sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Nelson Mandela (1918-2013)

Fui transformado, pela lei, em um criminoso, não por causa do que eu havia feito, mas por causa do que eu representava, por causa do que eu pensava, por causa da minha consciência. (...) Não tenho dúvida de que a posteridade vai declarar que eu era inocente e que os criminosos que deveriam ter sido trazidos diante desta corte são os membros do governo.

Nelson Mandela em sua histórica defesa no julgamento de 1964. O Globo, 6 de dezembro de 2013

O conciliador: Nelson Mandela (1918-2013)

Primeiro presidente negro da África do Sul, ele se tornou símbolo da luta contra a apartheid e liderou a transformação de seu país numa democracia "multirracial, após amargar 27 anos na prisão.

O mundo perde seu guerreiro da liberdade

Icone da luta contra o apartheid, Nelson Mandela deixa ao mundo legado de paz e diálogo

Bernardo Barbosa

O tempo venceu Nelson Mandela ontem, porque só o tempo poderia vencê-lo. O preconceito não o derrotou; a perseguição de um governo racista, também não; nem os quase 30 anos na prisão e o surgimento de problemas de saúde ainda em idade precoce. Sua força, sua inteligência e sua paciência o levaram a se tornar um dos maiores nomes do século XX, quando foi ativista, pacifista e estadista. Mandela morreu aos 95 anos apenas porque, ao contrário do legado de paz, firmeza e diálogo que deixa para o mundo, o ser humano não é imortal.

A morte do primeiro chefe de Estado negro da África do Sul, em sua casa em Johannesburgo, foi anunciada pelo atual presidente, Jacob Zuma. Dois dias antes, Makaziwe, filha de Mandela, havia declarado que o pai estava em seu leito de morte. Seguindo seu desejo, seu corpo será sepultado no vilarejo de Qunu, onde cresceu. Já de madrugada, muitos sul-africanos foram às ruas chorar a morte do líder e celebrar sua história.

Como poucos, Mandela soube conciliar a combatividade de seu discurso com os apelos a uma resistência pacífica.Sua luta amplia a trajetória de nomes como Martin Luther King (1929-1968), assassinado por sua defesa da igualdade de direitos nos Estados Unidos e lembrado por Mandela ao receber o Nobel da Paz em 1993 ao lado de Frederik Wiilem de Klerk, com quem dividiu a tarefa de dar fim ao apartheid e levar a África do Sul a ser uma democracia multirracial.

— Fui transformado, pela lei, em um criminoso, não por causa do que eu havia feito, mas por causa do que eu representava, por causa do que eu pensava, por causa da minha consciência. (...) Não tenho dúvida de que a posteridade vai declarar que eu era inocente e que os criminosos que deveriam ter sido trazidos diante desta corte são os membros do governo — disse Mandela em sua histórica defesa no julgamento de 1964.

Presidente da África do Sul entre 1994 e 1999, Mandela se engajou na reconciliação entre a maioria negra e a minoria branca na África do Sul, além de se dedicar a melhorar a imagem de seu país após a era de segregação. Foi eleito presidente já com 75 anos após uma disputa justamente contra de Klerk, seu antecessor no cargo e impulsor de várias medidas para acabar com o apartheid.

Mandela só deixou a cadeia aos 71 anos, após quase três décadas atrás das grades por jamais abrir mão da batalha pela igualdade racial em seu país. Foi durante o tempo na prisão de Robben Island que tiveram origem os problemas pulmonares que o afetaram até o fim da vida. Os anos de detenção em uma cela úmida culminaram em um diagnóstico de tuberculose em 1988.

À medida que sua idade avançava, Mandela passou a se retirar de forma gradativa da vida pública, da qual abriu mão formalmente em junho de 2004, um mês antes de completar 86 anos. No último ano, enfrentou quatro internações devido a uma infecção pulmonar.

— Ele faleceu em paz. Nossa nação perdeu seu maior filho. Nosso povo perdeu um pai — disse Zuma. — Este momento é de grande dor, mas deve ser de nossa maior determinação. Viver como Madiba viveu, batalhar como Madiba batalhou.

"Seu combate transformou-se em um paradigma, não só para o continente africano, como para todos aqueles que lutam pela justiça, pela liberdade e pela igualdade. 0 exemplo deste grande líder guiará todos aqueles que lutam pela justiça social e pela paz no mundo." Dilma Rousseff - Presidente do Brasil

"A morte de Nelson Mandela torna o mundo mais pobre de referências de coragem, dignidade e obstinação na defesa das causas justas. Sua vida altiva traduziu o sentido maior da existência humana" Joaquim Barbosa - Presidente do Supremo Tribunal Federal

"O grande legado do Nelson Mandela foi fazer com que o povo negro da África do Sul descobrisse uma coisa que parece simples, mas não é simples, de que, se a maioria do povo era negra, não tinha nenhum sentido a minoria branca continuar governando aquele país. As pessoas se descobriram por uma força motora capaz de mover a sociedade." Luiz Inácio Lula da Silva - Ex-presidente brasileiro

Fonte: O Globo

Libertação das amarras da revanche - Fernando Henrique Cardoso

O mundo inteiro chora a morte de Nelson Mandela. Para nós, brasileiros, sua ação representou, além de um apelo forte à consolidação de uma nação independente, a luta pela liberação do ser humano das amarras, tanto do racismo, como da revanche. Sua vida foi envolta por uma aura de grandeza, de decência e de humildade. Ninguém definiu melhor a relação entre Mandela e seus contemporâneos que sua conterrânea Manphela Ramphele: ""Não foi ele quem buscou a glória, foi esta que o procurou."

Encontrei-me com Mandela em várias oportunidades. A primeira, em 1995, dois anos depois dele ter sido eleito presidente da África do Sul. A última, em maio de 2010. Mandela formara um grupo, o Elders — antigos líderes dispostos a continuar pelejando pela paz e pela decência no mundo — e teve a generosidade de me incluir entre os dez escolhidos, Em nosso último encontro, de maio passado, em Johanesburgo, embora já fragilizado peia idade e pelas marcas de tantos anos de lutas e sofrimento, jantou conosco. Continuava lúcido e atento às tragédias do mundo, principalmente, às que ocorriam na África.

Sua simplicidade e, ao mesmo tempo, a imantação que decorria de sua presença deixaram marcas fortes nos que conviveram com ele. Há várias formas para um líder fazer notar sua capacidade de orientar e de comandar. Alguns a demonstram com energia e denodo. Outros com certa demagogia e proximidade com os comandados. Há ainda os que utilizam a persuasão intelectual-emotiva das palavras para serem ouvidos.

Mandela dispensava tudo isso: sua presença de homem esguio, elegante, suave, com voz entre rouca, estridente, marcante, dava a seus gestos e a suas palavras uma quase santidade. Por trás de cada movimento seu, sem que ele precisasse recordar, vinha à memória dos interlocutores — fosse uma pessoa ou uma multidão — a história de um lutador que não fugiu aos desafios da luta armada, de um advogado que abraçava as causas dos humilhados e dominados, do prisioneiro que se igualava aos demais no trabalho pesado de quebrar pedreiras, do político que, ainda não liberado, se recusava a compromissos, mas que, tão logo teve a voz livre, pregou a reconciliação sem mentiras.

Era tão forte a impressão de quase sobre-humano que Mandela deixava entre os que com ele conviviam, ouviam ou sabiam de suas ações e palavras que ele próprio se assustou. No último livro que publicou, "Conversations with myself" (que tive a honra de receber das mãos de Graça Machel, com dedicatória do autor, quando ela veio a São Paulo inaugurar, no ano passado, o Centro que leva o nome de quem foi sua amiga e minha mulher, Ruth Cardoso), Mandela adverte para os erros que cometeu e recusa o altar em que quase todos o colocaram: "O problema, naturalmente, é que muitos homens de sucesso se dobram a algumas formas de vaidade. Chega um momento de suas vidas em que consideram aceitável serem egoístas e vangloriam-se de suas realizações diante do público em geral como se fossem únicas" (p. 6).

Contrapondo-se a esta atitude, Mandela deixa uma lição diferente. Há um estágio na vida no qual cada reformador social se baseia, fundamentalmente, em plataformas tonitruantes como um modo de se desculpar dos fragmentos de informação mal digeridas que acumulou em sua mente; trata-se de tentativas para "impressionar as multidões, em vez de começar pela simples e calma exposição de ideias e princípios cuja verdade universal se faz evidente pela experiência pessoal e o estudo profundo" (p. 41).

Acrescenta ele, "fui vítima das fraquezas de minha geração, não uma, mas centenas de vezes. Devo ser franco e dizer-lhes que, ao olhar para o passado e ver meus primeiros escritos e discursos, fico chocado por seu pedantismo, artificialidade e falta de originalidade. A urgência de impressionar e de propagandear é claramente perceptível neles" (p. 45).

Na maturidade, declarou com serenidade: "Eu não desejo incitar as multidões. Desejo que elas entendam o que estamos fazendo; desejo incutir-lhes o espírito da reconciliação" (p. 326).

Não é preciso acrescentar mais nada para registrar a grandeza de quem soube mostrar a seu povo e a todos nós o caminho da sinceridade, da fraternidade e da luta contínua pela igualdade que a simplicidade só faz enaltecer. Choremos sua morte; guardemos seu testemunho e suas lições.

Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e ex-presidente da República (1995-2002)

Fonte: O Globo

Mais quatro são presos no mensalão; Costa Neto renuncia

Deputado deixa Câmara pela 2ª vez após ter nome envolvido em escândalo; condenados foram para Papuda

O STF mandou prender mais quatro condenados no mensalão: o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), os ex-deputados Pedro Corrêa e Bispo Rodrigues e o ex-vice-presidente do Banco Rural Vinicius Samarane. Todos estão desde ontem sob custódia da PF. Valdemar Costa Neto renunciou ao mandato logo após ter prisão decretada. Em 2005, ele também renunciou para não ser cassado pelo mesmo escândalo. Com as decisões de ontem, já são 16 as ordens de prisão expedidas pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, no mensalão. Em novembro, foram presos 11 condenados, entre eles o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino. Nos próximos dias, devem ser definidas as prisões do deputado federal Pedro Henry (PP-MT) e do ex-deputado Roberto Jefferson, delator do escândalo.

Após ter prisão decretada, Valdemar renuncia a mandato pela segunda vez

Felipe Recondo e Mariângela Gallucci

O deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) renunciou ontem ao mandato logo após ter sua prisão decretada por envolvimento no mensalão. É a segunda vez que o parlamentar renuncia a fim de não ser cassado por causa do mesmo escândalo. Em 2005, ao ver seu nome envolvido nas denúncias de recebimento de dinheiro do esquema, ele também abandonou o cargo. Ele se entregou ainda ontem em Brasília e já passaria a noite no presídio da Papuda, onde já estão outros condenados no mesmo julgamento.

Além de Valdemar, o Supremo Tribunal Federal mandou prender ontem mais três condenados: os ex-deputados Pedro Corrêa e Bispo Rodrigues e o ex-vice-presidente do Banco Rural Vini-cius Samarane. Todos já estão sob custódia da Polícia Federal.

Com as decisões de ontem, subiu para 16 as ordens de prisão expedidas pelo presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, no caso do mensalão. Em novembro, foi recolhido à cadeia um grupo de 11 condenados, entre os quais o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino. Genoino, que estava licenciado da Câmara, também renunciou ao cargo na terça-feira a fim de não ser cassado.

Também condenado pelo Supremo e com mandado de prisão expedido, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato está foragido, provavelmente na Itália. Ele tem cidadania do país europeu e dificilmente será extraditado para o Brasil.

Vaga. O sucessor de Valdemar na Câmara dos Deputados será o suplente Hélcio Silva (PT), que atualmente é vice-prefeito de Mauá, cidade da Grande São Paulo. Na carta de renúncia, o condenado do PR afirmou que não queria submeter o Congresso a um "constrangimento institucional""" (mais informações abaixo). Com a renúncia,Valdemar poderá requerer sua aposentadoria, pois já tem mandatos suficientes para isso.

O presidente do STF deve ordenar nos próximos dias a prisão do deputado Pedro Henry (PP-MT), também condenado por participação no mensalão.

Para expedir a ordem de prisão de Henry, Barbosa aguardará um parecer do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deve ser encaminhado ao STF até o próximo dia 12.

O presidente do Supremo também precisa definir a situação de Genoino e do ex-deputado Roberto Jefferson, delator do esquema do mensalão.

Genoino está em prisão domiciliar após ter reclamado de problemas cardíacos durante o período em que esteve na Papuda. Jefferson passou nesta semana por uma perícia médica no Instituto Nacional de Câncer (Inca). No ano passado, ele foi submetido a uma cirurgia para extrair um câncer no pâncreas.

Barbosa terá de resolver se os dois têm condições de cumprir pena na prisão ou se devem ficar em casa. Em parecer enviado recentemente ao Supremo, o procurador-geral recomendou ao tribunal que deixe Genoino em prisão domiciliar pelos próximos 90 dias.

O deputado João Paulo Cunha (PT), também condenado, não deverá ir para a cadeia neste ano. O Supremo terá ainda de julgar um recurso do parlamentar.

Fonte: O Estado de S. Paulo

XVIII Congresso Nacional do PPS começa hoje e deve apontar caminho para 2014

Por: Valéria de Oliveira

O PPS realiza, neste fim de semana, o seu XVIII Congresso Nacional, no qual discutirá, dentre outras questões, o caminho a ser tomado pelo partido nas eleições presidenciais de 2014. O evento, que acontece em São Paulo, no Renaissance São Paulo Hotel (Alameda Santos, 2233), nos dias 6, 7 e 8 de dezembro, também irá eleger a nova direção da legenda. Na sexta, haverá abertura solene, a partir de 19h30, com a presença do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e presidentes de diversos partidos.

O presidente nacional, deputado Roberto Freire (SP), defende a formação de um bloco democrático de esquerda “com o objetivo de derrotar o lulopetismo nas urnas nas próximas eleições, pois o PT já levou a esquerda até ao enxovalhamento, ao se envolver com a corrupção”.

O líder na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), que também é secretário-geral do partido, salienta que outra preocupação do PPS é a eleição de uma bancada de pelo menos 23 deputados federais. Ele informou ainda que o partido disputará, com grandes chances de vitória, os governos do Maranhão e do Distrito Federal.

“A ampliação da bancada do PPS no Congresso Nacional é fundamental não só para as pretensões do partido, mas também para dar sustentação ao governo de oposição que pretendemos eleger no próximo ano”, disse Bueno.

Programação
Na sexta-feira (6), antes da abertura solene, será lançada a biografia do presidente Roberto Freire, organizada pelo jornalista Milton Coelho da Graça. Em seguida, haverá apresentação de vídeo em homenagem ao dirigente Givaldo Siqueira, a quem o congresso é dedicado. Ele morreu em setembro deste ano.

Sábado (7), às 9h, será o momento de discutir e aprovar a reforma do estatuto do PPS. À tarde o debate será sobre o projeto de resolução política. Das 19h em diante, haverá votação de outras resoluções e moções.

No domingo (8), será eleito o Diretório Nacional.

Veja os detalhes da programação:

Sexta-feira (06/12)

17h – Lançamento do livro “Roberto Freire – A Esquerda sem dogma”
19h – Vídeo em homenagem a Givaldo Siqueira
19h30 – Abertura solene com composição da mesa

Sábado (07/12)

Plenário:
9h – Discussão e aprovação do balanço do trabalho de direção e reforma do estatuto
13 horas – Almoço
14h – Discussão e aprovação do Projeto de Resolução Política
19h – Votação de outras resoluções e moções

Domingo (08/12)

Plenário:
9h – Eleição do Diretório Nacional
12h – Encerramento

Fonte: Portal do PPS

Petrobras esfacelada, o legado de Lula e Dilma - Roberto Freire

Não foi do dia para a noite que a Petrobras chegou à situação precária em que se encontra, despertando mais dúvidas do que certezas. Na última segunda-feira (2), as ações ordinárias da empresa sofreram a pior queda desde a crise internacional de 2008, despencando mais de 10%. Ao todo, a estatal viu escorrer pelo ralo o montante de R$ 24 bilhões em um único dia. O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro de ações, fechou com baixa de 2,36%, o menor patamar em três meses.

O esfacelamento da Petrobras é um dos legados da década petista no poder. Tudo começou com a ação deletéria do ex-comandante da companhia, José Sérgio Gabrielli, emparce-ria com seu padrinho político, o ex-presidente Lula. Nos dois mandatos lulistas, a empresa se tornou reduto de "companheiros" indicados a seus cargos em nome de interesses meramente partidários. O uso político da Petrobras a atrelou a um projeto de poder, e não de desenvolvimento, e corroeu sua credibilidade.

O "pibinho" de Dilma é resultado da escassez de políticas de desenvolvimento sob Lula, que legou à sucessora o que se pode chamar de herança maldita. O tombo do início da semana era apenas um desastre esperando para acontecer desde que o governo anunciou um reajuste de 4% no preço da gasolina e 8% para o diesel nas refinarias, mas não divulgou como seria a nova metodologia de precificação. Em meados de outubro, a atual presidente da estatal, Graça Foster, aprovou um novo plano de reajuste junto ao Conselho de Administração, mas essas informações não foram compartilhadas com o mercado "por razões comerciais".

A expectativa era de que o aumento seria maior, algo entre 6% e 10% para a gasolina, e que um novo plano de reajuste automático desse alguma previsibilidade aos gastos da Petrobras diante da oscilação no preço do petróleo. A atual política da empresa, com reajustes esporádicos que não acompanham valores internacionais e provocam defasagem, sacrifica a companhia, que perdeu R$ 14 bilhões entre janeiro e agosto ao absorver essa diferença de preços.

A inflação que o governo não consegue segurar com suas próprias forças tem de ser represada às custas de uma Petrobras já combalida desde os tempos da dupla Lula-Gabrielli. O desastre da política econômica encampada pelo PT gera índices inflacionários controlados artificialmente, o que arma uma bomba prestes a explodir. Enquanto isso, a estatal já não conta com a confiança dos investidores, vê suas ações despencarem em questão de horas, perde 40% em valor de mercado em um período de três anos (entre 2010 e 2013) e 36% no lucro líquido em 2012 (em relação a 2011).

A absoluta inépcia do PT na gestão da economia não prejudica apenas a Petrobras, mas o país como um todo. Prova disso é o pífio resultado do PIB do terceiro trimestre: retração de 0,5% em relação aos três meses anteriores, o pior resultado em quatro anos. O "pibinho" de Dilma é resultado da escassez de políticas de desenvolvimento sob Lula, que legou à sucessora o que se pode chamar de herança maldita.

O loteamento político da máquina governamental, a falta de transparência na divulgação de informações ao mercado e a manipulação de dados para encobrir uma realidade mais difícil do que faz crer a propaganda oficial são facetas de uma mesma moeda. Se não tiver coragem para mudar seu rumo, o Brasil caminha a passos largos para sofrer com o mesmo esfacelamento que atingiu a Petrobras. Será preciso um novo governo para recolocar o país na rota do crescimento.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

De trás não vem ninguém - Fernando Gabeira

Nas estradas, comendo poeira, não tenho mais o tempo dos analistas profissionais. No passado líamos romances e ensaios nos intervalos do trabalho cotidiano. Soterrado por gadgets eletrônicos, baterias, pilhas alcalinas, plugs P2 e XRL, é preciso tempo também para ler os manuais. Sou um mané de manuais. Alegro-me com as descobertas, intrigo-me com a lógica e, às vezes, desespero-me com o tamanho das minúsculas letras. Os escritores de manuais têm futuro com a produção incessante de novos modelos, novas funções. Futuro bem mais promissor que o de um cronista de estrada perdido em temas que desafiam os manuais.

Há duas semanas, no Uruguai, concluí que, apesar das diferenças, havia algo semelhante ao que se passa no Brasil. Um interlocutor uruguaio me dizia: "O governo da esquerda é medíocre, mas a oposição não me entusiasma como alternativa". As eleições, a julgar pelo momento, não devem alterar abalança do poder. Também em nosso país, de acordo com as pesquisas, muita gente que considera o governo medíocre não se entusiasma com a oposição como alternativa do poder.

O governo no Uruguai legalizou a maconha pelo caminho parlamentar. Evitou o plebiscito porque talvez saiba que a maioria é contra. No entanto, uma decisão tão polêmica não mudou em nada o favoritismo de Tabaré Vázquez, o candidato da esquerda.

Aqui, no Brasil, o resultado do júri do mensalão, e também a maneira como os condenados do PT reagiram ao serem presos, erguendo punhos de uma finada revolução bolchevique, deveriam desgastar o partido e o bloco no poder. No entanto, o prestígio de Dilma Rousseff cresce, enquanto a oposição patina. Nas corridas de cavalos tínhamos uma frase para definir o quadro, quando um dos competidores se destacava: de trás não vem ninguém.

Essa zona de conforto é comum aos dois governos. Mas há diferenças no próprio exemplo: o governo uruguaio enfrenta a maioria com uma decisão que acredita ser uma continuidade histórica. O país sempre esteve adiante em temas como casamento gay, prostituição, divórcio, aborto e, além disso, ainda no século 19, resolveu garantir educação obrigatória, gratuita e laica a todos os uruguaios.

São dois movimentos diferentes na mesma zona de conforto. A esquerda uruguaia desafia a maioria porque se crê dotada de uma tarefa histórica e dá um passo típico da vanguarda que aplica seu programa por achar, a despeito da opinião pública, que sabe o que é melhor para todos.

No Uruguai, o presidente José Mujica tem uma vida austera, anda de Fusca, recebe $ 1 mil de salário e daqui a pouco deixa o poder. Aqui a zona de conforto é mais pé na terra, mais sensual e materialista: ocupar a máquina do Estado em todas as suas engrenagens, justificar a corrupção a ponto de romantizá-la e usar o dinheiro público para financiar um grupo escolhido de empresários. Aqui há bolsa para ricos e pobres, o consumo é a nossa droga.

Não leio apenas manuais na estrada. Escolho sempre o corredor, com todo o respeito pelos simpáticos vizinhos. Esta semana viajei com Simon Critch-ley nas mãos. para reler seu interessante O Livro dos Filósofos Mortos. Para ele, negamos o fato da morte mergulhando nos prazeres do esquecimento, da acumulação de dinheiro e bens materiais ou, então, numa promessa de imortalidade oferecida pelas religiões antigas e as do estilo New Age. Ou se busca a transitória consolação de um esquecimento momentâneo ou a miraculosa redenção depois da vida.

É um enredo tão poderoso que coloniza a própria política onde florescem as incursões em busca do tesouro e aventureiros religiosos. A política tem j que ver com o consumo digno e alguns objetivos coincidentes com a religião. Mas não se resume nisso.

Ao analisar a morte de muitos filósofos, Gritchley disse que por meio desse roteiro mórbido tentava encontrar o sentido e a possibilidade da felicidade. A política, ao lado do amor e da amizade, é uma das respostas para esse enigma. É duro vê-la desaparecer do horizonte envolta numa nuvem de " resignação e fanatismo religioso e saber que não existe resposta nos manuais.

O ano que entra, com Copa do Mundo e eleições, é um desses anos em que o "nunca fomos tão felizes" do discurso oficial é posto contra a parede.

A oposição reclama que o governo é o único que tem visibilidade na mídia. De fato, não só visibilidade, mas instrumentos de poder, helicópteros para voar, enfim, uma campanha perfeita: não se gasta nada com o máximo de repercussão. Mas há um aspecto que a oposição precisa compreender: a importância dos fatos. Se não surgem ações nem discursos em conexão com os fatos que interessam às pessoas, a imprensa não pode fazer nada.

Federalismo ou julgamento do mensalão? Em que planeta nós estamos? Nada contra o federalismo, mas é algo que preocupa governantes estaduais e está dentro da esfera política administrativa. O mensalão vivia nas conversas de rua, na rede.

É fundamental ter programas e fazer propostas para todos os setores num momento como este. Contudo um programa só ganha vida quando se conecta com o interesse das pessoas reais.
Assim não dá. Quem sabe no ano que vem?

Nunca me esquecerei de um homem da minha cidade conhecido como "Antônio me abraça". Ele entrou numa casa de apostas que irradiava uma corrida de cavalos e disse sobre o tordilho que liderava a prova: "Só perde se quebrar a perna". Pois quebrou.

Antônio dedicou os últimos anos de sua vida a obras de caridade e abandonou o ramo dos milagres. Não se pode contar com ele.

Se não houver uma disposição de se encontrar cora sociedade, a onda pode vir novamente em 2014, sem chance de inspirar a alternativa política. De tudo fica um pouco. Mas não precisa ser tão pouco.

*Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Pisa em quem? - Marina Silva

O abuso do "regime de urgência" no Congresso cria uma distorção. Pergunte a um brasileiro: o que é mais urgente para o desenvolvimento do Brasil, aumentar os recursos da educação ou limitar a criação de novos partidos? Certamente, a primeira opção. Os parlamentares da base governista não pensam assim. Empurram com a barriga a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), e aprovam rapidamente a lei 12.875, que limita os direitos dos eleitores.

Urgente mesmo é definir uma agenda estratégica do país, com objetivos claros e ousados, superando a ansiedade eleitoral. A educação é central nessa agenda. O PNE estabelece metas para os próximos dez anos, em que os investimentos pulem dos atuais 5,6% para 10% do PIB.

A falta desses recursos trava o Brasil. Isso fica claro no estudo da OCDE, organização que reúne países desenvolvidos, divulgado anteontem. Batizado de Pisa, sua sigla em inglês, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos mostra que o Brasil gasta US$ 26.765 com cada aluno de seis a quinze anos. É pouco para nossas necessidades e equivale a um terço do que os países desenvolvidos gastam com seus estudantes (US$ 83 mil).

Os resultados mostram nosso atraso. Os estudantes brasileiros de 15 e 16 anos até melhoraram desde que a prova começou a ser aplicada, em 2000. Conseguiram 402 pontos no ano passado, contra 368 no primeiro exame, na média das provas de matemática, leitura e ciências, as três disciplinas avaliadas. Mas esse avanço é muito tímido. O Brasil está entre os últimos colocados nos 65 países analisados. É o 58º em matemática, o 55º em leitura e o 59º em ciências. E o mais grave é que os avanços ocorreram até 2009. A partir de então, o desempenho dos brasileiros praticamente estagnou --em leitura, houve regressão de dois pontos.

São muitos os desafios mostrados no Pisa. Um dos maiores é atrair de volta a fatia significativa dos jovens brasileiros que continua longe dos estudos. Muitos também longe do trabalho, os chamados "nem-nem". O IBGE divulgou, na semana passada, que já são 9,6 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, um entre cinco brasileiros nessa faixa etária, dos quais cerca de 70% são mulheres.

Como atraí-los? Com valorização dos professores e aperfeiçoamento de suas capacidades, escolas modernizadas e equipadas, currículo e metodologia atualizados, conteúdos que façam sentido para os alunos e estimulem sua participação na cidadania.

Na sociedade, há consenso sobre a importância da educação. O que os estudos mostram, o povo e os educadores vivem na pele. Falta decisão política, o PNE deveria ter sido aprovado há três anos. Não é possível continuar pisando assim no freio do Brasil.

Marina Silva. Ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente

Fonte: Folha de S. Paulo

Liberdade de imprensa e democracia - Michel Zaidan Filho

Nenhum governo é tão perfeito, tão moderno e eficiente, que dispense o duro ofício da crítica. A liberdade de opinião não é um beneplácito da autoridade de plantão, por mais bem avaliada que ela seja nas pesquisas de intenção de voto. Ainda que vivêssemos num paraíso socialista (apesar de o estado ser governado pelo PSB), seria necessário, indispensável a liberdade de pensamento e de expressão. O erro dos países do Leste Europeu foi ter esquecido esse princípio. Os partidos, os sindicatos, as associações e a imprensa transformaram-se em meras correias de transmissão dos ocupantes do aparelho estatal. Por outro lado, como dizia Rosa Luxemburgo, a liberdade só faz sentido para os que pensam diferente de nós. Não faz a menor diferença para os que pensam com o nós.

Pelo visto, nossos democratas de ocasião não assimilaram bem essa missão. Quando a opinião é a nosso favor, ela é bem vinda, ela é aceita. Quando contraria nossos interesses, ela é calúnia, injúria e difamação. E tem que ser tratada como crime. Já se passou o tempo em que o Visconde da Boa Vista, Sebastião do Rego Barros, dizia que "em Pernambuco, quem não é cavalcanti, é cavalgado". Portanto, aqui em não está comigo, está contra mim. Ou ainda, aos amigos tudo. Á oposição, os rigores da lei. Imagina-se que em nosso estado, graças ao baixo nível de socialização da política, não tenha aparecido uma terceira força política, independente seja da situação ou da oposição. O último ensaio dessa tentativa foi o PT, e deu no que deu: foi esfacelado pelo atual mandatário estadual. Pior, o grau de dependência dos meios de comunicação social em relaç ão ao governador é tão grande, que o exercício público da crítica à administração pelos cidadãos torna-se uma mendicãncia, um favor. É como se fôsse uma dávida. Não sabem os profissionais do meio que a liberdade de opinião não é uma concessão estatal, que tem que ser tratada com muito cuidado, para não desagradar os poderosos do dia.

Deviam estudar mais e entender o que significa "esfera pública democrática", que como disse um estudioso, é a moralidade do regime democrático. Onde os cidadãos livres e iguais não podem se reunir e discutir racionalmente as questões públicas, para produzir consensos ou construir racionalmente a vontade coletiva à base do melhor argumento, não há "esfera pública", há dois partidos: uma da situação e um da oposição. E é a força bruta ou a cooptação que produz "o consenso". Não há idéias, princípios, interesses públicos. Só interesses particulares, ainda que travestidos de públicos.

Do que alguns ainda não se deram conta foi de que amordaçar as vozes que contrariam o governo de turno não se constitui em salvo conduto para que digam o que dizem ou façam o que fazem. Como dizia o poeta alemão, hoje quem é amordaçado sou eu. Mas amanha pode ser você, ele ou todos aqueles que se constituam em empecilho para os fabulosos negócios de quem detém o poder.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Tempestade perfeita - Merval Pereira

O dia de ontem foi pródigo em manifestações das mais variadas espécies sobre um só motivo: o receio de que as manifestações de junho passado voltem a tomar conta do país. Quem primeiro revelou essa preocupação recôndita foi o ex-presidente Lula, cuja língua solta acabou traindo-o no discurso de improviso que fez ao receber o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo.

Ao se autoelogiar por ter autorizado o funcionamento da universidade, Lula alertou a presidente Dilma, presente ao evento na qualidade de coadjuvante, como só acontecer quando os dois estão juntos: "Depois que ele se forma doutor, não espere que ele ficará agradecido. Ele vai para a rua fazer manifestação contra você".

Para evitar isso, Lula disse que só existe uma maneira: "Garantir que, depois de formado, ele possa aperfeiçoar seus estudos e o emprego do sonho dele. Quando ele conseguir isso, pode estar certa de que ele não vai mais sair para passeata"

Portanto, Lula sabe que as passeatas foram contra o governo, e admite publicamente que é preciso fazer mais do que simplesmente criar universidades sem estrutura e sem projeto de educação.

Em seguida, foi o prefeito do Rio Eduardo Paes que confirmou o aumento de passagens de ônibus no ano que vem, inevitável por previsão contratual. Mais uma vez as manifestações populares de junho, que começaram a partir de um movimento contra um aumento de R$ 0,20 centavos nas passagens de ônibus — que, aliás, havia sido adiado a pedido do governo federal para segurar a inflação —, voltaram a rondar a conversa quando o prefeito disse que a redução ocorrida este ano "por motivos óbvios" não poderia ser mantida por muito mais tempo.

Para completar o cardápio, o secretário-geral da Fifa, Jerôme Vaicke admitiu que as manifestações populares de junho quase tiraram a Copa do Mundo do Brasil. Na Costa do Sauípe às voltas com o sorteio das chaves da Copa do Mundo e os atrasos dos estádios de futebol brasileiros, Vaicke relembrou que houve um momento em que se pensou em suspender a Copa das Confederações, o que tecnicamente levaria à mudança da sede da Copa de 2014.

Pois todos esses fatores estarão de volta ao cenário brasileiro no próximo ano, e com ingredientes da economia internacional que podem pressionar a combalida economia nacional. Seria a "tempestade perfeita" raro fenômeno meteorológico que conjuga fatores climáticos produzindo ondas gigantescas e ventos de quase 300 km/h, como aconteceu em 1991 no Caribe.

Em economia, dá-se esse nome à conjunção de fatores internos e externos que pode abalar um país. Com a perspectiva de reversão da política monetária fortemente expansionista do governo dos Estados Unidos através do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), e os problemas fiscais vividos pelo país, teme-se que uma "tempestade perfeita" atinja o Brasil no próximo ano, exacerbada pelas questões políticas infernas.

Justamente quando estará em disputa a reeleição da presidente Dilma, que, por isso mesmo, não terá margem de manobra para reduzir gastos públicos. Há estudos que demonstram que historicamente a utilização de políticas monetárias, fiscais e cambiais com claros objetivos político-eleitorais gera Ciclos Políticos de Negócios (CPNs), cuja principal característica é a redução do desemprego em períodos pré-eleitorais, com o objetivo de proporcionar um ambiente positivo capaz de influenciar o resultado eleitoral.

Após esse período de crescimento, no entanto, o período pós-eleitoral é caracterizado por inflação em alta, cuja consequência é a adoção de políticas macroeconômicas contracionistas. No Brasil, temos pleno emprego em uma economia que cresce a ritmo de pibinho, com previsão de piorar no próximo ano. E já temos inflação alta.

Todo o esforço da presidente Dilma será atravessar o ano sem que as diversas crises previstas afetem sua possibilidade de reeleição. Seja quem for o vencedor, porém, terá um 2015 caótico pela frente.

Os pontos-chave
1 0 dia de ontem foi pródigo em manifestações das mais variadas espécies sobre um só motivo: o receio de que as manifestações de junho passado voitem a tomar conta do país
2 Ao se autoelogiar por ter autorizado o funcionamento da universidade, Lula alertou a Dilma, presente ao evento na quaüdade de coadjuvante, como sói acontecer quando os dois estão juntos: "Depois que ele se forma doutor, não espere que ele ficará agradecido. Ele vai para a rua fazer manifestação contra você"
3 Todo o esforço de Dilma será atravessar o ano sem que as diversas crises previstas afetem sua possibilidade de reeleição. Seja quem for o vencedor, porém, terá um 2015 caótico pela frente

Fonte: O Globo

Preso (in) comum - Dora Kramer

O ideal seria que José Dirceu não tivesse coitado relações com a lei e por isso sido condenado e preso. Mas, já que escolheu esse caminho e o Supremo Tribunal Federal decidiu lhe dar pena de prisão, desde o último dia 15 ele está sob a tutela do sistema prisional onde regra é regra.

Dirceu, contudo, teima em negar essa realidade. A ficha, como se diz, ainda não caiu. São várias as evidências. A última, o pedido feito à Justiça para que possa continuar atualizando seu blog mesmo na penitenciária.

Note-se: a solicitação não se relaciona com a ainda aguardada autorização do juiz da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal para Dirceu trabalhar fora durante o dia, como lhe assegura o regime semiaberto até que seja jülgado o embargo infringente pelo crime de formação de quadrilha.

O advogado dele pede, comba se na lei que confere ao preso direito de comunicação com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, que Dirceu faça o blog e dê entrevistas de dentro do presídio da Papuda.

Essa lei (7.210) diz que o detento pode exercer suas atividades anteriores "desde que" sejam compatíveis com a execução da pena. Aqui parece que se resolve a questão e se evidencia o despropósito da regalia pretendida.

A menos que o faça por meio de cartas, para abastecer o blog Dirceu precisa de um computador. A lei não fala nessa hipótese, até porque data de i984,pré-intemet. Mas não fala também sobre ode telefones celulares e eles são proibidos nas penitenciárias por obviamente incompatíveis com a execução da pena.

Os celulares, sabemos, entram clandestinamente, mas não é isso que Dírceu pretende, claro. Concedido seu pedido, estaria criado o precedente para que os demais presos reivindicassem o mesmo ou pior. Ninguém imagina que aceitariam passivamente o privilégio.

Por muito menos, houve revolta das famílias dós presos na Papuda com a romaria de visitas que entravam e saíam quando bem entendiam até o Ministério Público pedir isonomia de tratamento a fim de não criar instabilidade no ambiente já instável e deteriorado de uma cadeia.

Dirceu deseja também dar entrevistas como sempre fez, inclusive durante o julgamento como alega seu advogado para embasar o pedido, propositadamente ignorando um detalhe: lá não estava condenado, era presumidamente inocente. Deixou de sê-lo quando o STF provou o contrário.

Por muito menos, uma só entrevista à revista IstoÉ, José Genoino foi proibido de falar à imprensa pelo juiz da execução. E isso porque estava fora da prisão, no hospital. Continua proibido mesmo tendo recebido o benefício da prisão domiciliar temporária. Se Genoino não pode dar entrevistas por que Dirceu poderia?

Os pedidos sào tão audaciosos que chegam a levantar a suspeita de que só os faça para se manter em destaque no noticiário.

José Dirceu exigiu ser tratado como preso político quis ganhar RS 20 mil passando o dia num hotel exercendo profissão que não se enquadrava no quesito "atividades anteriores"; pretendeu receber visitas ao arrepio das normas impostas aos demais; tentou furar a fila dos colegas com mais de 60 anos de idade que aguardam o exame de suas propostas de emprego para usufruírem o direito dado pelo regime semiaberto.

Agora quer se comunicar online com o chamado mundo exterior. Ou seja, quer vida normal. Por mais duro que pareça, isso não é possível. Houve um processo, um julgamento, uma condenação e há pena a ser cumprida (por corrupção ativa, em caráter definitivo). Embora se ache uma pessoa incomum, José Dirceu é, desde o dia 15 de novembro, um preso comum.

Tanto quanto seus ex-colegas de Parlamento cujos mandados de prisão foram expedidos ontem.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Meu canudo de papel - Luiz Carlos Azedo

Com o estilo que o caracteriza, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva resumiu o que vem sendo a sua maior preocupação com as próximas eleições. Foi durante a solenidade na qual receber o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do ABC, que ele criou. Num dado momento do discurso, virou-se para a presidente Dilma Rousseff e tascou essa: "O maior legado que um pobre quer deixar para o filho é que ele tenha escolaridade e uma profissão. E, se essa profissão for a de doutor, minha presidenta, você não sabe o que é uma família feliz. Depois que ele se forma doutor, não espere que ele ficará agradecido. Ele vai para a rua fazer manifestação contra você. Nós precisamos continuar nos matando para garantir que ele tenha o emprego do sonho. Aí ele não vai mais sair para passeata."

Lula captou o descolamento de uma fatia do eleitorado que sempre o acompanhou e que escapuliu da base do governo, conforme ficou demonstrado nas manifestações de junho passado. São números que impressionam pela grandeza: o Brasil tem 50 milhões de jovens de 15 a 29 anos, muitos dos quais analfabetos funcionais. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), não estudam nem trabalham 9,6 milhões de jovens. No Nordeste, são 23,9%; no Norte, 21,9%; no Centro-Oeste, 17,4%. Mas é nos centros mais dinâmicos da economia que o problema político com os "nem-nem" se complica mais: no Rio de Janeiro, são 21,5%; em São Paulo, 17,5%; em Minas Gerais, 17,1%; no Paraná, 16,2% ; e no Rio Grande do Sul, 15,1%.

O ex-presidente da República montou uma espécie de governo paralelo no instituto que leva o seu nome, no Bairro do Ipiranga, em São Paulo, onde uma equipe de 10 ex-integrantes do governo prepara uma proposta de agenda para a comemoração do bicentenário da independência: "Eu já estou pensando no Brasil de 2022, quando a gente completar 200 anos de independência e fizer uma comparação do que era esse Brasil. Aí vai ser duro, Dilminha". Ou seja, projeta um ciclo longo de poder, de uma geração pelo menos, no qual deixa no ar qual será o seu papel. Alimenta o "Volta, Lula" como uma espécie de dom Sebastião, "O Desejado", o rei português que sumiu na batalha de Alcácer-Quibir (Marrocos, 1578) e cuja morte deu origem ao nosso messianismo popular, que inspirou os fanáticos das guerras de Canudos (BA) e do Contestado (SC). Os grandes arautos desse sebastianismo são os petistas e aliados insatisfeitos com Dilma e que gostariam de vê-lo de volta à Presidência.

Fazendo as contas, em 2022, os mais jovens dessa geração nem-nem estarão com 23 anos, e os mais velhos, com 38, ou seja, farão parte de um enorme contingente de mão de obra que busca um lugar ao sol numa economia cujo futuro está sendo desenhado agora. O que somos como país? Em primeiro lugar, o maior produtor de commodities agrícolas e minerais do mundo. Esse é o lugar que ainda temos reservado na nova divisão internacional do trabalho, enquanto a África não resolve seus conflitos étnicos e religiosos. Isso não é condição suficiente para garantir uma perspectiva de futuro para essa garotada, principalmente nas cidades. E aí que o problema do crescimento econômico ganha contornos dramáticos, ainda mais se forem mantidas as características atuais da nossa economia. Somos prisioneiros de um modelo macroeconômica saturado, no qual a produção de automóveis e o mercado imobiliário pontificam, enquanto nossa indústria de bens de consumo definha em razão da baixa produtividade e da má qualidade de seus produtos frente aos concorrentes, sobretudo os chineses. Dirá a presidente Dilma Rousseff: "isso é complexo de vira-latas". Será?

Desde a campanha de sua eleição, a presidente Dilma Rousseff vem prometendo taxas de crescimento do PIB superiores a 5% ao ano, com inflação na meta de 4,5%. No seu terceiro ano de governo, o crescimento médio é de 2%, com inflação de 6%. Bem que tentou uma estratégia de retomada do crescimento, reduzindo a taxa de juros a fórceps, mas a inflação cresceu. Vamos fechar o ano com a Selic de volta aos dois dígitos, ou seja, uma taxa de juros de 10% a.a. e que deve subir mais um pouquinho em janeiro. A grande aposta do governo é que a economia cresça pelo menos 3,5% no ano que vem, com inflação girando em torno de 5,5%, mas a expectativa do mercado é de um crescimento da ordem de 2,1% e uma taxa de inflação de quase 6%, segundo o boletim Focus de ontem. Qualquer turbulência pode levar a vaca pro brejo, segundo nove entre 10 analistas econômicos. Como estimular o "instinto animal" dos empresários e manter o apoio deles ao governo num cenário como esse? Ora, com o sebastianismo à la Lula, que acena com sua volta ao poder nas eleições do próximo ano ou, se tudo correr bem, em 2018. O problema é a garotada. Ao contrário do que acontece com os beneficiários diretos do Bolsa Família, que estão com o governo e não abrem, nossos jovens querem mais do que um canudo de papel. E ameaçam estragar a festa.

Fonte: Correio Braziliense

Roteiro populista - Hélio Schwartsman

Não chega a ser uma surpresa que Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela, a exemplo de outros dirigentes populistas, tente esconder a incompetência econômica de seu governo investindo contra os que chama de "parasitas capitalistas" e adotando medidas que vão do controle de preços à expropriação dos estoques. O espantoso é que truques assim, dos quais tanto se abusou no passado, ainda sejam capazes de enganar, mesmo que momentaneamente, a população.

O problema de fundo é que não lidamos bem com a economia de mercado. Nossos cérebros da Idade da Pedra não têm dificuldade para perceber que um agricultor ou um artesão produzem valor. Eles, afinal, transformam sementes e matérias-primas em colheitas e produtos úteis. O mesmo raciocínio, porém, não se aplica a comerciantes e outros intermediários. Por alguma razão, não vemos sua atividade de logística como "produtiva" e os chamamos pejorativamente de "atravessadores".

Ainda que tenhamos dificuldades para evitá-lo, não faz sentido buscar noções metafísicas de justiça em operações econômicas e menos ainda atribuir-lhes caráter moral. Se há justificação para o mercado, ela está na maior eficácia que esse sistema imprime à produção de bens e em sua capacidade de promover inovações.

Receitas populistas como as adotadas por Maduro conseguem a um só tempo bloquear o lado positivo do capitalismo sem nem chegar perto de resolver os problemas sociais e ecológicos que ele engendra.

Em nanoescala, algo parecido vale para o Brasil. É verdade que, desde os fiscais do Sarney nos anos 80, não vemos mais espetáculos como os que ocorrem na Venezuela, mas me parece um erro grave a tentativa do governo Dilma Rousseff de conter a escalada de preços represando reajustes de combustíveis. O efeito dessa política é pífio sobre o controle da inflação, mas tende a ser devastador para a saúde da Petrobras.

Fonte: Folha de S. Paulo

Desfecho melancólico - Rogério Furquim Werneck

A espalhafatosa mobilização do governo com a concepção de uma nova política de preços para a Petrobras acabou tendo desfecho melancólico. Depois de ter dado alento a expectativas de grandes mudanças, a montanha, mais uma vez, pariu um rato.

O que afinal se anunciou foram aumentos de 4% para a gasolina e de 8% para o diesel, que implicaram reajustes da ordem de metade dessas taxas nos preços cobrados na bomba. Mais do que isso não foi possível. Para poder alardear que "a inflação está em queda" o governo tem feito o que pode e o que não pode para manter a taxa de variação do IPCA abaixo dos 5,84% observados em 2012. E, nesse empenho, pouco importa se a queda, além de insignificante, tiver de ser obtida com repressão de preços. O que hoje se vê é um processo inflacionário cada vez mais assimétrico, em que preços livres têm aumentado a taxas anuais da ordem de 7% a 8% e preços administrados, a pouco mais de 1%.

A expectativa de que a nova política daria início à reversão da fragilização financeira da Petrobras revelou-se completamente infundada. As prioridades da campanha eleitoral falaram mais alto. Tal desfecho já seria deplorável, mesmo que se tratasse somente de mais uma evidência do imediatismo inconsequente que tem pautado a condução da política econômica. Mas, infelizmente, tem explicações ainda mais preocupantes.

O que se notícia é que, nas negociações entre a Petrobras e o governo sobre a questão, teria ficado claro que o Planalto nem mesmo está convencido de que é, de fato, desejável que preços internos de combustíveis estejam alinhados aos preços externos. Aparentemente, viceja na Presidência da República resistência doutrinária à busca desse alinhamento, calcada no argumento de que o combustível produzido no Brasil não tem nada a ver com o preço do petróleo fora do país (conforme escreveu Claudia Safatle, em 29 de novembro, no "Valor Econômico"). E de que o petróleo é extraído e refinado no Brasil por trabalhadores que ganham em reais ("Valor Econômico" de 2 de dezembro).

São argumentos estapafúrdios, que denotam retrocesso preocupante no entendimento da cúpula do governo sobre questões básicas envolvidas na política de preços de combustíveis. Já há muitos anos parecia ter sido clara e definitivamente entendido, tendo em conta a lógica de formação de preços de bens transacionados internacionalmente, que os preços internos de derivados deveriam ser de alguma forma vinculados aos preços externos desses produtos. Exatamente como ocorre com outras commodities — como trigo, soja, alumínio ou celulose — em decorrência do livre funcionamento dos mercados.

É importante notar que, embora a política de alinhamento de preços internos de derivados aos preços externos tenha sido abandonada há anos, o abandono decorreu de improvisações e tentações imediatistas e populistas, e não de qualquer resistência doutrinária explícita à ideia de que, em princípio, o alinhamento era desejável.

A vinculação dos preços internos aos externos tem a virtude de dar, a consumidores e produtores, noção clara do que de fato custa à economia tornar disponível uma unidade adicional do produto. Ao tornar decisões sobre quanto consumir de um determinado bem, cada consumidor deve estar exposto a um preço que reflita corretamente o custo para a sociedade de sua decisão de consumo. É esse custo de oportunidade que cada consumidor deveria ter em conta ao decidir quanto consumir.

Como petróleo e seus derivados são : bens transacionados internacionalmente, o custo para a economia de se tornar um barril o mais disponível é dado pelo seu preço externo. Se o barril tiver que ser importado, por razões óbvias. Se for produzido internamente, porque poderia ser exportado ou permitir importar um barril a menos, caso não fosse consumido.

É lamentável que, a esta altura, exatamente quando o país está em vias de se tomar um grande exportador de petróleo, tenha prosperado no Planalto visão tão equivocada da política de preços de combustíveis.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

Fonte: O Globo

Política – Claudio Humberto

• Cardozo e Receita silenciam sobre caso St. Peter
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) repetiu ontem o mantra “toda denúncia será investigada”, mas ressaltou por assessores não ter sido “acionado” para apurar a suspeita de sonegação e ocultação de sócios do Hotel St. Peter, onde o mensaleiro José Dirceu pretendia trabalhar. Cardozo tampouco reagiu ao desafio da oposição de usar seu “espírito desengavetador” para mandar a Polícia Federal investigar o caso. Indagada pela coluna, a Receita Federal também fez silêncio.

• Cala-te boca
A Secretaria da Receita Federal informou não se pronunciar “sobre investigações em curso, encerradas ou procedimentos investigatórios.”

• Denúncia grave
O “Jornal Nacional” revelou que o ex-futuro “patrão” de José Dirceu era um “laranja” que mora em um bairro pobre na Cidade do Panamá.

• ‘Sofrimento’
Ao desistir de trabalhar no hotel, Dirceu alegou que pretende “diminuir o sofrimento” dos donos do hotel. Ou para esvaziar a curiosidade?

• Mira fixa
Apresentando-se agora como dono do hotel St. Peter, o empresário Paulo Abreu sabe que dificilmente sairá da mira da SRF, PF, MPF etc.

• Brasil dá vexame ao lavar roupa suja no Parlasul
Habituados à desordem que é o Congresso, parlamentares brasileiros geraram constrangimento na eleição da Mesa Diretora do Parlamento do Mercosul, na segunda (2), em Montevidéu. O deputado Dr. Rosinha (PT) parou a reunião para acusar senador Roberto Requião (PMDB) de ter sido escolhido vice-presidente do Parlasul de forma ilegal, alegando que ele não poderia ter presidido, no Brasil, a votação que o elegeu.

• Sem noção
Boquiaberto com a cena, o presidente do Parlasul suspendeu a sessão para que parlamentares brasileiros se reunissem e tentassem acordo.

• Barraco armado
Dr. Rosinha ameaçou renunciar ao Parlasul se Requião tomasse posse, mas acabou cedendo à pressão da turma do deixa-disso.

• Civilizados
Já Argentina, Uruguai e Paraguai cumpriram o rito e levaram nomes de consenso para serem aclamados representantes no Parlasul.

• Esse é o Brasil
Para completar o vexame, o senador-sorvete Eduardo Suplicy (PT-SP) cantou Bob Dylan e Geraldo Vandré, em um coquetel no Parlasul.

• Linchamento adiado
A renúncia do ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), ontem, serviu para poupar ele próprio de um linchamento histórico no plenário da Câmara. Seu estilo “motoniveladora”, que esmagava qualquer um à sua frente, construiu uma numerosa e ressentida bancada de inimigos.

• Puro sangue
Que Eduardo Campos (PSB) que nada. O PV bate o pé e planeja lançar o médico sanitarista Eduardo Jorge à Presidência, em 2014, tendo na vice Célia Sacramento, atual vice-prefeita de Salvador.

• Guerra de dossiês
Deputados experientes do PT pediram ajuda a Lula para acabar a “guerra de dossiês”. Atribuem a “fogo amigo” tanto a denúncia contra o Hotel St. Peter, que teria o objetivo de atingir o ex-ministro José Dirceu, quanto o dossiê contra o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB).

• E a solidariedade?
Enquanto José Dirceu não se conforma com demora do ex-presidente Lula de defender a companheirada presa, o presidiário José Genoino coloca panos quentes e diz a amigos que entende os motivos do chefe.

• País sério é isso aí
A “festa de confraternização” fez o sindicato dos policiais rodoviários federais no DF cancelar o atendimento ao público de quarta (4) a sexta (6). Enforcou toda semana, uma especialidade no setor público.

• Polícia frouxa
Qualquer grupo, ainda que reduzido e o protesto irrelevante, agora obstrui sem cerimônia, com a ajuda acovardada das polícias militares, avenidas por onde trafegam centenas e até milhares de pessoas. Em nome do “direito à manifestação”, as PMs cancelam o direito de ir e vir.

• Enchendo linguiça
Com a pauta trancada por determinação do governo Dilma, os deputados – já em ritmo de férias – deverão iniciar o ano de 2014 com pelo menos cinco projetos em regime de urgência constitucional.

• Mudou de nome
Valdemar Costa Neto agora diz ser vítima de “déspotas poderosos”. Deve ser como chama os R$ 8,8 milhões embolsados para votar a favor de matérias do interesse do governo Lula.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Painel - Vera Magalhães

Polivalente
Valdemar Costa Neto desistiu de pedir autorização ao STF para trabalhar como assessor do PR enquanto estiver preso em regime semiaberto. O ex-deputado, que renunciou ontem após ter a prisão decretada, acreditava que o pleito seria recusado, pois o partido esteve no centro dos crimes pelos quais foi condenado no mensalão. Valdemar vai apresentar novas opções de emprego à Justiça nas áreas administrativas de um escritório de advocacia, uma imobiliária e um restaurante.

Dinâmica... Dirigentes do PR dizem que Valdemar "aprendeu com os erros" de José Dirceu, que desistiu de trabalhar no hotel Saint Peter, em Brasília, por um salário de R$ 20 mil, após a repercussão negativa do fato.

... de grupo Advogados do ex-deputado estão verificando o histórico e a composição acionária das empresas nas quais ele tem propostas para trabalhar, a fim de evitar escândalos e devassas.

Fila andou Paulo Maluf se antecipou à provável intervenção da Executiva Nacional do PP para destitui-lo do comando da seção paulista da sigla e pediu afastamento. O controle em São Paulo será dividido pelos deputados federais José Olímpio, Aline Correa e Guilherme Mussi.

De cima Também foi decidido que ficará a cargo da Executiva Nacional a decisão sobre que candidato o PP vai apoiar ao governo de São Paulo. Os deputados querem se coligar com Geraldo Alckmin (PSDB), mas o acordo com Dilma Rousseff, se sair, pode incluir uma aliança com Alexandre Padilha (PT).

Rebelião 1 Um grupo de vereadores comandado por Milton Leite (DEM), Roberto Trípoli (PV) e Adilson Amadeu (PTB) tenta impingir dupla derrota ao prefeito Fernando Haddad: na escolha do novo conselheiro do Tribunal de Contas do Município e na eleição para presidente da Câmara, dia 15.

Rebelião 2 A articulação em curso é para que Trípoli seja escolhido pela Câmara para a vaga no TCM. O candidato de Haddad é João Antonio (PT), seu secretário de Relações Governamentais. Milton Leite lançaria sua candidatura contra a do atual presidente da Câmara, José Américo (PT), que pode se reeleger.

Nome aos bois O PPS decidiu que vai citar nominalmente Eduardo Campos (PSB) no documento que será apresentado em seu congresso nacional, na noite de sábado. Parte da sigla defendia que o texto tivesse apenas uma indicação genérica de apoio, sem mencionar o governador pernambucano.

Concertação Numa tentativa de acordo para superar a disputa interna, o presidente reeleito do PT, Rui Falcão, pretende oferecer a vice-presidência da sigla à Mensagem ao Partido, de Paulo Teixeira. Falcão não aceita que o grupo fique na secretaria-geral, que deve ir para Geraldo Magela (DF), do Movimento PT.

Marca Além de definir os integrantes da coordenação da campanha de Dilma Rousseff, o PT também quer acelerar a escolha da cúpula do comitê de Alexandre Padilha em São Paulo. Paulo Frateschi deve ser um dos nomes.

Veja bem Cotado para integrar o QG dilmista, Eliseu Padilha (PMDB-RS) lembra que ficou neutro na eleição de 2010, depois de apoiar o PSDB nas eleições presidenciais de 2002 e 2006.

Pacheco Escalado pela Fifa para fazer a mensagem de boas vindas na abertura do sorteio da Copa ao lado de Dilma, hoje, o governador Jaques Wagner (PT) gravou um vídeo em que narra a emoção vivida na primeira Copa que assistiu, a de 1970, no México. Conta da festa que viu nas ruas da cidade.

TIROTEIO
"A noiva e o noivo são as seleções. O estádio equivale à igreja. A única que vi não ficar pronta foi a Sagrada Família, em Barcelona."
DO DEPUTADO JULIO DELGADO (PSB-MG), sobre o ministro Aldo Rebelo (Esporte) ter comparado atrasos nas obras da Copa aos das noivas.

CONTRAPONTO
Discurso
No dia de seu aniversário, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) pediu a palavra na tribuna para relatar uma visita da presidente Dilma Rousseff à Venezuela. Depois de diversos apartes de colegas que queriam lhe desejar parabéns, o petista viu que havia ultrapassado o tempo.

--Eu até peço desculpas pelo pronunciamento longo, mas vou continuar um pouco mais.

O também petista Paulo Paim, que ocupava a presidência, respondeu:

-Se, no dia do seu aniversário, você não puder falar um pouco mais, tem que me tirar da presidência.

Fonte: Folha de S. Paulo

Brasília-DF – Denise Rothenburg

Café com leite
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) está convicto de que o candidato a vice-presidente na futura chapa de Aécio Neves (PSDB-MG) tem que sair de São Paulo. "Lula, de origem política paulista, optou por um mineiro, José Alencar. Dilma, que é mineira e fazia política no Sul, teve Michel Temer, um paulista. Portanto, com Aécio forte em Minas, o melhor caminho é buscar o vice de São Paulo. Há um mito errado sobre a história de vice ter que ser do Nordeste. O que dá certo é o feijão com arroz ou o café com leite", diz o senador.
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Cunha Lima não avança o sinal sobre nomes, mas os deputados acreditam que Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o senador que supreendeu em 2010, é o mais cotado. Detalhe: Aloysio é ligado ao ex-governador José Serra, que não teria outra saída senão se engajar na campanha.

Numerologia
A demora dos parlamentares em votar o projeto de adequação do Plano Plurianual de Investimentos (PPA) deixa a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, exposta a um processo por improbidade administrativa. O número da proposta é simbólico: PLN13/13.

Peso dois
A decisão de José Dirceu de desistir do emprego no Hotel Saint Peter veio depois que Lula, furioso, reclamou a respeito do desgaste sofrido pelo partido com o episódio. Agora, com Dirceu desempregado e expoentes de outros partidos (como Valdemar Costa Neto) na cadeia, a expectativa do ex-presidente é que cesse o desgaste sobre o PT.

O malabarista...
O empresário Paulo de Abreu, quase empregador do mensaleiro José Dirceu, é um exímio especialista na arte de fazer malabarismos no Ministério das Comunicações. Sua mais recente façanha foi transferir um canal gerador de televisão (canal 35) da pacata Francisco Morato, na Grande São Paulo, para a Avenida Paulista. O ministério, por meio de Genildo Lins, secretário executivo interino, alega que houve consulta pública. Só que nela consta a localização da antena na cidadezinha da concessão.

...Rompe a serra
Na publicação do canal no Diário Oficial, foi autorizada a instalação na Avenida Paulista. Com isso, Abreu multiplicou por 100 o seu negócio. Mas como existe a Serra da Cantareira entre a Avenida Paulista e Francisco Morato, as transmissões da tevê não chegarão à cidade que deveria ter seu canal local.

Prioridade
O PCdoB não desistiu de ter o apoio do PT a Flávio Dino, no Maranhão. Dino é, hoje, na avaliação dos comunistas, a maior aposta do partido para emplacar um governo estadual. Por isso, deve ser o único pedido que o PCdoB fará em termos de palanques estaduais.

CURTIDAS

Me dê motivo.../... A bancada ruralista reclama que Henrique Alves (foto) não cumpriu os acordos feitos com o grupo. Ameaça obstruir as votações da Casa. Outro que segue o mesmo caminho, Sebastião Bala Rocha (SDD-AP) vai obstruir as votações porque brigou com o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). A Câmara está praticamente em férias.

Abalou/ O deputado Luciano Castro estava visivelmente constrangido ao ler a carta de renúncia de Valdemar Costa Neto. "Quis o destino que eu estivesse em Brasília na tarde de quinta-feira. Chegamos aqui juntos em 1990. É constrangedor ler a renúncia dele por essa razão, e não porque vai ocupar um cargo executivo", contou.

Simbologia/ O ex-presidente Lula cogitava ontem ir à África do Sul para o funeral de Nelson Mandela, o ícone da luta contra a segregação racial.

Déda e Mandela/ O governador de Sergipe, Marcelo Déda, e o ex-presidente Nelson Mandela serão homenageados no Congresso do PT, na semana que vem. Nessa parte, a presidente Dilma deve estar presente. Já no ato em defesa dos réus do mensalão, a previsão é que Dilma não participe.

Fonte: Correio Braziliense

Panorama político - Ilimar Franco

Os tucanos querem saber
Os estrategistas do PSDB estão inquietos. A pesquisa Datafolha fez ressurgir o temor dà desistência de Eduardo Campos (PSB). Eles previam que Marina Silva não o faria decolar. Mas esperavam mais. Hoje, sem a promessa de apoio do PPS, o socialista ficaria isolado. No quadro atual, Eduardo não tem caminho de volta, mas sempre será possível abrir uma porta ou atirar uma boia para os socialistas.

Em busca do palanque ideal
Não é à toa que a presidente Dilma e os candidatos da oposição Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) fazem a corte em busca do apoio da candidata do PP ao governo gaúcho, a senadora Ana Amélia. Em recente pesquisa, do Instituto Methodus, ela aparece com 38,2% das intenções de voto, enquanto o governador Tarso Genro (PT) tem 31,8%. Com a saída de Marina Silva (Rede), a presidente Dilma chegou aos 44,4% nos estados. Seus adversários dependem ainda mais de uma aliança local com Ana Amélia. Aécio Neves chegou aos 21,3%, e Eduardo Campos, aos 12%. A pesquisa fechou na segunda-feira. Foram ouvidos 1,5 mil eleitores.

"A ampla maioria do partido defende apoiar Eduardo Campos. Não cheguei a dizer que era a maioria. Não podia ser grosseiro."

Roberto Freire - Presidente do PPS e deputado federal (SP), sobre o encontro com o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves

O alvo oculto
A CUT, presidida por Vagner Freitas de Moraes, fará protesto hoje, no Recife, durante o sorteio dos grupos da Copa de 2014. Vão denunciar a Fifa pela "violação de direitos de trabalhadores". Será um protesto velado contra o ex-presidente Lula. Foi seu governo que assinou, e aprovou, lei com legislação trabalhista excepcional para a Copa.

A romaria
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) foi esta semana, discretamente, até a casa da filha de José Genoino, onde o ex-deputado cumpre prisão domiciliar. Saiu da visita impressionado com o estado emocional e a frágil saúde do companheiro.

A aposta de Kassab
A despeito da ampla vantagem do governador Geraldo Alckmin (PSDB) nas pesquisas, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) diz que somente o petista Alexandre Padilha está no segundo turno. "Ele concorre só no seu campo. No nosso, o Alckmin vai disputar a vaga com o Paulo Skaf (PMDB) e comigo" resume o pessedista.

Cadeira cativa
O ex-deputado Valdemar Costa Neto entrou com pedido de autorização para trabalhar tão logo teve a prisão decretada. Ele tem promessa de emprego do próprio PR, para atuar como assessor administrativo na sede, que fica em um shopping.

A fila anda
Eleito com 174 mil votos, o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) renunciou, ao ser decretada sua prisão. O PCdoB vai aumentar sua bancada na Câmara. O ex-presidente da UNE Gustavo Petta, que obteve 60 mil votos, é o suplente.

O candidato do PSOL ao Planalto, senador Randolfe Rodrigues (AP), trabalha para que a ex-deputada Luciana Genro (RS) seja a vice de sua chapa.

Serviço pela metade
Na noite de anteontem, o vice Michel Temer recebeu para jantar 10 deputados estaduais do PMDB do Paraná. Não os demoveu de abandonar o governador Beto Richa (PSDB). Mas garantiu apoio na convenção para a chapa "Temer-Dilma´.

Fonte: O Globo

Timoneiro - Paulinho da Viola

Intimação - Carlos Drummond de Andrade

Abre em nome da lei.
Em nome de que lei?
Acaso lei sem nome?
Em nome de que nome
cujo agora me some
se em sonho o soletrei?
Abre em nome do rei.

Em nome de que rei
é a porta arrombada
para entrar o aguazil
que na destra um papel
sinistramente branco
traz, e ao ombro o fuzil?

Abre em nome de til.
Abre em nome de abrir,
em nome de poderes
cujo vago pseudónimo
não é de conferir:
cifra oblíqua na bula
ou dobra na cogula
de inexistente frei.

Abre em nome da lei.
Abre sem nome e lei.
Abre mesmo sem rei.
Abre sózinho ou grei.
Não, não abras; à força
de intimar-te repara:
eu já te desventrei.