sábado, 12 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA – Eduardo Graeff: Sinal de alerta

É necessário averiguar os vestígios de interferência política na compra da Delta pelo JBS, do qual o BNDES detém 30%. O que leva um frigorífico a se interessar, de repente, pelo setor da construção civil?

Se A operação não for bem explicada, persistirá a suspeita de que gente poderosa em Brasília agiu para ajudar um grande empreiteiro do PAC enredado nas teias do Cachoeira.
E empatando num negócio controvertido dinheiro público, representado pela participação do BNDES no JBS. (O Globo, 10/5/2012)

Os governos militares usaram o BNDES como hospital. O governo do PT, pelo jeito, começa a usar como lavanderia.

Difícil saber exatamente o que se cozinha na caixa preta do capitalismo de estado brasileiro. Mas o cheiro…

GRAEFF, Eduardo, cientista político, no Blog eagora.com.br, 10/5/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Desvio de verbas públicas deve levar à condenação de empresas
Brasilprev é usada para agradar à base
Na Comissão da Verdade, punição será informar
Brasil dá apoio a plano da ONU para jornalistas
Mãe do PAC superpoderosa

FOLHA DE S. PAULO
Para relator, é desnecessário CPI convocar procurador
Acusados de tráfico já são 24% de todos os presos do país

O ESTADO DE S. PAULO
Governo quer acabar com reajuste anual de tarifas de energia
Delta terá gestor de crises em seu comando
Comissão da Verdade agirá 'doa a quem doer', diz Dipp
Chávez 'some' e inquieta venezuelanos
Planalto pede que hotéis baixem diária na Rio+20

CORREIO BRAZILIENSE
TJDF quebra sigilo de Cachoeira e mais sete
Até matadores atuavam a serviço do bicheiro
Membro da Comissão da Verdade já pediu pena a torturadores
Prisão no Brasil: 40 anos como pena máxima

ESTADO DE MINAS
Mão na massa da casa própria
Foxconn: Parceria para atrair indústria

ZERO HORA (RS)
Entrevista ZH: "O Brasil vai ser passado a limpo"
Contrabando: Fiscalização frágil nas fronteiras

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Cresce o número de assaltos

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Desvio de verbas públicas deve levar à condenação de empresas

Comissão de reforma do Código Penal aprova mudança; hoje só pessoa física é punida

A condenação por crimes contra a administração pública, como corrupção e desvio de verbas, poderá ser estendida a empresas. A proposta já foi aprovada pela Comissão de Juristas criada pelo Senado para discutir mudanças no Código Penal e será levada a debate na Casa. Hoje, só pessoas físicas são condenadas por corrupção, e empresas têm apenas penalidades como multas e proibição de firmar novos contratos. "A responsabilidade penal possui um peso, um estigma. É diferente da infração administrativa ou civil", disse o presidente da comissão, o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça. Ele evitou comentar se a Delta, envolvida no escândalo do bicheiro Cachoeira, se enquadraria na situação caso a regra estivesse em vigor.

Empresa corrupta poderá ter condenação

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Evandro Éboli

BRASÍLIA - A Comissão Especial de Juristas que elabora proposta de um novo Código Penal aprovou ontem a punição criminal das empresas privadas por atos contra a administração pública, como corrupção, peculato e desvio de verba. Hoje, apenas a pessoa física corre risco de ser condenada. As empresas, pelas leis atuais, são responsabilizadas apenas em casos de crimes ambientais.

As penalidades para as empresas condenadas variam, desde a prestação de serviço comunitário por parte do responsável e multas até a proibição, por até um ano, de estabelecer contrato com empresas estatais, de participar de licitações, de obter financiamentos de bancos oficiais e até perda de bens e valores. Essas privações podem ser prorrogadas, dependendo do caso e se houver reincidência. A proposta da comissão será avaliada pelos senadores. Só então será transformada em projeto de lei e começará a tramitar no Senado. Depois o projeto ainda tem que passar pela Câmara e ir à sanção presidencial.

O presidente da comissão, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Gilson Dipp, evitou comentar se a construtora Delta, envolvida no escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, se enquadraria nessa situação caso as regras aprovadas ontem estivessem em vigência.

- A responsabilidade penal possui um peso, um estigma que só a dignidade de uma norma penal tem. É muito diferente da infração administrativa ou civil - afirmou Gilson Dipp, que foi escolhido anteontem pela presidente Dilma Rousseff para integrar, também, a Comissão Nacional da Verdade.

Serão considerados atos cometidos pelo representante legal da empresa; ou contratual da empresa jurídica; ou ainda pelo colegiado dirigente. O critério a ser levado em conta é se o ato de infração gerou benefícios para a empresa. De acordo com Gilson Dipp, as medidas aprovadas ontem, se adotadas, vão repercutir sobre as empresas e seus dirigentes por seus efeitos econômicos.

- São penas compatíveis com a natureza da pessoa jurídica. Evidentemente que não se pode por uma empresa na prisão - explicou Dipp, que, ao comparar com legislações de outros países, considerou que o Brasil está muito atrasado nessa área.

A proposta de punir empresas privadas que praticam corrupção foi apresentada pelo relator do novo Código Penal, o procurador da República Luiz Carlos Gonçalves. O tema gerou muito debate na comissão, formada por especialistas, juristas e advogados renomados que atuam no mercado.

- As empresas sempre se safavam. Usavam seus funcionários como laranjas e eles eram os únicos responsabilizados - disse Luiz Carlos Gonçalves.

O desembargador José Muiños Piñeiro Filho, do Tribunal de Justiça do Rio e integrante da comissão, defendeu as novas medidas.

- É uma discussão polêmica e a comissão tem aprovado propostas rigorosas aos crimes que lesam o erário - disse José Muiños Piñeiro.

O grupo aprovou também ontem que, no julgamento de indígenas que cometem crimes, seja levado em conta os "costumes e crenças dos povos". O índio poderá, por exemplo, ser isento da pena ou, em caso de condenação, ter sua pena reduzia. E ainda será elaborado um laudo antropológico para saber se o indígena acusado de crime sabia que estava infringindo.

A Comissão de Juristas já aprovou a criminalização do enriquecimento ilícito do servidor público; considera como atenuantes se um condenado for doador de sangue ou de órgão; e ampliou hipóteses dos abortos legais.

FONTE: O GLOBO

Planalto não convence nem a base ao negar interferência em compra da Delta

Membro da J&F confirma que governo foi consultado; empresa pode ser declarada inidônea

Cristiane Jungblut, Paulo Celso Pereira e Gustavo Uribe

BRASÍLIA - A versão do Planalto de que o governo não incentivou ou sequer avalizou a compra da construtora Delta pelo grupo J&F Holding - reforçada ontem em nota do Palácio do Planalto à imprensa - não convence nem aliados governistas no Congresso. A avaliação feita por deputados e senadores da base, nos bastidores, é que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles não tomaria a frente de uma operação delicada como esta sem o aval do governo.

Um membro da J&F Holding, ouvido pelo GLOBO, confirmou que houve uma consulta ao governo antes da costura do acordo para a compra da Delta. Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", Batista Junior afirmou que o governo federal tem interesse que a companhia atravesse esse momento de turbulência e dê continuidade às obras estratégicas, sobretudo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Em nota lida pelo porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, o governo nega interferência do Planalto nas negociações, afirmando que "são falsas as ilações de que a referida operação teve aval deste governo". Lembrou que está em curso na Controladoria Geral da União (CGU) o processo de decretação de inidoneidade da Delta.

A nota foi para contestar declarações de José Batista Junior, um dos controladores do Frigorífico JBS, publicadas ontem na "Folha de S. Paulo". Ele afirma que todo negócio é do conhecimento e tem o aval do governo federal.

Sendo ou não do interesse do governo, a operação de venda da Delta deveria ser impedida pela presidente Dilma Rousseff, defendeu ontem o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Classificando como "escândalo e vigarice" a venda da Delta, Simon afirmou que Dilma deveria chamar seus principais auxiliares e tomar providências:

- Acho um escândalo deixarem a Delta ser vendida na situação de hoje. E quem vai comprar a Delta é uma empresa que, com o dinheiro do BNDES, se transformou no maior frigorífico do mundo. Parece que, nesse negócio, o BNDES vai ficar sócio da Delta. O governo tem que interferir, tem que proibir, tem que considerar a Delta uma empresa inidônea - discursou Simon. - Presidente Dilma, essa ação exige a sua ação direta. Chame o presidente do BNDES, o presidente do Banco Central, o ministro da Fazenda, o ministro da Justiça e tome as providências. Não pode vender a Delta, enquanto ela estiver no meio desse comício todo.

Mostrando reportagem de ontem do GLOBO - "Venda da Delta está sob suspeita" -, Simon esbravejou:

- Suspeita uma ova! É vigarice, vender agora!

O tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) contestou o negócio:

- O seu próprio dono, Fernando Cavendish, disse que ela está quebrada. Então, isso não tem cabimento!

Até Delcídio Amaral (PT-MS) estranhou a negociação:

- Acho estranha essa operação quando você tem a CGU analisando a idoneidade da Delta.

Parlamentares da base afirmam, nas conversas reservadas, que o negócio não sairia do papel sem aval do Planalto.

- Essa operação lembra a do Casino-Pão de Açúcar. O governo inicialmente incentivou, mas diante da reação da opinião pública quis voltar atrás. Evidente que há aval do governo, até pelo protagonismo dela no PAC - diz um experiente deputado da base.

O PSDB quer que o empresário Joesley Batista, presidente da J&S, holding do JBS, e o presidente do BNDES deem esclarecimentos sobre a operação.

- Foi uma compra inusitada, num formato inusitado e com a participação inusitada do governo federal como agente interessado - criticou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Ontem a J&F Holding, que tem em sua presidência Joesley Batista, desautorizou ontem declarações do irmão dele, José Batista Junior. Em nota, a J&F Holding afirmou que as declarações de Batista Junior refletem "única e exclusivamente uma opinião pessoal" e estão em completo desacordo com os fatos: "A J&F esclarece que José Batista Junior, um dos acionistas da holding, não ocupa um cargo executivo no grupo há sete anos e, portanto, não participa das decisões estratégicas da J&F. Consequentemente, não foi envolvido na negociação com a Delta Construções, tampouco consultado".

FONTE: O GLOBO

Presidente do BNDES critica inquérito sobre venda da Delta

Para Luciano Coutinho, banco não corre risco, e investigação não tem fundamento

Marcio Beck

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu ontem a participação do banco na JBS, principal empreendimento do grupo J&F, que assumirá o controle da Delta Construções, e criticou a investigação que o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ) fará sobre a venda da construtora, para o grupo J&F, alegando riscos de o dinheiro do BNDES ser usado na operação.

Reiterando o que a instituição sustentou em nota emitida na tarde de ontem, Coutinho afirmou ainda que não existe ligação entre os negócios da JBS - maior empresa de proteína animal (carnes) do mundo, de cujas ações o BNDES tem 31,4% - com a operação para salvar a construtora Delta, envolvida em denúncias de corrupção.

-- Não há fundamento (para o inquérito), não há risco (de dinheiro do BNDES ser usado na operação). São coisas inteiramente diferentes. Estamos absolutamente tranquilos - afirmou o presidente do BNDES, após o encerramento do seminário Política Industrial para o Século XXI, promovido pelo banco.

Coutinho, que falou rapidamente com os jornalistas, disse que o banco zelará para que não haja "riscos em termos de estrutura", sem explicar exatamente o que isso significaria.

- Essa é uma operação apartada, feita pela holding, das pessoas físicas. É também interesse dos acionistas (da JBS) que a empresa seja saudável e que não haja nenhum relacionamento entre uma coisa e outra (a participação do banco na empresa e a compra da Delta pelo J&F) - afirmou.

A abertura do inquérito, que será tocado pela Procuradoria da República no Rio de Janeiro, por ser o lugar onde está instalada a sede da Delta, foi anunciada ontem pelo procurador-chefe substituto da Procuradoria Regional da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo), Nívio de Freitas Silva Filho. O procedimento será instaurado por um procurador da área patrimonial do MPF-RJ.

De acordo com Nívio de Freitas, o procurador deverá decidir a linha de atuação, incluindo a possibilidade de pedir a indisponibilidade dos bens da Delta e de seus executivos, bem como recomendar ao BNDES que deixe de fazer novos aportes na companhia, que pode ser declarada inidônea pela Controladoria Geral da União (CGU). Se isso ocorrer, a empresa ficará banida de contratos públicos por dois anos. Ao fim desse período, poderá se reabilitar, mas somente se as irregularidades que levaram à declaração de inidoneidade forem sanadas.

FONTE: O GLOBO

Delta terá gestor de crises em seu comando

A holding J&F escolheu o executivo Humberto Junqueira de Farias para dirigir a Delta, empreiteira que está no centro do escândalo Cachoeira e é uma das principais parceiras do PAC. O perfil de Farias é o de um gestor de crises cumpridor de metas e conciliador. Integrantes do governo, porém, não acreditam que a venda da Delta vai dar certo, principalmente porque a Controladoria-Geral da União deve declarar a empresa inidônea.

Gestor de crises vai comandar "nova Delta"

Espírito conciliador alçou Humberto Farias à presidência da empresa controlada pela J&F

Eduardo Magossi, Ricardo Leopoldo

A escolha do executivo Humberto Junqueira de Farias para dirigir a Delta Construções, conforme antecipou ontem o serviço AE Broadcast, não causou surpresa ao mercado. A empresa está no epicentro do escândalo que envolve o contraventor goiano Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e é uma das principais parceiras do governo federal na execução das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O executivo, de 44 anos, é conhecido pela habilidade de encarar desafios e cumprir metas. Foi justamente este perfil, classificado como conciliador, a razão de ter sido o escolhido pelo magnata indiano do açúcar Narendra Murkumbi, para dirigir aqui suas operações, na Renuka do Brasil, onde estava até então. Antes, conforme perfil do executivo distribuído à imprensa pela J&F, trabalhou por 15 anos na Camargo Corrêa, onde alcançou a posição de presidente da Divisão de Cimentos e, anteriormente, foi presidente da Cavo, empresa do ramo de gestão ambiental.

Aclimatação. Farias, engenheiro civil de formação e especializado em gestão na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e no IMD, na Suíça, foi um dos principais responsáveis pela aclimatação dos indianos na produção de açúcar e etanol no Brasil.

Na Renuka, com proprietários habituados a um mercado mais regulado pelo governo e a uma tecnologia aquém da existente no Brasil, Farias contribuiu para que o "choque cultural" entre a empresa indiana e governo e setor sucroalcooleiro brasileiros fosse minimizado.

Ao assumir a empresa, logo de cara o executivo enfrentou uma crise com os fornecedores de cana, que estavam sem pagamento desde a gestão anterior, conseguindo encontrar um equilíbrio entre os produtores e os indianos recém-chegados ao Brasil. Atualmente, o mercado posiciona as usinas da Renuka entre as melhores do País.

Além disso, em seu período como presidente da empresa indiana, Farias enfrentou duas safras com quebra na produção e direcionou, já em 2011, os investimentos para a expansão do canavial, matéria-prima cada vez mais disputada no interior de São Paulo.

Expansão. Mesmo com as quebras e sem acesso aos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para renovação do canavial, o executivo manteve a expansão do processamento das usinas da empresa, atualmente em torno de 12 milhões de toneladas por safra, o que alçou a Renuka ao ranking das principais empresas de açúcar e etanol do País.

De fala mansa e espírito conciliador, o executivo tem à frente mais um desafio, o de resgatar a credibilidade de uma empresa envolvida em um dos maiores escândalos políticos recentes do País.

A rapidez no anúncio do nome de Farias pela J&F Participações, que adquiriu a construtora Delta, está dentro da estratégia de dar um choque de credibilidade e governança corporativa à empreiteira.

Segundo fontes do mercado, a Delta Construções é vista pela holding como um ativo muito importante, que tem tudo para crescer e ser responsável por até 10% do faturamento bruto da J&F, que deve subir de R$ 65 bilhões em 2011 para R$ 80 bilhões em 2014, conforme previsões da empresa.

A holding espera melhorar a imagem da Delta nos próximos dois anos, o que poderá tornar viável a abertura de seu capital. Farias terá autonomia para montar equipe e uma das primeiras tarefas será concentrar as diretorias da construtora, espalhadas em cinco unidades, o que, na avaliação de especialistas, colaborou para que o nome da empreiteira fosse envolvido no escândalo Cachoeira.

"O objetivo principal da Delta é ter uma governança corporativa rigorosa, com regras de compliance e transparência no relacionamento com o mercado", disse uma fonte do setor.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

JBS, da J&F, doou R$ 12 milhões para campanha de Dilma

Fernando Gallo

O JBS - frigorífico pertencente à holding J&F, que adquiriu a Delta - doou R$ 12 milhões à campanha da presidente Dilma Rousseff e ao PT nas eleições de 2010. Foram R$ 9 milhões ao comitê financeiro nacional e R$ 3 milhões à direção nacional do partido. O principal adversário de Dilma nas eleições, o ex-governador tucano José Serra, e o PSDB levaram metade deste valor: foram R$ 3 milhões para o comitê financeiro da campanha e outros R$ 3 milhões para o diretório nacional.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Cavendish diz que sai da Delta para salvar empregos

Em carta de despedida, empresário chama o envolvimento com Carlinhos Cachoeira de "questões circunstanciais"

Empreiteira, que deve ter nome alterado, foi assumida pela holding J&F; novo presidente será Humberto Farias

SÃO PAULO, BRASÍLIA, RIO - Em mensagem de despedida aos funcionários, Fernando Cavendish disse que deixou o comando da Delta para evitar demissões.

"O fator que mais pesou na minha decisão de abrir mão do comando da empresa foi meu compromisso com a preservação do emprego de mais de 30 mil colaboradores."

Ele ainda disse na carta que "a Delta é maior do que todos nós individualmente".

Ontem, a empresa foi assumida pela J&F Participações, holding controladora de empresas como a JBS e a Vigor.

Cavendish deixou a empresa após ter seu nome ligado ao escândalo de Carlinhos Cachoeira.

"A Delta sempre foi um sonho para mim e para todos nós, e eu não posso permitir que esse sonho fosse prejudicado por questões circunstancias", afirmou Cavendish.

O empresário diz que sacrificou o sonho de liderar a corporação. "Faço única e exclusivamente por conhecer, mais do que ninguém, que o sonho de todos é muito maior do que qualquer um de nós de forma individual", disse.

Segundo ele, foi com "nó na garganta" que tomou a decisão. "Peço apenas que esta equipe guerreira continue a ser exemplo de determinação, de seriedade e de comprometimento", disse.

A J&F também indicou ontem o engenheiro Humberto Junqueira de Farias para a presidência da Delta, que deverá ter seu nome trocado.

Junqueira, atual presidente da usina de açúcar e álcool Renuka, trabalhou por 15 anos na Camargo Corrêa. Nela, ele foi presidente da divisão de cimentos e da Cavo, empresa de coleta de lixo e tratamento de resíduos.

BNDES

Em nota, a holding negou que o acordo tenha sofrido interferência do governo.

"A participação do BNDESPar na JBS não o torna acionista direta ou indiretamente de nenhuma empresa da holding, nem dá o direito de qualquer interferência política na J&F."

A nota diz que José Batista Junior não ocupa um cargo executivo no grupo há sete anos. "Suas declarações refletem única e exclusivamente uma opinião pessoal".

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que o banco vai "zelar" para que compra não traga "nenhum risco" para a instituição, sócia da JBS. A declaração foi uma resposta a pedido de abertura de investigação da Procuradoria.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Delta e o capitalismo 'entre amigos' :: O Globo - Editorial

Atingida pelo escândalo da descoberta do esquema mafioso de Carlinhos Cachoeira, a empreiteira Delta, campeã de obras no PAC, entrou em rota para o colapso. Sem crédito nos bancos, a empresa começou a repassar contratos - o de participação na reforma do Maracanã foi um deles -, e tornou-se questão de tempo a falência. Sem credibilidade junto a bancos e governos não há empreiteira que resista. A surpreendente decisão do grupo J&S de comprar a construtora poderia ser motivo de alívio, por salvar empregos. Mas gerou problemas para o governo federal, ao levantar suspeitas de envolvimento político em um negócio que teria sido desenhado, acusa-se, para salvar o dono da empreiteira, Fernando Cavendish.

Fosse uma decisão empresarial de mercado, não haveria qualquer desdobramento no mundo político, como aconteceu. Os indícios de envolvimento oficial existem: a holding J&S, além de ter crescido sob o impulso do BNDES, na política de criação de "campeões nacionais", tem como principal ativo o frigorífico JBS, do qual o banco estatal detém 31,4%.

O BNDES garante não ter qualquer participação na iniciativa do J&S de absorver a Delta e ainda aceitar administrar a empresa antes de qualquer auditoria interna - raridade no mundo dos negócios. O Palácio, por sua vez, em nota, tachou de "falsas as ilações de que a referida operação teve aval deste governo". Garantiu não interferir em operações privadas. Lembrou, ainda, que a Controladoria-Geral da União (CGU) audita os contratos da Delta e pode declará-la inidônea para fazer negócios com o poder público.

Consta que a presidente Dilma estaria contra a interferência oficial no imbróglio, e ontem foi incentivada pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) a manter o Estado ao largo: "É vigarice pura." Pode ser ou não. Mas tudo indica ser a decisão mais sensata para o governo.

A operação se candidata a ser exemplo de distorções causadas toda vez que o Estado resolve interferir no mercado privado a fim de induzir o crescimento de empresários escolhidos para serem os tais "campeões nacionais". No setor de frigoríficos, agora em destaque devido à polêmica em torno da Delta, o BNDES já empatou - e perdeu - dinheiro público.

Nos últimos 30 anos fortaleceu-se no Brasil, ao lado do grande aparato financeiro estatal, um forte braço sindical envolvido em bilionários investimentos, os fundos de pensão de estatais. Previ, Petros e outros atuam no alto mundo dos negócios, algumas vezes juntos com o BNDES. A escolha dos investimentos não é transparente, até porque os fundos, por lei, são entidades privadas. E o BNDES, por sua vez, não se notabiliza por ser translúcido. Se todo este cenário for analisado de um plano mais elevado, constata-se que há no Brasil instrumentos para a prática daquilo que os americanos chamam de crony capitalism, capitalismo entre amigos ou, mais adequado para o Brasil, "capitalismo de companheiros".

O Ministério Público Federal do Rio deseja barrar o negócio, porque há evidências de fraudes cometidas pela Delta no relacionamento com Cachoeira. O mesmo pedido é feito pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) à Procuradoria-Geral da República. Falta mesmo projetar luz sobre toda esta história.

Para relator, é desnecessário CPI convocar procurador

Petista diz que Gurgel pode explicar por escrito por que não investigou senador

O relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse considerar desnecessário que o procurador-geral, Roberto Gurgel, seja convocado a depor.

Gurgel tem sido pressionado a explicar por que não investigou Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) em 2009, quando a PF já tinha evidências de envolvimento do senador com o contraventor.

Relator da CPI descarta convocação de procurador

Para conter crise, deputado vai sugerir pedido de explicações por escrito

Pressões para chefe do Ministério Público justificar decisão de não investigar senador causaram mal-estar

Catia Seabra, Lúcio Vaz

BRASÍLIA - O relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse ontem considerar desnecessária a convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para prestar esclarecimentos sobre sua atuação nas investigações sobre o empresário Carlinhos Cachoeira.

O procurador tem sido pressionado para explicar por que decidiu não investigar o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) em 2009, quando a Polícia Federal colheu os primeiros indícios de sua ligação com Cachoeira.

Principal responsável pela condução das investigações na CPI, Cunha vai sugerir que Gurgel apresente suas justificativas por escrito. "A convocação é desnecessária", afirmou. "O mais importante é a resposta, o conteúdo, as questões substantivas."

Nos últimos dias, integrantes da comissão, em sua maioria petistas, questionaram o procurador-geral por não ter investigado Demóstenes em 2009 e defenderam sua convocação pela CPI.

Gurgel acusou os críticos de agirem para intimidá-lo, numa tentativa de proteger os réus do processo do mensalão, em que ele é responsável pela acusação. O caso pode ser julgado neste ano pelo Supremo Tribunal Federal.

O confronto gerou mal-estar entre a CPI e o Ministério Público, levando dois ministros do STF a saírem em defesa de Gurgel na quinta-feira.

O procurador-geral afirma que não abriu inquérito contra Demóstenes em 2009 por considerar insuficientes as evidências que a PF exibiu contra o senador na época.

Além disso, Gurgel defendeu sua decisão argumentando que ela permitiu que a Polícia Federal encontrasse mais tarde novas evidências da ligação de Demóstenes com o grupo de Cachoeira.

O presidente da CPI, Vital do Rêgo, disse ontem à Rede Globo que o requerimento para convocar o procurador será votado na próxima quinta.

"Vamos votar todos os requerimentos que envolvem o Ministério Público, as convocações dos procuradores, a possível convocação do procurador-geral e vamos estudar jurídica e tecnicamente a convocação do Ministério Público à CPI", disse ele.

Também será votado requerimento da quebra do sigilo telefônico da subprocuradora Cláudia Sampaio Marques, mulher do procurador.

Cláudia é uma das responsáveis pelo acompanhamento de processos criminais na Procuradoria e foi ela que concluiu em 2009 que não havia indícios para abrir inquérito contra Demóstenes.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

STF pode analisar convocação de Gurgel

Diante da queda de braço em torno da convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para depor na CPI do Cachoeira, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, afirmou ontem que a briga tem potencial para chegar à Corte.

– Não quero opinar sobre esse tema, pois ele tem um potencial de judicialização. Não posso dizer que é provável, mas que tem potencial (para chegar ao STF), isso tem, então eu prefiro não falar - disse Ayres Britto.

Gurgel é criticado por petistas por não ter aberto investigação contra o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) em 2009, quando recebeu os grampos de conversas telefônicas de Carlinhos Cachoeira.

Colegas de Ayres Britto, os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa passaram a defender Gurgel por considerar os ataques uma forma fragilizá-lo antes do julgamento do mensalão.

Em passagem por Porto Alegre ontem, Mendes afirmou que há "segmentos políticos que não estão interessados no julgamento" do mensalão. Para ele, o caso tem tratamento normal na Corte.

– Não há pressa nem precipitação. A denúncia foi recebida em 2007 e a instrução criminal se encerrou ano passado. O tribunal está fazendo da forma adequada.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Senadores são contra convocação de Gurgel

Pedro Simon diz que PT não cobrou agilidade do MP quando Cachoeira foi flagrado repassando dinheiro a Waldomiro Diniz

BRASÍLIA. Com a votação do requerimento de convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, marcado para quinta-feira, dia 17 - como confirmou o presidente da CPI mista do caso Cachoeira, Vital do Rêgo (PMDB-PB) -, senadores de oposição defenderam ontem o chefe do Ministério Público, com críticas à postura do PT sobre o assunto. Mais enfático na defesa do procurador-geral, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) cobrou coerência do PT e argumentou que, como procurador, Gurgel não pode ser testemunha na CPI.

O senador gaúcho lembrou que no início do governo Lula, quando Carlos Cachoeira foi flagrado repassando dinheiro a Waldomiro Diniz, servidor da Casa Civil, o PT não exigiu agilidade do Ministério Público. Os petistas são os que mais cobram explicações de Gurgel sobre o fato de ele não ter enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) a investigação da Operação Vegas, feita pela Polícia Federal em 2009 sobre a ligação de Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

- Quererem transformar a CPI na CPI do procurador-geral. É piada, é algo que não pode ser levado a sério. O Supremo, por unanimidade, prestou solidariedade ao procurador. E o PT quer transformar a CPI do Cachoeira na CPI do Gurgel. Meu querido PT, é muita cara de pau! O PT tem problemas com o procurador? Entre com um requerimento junto à Procuradoria, solicite que ele seja investigado, mas isso não pode ser feito na comissão. Isso é má-fé, isso é ridículo, isso soa mal, e está ficando mal para o PT - discursou Simon para um plenário quase vazio. - O PT não quer convocar o governador de Brasília, o PSDB não quer convocar o governador de Goiás, e o PMDB não quer convocar o governador do Rio. Mas todo mundo quer convocar o procurador-geral!

O discurso de Simon foi apoiado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

- Temos frontal oposição à convocação do procurador-geral da República, porque entendemos que se trata de manobra diversionista, para desviar o foco principal da CPI. É manobra diversionista também em relação ao julgamento do mensalão, que se aproxima. Somos contra isso pelas razões jurídicas. O procurador-geral é o titular da ação penal e será eventualmente chamado a propor ação penal contra agentes públicos dotados de prerrogativa de foro. Portanto, o procurador-geral não pode servir de testemunha neste processo - disse Aloysio, relatando a explicação que ouviu recentemente de Gurgel.

O pedido de convocação de Gurgel foi protocolado na CPI pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), mas a tendência é que a CPI negocie que o procurador envie explicações por escrito.

O presidente do STF, Ayres Britto, disse ontem que a discussão sobre a convocação de Gurgel pode chegar à Corte. Isso aconteceria se, diante da negativa do procurador-geral de prestar declarações, um parlamentar apresentasse recurso.

- Eu não quero opinar sobre esse tema, porque ele tem um potencial de judicialização. Não vou dizer que é possível (a discussão chegar ao STF), mas tem potencial. Por isso, prefiro não falar - disse Ayres Britto.

FONTE: O GLOBO

TJDF quebra sigilo de Cachoeira e mais sete

A organização criminosa chefiada por Carlinhos Cachoeira sofreu ontem um duplo revés. A pedido do Ministério Público, a Justiça do Distrito Federal decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do bicheiro, da Delta Construções e de sete pessoas denunciadas na Operação Saint-Michel, deflagrada em 25 de abril. Além disso, a 5ª Vara Criminal de Brasília determinou nova prisão preventiva de Cachoeira; do contador do grupo, Giovani Pereira da Silva; e do braço direito do bicheiro, Gleyb Ferreira da Cruz. Eles são acusados de formação de quadrilha e tráfico de influência para obter o milionário contrato de bilhetagem eletrônica do transporte público no DF.

Devassa nas contas de Cachoeira e da Delta

Justiça do DF quebra os sigilos bancários e fiscal do bicheiro, da construtora e de mais sete pessoas denunciadas na Operação Saint-Michel, deflagrada pelo Ministério Público local em abril

Ana Maria Campos

A Justiça do Distrito Federal decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do bicheiro Carlinhos Cachoeira, da Delta Construções e de sete pessoas denunciadas na Operação Saint-Michel pelos crimes de formação de quadrilha e tráfico de influência para tentar conseguir o contrato de bilhetagem eletrônica do transporte público coletivo do governo de Agnelo Queiroz (PT). Entre os atingidos com a medida estão todos os acusados na ação penal proposta nesta semana pelo Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF, entre os quais o ex-diretor da Delta para o Centro-Oeste Cláudio Abreu, que cumpre prisão preventiva no Complexo Penitenciário da Papuda, e o executivo da empresa em São Paulo Heraldo Puccini Neto, considerado foragido desde 25 de abril.

Os dados das contas correntes e declarações de Imposto de Renda dos investigados vão abranger o período de janeiro de 2009 até os dias atuais. A Delta Construções terá de encaminhar informações sobre a movimentação das contas bancárias da empresa em todo o país. A Operação Saint-Michel, um desdobramento da Operação Monte Carlo, obteve ainda a decisão judicial de sequestro e bloqueio dos bens de Cachoeira e de todas as pessoas físicas investigadas. Significa que o patrimônio declarado em nome dos integrantes do suposto esquema está indisponível enquanto a decisão estiver em vigor. A medida é uma forma de garantir ressarcimento de eventual prejuízo provocado aos cofres públicos pelo esquema criminoso e o pagamento da multa estipulada pela Justiça em caso de condenação.

Caso haja autorização judicial e interesse do Ministério Público, dados obtidos na Operação Saint-Michel poderão ser compartilhados com a Operação Monte Carlo e também municiar novas frentes de apuração. A princípio, a investigação não compromete a negociação de venda da Delta Construções para o grupo JBS. Mas a operação pode sofrer abalo com eventual pedido de bloqueio do patrimônio da construtora, caso haja indícios de crime de lavagem de dinheiro por meio das contas da Delta. Uma medida como essa em geral prejudica o capital de giro da empresa e, consequentemente, atinge qualquer negociação sobre seu passivo e ativo.

Transporte

A investigação dos promotores de Justiça do NCOC começou em março a partir de informações repassadas pelos procuradores da República que atuam em Goiás. Com base nas escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, o Ministério Público do DF levantou indícios veementes de que havia intensa movimentação para que a Delta Construções pudesse conquistar um negócio promissor no DF: a operação do novo sistema de cobrança de passagens para o transporte coletivo por meio de cartões eletrônicos.

A licitação ainda não ocorreu. A intenção do governo do DF é promovê-la apenas depois de concluída a concorrência em curso para renovação de toda a frota de ônibus. As interceptações telefônicas da Operação Monte Carlo expuseram o suposto lobby para conquistar o negócio. Valdir dos Reis, um ex-servidor da Secretaria de Planejamento com bom trânsito no GDF, foi contratado pelo grupo de Cachoeira para uma aproximação com a Secretaria de Transportes e o DFTrans. Na casa dele, durante a Operação Saint-Michel, os investigadores encontraram uma minuta do projeto básico para licitação de bilhetagem eletrônica. O vereador Wesley Clayton da Silva (PMDB) de Anápolis e um suposto lobista, Dagmar Alves Duarte, teriam ajudado a tramar a manobra. Todos cumprem prisão preventiva, responderão à ação penal e estão incluídos na indisponibilidade dos bens e na quebra dos sigilos decretada pela 5ª Vara Criminal de Brasília.

O Correio tentou contato ontem com o advogado Márcio Thomaz Bastos, que representa Carlinhos Cachoeira. Ele, no entanto, disse que não poderia falar porque estava numa reunião importante. O advogado de Cláudio Abreu, Roberto Pagliuso, disse ontem ao Correio que não há motivos para manter o ex-diretor da Delta preso preventivamente, uma vez que ele vai colaborar com a Justiça. Os demais não foram localizados.

18 diasPeríodo que Heraldo Puccini Neto, diretor da Delta em São Paulo, está foragido. Ele teve a prisão decretada em 25 de abril

Habeas corpus é rejeitado

A 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios negou pedido de habeas corpus ao ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste Cláudio Abreu. Ele está preso desde 25 de abril, em um desdobramento da Operação Monte Carlo: a Saint Michel, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. A Justiça do DF considerou que Abreu poderia atrapalhar as investigações caso fosse solto. O advogado de Abreu, Roberto Pagliuso, pretende recorrer da decisão. "Me surpreende que, no âmbito da Monte Carlo, o Cláudio já havia sido denunciado por formação de quadrilha, mas a Justiça Federal não havia decretado a prisão preventiva dele", diz. Pagliuso defende que a prisão se contrapõe à presunção de inocência no caso de Abreu. Ele permanece preso dividindo uma cela com mais um interno da Papuda. (Arthur Paganini)

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Brasilprev é usada para agradar à base

Ricardo Flores, que sai do Previ, o fundo de pensão dos funcionários do BB, vai ocupar o comando da Brasilprev. A vaga foi aberta com a saída de Sérgio Rosa. As mudanças na cúpula do BB, da fundação e da seguradora têm como pano de fundo um acerto de Dilma para contemplar partidos da base aliada.

Flores, da Previ, deve assumir Brasilprev

Depois que deixar fundo previdenciário dos funcionários do Banco do Brasil, executivo é cotado para substituir Sérgio Rosa

Gabriela Valente

BRASÍLIA. - Com a demissão já decidida pela presidente Dilma Rousseff, o presidente da Previ (a Caixa de Previdência dos funcionários do Banco do Brasil), Ricardo Flores, poderá ser realocado na Brasilprev, empresa de seguros e previdência que tem como sócios o Banco do Brasil e a instituição americana Principal Financial Group. De acordo com fontes do governo, Flores poderá ocupar a cadeira do atual presidente da instituição, Sérgio Rosa, que deixará o cargo no fim do mês, segundo anunciou ontem. A companhia é uma das maiores empresas de previdência complementar aberta no Brasil, com mais de R$ 50 bilhões em ativos e 1,4 milhão de clientes.

Escolha de César Borges apazigua PR

Rosa alegou motivos pessoais para deixar o cargo. Ele já havia manifestado a amigos a vontade de trocar São Paulo pelo Rio para ficar perto da família. Na sua reunião de despedida, teria dito não conseguir lidar com o fato de ser pai e marido apenas dois dias por semana.

Rosa já esteve cotado para assumir a presidência do Banco do Brasil, tem ligações com o Partido dos Trabalhadores (PT). Além de ser considerado um petista histórico, é visto por colegas como um técnico de alto nível. É funcionário de carreira do BB e foi presidente da Previ. É um dos quadros da legenda com perfil para ocupar qualquer vaga na diretoria do banco, mas até o momento o futuro do dirigente é mantido em sigilo.

- Muito melhor do que o César Borges - disse uma fonte da instituição.

O nome do ex-governador da Bahia César Borges foi escolhido pelo PR para ocupar a vice-presidência para Assuntos de Governo do BB, que ficará vaga após a demissão de Ricardo Oliveira, já determinada pela presidente Dilma. Ela decidiu encerrar a disputa de poder entre ele e o presidente da Previ. E resolveu demitir os dois.

Com a mudança, Dilma resolverá também um problema político. Ao oferecer a vice-presidência do BB mais poderosa politicamente ao PR, a presidente quer encerrar o atrito com a legenda depois do desgaste da demissão do ex-ministro dos Transportes e atual senador Alfredo Nascimento, mantendo na pasta Paulo Sérgio Passos, que embora filiado ao PR, é considerado um quadro técnico e não tem apoio do partido. A reforma na diretoria do BB será mais abrangente, já que um dos vices sairá para comandar a Previ, quando Flores deixar o cargo.

O mais cotado é o vice-presidente de Finanças, Ivan Monteiro. Entretanto, há outros nomes analisados pela presidente. Um deles é Alexandre Abreu, o vice de Varejo, que cumpriu à risca a determinação de Dilma de reduzir os juros ao consumidor e ganhou pontos com o Palácio do Planalto. Outro possível, mas menos provável, é o executivo é o que cuida de crédito e risco, Danilo Angst.

Um outro vice-presidente, Robson Rocha, responsável por gestão de pessoas e desenvolvimento sustentável, tenta se articular para ser alçado ao posto de Flores, mas corre por fora na disputa e é visto como azarão. Ele é o único vice filiado a um partido. É do PT de Minas e ligado ao ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias e ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel.

FONTE: O GLOBO

Comissão da Verdade agirá 'doa a quem doer', diz Dipp

Escolhido pela presidente Dilma Rousseff para compor a Comissão da Verdade, o ministro do Superior Tribunal de Justiça Gilson Dipp afirmou que o trabalho do colegiado poderá contribuir para a "pacificação nacional" sem nenhum "revanchismo" e que atuará "doa a quem doer". O grupo inicia os trabalhos oficialmente na quarta-feira. Setores militares ficaram irritados com a escolha da advogada Rosa Maria da Cunha, que defendeu Dilma no período militar, para a Comissão.

Membros de Comissão da Verdade pregam investigação sem revanchismo

Devassa na vida de integrantes já está em curso

Ricardo Brito, Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Escolhido pela presidente Dilma Rousseff para compor a Comissão da Verdade, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp afirmou ontem que o trabalho do colegiado poderá contribuir para a "reconciliação nacional" sem nenhum "revanchismo" e que atuará "doa a quem doer".

O magistrado acredita que não haverá resistência às investigações do grupo, que começa os trabalhos oficialmente na próxima quarta-feira. "Não (haverá resistências). Acho que a sociedade como um todo vai absorver o sentido da lei (que criou a Comissão da Verdade, de novembro do ano passado), que é resgatar a memória nacional, trazendo à tona violações graves dos direitos humanos, reconstruindo a história e fazendo a pacificação nacional", disse Dipp, no intervalo do encontro da comissão de juristas do Senado que discute mudanças no Código Penal.

Para o ministro do STJ, a intenção da lei não é revanchismo a qualquer pessoa ou grupo: "É a procura de uma reconciliação nacional, doa a quem doer".

O magistrado, que foi elogiado pelos colegas da comissão de juristas durante a sessão, contou que recebeu a primeira sondagem para compor a Comissão da Verdade há 48 horas e o convite de Dilma ontem à tarde. "Eu fui pego de surpresa", afirmou Dipp, que não quis adiantar nenhuma linha de atuação do colegiado antes de se encontrar com os outros seis integrantes.

Para Dipp, a comissão é uma questão do "Estado brasileiro" e "não de governo". O ministro do STJ disse que desde o governo Fernando Henrique Cardoso, passando pela gestão Lula, e agora com Dilma Rousseff, o tema vem sendo debatido.

Ele ressaltou que comissões desse tipo têm sido abertas em várias nações que passaram por violações de direitos humanos. "Então o Brasil está caminhando na mão certa", disse.

O magistrado acrescentou que não é um problema o Brasil ter demorado a criar sua Comissão da Verdade. "Temos que trabalhar com a nossa realidade, com aquilo que vamos deliberar. A questão é nossa, a responsabilidade é nossa." Dipp disse que "certamente" o propósito da comissão será cumprido.

Prazos. Pela lei que a criou, o grupo terá dois anos para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, período que abrange a ditadura militar. Ao fim dos trabalhos será produzido um relatório com as conclusões dos crimes investigados. Mas a Lei de Anistia, de 1979 e mantida em vigor por decisão do Supremo Tribunal Federal, não permite a punição de pessoas envolvidas com os crimes.

Questionado se o País poderia ir além, punindo agentes do Estado ou militares, ele respondeu: "Não vou fazer este comentário porque não estou autorizado a fazer, por enquanto".

Sem revanche. Também integrante da comissão, o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles disse que o papel será "buscar a reconstituição da história sem nenhum tipo de revanchismo" ou perseguição. "Não há espaço para isso", ressaltou ele, assegurando que "ninguém vai perseguir ninguém", até porque existe a Lei de Anistia, que vale para todos os lados. "Temos de virar esta página da história do Brasil. Precisamos criar uma memória e estabelecer a verdade, mas ninguém vai reescrever a história", avisou ele.

Segundo Fonteles, que foi procurador no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "existe uma lei que reconhece que o Estado brasileiro violou os direitos humanos". "É aí que vamos reconstituir a história, aproveitando já o trabalho da comissão de mortos e desaparecidos políticos do Ministério da Justiça." Para ele, "nenhum Estado pode violar os direitos humanos e o que se pretende com a comissão é evitar que estes fatos se repitam".

De acordo com Fonteles, não há o que temer os militares. "Ninguém vai perseguir ninguém. Existe uma lei de anistia em vigor", declarou, Questionado sobre a revisão da Lei de Anistia, foi taxativo: "Impossível".

Excesso de trabalho e de exposição pública. Esses foram os principais motivos que levaram algumas personalidades a recusar o convite da presidente Dilma Rousseff para integrar a Comissão da Verdade. Para os que aceitaram, o trabalho ainda não começou. Mas a devassa de suas vidas já está em curso.

O primeiro a aparecer na linha de tiro é Gilson Langaro Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça e ex-corregedor nacional de Justiça. Ontem, representantes de entidades de direitos humanos lembravam que ele atuou em defesa do Estado brasileiro, na Corte Interamericana de Direitos Humanos, no julgamento do caso da Guerrilha do Araguaia.

"Fiquei decepcionado com essa escolha", disse o advogado Aton Fon Filho, da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. "Na audiência pública realizada em 2010, naquela corte, o Gilson Dipp foi arrolado para testemunhar contra as reivindicações das famílias dos mortos e desaparecidos no Araguaia. Testemunhou a favor do Estado, que era acusado pelas famílias."

O vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, Marcelo Zelic, seguiu a mesma linha: "É preciso lembrar que Dipp foi testemunha de defesa do Brasil no caso do Araguaia, quando defendeu aquela linha de pensamento que preconiza o esquecimento e a impunidade. Espero que o trabalho na Comissão da Verdade proporcione a este jurista uma reformulação de seus conceitos. É esperar para ver como vai atuar".

Defensores do nome do ministro lembram que ele atuou apenas como perito. De fato, nos documentos da Corte ele é mencionado como perito proposto pelo Estado. Atuou na audiência do dia 30 de março de 2010. Na mesma ocasião, João Paulo Sepúlveda Pertence, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e atual presidente da Comissão de Ética da Presidência da República, apareceu como testemunha do Estado.

Do lado das famílias, foram arrolados a procuradora Flávia Piovesan e o advogado e procurador aposentado Hélio Bicudo. / Roldão Arruda

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Histórico contra a ditadura

Integrantes têm perfil atuante na defesa dos direitos humanos. Psicanalista defendeu em 2011 a condenação de torturadores

Júnia Gama, Diego Abreu

A composição da Comissão da Verdade, anunciada na quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff, é, majoritariamente, de pessoas atuantes na defesa dos direitos humanos, o que gerou a reação de setores militares da reserva. Uma das integrantes, inclusive, chegou a defender publicamente a condenação da violência de agentes do Estado na ditadura militar.

Em artigo sobre a eleição de Dilma Rousseff, intitulado Mulher ou militante, publicado em agosto de 2011, na revista Carta capital, a psicanalista Maria Rita Kehl diz esperar de Dilma, "que foi presa política por ter lutado em favor das liberdades democráticas", que "atue decisivamente para condenar, no passado, e eliminar, no presente, a violência dos agentes do Estado que a sociedade, envergonhada, acostumou-se a considerar como um traço indelével da "cultura" brasileira".

Em outro trecho, afirma que a "posição tíbia dos sucessivos governos brasileiros diante da ala conservadora do Exército envergonha o país diante do mundo, em particular a América Latina". Em seguida, reforça a cobrança à presidente e destaca que os crimes cometidos durante a ditadura não seriam contemplados pela Lei de Anistia: "De Dilma (...) espera-se uma posição decisiva a favor da abertura da investigação sobre os desaparecidos políticos do governo militar, assim como a decisão de tornar públicos os nomes dos assassinos e torturadores, praticantes de crimes de Estado não contemplados pela Lei da Anistia".

O diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, secretário de Direitos Humanos durante o governo Fernando Henrique Cardoso, é outro membro do colegiado com atuação notória na área, com destaque em casos de violações por parte de governos militares. Relator do Conselho de Direitos Humanos da ONU para Mianmar entre 2000 e 2008, Paulo Sérgio pressionou para que o Brasil se engajasse na adoção de uma resolução com o objetivo de criar uma Comissão de Inquérito na ONU que investigasse crimes perpetrados pelo governo militar de Mianmar. Em 2006, Pinheiro foi nomeado pelo então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, para um grupo de trabalho encarregado de preparar um projeto de comissão verdade.

Outra integrante da comissão que se destacou na luta contra o regime militar foi a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, que defendeu Dilma Rousseff e o ex-marido, o advogado Carlos Araújo, quando foram presos durante a ditadura. Rosa Maria atuou no processo que o governo militar abriu contra Dilma e outros integrantes da organização de esquerda VAR-Palmares, e se especializou na defesa de crimes políticos. No início do ano, ela contou que foi perseguida pela ditadura devido ao seu trabalho.

Carta aos brasileiros

O advogado José Carlos Dias também teve participação na luta contra o regime militar. Ele foi um dos signatários da Carta aos brasileiros, manifesto publicado em 1977, repudiando a ditadura. Após atuar por anos como membro efetivo e chegar à presidência da ONG Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, hoje é conselheiro da entidade, criada há 22 anos por dom Evaristo Arns, "como reação à violência da ditadura militar e amparo às centenas de perseguidos políticos e seus familiares", conforme o site da ONG.

Já o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles atuou politicamente como secundarista e universitário, tendo sido membro da Ação Popular, movimento estudantil ligado à esquerda católica que comandou a União Nacional dos Estudantes (UNE) na década de 1960. Hoje, é membro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.

Ainda compõem a Comissão Gilson Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça; e José Paulo Cavalcanti Filho, ex-ministro interino da Justiça. A posse do grupo está marcada para quarta-feira, no Palácio do Planalto. No dia seguinte, começam os trabalhos.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Caetano Veloso, Maria Gadú - Odara

Sem revanchismos:: Merval Pereira

O advogado e escritor pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho tem bons motivos para estar feliz: foi indicado para compor a Comissão da Verdade, e seu livro, uma formidável biografia do poeta português Fernando Pessoa, tida como uma (quase) autobiografia no título por utilizar os próprios poemas para contar a vida de Pessoa, está em primeiro lugar na lista dos mais vendidos em Portugal.

A felicidade pelo livro é completa, já a pela indicação para a comissão é cautelosa. Ele tem a consciência de que estará ajudando a fazer a História do Brasil, mas receia as incompreensões.

Está feliz por participar de um grupo de pessoas “que torna impossível não aceitar o convite” e espera que na próxima quarta-feira, quando se reúnem pela primeira vez para definir o funcionamento da comissão, chegue-se a um consenso sobre seu alcance e a abrangência de suas investigações.

Pelas entrevistas de outros membros, e pela conversa que tive ontem com José Paulo, há uma preocupação com o período abrangido pela lei que criou a Comissão da Verdade.

Formada “com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”, estabelece que serão investigados casos em que a Constituição de 1988 concedeu anistia: “(...) no período de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição”, aos que “foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente política, por atos de exceção, institucionais ou complementares”.

Aí há a primeira polêmica que o grupo terá que dirimir. O período de investigação, de 1946 a 1988, parece amplo demais, e tudo indica que a tendência será concentrar o foco da atuação no período do regime militar.

Na proposta de José Paulo Cavalcanti, o período ideal para investigação da Comissão seria de 31 de março de 1964 até a eleição de Tancredo Neves, em 1985.

Outra questão delicada a ser discutida na Comissão é se devem ser investigados também os crimes cometidos pelos que atuaram na guerrilha urbana contra o regime militar, como querem setores ligados ao regime militar.

No inciso III do Artigo 3º, consta que um dos objetivos da comissão é “identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à prática de violações de direitos humanos mencionadas no caput do artigo 1º e suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade”.

A referência às ramificações “na sociedade” dá margem a que se afirme que a legislação quis abranger a atuação de setores civis, não necessariamente apenas os representantes do Estado.

Essa interpretação não deve prevalecer na comissão, pois as “eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade” se refeririam à ação de setores civis na repressão, seja com financiamentos ou outro tipo de ajuda aos órgãos do Estado, como a atuação conjunta de outros setores governamentais não militares, embora seja possível que atentados terroristas que tenham causado danos ou mortes sejam investigados.

Deve ser predominante a ideia de que os que atuaram na luta armada contra os governos militares já foram acusados e condenados.

Uma coisa parece estar definida: a Lei da Anistia é intocável, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal, e vale para todos. A própria lei que criou a Comissão Nacional da Verdade, em seu artigo 6, afirma que ela “poderá atuar de forma articulada e integrada com os demais órgãos públicos” desde que “observadas as disposições da Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979”, que é justamente a Lei da Anistia.

José Paulo Cavalcanti está convencido, pelo que conversou com seus colegas e com a presidente Dilma, de que a composição da Comissão indica a intenção clara de “não haver revanchismos” e que a ideia é escrever a História do período de regime militar.

Mas, sobretudo, ajudar a que muitas famílias encerrem seu sofrimento na busca de pessoas tidas até hoje como “desaparecidas”.

O próprio José Paulo tem uma experiência pessoal. O casal Eduardo e Rizoleta Meira Collier, que está entre os grandes amigos de sua família, perdeu seu filho Eduardo Collier, desaparecido desde 1974, quando tinha 26 anos.

Estudante da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, foi cassado pelo Decreto-Lei 477 e indiciado em inquérito policial pelo Dops, em 1968, por ter participado do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna.

Preso no Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 1974, juntamente com Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, por agentes do DOI-Codi/RJ, atuava na Ação Popular Marxista-Leninista (APML).

Desde então, está desaparecido. No Arquivo do Dops/PR, pesquisado em 1991 pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos (CFMDP), o nome de Eduardo Collier aparece em uma gaveta identificada como “falecidos”, mas o corpo nunca foi entregue à sua família.

Há algum tempo, Dona Rizoleta resolveu fazer uma missa pela alma do filho, e José Paulo perguntou por que fazia aquilo tanto tempo depois do desaparecimento. Ela respondeu que, quando se enterra um filho, 100% dele vão para a cova.

Mas, no caso de um desaparecido, sempre há esperança, embora a certeza da morte seja de 99,9%. Com a missa, ela queria “enterrar aquele 0,1%”.

É o que José Paulo acha que a Comissão da Verdade terá de fazer: encerrar de vez esse 0,1% da história de muitas famílias e promover a reconciliação nacional com a sua História, sem radicalismos.

FONTE: O GLOBO

Verdade e transparência:: Fernando Rodrigues

Quando a política se une ao marketing é raro haver coincidências. A presidente Dilma Rousseff escolheu a próxima quarta-feira, dia 16, para dar posse aos integrantes da Comissão da Verdade. É nessa mesma data que entra em vigor a Lei de Acesso à Informação.

Não está claro se a Comissão da Verdade será capaz de cumprir sua missão. Há também mais dúvidas do que certezas sobre a Lei de Acesso. Mas, no dia 16, o governo baterá bumbo. Anunciará um Brasil novo, aberto e transparente.

Ontem, em Minas Gerais, Dilma desviou-se do cerco de sua segurança e foi cumprimentar manifestantes ambientalistas que pediam a ela o veto integral do Código Florestal aprovado pelo Congresso.

Nas últimas semanas, depois de malhar sem dó (e com razão) os bancos privados pelos altos juros cobrados, Dilma anunciou uma mudança nas regras das cadernetas de poupança. Quebrou um tabu que persistia há décadas. A estratégia deve ter custo zero para sua popularidade.

Aos poucos, Dilma constrói uma imagem sólida sobre suas convicções. Amanhã, Dia das Mães, ela anunciará mais um programa social -destinado a famílias com filhos pequenos.

A oposição enxergará, com razão, marketing em todas essas ações presidenciais. O Planalto negará, sempre. Mas, e se houver marketing? O problema central não é este, até porque há anos o Brasil não tinha uma presidente que falasse tão pouco -basta lembrar de Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula.

Dilma está fazendo apostas relevantes. Será julgada pelos resultados de suas promessas. Se a Comissão da Verdade conseguir passar a limpo a história recente do Brasil, o ganho institucional será enorme. Se a Lei de Acesso entrar em vigor para valer, idem.

Por enquanto, apesar do marketing, só é possível dizer que Dilma opera com mais destreza do que a oposição desejaria.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Bom pra poucos

Começam a surgir indícios de que a queda de juros propalada pelo governo tem fôlego mais curto do que o prometido. Há muita pirotecnia nas ações anunciadas, mas até agora elas só se mostraram boas para poucos. Com as evidentes limitações da economia brasileira, a inflação também ameaça.

Desde o 1° de maio, quando lançou sua ofensiva contra a "lógica perversa" dos juros, Dilma Rousseff indicou que as instituições privadas deveriam fazer o dever de casa e seguir os bancos oficiais, baixando agressivamente as taxas. Deveria ter olhado antes para o próprio umbigo e percebido que não tinha lições a dar.

O discurso oficial não resiste ao cotejo da realidade. Levantamento divulgado anteontem pelo Banco Central mostra que Banco do Brasil e Caixa não estão entre os que cobram menos para emprestar a seus clientes. Em alguns casos, pelo contrário, estão entre os mais usurários- mesmo com os cortes recentes.

Numa das linhas divulgadas pelo BC, a de conta garantida, o BB aparece como dono da nona taxa mais alta num ranking com 38 instituições, informou a agência Reuters. Na concessão de linhas de crédito pessoal, Caixa e BB apresentaram apenas a 13ªe a 32ª melhores taxas, respectivamente, de um total de 91 instituições consultadas. Ou seja, em banco de ferreiro, o juro é de pau.

Ontem, em nova rodada de foguetório, o Banco do Brasil anunciou a redução de suas taxas de administração. É ótimo que isso aconteça e teria sido melhor ainda se o governo tivesse cortado os encargos antes de ter tungado a poupança dos brasileiros. Mas se é para cortar, a conversa tem que ser para valer, ser boa pra todos.

O que o BB fez, porém, foi mero malabarismo. Os oito fundos cujas taxas foram reduzidas cobravam até 3,5% para administrar o investimento de seus clientes. Isto é quase metade do rendimento projetado. Agora, os encargos caíram para entre 1,5% e 2,6% - portanto, ainda altíssimos.

Para não apanhar das cadernetas de poupança, os fundos de renda fixa que o governo diz estar oferecendo baratinho para a clientela só poderiam cobrar taxa de administração de, no máximo, 0,64%, calcula o professor Marcelo Moura. O BB não apenas cobra muito mais, como também obriga seus correntistas a aderir a um programa pelo qual espetam até R$ 54 de mensalidade na carteira do cliente.

Outro aspecto da estratégia voluntarista do governo é o efeito das ações sobre a contabilidade dos bancos oficiais e, em última instância, sobre o bolso dos contribuintes. Ontem, a Caixa anunciou que, em função de sua agressiva concessão de empréstimos, precisará de aporte "urgente" da União: estima-se algo como R$ 10 bilhões, segundo a Folha de S.Paulo.

Não é apenas o marketing em torno da redução dos juros que se mostra distante da realidade cotidiana. Limitações de ordem econômica geral começam a indicar que a inflação não será amansada apenas no gogó, restringindo o espaço e as possibilidades de cortes mais incisivos na taxa básica de juros.

Em abril, os preços subiram num ritmo três vezes maior do que no mês anterior. O IPCA passou de comportado 0,21% para um ousado 0,64%. A alta não foi só do cigarro, como disse ontem Guido Mantega, mas disseminada por 2/3 dos preços. Neste mês de maio, os índices virão pressionados também por aumentos de tarifas de energia elétrica, água e esgoto.

Para piorar, o índice que mede exclusivamente o comportamento dos preços dos serviços disparou: de janeiro a março, tinha subido 2,86% e em abril escalou a 3,62%, mostrou ontem O Estado de S.Paulo. Nesta dinâmica, a subida do dólar - com alta de 7% nos últimos 30 dias - não ajuda.

A redução dos juros é muito bem-vinda. Mas é preciso muito mais do que ações cosméticas, voltadas a produzir mais fagulha do que luz. O governo deveria ocupar-se de medidas que gerassem efeitos benéficos duradouros sobre o ambiente econômico. Da forma atabalhoada como age, pode acabar atiçando mesmo é fogo.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Efeitos na bolsa:: Míriam Leitão

O ano passado foi de queda na maioria dos setores cotados em bolsa. Este ano, está volátil. Já esteve mais forte e cedeu muito. Esta semana foi ruim por motivos externos. Os setores que mais sobem este ano são os beneficiados pela restrição às importações, os ligados ao consumo, ou os que têm reajustes de preços indexados à inflação. Na outra ponta, despencaram nos últimos dois meses as ações dos bancos, da Petrobras, e das construtoras.

O setor de veículos e peças lidera com folga a valorização desde janeiro. Cresce 35% e se beneficia da política de proteção à produção nacional de carros e componentes. O curioso é que os primeiros meses do ano foram ruins para a indústria automobilística, que esta semana divulgou que o número de carros em estoques só não é pior do que o do estouro da crise no fim de 2008.

Logo atrás, vêm setores ligados ao consumo, como telecom, com alta de 18,2%, e varejo, com 15,4%. O setor de telecomunicações consegue repassar a alta da inflação para os seus preços com mais facilidade, e o setor de varejo é impulsionado pelo estímulo ao consumo, puxado por um mercado de trabalho forte e pela ampliação do crédito. Energia elétrica, que sobe 8% no ano, também tem reajustes anuais com base na inflação.

Na outra ponta, três setores chamaram atenção pelas quedas expressivas das ações: construção civil, financeiro, e petróleo e gás. As construtores sentem o peso do crescimento acelerado, a principal empresa de petróleo do país tem prejuízo com o congelamento da gasolina, e os bancos estão sendo afetados pelo aumento da inadimplência, de um lado, e a pressão do governo por juros menores, de outro.

O tempo virou para eles. Até março, as construtoras estavam subindo 27%. O setor de petróleo e gás disparou 20% entre janeiro e fevereiro, e o financeiro tinha alta de 15% até 13 de março. De março a abril, enquanto o Ibovespa acumulou queda de 6,1%, as ações das construtoras caíram 23,4%. Perderam quase um quarto do valor de mercado em 60 dias. A PDG Realty tombou 38,7%. A Gafisa, que acumula queda de mais de 70% desde novembro de 2010, viu suas ações perderem 25,9%. O setor de petróleo e gás caiu 14,1% no bimestre, com queda de 12% da Petrobras e 22,2% da OGX. O setor financeiro recuou 10,7%. O Itaú perdeu um quarto do valor desde 16 de março.

De acordo com a analista-chefe da Ativa Corretora, Daniella Maia, os setores financeiro e de petróleo e gás sentem as interferências do governo na economia. Os bancos, no mesmo período em que são obrigados a aumentar a provisão de crédito inadimplente, estão sofrendo pressão para reduzirem juros. No setor de petróleo, a Petrobras é impedida de aumentar o preço da gasolina, mesmo tendo que importar o produto para vender aqui dentro. Embora o Brasil não seja visto como um país que rasgue contratos, a onda de expropriações de empresas estrangeiras que aconteceu na América do Sul nos últimos anos deixa os investidores estrangeiros mais reticentes.

- Quando se olha para finanças e petróleo, percebe-se que os investidores estão incomodados com as intervenções. Na parte dos bancos, em querer mexer no spread e na taxa de juros, no setor de petróleo, em definir o preço da gasolina. A intervenção está mais forte este ano, e principalmente o investidor estrangeiro não gosta disso - disse Daniella.

A queda dos spreads vai melhorar a eficiência econômica porque com queda nos juros bancários há menor risco de inadimplência. Mas o investidor, mais imediatista, conclui que a rentabilidade será menor e por isso todos os bancos, inclusive os estatais, estão com cotações em queda.

Na construção civil, o crescimento forte nos últimos anos está em cheque. Os gargalos começaram a aparecer, com encarecimento da mão de obra, falta de terrenos e dificuldade de financiamentos. O processo de consolidação nacional do setor não começou bem. A incorporação da Tenda pela Gafisa, e da Agre, pela PDG, trouxe enormes prejuízos às duas empresas. As construtoras não estão conseguindo entregar as encomendas no prazo e no preço prometido. O resultado foram resultados trimestrais que decepcionaram.

- As grandes construtoras foram para outros estados e fizeram parceria com construtoras locais. A ideia era: "você toca a obra, mas usa a minha marca." Isso não deu certo, houve estouro de orçamento e atraso, mostrando que esse modelo de expansão não será tão simples quanto parece. As empresas agora estão fazendo o caminho de volta - disse o analista Flávio Conde, que acompanha o setor de construção civil pela Banif Securities.

Bolsa em alta não é atestado de saúde, e em grande parte a Bovespa oscila ao sabor das ondas internacionais. De qualquer maneira, fica o aviso aos marinheiros com estômagos mais fracos. No ano passado foi um verdadeiro mar vermelho a evolução das ações de vários setores. Este ano, os setores começaram surfando a recuperação e alguns já mergulharam. Para o investidor de bolsa, é preciso um redobrado cuidado. Para quem analisa a economia, o sobe e desce é sinal de que a era da incerteza continua.

FONTE: O GLOBO

Austeridade e crescimento:: Celso Ming

Depois de muitas semanas de indignação contra políticas de austeridade na Europa e de reivindicação de políticas robustas de crescimento econômico, analistas de várias tendências começam, afinal, a se perguntar de onde seriam tirados os recursos necessários para financiar a retomada da atividade econômica e do emprego.

Ou seja, já há certo contraponto à maré anterior, de forte rejeição às políticas de austeridade. Mas a maior parcela dos críticos continua a argumentar que não tem cabimento impor enormes sacrifícios à população para resolver um problema que, na origem, não é de gastança pública, mas, sim, de estouro de bolhas imobiliárias ou, mesmo, de perda de competitividade da indústria.

Excetuados os casos da Grécia e de Portugal, onde houve inegável disparada de despesas públicas logo após a emissão do euro, os demais países atolados na crise - especialmente Irlanda, Espanha, Itália e França - não podem ser acusados de ser excessivamente gastadores. Dois anos antes do estouro da crise nos Estados Unidos, essas economias apresentavam razoável equilíbrio fiscal. Apenas a Itália estava mais afundada em dívidas, mas seus números vinham melhorando ano a ano 

A crise europeia aconteceu, em grande parte, em consequência da forte redução do custo do dinheiro e da disparada do crédito que, por sua vez, provocaram impressionante boom imobiliário e alta nos salários dos países da periferia da zona do euro.

Essa redução do custo dos financiamentos proveio do lançamento do euro, em 1999. O mercado se comportou como se os títulos de todos os países do bloco tivessem a mesma qualidade dos títulos da Alemanha. Até 2007, os juros pagos pelos ativos da maioria dos países europeus eram apenas ligeiramente mais elevados que os da Alemanha. Hoje estão de 3 a 4 pontos porcentuais mais altos.

O estouro da bolha nos Estados Unidos, em 2007, e a quebra do Lehman Brothers, em 2008, provocaram a rejeição dos títulos de dívida imobiliária, porque os preços dos imóveis desabou para uma fração do valor das hipotecas. Essa situação levou ao estancamento do crédito, à ameaça de quebra em cadeia dos bancos, à recessão e ao alto nível de desocupação.

Foi então que os Tesouros nacionais foram chamados a socorrer as instituições financeiras locais e a aumentar os gastos com seguro-desemprego. Assim, as despesas públicas saltaram e a arrecadação encolheu, como desdobramento da recessão e da quebra da atividade econômica. Aí sim, uma crise essencialmente privada se transformou em deterioração das finanças públicas. Os credores perceberam que havia crescido o risco de calote e deixaram de tratar os títulos da área do euro como se fossem todos de alta qualidade. E os juros cada vez mais altos provocaram a perda da qualidade dos títulos soberanos (emitidos por Tesouros nacionais).

Dessa maneira, vemos que, na base do problema na Europa, não existe desarranjo significativo das finanças públicas (problema fiscal). Esse quadro se configurou depois. Pode-se afirmar também que uma das importantes fragilidades expostas por esta crise é a baixa competitividade da maior parte dos membros do euro, porque a alta dos salários havia aumentado substancialmente os custos de produção e de distribuição. Agora a pergunta: isso quer dizer que exista saída que dispense rígida disciplina fiscal? Provavelmente não.

O que pode e deve ser discutido é a maior utilização dos mecanismos monetários destinados a ajudar a empurrar a atividade econômica e a geração de emprego. Em outras palavras, a hora é de examinar se vale ou não a pena levar os grandes bancos centrais a emitir mais moeda para gerar mais mercado para os títulos públicos e baixar os juros extorsivos hoje prevalecentes, desde que não percam o controle da inflação.

Dada a enorme insuficiência de recursos e a impossibilidade de desvalorizar moedas nacionais para baixar rendas, salários e aposentadorias, será difícil encontrar saída para o atoleiro em que se encontra a área do euro sem a imposição de grandes sacrifícios e a adoção de políticas de austeridade.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Economia fácil e inútil:: Paul Krugman

Alegar que problemas são estruturais dá desculpa para nada fazer para reduzir desemprego

Alguns dias atrás, li um estudo que parecia competente na "American Economic Review", cujo argumento central era o de que o desemprego elevado dos EUA tinha raízes estruturais profundas e não era suscetível a soluções rápidas.

O diagnóstico era que a economia dos EUA simplesmente não é flexível o bastante para enfrentar rápidas mudanças tecnológicas. O estudo criticava programas como o seguro-desemprego, visto como prejudicial aos trabalhadores porque reduz o incentivo para que se ajustem às novas realidades do mercado.

Bem, esqueci de contar uma coisa: o estudo é de 1939. Poucos meses depois, a Segunda Guerra irrompeu, e os EUA -ainda que não estivessem em guerra- deram início a um grande reforço das Forças Armadas, o que produziu estímulo fiscal em escala comensurável com a profundidade da crise.

Nos dois anos posteriores à publicação daquele artigo, os empregos nos EUA cresceram 20%.

Agora estamos de novo em depressão, não tão grave quanto aquela, mas ainda assim grave. E, uma vez mais, figuras que parecem bem informadas insistem em que nossos problemas são "estruturais", que não podem ser corrigidos rapidamente. Precisamos nos concentrar no longo prazo, dizem elas.

O que significa dizer que temos um problema estrutural? A versão usual envolve a alegação de que os trabalhadores estão presos a setores incorretos ou não dispõem das capacitações em demanda.

Ao contrário do que sugerem essas histórias, as perdas de emprego não se concentraram em setores que supostamente se incharam demais nos anos da bolha. Praticamente todos os setores perderam, assim como ocorreu nos anos 30.

Tudo aponta que estamos sofrendo de falta generalizada de demanda -escassez que deveria ser curada com rapidez por meio de programas governamentais para acelerar os gastos. Alegar que nossos problemas são estruturais dá uma desculpa para nada fazer para aliviar a situação dos desempregados.

Os estruturalistas dizem que não estão procurando desculpas, é claro. Dizem que não deveríamos nos concentrar em soluções rápidas, mas no longo prazo -ainda que em geral seja difícil determinar qual deveria ser a política de longo prazo.

De qualquer forma, John Maynard Keynes já tinha sacado qual é a dessas pessoas, mais de 80 anos atrás: "O longo prazo de que eles falam", escreveu, "é um guia enganoso para os assuntos atuais. No longo prazo todos estaremos mortos".

Eu só acrescentaria que inventar razões para nada fazer não é apenas cruel e perdulário, mas representa má política para o longo prazo. Há provas cada vez mais fortes de que os efeitos do desemprego elevado lançarão uma sombra que obscurecerá a economia por anos.

A cada vez que começarem a resmungar sobre o fardo dos deficit para as futuras gerações, lembre-se de que o maior problema dos jovens hoje não é a carga futura da dívida.

O problema real é a falta de empregos. Por isso, essa conversa sobre desemprego não gira em torno de enfrentar nossos problemas reais, mas de evitá-los e escolher a saída fácil e inútil. É hora de mudar.

Tradução de Paulo Migliacci

FONTE: FOLHA DE S. PAULO