'Trem das Onze – Uma Viagem Pelo Mundo de Adoniran' fica em cartaz no Farol Santander até 30 de dezembro
Amilton Pinheiro | O Estado de S. Paulo
Quando um dos vagões do Trem das Onze partiu pela última vez, em 23 de novembro de 1982, levava consigo não somente o maior sambista paulista, Adoniran Barbosa, morto aos 72 anos, vítima de enfisema pulmonar, autor de clássicos como Saudosa Maloca, Iracema, Samba do Arnesto, Tiro ao Álvaro, e Trem das Onze. Levava também o grande cronista de São Paulo, que agora ganha exposição no Farol Santander, Trem das Onze – Uma Viagem Pelo Mundo de Adoniran.
A mostra traz objetos pessoais, fotos, vestuário, o chapéu e a gravata-borboleta xadrez, que eram a sua marca, além do roteiro do filme O Sertanejo, que não foi realizado, recortes de jornais, gravações, trechos de alguns dos seus 14 filmes, novelas, programas de TV, capas de discos, entre outras peças.
“O maior mérito da exposição é abordar o lado menos conhecido de Adoniran, para além dos grandes sambas. Também humorista, o artista teve personagens memoráveis em rádio, TV, como ator de novelas e filmes. O seu lado artesão não foi esquecido e está nos brinquedos que criou em sua casa, como um parquinho de diversão, que foi recuperado para funcionar na mostra”, diz um dos curadores, Celso de Campos Jr., por telefone ao Estado. Ele é autor de Adoniran – Uma Biografia, de 2004, que ganha nova edição no segundo semestre.
A exposição, que será aberta nesta terça, 24, no Farol do Santander, só foi realizada graças a um trabalho incansável e algumas vezes frustrante da família e de fãs do artista. Com a morte da segunda mulher de Adoniran, Matilde Lutiis, em 1986, o seu acervo, que ela formava desde os anos 1940, passou por uma verdadeira via-crúcis.
Matilde deixou o acervo para única filha de Adoniran, Maria Helena Rubinato, do primeiro casamento do artista, com Olga Krum. Tendo em vista a relação do pai com a cidade, Maria Helena doou o acervo para a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, com a garantia de que haveria um museu para abrigá-lo.
Mas aí começa a peregrinação e o descaso com o material sobre o artista, que foi guardado no Teatro Sérgio Cardoso, depois foi para o MIS e acabou no cofre de um banco.
A família entrou na justiça contra o Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, já que a promessa de restauração e digitalização do material não foi cumprida, e teve o acervo de volta. Na sequência, o acervo ficou em uma garagem, depois foi catalogado, passou quase dez anos em um sítio no interior de São Paulo, seguiu para um galpão na cidade de Salto, até que a família e amigos alugaram uma loja na Galeria do Rock para guardar o rico material que recompõe a memória e a importância de Adoniran. “O que está hoje na exposição é apenas 5% do acervo do artista”, diz Cassio Pardini, produtor de cinema, que participou da organização da mostra.
Um dos espaços especiais da exposição é a Sala da Garoa, com chão espelhado, teto com guarda-chuvas e nas paredes fotos dos lugares em que Adoniran gostava de passear.