domingo, 20 de novembro de 2022

Luiz Sérgio Henriques* - A democracia como desafio global

O Estado de S. Paulo

Diante de nós está a evidente tarefa de desagregar o consenso nacional-populista, esvaziando a base de massas do autoritarismo

Menos desglobalizada do que parece, a política de diferentes países continua atravessada por riscos, tensões e até conjunturas críticas que podem ser comparadas, como as que, nas últimas semanas, marcaram as duas maiores democracias das Américas. Por aqui nos livramos da ameaça do segundo mandato do governante nacional-populista, quando costuma tomar forma não propriamente uma tradicional ditadura militar, mas um regime de controle estrito das alavancas do Estado e das instâncias da sociedade civil. Mais ao norte, nos Estados Unidos, desmentindo previsões sombrias, Joe Biden e seu partido ganharam tempo precioso até as eleições de 2024, livrando-se o presidente do destino que se reserva aos lame ducks, os governantes enfraquecidos em final de mandato.

Trata-se de dois países cujas circunstâncias, segundo insight do cientista político Jairo Nicolau, estão no ponto máximo de proximidade, a começar pela radical divisão da sociedade – e dos eleitores – e pela presença de atores com vocação subversiva. Em ambos os casos, líderes de extrema direita, com séquito de massas e traços de um fascismo reformulado, ou de um pós-fascismo, tomaram o lugar da direita constitucional, ameaçando sem nenhum pudor o mecanismo da alternância. Voto eletrônico ou impresso, eleições centralizadas ou descentralizadas, nada disso importa. O script é monotonamente previsível, os resultados só valem se o autocrata vencer.

Merval Pereira - Volta ao velho normal

O Globo

Militares têm atuado de maneira ambígua, permitindo que manifestantes acampem em áreas de “segurança nacional e alimentando desvarios negacionistas

O Brasil precisa voltar à normalidade, e os militares são parte importante desse retorno. Não é aceitável que as aglomerações em frente aos quartéis sejam consideradas normais, ainda mais quando pedem medidas inconstitucionais, como a intervenção militar para não permitir que o presidente eleito tome posse. São as novas “vivandeiras alvoroçadas” que incentivavam os militares a ações golpistas.

Não ver o que está sendo gestado nesses movimentos ilegais, ou pela continuada ação de bloqueio em estradas pelo país, é ser cúmplice, no mínimo por leniência e inação. Bolsonaro levou os militares para o centro da política partidária, prometendo reintroduzi-los na vida nacional pela porta da frente, como se precisassem do aval de um político desqualificado, “mau militar”, para ter o respeito da população.

Acabou colocando os militares em situação delicada, sendo vistos pela população como privilegiados, como no caso da reforma da Previdência, ou como agentes políticos com lado, como acontece agora. Logo que assumiu, Bolsonaro fez questão de agradecer publicamente ao General Villas Boas, em palavras cifradas: “General Villas Boas, o que nós conversamos ficará entre nós, o senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”.

Dorrit Harazim - A desrazão

O Globo

Imaginar Bolsonaro zanzando há três semanas no Palácio da Alvorada, infectado física e psicologicamente pelo medo, é esquisito

De que é feito um grande líder? Quase 200 anos atrás, a americana Margaret Fuller, autora do clássico “A mulher no século XIX”, primeira obra feminista registrada nos Estados Unidos, elencou quatro atributos essenciais: 1) ser idealista sem ser raso, ser realista sem demolir o outro; 2) abrigar empatias universais; 3) ser seguro de si; 4) entender que o poder é mais que mero espetáculo — o jogo da vida é solene, tem consequências. Primeira mulher correspondente de guerra de seu país, a pioneira Fuller foi uma jornalista engajada. Tinha horror à desrazão.

Em tempos mais recentes, quem também se ocupou do tema foi outra pioneira das letras, a colossal Octavia Butler. Autora de livros de ficção científica, Butler havia arrombado essa fatia do universo literário dominada por homens — e quase sempre homens brancos. Fora marcada pelo racismo e pelo segregacionismo dos EUA. Tampouco tinha paciência com a desrazão. Deixou ensinamentos sábios sobre a escolha de líderes. “Ser liderado por um covarde significa ser controlado por tudo o que o covarde teme. E ser liderado por um tolo é ser liderado pelos oportunistas que controlam o tolo”, escreveu em “Parábola dos talentos”. A obra também contempla líderes corruptos, mentirosos e chegados a uma tirania.

Luiz Carlos Azedo - Nada será como antes no 3º mandato de Lula

Correio Braziliense

A ruptura entre os dois primeiros mandatos e o terceiro é uma necessidade histórica, porque existe um hiato de 12 anos entre ambos, no qual o mundo mudou e a realidade política e social do país também

Talvez a grande dificuldade para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) operar a transição e a montagem do seu novo governo decorra do fato de que existe uma lógica subliminar nas suas atitudes que não tem viabilidade política: retomar o fio da história de onde sua passagem pela Presidência foi interrompida. Essa foi a linha básica de sua campanha eleitoral, na qual explorou as realizações de seus dois exitosos mandatos como principal ativo eleitoral, ao mesmo tempo em que manteve distância regulamentar da questão ética e do fracasso político, econômico e administrativo de Dilma Rousseff, mascarado pelo discurso de que fora vítima de golpismo.

Míriam Leitão - Na terra do meio da transição de poder

O Globo

É preciso ver tanto as demandas sociais do país quanto os alertas dos economistas para reduzir o risco de errar em um governo que nem começou

Para chegar aos gabinetes do escritório de transição, no segundo andar, é preciso subir quatro lances de escada. Parece detalhe. É sinal. O CCBB, tradicional local das transições de governo, não estava preparado. Dois elevadores estão em reforma. Há um único elevador na área de segurança, reservado para o presidente e o vice-presidente eleitos e suas equipes. Teriam pensado que não haveria alternância? Nos corredores da área reservada, para a qual só se passa de crachás amarelos, cartazes improvisados na porta indicam os novos donos do poder. Mas antes da área de segurança é possível encontrar alegres grupos da sociedade civil.

Do lado de fora, jornalistas cercam fontes que passam, cruzando com famílias indo visitar exposições. Há em tudo um ambiente de mudança e recomeço. O tempo em Brasília nessa época do ano tem mais volatilidade que o mercado financeiro. O sol forte pode dar lugar a tempestades com raios e trovoadas em minutos.

Bernardo Mello Franco – Os donos da faixa

O Globo

Ritual simboliza duas coisas que o capitão abomina: democracia e alternância de poder

Jair Bolsonaro perdeu a eleição, se trancou no palácio e não quer passar a faixa. O futuro ex-presidente tem dado sinais de que faltará à posse do sucessor. Deve repetir o exemplo de João Figueiredo, o último general da ditadura, que boicotou a solenidade em 1985.

A birra do capitão criou um problema para os organizadores da cerimônia. O vice-presidente Hamilton Mourão poderia ser escalado, mas já avisou que não vai substituir o titular. “Eu não sou o presidente. Não posso botar aquela faixa, tirar e entregar”, justificou, em entrevista ao jornal Valor Econômico.

A transmissão da faixa simboliza duas coisas que Bolsonaro abomina: a democracia e a alternância de poder. O capitão não reconheceu a derrota, não ligou para o presidente eleito e não apareceu mais para trabalhar. Sumir no dia 1º de janeiro seria seu último ato de incivilidade.

Elio Gaspari - A macumba da faixa

O Globo

Presidente tem até 1º de janeiro para decidir como pretende sair do governo e retomar sua vida política

Jair Bolsonaro tem até a manhã de 1º de janeiro para decidir como pretende sair do governo e como pretende retomar sua vida política. Poderá passar a faixa presidencial a Lula, indicando que ganhou, perdeu e seguirá seu caminho dentro das quatro linhas da Constituição.

Poderá ir para casa, recusando-se a participar da cerimônia de transferência do poder. Na República, que há dias fez 133 anos, só dois presidentes fizeram essa pirraça: João Figueiredo, em 1985, e Floriano Peixoto, em 1894.

Figueiredo passaria a faixa a Tancredo Neves com alguma satisfação. Como Tancredo estava no hospital, e naqueles dias detestava o vice-presidente José Sarney, foi-se embora, saindo por uma porta lateral do palácio.

O general que completou a abertura, deu a anistia e conduziu a redemocratização estragou sua biografia com a pirraça infantil. A fotografia dele passando a faixa a Sarney simbolizaria seu governo.

Se Bolsonaro passar a faixa a Lula, ninguém achará que passou a gostar dele. O gesto mostrará apenas que, como disse ao reconhecer o resultado da eleição, ficou dentro das quatro linhas da Constituição. É um ganha-ganha contra um perde-perde.

Bruno Boghossian - Bolsonaro terá concorrência?

Folha de S. Paulo

Com movimentos sutis, Zema e Ratinho tentam demarcar diferenças e não descartam candidatura

Jair Bolsonaro saiu das urnas derrotado, mas se consolidou como o líder mais popular da direita brasileira atualmente. Apesar dos movimentos precoces para mantê-lo como nome forte na próxima eleição, nem todos tratam o presidente como candidato único e natural desse campo político em 2026.

Dois atores da órbita bolsonarista fizeram movimentos sutis nesse sentido. Em entrevistas nos últimos dias, os governadores Romeu Zema (MG) e Ratinho Júnior (PR) tentaram demarcar divergências leves em relação ao presidente e sugeriram que a porta deve estar aberta para outros nomes de direita em quatro anos.

Embora tenham entrado de cabeça na campanha de Bolsonaro neste ano, os dois fizeram questão de dizer agora que têm críticas ao presidente, principalmente na condução do país diante da Covid. "Durante a pandemia, a comunicação do governo federal deixou muito a desejar", declarou Zema à rádio Super.

Hélio Schwartsman - Mudança

Folha de S. Paulo

Inovações só ocorrem depois de terem sido validadas por relacionamentos significativos do indivíduo

Você quer colocar uma nova ideia em circulação. Qual a melhor estratégia? Contratar um punhado de influenciadores que somem milhões de seguidores? Até pode ser, desde que sua ideia seja algo bem simples e que não envolva nenhuma espécie de mudança comportamental, tipo propagar uma notícia. Aí, as redes compostas por indivíduos densamente relacionados, capazes de alcançar multidões, provavelmente funcionarão. Mas, se sua ideia exige que as pessoas adotem outras atitudes, aí os influenciadores não serão tão úteis. Na verdade, podem até revelar-se um tiro pela culatra.

"Mudança", de Damon Centola, analisa essa e várias outras questões relativas a redes sociais. E o faz recorrendo à ciência, não a intuições arraigadas, e buscando exemplos em casos reais. O retumbante fracasso do Google Glass, por exemplo, se deve ao fato de que a empresa foi muito eficaz em espalhar notícias sobre o produto usando influenciadores e geeks, mas muito menos em criar um ambiente de validação social para seu uso. O apetrecho foi visto como algo esnobe, indesejável para pessoas comuns.

Muniz Sodré* - Nervos à flor do pano

Folha de S. Paulo

Mercado de puros valores tem olhos fechados ao território, à gente viva

"Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (1988), conhecido filme de Pedro Almodóvar, não tem nada a ver com economia, mas esse título assenta bem à entidade entre nós denominada "mercado". É que, emocionado, Lula disse ser o combate à fome mais importante do que estabilidade fiscal. Não disse que são incompatíveis, foi um desabafo. "Em modo de campanha", ponderou uma voz experiente. Mas num tremelique, o mercado jogou para baixo o Ibovespa e, para cima, o dólar. Um ataque de nervos de quem certamente esperava outra coisa.

A economia de mercado, mecanismo autorregulável que ordena a produção e a distribuição dos bens, vive de expectativas. A primeira é de que os seres humanos se comportem de modo a atingir o máximo de ganhos monetários. Dinheiro é uma voragem atrativa. Depois, o domínio da sociedade pelo mercado, esquecido da evidência histórica de que a economia do homem está submersa em suas relações sociais. Disso bem sabe Lula: o mercado pode querer uma coisa, e a sociedade, outra.

Janio de Freitas - O reencontro com o Brasil

Folha de S. Paulo

O mundo mudou e a visão dos militares ficou fora, completamente fora da realidade

A recepção do mundo ao retorno de Lula tem a anormalidade dos fenômenos. As publicações importantes, muitos chefes de governo, e manifestações dos conscientes das urgências naturais, sociais e políticas do planeta celebram a volta do Brasil pelas mãos de Lula. Nas palavras do escritor Jon Lee Anderson: "As pessoas ao redor mundo estão esperando de você, Lula, não que salve a Amazônia, mas que salve o mundo".

Há pouco a se comparar com essa expressão universalizada de inquietude e vontade, feita com espontaneidade que subjuga a era do invasivo marketing. O nome Lula ecoa no mundo como o de Mandela soou em nossos dias, por admiração ao homem e à obra de sua vida comovente. Lula —ideia, histórico, palavra, pessoa— é a causa e a confiança.

Vinicius Torres Freire - O começo de Lula 1, uma crônica

Folha de S. Paulo

Era preciso conter 'ansiedade social'; crescimento e superávit foram os maiores da democracia

"Teremos de manter sob controle as nossas muitas e legítimas ansiedades sociais para que elas possam ser atendidas no ritmo adequado e no momento justo", disse Luiz Inácio Lula da Silva, em seu discurso de posse. Da primeira posse: 2 de janeiro de 2003.

Como neste 2022, nos discursos da vitória de 2002 e no da posse de 2003, Lula disse: "Se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida".

Cerca de 150 mil pessoas foram à Esplanada dos Ministérios para ver o primeiro presidente de esquerda. Lula assinou o termo de posse com uma caneta Montblanc dourada, presente de Ramez Tebet (1936-2006), senador pelo MDB do Mato Grosso, então presidente do Congresso, pai da senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Eliane Cantanhêde - ‘Momento eufórico’

O Estado de S. Paulo.

Em bom português, Lula modula discurso, corrige erro e recupera a paz. Por enquanto

Numa montanha-russa, o presidente eleito Lula brilhou ao levar o Brasil de volta à liderança ambiental e à cena internacional, derrapou ao desdenhar da responsabilidade fiscal, da Bolsa e do câmbio e se reequilibrou em Portugal, ao calibrar a fala sobre contas públicas, referir-se adequadamente às Forças Armadas e, enfim, enfrentar de frente a carona em jatinho de empresário.

Na COP 27, a plateia entoou o novo hino lulista, “o Brasil voltoooou, o Brasil voltoooou”, diante de um discurso contundente e abrangente em que Lula falou para os brasileiros e o mundo e se declarou “cobrador” dos países ricos.

Albert Fishlow* - Planos para o futuro de forma produtiva

O Estado de S. Paulo.

O mundo de hoje é bem diferente daquele que existia no primeiro mandato de Lula

Estes ainda são dias de alegria. Lula foi eleito presidente do Brasil mais uma vez, ainda que por pouco. Nos EUA, os democratas mantiveram o controle do Senado, mas não conseguiram a maioria na Câmara.

Desta vez, Bolsonaro e Trump fracassaram em reestruturar as sociedades de seus países enfatizando os valores pessoais deles – e aqueles de suas famílias –, em detrimento dos mais pobres, das mulheres, da diversidade racial e sexual, dos indígenas e de outros críticos declarados. Tanto Bolsonaro quanto Trump queriam olhar para trás, e não para frente.

Mas a vantagem apertada de cada vitória limita a liberdade de, simplesmente, seguir em frente. Um futuro melhor exige uma capacidade contínua de tentar estabelecer relações amigáveis e se comprometer, em vez de se impor. Isso vale até mesmo no Oriente Médio e no conflito entre a Ucrânia e a Rússia de Putin.

Celso Lafer* - 2023: rumos e desafios da política externa de Lula

O Estado de S. Paulo

Na interação entre o ‘interno’ e o ‘externo’, é relevante que o novo governo tenha sensibilidade para ampliar sua validação.

O legado da política externa do governo Bolsonaro é muito negativo. Isolou o Brasil no mundo; dilapidou o capital diplomático do País; diminuiu o potencial de articulação com nossos grandes parceiros; comprometeu nossa ação nas instâncias multilaterais que sempre foram histórico ativo do País. 

O governo Bolsonaro não soube traduzir objetiva e apropriadamente necessidades internas em possibilidades externas – a tarefa da política externa como política pública.

É consensual esta avaliação entre analistas da diplomacia brasileira. Foi significativo que personalidades que exerceram responsabilidades nas relações internacionais em diferentes governos e com distintas trajetórias e opiniões políticas tenham se manifestado sobre a matéria. Publicamos juntos neste jornal, em 8 de maio de 2020, artigo sobre a necessidade da reconstrução da política externa, assinado por Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes Ferreira, Celso Amorim, Francisco Rezek, José Serra, Rubens Ricupero, Hussein Kalout e por mim (A reconstrução da política externa brasileira, pág. A7).

Cristovam Buarque* - Desempobrecer e enriquecer

Blog do Noblat / Metrópoles

Perdeu-se a perspectiva de que sair da pobreza é menos aumentar um pouco a renda do que dispor de acesso aos bens e serviços essenciais

Desde que o pensamento econômico passou a dominar a lógica do processo social, desempobrecer e enriquecer significam o mesmo: aumentar a renda. Mudam os valores, mas o mesmo conceito serve para quem sai da pobreza, um pouco mais de renda, e quem sobe na riqueza, muito mais renda.

Perdeu-se a perspectiva de que sair da pobreza é menos aumentar um pouco a renda do que dispor de acesso aos bens e serviços essenciais: segurança alimentar, escola com qualidade, moradia com água potável, esgoto e coleta de lixo, atendimento médico, transporte coletivo de qualidade e um nível básico de renda. Há quase 100 anos, os economistas prometem que tudo isto chegará com o crescimento econômico, emprego e renda, e nunca chega, porque o acesso no mercado aos itens essenciais só é possível por pessoas de renda alta, para a maior parte das pessoas com renda baixa, este acesso só é possível se disponíveis publicamente.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Copa do Catar vai além das quatro linhas do gramado

O Globo

Nunca um país gastou tanto para realizar o evento — e nunca ele foi marcado por tantas denúncias

Nunca se gastou tanto para sediar uma Copa do Mundo. O orçamento recorde da Copa do Catar — US$ 220 bilhões — é quase 15 vezes o que foi investido no Brasil em 2014. Mas a dinheirama despejada na primeira Copa do Oriente Médio não foi suficiente para redimir a imagem do país. Denúncias de violações de direitos dos trabalhadores migrantes, das mulheres e da população LGBTQIA+ já fazem dela campeã de questionamentos. Dois dias antes da abertura, os catarenses ainda proibiram a venda de cerveja nos estádios.

A escolha do Catar como sede em 2010, em detrimento dos Estados Unidos, foi cercada de suspeitas de corrupção. O próprio presidente da Fifa na ocasião, Joseph Blatter, admitiu depois que a escolha fora “um erro”. Não só pelo transtorno logístico — em razão das altas temperaturas, pela primeira vez o torneio teve de ser transferido para novembro, prejudicando o calendário das poderosas ligas europeias. Mas também por desprezar a questão dos direitos humanos, a exemplo do que acontecera na Argentina em 1978 ou na Rússia em 2018.

Poesia | O Haver - Vinicius de Moraes (participação de Edu Lobo)

 

Música | Beth Carvalho - Por um dia de Graça