Plano econômico de Milei aponta direção certa
O Globo
Pode haver certo exagero ou voluntarismo, mas
as ideias do novo presidente têm base na realidade
O novo ministro da Economia da Argentina,
Luis Caputo, deverá anunciar hoje as primeiras medidas do recém-empossado
governo Javier Milei.
No discurso de posse, Milei já deu o tom do que está por vir: “No hay plata”
(“não tem dinheiro”). Não haverá, segundo ele, espaço para gradualismo no
ajuste fiscal. O diagnóstico está correto e nada tem de novo. O inédito foram
os aplausos que se seguiram. Ontem o porta-voz presidencial, Manuel Adorni,
voltou ao tema e declarou: “O equilíbrio fiscal será rigorosamente respeitado”.
A Argentina vive há anos acima de suas
possibilidades. Desde 2009 o governo fecha as contas no vermelho. Sucessivas
gestões peronistas preservaram subsídios e benesses financiando o gasto público
com uma dívida insustentável. A expectativa é que, em 2023, a inflação passe de
200%. Como reação há um movimento de defesa: busca por dólares e ativos
estáveis; gatilhos para compensar perdas monetárias. A indexação dá a sensação
de proteção, mas torna mais difícil desarmar a espiral inflacionária, como sabe
todo brasileiro que viveu nos anos 1980 e 1990.
Milei já deu provas de ter noção do desafio. Parece saber que: 1) derrotar a disparada dos preços é sua maior missão; 2) não fará isso sem reduzir o gasto público; 3) o ajuste fiscal terá efeito recessivo; 4) é ilusão contar com aplausos depois do choque; 5) qualquer plano abrirá espaço à oposição. Depois da posse, ele ressaltou a herança — “nenhum governo recebeu uma situação pior do que estamos recebendo” —, antecipou a estratégia — “não há alternativa ao choque” —, previu tempos difíceis — com impacto negativo na “atividade, emprego, quantidade de pobres e indigentes” — e conclamou dirigentes políticos, sindicais e empresariais a se unirem “à nova Argentina”.