domingo, 27 de dezembro de 2020

Luiz Carlos Azedo - Mudar ou ser mudado

- Correio Braziliense

Nada será como antes depois de controlada a pandemia — no decorrer de 2021, na maioria dos países desenvolvidos —, um novo ciclo de globalização está sendo iniciado

A segunda onda da pandemia de covid-19, que registra mutação do novo coronavírus — há evidências de que já transborda da Inglaterra para outros países europeus e, provavelmente, chegou ou chegará por aqui — é a face mais visível de uma contradição com a qual teremos que lidar durante muitos anos: a globalização é um fenômeno objetivo e irreversível, mas carece de mecanismos de governança mundial eficazes para neutralizar seus efeitos mais perversos, que aprofundam as desigualdades no mundo.

A pandemia é uma lente de aumento sobre o problema, se levarmos em conta que as transformações na estrutura produtiva do planeta, cujo dinamismo é ditado pelas inovações tecnológicas e os novos conhecimentos, colocaram em xeque as políticas ultraliberais. Revelou que a saúde pública, por exemplo, continua sendo uma prioridade para a economia. Muitos imaginavam, com o advento do não-trabalho e a inutilidade de grandes exércitos industriais de reserva, que políticas universalistas de saúde deixariam de ser necessárias para a reprodução do capital em escala global, assim como a boa formação educacional pública e gratuita, pois supostamente já não se precisaria da mesma abundância de mão de obra saudável e escolarizada disponível para o desenvolvimento.

Ricardo Noblat - Viva o povo brasileiro e o seu condutor!

- Blog do Noblat / Veja

Mudou o Natal ou mudamos?

O presidente Jair Bolsonaro e os brasileiros se merecem. Antes que o dito possa soar como um insulto (no caso a uma parte dos brasileiros), avanço na justificação.

Pouco importa que ele seja um presidente acidental, em grande débito com a facada que levou em Juiz de Fora quase às vésperas da eleição e com o antipetismo de raiz.

Colheu mais de 56% dos votos no segundo turno da eleição. Sua vitória não foi contestada por ninguém, a não ser por ele mesmo que viu fraude no primeiro para impedi-lo de se eleger logo.

Depois de dois anos de (des)governo, continua sendo bem avaliado. Em todas as pesquisas de intenção de voto feitas até aqui, derrota com conforto seus eventuais adversários em 2022.

Assim, sente-se liberado para dizer o que pensa, e o faz sem temer revezes. E sem que isso cause severos danos à sua imagem. Afinal, o que diz é o que está na cabeça da maioria dos que o apoiam.

Desfila sem máscara por aí quando a pandemia se aproxima do número oficial de 220 mil mortos e de quase 8 milhões de infectados. E daí? Não é o que vemos por toda parte?

Doria pavimenta apoio inédito no PSDB para 2022

Pedro Venceslau / O Estado de S. Paulo

 Bancadas do partido na Câmara e Senado, prefeitos e vereadores referendam nome de governador como eventual presidenciável

Depois de enfrentar prévias conturbadas para ser o candidato do PSDB à Prefeitura em 2016 e ao Palácio dos Bandeirantes em 2018, o governador de São Paulo, João Doria, entra em 2021 com o caminho já pavimentado para ser o candidato tucano na eleição presidencial de 2022. Enquanto conversa com outras forças políticas para tentar construir uma aliança contra o presidente Jair Bolsonaro e usa a vacina do Instituto Butantã com a fabricante chinesa Sinovac para se projetar nacionalmente, Doria conseguiu um apoio inédito das bancadas do PSDB na Câmara e no Senado, da Executiva Nacional tucana, além dos governadores e principais prefeitos da legenda, entre eles Bruno Covas, reeleito na capital paulista. 

Pela relevância do cargo, o governador de São Paulo sempre foi considerado um candidato natural ao Palácio do Planalto, mas, em eleições anteriores, tanto José Serra quanto Geraldo Alckmin enfrentaram resistências internas antes de se lançarem na disputa. A única eleição presidencial na qual o candidato do PSDB não era um paulista foi em 2014, quando o senador mineiro Aécio Neves foi ao segundo turno contra Dilma Rousseff (PT). Em todos os pleitos desde 2002, porém, houve disputa interna no partido pela vaga de candidato.

Sem foco de resistência na legenda, Doria é até o momento o único pré-candidato que se coloca abertamente como presidenciável, apostando no contraponto ao presidente Jair Bolsonaro. “Doria é o nome mais forte que temos no PSDB, que mostrou em 2020 que está vivo. A vacina é um ativo de quem apostou na ciência e na saúde”, disse o deputado federal Rodrigo Castro (MG), novo líder do PSDB na Câmara. 

Rolf Kuntz - Em dois anos desastrosos, a pandemia só surgiu no segundo

- O Estado de S. Paulo

Depois de dois anos de desgoverno, ainda resta o direito de desejar feliz ano novo

Desprezo à vida, quase um culto à morte, é a grande marca do presidente Jair Bolsonaro, afirmada e reafirmada em todo o seu desgoverno. Com a pandemia esse desprezo ficou mais escancarado, assim como seu despreparo para governar. Enquanto avança o contágio, o presidente chama de maricas quem tenta evitar a doença e cobra menos ansiedade na espera pela vacina. O descaso pela vida se reafirma, sem pausa, também na sua obsessão pelas armas. Pode-se morrer de bala ou de covid-19. E daí? Essa pergunta, um comentário sobre a mortandade, resume dois anos de Presidência bolsonariana – fiasco na economia, desastre na pandemia, constante ameaça à democracia. Será um prenúncio dos próximos dois?

Liderança, criatividade e solidariedade podem eclodir diante de grandes desafios. Diante da pandemia, Bolsonaro foi negacionista, como seu guia Donald Trump. Continuou centrado em objetivos particulares, como a reeleição e a proteção dos filhos. Além disso, frequentou manifestações golpistas, como no dia 3 de maio.

Mais de 100 mil casos de covid-19 haviam sido registrados e as mortes passavam de 7 mil, superando as da China, mas as prioridades do presidente eram outras. Na passeata, faixas pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso e “intervenção militar com Bolsonaro”. O presidente apareceu sem máscara, abraçou uma criança e criticou medidas sanitárias de governadores e prefeitos.

A indisposição de Bolsonaro com o STF era notória. O ministro Alexandre de Moraes havia suspendido a nomeação de Alexandre Ramagem para a direção da Polícia Federal (PF). Sem dizer a quem se dirigia, o presidente berrou ameaças.

“Vocês sabem que o povo está conosco. As Forças Armadas, ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade, também estão ao nosso lado, e Deus acima de tudo. Vamos tocar o barco. Peço a Deus que não tenhamos problemas nesta semana, porque chegamos no limite, não tem mais conversa, tá OK? Daqui para frente não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Ela será cumprida a qualquer preço.” Depois prometeu nomear no dia seguinte o novo diretor da PF.

Eliane Cantanhêde - Quem ama não mata

- O Estado de S. Paulo

As vidas da mulheres importam e isso é cultura, é educação, depende do Estado e de cada um de nós

O Brasil está doente, não apenas por causa da pandemia, da economia, do desemprego, da corrupção e do desgoverno, mas porque a desigualdade social é a oitava do mundo, o trânsito é assassino e o feminicídio, endêmico, está em toda a parte, em todas as classes sociais. Um horror, uma vergonha, uma sensação de impotência num País tão especial, tão lindo, com uma natureza tão privilegiada.

Fiquemos no feminicídio, depois de dois fatos chacoalharem o Judiciário na reta final de um ano tão dramático no mundo inteiro: o assassinato no Rio de uma juíza, Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, 45, e as declarações insanas de um juiz (e um juiz de Vara de Família!), Rodrigo Azevedo Costa, reveladas pelo programa Papo de Mãe, das jornalistas Mariana Kotscho e Roberta Manreza.

 Na véspera do Natal, data da esperança e da generosidade, o engenheiro Paulo José Arronenzi assassinou a juíza Viviane a facadas, na frente das três filhas de ambos, uma de 9 anos e as gêmeas de 7. Viviane tentava reagir à insanidade com racionalidade, tinha dispensado a escolta e estava levando as crianças para passar o Natal com o pai, que nem sequer se deu ao trabalho de fugir. Ficou ali, olhando a mulher morrer, até a polícia chegar.

Bruno Boghossian – As palavras e as coisas

- Folha de S. Paulo

Palavras de Bolsonaro produzem agenda destrutiva, da segurança à vacinação

Em campanha, Jair Bolsonaro queria "carta branca para policial matar". Após chegar ao Planalto, prometeu "retaguarda jurídica" para blindar as forças de segurança em casos desse tipo. Agora, pelo segundo ano seguido, ele assinou um indulto feito sob medida para perdoar crimes não intencionais cometidos em serviço por esses agentes.

O governo não foi capaz de aprovar mudanças na lei para garantir uma proteção definitiva, mas Bolsonaro ainda consegue empurrar sua agenda de incentivo à violência policial. Com medidas alternativas e estímulos retóricos, o presidente avança na corrosão de políticas de segurança, da preservação ambiental, da democracia e da saúde pública.

Dias antes de editar o indulto, Bolsonaro ofereceu guarida a PMs num discurso para recém-formados, no Rio. "Numa fração de segundo, está em risco a sua vida, do cidadão de bem ou de um canalha defendido pela imprensa brasileira", disse. O presidente sabe que a polícia do estado já mata e morre em níveis recordes.

Hélio Schwartsman - A matéria-prima da tragédia

- Folha de S. Paulo

A oposição entre a lei impessoal e obrigações morais particularistas não é novidade

Você e seu melhor amigo estão no carro. Ele dirige. De repente, ele atropela um pedestre. Estava a uma velocidade acima da permitida. Não há câmeras nem testemunhas, além de você. O advogado de seu amigo diz que, se você testemunhar, assegurando que ele trafegava abaixo do limite de velocidade, vai poupá-lo de sérios problemas.

O que você pensa disso:

a) Que seu amigo tem todo o direito de esperar que você testemunhe em seu favor, e você deve mesmo honrar os deveres da amizade.

b) Que seu amigo deveria ter pouca ou nenhuma expectativa de que você testemunhe, e você não deve mentir em juízo.

Como ensina Joseph Henrich, esse é um dos testes usados para diferenciar países “weird” (acrônimo em inglês para ocidental, educado, industrializado, rico e democrático) dos demais.

Em nações como EUA, Canadá e Suíça, mais de 90% dos empresários e gerentes submetidos ao teste responderam “b”; já em países como Nepal, Venezuela e Coreia do Sul, a maioria optou por “a”. O Brasil fica no meio do caminho.

Vinicius Torres Freire - Doria injetou veneno de descrédito na testa

- Folha de S. Paulo

Governador exagerou no show e ameaça programa de imunização

Ao fim da guerra da vacina, João Doria poderia parecer um líder mais nacional e um contraponto da razão a Jair Bolsonaro. O governador paulista decerto fez o bom serviço de cutucar a inoperância federal. Mas, depois dos vexames recentes, Doria pode parecer apenas um destrambelhado provinciano. Pior, lançou desconfiança sobre a própria vacina que comprou, grave em termos sanitários e econômicos.

Por duas vezes, o governo de São Paulo adiou a publicação da eficácia da Coronavac. Na quarta-feira (23), o país foi induzido a esperar boas notícias. Em vez disso, ouviu uma conversa palerma de que os dados precisariam ser antes mastigados pela Sinovac, por uma obrigação contratual, e de que a eficácia da vacina era diferente daquela verificada em outros países, no limite de apenas 50%.

Descobriu-se que Doria estava em Miami, o que pareceu fuga do fiasco. Para piorar, soube-se na sexta (25) que a Turquia não teria “obrigação contratual”, pois divulgou, de modo mambembe, que a Coronavac seria eficaz em 91,25% dos casos.

O governo Doria suscitou desconfiança sobre os números que virão sobre a vacina, já objeto de propaganda negativa criminosa de Bolsonaro.

Arminio Fraga - Desafios para 2021 e depois

- Folha de S. Paulo

No momento, sobra incerteza e falta confiança; deficiências são tantas que há amplo espaço para melhorias

2020 foi o ano da trágica Covid-19. Foi também um ano de grandes respostas: uma extraordinária conquista da ciência no campo das vacinas e uma expansão fiscal e monetária sem precedentes.

A despeito de uma queda do PIB global estimada em cerca de 5%, as bolsas e os preços das commodities se recuperaram do colapso de março, já tendo em muitos casos ultrapassado os níveis pré-Covid. Enxergam uma recuperação plena.

Enquanto isso... Por aqui, além da tragédia humana, o ano foi de trevas, de um ubíquo obscurantismo, que se manifestou e segue se manifestando em áreas cruciais, como saúde e meio ambiente. Vejo um país sem rumo, ou pior.

Não é possível ignorar a segunda onda de infecções e mortes. Atrasos e lacunas na vacinação agravarão o quadro. Faz falta uma campanha nacional de saúde, ao invés de uma anticampanha. A pressão sobre os delapidados cofres públicos aumentará. A onda de otimismo global nos dá algum fôlego e pode até se manter, mas o quadro aqui inspira cuidados.

Sim, a economia vem se recuperando, mas em bases não sustentáveis. Parece-me crucial não perder de vista os caminhos para que o Brasil saia da recessão e se desenvolva plenamente. Nossos maiores desafios econômicos podem ser organizados em três grandes áreas: macroeconomia, produtividade e desigualdade.

Janio de Freitas - 'Feliz Ano-Novo', que perigo

- Folha de S. Paulo

Há um esboço de novidades saudáveis, esse gênero que passou de escasso a extinto

Na passagem do mal vivido para o vamos ver, o Brasil recomenda aos seus filhos muito bom senso ao desejar feliz Ano-Novo. Seja qual for sua sinceridade, convém que esses votos sejam certeiros na destinação. Não só para evitar desperdício. Os votos tradicionais, extensivos e indiscriminados, estão perigosos. Podem ser até suicidas.

Não, nada a ver com a Covid-19. Mais um ano feliz para os 37% que aprovam o governo resultaria da permanência de toda a alucinação e destrutividade, desprezo pela vida das pessoas e pelo futuro do país, predominantes nestes dois anos. Seria a continuidade de um ano que 63% dos brasileiros sentiram entre reprovável e sufocante. Sim, resgatar o Brasil e retomar o passo da democracia depende de que os felizes com os dois anos passados sejam os infelizes do próximo ano. E o sejam tanto e tão cedo quanto possível.

Nesse sentido, há um esboço de novidades saudáveis, esse gênero que passou de escasso a extinto. Uma delas é a incipiente aliança de MDB, DEM, PDT, Cidadania e PT com o objetivo de fazer o futuro presidente da Câmara.

Um feito devido, sobretudo, à hábil confiança conquistada por Rodrigo Maia e a uma reconsideração experimental do PT em vista das circunstâncias.

Bernardo Mello Franco - O poeta e o golpe: Drummond em 1964


- O Globo

Em 1º de abril de 1964, Carlos Drummond de Andrade saiu de casa para conferir a agitação no Forte de Copacabana. Ele caminhou até a praia com o amigo Carlos Heitor Cony. Os dois queriam ver com os próprios olhos se o golpe estava mesmo na rua. “Há poucas dúvidas sobre a derrota de Jango”, constatou o poeta, que havia passado a madrugada colado a um rádio transistor.

Em seu diário, Drummond registrou a festa da classe média com a derrubada do presidente que prometia reforma agrária. Ele não comemorou o golpe, mas também não parecia contrariado:

“Eu voltava para casa quando se ouviram estampidos, houve um corre-corre, e eis que da janela dos edifícios gente sacode lenços, panos de prato, até lençóis, enquanto outra chuva, esta de papel picado, cai sobre o asfalto. O rádio espalhara a notícia, transmitida por Lacerda: Jango deu o fora. Volto à praia. Gente cantando o hino nacional, xingando Brizola em slogan improvisado. Sensação geral de alívio”.

Doze dias depois, o poeta começava a entender que o país estava mergulhando em uma nova ditadura. “Baixado o Ato Institucional, que atenta rudemente contra o sistema democrático. O Congresso, já tão inexpressivo, passa a ser uma pobre coisa tutelada. Vamos ver o que será das liberdades públicas”, escreveu.

Em junho, Drummond seria convocado a depor em inquérito administrativo da rádio MEC, ocupada pelos golpistas que se diziam “revolucionários”. Queriam que testemunhasse contra a ex-diretora, acusada de “atividades subversivas”. “Os inquéritos desse tipo traduzem mais o espírito de vingança do que o de justiça”, anotou.

Elio Gaspari - Cacaso previu a ‘nova política’

- O Globo / Folha de S. Paulo

Dois anos depois da eleição de Wilson Witzel para o governo do Estado do Rio e passados quatro da vitória de Marcelo Crivella para a prefeitura da cidade, a “nova política” mostrou seu verdadeiro rosto

Dois anos depois da eleição de Wilson Witzel para o governo do Estado do Rio e passados quatro da vitória de Marcelo Crivella para a prefeitura da cidade, a “nova política” mostrou seu verdadeiro rosto. Como dizia o poeta Cacaso (1944-1987):

Ficou moderno o Brasil,

Ficou moderno o milagre

A água já não vira vinho,

Vira direto vinagre.

Witzel e Crivella teriam sido algo novo. Um perdeu o mandato e batalha pela liberdade. O outro está preso em casa. A água que viraria vinho nem vinagre virou, tornou-se apenas uma lama velha.

Witzel prometia tiros nas “cabecinhas”e Crivella oferecia lances místicos enquanto aninhava milicianos na prefeitura. Foram novos na empulhação. Ocupando os cargos, nem na roubalheira inovaram. Basta ver a onipresença do “Rei Arthur”, nas maracutaias da “nova política”. Ele era o donatário das comissões para fornecedores durante o mandarinato do “gestor” Sérgio Cabral.

Como disse o grande Príncipe de Salinas no romance “O Leopardo”, tudo isso não deveria poder durar, mas vai durar.

Cabral roubava criando ilusões modernistas, como o teleférico do Morro do Alemão, que continua parado. Witzel, que fez campanha na Baixada Fluminense amparado na lógica política dos bicheiros, atolou-se com velhas quadrilhas. Um era o falso moderno, o outro, o verdeiro atraso. Crivella recorreu a milicianos, coisa que Cabral nunca fez ostensivamente.

O único ingrediente de originalidade municipal, estadual e federal da “nova política” é a demofobia explícita. Ela demoniza a pobreza, nega a pandemia e vive em contubérnio com as milícias. O resultado disso está na sala dos brasileiros: vacinas contra a Covid, só no noticiário internacional.

Água vira vinagre quando se sabe que há mais de cem anos D. Pedro II fez questão de cumprir o isolamento social durante uma passagem por Portugal, e hoje o general-ministro da Saúde diz a parlamentares que não devem falar nisso.

Na madrugada de 17 de novembro de 1889, quando o imperador foi posto em um navio e desterrado para a Europa, ele disse: “Os senhores são uns doidos”.

Parecia que o doido era ele.

Ibaneis com Picciani

Ibaneis Rocha, governador de Brasília e empresário bem-sucedido, com um patrimônio declarado de R$ 94 milhões é também um destemido.

Em agosto ele arrendou a fazenda Monteverde, em Uberaba (MG), de propriedade do notável Jorge Picciani. O simples fato de fazer negócio com o ex-presidente da Assembleia do Rio indicaria um empresário audacioso. Como Picciani foi condenado a 21 anos de prisão e rala sua pena em prisão domiciliar, fazer negócio nesse mundo é coisa de gente muito corajosa. Ibaneis e Picciani pertencem ao mesmo partido, o MDB.

Os bens do poderoso Picciani estão bloqueados pela Justiça que lhe cobra R$ 91 milhões.

Onze em cada dez empresários correriam de um negócio desse tipo como o Tinhoso corre da cruz.

George Gurgel* - Entre os desejos e as realidades, 2021 está chegando

Na chegada de um novo ano, em qualquer Sociedade, são anunciados os melhores desejos para os que estão próximos e aos que não estão tão próximos assim: na verdade, queremos o melhor para toda a humanidade, considerando as nossas distintas realidades e as nossas próprias expectativas em relação ao ano que se aproxima. 

Assim, a Humanidade se desenvolveu e chegou ao ano de 2020. Foi e vai sendo moldada pelos valores culturais, econômicos, sociais hegemônicos, em tempos de guerras e de paz.  Lembrando, que só no século XX, fomos capazes de fazer duas guerras mundiais:  com bombas atômicas jogadas, em tempos distintos, em Hiroshima e Nagazaki. Portanto, o nosso desafio principal continua sendo a construção de uma cultura da Paz, a ser defendida e conquistada, permanentemente.

Esta tem sido a nossa caminhada como Humanidade. Vamos nos transformando e transformando a natureza, da qual somos parte integrante.

A pandemia em curso durante o ano de 2020, e a proximidade de 2021, é mais uma oportunidade de nos admirarmos e nos questionarmos sobre o que estamos fazendo com as nossas vidas, como nos relacionamos e, quais são os nossos valores e a nossa práxis no caminho da construção de um novo humanismo, respeitando a diversidade cultural, espiritual, étnica da Humanidade, colocando o imperativo categórico de uma mudança urgente das nossas relações insustentáveis que estabelecemos entre nós e com a própria natureza.

O que podemos fazer?

O que temos a dizer como Humanidade em relação às questões antes destacadas?

O que estamos herdando de 2020, ano inicial da pandemia da covid-19?

O que queremos e podemos fazer neste ano de 2021 que se aproxima?

Cristovam Buarque* - Vacina contra o Atraso

- Blog do Noblat / Veja

Escola de qualidade para todos, uma questão nacional

 O Brasil percebe que o seu sistema de vacina imunológica deve ser resultado de esforço e estratégia nacionais. Mas se recusa a tratar a vacina contra o atraso, a escola de qualidade para todos, como uma questão nacional.

Os Estados Unidos surgiram como união de estados independentes, sem intenção clara de ser um país unificado. Entre 1776 e 1861, a escravidão foi deixada como opção de cada estado. Para impor a vontade nacional de abolir a escravidão foi preciso uma guerra civil. No século do trabalho livre, os Estados Unidos entenderam que a Abolição não era uma questão de cada estado. No século do conhecimento, o Brasil precisa entender que educação é uma questão federal, não municipal.

Nascemos com a unidade de um Estado Imperial. A Abolição foi aceita por todos “estados” e municípios. Até porque já não interessava manter a escravidão no único país do Ocidente que ainda tinha este regime desumano, bárbaro, repulsivo e atrasado economicamente.

'Não dou bola pra isso', diz Bolsonaro sobre Brasil ficar para trás em vacinação

Na contramão de outros países, presidente voltou a insistir em cláusula de responsabilidade sobre eventuais efeitos colaterais

Gustavo Maia / O Globo

BRASÍLIA — Em mais uma manifestação que põe em xeque a vacinação contra a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado que não se sente pressionado e "não dá bola" para o fato de outros países já terem começado a imunizar suas populações.

A declaração ocorreu depois de ele lembrar que já assinou uma medida provisória liberando R$ 20 bilhões para a compra de vacinas e alfinetar governadores, sem citar nenhum deles nominalmente, que cobram celeridade na aprovação dos imunizantes.

— Entre eu e a vacina tem uma tal de Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], que eu respeito, e alguns não querem respeitar, é só isso — declarou Bolsonaro, durante passeio por Brasília nesta manhã.

O presidente reforçou o argumento que vem utilizando de que nem as próprias fabricantes dos imunizantes não se responsabilizam por eventuais efeitos colaterais dos produtos. O país já soma mais de 190,5 mil mortes pela Covid-19 e diversos estados registram alta de casos.

— Ninguém me pressiona pra nada, eu não dou bola pra isso. É razão, razoabilidade, é responsabilidade com o povo, você não pode aplicar qualquer coisa no povo — comentou.

Influência do Centrão cresce no Planalto, que avalia ampliar espaço para o bloco em 2021

Com a necessidade de contar com uma rede de proteção e apoio no Congresso para a travessia no próximo ano, a tendência é que a parceria com as siglas tradicionais avance

Gustavo Maia / O Globo

BRASÍLIA — O Jair Bolsonaro de janeiro, quando iniciava o seu segundo ano de governo, é bem diferente do de dezembro, prestes a completar a metade do mandato. A bandeira da antipolítica presente desde a campanha eleitoral de 2018 deu lugar a uma aliança pragmática com o centrão, bloco chamado de fisiológico pelo presidente e seus aliados antes do acordo com os partidos. Com a necessidade de contar com uma rede de proteção e apoio no Congresso para a travessia de 2021, a tendência é que a parceria com as siglas tradicionais avance ainda mais ao longo do próximo ano.

Nos últimos meses, Bolsonaro cedeu cargos cobiçados a partidos aliados, como o comando de órgãos com orçamento bilionário, a exemplo do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Pelo menos 17 postos relevantes do segundo escalão foram ocupados em áreas responsáveis por comandar orçamentos de cerca de R$ 70 bilhões. Em 2021, o Planalto estuda entregar o Ministério da Cidadania, hoje chefiado por Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que tem na mão programas sociais como o Bolsa Família, essencial para a popularidade presidencial nas eleições de 2022.

Minirreforma ministerial

A estratégia teve retorno no Legislativo. Na Câmara dos Deputados, os partidos aliados ao candidato do centrão, Arthur Lira (PP-AL), apoiado por Bolsonaro, estão entre aqueles com maior adesão ao governo nas votações. Juntos, PP, PL, PSC, Republicanos, PSD, PROS, Solidariedade, Avante e Patriota votaram alinhados ao Planalto, em média, em 90% dos casos, nos dois primeiros anos da gestão bolsonarista. Além disso, pautas como pedidos de impeachment do presidente e apurações envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no Conselho de Ética do Senado ficaram travadas.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

Visão tacanha da vacinação amplia risco de recessão – Opinião | O Globo

Ano de 2021 começará sob a égide da incerteza, derivada da cegueira ideológica de Bolsonaro sobre vacinas

Desde que a primeira morte por Covid-19 foi confirmada no mês de março em São Paulo, as atitudes e declarações do presidente Jair Bolsonaro negam a gravidade da doença, desorientam a população e acabam por ter um efeito colateral perverso na economia. Ao dizer que não tomará vacina, ao insinuar efeitos adversos inexistentes e ao contribuir para aumentar a resistência à vacinação entre os brasileiros, Bolsonaro amplia o risco de que a recessão provocada pela pandemia se prolongue ainda mais.

O preço em vidas continua a aumentar dia após dia. Enquanto o número de mortes se aproxima dos 200 mil, o desemprego atingiu a taxa recorde de 14,6% da população ativa no terceiro trimestre, ou 14,1 milhões. Bolsonaro continua a insistir que a culpa pela paralisia econômica cabe às medidas de contenção, como distanciamento ou uso de máscaras, não à insegurança trazida por um vírus insidioso que põe todos sob o risco de morte. Seu grau de incompreensão da realidade — como, de resto, o de boa parte dos empresários e políticos brasileiros — é aterrador.

É triste que tantos ainda creiam em delírios comprovadamente falsos, como os poderes mágicos da cloroquina e de vermífugos, ou que a esta altura ainda citem a estratégia sueca da “imunidade de rebanho” como modelo de preservação da atividade econômica. Dias atrás, o próprio rei da Suécia, Carl XVI Gustaf, admitiu que o país “fracassou”. O número de mortos por lá ultrapassa a soma dos vizinhos Dinamarca, Noruega e Finlândia, mais rígidos nas medidas preventivas, por isso com perspectivas melhores na economia.

A saída para a crise que se abateu sobre o planeta é conhecida: a vacina, justamente aquilo que Bolsonaro desdenha. Quanto mais a vacinação em massa demorar, mais estagnada a economia ficará e maior o risco de uma nova recessão (basta ver o fuzuê que tomou conta dos mercados quando uma nova linhagem do vírus pôs em dúvida a eficácia dos imunizantes disponíveis).

Música | Adoniram Barbosa - Provérbios com Rolando Boldrin

 

Poesia | Fernando Pessoa - Ah! Querem uma luz melhor


Ah! Querem uma luz melhor que
a do Sol!
Querem prados mais verdes do que estes!
Querem flores mais belas do que estas
que vejo!
A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me.
Mas, se acaso me descontentam,
O que quero é um sol mais sol
que o Sol, 
O que quero é prados mais prados
que estes prados,
O que quero é flores mais estas flores
que estas flores -
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!