O Globo
Na campanha, Lula fez discurso de união
nacional, que não acontece. Com isso, está perdendo o apoio do centro
democrático
Se ficar o bicho come, se correr o bicho
pega. Nada melhor para definir a situação política do governo hoje que o título
da peça de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, de 1966. Não havia saída. A
decisão da Câmara, já tomada, de alterar a estrutura organizacional imaginada
pelo presidente eleito é um duro golpe político, uma intromissão indevida que
deveria ser contestada no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas Lula não
tem apoio político para tanto.
Obrigar um governo de esquerda a se organizar dentro do conceito de extrema direita, esvaziando as políticas públicas do meio ambiente e indigenista, fazendo desaparecer ministérios como Planejamento e Cultura, já é uma sublevação, negação do que o eleitorado de centro democrático aprovou nas urnas, embora por pequena margem, que sugeria que o governo saído dela fosse de união nacional.