segunda-feira, 24 de setembro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Lula: ‘o mensalão maculou a República’ ( XLVIII)


Não tenho vergonha de dizer que temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas, o governo tem que pedir desculpas.

Lula, no dia 12 de agosto de 2005

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Receita quebra 80 mil sigilos e recupera R$ 56 bilhões
Investimentos levam tensão eleitoral a cidades do Rio
Revisor deve punir lavagem
Em discussão, os menores e o crime

FOLHA DE S. PAULO
Universidades têm verba de R$ 1 bi parada no BNDES
Elemento surpresa STF começa a definir autoria intelectual do mensalão
Avião da PF fica no chão por falta de manutenção

O ESTADO DE S. PAULO
Na ONU, Dilma voltará a atacar ‘tsunami monetário’
Estudo levará a nova terapia do câncer de mama

VALOR ECONÔMICO
Projetos de investimento no NE acumulam atrasos
Quem fica mais competitivo na exportação
Arrecadação de impostos cai de novo
Jader Barbalho prepara a saída da política
O Brasil no novo contexto global
A teoria do domínio do fato contra Dirceu

BRASIL ECONÔMICO
Caixa Econômica entra no crédito agrícola com volume de R$ 2 bi
Caviar paga menos IPI do que equipamento para hospitais
Ameaça de Mantega afeta fundo cambial
Congresso pode travar redução em tarifas de energia

CORREIO BRAZILIENSE
30.899
Endividado, brasileiro não paga condomínio
Querida presidente
Dilma quer globalização com justiça
Deltaduto movimentou R$ 421 milhões

ESTADO DE MINAS
Noite acelerada
Eleições 2012: Santa Luzia
Dilma propõe 'receita' de crescimento

ZERO HORA (RS)
 Escolas receberão nota de 1 a 5

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Mudança nas leis cria polêmica

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

O 'mensalão' e o prático inerte sartriano - Luiz Werneck Vianna


Não andaria com a cabeça nas nuvens quem, meses atrás, imaginasse que o tempo do julgamento dessa Ação Penal 470 jamais chegaria. E se chegasse, supunham outros, caso coincidisse com o período das eleições municipais, traria consigo um clima de exasperação da política e de ruas efervescentes pela participação popular, contra ou em defesa de algumas lideranças de um partido à testa do governo há quase dez anos, ora levadas às barras de um tribunal. Mas, faltando ainda o principal - qual seja, o julgamento do núcleo político que teria sido o ideador da operação dos malfeitos contra a administração pública e instituições republicanas -, o clamor que tem vindo das ruas, até o momento, é de origem distinta, pois procede de movimentos prosaicos dos servidores públicos, inclusive de carreiras estratégicas de Estado, em torno de questões salariais.

Nada de trivial nessa constatação, uma vez que ela pode significar um processo de amadurecimento das instituições da nossa democracia política no exercício do controle do poder político e no culto republicano de obediência e respeito às leis, que a todos, governantes e governados, igualmente deve obrigar. Contudo, se avaliado de uma perspectiva com foco mais reduzido, esse sinal lisonjeiro não pode eclipsar um diagnóstico perturbador, uma vez que o silêncio das ruas estampa a distância existente entre a política e a população, ora reduzida à posição de mera observadora do andamento de um processo que expõe à vista de todos práticas de malfeitos de alguns dos dirigentes do partido hegemônico na coalizão governamental, ele próprio inerme diante da situação.

As razões dessa distância também não são triviais. Se ela, agora, se tornou evidente, suas origens são remotas e não podem ser buscadas exclusivamente numa repentina conversão da multidão às regras do jogo democrático e a uma atitude de reverência diante da autonomia do Poder Judiciário, embora, em algum grau, algo disso possa estar-se fazendo presente. Datam essas razões, longe disso, das cruciais opções assumidas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) imediatamente após sua vitória eleitoral em 2002, conquistada em nome de agendas igualitárias nascidas no campo da esquerda.

Nessa hora, e contrariamente à opinião de importantes próceres do PT, esse partido se recusou a enveredar por uma via de aliança com o PMDB, agremiação partidária congressualmente majoritária, preterida em favor de uma coalizão com partidos de menor representação, quase todos legendas de baixa densidade programática, fundamentalmente preocupados com a reprodução política dos seus quadros dirigentes, para os quais a conquista de posições fortes na administração pública era a chave para o atendimento de suas clientelas locais. Assim, seu programa de mudanças, além de contingenciado pelas reservas da época quanto à sua capacidade de garantir a estabilidade financeira - pedra de toque da conjuntura do primeiro governo Lula -, tornava-se dependente de uma coalizão estranha ou indiferente à agenda política que o tinha conduzido à vitória eleitoral.

A matéria bruta da Ação Penal 470, o mensalão, foi gestada no interior e a partir dessa decisão política de perseguir objetivos de mudança social desancorada de uma ativa esfera pública democrática, que importava a mobilização dos movimentos sociais, que logo, aliás, seriam postos sob a influência de agências estatais, quando não estatalizados tout court, convertendo-se a política num quase monopólio da chefia do Executivo. Aos partidos dessa bizarra coalizão presidencial, tangidos a ela com a expectativa de extrair recursos públicos para sua reprodução eleitoral, caberia conceder apoio parlamentar às iniciativas governamentais, enquanto ao Executivo, pelas vias decisionistas do direito administrativo, caberia realizar a agenda de mudanças avaliada como compatível com as circunstâncias.

Tal cálculo político, certamente exótico ao campo da esquerda, encontrou seu coroamento na política de massificação da política social com os programas assistenciais, revestindo a sociedade do estatuto do prático inerte de que falava Jean-Paul Sartre, massa passiva a ser conduzida por uma inteligência posta acima dela. Como um prático inerte, politicamente imobilizada, salvo nos períodos eleitorais, quando suas ações eram pautadas pelas legendas partidárias, a sociedade viveu mais um ciclo de modernização econômica, fortemente aparentado com os ciclos que se sucederam a partir dos anos 1930, tendo, de fato, experimentado, pela ação afirmativa de políticas públicas conduzidas pelo Estado, uma significativa incorporação ao mundo dos direitos de parcelas da população até então à sua margem. Mas a sociedade que emerge desse experimento de mudança por cima, se conhece a modernização, não irrompe para o moderno.

Filha de um tipo particular de revolução passiva, na forma tão bem caracterizada pelo sociólogo Francisco de Oliveira em seu ensaio Hegemonia às Avessas (São Paulo, Boitempo, 2010), a sociedade que dela resulta traz em si duas marcas negativas, ambas sáfaras à floração de uma cultura política democrática: a da restauração do poder político das oligarquias tradicionais, às quais se propiciaram os meios para a preservação do seu domínio local; e a valorização sans phrase da dimensão do interesse, numa versão chapada e imune à política. Os sobrenomes e a genealogia de tantos envolvidos na presente sucessão municipal testemunham isso, assim como aí estão os ecos na política dos cultos religiosos centrados na ideologia da prosperidade.

Com esse quadro, não é de espantar que a política pareça ter migrado para o mundo fechado dos tribunais.

Professor-pesquisador da PUC-Rio, é coordenador do Centro de Estudos Direito e sociedade (CEDES)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Revisor deve punir lavagem


Depois de absolver Pedro Corrêa (PP) da acusação de lavagem de dinheiro, o ministro Ricardo Lewandowski deverá condenar hoje outros três réus ligados ao partido por este tipo de crime. O revisor no STF entende que o uso de artifício para ocultar saque do mensalão configura a prática ilícita. O mesmo raciocínio será aplicado a réus de outros partidos

Revisor deve punir réus por lavagem

Ricardo Lewandowski avalia que artifícios para ocultação de saques caracterizam crime

Jailton de Carvalho

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA - Mesmo tendo absolvido o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) da acusação de lavagem de dinheiro, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), deverá votar pela condenação de outros réus, tanto do PP quanto dos demais partidos, denunciados por esse tipo de crime. O julgamento terá continuidade hoje, a partir das 14h30m. No entendimento do ministro, beneficiários do valerioduto que usaram de artifícios para esconder a movimentação de dinheiro, após o recebimento dos recursos, incorreram em crime de lavagem.

No núcleo do PP, enquadram-se os réus João Cláudio Genu, ex-chefe de gabinete do deputado José Janene; e os empresários Enivaldo Quadrado e Breno Fischberg. Os três usaram as corretoras Bônus Banval e Natimar para repassar ao PP dinheiro recebido de Marcos Valério. Pela denúncia da Procuradoria Geral da República, Genu recebeu R$ 1 milhão de Valério por ordem de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. Já o ex-deputado Pedro Corrêa, que foi inocentado, não tentou mascarar o recebimento do dinheiro com qualquer operação de fachada.

Momento decisivo para José Dirceu

Lewandowski retoma hoje a leitura do voto interrompido na sessão da última quinta-feira. Na primeira parte, o revisor votou pela condenação de Pedro Corrêa por corrupção passiva, mas o absolveu da acusação de lavagem. Lewandowski inocentou também o deputado Pedro Henry (PP-MT) dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Até quarta-feira, o ministro deverá concluir o voto sobre os outros dez réus que estão sendo julgados nessa etapa. Com isso, os demais ministros deverão votar sobre os mesmos réus na segunda parte da sessão de quarta-feira, na quinta e, provavelmente, na segunda-feira da próxima semana. O cronograma depende da duração do voto de cada ministro. Depois de concluída a análise dos casos de corrupção relativos a PP, PL, PTB e PMDB, o julgamento entrará em um momento decisivo e, ao que tudo indica, o mais tenso.

É esperado que na sessão da próxima segunda-feira, semana que antecede o primeiro turno das eleições municipais, o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, comece a ler o voto sobre as acusações de corrupção ativa e formação de quadrilha que pesam contra o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e outros réus da antiga cúpula do PT: o ex-deputado José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares. As perspectivas não são favoráveis a Dirceu. O procurador-geral Roberto Gurgel pediu a condenação do ex-ministro com base na teoria do domínio do fato.

Nas últimas semanas, quatro de cinco ministros ouvidos pelo GLOBO disseram que a teoria tem plena acolhida no Direito brasileiro. Ela já serviu de referência em votos dos ministros Celso de Mello, Rosa Weber e Luiz Fux sobre outros réus na primeira fase do julgamento. A teoria trata do autor por trás do autor. Para Gurgel, embora não tivesse participado diretamente da arrecadação e distribuição de dinheiro, Dirceu era o grande chefe do mensalão. Embora longe das cenas do crime, o ex-ministro teria o domínio do fluxo do dinheiro. A acusação tem como base ainda o depoimento do ex-deputado Roberto Jefferson contra Dirceu.

Nova definição para um velho crime

As sessões desta semana serão importantes também para a consolidação do novo entendimento do STF sobre crimes de lavagem. A expectativa é que os ministros confirmem a tese de que o recebimento dos recursos de Valério se configura como lavagem, e não apenas corrupção passiva ou concussão. Essa foi a ideia que prevaleceu no caso do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, condenado pelo crime de lavagem por seis votos a cinco.

Mesmo assim, a questão ainda tem suscitado controvérsias. Para os ministros que votaram contra a condenação do deputado por lavagem, o crime só poderia ser classificado dessa forma se, depois de receber o dinheiro de origem ilegal, ele tentasse reincorporá-lo à economia formal. Entre os ministros que votaram a favor de João Paulo está Cezar Peluso, que já se aposentou.

FONTE: O GLOBO

STF começa a definir autoria intelectual do mensalão


Nas próximas sessões do julgamento do mensalão, o STF define se José Dirceu, José Genoino e Soares ordenaram o pagamento de propinas a parlamentares aliados do governo Lula.

Para ministro, o tribunal pode adotar a teoria do "domínio do fato". Por ela, o acusado pode ser condenado sem prova cabal de que ordenou o ato, por ter o controle sobre ele.

Políticos do PT entram na mira do STF

Tribunal começa a definir nas próximas sessões se petistas ordenaram pagamentos de propinas a parlamentares

Segundo um ministro, colegas podem apontar Dirceu como culpado mesmo sem prova cabal de que ele ordenou ato

Flávio Ferreira, Matheus Leitão, Rubens Valente

BRASÍLIA - Nas próximas sessões do julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal dará resposta à última pergunta fundamental do processo: quem determinou a corrupção de parlamentares da base aliada do governo Lula?

Os votos, na semana passada, do relator Joaquim Barbosa e do revisor, Ricardo Lewandowski estabeleceram a tese de que houve crime de corrupção passiva quando os parlamentares receberam dinheiro do esquema do mensalão. A maioria da corte deve seguir esse entendimento.

O crime se caracteriza pelo recebimento de vantagem indevida por servidor público em razão de sua função.

Ainda fica no ar a indagação de quem são os corruptores. No capítulo em julgamento no STF, que analisa a compra de apoio parlamentar, Barbosa condenou sete deputados ou ex-deputados por corrupção passiva. Lewandowski ainda está lendo o seu voto, mas já condenou o ex-deputado Pedro Corrêa (PP) e absolveu Pedro Henry (MT).

Nesse capítulo, o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares são acusados de ordenar pagamento de propinas.

Um ministro ouvido sob a condição de não ser identificado mencionou a possibilidade de os colegas adotarem a chamada teoria do "domínio do fato" em relação a Dirceu, que considera que autor do delito é quem tem o domínio final sobre o fato, as circunstâncias e os executores. Por ela, o acusado pode ser condenado sem haver prova cabal de que ordenou ato criminoso, mas sim que tinha o controle sobre ele.

A teoria foi levantada pela primeira vez pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que apontou Dirceu como "líder do grupo" e "principal figura" de tudo que foi apurado no processo.

Disse que o "autor intelectual" de um grupo criminoso "não fala ao telefone, não envia mensagens eletrônicas".

O ministro Luiz Fux afirmou que a existência do que chamou de um "megadelito" permite observar a possibilidade de "domínio do fato".

27ª sessão do julgamento

O que já aconteceu

Primeira parte

Cinco réus foram condenados, entre os quais João Paulo Cunha (PT), e um absolvido pelos crimes de corrupção e peculato em razão do desvio de recursos públicos de contratos entre agências de Marcos Valério e a Câmara e o Banco do Brasil

Segunda parte

Sobre os empréstimos ao PT e às empresas de Valério, três réus ligados à cúpula do Banco Rural foram condenados; Ayanna Tenório foi absolvida

Terceira parte

Oito réus foram condenados por lavagem de dinheiro pela participação no esquema que dificultava a ação dos órgãos de controle; dois foram absolvidos

Quarta parte

No capítulo sobre a compra de apoio no Congresso, Joaquim Barbosa condenou 12 réus do PP, do PR, do PTB e do PMDB. Ricardo Lewandowski absolveu Pedro Henry e condenou Pedro Corrêa (os dois do PP) por corrupção passiva

Hoje

O revisor Ricardo Lewandowski deve concluir seu voto sobre crimes imputados aos réus ligados ao PP, ao PR (na época PL), ao PTB e ao PMDB. Se ainda houver tempo, os demais ministros -Rosa Weber, Luiz Fux, José Antonio Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e o presidente do STF, Carlos Ayres Britto- vão começar a apresentar seus votos

Semanas seguintes

Superada essa etapa, os ministros vão analisar mais três capítulos. Três deputados do PT e o ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto são acusados de receber dinheiro do esquema. Depois entram em pauta os pagamentos para o publicitário Duda Mendonça e a formação de uma organização criminosa com chefia atribuída ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Corrupção ativa é alvo do STF na oitava semana


Lewandowski deve concluir hoje a leitura de seu voto sobre corrupção passiva; na quinta, Joaquim Barbosa pode começar a ler parecer sobre Dirceu

Eugênia Lopes

BRASÍLIA - O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) entra hoje em sua oitava semana com a conclusão do voto do ministro revisor, Ricardo Lewandowski, sobre os réus do núcleo político acusados de corrupção passiva. A expectativa é que, ainda esta semana, na quinta-feira, o ministro relator do caso, Joaquim Barbosa, comece a ler seu voto sobre a denúncia de corrupção ativa contra réus da cúpula do PT, entre eles o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do partido José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.

Na semana passada, Barbosa decidiu esperar o voto de todos os ministros do Supremo sobre os réus acusados de corrupção passiva, antes de passar à análise das acusações de corrupção ativa. Com isso, o julgamento de Dirceu, Genoino e Delúbio ficou para as vésperas do primeiro turno da eleição municipal, marcada para 7 de outubro. O impacto do mensalão nas eleições é motivo de preocupação da cúpula petista.

Na última quinta Lewandowski não relacionou o esquema de pagamento de parlamentares no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva a uma suposta compra de apoio político no Congresso. "Era um acordo de financiamento de campanha", disse durante a leitura de seu voto sobre os políticos que receberam dinheiro do valerioduto. A posição de Lewandowski contrastou com a de Barbosa, segundo quem o mensalão foi um esquema de compra de votos. Uma eventual vitória da versão segundo a qual o mensalão foi um esquema de caixa 2 afasta o caso do governo Lula.

Sentenças. Depois que Lewandowski terminar a leitura de seu voto, o que deverá ocorrer hoje, os outros oito ministros do Supremo vão proferir suas sentenças sobre os políticos acusados de corrupção passiva, entre eles o ex-deputado Roberto Jefferson, delator do esquema do mensalão, e o deputado Valdemar Costa Neto, na época presidente do PL, hoje PR. Barbosa já votou pela condenação de Jefferson e Costa Neto e de mais dez réus ligados a quatro partidos: PP, PL, PTB e PMDB. Até agora, Lewandowski absolveu o ex-deputado Pedro Henry, líder do PP na época do mensalão.

A expectativa é que os oito ministros consigam ler, nesta quarta-feira, seus votos sobre todos os indiciados pelo crime de corrupção passiva relacionado à suposta compra de apoio político do PTB, PMDB, PP e PL nas votações das reformas tributária e da previdência. Dessa forma, o julgamento dos réus supostamente envolvidos com corrupção ativa poderá começar no dia seguinte, na quinta-feira, com o início da leitura do voto de Barbosa. O julgamento de Dirceu, Delúbio e Genoino vai se estender pela semana seguinte, nos dias 1.º, 3 e 4 de outubro, véspera das eleições municipais.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Supremo julga compra de votos


Nesta semana, ministros do STF vão discutir se houve ou não propina em troca de apoio ao governo Lula no Congresso

Ana Maria Campos, Diego Abreu

Na 27ª sessão destinada ao julgamento do mensalão, o revisor do processo, Ricardo Lewandowski, retoma hoje voto sobre o capítulo seis, que trata da distribuição de recursos para partidos aliados do governo Lula. Em jogo, a confirmação ou não da tese da Procuradoria Geral da República de que houve compra de votos no Congresso entre 2003 e 2004. Está aberta uma divergência que deve provocar debates ao longo da semana: os recursos repassados pelo PT ao PP, PTB, PL (hoje PR) e PMDB foram destinados a caixa dois de campanha ou representam propina paga a parlamentares como retribuição pelo apoio político? Para Joaquim Barbosa, o dinheiro do esquema do empresário de Marcos Valério influenciou a aprovação de projetos de interesse do Executivo e a ampliação de bancadas das legendas parceiras. Lewandowski considerou que os recursos foram utilizados para quitar dívidas de campanha.

Para o revisor, o destino do dinheiro recebido por parlamentares — seja caixa dois de campanha ou outro fim — é irrelevante para configurar crime de corrupção passiva. Com esse entendimento, Lewandowski condenou o ex-presidente do PP e ex-deputado federal Pedro Corrêa (PE), ao considerar que ele recebeu dinheiro do PT para quitar dívidas eleitorais. A posição final do STF sobre a compra de votos, no entanto, é fundamental do ponto de vista político para o PT e demais partidos envolvidos e, especialmente, para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo, no primeiro mandato, está sob julgamento. Se prevalecer a visão do revisor — a verba foi usada como caixa dois, cresce a possibilidade de absolvição do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, uma vez que a responsabilidade no núcleo político do PT poderia ser creditada exclusivamente ao ex-tesoureiro Delúbio Soares.

Na semana passada, Barbosa condenou 12 réus do capítulo seis, entre os quais os deputados federais Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) e o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (RJ), por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Já no início de sua manifestação, Lewandowski absolveu Pedro Henry, ao avaliar que o Ministério Público não individualizou a conduta do parlamentar, tendo o incluído na denúncia apenas pela condição à época de líder do PP. O revisor absolveu também Pedro Corrêa por lavagem de dinheiro. O entendimento foi de que a forma dissimulada de recebimento do dinheiro foi apenas uma continuação do crime de corrupção passiva, uma vez que, para o ministro, ninguém recebe propina abertamente. Para Lewandowski, não há como condenar um réu duas vezes pelo mesmo ato.

Essa visão deve despertar muita discussão no plenário nesta semana, como ocorreu com a acusação de lavagem contra o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), cujo placar terminou em 6 a 5. Prevalecendo esse entendimento, o resultado ainda seria pela condenação de quem recebeu dinheiro do esquema de Marcos Valério. Lewandowski, no entanto, não deve absolver todos os réus acusados de lavagem. Até o momento, o ministro se manifestou apenas em relação ao PP. Falta ainda tratar do PL, PTB e o ex-deputado José Borba, na época filiado ao PMDB, hoje prefeito de Jandaia do Sul (PR), pelo PP.

Dificilmente o revisor terminará ainda hoje o seu voto. A expectativa é de que use algumas horas da sessão de quarta-feira. Em seguida, os demais ministros vão se manifestar sobre os 13 réus que constam dessa primeira parte do capítulo — ao todo são 23. O núcleo político do PT, acusado de corrupção ativa, será, então, julgado na próxima semana, véspera do primeiro turno das eleições municipais. Será a vez de analisar a conduta do ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do ex-presidente nacional do partido José Genoino.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Na base do desespero – Editorial / O Estado de S. Paulo (23/9/2012)


Lula sente-se ameaçado. De fato, está. Seu governo corre o risco de receber diploma de improbidade com o julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E seu partido pode levar uma surra histórica nas urnas de 7 de outubro - como mostra o último Datafolha. São as razões do desespero que levou o ex-presidente a pedir socorro a alguns dos partidos da base do governo, constrangendo-os a subscrever uma nota dirigida "à sociedade brasileira" na qual se tenta colocar o chefão do PT a salvo das suspeitas a respeito de seu verdadeiro papel no escândalo do mensalão.

Como não pegaria bem atacar diretamente o STF injusto ou o eleitorado ingrato, a nota volta-se contra os partidos da oposição, que tiveram a ousadia de sugerir ampla investigação sobre quem esteve de fato por detrás da trama criminosa do mensalão, conforme informações atribuídas ao publicitário Marcos Valério pela revista Veja.

A propósito dessa suspeita natural que a oposição não teve interesse ou coragem de levantar em 2004, o comportamento do ex-presidente no episódio merece, de fato, algum "refresco de memória". Quando o escândalo estourou, Lula declarou que se sentia traído e que o PT devia pedir desculpas ao País; depois, em entrevista à televisão em Paris, garantiu, cinicamente, que seu partido havia feito apenas o que todos fazem - caixa 2; finalmente, já ungido pelas urnas, em 2006, lançou a tese que até hoje sustenta: tudo não passou de uma "farsa" urdida pelas "elites" para "barrar e reverter o processo de mudanças" por ele iniciado, como afirma a nota.

Por ordem do chefão essa manifestação de desagravo a si próprio foi apresentada pelo presidente do PT, o iracundo Rui Falcão, a um grupo selecionado de aliados. Da chamada base de apoio ficaram de fora o PP de Valdemar Costa Neto e o PTB de Roberto Jefferson, ambos sendo julgados pelo STF. O documento leva a assinatura dos presidentes do PT e de cinco outras legendas: PSB, PMDB, PC do B, PDT e PRB. Seus termos obedecem ao mais rigoroso figurino da hipocrisia política. Iniciam por repudiar a nota em que PSDB, DEM e PPS, "forças conservadoras", "tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva". E a classificam como "fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro".

Para PT e aliados, numa velada referência ao processo do mensalão, as oposições "tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que seus interesses são contrariados". Nenhuma referência, é claro, ao fato de que, no momento, os interesses que estão sendo contrariados são exatamente os de Lula e do PT. Mas, em matéria de fazer o jogo de espelho, acusando os adversários exatamente daquilo que ele próprio faz, o lulopetismo superou-se em alusão explícita ao julgamento do mensalão: "Os partidos da oposição tentam apenas confundir a opinião pública. Quando pressionam o STF, estão preocupados em fazer da Ação Penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula".

Nos últimos dias, os sintomas de desespero nas hostes lulopetistas traduziram-se em despautérios de importantes personalidades do partido. O presidente da Câmara dos Deputados acusou o ministro Joaquim Barbosa de ser falacioso ao denunciar a compra de apoio parlamentar pela quadrilha que, segundo a denúncia da Ação Penal 470, era chefiada por José Dirceu. O senador Jorge Viana (PT-AC), ex-governador do Acre, ele próprio investigado pela suspeita de compra de votos, voltou ao tema do "golpe contra o PT". E o deputado federal André Vargas (PT-PR), chefe da equipe nacional de Comunicação do partido, revelou sua peculiar concepção de transparência da vida pública ao condenar a transmissão ao vivo das sessões plenárias do STF como "uma ameaça à democracia". São esses os combatentes da "batalha do tamanho do Brasil" convocada pelo desespero de Lula&Cia. Convocação atendida também pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em esfuziante entrevista no jornal Valor de sexta-feira.

Miau! Miau! Miau! - Ricardo Noblat


"Sou inocente e não cometi nenhum crime. Fui só presidente do PT" (José Genoino, um dos réus do mensalão)

Tem rabo de gato. Focinho de gato. Olhos de gato. Pelo de gato. Mia como um gato. Mas está longe de ser um gato, segundo a malta dos que nada veem demais na escolha em tempo recorde do ministro Teori Zavascki para a vaga do ministro Cesar Peluzo no Supremo Tribunal Federal (STF). E também na pressa com que estão sendo tomadas as providências para que ele assuma o cargo o mais rapidamente possível.

Porta-vozes de Dilma juram que ela quer distância do julgamento do processo do mensalão. Trata- se de herança pesada deixada pelo governo anterior. Logo... Logo, por que ela se envolveria com a manobra esperta de indicar um ministro para influir no resultado das votações do processo? Ou pior: para tentar adiar o julgamento, como sempre foi desejo expresso de Lula?

Mas a escolha foi relâmpago (Miau!). Dois dias após anunciada, Teori começou a bater perna no Senado atrás de votos (Miau! Miau!). Renan Calheiros (PMDB-AL) pediu para relatar a indicação de Teori (Miau! Miau! Miau!). Esvaziado pela eleição, o Senado foi convocado para aprovar o novo Código Florestal. De quebra, aprovará o nome da predileção de Dilma para o STF (Miau! Miau! Miau! Miau!).

Teori tem fama de homem sério. Por sério não se prestaria a ser peão de jogada política. Sua seriedade, porém, o impediria de retardar o exame do seu nome pelo Senado. Uma vez no STF, deixaria de ser considerado sério só por estar disposto a exercer de imediato a função de juiz? Que juiz sério e responsável votaria sem antes estudar detidamente o que tivesse de votar? Para estudar, só pedindo vistas (Miau! Miau! Miau! Miau! Miau!).

Sentado numa daquelas cadeiras do plenário do STF, um ministro só deve satisfações à sua consciência. Cada um à sua maneira, é assim que procedem, por exemplo, os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski. Graças a Lula ambos ganharam assento no STF. Lula está furioso com a independência de Joaquim e satisfeito com o bom comportamento de Lewandowski.

Não cobrem de Lula apego férreo ao princípio da separação dos poderes. Lula concorda com todos os princípios que balizam o sistema democrático desde que possa ignorá-los sempre que lhe convier. O mensalão atingiu em cheio a soberania do Legislativo. Lula foi contra o suborno de deputados? Marcos Valério deu a entender que Lula só não caiu porque ele, José Dirceu e Delúbio jamais contaram o que sabem.

Acusação tão grave ficou sem resposta de Lula. O que ele teme? Que Valério faça novas revelações? E que elas acabem forçando a Justiça a processá-lo? O PT e partidos aliados acusaram "setores conservadores" da sociedade de pressionarem o STF para que faça do julgamento do mensalão um meio de "golpear a democracia" Santo Deus! Como se o STF fosse formado por um bando de tontos.

Sandices! Sandices à farta que aos ignorantes impressiona, e somente a eles. Digam lá: em que parte do mundo civilizado já se ouviu falar de ameaça de golpe contra um ex-presidente? Golpeia-se presidentes; ex, não. O PT denuncia a iminência de um golpe contra Lula! Ahahahahah! O PT está no poder há dez anos. Oito dos atuais dez ministros do STF devem o emprego a Lula e a Dilma. E, contudo...

Há um golpe em marcha contra Lula! Ouve-se ao longe o barulho produzido pelo atrito com o asfalto das esteiras dos tanques a caminho de São Bernardo. No país da jabuticaba, golpe contra ex-presidente é coisa nossa! Quanto a golpe a favor... Miau! Miau!

FONTE: O GLOBO

Lula sai em defesa do PT em comício


Em Santo André, ex-presidente diz que País não seria "alegre" e "orgulhoso" sem o partido e lembra a morte de Celso Daniel

José Maria Tomazela

Numa clara defesa do PT, cujos membros estão sendo julgados no processo do mensalão - o tema virou arma eleitoral da oposição -, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil não seria o mesmo sem o partido. "Quando fazem críticas ao PT, a gente tem de fechar os olhos e imaginar o País sem o PT. Sem o PT, o Brasil não seria esse país alegre nem esse país orgulhoso", afirmou em comício em Santo André, no ABC paulista, em apoio ao candidato petista Carlos Grana, que está em segundo lugar nas pesquisas.

Após lembrar as greves que liderou na região em 1978, Lula disse que a criação do partido, em 1980, "foi praticamente o começo da conquista da democracia no País". Dirigindo-se à plateia de 1.200 pessoas que ocupavam a Avenida Firestone, fez um apelo. "Quero pedir a vocês para não dar trégua e não ter raiva de ninguém, nem aceitar provocação. Quem tem o partido e os candidatos que temos não precisa ter raiva de ninguém."

A defesa de Lula ocorre em um momento que o partido é atacado em diversos Estados. Segundo mostrou reportagem do Estado ontem, o tema mensalão já está presente em pelo menos metade das disputas das capitais e tende a se alastrar com o julgamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu às vésperas do 1.º turno. O embate que opõe petistas e aliados de Lula aos partidos de oposição capitaneados pelo PSDB já apareceu, na TV ou em discursos públicos de campanha, em 13 capitais.

O comício teve a participação da ministra Miriam Belchior (Planejamento), que foi secretária na cidade na gestão do ex-prefeito Celso Daniel (PT). "Os conservadores chegaram a dizer que o PT tinha alguma coisa com a morte do Celso Daniel. Possivelmente para apagar a memória daquele que foi o melhor prefeito que esta cidade já teve", afirmou Lula.

À noite, em comício em Diadema, Lula falou de sua luta contra o câncer para motivar a militância. "Estou feliz porque o câncer está derrotado, como estarão derrotados nossos adversários no dia 7 de outubro." Em seu terceiro comício na região do ABC nesta campanha, ele voltou a defender seu governo. Depois de elogiar a administração do petista Mário Reali, candidato à reeleição em Diadema, comparou a mudança na cidade ao seu governo. "Fizemos em oito anos no Brasil o que aqueles que vieram antes de nós não fizeram e 30, 40, 50 anos."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Hoje só amanhã - Melchiades Filho


Ninguém contribuiu mais para politizar o julgamento do mensalão do que Lula e o PT.

A oposição não tinha abraçado essa causa, seja por ter apanhado nas urnas, seja por saber que o holofote logo se voltará para o PSDB mineiro, primeiro cliente do valerioduto.

Foi Lula quem definiu como prioridade "desmontar a farsa" do mensalão ao se despedir do Planalto, quando recordes de popularidade lhe permitiriam fazer o que bem desejasse -lançar carreira internacional, sugerir novos projetos de inclusão, torcer pelo Timão etc.

Lula pressionou pessoalmente ministros do STF e, quando ficou evidente que Ricardo Lewandowski teria de entregar sua revisão e nada mais retardaria o julgamento, mandou o PT atiçar a militância e usar a CPI do Cachoeira para desviar a atenção e fustigar os adversários.

Tão logo saíram as primeiras condenações pelo esquema de desvio de recursos públicos, a direção do partido não hesitou em qualificar o STF de "instrumento golpista".

Não hesitou, também, em insultar o ministro relator, acusando-o de produzir uma "falácia" justo quando ele se preparava para tratar da participação ativa de petistas na compra de apoio parlamentar.

Cabe especular por que Lula e PT agem com o fígado. Uns dizem que eles perderam a mão. Outros, que tentam estancar prejuízos eleitorais. Mas é difícil acreditar que Lula, Zé Dirceu, Rui Falcão & Co vivam todos a mesma má fase. E nenhuma pesquisa vinculou o mau desempenho do PT nas capitais ao mensalão. Em São Paulo, por exemplo, o problema é o candidato: tem a metade do apoio do eleitor ao PT.

Resta uma hipótese. Esculacha-se o STF, o procurador-geral e a imprensa porque o mensalão é, como já disseram o delegado responsável da PF e Marcos Valério, uma teia criminosa bem maior do que a que está sob julgamento. Grita-se hoje para abafar o som do amanhã.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Direito no centro da atenção - Míriam Leitão


O rapaz chamado para consertar uma televisão na redação conseguiu normalizar o aparelho. A TV mostrava o julgamento do mensalão. Ele grudou a atenção na tela e mal respondia o que lhe perguntavam. Ficou de olho no ministro Joaquim Barbosa, que lia seu voto naquela linguagem difícil dos juristas. O técnico deu seu veredito apontando para o ministro: "Esse é o cara."

Um motorista que me leva ao trabalho de manhã também acompanha o que pode das sessões que julgam o mensalão no Supremo. Sempre foi eleitor de Lula, vibrou com a vitória da presidente Dilma e costuma comemorar com entusiasmo as vitórias do governo. Perguntei o que ele acha do julgamento, e ele explicou. Continua gostando dos governos Lula-Dilma, quer ver corruptos na cadeia e acha que o ministro Joaquim, quando brigou no começo dos trabalhos, tinha razão. Estava, segundo ele, evitando tentativas de "melar" o julgamento.

Vai demorar até que se avalie todo o efeito do que está acontecendo no STF sobre a política, o desempenho eleitoral do PT, e a ordem jurídica nacional. É acontecimento grande e impactante.

A compreensão do Direito avança no julgamento para teorias que fecham as brechas pelas quais os acusados de corrupção têm conseguido escapar da punição. Mas não estão descartados retrocessos.

Joaquim Barbosa foi criticado por faltar às sessões nos seus sucessivos e conhecidos problemas de saúde ou por desentendimentos com colegas. Nunca buscou a popularidade e tem reações vistas como ásperas. Entretanto, é chamado de "o cara" por um técnico de eletrônica e apoiado em suas brigas pelo motorista eleitor do PT. Tem sido parado na rua para fotos e autógrafos e em alguns restaurantes que vai é aplaudido.

Do ponto de vista da substância, seu voto tem sido considerado robusto por colegas e especialistas. Não por condenar, mas pela estratégia da montagem e da construção do lógica jurídica. Seu caminho do fatiamento e sua escolha da ordem do voto torna tudo mais compreensível. Foi por isso que, quando brigou para manter sua estrutura de voto, ele disse que se fosse de outra forma haveria o caos.

Não exagerava. O caso é espantosamente complexo, as teias do esquema são intrincadas, os acusados são muitos. O STF precisava julgar explicando o funcionamento do mensalão. Até jornalistas que têm por dever acompanhar o noticiário estavam confusos sete anos depois do estouro do escândalo sobre o papel de cada um dos réus. Ainda que a defesa discorde dos votos, métodos e condenações, esse caminho tem evitado a generalização da culpa. Não são todos igualmente culpados e já há absolvidos.

O projeto do PT, ao chegar ao poder em 2003, era ficar no mínimo 20 anos. Isso foi dito publicamente. Tem conseguido. Ao final deste governo já serão 12 anos, com grande chance de virarem 16. Esse tempo de poder não foi conseguido nas transações com as quais os arquitetos políticos do partido pensavam estar construindo as base da longa permanência.

A aprovação ao governo se alimentou dos acertos na administração do país. Primeiro, ao manter o arcabouço que garantiu a estabilidade monetária, e, depois, ao promover avanços nas políticas sociais. A lista de erros é significativa. Mas o que agrada ao eleitor é a estabilidade econômica com avanços sociais.

O eleitor não militante que vota no PT aprova o julgamento do mensalão e apoia o governo. Não vê nisso contradição. O que está sendo julgado é uma prática política e não um partido político. Resta ao partido - a todos eles - entender os sinais eloquentes da sociedade brasileira.

FONTE: O GLOBO

A esquerda venceu? - Renato Janine Ribeiro


A esquerda venceu? A esquerda perdeu? Um balanço das últimas décadas permite argumentar numa direção e noutra. Vou propor uma distinção, para sugerir que a esquerda política perdeu, enquanto a esquerda que chamarei de comportamental venceu.

As mudanças na vida pessoal - o que hoje é denominado "comportamento", termo que uso aqui por simples comodidade - foram enormes no último meio século. Na década de 1960, homossexuais eram mal vistos em quase todo o Ocidente, mulheres eram cidadãs de segunda classe, negros muitas vezes não eram sequer respeitados como cidadãos e, para resumir, quem adotasse uma postura não convencional em face da vida enfrentava dificuldades que podiam ser grandes. Os 50 anos transcorridos desde então conheceram uma mudança nas atitudes das pessoas sem precedentes na história do mundo.

Boa parte dessas bandeiras foi desfraldada pela esquerda. Ela foi radical contra o racismo. É verdade que não foi unânime em favor das mulheres nem dos homossexuais, mas seguramente a maior parte da esquerda apoiou as causas delas e deles; e certamente a proporção de direitistas que defenderam a emancipação feminina e o respeito à orientação homossexual foi bem inferior à proporção de esquerdistas assumindo tais valores. Sem dúvida, havia pessoas à esquerda que achavam que homossexualismo era vadiagem, mas eram menos numerosas do que os direitistas que o condenavam como pecado. Sem dúvida havia gente à esquerda que considerava a defesa dos direitos das mulheres como um desvio em relação ao conflito principal, que seria a luta entre capital e trabalho - mas isso porque esperava que a vitória do socialismo traria, automaticamente, a solução dos problemas das mulheres. Isso, claro que em linhas gerais.

Ela mudou mais o comportamento do que a política

Hoje, essas causas venceram, não totalmente mas em larga medida. Continua havendo crimes de ódio contra homossexuais. O machismo está presente em nossa sociedade e em outras. Fora do Ocidente expandido, a situação é sem dúvida pior, mas pelo menos nesta parte do mundo a esquerda que chamei de comportamental conseguiu emplacar várias de suas causas. Mas ela venceu justamente porque essas questões deixaram de ser de esquerda e se tornaram universais.

Talvez seja por isso que no Brasil, enquanto a sociedade politizada se cindiu de maneira talvez irremediável entre PT e PSDB, esses dois agrupamentos coincidem o mais das vezes na defesa dos direitos humanos. Alguns colunistas de jornal que atacam com veemência o governo petista estão mais perto dele na defesa do meio ambiente, dos direitos das mulheres e dos homossexuais. Essas causas nasceram na esquerda, mas se expandiram. É verdade que os agrupamentos políticos de base religiosa não seguem esse caminho, e que - sobretudo nos Estados Unidos - eles obtêm uma votação preocupante. Também é verdade que em nosso país o segundo turno de 2010 foi sequestrado por uma discussão arcaica sobre o aborto, o que o converteu na disputa de ideias mais rasa de nossa história recente. Mas na postura política mais civilizada temos a vitória de ideais que, aliás, foram de esquerda mais no sentido de uma sensibilidade ampla do que no de pertencerem a um partido ou outro. Porque os temas que enumerei nunca foram propriamente partidários. O único partido minimamente importante que já se organizou em torno de uma dessas causas foi o Verde, que só chefiou um governo nacional uma vez - dez meses na Letônia.

Quantos lembram como começou Maio de 1968, na França? O ministro da Juventude do general De Gaulle foi inaugurar uma piscina em Nanterre, em 8 de janeiro daquele ano. Um estudante alemão, Daniel Cohn-Bendit, interpelou-o. Disse que fazer piscinas era uma aposta nazista para reprimir sexualmente os estudantes. Tudo começou aí. Cohn-Bendit não estava errado, mas o próprio fato de que essa frase chocará ou fará rir nove em dez leitores mostra que hoje as aulas de educação física já não são cogitadas para esgotar a energia de natureza sexual dos jovens. Hoje, ter uma vida sexual ativa não é mais uma causa rebelde ou revolucionária.

Para a esquerda política, porém, as coisas são bem diferentes. É verdade que em toda a América Latina é mais fácil ser de esquerda hoje do que nunca no passado. Os governos importantes da América do Sul, salvo Chile e Colômbia, são de esquerda. Políticas de conteúdo social se tornaram irrenunciáveis. Sindicatos e movimentos sociais não são mais reprimidos a bala, pelo menos não como praxe. Todos esses são avanços da esquerda, mas por outro lado ninguém hoje disputa seriamente o poder propondo o fim da propriedade privada dos meios de produção.

O projeto de uma sociedade socialista sumiu ou pelo menos recuou. Em 2008, quando o mundo da utopia neoliberal faliu, acarretando um desastre econômico e social, não havia proposta alternativa pela esquerda. Não tinha havido uma crítica em regra da teoria marxista, que levasse a um novo projeto passível de empolgar as massas. Não tinha havido uma atualização das propostas radicais, que, com frequência, são apenas as mais antigas. Para os pobres traz resultados mais imediatos a política de cooptação de seus movimentos pelo capitalismo, iniciada por Lula, do que os ideais puros e duros de um PSOL. Quando os grandes partidos do centro para a esquerda, como o socialista francês ou o PT, aceitam princípios do neoliberalismo, então a esquerda política vive um momento de eclipse. Para sair dele, precisará propor uma nova sociedade, em escala macro, mas como fazer isso? Ela avançou no microssocial, mas hoje não se sabe como retomar seus sonhos para a sociedade como um todo.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Esquerda e direita – onde estão? - Zander Navarro


Examinados os fatos da vida social depois de 1989, sabemos que o significado da antinomia acima foi perdendo seu significado. A esquerda tem sido pressionada a revelar o imperscrutável sentido de sua ação política que, renovado, transformaria a ordem. Já a direita, saboreando os rumos da História, dedica-se a tertúlias, pois nunca almejou mudar nada.

Não obstante ser uma discussão fascinante, não é meu propósito adentrar o debate e suas nuances infindáveis. Mas ilustro a profunda confusão reinante, sugerindo, com o fato relatado, que aquela antítese, provavelmente, esteja mesmo perdendo a sua relevância.

Em agosto foi realizado em Brasília o Encontro Nacional Unitário dos Trabalhadores e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, reunindo organizações supostamente representativas dos segmentos sociais que habitam tais ambientes. A declaração final do evento é uma das mais vivas evidências do abastardamento de muitos setores da esquerda. Aferida por qualquer ângulo mínimo de sensatez é um texto lunático e produto de primária ideologização, desconhecendo por completo a natureza e as tendências do desenvolvimento agrário brasileiro. Causa perplexidade que, ao lado de muitas organizações signatárias quase fantasmas, a CUT e a Contag tenham endossado tal despautério verborrágico. Temos assim um segmento autointitulado de esquerda que deseja o progresso social do campo, mas é incapaz de submeter proposições, ainda que minimalistas, com alguma chance de concretização.

Por outro lado, pesquisas da Embrapa comandadas pelo lendário economista Eliseu Alves, usando os dados empíricos apurados pelo Censo Agropecuário, vêm alertando para a dramática velocidade de concentração da produção agropecuária, sugerindo que tal modelo produz níveis alarmantes de seletividade social, embora ao lado de volumes de produção total inéditos. Como sua equipe é formada de cientistas e não demagogos, refratários ao discurso fácil de cartilhas partidárias, demandam uma ação governamental rápida e urgente, a qual possa disseminar o melhor da tecnologia agrícola existente, como a derradeira tentativa de integrar economicamente o maior número de produtores mais pobres. Demonstram, irrefutavelmente, que o fator terra há muito deixou de ser decisivo para elevar a renda rural, pois em nossos dias apenas a ciência e sua materialização em técnicas modernas é que permitirão a um número expressivo de produtores a chance de deixar a pobreza que caracteriza a maior parte do campo brasileiro.

Alves, com os seus 81 anos e extraordinária capacidade analítica, é visto em certos setores da esquerda como um intratável conservador e insensível aos problemas sociais. É estranha a acusação, pois é ele quem mais consistentemente tem revelado a face real da pobreza rural e os caminhos efetivos e únicos para diminuí-la rapidamente.

A comparação é reveladora dos tempos bizarros que hoje marcam o país. Quem portaria o foco progressista, movido pelo sonho de uma sociedade mais igualitária? Qual a via que, de fato, garantirá mais igualdade e inclusão social nas empobrecidas regiões rurais? Como produzir conhecimento, se fingimos entender o que se passa e também situamos os atores sociais em falsas disposições no campo político? Ainda mais crucial: a quem interessa manter tal confusão sobre a realidade?

Zander Navarro é sociólogo e professor aposentado na UFRGS (Porto Alegre). Entre 2003 e 2010 foi professor e pesquisador no Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento (IDS), na Inglaterra.

FONTE: GRAMSCI E O BRASIL

Melhor para todos - Wilson Figueiredo


O brasileiro não estava nem aí quando o domingo se  apresentou como  cartão de visitas do verão e logo ficou sabendo  da entrevista de teor equivalente ao bilhete em que Jânio Quadros avisou que estava deixando de ser o Presidente da República, com sete meses de governo,  por se sentir impedido  de exercer os poderes a que tinha direito.

A semelhança se esgotou na entrevista em que Marcos Valério fazia, mas deixou de fazer,  uma antologia de razões servidas tarde demais a uma  opinião pública cansada de versões insatisfatórias como saldo republicano. De resto, tarde demais para alterar a ordem dos fatores conhecidos e deixar mal o produto posto à  disposição dos cidadãos, sob o insuficiente nome de mensalão.  O que seria a versão final de Marcos Valério ficou para outra oportunidade, quem sabe melhor, e que não faltará na próxima curva da história.

No domingo as circunstâncias eram outras, e não estavam em causa  as tentações  da reeleição. Pairava no ar expectativa indefinida. Ninguém ficou sabendo, nem por intermédio de quem, a entrevista voltou ao ponto de partida. Deixou de haver. Se é que não faltou alguém, com senso de oportunidade e faro mineiro, para reviver o papel de José Maia Alkimim quando, entre a manhã e a tarde do 25 de  Agosto de 1961,  dirigiu-se ao senador Auro Moura Andrade, então  presidente do Senado, e lhe perguntou se era verdade ter em mãos  “um documento capaz de mudar o destino do Brasil” e,  diante da confirmação, pediu para conhecer o teor. Leu sem pressa e, guardando os óculos,  perguntou o que Moura Andrade estava  esperando para lhe dar curso. (A versão é do próprio autor mineiro e nunca foi posta em dúvida.) A História guarda o essencial, e deixa pormenores para o varejo. Seja como tiver sido, a entrevista de Valério foi recolhida e deixou na manhã de domingo o teor de um episódio que passou de mensalão a Ação Penal 470. Melhor para todos.

As conseqüências não se fizeram de rogadas em agosto de 1961, mas em setembro de 2012 o personagem principal, modéstia à parte, é mais cuidadoso. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não figura no elenco da Ação Penal 470, mas opera por trás dos demais – para não se incompatibilizar como candidato em 2024, -, não cuidou da Ação Eleitoral 7 desde que se interessou pela eleição municipal, como terapia ocupacional para, na oportunidade, habilitar-se mais uma vez  à presidência, a seu ver incapaz de viver sem ele. Este é, até segunda ordem, problema que só diz respeito à presidente Dilma Rousseff, com prioridade para aceitar a reeleição, desde que a República se sentiu em condições de manter esse desafio amaldiçoado. Mas aí o problema passa a ser de Lula.

No caso da entrevista de domingo, tenha ou não sido concedida, pessoalmente ou por tabela, Marcos Valério pingava os pontos nos iis: tudo que disse já era do conhecimento de boa parte do público interessado ou não. Lula sabia  de tudo e, se não soubesse, pior para seu saldo negativo. Falou mais firme a sensação  de que se trata exatamente do que se sabia. O Supremo mastigara com vagar para que a opinião pública não engasgasse com a própria fome de escândalos  acumulados  ao longo do percurso para tornar realmente digeríveis as conclusões finais.

Se não estava, como devia estar, previsto que não poderia terminar bem o método que encalacrou  PT,  a conclusão só pode ser que a  ameaça de Valério antecipou a primavera à espreita da oportunidade no eterno jogo de  empurra que é razão de ser da política.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

A Ação Penal 470 e o sistema de representação política brasileiro


Helena Regina Lobo da Costa

Nesta semana, o Supremo analisa o chamado "núcleo político" da Ação Penal 470, formado por réus acusados de prática de corrupção passiva (dentre outros crimes), que teriam recebido vantagem econômica em troca de votos no Congresso Nacional.

Esses atos inserem-se no contexto da representação política brasileira, que merece ser refletida, para que se possa compreender mais profundamente o tema. Evidentemente, o sistema, por si, não gera, tampouco justifica a suposta prática de corrupção por parte dos representantes eleitos.

Como se sabe, o Presidente da República é escolhido a partir de votação majoritária, sendo eleito pela maioria absoluta dos votos válidos diretos dos cidadãos. Já o Senado, por ser o representante da Federação, tem três representantes para cada Estado e para o Distrito Federal. Assim, no Senado, não há vinculação direta entre o número absoluto de votos válidos de eleitores: o Estado brasileiro mais populoso tem idêntico número de representantes do Estado menos populoso.

A Câmara dos Deputados, por sua vez, tem representação proporcional, sendo formada por no mínimo 8 e no máximo 70 deputados de cada Estado, de acordo com a população correspondente. Além disso, vigora o sistema de listas partidárias, compostas pelos membros mais votados de cada partido ou coligação. O número de cadeiras cadeiras obtidas pelos partidos é proporcional à soma dos votos em todos os candidatos daquele partido ou coligação.

Outro dado importante é o de que o sistema partidário brasileiro é multipartidário - diferentemente, por exemplo, dos Estados Unidos, onde é bipartidário. As alianças entre esses partidos, nos diferentes Estados, municípios e no nível federal, variam bastante, não se podendo identificar, via de regra, uma orientação fundada em ideologias e princípios, mas, em geral, em interesses conjunturais, locais ou temporais específicos.

Nesse contexto, nem sempre um presidente eleito com ampla maioria de votos conta, no Congresso Nacional, com apoio da maioria dos representantes. Isso ocorre, evidentemente, não apenas no Brasil, mas também em outros sistemas, e há uma razão política para isso.

A ideia deste equilíbrio de forças é, exatamente, o de concretizar a democracia: diferentes órgãos de representação votando projetos de alteração na legislação brasileira, com vistas a garantir a prevalência da vontade popular. O grande desafio, portanto, ocorre no momento da discussão de projetos de interesse do Executivo a serem votados no Congresso.

Entretanto, e infelizmente, nesses momentos, nossa história mostra que o recurso a atendimento de interesses privados de representantes em troca de seus votos não foi exceção. Isso não é culpa do sistema eleitoral. Certamente, há pontos a serem aperfeiçoados, mas somente com uma mudança de mentalidade dos operadores e atores desse sistema se poderá alterar o foco dos alinhamentos políticos.

É preciso amadurecer as discussões sobre propostas, as alianças políticas em torno de projetos ou ideias e a oposição fundada em discordância de concepções. E, evidentemente, isso é algo a ser concretizado não apenas na representação federal, mas também na estadual e municipal.

Ainda que pareça utópico e ingênuo, a grande discussão pública que o julgamento da Ação Penal 470 gerou somente levará a mudanças políticas se esse momento for utilizado menos para a catarse e mais para a (re)construção política.

De nada adiantará nos escandalizarmos com os fatos discutidos no julgamento se, nas eleições que se avizinham, não soubermos escolher candidatos com base em projetos, ideias e propostas. Deixemos de ser mero expectadores, tomemos as rédeas de nosso futuro político.

Helena Regina Lobo da Costa é professora doutora da Faculdade de Direito da USP.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Lula ignora mensalão em palanques do ABC

Ex-presidente atua como cabo eleitoral e diz sentir saudades do poder e da militância sindical em porta de fábrica

Depois de articular manifesto contra a oposição, petista omite escândalo e faz elogios ao próprio partido

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Na volta aos palanques do ABC paulista, no fim de semana, o ex-presidente Lula ignorou o julgamento do mensalão e investiu em elogios ao PT e ao próprio governo.

Ele evitou referências ao manifesto em que partidos aliados acusam a oposição de "golpismo" e de questionar sua "honra e dignidade" ao explorar o escândalo nas eleições. O próprio Lula articulou a redação do texto, divulgado na última quinta-feira.

"Quando fazem críticas ao PT, a gente tem que fechar os olhos e imaginar o Brasil sem o PT. Não seria esse país alegre e orgulhoso que é", disse ontem, em Santo André.

"Estou feliz porque o câncer está derrotado, como estarão os nossos adversários", afirmou horas depois, em novo comício em Diadema.

Em São Bernardo do Campo, anteontem, Lula disse que "não falta nego safado neste país para fazer provocação", mas defendeu a aliança local com o DEM, que fez oposição ao seu governo.

Em Diadema, ele pediu boicote a candidatos do PSDB e do PPS, mas se corrigiu ao ser alertado pelo candidato petista Mário Reali que a última sigla o apoia.

Houve princípio de tumulto quando dois homens com sinais de embriaguez abriram faixas com as inscrições "Lula, cadê o Maluf?" e "Mensalão em Diadema, não". O material foi confiscado por seguranças sem que o ex-presidente visse o incidente.

A 15 dias do pleito, Lula deu uma pausa na campanha por Fernando Haddad em São Paulo para atuar como cabo eleitoral no ABC. A maratona continua hoje em Mauá.

"Depois o pessoal quer que eu vá a Guarulhos, Osasco. O Claudinho da Geladeira quer que eu vá a Rio Grande da Serra...", contou anteontem.

"Não sei se vai dar para ir em tudo quanto é lugar, mas vou falar menos e tentar cobrir o maior número de cidades possível para pedir voto."

Com a voz ainda debilitada, ele falou para plateias com menos de 3.000 pessoas e disse sentir saudade de quando tomava cachaça, em vez de água, antes de falar.

"Quando eu ia na porta de fábrica, eu tomava era uma caninha de manhã. Agora tenho que tomar uma aguinha", reclamou no sábado.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

No Rio, máquina eleitoral alimenta favoritismo de Paes


Prefeito montou aliança de 20 partidos, tem mais da metade do tempo de propaganda e lidera em arrecadação de recursos

Alfredo Junqueira

RIO - Com 20 partidos na coligação, 75% dos candidatos a vereador, mais da metade do tempo de TV e uma avaliação positiva que ultrapassa 50%, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), montou uma máquina eleitoral poderosa e é favorito para vencer a eleição na cidade já no primeiro turno.

Seu principal concorrente, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), ainda não rompeu a barreira dos 20% nas pesquisas. Sem alianças partidárias, faltam a ele recursos e estrutura. Sobram, no entanto, apoios da classe artística - como os de Caetano Veloso e Chico Buarque. Ao apresentar sua campanha como uma "Primavera Carioca", em referência ao movimento de revoltas que acontecem nos países árabes desde o ano passado, Freixo faz críticas ao que chama de política tradicional e busca uma "aliança com a sociedade".

Até o momento, o discurso de mudança na forma de fazer política, a atuação contra as milícias e a adesão de artistas parecem ter sensibilizado apenas o eleitorado mais instruído e com maior poder aquisitivo - concentrado na zona sul da cidade. Já a aliança entre o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) e o ex-governador Anthony Garotinho (PR), que lançaram chapa com seus respectivos filhos, o deputado federal Rodrigo Maia e a estadual Clarissa Garotinho, ainda não cumpriu seu objetivo de atrair o eleitorado mais popular.

Áreas. A campanha de reeleição do prefeito se concentra basicamente na apresentação dos resultados de projetos de sua administração direcionados, principalmente, para as zonas norte e oeste do Rio - regiões mais pobres e que concentram número elevado de eleitores.

"O Eduardo direcionou boa parte das obras para essas regiões e montou um pacote de projetos que tem uma pegada social", explicou Renato Pereira, estrategista da campanha de Paes. "Pesquisas qualitativas mostram que ele é identificado como candidato do povão".

Desde o início da campanha, Freixo fez críticas à coligação de Paes: "A nossa campanha não precisa dar satisfações a 20 partidos que já lotearam a administração." Mesmo assim, foi do PSOL que surgiu um candidato a vereador suspeito.

Rosenberg Alves do Nascimento, o Berg Nordestino, foi citado no relatório da CPI das Milícias, presidida por Freixo, e tinha ligações com o vereador miliciano Luiz André Deco, preso ano passado. Berg foi expulso do partido, mas o episódio deu combustível para os adversários criticarem Freixo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Paes critica Guaraná, ex-chefe de gabinete


Candidato a vereador contratou assessor ligado a miliciano

Cristina Tardáguila, Juliana Dal Piva

O prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição pelo PMDB, criticou ontem seu ex-chefe de gabinete, ex-secretário de Obras e da Casa Civil, Luiz Guaraná - atual candidato a vereador pelo PMDB - por ter contratado como assessor um antigo funcionário do ex-vereador Cristiano Mathias Girão, condenado a 14 anos de prisão por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Em carreata pelo Cachambi, Paes disse que a contratação demonstra "falta de inteligência e de percepção" e contou que já "puxou a orelha" de Guaraná. Negou que o caso revelado pela "Veja" afete sua campanha.

No evento, a comitiva de Paes, que contava com pelo menos dez veículos adesivados pela campanha de Guaraná e com a presença do "homem latinha" (símbolo do candidato), passou por centenas de cartazes em que os dois aparecem acima da frase "Há 20 anos trabalhando juntos". Mas Guaraná não participou do evento.

- Acho muito ruim para ele ter contratado alguém que trabalhou para o Girão. Se eu fosse ele, já tinha demitido ontem - disse Paes. - Isso não me afeta em nada, mas já puxei a orelha dele porque, por mais que o rapaz não tenha ligação com a milícia, tem um mal antecedente. Trabalhou no gabinete de um sujeito esquisitíssimo.

Paes, que diz ter se reunido com Girão "duas ou três vezes", classifica o ex-vereador como "um horror", mas defende Guaraná, dizendo se tratar de "um homem de bem".

Em nota, Guaraná informa que todos os assessores são submetidos à pesquisa antes da nomeação e que não há qualquer problema na ficha de Anderson da Silva, citado pela "Veja". Mesmo assim, anunciou ter pedido sua exoneração.

A revista "Veja" informa que o ex-assessor de Girão, conhecido como Zoião, trabalhou para o miliciano até 2010 e coordenava a campanha de Guaraná na Gardênia Azul.

O candidato do PSOL à prefeitura, Marcelo Freixo, afirmou que, em depoimento à CPI das Milícias, por ele presidida, Girão contou que mantinha relações com o ex-secretário municipal de Ordem Pública Rodrigo Bethlem, que hoje é coordenador de campanha de Paes. O próprio PSOL, no entanto, já teve nesta eleição problemas com milicianos. Há duas semanas, o partido, após divulgação de que o candidato a vereador Berg Nordestino era citado no relatório da CPI, abriu processo de expulsão contra ele. O TRE-RJ, no entanto, ainda não cassou seu registro.

FONTE: O GLOBO

Risco de fuga das urnas


Aumento dos votos nulos, brancos e da abstenção em algumas das maiores cidades de Minas revela descrença de parte da população na força do voto

Bertha Maakaroun

Eleitores mais distantes da disputa. Poucos adesivos em carros. Para boa parte dos cidadãos, não há emoção na briga pelo voto na qual se engalfinham candidatos. Esse movimento não é novo, e a julgar pela evolução dos votos brancos, nulos e da abstenção nas últimas eleições, a frieza poderá voltar a se traduzir nas urnas, com o encolhimento dos votos válidos. Na última campanha para prefeito de Belo Horizonte, em 2008, brancos, nulos e abstenções somaram quase um terço do eleitorado: 29%. Foi o maior percentual verificado nos últimos quatro pleitos na capital, que superou inclusive 1996, quando foram registrados 27%. Em 2000 e em 2004, brancos, nulos e abstenção caíram para 24%, voltando a subir quatro anos depois.

Não é apenas na capital que o eleitor parece acompanhar de camarote o debate. Também em cidades grandes, em que há segundo turno, registra-se crescimento do grupo que opta pelo voto nulo, branco ou não comparece às urnas. Em Contagem, depois do aumento gradual dos votos válidos entre 1996 e 2004 – respectivamente 77%, 78% e 79% – nas últimas eleições municipais esse percentual caiu para 75%. Um quarto dos eleitores abriram mão de escolher um candidato. O mesmo ocorreu em Juiz de Fora e em Betim. Na cidade da Zona da Mata, os votos válidos caíram de 81% em 1996 para 77% em 2008, a menor taxa das quatro últimas eleições. Em Betim, os votos válidos para prefeito em 2000 e em 2004 chegaram a 82% do eleitorado, mas em 2008 encolheram para 80%.

Num contexto em que o voto é obrigatório, como é o caso brasileiro, o crescimento do número daqueles que não querem ir às urnas sugere um afastamento – quase um desencanto – do eleitor. Para o cientista político e professor do Departamento de Ciência Política da UFMG Bruno Wanderley Reis, o fato de as eleições terem virado uma rotina torna previsível esperar, a longo prazo, algum aumento da abstenção. "É de se esperar um movimento nesse sentido. Em contextos específicos, entretanto, pode haver picos de participação", contrapõe.

As conjunturas políticas podem ser mais ou menos propícias a que seja reacesa a chama da participação. O cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), considera, no artigo "O voto obrigatório", que a participação do eleitor varia em função de sua percepção quanto à capacidade de influir na vida política do país, cidade e município. Nesse sentido, a flutuação na taxa de abstenção relaciona-se às condições em que ocorre a competição política e à crença na efetividade do voto como mecanismo de mudança.

Nas primeiras eleições após um longo jejum provocado pelo regime militar, a abstenção no primeiro turno em 1989 foi de 11,9%, proporção que, em média, dobrou nas eleições da última década. A lógica eleitoral pode ser facilmente aplicada também às democracias antigas, como é o caso da eleição de Barack Obama, nos Estados Unidos, em 2008, quando numa sociedade desgastada pelo governo de George W. Bush e sua política única de guerra ao terror, levou quase 66% dos 153,1 milhões de eleitores registrados às urnas. Nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório – e o comparecimento médio gira em torno de 50% –, a participação política naquele ano foi a maior desde 1908, quando várias restrições impediam todos os americanos de votar. O comparecimento naquela eleição também superou o recorde de 1960, quando 64,9% foram às urnas na disputa entre John Kennedy e Richard Nixon.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Em Recife, Humberto: bombardeio no PSB e PSDB


Petista decide reforçar, em discursos e na TV, o debate sobre a PPP da Compesa, procurando atingir Geraldo Julio e Daniel

Bruna Serra

O mantra que permeou as campanhas petistas em esfera nacional e local durante as últimas cinco eleições está de volta: as privatizações. Ciente de que o discurso contrário à Parceria Público Privada (PPP) da Compesa está irritando os socialistas, uma vez que lembra a polêmica da privatização da Celpe, Humberto Costa (PT) decidiu abordar o tema em todos os seus atos públicos e intensificar com o guia eleitoral. Ele pretende, também, tratar do assunto no debate de amanhã na TV Jornal. “Nesse processo, a parte boa – a lucrativa – da Compesa vai para o setor privado. E o prejuízo será nosso, vai aumentar a conta de água”, insistiu Humberto ontem, depois de realizar carreata de mais de dez quilômetros pelo Ibura.

A estratégia petista externa a briga histórica entre o governador Eduardo Campos (PSB) e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que enquanto foram adversários jogaram um no colo do outro a responsabilidade pela venda da Celpe. Ao trazer à tona o episódio, o PT provoca a entrada dos socialistas no debate político e, de quebra, deixa a população intrigada com o argumento de que, assim como a conta de energia, a água vai custar mais caro.

O discurso ainda resvala no adversário Daniel Coelho (PSDB), com quem Humberto disputa uma vaga no segundo turno. Desde a sexta-feira (21), o petista vem repetindo que Daniel não personifica o novo. “Esse tucano representa as privatizações, a inflação que só gerou infelicidade para o nosso povo”, atacou.
Humberto ainda ironizou Geraldo Julio quando afirmou que o socialista busca se vincular apenas às ações bem avaliadas do governo do Estado. “Ele não assume o corte do ICMS (do Recife), que foi ele que fez, prejudicando a administração municipal. Também não assume a PPP da Compesa. Isso não foi ele que fez?!”, disparou. No fim de semana, o petista ainda criticou o TRE, por ter indicado o juiz João Maurício Alcoforado – primo do presidente do PSB, Sileno Guedes –, para julgar a ação do PT contra o socialista Geraldo Julio, por suposta propaganda “casada” com o governo do Estado.

Ainda ontem, depois de dizer que é “um tiro no escuro apostar num desconhecido” – fazendo outra referência ao rival socialista –, Humberto reconheceu que existe no Recife um sentimento de mudança. Segundo ele, foi ciente dessa necessidade que o PT optou por mudar o candidato. “A situação não é boa, sabemos disso. A atual administração (João da Costa) não tem conseguido dar continuidade às mudanças que a cidade precisa, as políticas sociais. Por isso mudamos o candidato”, disse.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Apetites maniqueístas – José de Souza Martins


Às fomes antagônicas do MST e do diretor da FAO contrapõe-se uma terceira: a da menina sudanesa fotografada enquanto um abutre ao lado esperava sua morte

Na perspectiva maniqueísta que domina hoje as formas vulgares do pensamento social existe a fome da esquerda e existe a fome da direita. Na esquerda, a fome se mata com reforma agrária e preservação de costumes agrícolas tradicionais das populações camponesas, verdadeiro capital cultural que a Revolução Verde jogou no lixo. Na direita, a fome se mata com o agronegócio, a concentração da propriedade e a modernização tecnológica da agricultura em grande escala, substituindo trabalhador por máquina, fertilizante e agrotóxico. Na esquerda, a agricultura familiar mata a fome dos famintos. Na direita, a agricultura extensa mata antes a fome do mercado. É possível estender a ladainha por um grande número de itens comparativos sem saciar a fome política de nenhum dos dois grupos nem, principalmente, fazer com que o pão nosso de cada dia chegue de fato ao prato raso dos famélicos da terra.

A polarização retornou à pauta dos assuntos pendentes no correr dessa semana. O MST, e o grupo de entidades que em torno dele se articula, soltou um manifesto em que questiona, com indignação e medo, dizem, artigo publicado no Wall Street Journal por José Graziano da Silva (o brasileiro que é diretor-geral da FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) e Suma Chakrabarti (o indiano que é presidente do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento). O artigo tem o título provocativo de Fome por Investimento e o subtítulo, mais provocativo ainda, de O Setor Privado Pode Dirigir o Desenvolvimento Agrícola em Países que mais o Necessitam. Provocativo para quem vê o assunto da perspectiva do calor úmido de um barraco de acampamento de sem-terra, mas que de fato não lê o Wall Street Journal senão através de intermediários que não passam necessariamente fome. No entanto, desafiador e instigante para quem vê o assunto com óculos de cifrões no conforto de um escritório bem mobiliado e ar condicionado de Wall Street.

Quem lê o manifesto do MST tem a impressão de que, em Roma, o petista José Graziano não tem outra coisa a fazer senão maquinar a demolição das propostas ideológicas da entidade que o julgava amigo, o que ele é. Quem lê o artigo publicado no jornal das altas finanças internacionais tem a impressão de que o intuito de seus autores é bem outro: o interlocutor não é o MST nem o MST está nos horizontes de quem publica artigo nas páginas especializadas em economia do Wall Street Journal.

A comparação entre os dois documentos mostra claramente que Graziano e Chakrabarti falam de uma coisa e o MST fala de outra. O medo do MST é a subjacente doutrina do favorecimento do agronegócio na ocupação das terras agrícolas do mundo. O medo de Graziano e Chakrabarti é o de que as urgências das crises internacionais, provocadas pelo capital especulativo, minimizem ainda mais a FAO e seu já claudicante papel no desenvolvimento econômico. Se há tensão política nas crises tópicas recentes na Europa, há também tensão política na crise crônica das populações agrícolas, em especial no Terceiro Mundo.

A terceira via de Graziano e Chakrabarti é, sem dúvida, a de atrair o grande capital para a agricultura nos países que dispõem de extensos territórios férteis em desuso ou usados em cultivos arcaicos e ineficientes. O apelo dos dois autores, tendo em conta os poderes que representam, se baseia no primado da produtividade lucrativa. Por essa via, haveria produção, exportação, emprego. Haveria, também, melhora nas condições de vida dos agricultores. Como tudo que se orienta para a terceira via, o artigo é confuso e escamoteia questões essenciais. A camisa de 11 varas de Graziano já ficara exposta na entrevista que deu à revista alemã Der Spiegel, em 16 de janeiro. Acossado pelas jornalistas, que trataram com sarcasmo suas ideias para resolver o problema da fome no mundo, confrontando-as com as objeções do agronegócio, reconheceu que o problema da fome muito deve à interferência especulativa do capital financeiro no comércio de commodities.

Tanto no documento do MST quanto no artigo de Graziano e Chakrabarti a disputa é quanto à propriedade dos meios de produção na agricultura: a família agrícola ou o agronegócio. A fome é aí uma fome puramente teórica. É, pois, na mesma lógica econômica que das incongruências do artigo de Graziano e Chakrabarti se dá conta o MST, quando questiona: "Não mencionam em momento algum que as cifras oficiais mostram que nos três países mencionados (Rússia, Ucrânia e Casaquistão) a produtividade é muito mais alta nas terras em mãos de camponeses que naquelas em mãos do agronegócio". Portanto, os verdadeiros personagens do triunfo agrícola não são os mencionados e cortejados pelos autores do artigo. Mas se poderia dizer, também, que a fome que os preocupa e preocupa o MST não é a mesma daquela menininha sudanesa, faminta, fotografada em 1993 por Kevin Karter (Prêmio Pulitzer), enquanto um abutre ao seu lado esperava o momento de saciar a própria fome.

José de Souza Martins - é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, autor, entre outros, de Reforma agrária: o impossível diálogo (EDUSP)

FONTE: ALIÁS / O ESTADO DE S. PAULO