O Globo
A discussão do Orçamento de 2022 é a coroação de toda a deterioração do processo de definição de políticas públicas e planejamento de longo prazo que o Brasil vem sofrendo nos últimos anos.
A pandemia apenas agravou essa distorção
absurda, que cada vez mais parece difícil de reverter, de prioridades diante
das emergências do país.
O que os congressistas, em alinhamento com
o governo Bolsonaro, trataram de consumar neste restinho de ano foi a confissão
de que, diante de um barco à deriva, a ordem é salvar tudo o que for possível
para a própria sobrevivência da classe política e deixar para ver se há algo a
salvar ou reconstruir depois das eleições.
Aparentemente são fatos desconexos a demora
proposital em começar a vacinar crianças contra a Covid-19 e a destinação de
bilhões de recursos públicos a propósitos tão paroquiais quanto fundo eleitoral
e emendas do orçamento secreto — mas não são.
Ambos os movimentos têm como origem um governo que abriu mão deliberadamente de salvar o futuro, colocou-o no prego das faturas eleitoreiras para tentar se salvar de uma derrota até aqui mais provável.