E isto não pode ocorrer se não se sente,
permanentemente, a exigência do contato cultural com os “simples”.”
*Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, v. 1, p. 100, 4ª Edição. Editora Civilização Brasileira, 2006.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
E isto não pode ocorrer se não se sente,
permanentemente, a exigência do contato cultural com os “simples”.”
*Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, v. 1, p. 100, 4ª Edição. Editora Civilização Brasileira, 2006.
Nos
Estados Unidos, um “Júnior justice” da Suprema Corte - ministro novato - tem,
por tradição, a tarefa de fechar a porta da sala de reuniões depois que o
último ministro chega. Uma demonstração de humildade diante dos mais antigos.
Há até mesmo filmes que mostram essa cena, com o presidente da Corte advertindo
um novato: “Você esqueceu de fechar a porta. É a tradição”.
Aqui,
nosso ministro junior Nunes Marques mal chegou ao Supremo Tribunal Federal
(STF) e, como diria o sábio popular senador Romário, “já está querendo sentar
na janelinha”. Em sua primeira atuação, ele deu aquele voto pseudamente
salomônico que aprovou a reeleição de seu amigo senador David Alcolumbre, e
proibiu o deputado Rodrigo Maia, inimigo do Planalto, de fazer o mesmo.
Sua
decisão monocrática de reduzir o prazo de inelegibilidade dos atingidos pela
Lei de Ficha Limpa, fazendo com que ele seja descontado da pena cumprida, está
causando séria perturbação dos tribunais eleitorais pelo país, e alimentando a
percepção de que o novo ministro, nomeado ao acaso pelo presidente Bolsonaro,
cumpre mais uma etapa do plano governamental de desmontar o aparato jurídico de
combate à corrupção nos meios políticos, depois da aliança com o Centrão.
A
atitude do ministro Nunes Marques foi tomada um dia antes do recesso do
Judiciário, e em pleno período eleitoral. Isso quer dizer que centenas de
candidatos que concorreram subjudice agora exigirão da Justiça Eleitoral suas
posses, o que pode até mesmo alterar a composição das Câmaras de Vereadores. Ou
até mesmo eleger algum prefeito.
O mais espantoso é que a Lei da Ficha Limpa foi colocada sob o escrutínio do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012, e considerada constitucional pela maioria. O ponto específico agora alterado liminarmente pelo novo ministro foi analisado e considerado compatível com a Constituição e com a vontade do legislador, o Congresso Nacional.
Obscurantismo,
negacionismo e terraplanismo estão passando. Bolsonaro é capaz de entender?
Uma
pergunta envolta de desânimo se alastra pelos meios políticos e
diplomáticos: Jair Bolsonaro vai dar um cavalo de pau na política
externa para repor o Brasil nos trilhos, abrir um diálogo produtivo com os
Estados Unidos de Joe Biden, reencontrar os parceiros tradicionais e retomar o
pragmatismo, a tradição diplomática e a defesa dos interesses nacionais?
Assim como serão necessárias décadas para tentar recuperar nossas perdas na Amazônia e demais biomas, há também previsões nada otimistas sobre o tempo e as condições de Bolsonaro para liderar o recomeço da política externa. E assim como a culpa pelo desmanche do Meio Ambiente recai sobre o ministro Ricardo Salles, também a culpa pela política externa é jogada diretamente sobre o chanceler Ernesto Araújo. O responsável pelas políticas de governo, porém, é o presidente. Ministros só executam.
O
que esperar de quem nomeia para o Meio Ambiente do Brasil um cidadão que jamais
havia sequer pisado na Amazônia? E para o Itamaraty um embaixador júnior que
escreve coisas sem nexo, muda de ideia de acordo com os ventos e compara Donald
Trump a “Deus”, único capaz de salvar o Ocidente da China?
O governo Bolsonaro e, aliás, o próprio Bolsonaro, deram caneladas na China, França, Alemanha, Noruega, Argentina, Chile, Mundo Árabe... E jogaram todas as fichas não nos Estados Unidos, mas em Trump – que perdeu. Como em tudo, como na Saúde, que opera entre a vida e a morte, Bolsonaro não se deu por satisfeito e dobrou a aposta. Manteve-se firme e resolutamente trumpista e levou o Brasil a ser o último país do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) a fazer o óbvio: reconhecer a vitória do democrata Joe Biden.
É
impressionante o paralelo do governo Bolsonaro com o governo Trump, a partir da
crítica de Hannah Arendt à degradação política do governo de Nixon
Instigante
artigo do ex-chanceler Celso Lafer, professor emérito da Faculdade do Largo do
São Francisco (Direito-USP), publicado no último domingo, no O Estado de S.
Paulo, faz um diagnóstico político preciso do governo de Donald Trump, que
merece muita reflexão entre nós, pelo paralelo que podemos projetar, a partir
do texto, para o governo do presidente Jair Bolsonaro. O “mote” do artigo é uma
carta enviada, em 1975, pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, à
filósofa judia-alemã Hannah Arendt, autora de Origens do Totalitarismo
(Companhia de Bolso) e a A Condição Humana (Forense Universitária), na qual
solicita à escritora que lhe envie o texto de uma palestra que fizera nas
comemorações do bicentenário da independência dos Estados Unidos. Intitulada
Tiro pela culatra, na tradução para o português, seu texto fui publicado no Brasil,
na coletânea Responsabilidade e Julgamento (Companhia das Letras), organizada
por Jerome Kohn.
Lafer
destaca a iniciativa de Biden, quando integrante da Comissão de Relações
Exteriores do Senado, como uma espécie de preocupação germinal do que pode vir
a ser a linha de atuação do novo presidente dos Estados Unidos, de resto já
anunciada na campanha eleitoral. O texto de Arendt trata da crise do governo
Nixon e da degenerescência da política norte-americana nos anos 1970, cujos
elementos se reproduzem durante o governo Trump, na visão de Lafer:
Isto
é Jair Bolsonaro. O que planta descrença, difunde desconfiança, atenta contra o
pacto social que fundamenta nossa rede de imunização
A
semana passada foi especialmente rica em manchetes oferecidas — forjadas — pelo
presidente da República. Acuado, Jair Bolsonaro disparou. É o que faz.
Ameaçado, reage com novos graus de irresponsabilidade. Provoca. Agride. Trai.
Mente. Conspira. Comete crimes. Promove conflitos. Dedica-se ao seu nós contra
eles total — obra por meio da qual será capaz de atiçar policiais contra o
inimigo jornalista. Obra por meio da qual transformou uma vacina — a chinesa, a
comunista — em inimiga da liberdade.
Isto
é Bolsonaro. Aquele que, sob pressão, espalha-se para lançar estímulos em
direções diversas; para difundir pautas-isca, apostando em que o volume de suas
descargas resulte num conjunto de reações difusas que embaralhe a hierarquia
das gravidades.
São muitas as gravidades. Uma maior que as outras, porém. Óbvio que o Bolsonaro particularmente cafajeste dos últimos dias é produto do caso Abin. Evidente que seu último pacote de barbáries pretendeu também dissolver em boçalidades as novas revelações sobre o que seria a privatização da Agência Brasileira de Inteligência pela sua família. Nada se soube de mais comprometedor — de mais perigoso para Bolsonaro — numa semana em que galgou novos parâmetros em sua pregação antivacina.
Davi
Alcolumbre planejou um dezembro glorioso. O presidente do Senado esperava
garantir a permanência no cargo e emplacar o irmão como prefeito de Macapá. Em
duas semanas, tudo foi por água abaixo.
No
dia 6, o Supremo Tribunal Federal surpreendeu e vetou a reeleição dos chefes da
Câmara e do Senado. A jogada estava ensaiada, mas a Corte voltou atrás e
desistiu de atropelar a Constituição.
No
dia 20, veio a segunda derrota: Josiel Alcolumbre perdeu a eleição na capital
do Amapá. Ele liderava as pesquisas desde o início da campanha, mas foi
ultrapassado na reta final pelo azarão Dr. Furlan.
O
presidente do Senado se empenhou nas duas disputas. Para conquistar a simpatia
do Supremo, engavetou pedidos de impeachment e barrou a chamada CPI da
Lava-Toga. Para eleger o irmão, montou uma coligação de 12 partidos, apoiada
pelas máquinas do estado e da prefeitura. A chapa parecia invencível até o
apagão que atingiu o Amapá em novembro.
Numa entrevista desastrada, Davi disse que o maior prejudicado com a falta de luz foi Josiel, “que ia ganhar a eleição no primeiro turno”. A declaração revoltou amapaenses que passaram 22 dias às escuras.
Falta
o PT decidir se o apoiará desde já ou só mais adiante
Luiz
Felipe Baleia Tenuto Rossi, ou apenas Baleia Rossi como prefere que o chamem,
48 anos de idade, deputado federal no seu segundo mandato, ex-deputado estadual
e ex-vereador de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, atual presidente
nacional do MDB, será anunciado amanhã como o candidato do grupo montado por
Rodrigo Maia (DEM-RJ) para disputar a presidência da Câmara.
O
grupo é formado por 11 partidos – PT, PSL, MDB, PSB, PSDB, DEM, PDT, Cidadania,
PV, PC do B e Rede. Juntos, eles somam 269 votos de um total de 513. Para
eleger o presidente em primeiro turno são necessários 257 votos. Ao grupo ainda
poderão se juntar o NOVO (8 deputados) e o PSOL (10 deputados). A disputa será
contra o candidato de Bolsonaro, o deputado Arthur Lira (PP-AL)
Lira conta com o apoio do PP, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, PTB, Pros, PSC, Avante e Patriota que, juntos, somam 204 votos. Ou seja: 65 votos a menos do que tem hoje o grupo de Maia, o atual presidente da Câmara. O Podemos (10 deputados) deverá aderir a Lira. A eleição será realizada em 1º de fevereiro e, como o voto é secreto, haverá traições nos dois lados.
Republicano lançou tentativa de golpe mais incompetente desde 'Bananas', de Woody Allen
O
presidente Donald Trump deixou uma coisa dolorosamente clara: depois de deixar a Casa
Branca a contragosto, ele vai seguir fazendo tudo o que puder para
continuar a ser notícia. Vai postar insultos e teorias conspiratórias no
Twitter. Talvez abra seu canal de televisão próprio. E, segundo membros de seu
círculo interno, é possível que se candidate a presidente em 2024.
Após
meia década sob sua influência, muitos observadores políticos imaginam que
Trump vai conseguir conservar a atenção da nação voltada para ele. Entendo por
quê. Uma minoria considerável dos americanos acredita
que a eleição foi fraudada e permanece profundamente devota ao
presidente que está de saída.
Mesmo
agora que a derrota de Trump libertou
o Partido Republicano de seu captor, os políticos republicanos parecem
estar sofrendo de um caso grave de síndrome de Estocolmo. E a única área na
qual o 45º presidente já comprovou reiteradamente possuir talento real é sua
capacidade de se manter no centro da atenção pública.
Mas,
embora Trump ainda possa acabar se mostrando uma influência tão dominante sobre
a política na década de 2020 quanto foi na década de 2010, esse resultado é
menos provável do que muitos supõem.
Sobram teorias para tentar explicar a ascensão de Trump ao poder em 2016. De acordo com algumas, ele falou em nome dos economicamente despossuídos. Segundo outras, suas mensagens racistas disfarçadas atraíram eleitores preconceituosos.
A
década iniciada em 2011 e que se encerra neste fim de ano começou em clima de
otimismo com a participação popular na política. Jovens
árabes foram em peso para as ruas —na Tunísia, no Egito, na Síria,
na Líbia e por diversos outros países árabes. Em grande medida, a mobilização e
o chamado se dava pelas redes sociais. Se as redes sociais ajudaram a eleger
Obama em 2008 e agora derrubavam autocratas pelo Oriente Médio, como não
celebrar essa tecnologia tão obviamente do bem?
Não tardou para que o Brasil também visse sua explosão popular nas ruas, exigindo o fim da corrupção e um governo responsivo às demandas populares. Mais do que qualquer partido, eram as cores da bandeira que animavam a massa em 2013.
Poucos anos depois e o otimismo está abalado: no mundo árabe, a “voz do povo” não raro se traduziu em islamismo político e fundamentalismo, quando não em sangrentas guerras civis. No Brasil, por um tortuoso caminho —que passou pelo protesto dos caminhoneiros em 2018—, o desejo de ruptura com a velha política acabou levando a Jair Bolsonaro. Movimentos assombrosos na França, igrejas queimadas no Chile, Trump e brexit. O movimento popular de insurgência contra tudo que aí está —as instituições que regem a vida moderna, seja na ciência, na mídia, na política, nas relações internacionais — continua a rondar o mundo; só não temos mais nenhuma ilusão de que ele seja sempre bom.
Podemos
e devemos fazer é afastar pelo voto ou outro meio legal dirigentes que falharam
em proteger seus governados
Numa
era que abomina desigualdades, nenhuma delas poderia ser mais vital do que a
diferença no acesso a
vacinas contra a Covid-19.
Enquanto a União Europeia já contratou imunizantes para inocular toda a sua
população duas vezes, o Reino Unido e os EUA, para quatro, e o Canadá, para
seis, vários países pobres ou remediados ficaram chupando o dedo.
Não é a face mais nobre da humanidade, mas o fenômeno era esperado. Apenas repete em escala biofarmacológica o que já víramos acontecer na disputa por respiradores no início da pandemia.
Nem vejo muito como recriminar os governantes dos países que açambarcaram o mercado. Eles, afinal, não foram a uma gôndola de supermercado e levaram para casa muito mais víveres do que serão capazes de consumir. Só acumularam tantas doses porque, diante das incertezas que cercavam e ainda cercam as vacinas, diversificaram suas apostas —o que é bem básico.
- Folha de S. Paulo
Fim do auxílio emergencial pode produzir catástrofe social; projetos de lei no Congresso apontam saída
Nesta
semana acontecem os últimos pagamentos do auxílio emergencial. O benefício
deixará de ser pago a 41 milhões de brasileiros, 15 milhões dos quais têm no
auxílio a única fonte de renda. A expectativa é que 20
milhões de pessoas passem a viver abaixo da linha de pobreza.
Apesar
da catástrofe social iminente, o governo Bolsonaro ainda não apresentou um
programa social que possa conter essa drástica expansão da pobreza que vai
engolir 10% da população brasileira.
A
saída mais rápida, a renovação do auxílio emergencial, parece enterrada, tanto
pelo governo Bolsonaro, como por Rodrigo Maia, ainda que o TCU tenha indicado
que os restos a pagar do orçamento de guerra pudessem ser utilizados para essa
finalidade sem o rompimento do teto
de gastos em 2021.
No
Congresso tramitam duas propostas para reformar as políticas de transferência
de renda.
Na Câmara tramita o PL 6072/19 de autoria da deputada Tabata Amaral que reforma o Bolsa Família. O projeto recebeu há pouco um substitutivo do deputado Eduardo Barbosa que estabelece duas linhas de cortes, uma para pobreza (R$ 260 per capita) e outra para extrema pobreza (R$ 130 per capita) e pretende, com o valor base, tirar todas as famílias da extrema pobreza.
2021
pode registrar maior nível de desigualdade de renda vivido sob atual
Constituição
Completaram
18 anos da aprovação, no Senado, do projeto de renda básica de Eduardo Suplicy.
A versão aprovada foi na verdade um substitutivo de um senador do DEM – ainda
PFL. É um dos casos pouco conhecidos da atuação do partido na política social,
cujo resgate é interessante à medida que o partido ganha protagonismo e a
natureza de sua plataforma é mais debatida.
O
DEM foi o partido que mais conquistou prefeituras nas eleições municipais que
acabam de se encerrar, e na semana passada ajudou a consolidar um esforço de
frente ampla reunindo diversos partidos de esquerda. Ao Estadão neste
mês, o prefeito eleito Eduardo Paes – no DEM – argumentou que o espectro do partido seria bem amplo, se colocando como
alguém mais à esquerda do que o seu conjunto.
No
parecer do ex-senador Francelino Pereira favorável à renda básica,
argumentou-se que o crescimento econômico sozinho é um caminho lento para a
superação da miséria no Brasil. A pobreza seria mais sensível à desigualdade do
que ao PIB. A nova transferência de renda iria ao encontro do propósito de que
nenhum brasileiro tivesse vergonha de aparecer em público, parafraseando uma
definição da Adam Smith sobre privação em A Riqueza das Nações.
Outra proposta do antigo PFL naqueles tempos era a de inserir na Constituição um fundo para a erradicação da pobreza, financiado por um imposto sobre grandes fortunas. De autoria de Antonio Carlos Magalhães, veio a se tornar a Emenda Constitucional nº 31, de 2000. O fundo chegou a ser utilizado, mas o imposto que seria a principal fonte de recursos nunca foi instituído.
Rodrigo
Pacheco ganhou fama de “não confiável”
Um
verso de Chico Buarque dita o ritmo da eleição para as novas Mesas Diretoras da
Câmara e do Senado. “Não se afobe não, que nada é pra já”, ensina o compositor
na letra de “Futuros amantes”. Vale para a poesia e para a política: um gesto
precipitado pode arruinar uma estratégia.
Se
a história se repete como tragédia ou farsa, a tendência é que os tabuleiros de
cada uma das Casas se aclarem somente no fim de janeiro. No ano passado, a
bancada do MDB no Senado se reuniu somente na véspera da eleição para definir o
candidato da sigla à sucessão, e por um voto Renan Calheiros (AL) venceu Simone
Tebet (MS).
O
embate no MDB foi apenas o primeiro lance de uma sequência de jogadas
dramáticas que culminaram na vitória de Davi Alcolumbre (DEM-AP), em resultado
que só pode ser alcançado na noite do dia 2 de fevereiro, um sábado. No dia da
eleição, Alcolumbre sentou-se na cadeira de presidente e passou a conduzir a
sessão de votação, ainda sem tornar pública a sua candidatura.
A certa altura daquela sessão, a senadora Kátia Abreu (PP-TO), aliada de Renan, aproximou-se de Alcolumbre e lhe cobrou ao pé do ouvido quando ele se declararia candidato. Em resposta, ouviu que, até aquele momento, com a sessão em curso, seu grupo não havia definido se o candidato seria ele, ou Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Objetivo
é fazer o Brasil se inserir plenamente nos fluxos dinâmicos de trocas
internacionais
Uma
estratégia de desenvolvimento para o Brasil para o período 2020-2030 com cinco
eixos – econômico, institucional, de infraestrutura, ambiental e social – foi
divulgada pelo governo Bolsonaro. Nos desafios e orientações de todos os eixos,
em especial no da área econômica, encontram-se declarações de intenção que
terão forte impacto no futuro do comércio exterior.
Como
subsídio para o exame dessas medidas, o Conselho de Comércio Exterior (Coscex)
da Fiesp discutiu e elaborou uma estratégia para o comércio exterior,
encaminhada pelo presidente da entidade a Brasília. Essa estratégia tem como
objetivo a ampliação das exportações e importações, diversificar os mercados e
os produtos exportáveis e permitir uma inserção competitiva dos produtos
brasileiros nos fluxos mais dinâmicos do intercâmbio comercial.
Do ponto de vista da indústria, essa estratégia deveria estar baseada no tripé reindustrialização, agenda de competitividade e abertura da economia via negociação de acordos comerciais, cujos principais aspectos poderiam ser resumidos como a seguir.
Seria
bom perguntar aos professores de direito se não é criminoso desestimular o uso
da vacina sendo presidente da República
Lá
nos anos 1970, o Brasil, sob ditadura militar, fazia um enorme esforço para vacinar
as crianças contra a poliomielite. Muito antes da internet e das redes sociais,
era difícil estimular os pais a levar os filhos à vacinação, embora fosse
desesperador o estrago que o vírus fazia principalmente na vida das crianças.
Até hoje, muitos idosos, vítimas da pólio quando crianças, enfrentam
dificuldades para caminhar por causa das sequelas da doença.
Albert Sabin, o médico e cientista russo-americano, não foi o primeiro a desenvolver um imunizante contra a pólio. Mas sua vacina, pela facilidade de aplicação, em gotas, foi a que salvou o mundo dessa terrível doença conhecida como paralisia infantil - hoje, segundo a OMS, só dois países ainda têm o vírus circulando, Paquistão e Afeganistão.
Três
narrativas em 2021: desaceleração com o fim do auxílio, retomada com vacinação
e choque temporário da inflação
De
acordo com o dicionário Merriam-Webster, uma narrativa é “uma forma de
apresentar ou compreender uma situação ou série de eventos que reflita e
promova um particular ponto de vista ou um conjunto de valores específicos”.
Essa definição está no instigante livro de Robert Shiller, “Narrative
Economics” (Princeton University Press, 2019). Como indica o título, o livro é
uma grande análise das narrativas econômicas, que expande a palestra proferida
no encontro de 2017 da Associação Americana de Economia (bit.ly/38mq5SX). Nesta, o
autor observa que o “cérebro humano tem sido sempre altamente sintonizado com
narrativas, factuais ou não, para justificar ações em curso, mesmo ações tão
básicas como gastos de consumo e investimentos. Histórias motivam e conectam
atividades a valores e necessidades profundamente enraizadas”.
O
objetivo de Shiller é construir um referencial teórico sobre como as narrativas
influenciam o comportamento dos agentes econômicos e como isso, por sua vez,
determina o que ocorre na economia. A obra que se encaixa, portanto, no campo
mais amplo da Economia Comportamental, a cujos conceitos Shiller recorre em
diferentes partes do livro. É o caso, por exemplo, do conceito de “framing”,
que enfatiza a influência da forma como as coisas são apresentadas (“framed”)
nas decisões tomadas pelos agentes econômicos.
De fato, uma narrativa nada mais é que uma forma de apresentar e organizar as informações que circulam em certa comunidade, sejam elas verdadeiras ou não. Ou, como define o próprio Shiller, “narrativas são construções humanas que são misturas de fato, emoção, interesse humano, e outros detalhes estranhos que formam uma impressão na mente humana”.
A
lição de 2016 revela que os caminhos estão disponíveis. Cabe ao presidente
escolher como será o restante de seu mandato
Próximo a completar dois anos, o governo de Jair Bolsonaro tem diante de si enormes desafios. O País atravessa uma forte crise social, econômica e sanitária, agravada por uma situação fiscal muito difícil e um cenário político fragmentado e conturbado. Além disso, as oportunidades perdidas e as confusões criadas ao longo da primeira metade do mandato não fornecem muitos motivos para otimismo em relação aos dois anos que faltam. Sem nenhum exagero, o quadro atual é preocupante. Veja-se, por exemplo, a situação do emprego. No trimestre terminado em agosto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua registrou taxa de desemprego de 14,4%, o pior porcentual da série histórica, iniciada em 2012.
Com
tal situação, pode-se ter a ideia de que os próximos dois anos estão
inexoravelmente fadados ao fracasso. Vale, então, recordar o alerta feito pelo
ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, em recente artigo no Estado (Faltam dois
anos, 8/11). “Situações difíceis não são sinônimo (...) de falta de
opções.”
Pedro
Malan não falava de uma ideia alentadora, mas irreal. Referia-se concretamente
ao dificílimo ano de 2016. “O governo Temer teve início sob situação
extraordinariamente adversa. O investimento havia começado a declinar no
terceiro trimestre de 2013, a recessão começara em abril de 2014. 2016 seria o
terceiro ano de déficit primário e a pressão estrutural por gastos públicos era
crescente”, lembrou. No entanto, mesmo com esse cenário, o presidente Michel
Temer foi capaz de fazer opções. “A primeira, na área econômica, envolvia (...)
escolher pessoas certas para posições-chave, que, por sua vez, pudessem atrair
e reter outros profissionais competentes. Na área política, criar base de
sustentação no Congresso e com isso definir agenda legislativa que atendesse a
prioridades claras.”
As opções do governo de Michel Temer produziram resultados significativos para o País. Com apoio e coordenação do Executivo, o Congresso aprovou a PEC do Teto dos Gastos, a reforma trabalhista e a reforma do ensino médio. Ainda que não tenha sido votada a reforma da Previdência, o caminho político para sua aprovação foi efetivamente aberto, como se pôde constatar em 2019, com a Emenda Constitucional (EC) 103, alterando as regras previdenciárias.
Rocinante
De giolhos e olhos visionários
me sagro cavaleiro
andante, amante
de amor cortês a minha dama,
cristal de perfeição entre
perfeitas.
Daqui por diante
é girar, girovagar, a combater
o erro, o falso, o mal de mil
semblantes
e recolher, no peito em sangue,
a palma esquiva e rara
que há de cingir-me a fronte
por mão de Amor-amante.
A fama, no capim
que Rocinante pasta,
se guarda para mim, em tudo a
sinto,
sede que bebo, vento que me
arrasta.