terça-feira, 5 de março de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Polícia se ressente da falta de efetivo e de integração

O Globo

Radiografia das forças policiais detectou redução de quadros e deficiências em funções essenciais

O Brasil tem dois policiais para cada grupo de mil habitantes, revelou o estudo “Raio X das Forças de Segurança Pública”, uma radiografia das polícias Militar, Civil e Guardas Municipais feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Não é um número muito distante dos índices nos Estados Unidos, que oscilam entre 1,8 e 2,6 dependendo do estado, segundo a Associação Internacional de Chefes de Polícia. As polícias brasileiras, porém, enfrentam dificuldades próprias.

Entre 2019 e 2022, houve aumento de 23,5% no número de Guardas Municipais (de 1.188 para 1.467, num país com 5.570 municípios). Mas a reação de prefeitos para suprir as limitações estaduais no combate à violência tem sido incapaz de compensar as deficiências das PMs e Polícias Civis. Tem havido perda substancial nos efetivos dedicados ao policiamento, atividade em que a mão de obra é fundamental para o êxito.

Mesmo nas Guardas Municipais, houve diminuição de 4,3% nos quadros, apesar do aumento dos municípios com força policial própria. Nas PMs, responsáveis pelo policiamento ostensivo, a redução entre 2013 e 2023 foi de 6,8%. Nas Polícias Civis, de 2%. Há mais de 30% de vagas abertas nas duas polícias. Isso significa que faltam 180 mil PMs e 57 mil agentes civis.

Cristovam Buarque* -Lógica Hamas-Netanyahu

Correio Braziliense

Acompanhamos o heroísmo de um grupo de líderes, quase todos socialistas, lutando para transformar um minúsculo território em uma nação democrática, progressista, igualitária

Minha geração foi formada pelas ideias humanistas dos grandes pensadores judeus e tomou conhecimento do mundo vendo as fotos de campos de concentração e assistindo à luta dos sobreviventes para criar um novo país que servisse de porto-seguro para os judeus do mundo, perseguidos ao longo de séculos. Acompanhamos o heroísmo de um grupo de líderes, quase todos socialistas, lutando para transformar um minúsculo território em uma nação democrática, progressista e igualitária. Apesar do incômodo moral diante da expulsão de palestinos nativos, e do incômodo político diante da arrogante superioridade dos israelenses sobre os palestinos, a implantação de Israel parecia uma vitória da humanidade, bastando descobrir a fórmula para a convivência entre israelenses e palestinos em dois estados diferentes.

O horror ao terrorismo ficava restrito a grupos isolados, como o Lehi judeu e o Hamas palestino. A repulsa aos crimes deles, na violenta estratégia que escolheram para defender seu respectivo país, não contaminavam o respeito pelos povos judeu e palestino, nem eliminava a possibilidade de dois estados com dois povos convivendo em paz, apesar de gestos terroristas esporádicos perpetrados por seus extremistas. A "lógica Hamas-Netanyahu" está mostrando a impossibilidade dessa convivência.

Merval Pereira - Bom senso da população

O Globo

Apesar de todos os ataques dos últimos anos, Sergio Moro continua com forte apoio popular

A pesquisa Genial/Quaest sobre a Operação Lava-Jato, completada uma década de seu início, mostra que em bom senso a população brasileira supera em muito seus representantes parlamentares, e também um Judiciário que vem se comportando nos últimos anos como ativo participante do debate político.

A versão de que acabar com a Lava-Jato seria a solução para a crise institucional que ela desencadeou não foi comprada pela população, que vê nela ainda bons resultados no combate à corrupção, problema que não foi varrido para debaixo do tapete, apesar dos esforços dos membros do establishment, como queriam os políticos à época em que as investigações começaram a atingir todos os segmentos partidários, e não apenas o PT de Lula.

Míriam Leitão – Revelações dos militares

O Globo

Em depoimento, os dois ex-comandantes, o do Exército e o da Aeronáutica, implicaram diretamente o ex-presidente na tentativa de golpe

O depoimento do general Marco Antonio Freire Gomes foi considerado “consistente” e “revelador”, segundo eu apurei. Ele relata que foram apresentadas a ele pelo próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, duas versões da minuta do golpe, avisando que aquilo tinha que ser implementado. O brigadeiro Carlos de Almeida Batista Jr. também foi nessa linha. Bolsonaro deve ser indiciado, junto com o tenente-coronel Mauro Cid, no caso das vacinas, ainda nesta quinzena. Depois tem o caso das joias. Até o meio do ano, a investigação sobre a tentativa de golpe levará ao indiciamento dos culpados.

O que eu apurei coincide com o que a minha colega Bela Megale publicou ontem na versão online deste jornal. Sim, os comandantes implicaram diretamente o ex-presidente na tentativa de golpe. A fala dos dois ex-comandantes, o do Exército e o da Aeronáutica, é confirmada pelos fatos, como a minuta do golpe que também foi encontrada no gabinete do ex-presidente dentro do Partido Liberal. “É depoimento, mas está comprovado pela apreensão que foi feita”, me disse uma fonte.

Carlos Andreazza - André Mendonça x Dias Toffoli

O Globo

A ver ainda se André Mendonça terá mesmo trazido pegada divergente à forma terrivelmente diastoffolica como o Supremo tem tratado o conjunto de acordos de leniência firmados por empresas que admitiram a constituição de uma máquina cartelizada para corromper agentes do Estado em troca de contratos vantajosos.

Seu primeiro movimento mereceria mais atenção. No âmbito de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental que questiona a voluntariedade desses acordos, ao autorizar que as companhias não paguem as multas por 60 dias, o ministro riscou no chão limites não somente temporais.

Dois meses no curso dos quais estarão habilitadas as partes, órgãos de controle entre elas, a discutir a possibilidade de renegociar os termos que resultaram na definição das multas e suas condições de pagamento. Prazo para que se tente — alcance estrito — encontrar um caminho para renegociação das bases. Sem entrar no mérito. Sem “revisionismos históricos”. A corrupção houve. Os acordos, voluntários, valem. Prazo ao fim do qual não será obrigatório haver entendimentos.

Luiz Carlos Azedo - A agenda é nacional, mas o sistema de segurança é uma bagunça

Correio Braziliense

A questão da segurança pública é tratada de forma populista por muitos governadores, e o resultado é o crescimento do tráfico, das milícias, da corrupção e da "territorialização" do crime organizado

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, mal assumiu o cargo e depara-se com as limitações da pasta em relação à tarefa de cuidar da segurança pública. No momento, está às voltas com as buscas para recapturar dois integrantes do Comando Vermelho, que se evadiram da Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, uma das cinco unidades federais sob sua responsabilidade, utilizadas para prender bandidos de alta periculosidade. Até então, ninguém havia fugido do sistema penitenciário federal. Deibson Nascimento e Rogério Mendonça, que escaparam em 14 de fevereiro, estão dando uma canseira na Polícia Federal, na Polícia Rodoviária Federal e na Força Nacional. Desgaste para Lewandowski.

Andrea Jubé - O risco da democracia ao avesso na Cultura

Valor Econômico

Governo federal que proclama “mais livros” deve ser mais atuante

Na sexta-feira (1), veio a público a censura ao livro “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, por ato da 6ª Coordenadoria Regional de Educação do Rio Grande do Sul, que mandou recolher exemplares da obra das escolas de Santa Cruz do Sul. Foi uma resposta à reclamação da diretora de uma escola estadual de ensino médio do vocabulário de “tão baixo nível” do livro.

Publicado pela Companhia das Letras, o romance debate o racismo estrutural na sociedade brasileira por meio da história de Pedro, que teve o pai assassinado em uma abordagem policial.

O protesto da diretora surpreendeu por envolver uma obra aclamada pela crítica e leitores. Venceu o Prêmio Jabuti (um dos mais prestigiados) em 2021, foi traduzida para mais de dez países, inclusive Estados Unidos, China e França, e foi incluída no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) do Ministério da Educação (MEC).

Luiz Schymura* - É preciso conter os programas com renúncias fiscais

Valor Econômico

Em muitos casos, a profusão de MEIs que vêm sendo abertos pode ser apenas uma forma disfarçada de emprego convencional

O surgimento de novas empresas é tido como um importante indicador do dinamismo de uma economia, pois sugere a força do empreendedorismo. Sob essa ótica, o Brasil vem apresentando um desempenho muito expressivo ao longo dos últimos 15 anos. Em 2009, foram abertas 750.248 empresas, número que saltou para 3,9 milhões em 2023. De fato, foi um pulo muito grande. O que estimula a curiosidade e, por consequência, a busca pelo entendimento do que está por trás desse quadro. Ao colocar uma lupa nos dados, é fácil notar que o surgimento de novos microempreendedores individuais (MEIs) explica quase inteiramente essa disparada na criação de empresas no Brasil.

Em 2009, os MEIs representavam 8,4% das empresas abertas. Com o passar dos anos, os MEIs passaram a ocupar um lugar de amplo destaque, correspondendo, a partir de 2019, a algo como 75% do total das empresas abertas anualmente no país. Dessa forma, caso sejam retirados os MEIs da amostra, o total de novas empresas no Brasil seria de 980,9 mil em 2023, frente às 687,3 mil abertas em 2009. Ou seja, um avanço bem mais modesto.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Proezas e achaques dos fluxos de capitais

Valor Econômico

Os ‘money doctors’ recomendam que a valorização-desvalorização da moeda não conversível seja mitigada pelos emplastros do equilíbrio fiscal

Na última sexta-feira (1º), Luque, Silber, Luna e Zagha ofereceram o artigo “O enigma do investimento direto no país“ aos leitores do Valor. Os autores desfiam argumentos bem fundamentados para avaliar a natureza dos capitais que, sob os auspícios da abertura e desregulamentação financeiras, alternam entradas e saídas dos países emergentes.

Escolhi um parágrafo: “Relatórios recentes do FMI observam que os recursos captados no exterior aumentam a liquidez das empresas, mas não suas inversões. Como já observamos neste espaço, isso não é surpresa. Quando a capacidade ociosa é ampla, qual seria a razão para aumentá-la ainda mais? Mas, se a diferença entre juros internacionais e domésticos for alta, é vantajoso se endividar no exterior a taxas menores que têm vigorado nos últimos anos e aplicar esses recursos no mercado financeiro doméstico”. Bingo!!!

Eliane Cantanhêde – Entre a vida e a morte

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro trabalhou a favor de covid, armas e golpe, que podem matar

O raio X que o Tribunal de Contas da União (TCU) fez e o nosso Estadão divulgou sobre armas e munições em mãos de civis é estarrecedor e fecha um círculo de vida ou morte da era Jair Bolsonaro no Brasil: o relatório final da CPI da Pandemia de Covid, as investigações e provas da articulação de um golpe e, agora, o resultado detalhado da sua política pró armas. Covid, armas e ditaduras matam.

O então presidente Bolsonaro derrubou três portarias do Exército sobre monitoramento de armas e munições e lançou múltiplos projetos para um “liberou geral” de revólveres, fuzis, balas, usando os CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) como canal e aval. Assim, o número de armas em mãos de civis disparou, de um lado, e o controle diminuiu, do outro. Conta altamente perigosa.

Marcelo Godoy - Depoimento de general é visto como ‘tiro de misericórdia’ em Bolsonaro e o fim da agonia do Exército

O Estado de S. Paulo

Ao confirmar a minuta do golpe, Freire Gomes entregou à Polícia Federal informações contra o ex-presidente com o peso de terem sido fornecidas por quem comandou a Força Terrestre

O depoimento do general Marco Antonio Freire Gomes à PF é visto como o “tiro de misericórdia” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Não só pelas informações que revela, esclarece ou confirma, mas também pelo significado que tem a palavra do ex-comandante do Exército. Ela traz parte do peso institucional da voz do Grande Mudo da República. E a expectativa de ser o fim da agonia para a Força Terrestre.

Freire Gomes confirmou não só a discussão sobre a “minuta do golpe” com Bolsonaro e a participação em reuniões no Palácio do Planalto, onde a tentativa de subverter a ordem democrática era planejada. Ele corroborou o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República, que assinou um acordo de delação com a Polícia Federal.

Cid atualizava o general sobre as discussões no Planalto. Às 15h30 do dia 9 de dezembro de 2022, ele contou que Bolsonaro fora pressionado “por vários atores a tomar uma medida mais radical”: as prisões dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do STF, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O tenente-coronel asseverou, no entanto, que Bolsonaro permanecia “na linha do que fora discutido com os comandantes das Forças e com o ministro da Defesa (Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira)”. “Hoje, ele mexeu muito naquele decreto, né. Ele reduziu bastante. Fez algo mais direto, objetivo e curto e limitado.”

Adriana Fernandes - Presidente do BC corrobora viés positivo para contas públicas

Folha de S. Paulo

Melhora na arrecadação aumenta confiança, mas negociações salariais são risco

Roberto Campos Neto corrobora na entrevista à Folha o viés positivo para as contas públicas em 2024, que ganhou tração com a melhora da arrecadação nos primeiros meses de 2024.

O presidente do BC considera que o governo tem todas as condições de entregar um déficit menor para as contas públicas do que aquele embutido nos preços do mercado.

Ou seja, um resultado melhor do que as previsões dos analistas do mercado financeiro, captadas pela pesquisa Focus do BC, que apontam um déficit entre 0,7% e 0,8% do PIB. "Eu estou otimista em relação ao que o mercado está achando", diz.

O dedo apontado pelo BC para os riscos fiscais e o seu impacto na política de juros sempre tem sido motivo de críticas não só no governo Lula, mas também no governo Bolsonaro.

Campos Neto foi contrário à PEC dos Precatórios, apoiada por bolsonaristas. Ele chegou a se desentender feio com o então ministro da EconomiaPaulo Guedes, e recebeu fogo amigo na época.

Dora Kramer - O centro no vácuo

Folha de S. Paulo

O campo do centro se acomodou sob o manto quentinho das torcidas apaixonadas

O eleitorado brasileiro está com a polarização e não abre. As pesquisas de opinião mostram isso, e a atitude dos políticos comprova disposição de seguir a tendência de se abrigar sob o manto dos torcedores obstinados. Sempre reclamando da divisão radicalizada e maniqueísta, mas apelando a uma pacificação que mais parece da boca para fora.

Não se vê ninguém realmente empenhado em abrir caminho para o trânsito numa avenida central. As tentativas frustradas de 2018 e 2022, tudo indica, levaram a um desânimo/conformismo paralisante. Contribuíram para isso as reiteradas previsões de que a construção de uma terceira via estaria fadada ao fracasso.

Hélio Schwartsman - Paz sabotada

Folha de S. Paulo

Hamas sai quase destruído de embate com Israel, mas conseguiu incendiar a região

guerra em Gaza continua e vai deixando um número absurdo de civis palestinos mortos. No plano internacional, quaisquer simpatias que Israel tenha atraído após os ataques terroristas de 7 de outubro já se esgotaram ou estão em vias de esvair-se, inclusive por parte de aliados próximos como os EUA. Não é para menos. O hemoclismo em Gaza se faz acompanhar de medidas que parecem criminosamente cruéis.

Não vejo como justificar, por exemplo, que Israel impeça a entrada das quantidades necessárias de comida e de medicamentos para os palestinos.

Cláudio Carraly* - Precisamos Derrotar os Nacionalismos

O nacionalismo tem desempenhado um papel extremamente danoso na história, muitas vezes validando regimes autoritários e abalizando eventos catastróficos, como as duas guerras mundiais, o holocausto, o genocídio contra os armênios e em Ruanda. Essa ideologia por sua natureza entra em conflito com valores fundamentais e princípios éticos, que deveriam orientar a convivência humana, uma das críticas ao nacionalismo está relacionada ao seu potencial para restringir a liberdade individual, um dos direitos mais básicos e inalienáveis da humanidade. 

Filósofos liberais como John Stuart Mill, argumentaram que o nacionalismo pode levar a um conformismo cultural que limita a diversidade de pensamento e a liberdade de expressão, essenciais para o desenvolvimento dos indivíduos, quando uma nação exige uma lealdade cega e uniformidade cultural, isso pode sufocar o pluralismo e a individualidade, que são fontes de criatividade e inovação, Mill, em sua obra "Sobre a Liberdade", argumenta que a verdadeira liberdade individual só pode ser alcançada quando há espaço para a livre expressão de ideias e opiniões, sem medo de censura ou perseguição, os ideais nacionalistas promovem a conformidade cultural e a supressão de vozes discordantes, entrando em conflito com esse princípio básico dos direitos humanos.

Poesia | O analfabeto político, de Bertolt Brecht

 

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