a apurações e processos. Ao contrário: por serem alvos de amplo interesse público, essas ações devem ser expostas à luz do sol. Nenhum dos três casos, porém, deve ter um desfecho até outubro. Os presidenciáveis irão às urnas apenas com as sombras.

Na quarta (22), Marco Aurélio Mello disse que o julgamento de Bolsonaro gera insegurança. Referia-se à possibilidade de réus assumirem a Presidência. “Fica a indagação: pode ser eleito e tomar posse?”

Celso Lafer: A manifestação do Comitê de Direitos Humanos da ONU

- Folha de S. Paulo

Parecer sobre Lula não dispõe de autoridade jurídica

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos entrou em vigor no Brasil em 1992. O pacto contempla um Comitê de Direitos Humanos, cuja função é fazer o monitoramento dos compromissos assumidos pelas partes contratantes do pacto, relacionados aos direitos nele contemplados.

O Protocolo Facultativo do Pacto que, no Brasil, foi promulgado por decreto legislativo de 2009, habilita o comitê e seus peritos a receber e examinar as comunicações provenientes de indivíduos que se considerem vítimas de uma violação dos direitos enunciados no pacto.

O comitê e seus peritos não têm competência jurisdicional, ou seja, a atribuição de dizer o direito. Não são uma corte composta por juízes internacionais. Podem, no entanto, como estipula o Protocolo Facultativo, se manifestar sobre comunicações provenientes de indivíduos. Essas manifestações não são sentenças, provisórias ou definitivas. São uma avaliação dos peritos sobre a matéria submetida à sua apreciação.

A recente manifestação dos peritos relacionada aos interesses eleitorais do ex-presidente Lula está causando muita discussão pública. Vou examiná-la circunscrevendo-me aos seus aspectos jurídicos.

Os peritos se baseiam na sua interpretação do artigo 25-b do pacto.

Este assegura, sem restrições infundadas, o direito de votar e ser eleito em eleições periódicas autênticas realizadas por sufrágio universal e por voto secreto que garanta a manifestação dos eleitores.

Os peritos entenderam que não houve até agora violação do artigo 25-b. Admitem a possibilidade da sua violação no tempo. Solicitam, por isso, que o ex-presidente Lula não seja impedido de concorrer à eleição de 2018, até que haja o esgotamento de todos os recursos legais a que tem direito no Brasil.

Desses recursos legais, aliás, os defensores do ex-presidente Lula têm se valido extensa e intensamente, na plenitude do respeito ao devido processo legal e do direito à ampla defesa e ao contraditório que a Constituição brasileira assegura.

Steven Levitsky: Líderes eleitos usam as instituições para subverter a democracia

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro lidera as pesquisas e representa maior ameaça ao Brasil

As democracias já não morrem da maneira que costumavam. Pela maior parte do século 20, as democracias eram derrubadas por homens armados. Líderes militares depunham líderes eleitos, suspendiam o governo constitucional e estabeleciam ditaduras. Durante a Guerra Fria, três quartos das dissoluções de regimes democráticos aconteceram dessa forma. Foi como a democracia brasileira morreu em 1964 — e continua a ser a maneira pela qual muitos brasileiros esperam ver a morte da democracia.

Mas as coisas mudaram. Hoje, a maioria das democracias morre não por ação de generais, mas sim de líderes eleitos —presidentes ou primeiros-ministros que usam as instituições da democracia para subvertê-la.

A maioria dos autocratas contemporâneos chega ao poder por via eleitoral. E consolida seu poder “constitucionalmente”, usando métodos como plebiscitos, atos do Legislativo e decisões da alta corte. Foi esse o caminho seguido por Chávez na Venezuela, Putin na Rússia, Orban na Hungria, Erdogan na Turquia e Duterte nas Filipinas.

Na América Latina, também, os principais matadores de democracias são líderes eleitos. De 1990 para cá, todas as rupturas de democracia na América Latina exceto uma (Honduras, 2009) foram lideradas por presidentes eleitos. Balaguer na República Dominicana, Fujimori no Peru, Chávez na Venezuela, Correa no Equador, Morales na Bolívia, Ortega na Nicarágua.

Bernardo Mello Franco: O choro e as mágoas de José Dirceu

- O Globo

Em livro inédito, Dirceu narra decepções com Lula e critica ministros do Supremo. Ele chama Edson Fachin de ‘engodo’ e define Luiz Fux como um ‘charlatão togado’

Em livro de memórias, Dirceu define como “melancólico e simbólico” o dia em que, acusado de chefiar o mensalão, foi demitido por Lula. José Dirceu chorou. O guerrilheiro baixou a guarda no terceiro andar do Planalto, diante do chefe e de velhos companheiros. Era o dia 15 de junho de 2005. Começava alia derrocada do ministro mais poderoso do governo Lula.

Acusado de chefiar o mensalão, Dirceu seria demitido, condenado e preso. Treze anos depois, ele diz ter sido abandonado pelo ex-presidente. A queixa está em “José Dirceu—Memórias ” ( Geração Editorial ), que chega às livrarias na semana que vem.

O petista expõe sua mágoa ao descrever o encontro final com Lula. “Não me pediu para ficar, não me propôs nenhuma outra tarefa, simplesmente me demitiu”, conta. “Foi melancólico e simbólico, como se tudo já tivesse decidido, poucas palavras, monossílabas, uma cena um tanto derrotista e pequena”, dramatiza. “Eu me emocionei e chorei”.

Não foi sua única desilusão. Em 27 de outubro de 2002, o presidente eleito escolheu José Genoino, e não Dirceu, para discursar na festa da vitória. “Lula não falou comigo e não me comunicou nada”, reclama o memorialista. “Fui simplesmente excluído e comunicado disso por um mero assessor”. “Meu primeiro impulso foi de me retirar, mas me controlei”, prossegue. Ele diz que anoite marcou sua “primeira grande decepção com Lula”. “Foi duro, mas aceitei”, lamuria-se.

César Felício: Ciro e Haddad carregam a maldição

- Valor Econômico

Elite teme candidato do PDT e ex-prefeito petista

Tanto Fernando Haddad, caso de fato seja candidato, quanto Ciro Gomes ainda contam com chances de ganharem a eleição. Haddad mais do que Ciro, uma vez que as recentes pesquisas de opinião já medem com clareza o potencial da transferência de votos entre Lula e o ex-prefeito e o cenário pulverizado faz com que o sarrafo para se passar para o segundo turno permaneça baixo.

Ciro dependerá do erro de seus adversários. Pode ganhar fôlego se a transferência petista não funcionar bem, se Bolsonaro ficar desmoralizado pelos ataques que receberá de Alckmin e se o tucano não conseguir colher os frutos de sua estratégia de destruição. O pedetista depende de combinação de resultados, não de suas próprias forças.

É esta dupla, Ciro e Haddad, que assusta certos segmentos do "establishment", do grupo de pessoas que tem poder real nos dias de hoje. Bolsonaro entusiasma alguns. Marina não mete medo. Alvaro Dias, como o pinhão, só existe na copa das araucárias. Alckmin e Meirelles, para não falar em Amoêdo, moram no coração das grandes lideranças.

A começar por Ciro: a rejeição a ele no mercado financeiro não diminui um milímetro, independentemente do fato de algumas de suas propostas abrirem oportunidades para o mercado, como a capitalização da previdência com emissão de títulos do governo e a securitização das dívidas pessoais, dentro de uma grande renegociação comandada pelo Banco do Brasil, para citar apenas duas. Ele segue sendo uma besta-fera para a banca.

A explicação é que Ciro não fez nenhum compromisso de que blindaria as variáveis de juros e câmbios de decisões políticas, e nem há mais tempo para fazê-lo. Haddad também não fez isso, mas a ação de Lula como presidente em seu primeiro mandato ainda rende créditos para o PT. A banca tem certeza de que o PT fala coisas na campanha que não faz no poder. Em resumo, o mercado financeiro aposta que o discurso radical de Haddad é só conversa mole para a militância aceitar de modo indolor a ausência do chefe na urna.

Se Haddad provoca instabilidade é pela desconfiança que existe a respeito da sua força política. A prioridade de Haddad, está claro, será encontrar forma de libertar Lula. Cumprida esta meta, paira dúvida sobre o que virá a seguir. Será algo semelhante à experiência argentina de 1973? Do exílio, Perón bancou a candidatura de um preposto, que renunciou a seguir. Caso isso não aconteça Haddad saberá ou irá querer se impor aos radicais da sigla?

A insegurança a este respeito é grande na cúpula militar. O alto comando das forças não se sente confortável com a ascensão de Bolsonaro, mas o prefere quando do outro lado está um petista. Não se esquece no meio castrense a resolução sobre conjuntura divulgada pelo PT em 17 de maio de 2016, cinco dias depois do afastamento de Dilma Rousseff do poder. A autocrítica feita pelo petismo na ocasião calou fundo nos quartéis.

"Fomos descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista". Ao contrário da forma como o mercado financeiro recebe a parolagem petista sobre economia, os militares levaram a sério o documento de dois anos atrás.

José de Souza Martins: O poder oculto

- Eu &Fim de Semana | Valor Econômico

O aspecto mais desolador dos "debates" políticos na televisão, nessa campanha eleitoral, é que não há debate. Para que debate houvesse, seria necessário que os partidos fossem partidos verdadeiros, com doutrina e projeto de nação. Não o são. Há pouquíssima diferença entre eles e quase nenhuma entre os candidatos. Estamos à mercê do minimalismo de dilemas menores e cotidianos. E não dos relativos ao destino do país. É o caso do bombeiro incendiário que chacoalha a Bíblia diante do nariz dos outros e sataniza os brasileiros lúcidos que dele discordam. Em princípio, quem se apresenta candidato a um mandato em nome de religião ou de igreja deveria ter a candidatura vetada. É inconstitucional.

Na verdade, o elenco de temas propostos aos candidatos nesses debates é o que o noticiário cotidiano há muito tem colocado em destaque. Mais o que apavora as pessoas comuns do que aquilo que expressa suas aspirações de desenvolvimento humano. E de sua emancipação das carências e misérias que fazem da vida cotidiana do brasileiro uma vida de incertezas e de desesperança.

A temática dessas eleições, como de eleições passadas, não é a dos nossos problemas candentes, mas apenas os popularizados pelo noticiário alarmista do dia a dia. Processos políticos não são definidos pela popularidade manipulada, os assuntos que causam apreensão e incerteza. O noticiário não expressa o que somos nem mesmo os nossos carecimentos. E o mesmo se pode dizer dos resultados de pesquisas de opinião eleitoral. O que cabe no formulário e nas perguntas pré-formuladas não é necessariamente o que inquieta as pessoas. Há um abismo antropológico entre o perguntado e o respondido.

Dora Kramer: Novidade não é posto

- Revista Veja

Cara nova nem de longe garante qualidade e inovação na política

Renovar para inovar foi o lema desta eleição até que a acomodação do terreno nos confrontou com a realidade de que ainda não será agora que os celebrados outs poderão almejar a condição de insiders. As oligarquias tradicionais dominam as disputas nos estados, os postulantes à Presidência são antigos no ramo e, no Congresso, 440 deputados e senadores de um total de 594 parlamentares serão candidatos à reeleição.

Daí parece ter tido vida curta a ideia daqueles movimentos cujo propósito seria renovar a política mediante a eleição de jovens desprovidos de compromissos político-parti¬dários anteriores, oriundos de variados setores da sociedade. A constatação provoca certo desalento. Segundo alguns autores, alimenta a desesperança e cultiva a descrença no futuro. Seja ele próximo ou distante.

A cena vista assim do alto faz algum sentido. Um olhar mais atento ao detalhe, porém, produz outro panorama, abre espaço à controvérsia, suscita dúvidas pertinentes. A novidade, em si, terá mesmo todo o peso que se diz? Sozinha garante mudança para melhor ou reflete a ansiedade ilusória de que apenas trocando o elenco se melhora o espetáculo? Não seria indispensável dar uma boa revisada no enredo?

Rogério Furquim Werneck: Primitivismo e despreparo

- O Globo

Bolsonaro continua incapaz de juntar três frases que façam um mínimo de sentido sobre política econômica

Amenos de 45 dias do primeiro turno da eleição presidencial, é hora de confrontar os enormes desafios com que o país se depara com as reais possibilidades de avanço que serão abertas pelo desfecho do processo eleitoral em curso.

Não é pouco o que se espera do próximo presidente: lucidez no diagnóstico, convicção sobre o rumo a seguir e capacidade de articulação política para assegurar governabilidade e explorar os limites do possível nas negociações com o Congresso. É com base nesses requisitos que terão de ser avaliadas as possibilidades do próximo governo, em diferentes desfechos da eleição presidencial. E, nessa avaliação, é importante saber separar o que é análise do que é simples torcida e autoengano.

A questão crucial é como assegurar uma saída ordenada do colossal atoleiro fiscal em que o país foi metido que possa viabilizar a retomada do crescimento econômico sustentado. A gravidade do quadro fiscal já não deixa espaço para que o novo governo tergiverse sobre a mudança de regime fiscal que se faz necessária.

Não é o caso de prometer consolidação fiscal imediata. A experiência recente mostrou quão eficaz pode ser um esforço de ajuste fiscal gradual, desde que sua credibilidade seja respaldada por uma sequência de medidas efetivas convincentes, a começar pela reforma da Previdência. É preciso saber deflagrar um círculo virtuoso, em que bons resultados na economia reforcem o apoio do Congresso à persistência do ajuste fiscal.

Ricardo Noblat: Coração de Temer bate por Haddad

- Blog do Noblat | Veja

Esta será a eleição do tudo pode

A alguns dos seus ministros mais próximos, o presidente Michel Temer confidenciou que votará em Fernando Haddad (PT) no segundo turno caso ele enfrente Jair Bolsonaro (PSL) ou Ciro Gomes (PDT).

Nos cálculos de Temer, Haddad disputará o segundo turno e, possivelmente, contra Bolsonaro. Ele não crê nas chances de Ciro desbancar qualquer um dos dois. De resto, tem horror a Ciro.

Temer acha que a eleição de Bolsonaro representaria um risco grande para o país, porque ele é um político imprevisível e teria muita dificuldade para se entender com o Congresso e a Justiça.

Não poderá, como presidente da República, tomar partido publicamente de nenhum candidato. E reconhece que se o fizesse prejudicaria o escolhido.
Por fidelidade ao seu partido, no primeiro turno Temer votará em Henrique Meirelles (MDB), apesar de ele recusar-se a defender o governo e preferir a companhia de Lula na sua propaganda.

Onde se plantando tudo dá
Que país original, o nosso. Condenado, preso e impedido por lei sancionada por ele mesmo de ser candidato a presidente, Lula diz que será de qualquer jeito – e milhões de pessoas simplesmente acreditam. E prometem que lhe darão seu voto.

Enquanto isso…

Em campanha como candidato a vice-presidente, Fernando Haddad é de fato candidato a presidente, mas jura que não é e que sequer pensa em tal coisa. E milhões de pessoas acreditam que ele diz a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade.

Geraldo Alckmin tem preferência dos brasileiros para o segundo turno

- Reportagem: Shirley Loiola

O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, tem a preferência dos eleitores nas simulações das pesquisas do Datafolha para o segundo turno divulgadas nessa quarta-feira (22). O tucano – que fechou a maior aliança partidária para outubro, com nove partidos– afirmou que vai trabalhar para chegar ao segundo turno. “A campanha vai começar mesmo dia 31, quando começa o horário do rádio e na televisão. Estamos otimistas para chegar ao segundo turno.”, disse.

Geraldo Alckmin afirmou que acredita na campanha e no julgamento dos eleitores. “Política você não obriga, você conquista”.

O ex-governador de São Paulo disse ainda nessa quarta-feira (22), em Gurupi (TO), que todos os concorrentes querem enfrentar Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno das eleições.

“O que todo mundo quer é o Bolsonaro no segundo turno, porque ele perde para qualquer um. Agora, nós vamos trabalhar para chegar ao segundo turno e vamos chegar”, declarou.

Em um segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro, o tucano aparece na frente do deputado federal. Nessa simulação, o ex-governador de São Paulo tem 38% das intenções de voto. Jair Bolsonaro aparece com 33%. Geraldo Alckmin também sai na frente de Ciro e Haddad.

Alckmin reitera confiança de que estará no segundo turno das eleições deste ano

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, reiterou na quarta-feira (22/08), em agenda no Tocantins, sua confiança de que estará no segundo turno das eleições deste ano. Ao comentar a mais recente pesquisa Datafolha, o presidenciável ressaltou que o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV deve provocar profundas alterações no cenário eleitoral. Sobre o levantamento, afirmou: “O que todo mundo quer é enfrentar o Bolsonaro no segundo turno, porque ele perde para qualquer um”.

Após visitar um frigorífico na cidade de Gurupi, Alckmin destacou a importância da agropecuária para o Estado e para todo o país: “É um dos polos mais dinâmicos da economia brasileira. Nós vamos ser o celeiro do mundo, ninguém vai produzir tanto grão, tanto alimento, tanta proteína animal como o Brasil”. “O agronegócio não cria emprego só no campo, cria também na cidade, no setor de serviços e na indústria”, completou.

Ele ressaltou a necessidade do investimento em infraestrutura. “É preciso melhorar as rodovias e ampliar o sistema ferroviário, fazer hidrovias, interligar os modais. Essa região vai crescer de maneira geométrica, mas, para isso, o produto precisa chegar ao porto”, disse.

O presidenciável disse ter otimismo para a retomada do emprego e do crescimento. “Não existe uma bala de prata, mas um conjunto de medidas macro e microeconômicas que vão fazer toda a diferença. Se recuperarmos a confiança, vai ter investimento. E, se tiver investimento, vai ter crescimento e geração de empregos.”

Alckmin mira eleitor evangélico de Bolsonaro

Por André Guilherme Vieira e Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - Patinando em modestos 6% nas intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha divulgada anteontem, o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) intensifica a aproximação com lideranças evangélicas para ampliar seu eleitorado e garantir lugar no segundo turno da eleição.

Ontem, Alckmin manteve encontro reservado por cerca de uma hora com o líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, Valdemiro Santiago, na sede da designação religiosa, no Brás, em São Paulo. Também participou da reunião o ex-prefeito de São Paulo e candidato do PSDB ao governo do Estado, João Doria.

Em seguida os candidatos tucanos assistiram, em pé e ao lado de Santiago, ao culto realizado por ele, que teve pregação bíblica e louvores embalados por canções. O sermão religioso ocorreu à porta fechada e seguranças do templo foram orientados a barrar a entrada de jornalistas. Alckmin e Doria deixaram o local sem falar com a imprensa. O candidato a presidente seguiu para o aeroporto de Congonhas para cumprir agenda de campanha em Petrolina (PE).

Templos evangélicos podem funcionar como caixa de ressonância para políticos "apadrinhados" por seus líderes. O censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou os evangélicos como o segmento religioso que mais cresceu: 42,3 milhões de pessoas ante 26,2 milhões contabilizados em 2000. A Igreja Mundial aparece no censo de 2010 com 315 mil fiéis. A Assembleia de Deus ainda detém o maior número de evangélicos no Brasil, 12 milhões, segundo o IBGE.

A aproximação de Alckmin com líderes evangélicos faz parte da estratégia de capturar o eleitorado de Bolsonaro, líder das pesquisas de intenção de votos com 19%, de acordo com o Datafolha. A campanha do tucano ainda não definiu como fará o ataque ao candidato do PSL durante os cinco minutos e 32 segundos de tempo que terá no horário gratuito da TV e do rádio, a partir de 31 de agosto.

Alckmin quer recuperar São Francisco e fazer a água chegar a mais áreas

Em visita a Petrolina, em Pernambuco, o candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, defendeu obras para recuperar o Rio São Francisco e fazer a água chegar a mais áreas. “É preciso salvar o rio. Faremos um grande projeto para revitalizar nascentes e tratar o esgoto de 115 municípios”.

O presidenciável assumiu o compromisso de concluir o Canal do Sertão: “Onde a água chega, a vida das pessoas muda, a produção cresce muito”. Segundo Alckmin, haverá grande geração de empregos nas obras, na agricultura e na indústria. “Vamos promover o desenvolvimento na região”, completou.

Alckmin afirmou que vai priorizar as regiões mais carentes: “É onde o investimento mais faz a diferença na vida das pessoas, onde há a melhor relação custo benefício”. O objetivo principal é recuperar a economia brasileira e gerar empregos: “É a prioridade absoluta”.

Presidenciáveis definem suas estratégias para TV

O TSE divulgou a divisão do tempo da propaganda eleitoral, que começa em uma semana e tem como marca a disparidade. Geraldo Alckmin (PSDB) tem 434 inserções em rádio e TV, maisque a somados outros cinco presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas. Eles definem, agora, estratégia para o programa.

Tempo de TV determina estratégias

Alckmin terá espaço de sobra; Bolsonaro vai focar em vídeos na web

Dimitrius Dantas, Jussara Soares, Luís Lima, Sérgio Roxo e Silvia Amorim| O Globo

A uma semana do início do horário eleitoral gratuito, a preparação dos principais candidatos à Presidência para os programas em rádio e TV revela o quanto o tempo nos programas vai ditar a estratégia para alcançar o eleitor. Ao mesmo tempo em que avaliam a melhor forma para apresentar propostas, os candidatos se concentram para tentar diminuir o potencial de crescimento dos adversários nas pesquisas de intenções de voto.

Dados divulgados ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram grande diferença do tempo de exposição. Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas no cenário sem o nome do ex-presidente Lula, terá direito a 11 inserções em 35 dias de campanha, enquanto o tucano Geraldo Alckmin, quarto colocado nas sondagens sem Lula, terá, no mesmo período, direito a 434 inserções. Do PDT, Ciro Gomes contará com 51 programas de 30 segundos até o fim da campanha. Já Marina Silva (Rede) contará com 29 inserções.

Com o maior tempo, a campanha de Alckmin estuda qual a melhor forma para roubar votos de Jair Bolsonaro usando a TV. Inserções já foram gravadas e estão sendo testadas para analisar o impacto, principalmente no público feminino. Este é o segmento em que o desempenho de Bolsonaro é o mais baixo segundo as pesquisas eleitorais.

No início da próxima semana, Alckmin e sua equipe têm reunião marcada de alinhamento de estratégias para a estreia no rádio e TV. Para alguns aliados, no entanto, o tucano deveria se apresentar desde o início mais ofensivo. A dúvida é se a estratégia agressiva na TV renderá benefícios ao candidato.

Sob pressão, Alckmin revê estratégia nas redes sociais para eleição

Campanha tucana troca coordenador de mídias sociais, área considerada chave por causa da forte presença de Bolsonaro; aliados cobram narrativa para ‘desconstruir’ rival

Pedro Venceslau, Adriana Ferraz e Vera Rosa | O Estado de S.Paulo

As mais recentes pesquisas sobre a eleição presidencial 2018 que mostram Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, ainda no patamar de um dígito das intenções de votopressionam a equipe de comunicação da campanha e causaram a primeira baixa no time do tucano. Responsável pela área digital, o publicitário Marcelo Vitorino foi retirado do cargo nesta quinta-feira, 23. Tucanos e aliados admitem reservadamente que a campanha ainda não encontrou uma narrativa nas redes sociais para “desconstruir” o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e alavancar Alckmin.

Bolsonaro lidera as sondagens no cenário sem a presença de Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso na Lava Jato e registrado como candidato do PT. As redes sociais são consideradas um elemento-chave na campanha de Alckmin por ser uma arena na qual Bolsonaro tem a presença mais consolidada. No Facebook, por exemplo, o candidato do PSL possui 5,5 milhões de seguidores; Lula tem 3,7 milhões e Alckmin, 912,6 mil.

O Estado apurou que o candidato do PSDB está insatisfeito com a ação nas redes sociais e que Vitorino também se desentendeu com membros da equipe do marqueteiro Lula Guimarães. Dirigentes de siglas do Centrão – grupo formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB – também estão incomodados e disseram a Alckmin que a campanha precisa mudar e expor fragilidades e contradições de Bolsonaro.

Na avaliação do bloco, as mídias sociais do candidato estão muito “burocráticas” e não atraem eleitores. A pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, divulgada na segunda-feira, mostrou Alckmin com 7% das intenções de voto no cenário sem Lula. Bolsonaro lidera com 20%, Marina Silva (Rede) tem 12% e Ciro Gomes (PDT), 9% - resultado fez as campanhas reverem suas estratégias, como mostrou o Estado. Já na pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira, 22, Alckmin apareceu com 9% das intenções de voto no cenário sem Lula.

Bolsonaro está na frente do ex-governador no Estado de São Paulo e tem avançado sobre o eleitorado tucano. Nesta semana o candidato do PSL iniciou um périplo pelo interior paulista, tradicional reduto do PSDB – na quarta-feira, 22, vinculou Alckmin à Lava Jato.

A campanha de Alckmin ainda testa a melhor forma de atacar Bolsonaro. Embora haja a convicção da necessidade de se iniciar o quanto antes uma ofensiva contra o rival, o diagnóstico é o de que todo o cuidado é pouco para não perder apoio.

Bolsonaro quer ensinar criança a usar armas

Por Cristiane Agostine | Valor Econômico

ARAÇATUBA (SP) - O candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro (RJ), disse ontem que ensinou os próprios filhos a atirar quando eles tinham cinco anos e que "encoraja, sim", esse tipo de prática para evitar que haja uma geração de "covardes" na sociedade. "Não podemos mais ter uma geração de covardes, de ovelhas, morrendo nas mãos de bandidos sem reagir", afirmou, depois de participar de atos de campanha nas cidades de Araçatuba e Glicério, no interior do Estado de São Paulo.

Bolsonaro criticou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e disse que esse conjunto de normas deve ser "rasgado e jogado na latrina". "Defendo que um pai ensine o que é uma arma de fogo para seu filho, para que serve".

Bolsonaro encoraja pais a ensinarem crianças a atirar
O candidato à Presidência pelo PSL, deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), afirmou ontem que seus filhos atiram com arma de fogo desde os cinco anos e que "encoraja, sim" esse tipo de conduta, para evitar que haja uma geração de "covardes" na sociedade. O presidenciável disse ainda que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deve ser "rasgado e jogado na latrina".

"Defendo que um pai ensine o que é uma arma de fogo para seu filho, para que serve. Nas comunidades tem moleque usando fuzil maior do que ele. Não podemos criar uma geração de covardes, de submissos", afirmou, ao lado de seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e candidato à reeleição.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 242, proíbe a conduta de "vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo". A pena prevista é de três a seis anos de reclusão.

O presidenciável defendeu também a redução da maioridade penal e voltou a atacar o estatuto, que preserva os direitos de crianças e adolescentes. "Esse ECA tem que ser rasgado e jogado na latrina. Não pune o menor. Tem que reduzir a maioridade penal, se possível para 14 [anos]. Se não der, [reduz] para 17, 16 [anos]. Esse ECA é um estímulo à vagabundagem, à malandragem", afirmou. "Tem gente achando que eles [menores de idade] não estão devidamente formados ainda e têm que ter outra chance. Se matar ou estuprar um parente meu pode ter certeza de que esse cara não vai ter outra chance não. "

Desconhecido, Haddad deve ser poupado de ataques

Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - Embora seja tratado como provável candidato muito competitivo à Presidência, o petista Fernando Haddad, inscrito como vice de Luiz Inácio Lula da Silva, tende a ser poupado de ataques na arena eleitoral. Pelo menos no primeiro momento. O refresco não tem relação com qualquer pacto antibeligerante. Deverá ser preservado, na avaliação de analistas, por razões pragmáticas e circunstanciais: rivais simplesmente não têm estímulos para acionar a artilharia.

Haddad tem 4% no Datafolha quando seu nome aparece no lugar de Lula, o mesmo patamar de Alvaro Dias (Podemos). É menos que Jair Bolsonaro (PSL), 22%; Marina Silva (Rede), 16%; Ciro Gomes (PDT), 10%; e Geraldo Alckmin (PSDB), 9%. Diferentemente dos demais, ele permanece como uma figura desconhecida de quatro de cada dez brasileiros. Outros 27% o conhecem "só de ouvir falar".

No encurtado período de propaganda de rádio e TV, um dos maiores desafios do PT será reverter o desconhecimento. É uma necessidade que se tornará urgente quando Lula for excluído da disputa, cenário dado como certo no meio político. Estrategistas avaliam que se antecipar a isso e atacar Haddad desde já poderia servir para começar a desgastar sua imagem. Mas contribuiria ainda mais para torná-lo conhecido - justamente o que o PT mais precisa.

Outra situação de contexto que desestimula ataques a Haddad é a expectativa de postulantes com o "espólio" de Lula, que lidera com 39% quando é apresentado como opção. Isso vale especialmente para Marina e Ciro, explica o cientista político Marco Antônio Teixeira.

As intenções de voto em Marina e em Ciro dobram quando Lula sai da disputa. Para 16% e para 10%, respectivamente. Nas duas situações, o incremento é de "lulistas em disputa". São eleitores simpáticos ao ex-presidente que podem estranhar e desaprovar a ideia de Marina ou Ciro hostis ao ex-ministro de Lula, que hoje é seu vice.

A eleição do pavor

O susto é geral

As pesquisas, que mostram a liderança de Lula e Bolsonaro, assustam quase todos os segmentos do eleitorado e derrubam teses a respeito dos rumos da disputa

Por Edoardo Ghirotto e Daniel Pereira | Revista Veja

Os resultados das últimas pesquisas eleitorais — as primeiras feitas depois do início dos debates de candidatos na TV — conseguiram a façanha de produzir uma sucessão de sustos. Os levantamentos dos institutos Ibope e Datafolha, feitos entre os dias 17 e 21, apontaram o crescimento ininterrupto de um candidato preso, o fortalecimento de um radical de direita e a inércia perene dos concorrentes situados mais ao centro do leque ideológico. As três variáveis juntas fizeram com que antipetistas se assombrassem diante da possibilidade de o ex-presidente Lula eleger um novo poste; democratas estremecessem ao constatar que Jair Bolsonaro (PSL) hoje tem lugar garantido no segundo turno; e o mercado financeiro se dissolvesse em medo ao ver o tucano Geraldo Alckmin, o preferido do setor, outra vez emperrado na casa de um dígito, ainda que agora disponha da mais ampla aliança partidária do pleito. Só quem viu motivo para otimismo, e mesmo assim com ressalvas, foram os eleitores de Lula.

O candidato-presidiário, além de liderar o primeiro turno com 39% das intenções de voto, venceria Marina Silva (Rede), Alckmin e Bolsonaro na segunda rodada — em todos os casos, por uma diferença de pelo menos 20 pontos porcentuais. Os quase cinco meses de prisão de Lula, portanto, não resultaram na perda de apoio ao petista. Ao contrário. E essa é uma das três teses correntes que as últimas pesquisas jogaram por terra. Até há bem pouco tempo, analistas afirmavam que, atrás das grades, Lula seria rapidamente esquecido pelo seu eleitorado, abrindo alas para o crescimento de Ciro Gomes ou Marina Silva. As coisas não transcorreram bem assim. Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, a maior exposição do petista depois da Copa do Mundo ajuda a explicar seu crescimento. Eventos, marchas a Brasília e o pedido de registro de uma candidatura que sabidamente não será oficializada fomentaram a fantasia de que Lula disputará a Presidência e, ao mesmo tempo, impediram a dispersão de seu eleitorado. Na guerra da comunicação, o PT conseguiu manter o ex--presidente em evidência.

O segundo mito derrubado pelos últimos levantamentos diz respeito a Bolsonaro. Do deputado federal e capitão da reserva, afirmava-se que repetiria a trajetória de candidatos que começam com bom desempenho nas pesquisas pré-¬campanha mas se desidratam tão logo seus concorrentes põem o pé na estrada. Bolsonaro continua firme, porém exibiu uma fraqueza. Depois de, no debate da RedeTV!, levar uma invertida de Marina Silva, que o acusou de querer resolver tudo “no grito”, Bolsonaro decidiu não participar mais dos debates. Do seu ponto de vista, é uma decisão sábia. Os debates estavam revelando seu alarmante despreparo. Em alguns casos, ele nem sequer entendia as perguntas e respondia a elas enfileirando os bordões de sempre.

Mesmo assim, com sua fidelíssima fatia de um quinto do eleitorado, Bolsonaro parece ter garantido presença no segundo turno, o que põe em xeque outra tese recorrente entre observadores da política: a de que, da mesma forma que ocorreu nas últimas seis eleições presidenciais, petistas e tucanos encabeçariam a disputa em 2018.

Os entusiastas dessa tese partem do princípio de que a base do eleitorado é racional e, quando chegar à urna, optará por um nome já testado — o que favoreceria o poste de Lula e também Geraldo Alckmin, governador de São Paulo por treze anos. O economista Anthony Downs, do Instituto Brookings, de Washington, desenvolveu a chamada “teoria econômica da democracia”, em que defende a ideia de que a massa do eleitorado é racional porque vota de maneira autointeressada, privilegiando a satisfação de objetivos individuais. Esse raciocínio tende a se traduzir na manutenção de candidatos que já tenham comprovadamente favorecido o eleitor. Mas as pesquisas de Downs, feitas nos anos 1950, não levaram em conta variáveis contemporâneas, como a influência da internet e das redes sociais, a crise de representatividade que domina a política e a insatisfação dos indivíduos com as democracias no mundo. Sob esses três novos aspectos ainda pouco estudados, Bolsonaro, que nunca foi testado, leva vantagem.

No limite do autoritarismo

Por Ricardo Lessa | Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

As instituições democráticas levam algum tempo para serem construídas, mas podem ser destruídas muito rapidamente

SÃO PAULO - Mesmo no hemisfério Norte, a quase 7.000 km de Brasília, é possível captar os sinais da polarização do cenário eleitoral brasileiro. O centro de estudos latino-americanos da Universidade Harvard, em Cambridge, área metropolitana de Boston, tem sido um lugar privilegiado de observação. Os principais políticos e integrantes do Judiciário, como Sérgio Moro, têm sido convidados para dar palestras por lá, ao lado de empresários e ídolos pop, como Anitta, e lideranças de movimentos populares, como o criador da Central Única das Favelas, Celso Athayde.

Com um grande número de alunos e professores brasileiros, e todos os recursos mais modernos de informação, os acadêmicos de Harvard mantêm radares sintonizados para acompanhar o que ocorre no hemisfério Sul. Nada substitui, porém, a presença ao vivo e o contato face a face.

Um dos autores de "Como as Democracias Morrem", cuja tradução para o português será lançada pela Zahar no próximo mês, Steven Levitsky, de 50 anos, já havia visitado todos os países da América Latina, fora o Paraguai e o Brasil. Segundo ele, no caso brasileiro, por dificuldades com a língua portuguesa. Nesse cenário, nada melhor do que um bacalhau à lagareira para apurar a língua neste "À Mesa com o Valor", que ocorre em um restaurante de tradição lusa: o Bela Sintra, na região dos Jardins, em São Paulo.

Não que o bacalhau, ou "codfish" no idioma de Levitsky, fosse estranho a esse estudioso de assuntos com profundas raízes ibéricas. Mesmo nas proximidades de seu local de trabalho, em Boston, há uma grande colônia de pescadores portugueses, com origens antigas, datada dos primórdios da colonização, quando os cardumes de bacalhau abundavam na costa da América do Norte. Não à toa, os peregrinos ingleses que chegaram por lá chamaram de Cape Cod o primeiro lugar onde montaram acampamento.

O bacalhau anda raro na costa americana, e as famílias dos pescadores lusitanos estão sendo substituídas por uma onda cada vez maior de brasileiros, em sua maioria mineiros, concentradamente os provenientes de Governador Valadares. Cada crise brasileira corresponde uma nova leva de imigrantes que se lançam na pescaria por oportunidades nos Estados Unidos.

Pouco antes desta entrevista, Levitsky havia tido um encontro fechado com 15 dos mais conhecidos homens de negócios de São Paulo, que concentram boa parte do PIB brasileiro. Constatou que se mostraram pouco inclinados a aceitar sua tese: é melhor se juntar ao adversário político para evitar uma aventura autoritária do que se deixar seduzir por um candidato que apresenta todas as características de um político com tendências ditatoriais.

"Nenhum dos empresários com quem conversei gosta especialmente de [Jair] Bolsonaro [PSL], mas, questionados se num segundo turno a opção fosse entre o [eventual] candidato Fernando Haddad, do PT, e Bolsonaro, eles ficariam com Bolsonaro", afirma. "Para quem não é brasileiro, mas deseja a democracia e acredita nela, é realmente preocupante."

Gal Costa - Um favor (Lupicínio Rodrigues)

Ezra Pound: Envoi

Vai, livro natimudo,
E diz a ela
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz

Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.

Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.

(tradução de Augusto de Campos)