domingo, 21 de agosto de 2016

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques

A verdade é que esses e outros atos delineiam um “inimigo” conveniente. São sintomas de uma esquerda intelectualmente frágil, incapaz de uma desapiedada visão de si mesma, ela que deseducou parcela grande da sociedade quando, na oposição, patrocinou pedidos em série de impeachment e questionou infantilmente a legitimidade de todos os presidentes. 

Uma esquerda que, como no exemplo americano antípoda, não se mostrou à altura de conquistar o centro, sem tentar destruí-lo, e de efetivamente dirigir o País, renovando-o e contribuindo para a construção de uma vida pública o mais afastada possível da patologia maniqueísta – traço mórbido da crise de nosso tempo. Uma construção que simplesmente não se faz sem o concurso da esquerda, mas não foi possível levar adiante com esta esquerda.
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*Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das 'obras' de Gramsci no Brasil. ‘Uma patologia contemporânea’, O Estado de S. Paulo, 21/8/2016

Odebrecht diz ter dado R$ 100 milhões ao PT

• Em depoimento, executivos afirmam que propina foi intermediada por Guido Mantega

Contrapartida foi a aprovação de projetos que beneficiaram a construtora, como a redução de Imposto de Renda sobre o lucro de empresas brasileiras no exterior

Em tentativa de delação premiada, executivos da Odebrecht disseram que a empresa pagou R$ 100 milhões em propinas ao PT, intermediadas pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. A maior parte dos pagamentos foi feita em troca de benefícios obtidos com projetos como a desoneração da folha de pagamentos e a redução de Imposto de Renda sobre o lucro de empresas brasileiras no exterior, conta Thiago Herdy. Para os repasses, a Odebrecht se valeu do Setor de Operações Estruturadas, que funciona no mesmo andar da presidência da empresa e chamado pelo Ministério Público Federal de “escritório de lavagem e pagamento de propina”.

Odebrecht envolve Mantega

• Em tentativa de delação premiada, executivos dizem ter pagado R$ 100 milhões a ex-ministro

Thiago Herdy - O Globo

SÃO PAULO - Executivos da Odebrecht disseram em tentativa de delação premiada que a empresa pagou pelo menos R$ 100 milhões em propina para o PT em negociações intermediadas pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Os repasses teriam sido realizados por meio do Setor de Operações Estruturadas da holding, chamado pelo Ministério Público Federal (MPF) de “escritório de lavagem e pagamento de propina”. De acordo com o relato dos executivos, a maior parte dos pagamentos teria sido feita em troca de benefícios obtidos nos últimos anos graças a projetos como a desoneração da folha de pagamentos e a redução de imposto de renda sobre o lucro de empresas brasileiras no exterior.

Monica Moura já citara ex-ministro

• Mulher do marqueteiro João Santana disse que Mantega intermediou caixa 2

Em agenda, Monica registrou detalhes de encontros com interlocutores de executivos indicados por Mantega

- O Globo

SÃO PAULO - Até a revelação de que pagamentos intermediados por Mantega eram contrapartida por benefícios fiscais obtidos pela Odebrecht, o ex-ministro havia sido mencionado por Monica Moura apenas como intermediário de caixa 2 para campanhas eleitorais do PT. A primeira versão da delação da mulher de João Santana foi recusada pela força tarefa da LavaJato, no início deste ano. No entanto, ela voltou a negociar com os procuradores depois que o marido, João Santana, decidiu também fazer acordo. Na época, por meio de seus advogados, Mantega reconheceu ter mantido encontros com Monica, mas sem ter tratado de contribuições financeiras.

A empresária disse à força tarefa ter recebido recursos de caixa 2 em todas as campanhas que fez para o PT: nas campanhas presidenciais pela eleição e reeleição de Dilma (2010 e 2014), e pela reeleição de Lula (2006), além das campanhas municipais de Fernando Haddad (2012), Marta Suplicy (2008) e Gleisi Hoffmann (2008). Os candidatos negam.

Temer quer refundar governo, mas ainda precisa seduzir aliados

• Base no Congresso não é segura, e Planalto espera mudança após efetivação

Simone Iglesias e Júnia Gama - O Globo

BRASÍLIA - Com o provável afastamento definitivo de Dilma Rousseff, Michel Temer promete refundar o governo, com a meta de retomar o crescimento econômico, estancar os gastos públicos e, ao fim, superar o desconhecimento e a rejeição, mas sua tarefa não é simples. No período de interinidade, Temer enfrentou problemas com aliados e viu a dificuldade de emplacar projetos que enfrentam grande rejeição da sociedade. O marco para seu governo deslanchar é a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria o teto de gastos públicos. O projeto está na Câmara, e, para ser aprovado, são necessários ao menos 308 votos. Apesar de contar com maioria congressual, a fidelidade dos partidos aliados não tem se traduzido em votos. A partir desta semana, o peemedebista dará maior atenção às bancadas para reforçar que só há uma chance de sua gestão dar certo: fazer o ajuste fiscal.

Ajuste fiscal prometido por Temer ainda é apenas uma expectativa

• Apesar de acerto com Meirelles, governo elevou déficit e deu reajustes

Martha Beck - O Globo

A escolha de Henrique Meirelles para comandar o Ministério da Fazenda foi o que rendeu ao presidente interino, Michel Temer, o primeiro voto de confiança do mercado. Ao trazer um nome respeitado e com credibilidade no setor financeiro, Temer passou a mensagem de que teria compromisso com o reequilíbrio das contas públicas e colocaria fim à gastança observada na gestão Dilma Rousseff. Mas, até agora, Meirelles e sua equipe de nomes estrelados — apelidada de “dream team” pelo Planalto — tiveram poucas chances de mostrar ações concretas de ajuste.

Logo na primeira semana, o governo fez o contrário. Anunciou revisão da meta fiscal de 2016, aumentando o déficit primário previsto de R$ 96 bi para R$ 170,5 bi. O argumento foi que Meirelles passaria a trabalhar com números realistas e que o rombo teria de subir para acomodar pagamento de despesas atrasadas, acomodar frustrações de receitas e renegociar as dívidas de estados com a União.

— Essa revisão dos números foi difícil, mas mostramos déficit realista — disse ao GLOBO um integrante da Fazenda.

Altos e baixos na relação com dois aliados incômodos

• Temer tenta se equilibrar no convívio com correligionários

Júnia Gama e Isabel Braga - O Globo

BRASÍLIA - Nos primeiros 100 dias de governo, o presidente interino, Michel Temer, teve que lidar com os incômodos de dois correligionários com os quais a convivência está longe de ser tranquila: o imprevisível presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-todo poderoso presidente da Câmara, agora afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Um histórico de disputa pela hegemonia no PMDB pauta a relação de Temer com Renan. Traições, trocas de ofensas e desentendimentos fazem parte da relação entre os dois que, neste momento, ensaiam uma trégua. A reaproximação é visível em pequenos gestos. Nas últimas semanas, Renan tem se mostrado mais engajado no processo de impeachment, do qual anteriormente preferia manter distância. Defendeu publicamente que as sessões do julgamento final ocorressem também no fim de semana, em consonância com desejo do Planalto.

Para PMDB, Renan votar contra Dilma é 'simbólico'

• Partido pressiona presidente do Senado por apoio definitivo ao impeachment

Isabela Bonfim - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Após conseguir uma margem de votos a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, uma das preocupações da base aliada do presidente em exercício Michel Temer é conquistar um voto em especial, o do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A aliados, o peemedebista já admite que pretende votar pela saída definitiva da petista.

Para a base, o voto do peemedebista é “simbólico” e representa o apoio definitivo da liderança ao governo Temer.

“Acredito que cada vez mais senadores estão conscientes de que houve crime de responsabilidade. Não estou contando votos, mas o Renan, por exemplo, ainda não disse o voto dele”, afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos principais articuladores do governo Temer no Congresso.
Os peemedebistas têm pressionado pelo voto do presidente do Senado. Jucá tem reafirmado que aqueles que não votam no processo de impedimento de Dilma estão com ela. Para colegas de partido, além de uma sinalização de apoio ao governo interino, o voto de Renan favorável ao impeachment também demonstraria a união e o fortalecimento do PMDB, já que o presidente do Senado e Temer têm divergências históricas.

PSDB vira o maior aliado do PMDB na disputa municipal

• Rearranjo de forças partidárias no plano federal se reflete nas candidaturas a prefeito; peemedebistas terão como parceiros favoritos os tucanos, posto que era do PT

Daniel Bramatti, Pedro Vensceslau e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O divórcio entre petistas e peemedebistas no plano federal provocou um forte rearranjo das forças políticas nos municípios. Neste ano, o PMDB terá o PSDB como parceiro favorito na formação de chapas para disputar as prefeituras, posição que era do PT até quatro anos atrás.

Em 2012, o PMDB fechou 282 coligações nas quais tinha um petista como vice (12% do total das candidaturas peemedebistas). Em 2016, o número caiu para menos da metade: 124 (5% do total). Com isso, os tucanos subiram para o primeiro posto no ranking de coligados com os peemedebistas, enquanto os petistas passaram para o terceiro lugar, atrás dos pedetistas.

O afastamento entre as legendas da presidente afastada Dilma Rousseff e do presidente em exercício Michel Temer também fica evidente pelo lado dos candidatos a prefeito do PT, que tiveram 213 vices do PMDB na eleição passada e terão apenas 76 na disputa deste ano.

Seis ex-ministros de Dilma Rousseff aderem ao impeachment

Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Seis ex-ministros do governo de Dilma Rousseff estão no grupo de senadores que no final deste mês deve votar a favor do afastamento definitivo da petista.

Demonstrando ressentimento e afirmando que ela cometeu erros, eles representam um certo constrangimento para a presidente afastada— se ainda tivesse o apoio desses seis, Dilma estaria a apenas um voto de conseguir barrar o seu impeachment.

Oficialmente esses senadores, do PMDB (quatro) e do PSB (dois), argumentam que votarão contra a petista por fidelidade à decisão de seus partidos, que em determinado momento romperam com o governo do PT.

Se impeachment ocorrer, Dilma deve ter 30 dias para desocupar Alvorada

Gustavo Uribe, Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Se o Senado confirmar no final deste mês oimpeachment de Dilma Rousseff, a petista manterá benefícios reservados a ex-presidentes e deverá ter até 30 para desocupar o Palácio da Alvorada. Já o interino Michel Temer vai ser efetivado mediante cerimônia de posse no Congresso Nacional.

Esse é o rito previsto por técnicos do Senado e do Palácio do Planalto caso a petista seja afastada definitivamente do comando do país.

Segundo eles, Dilma manterá as prerrogativas garantidas a todos os seus antecessores e a Presidência da República pagará a mudança de seus objetos pessoais. Além disso, ela deverá dispor de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para se deslocar para Porto Alegre.

Uma patologia contemporânea - Luiz Sérgio Henriques*

• Vida pública afastada do maniqueísmo não foi possível construir com ‘esta’ esquerda

- O Estado de S. Paulo

A polarização da linguagem e do comportamento político neste trecho inicial do século 21 não pode mais ser vista como legado imprestável da guerra fria. Para onde quer que se olhe se desvanece a ilusão de que o arsenal de contraposições simplórias daquela época tenha sido ao menos parcialmente abandonado. Poucos vaticínios tiveram duração tão curta quanto o do “fim da História”. As sociedades continuam divididas, como sempre, processos de alcance incalculável, como a globalização, mudam a face do mundo, mas algo permanece constante: a classificação maniqueísta de velhos e novos problemas e o adensamento da névoa que os recobre.

A Europa bem-sucedida da social-democracia, que soube combinar a democracia política e o Estado de bem-estar social, parece tropeçar sucessivamente na construção de seu projeto de “democracia transnacional”, a boa resposta à inexorável internacionalização dos mercados. E a velha democracia norte-americana, que resiste com maior ou menor êxito ao poder do dinheiro e admite admiráveis governos de centro-esquerda, como o de Obama, vê-se agora assediada por um populismo grosseiro, que requer e fomenta a polarização, tira proveito das “guerras de cultura” e por certo promoverá as guerras propriamente ditas, como é de sua natureza.

Reformismo e democracia em Celso Furtado – Raimundo Santos{1}

Em textos publicados entre os anos 1950 e 1964, Celso Furtado revela-se um publicista como tantos outros intelectuais ideólogos da revolução nacional-popular dessa época. São livros, coletâneas, introduções, artigos e análises de conjuntura que revelam o sentido da militância do economista quando esteve à frente da Sudene e atuou no governo de João Goulart, do qual foi Ministro do Planejamento e elaborou o seu Plano Trienal de desenvolvimento econômico e social do seu governo (1963-1965).2

Este artigo, entretanto, põe o seu foco nos textos furtadianos mais formulativos escritos entre o começo da década de 1960 e janeiro de 1964. Primeiramente descreve a singularidade da estratégia de Furtado para a superação do subdesenvolvimento brasileiro por meio de um reformismo democrático com a vigência permanente das liberdades. Depois, refere-se à associação que o autor faz entre a flexibilização do sistema político brasileiro e a ativação camponesa como problema crucial para as possibilidades do caminho reformista proposto. Em sua última parte, o artigo menciona algumas questões que tensionam a formulação do modelo desenvolvimentista furtadiano.

Os textos aqui resenhados compõem os dois principais livros de intervenção política de Furtado: Subdesenvolvimento e Estado democrático e A pré-revolução brasileira. O primeiro traz escritos do tempo da sua atuação na Sudene, reunidos em novembro de 1961 no volume que será publicado em 1962 no Recife. O outro, bem mais conhecido, republica parte daquele livro, inclusive reproduz como texto introdutório a sua mesma introdução,3 sendo publicado em agosto do mesmo ano pela editora Fundo de Cultura do Rio de Janeiro na sua coleção “Perspectivas do nosso tempo”.4 Há também um terceiro livro por demais expressivo da publicística do autor, Dialética do desenvolvimento, contendo artigos escritos entre setembro de 1963 e janeiro de 1964, mas que só veio a lume em junho de 1964, tendo sido reimpresso três meses depois. Seis em nove dos seus capítulos dialogam com vários escritos políticos de Marx, Engels e Lênin.

A exposição que segue se concentra no principal artigo de A pré-revolução brasileira, Reflexões sobre a pré-revolução brasileira”, publicado originariamente pela Revista de Ciências Sociais em março de 1962. Este texto começa descrevendo a circunstância histórica que desafiava a inteligentsia brasileira e os jovens universitários aos quais nesse tempo Furtado dirigia sua convocatória à ação política transformadora do país. O autor parte da caracterização do desenvolvimento brasileiro ocorrido desde 1930, relevando seus aspectos sociais “extremamente negativos”. O principal deles, o “desmedido” custo social, diz Furtado, “tem sido uma crescente concentração social e geográfica da renda. As grandes massas que trabalham nos campos, e constituem a maioria da população, praticamente nenhum benefício auferiram desse desenvolvimento” (FURTADO, 1962a, p. 14). 

Um país estranho - Fernando Gabeira

- O Globo

Neste momento, a Olimpíada já acabou, estou de novo na estrada, Dilma e Cunha preparam-se para deixar a cena nas próximas semanas. O melhor cenário para a Olimpíada seria a ausência de grandes desastres. E isso aconteceu. Não fomos avaliados apenas por hospedar os Jogos, mas sim por fazê-lo no meio de uma grande crise política e econômica.

Muitas cidades do mundo vão continuar querendo hospedar uma Olimpíada sabendo que custam bilhões de dólares. Cada uma deve ter sua razão. Legado e contas a pagar, a qualidade do biscoito Globo e que diabo o nadador americano andou fazendo na noite em que teria sido assaltado — tudo isso ainda pode render alguma polêmica. Como disse o treinador do francês que perdeu o ouro no salto com vara, o Brasil é um país muito estranho, e é possível que usem as forças mágicas do candomblé nas grandes decisões. Onde estavam os santos no sete a um para a Alemanha, em todas as provas que perdemos? Santos não amarelam, logo é possível supor que estivessem de férias. Nem todos os temas têm o charme do esporte ou dos choques culturais que uma Olimpíada enseja. Mas são o tecido de uma realidade que se recusa a desaparecer apesar da euforia com as vitórias, dos casos de gente que superou a mesa de operações, o câncer ou a pobreza para disputar a medalha olímpica.

É hora de recuperarmos a utopia da sociedade fraterna e menos desigual – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Admitir que o pensamento marxista continha acertos e erros não significa ter aderido ao capitalismo e se tornado de direita. Adotar semelhante atitude é persistir no que havia de pior no marxismo, ou seja, na incapacidade de exercer a autocrítica.

Depois de quase um século da revolução comunista de 1917, da qual resultou o Estado soviético, a humanidade avançou econômica e tecnicamente, ao mesmo tempo que sofreu guerras sangrentas e massacres, como os campos de concentração nazistas e os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki.

Depois de tantos erros, é hora de refletirmos sobre o que aconteceu e recuperarmos a utopia da sociedade fraterna e menos desigual.

O pacifismo de Stefan Zweig - Celso Lafer*

• O que separa as pessoas são seus preconceitos e sua desconfiança, expôs em conferência no Rio

- O Estado de S. Paulo

Em agosto de 1936, em sua consagradora primeira vinda ao Brasil, o escritor Stefan Zweig pronunciou no Rio conferência de larga repercussão sobre a Unidade Espiritual do Mundo. Não foi um trabalho improvisado: insere-se coerentemente na conhecida e destacada trajetória da militância pacifista de Zweig, afirmada na Europa da 1.ª Guerra Mundial. A conferência será publicada pela Casa Stefan Zweig de Petrópolis (cidade que foi sua última morada), cuja existência tanto deve a Alberto Dines, o grande estudioso da vida e da obra do escritor austríaco.

O movimento pacifista foi propulsionado pela ideia da efetivação da paz, valor que se contrapôs à tradicional glorificação de guerra, de que é exemplo a afirmação de Hegel na sua Filosofia do Direito, em que, contrapondo-se a Kant, assevera que a guerra assegura a saúde moral dos povos, que se veria afetada pela estagnação de uma paz perpétua, do mesmo modo como os ventos protegem o mar da podridão inerente às águas paradas. Organizado a partir do século 19 no âmbito da sociedade civil europeia o movimento pacifista foi uma reação aos horrores e males da guerra que atingem e afetam as pessoas.

Vantagens da falta de dinheiro - Merval Pereira

- O Globo

O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, professor do Iuperj/UCAM, ao contrário da maioria, acha que a proibição das doações empresariais nas campanhas eleitorais vai marcar um novo paradigma na vida política brasileira. Ele foi um dos mais ardorosos defensores da proibição, tendo comparecido a uma das audiências públicas realizadas pelo STF, na qual apresentou estudo que demonstrava a absurda financeirização das campanhas eleitorais no Brasil.

Os números eram bastante eloquentes: entre 2002 e 2014, os gastos subiram de R$ 795 milhões para R$ 4,8 bilhões, num crescimento de 608%, muito acima da inflação do período (121%); em proporção do PIB, as eleições brasileiras eram as mais caras do mundo. Nosso gasto, em 2014, foi equivalente a US$ 2,120 bilhões (na taxa de câmbio da época) de um PIB de US$ 2,4 trilhões.

A eleição da Lava-Jato - Luiz Carlos Azedo

• Um exército de três mil promotores eleitorais caça os ficha-suja e monitoram as campanhas eleitorais

- Correio Braziliense

Um levantamento preliminar revela que, de 467 mil candidaturas examinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, 4.849 podem ter seus registros impugnados por serem consideradas ficha-suja pela Justiça Eleitoral, mesmo levando em conta a polêmica decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que pode beneficiar políticos que tiveram suas contas rejeitadas por tribunais de contas (no entendimento da maioria dos ministros da Corte, cabe às câmaras municipais dar a palavra final sobre a prestação de contas dos prefeitos). São Paulo (1.403), Minas (620) e Paraná (461) lideram os casos. Cerca de 6 mil prefeitos e ex-prefeitos, porém, serão “imunizados” pela decisão do STF, conforme revelou, na quarta-feira passada, o repórter João Valadares, do Correio Braziliense.

Agenda paralela dos militares - Eliane Cantanhêde

• O pau está quebrando na política, mas as Forças Armadas estão na sua

- O Estado de S. Paulo

Digam o que disserem, o fato é que as Forças Armadas tiveram destaque nos governos Lula, ficaram no limbo durante os anos Dilma e agora recuperam espaço e voz. Foram ouvidas na escolha do ministro da Defesa, Raul Jungmann, conseguiram reativar o Gabinete de Segurança Institucional com o general Sérgio Etchegoyen e ocuparam papel relevante, apesar de discreto, na Olimpíada.

Generais, brigadeiros, almirantes e seus subordinados não têm do que reclamar, mas eles estão bastante desenvoltos e reivindicativos para manter seus programas estratégicos e, de quebra, alguns privilégios: preventivamente, reagem contra uma saudável unificação dos regimes civil e militar na reforma da Previdência.

Balanço provisório - Míriam Leitão

- O Globo

O governo Michel Temer está chegando ao fim do seu período de interinidade com muita chance de se efetivar e, neste tempo, mostrou que trabalha com dois fortes operadores políticos: o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá. Ele continua em atividade, inclusive em articulação com a área econômica. “Jucá saiu, ficando”, define uma fonte do governo.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez um movimento recente querendo mais poderes e isso provocou uma reação em várias áreas. Sua pretensão de levar a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) para a Fazenda provocou forte reação. Meirelles argumentou internamente que seria uma forma de controlar melhor o ajuste fiscal e, num primeiro momento, conseguiu a simpatia do presidente para a sua tese, mas a ideia gerou disputas internas.

Mensagem novo-desenvolvimentista acaba sendo ortodoxa – Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Há economistas que consideram que a alteração da taxa de câmbio consegue mudar o equilíbrio macroeconômico e, em particular, afetar a taxa de crescimento de longo prazo.

O câmbio mais desvalorizado estimula a produção da indústria de transformação. A maior atividade industrial gera ganhos tecnológicos que transbordam para os demais setores, resultando na aceleração da taxa de crescimento da economia como um todo.

A tradição ortodoxa entende que o câmbio é um preço e, portanto, resultado de outras forças mais estruturais. No jargão da profissão, o câmbio real é uma variável endógena. A tentativa de manipular o câmbio nominal, sem que as condições permitam, resulta exclusivamente em mais inflação.

O recente livro "Macroeconomia Desenvolvimentista", do ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira com os professores José Luiz Oreiro e Nelson Marconi, entende que a intervenção no câmbio com o objetivo de desvalorizá-lo é bem-sucedida em alterar o equilíbrio macroeconômico como um todo.

Em busca do tempo perdido - José Casado

• O governo Temer já tem 100 dias, mas só vai começar mesmo quando acabar o governo Dilma

- O Globo

A conversa começara num tom de franqueza. Com polidez, Michel Temer tentava se antecipar às críticas dos convidados: — Sem sacrifícios, não conseguiremos. Vamos para medidas amargas... — dizia, quando foi cortado pelo paraibano senador Cássio Cunha Lima, em desabafo: — Amargo é o desemprego, presidente.

Temer e um grupo de influentes parlamentares do PSDB esgrimiam dúvidas à mesa do jantar. Sob o olhar atento dos peemedebistas Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Infraestrutura), ele mapeava os limites do esteio governamental no Congresso. Os senadores tucanos ruminavam o próprio ceticismo em relação à presidência Temer.

Queixaram-se, por exemplo, da complacência do governo e do PMDB com sucessivos aumentos salariais do funcionalismo, em meio à crise que levou a um déficit orçamentário de R$ 170 bilhões neste ano.

Uma visão equivocada – Editorial / O Estado de S. Paulo

Três meses depois de aclamar com grande entusiasmo o afastamento da presidente Dilma Rousseff, os agentes do mercado financeiro começam a demonstrar um pessimismo crescente com relação à atuação do governo chefiado pelo presidente em exercício Michel Temer. As duas reações contêm pelo menos alguma carga de exagero. Por seu impacto sobre a vida das pessoas, a atuação das empresas e o funcionamento do setor público, os graves e extensos problemas produzidos ao longo dos 13 anos da administração populista chefiada pelo PT exigem a busca rápida de soluções. Mas, dada sua gravidade, eles não serão resolvidos em semanas ou meses, como parece ser a expectativa daqueles que viram na evolução do processo de impeachment de Dilma o fim de todos os males políticos, econômicos, sociais e morais que afligem o País.

A ansiedade excessiva de muitos agentes do mercado financeiro parece turvar-lhes a visão da realidade, impedindo-os de ver mudanças relevantes que já ocorrem e os fazendo imaginar que a guerra contra a crise nacional, que é de todos os cidadãos responsáveis, está sendo perdida.

O terremoto do petrolão em bancos e fundos – O Globo

• Além das perdas bilionárias causadas pela corrupção, o lulopetismo também prejudicou o Tesouro por meio de projetos e programas mal formulados

Os efeitos jurídicos e políticos do petrolão são muito conhecidos. Estão no noticiário desde o primeiro semestre de 2014, quando a Operação Lava-Jato foi a campo. Aí está a desmoralização do PT, com a prisão de militantes de alto escalão — golpe sofrido pelo partido desde o mensalão — e, desta vez, com o ex-presidente Lula sendo alcançado pelas investigações, ao lado de sua criatura, Dilma. Sem considerar ilustres de partidos que foram aliados, em que se destaca o PMDB.

O impacto econômico ficaria visível num segundo momento. A começar pelas empresas atingidas, a maior delas a Petrobras, o grande filão escavado pelo esquema de corrupção lulopetista montado nela e conectado em outras companhias públicas (Eletronuclear, por exemplo). A Petrobras já abateu, no balanço referente a 2014, R$ 6,2 bilhões correspondentes a perdas com a corrupção.

É bem mais. Já houve, ainda, muitos bilhões contabilizados com sinal negativo, devido a projetos malfeitos, decorrentes de erros técnicos crassos cometidos em diretorias envolvidas no assalto à empresa.

Nas últimas semanas, tem ficado evidente o impacto do petrolão, e de políticas estatistas saídas da cartilha do lulopetismo, num segmento sensível da economia: o setor bancário, incluindo o público, e fundos de pensão de estatais.

Cada projeto mal formulado, cada desfalque precisam aparecer em balanços de empresas com capital aberto, algumas delas com ações no exterior. E os bancos que financiaram os projetos mal formulados têm de fazer provisões, tiradas do lucro ou do capital de acionistas, a fim de arcar com os prejuízos que deverão ser realizados. Caso os projetos não fiquem em pé.

Os bancos estatais são as primeiras vítimas, porque os governantes de turno os forçam a financiar empresas companheiras e empreendimentos arriscados, tocados por interesses políticos e fé ideológica

A Sete Brasil, uma empresa nascida do delírio estatizante de se usar a Petrobras e o pré-sal para fabricar no Brasil grandes plataformas — sonho típico da ditadura de Geisel —, é um grande foco de prejuízo em bancos, forçados a reforçar provisões para enfrentar o calote. Algumas instituições privadas — Bradesco, Itaú Unibanco, BTG, Santander — também não escaparam desta debacle específica do estatismo.

Prata da casa – Editorial / Folha de S. Paulo

Após mais de duas semanas de competições, recordes e medalhas, a Olimpíada do Rio termina neste domingo (21) sem fazer feio no que se refere à organização —salvo imprevistos de última hora. Previsões catastrofistas não se confirmaram, e a capital fluminense obteve saldo positivo como sede da maior festa do esporte mundial.

Os temores quanto ao sucesso do megaevento começaram a ser dissipados já na cerimônia de abertura. Tendo como destaques a diversidade social, cultural e ambiental do Brasil, a apresentação recebeu justificados elogios dentro e fora do país.

O aparato de segurança montado, com mais de 50 mil homens, entre policiais e militares, se mostrou eficaz. Não se registraram incidentes dignos de nota —à parte, talvez, o lamentável episódio menor envolvendo nadadores da equipe norte-americana, que mentiram sobre ter sido assaltados.

Ameaçou chuva – Fernando Pessoa

Ameaçou chuva. E a negra
Nuvem passou sem mais...
Todo o meu ser se alegra
Em alegrias iguais.

Nuvem que passa... Céu
Que fica e nada diz...
Vazio azul sem véu
Sobre a terra feliz...

E a terra é verde, verde...
Por que então minha vista
Por meus sonhos se perde?
De que é que a minha alma dista?

Jards Macalé - Mal Secreto (part. Frejat)