segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Opinião do dia – Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!

“Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Fernando Gabeira - Rio, a capital do reino secreto

O Globo

As rachadinhas não foram punidas. O processo perdeu-se nos meandros de uma Justiça cheia de juízes que sonham ser ministros

O inverno no Rio é ameno e ensolarado. Do ponto de vista do clima, sentimo-nos no melhor lugar do mundo e quase esquecemos a tragédia que envolve nossa vida pública. O governo do estado tem mais de 20 mil funcionários secretos no ano eleitoral e gasta com eles em torno de R$ 270 milhões.

É um dinheiro pago na boca do caixa. Só uma agência de banco em Campos dos Goytacazes registrava um saque a cada 49 segundos, sem dúvida um recorde.

No Rio, alguns dos governadores foram presos, e possivelmente o estado deverá manter essa tradição num futuro próximo. Mas não é um lugar isolado no Brasil. Digamos que é apenas a capital do país que tem um orçamento secreto e, nos últimos meses, decreta sigilo de cem anos sobre algumas decisões e documentos oficiais.

Outro dia, numa mesa entre amigos em Brasília, discutíamos o que fazer após as eleições. Mencionavam-se alguns destinos possíveis, caso o resultado fosse tenebroso, Uruguai, Portugal.

De qualquer forma, seguirei aqui, esse é o meu plano. Já vivi muitos anos fora do Brasil e há algumas dezenas de lugares, dentro do país, onde viveria bem.

Não se trata de desistir do Brasil, assunto que já foi tema de campanha presidencial.

Miguel de Almeida - O demônio da fé dos outros

O Globo

Ao mirar o candomblé, Michelle explicitou a perseguição empreendida por certos cultos evangélicos contra as religiões de matriz afro no Brasil

Como Jair Bolsonaro deve estar informado, sua mulher é ainda mais sem noção do que ele. Com poucas palavras, ela desmontou a fantasia de que o Brasil seja um país tolerante com a diversidade religiosa. “Isso pode, né? Falar de deus, não”, comentou Michelle no post de uma vereadora dizendo que Lula “entregou a alma para vencer a eleição” e mostrando um vídeo dele na cerimônia de purificação da Irmandade da Boa Morte e Glória, em Cachoeira, na Bahia. O ataque não é contra Lula, o anátema de seu bendito consorte. Lula é um detalhe, porque o sujeito oculto é a religião afro.

Antes perseguida pelas autoridades da Colônia e do Império, pela polícia da República Velha, também pelas forças repressoras de Getúlio, as religiões afro só encontraram compreensão (eufemismo, é claro) em meados do século passado. Se deixaram de ser violentadas pela polícia, ao menos na aparência legal, tornaram-se alvo preferencial desde a ascensão de algumas correntes evangélicas. Mais do que religioso, é ideológico. A cerimônia da Irmandade baiana ocorre há 200 anos.

Marcus André Melo* - Venezualização

Folha de S. Paulo

O conceito serve apenas como metáfora geral para autoritarismo nada mais

O fantasma da venezuelização reemergiu no debate público; desta vez com o sinal trocado. Daron Acemoglu, em entrevista recente, fez paralelo entre a reeleição de Jair Bolsonaro e o fenômeno Hugo Chávez. Em 2018, a referência era ao PT. Em ambos os casos, o paralelo com aquele país é descabido.

A ciência política já identificou robustos preditores de democracia. Destaco três. A experiência com democracia ou regimes semicompetitivos, ex. França no século 19 (Dahl); renda per capita (Svolik); recursos naturais (ex. petróleo/gás) (Ross); aqui o timing é crucial: se descobertos sob democracia (Noruega), o efeito é virtuoso; do contrário, uma maldição.

Vejamos o caso da Venezuela.

Celso Rocha de Barros - Aumentou o preço do golpe

Folha de S. Paulo

Se houver um golpe, ele já começa contrariando inclusive nomes de peso da elite econômica e política

"Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito" aumentou o preço do golpe. Se houver um golpe, ele já começa contrariando setores importantes da sociedade brasileira, inclusive nomes de peso da elite econômica e política. Em 1964, por contraste, os golpistas tinham vários desses setores do seu lado.

Talvez os bolsonaristas sejam tão fanáticos que topem pagar esse preço: mas ele subiu.

Após três anos de notas de repúdio, entendo quem suspeitava que a carta seria só mais um pedaço de papel. Essa suspeita não se confirmou: um pedaço de papel com 1 milhão de assinaturas não é qualquer pedaço de papel.

Se entre essas assinaturas houver gente da Fiesp e da Febraban, assim como de inúmeros populares, como se pode ver pelos dados de "ocupação" dos signatários, estamos falando de um pedaço de papel muito particular.

Ana Cristina Rosa - À espera de um milagre

Folha de S. Paulo

As eleições não começaram e já produziram ato pró democracia e efeitos da fome

As eleições gerais de 2022 ainda não ocorreram e já conseguiram produzir simultaneamente dois fenômenos distintos. Em uma frente, conectaram elite (econômica e cultural) e oposição, que vieram a público demonstrar sintonia nos atos em defesa da democracia, do Estado de Direito e da lisura do processo eletrônico de votação. Na outra, o povo —que passa fome— começou a dar sinais de encantamento com o pacote de benesses efêmeras lançado recentemente pelo governo, numa clara comprovação de que estômago vazio pode causar dor de cabeça.

Lygia Maria - Liberdade esfaqueada

Folha de S. Paulo

Seja pela religião ou pela política, o fundamentalismo não suporta o livre pensar

Na última sexta-feira, um escritor foi esfaqueado apenas por ter publicado um livro considerado ofensivo por líderes de uma religião. Chega a ser surreal que isso aconteça em pleno século 21. Salman Rushdie foi vítima da fatwa, decreto que o aiatolá Khomeini, líder supremo do Irã, emitiu contra o autor de "Versos Satânicos". Tradutores da obra também foram atacados nos anos 90, e impossível não lembrar do massacre perpetrado por radicais islâmicos contra cartunistas do jornal francês Charlie Hebdo em 2015.

Felipe Moura Brasil - Mais Burke, menos Lula e Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Só os cúmplices devem lealdade a movimentos radicais e corrompidos

O expediente comum entre petistas e bolsonaristas de associar aos rivais quem não segue a visão estreita de seus respectivos grupos não é novidade.

O dualismo é endêmico de tal modo na história humana que até o pensador irlandês e pai do conservadorismo, Edmund Burke (1729-1797), então atuante no Parlamento britânico, foi acusado de traição por correligionários simpáticos à Revolução Francesa.

Como conta Yuval Levin no livro O Grande Debate, Burke “achava que os debates de sua própria época não tinham semelhança real com os de 1668”, ano da chamada Revolução Gloriosa que levou à deposição de Jaime II e à coroação de Guilherme de Orange e Maria Stuart como rei e rainha da Inglaterra.

Denis Lerrer Rosenfield* - Voto facultativo

O Estado de S. Paulo

Você, cidadão, está no direito de dizer ‘não’ aos candidatos, recusando qualquer radicalização. Eis a sua liberdade, inclusive em sua acepção política.

Espalhou-se um estranho – para não dizer bizarro – consenso na sociedade brasileira segundo o qual a verdadeira cidadania só se exerceria com a obrigatoriedade do voto. Impõe-se arbitrariamente um determinado comportamento político, como se esse padrão devesse por todos ser seguido como algo “natural”. Alguns vão mais além, chegando a afirmar que a verdadeira liberdade assim se realizaria, quando, na verdade, o que acontece é a sua restrição.

Benjamin Constant, já no século 19, estabeleceu uma importante distinção entre a vida pública e a privada, mostrando que uma das grandes conquistas da modernidade consistia na liberdade de escolha de participar ou não da vida política. É perfeitamente legítimo que uma pessoa decida dedicar-se a seus afazeres privados, sem que o Estado tenha nada que ver com isso. Defende, apenas, que ele não intervenha neste âmbito, assegurando o exercício da liberdade em suas múltiplas acepções. Ou seja, decide dedicar-se aos seus prazeres e aos seus bens, não cabendo ao Estado lhe impingir qualquer tipo de obrigatoriedade como a de votar. Em vez de politizar-se como se fosse uma obrigação, por que não dedicar-se ao seu trabalho, a melhorar a vida dos seus, a namorar, beber, comer, fumar, ver filmes ou algo mais que lhe apeteça? No dia das eleições, tem uma miríade de opções à sua volta!

Bruno Carazza* - Na rua, na TV, no rádio e nas redes sociais

Valor Econômico

Preparem-se para a campanha integral: em todos os lugares, o tempo todo

Agora é oficial. Os principais adversários à Presidência da República estão em campanha há meses, mas só amanhã a farsa da “pré-candidatura” terá fim e os candidatos, enfim, poderão pedir voto para os eleitores sem dissimulação.

Comícios, carreatas, motociatas, santinhos, bandeiras e vídeos nas redes sociais - tudo estará liberado. Com o início do horário eleitoral no rádio e na TV no dia 26, o clima eleitoral tomará conta de cada esquina do país, em todos os meios e mídias.

Líder nas pesquisas, Lula dará o pontapé inicial para sua sexta disputa presidencial voltando às origens, entregando panfletos na porta de fábricas do ABC paulista. A mística das ruas faz parte do ideário petista. Com muita frequência, aparecem nas falas de Lula a disposição de rodar o Brasil em caravanas, a convocação dos filiados a fazerem campanha no corpo-a-corpo com o eleitor e a realização de grandes comícios com o apoio de sindicatos e organizações da esquerda.

Jair Bolsonaro também escolheu um lugar simbólico para inaugurar sua caminhada em busca da reeleição: fará um ato em Juiz de Fora (MG), local onde sofreu um atentado em 06/09/2018. Para muitos, o evento mudou os rumos daquela eleição.

Alex Ribeiro - Os flancos na estratégia desinflacionária do BC

Valor Econômico

Mercado duvida que juro ficará alto por muito tempo

O Banco Central está prestes a encerrar um dos maiores ciclos de aperto monetário da história, com uma alta acumulada de 11,75 pontos percentuais na taxa Selic desde março de 2022. Ainda assim, a sua estratégia desinflacionária vem sendo muito criticada por setores do mercado financeiro, que acham que contém flancos que aumentam o custo de baixar a inflação para a meta.

Há duas semanas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC subiu os juros, de 13,25% ao ano para 13,75% ao ano, e indicou que vai avaliar até setembro se será o caso de fazer uma nova alta residual, de 0,25 ponto percentual. A partir daí, a estratégia será deixar os juros bem altos para fazer a inflação, que no acumulado em 12 meses chegou a 10,07%, cair para as metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Memória | Primavera de Praga - Manifesto de Intelectuais Brasileiros*

Os abaixo-assinados democratas que acreditam no socialismo como forma digna de viver em sociedade, querem manifestar de público sua mais viva repulsa contra à invasão da Tchecoslováquia por cinco potências do pacto de Varsóvia.

Convencidos que estão do acerto e da oportunidade das transformações estruturais e administrativas que se processavam na vida desse país, em busca de uma aplicação correta dos princípios fundamentais do socialismo, causa-lhes indignação e sofrimento que aquelas Repúblicas lideradas pela URSS – a primeira nação socialista do mundo – estejam desrespeitando o princípio da autodeterminação dos povos, que alegam defender.

Socialismo é liberdade. O socialismo, que por sua essência não admite a exploração do homem pelo homem, por isso mesmo não pode admitir quaisquer razões políticas e econômicas que justifiquem a dominação de um povo.

Viva a liberdade!

Viva o socialismo!

Viva o povo tchecoslovaco!

              Rio de Janeiro, GB, 22 de agosto de 1968

Affonso Romano de Sant’Anna – Alex Vianny – Almir de Castro – Álvaro Lins – Anísio Teixeira, Antônio Aragão, Antônio Houaiss, Bolivar Lamounier, Assis Brasil, Carlos Heitor Cony, Célia Neves, César Guimarães, Cid Silveira, Claudio Santoro, Dias Gomes, Djanira, Doutel de Andrade, Edson Carneiro, Edmar Morel, Edmundo Muniz, Eduardo Portela, Eli Diniz, Ênio Silveira, Fausto Ricca, Felix de Athayde, Fernando Segismundo, Ferreira Gullar, Flávio Rangel, Flora Abreu Henrique, Geir Campos, Helena Ignez, Hélio Silva, Irineu Garcia, James Amado, João das Neves, Joel Silveira, José Paulo Moreira da Fonseca, Josefa Magalhães Dauster, Júlio Bressane, Leon Hirchmann, Lúcio Urubatan de Abreu, Luis Fernando Cardoso, Marcelo Cerqueira, Margarida Boneli, Maria Yedda Linhares, Mário da Silva Brito, Miguel Borges, Miguel Faria, Moacyr Felix, Otavio Ianni, Oto Maria Carpeaux, Paulo Alberto, Paulo Francis, Pedrívio Guimarães Ferreia, Poty, Roberto Pontual, Rodolfo Konder, Roland Corbisier, Sebastião Neri, Sinval Palmeira, Susana de Moraes, Tati Moraes, Vamireh Chacon.

*Revista Civilização Brasileira – Caderno Especial 3, p. 387.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Ajuste sem reforma

Folha de S. Paulo

Necessária, queda acentuada do gasto com servidor foi obtida por meios precários

As três maiores despesas do governo federal —Previdência Social, encargos da dívida pública e funcionalismo— foram alvo de estratégias de ajuste muito diferentes sob Jair Bolsonaro (PL).
A mais virtuosa delas, sem dúvida, se deu com o sistema de aposentadorias e pensões por morte. Após um debate amadurecido ao longo de mais de duas décadas, uma reforma pactuada entre Legislativo e Executivo estabeleceu normas mais sustentáveis para a concessão dos benefícios, contendo o gasto a longo prazo.

A conta dos juros da dívida não está sob influência direta do governo, dado que as taxas dependem dos imperativos do controle da inflação. O que se pode fazer é manter a credibilidade da política econômica, de modo a evitar que a insegurança de investidores se transforme em custo adicional.

Nesse caso houve claro retrocesso. Em desespero eleitoral, Bolsonaro patrocinou a violação das normas de controle da despesa e deu impulso à alta dos juros —já pressionados pela escalada inflacionária global decorrente dos impactos da pandemia e da guerra na Ucrânia.

Por fim, a folha de pessoal passou por contração acentuada, que o ministro Paulo Guedes, da Economia, destacou em apresentação ao mercado financeiro, conforme noticiou a Folha. A despesa com servidores ativos e inativos, que em anos anteriores rondava 4,2% do Produto Interno Bruto, aproxima-se dos 3,4% na projeção oficial.

Poesia | Graziela Melo - Vidas

Quantas vidas

Desvividas,

Passaram

No meu caminho!

 

Revividas

E mal vividas,

Sem afeto,

Sem afago

E sem carinho!

 

Quantas vidas

Desvividas

Pela estrada

Deste mundo,

 

E quantas almas

Perdidas

Neste abismo

Tão profundo,

 

Deste universo

Perverso

Oriundo

De outras vidas

Oriundo

De outros mundos!!!

Música | Chico Cesar - Deus me proteja (Chico Cesar & Dominguinhos)