Horizontes Democráticos
Duas hipóteses sobre a conjuntura
política brasileira, ao que tudo indica, não deverão ser confirmadas: o
impeachment de Bolsonaro e a formação de uma “frente democrática”
eleitoralmente estruturada e com expectativa de poder. O movimento pelo
impeachment não produziu, até o momento, combustão suficiente para ganhar a
sociedade e impor-se institucionalmente. A proposta de “frente democrática”
contra Bolsonaro não se conectou com o movimento do impeachment e tampouco
parece contar com atores inclinados a apoia-la, capazes de lhe dar potência
política e eleitoral. Ambas hipóteses parecem, enfim, não terem capacidade nem
circunstância para se tornarem efetivas. Quiçá possam ser mantidas em seu
espírito fundante, animando ações imediatas e expectativas de médio prazo.
A inviabilização do impeachment ficou explicita na rejeição à emenda do voto impresso, expressando a capacidade do governo em angariar apoio na Câmara dos Deputados, locus de origem institucional de um processo de impeachment do presidente da República. O impeachment não tem como ser instalado com a base de apoio que o presidente demonstrou poder contar. O que especialistas e políticos experientes já divisavam acaba de ser comprovado e o impeachment só passará em função de uma improvável hecatombe no cenário político. A oposição estará obrigada doravante a compreender que só poderá chegar à próxima estação e desembarcar se tiver muito sentido de finalidade para superar o desastre em que o País se meteu.