quarta-feira, 9 de abril de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Esse ato comandado pelo PT com os seus aliados é a maior violência que já assistimos no Parlamento brasileiro após o regime autoritário. Isso é algo que não pode ser aceito pela sociedade brasileira e nem pelo Supremo Tribunal Federal. A pretexto de ajudar o governo, hoje temos um governo no Brasil à beira de um ataque de nervos, o que os governistas estão fazendo? Retirando do Congresso Nacional uma prerrogativa básica da minoria essencial ao convívio democrático que é: desde que haja um fato determinado, portanto um fato grave, e daí a partir do alcance do número de assinaturas, apresentar um requerimento e aí, estabelecer uma investigação. No momento em que a maioria inclui a priori, na largada, inúmeros outros temas, sempre que houver o pedido de investigação sobre um fato determinado, a maioria vai encontrar espaço para apresentar dez, 15, 20, 30 outros temas. Com quais objetivos? Investigá-los? De forma alguma.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Do livro Macunaima*: Lula sobre instalação de CPI: 'PT tem que ir pra cima'

Em entrevista a blogueiros, ex-presidente cobra explicações de André Vargas e diz que partido não pode 'pagar o pato’

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO — Com o aumento da pressão pela criação de uma CPI para investigar denúncias contra a Petrobras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou nesta terça-feira o PT a “ir pra cima” no enfrentamento com a oposição para evitar a apuração política em ano eleitoral. A preocupação é com uma reedição do desgaste ocorrido na CPI do Mensalão.

— Espero que o PT tenha aprendido a lição — disse Lula, que também recomendou ao governo Dilma Rousseff que o legado petista na estatal seja defendido com “unhas e dentes”.

As declarações foram feitas durante mais de três horas de entrevista concedida a blogueiros numa sala reservada no Instituto Lula, em São Paulo, e transmitida pela internet. Nela, o ex-presidente falou ainda da situação do deputado licenciado André Vargas (PT-PR), suspeito de ter relações com o doleiro Alberto Youssef, preso em operação da Polícia Federal (PF). Para ele, o petista precisa dar explicações para que o “PT não pague o pato”. Vargas não quis comentar a declaração.

Lula fez questão de começar a entrevista dizendo que não será candidato à Presidência da República este ano e lamentou a candidatura do ex-aliado Eduardo Campos (PSB).

CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA
"Hoje estou começando um novo momento e eu quero dizer a vocês que não sou candidato. Eu não tenho como ir a cartório e registrar que não sou candidato, mas não sou candidato. A minha candidata é a Dilma Rousseff e se vocês puderem contribuir para acabar com essa boataria toda estarão contribuindo com o processo de democratização desse país. Acho que a Dilma tem competência e todas as condições políticas e técnicas para fazer o Brasil avançar. Ela é disparadamente a melhor pessoa para ganhar essas eleições. Eu já cumpri minha tarefa, já fiz o que tinha que fazer. Já me dou por realizado".

PROTESTOS
"A democracia que queremos não é um pacto de silêncio. A democracia é a sociedade num processo de evolução, manifestação e ação tentando conquistar cada dia mais. Não temos nunca que ficar reclamando porque a sociedade se manifestou. O que precisamos é aprender a tirar lições. Eu não vi nas manifestações nenhuma reivindicação absurda".

LEI ANTITERRORISMO
"Daí alguém ter a sábia ideia de achar que isso (protesto) é terrorismo e fazer uma lei contra quem usa máscara no país do carnaval já é impensável. Não acho que o Brasil precisa de uma lei antiterrorismo".

EDUARDO CAMPOS E MARINA SILVA
"Eu tenho uma belíssima relação com Eduardo Campos . Sou muito agradecido a tudo que ele contribuiu para com o meu governo. Ele deve ser muito agradecido a mim por tudo que eu contribui para o desenvolvimento de Pernambuco e do Nordeste. Eu lamentei que ele tenha se afastado da base para ser candidato de oposição a Dilma. Somente ele que vai dizer por que resolveu antecipar um processo que poderia ter sido um processo natural da aliança PT e PSB. Eu sinceramente não entendo. A Marina eu entendo porque convivi com a Marina e a Dilma e vi as divergências que tinham. Mas o Eduardo eu não compreendo".

ANDRÉ VARGAS
"Acho que o André tem que explicar para a sociedade. Ele é vice-presidente de uma instituição importante, que é a Câmara dos Deputados, e acho que, quando você está num cargo desse, tem que ser exemplo. Eu espero que ele consiga convencer a sociedade e provar que não tem nada além da viagem de avião. Torço por isso porque no final quem paga o pato é o PT. Torço para que não tenha nada além de uma viagem, o que já é um erro".

PETROBRAS
"Não é a primeira vez que se tenta levantar coisas contra a Petrobras em época de eleição. Em 2009, se levantou uma CPI da Petrobras. Esse caso de Pasadena, eu aprendi a falar “Pasadina” esses dias, porque eu falava “Pasadena”, já foi para o Tribunal de Contas e Senado. Muitas pessoas que estão ansiosas para fazer a CPI são pessoas que trabalham com o enfraquecimento da Petrobras. As pessoas dizem que hoje ela vale pouco. Se ela vale R$ 98 bilhões, valia apenas R$ 15 bilhões no tempo do FHC".

UNHAS E DENTES
"Então eu acho que o governo tem que ir para a ofensiva e debater esse assunto com muita força. A gente não pode permitir que, por omissão nossa, as mentiras continuem prevalecendo. Temos que defender com unhas e dentes aquilo que nós acreditamos que seja verdadeiro".

IR PRA CIMA
"O dado concreto é que mais uma vez os interesses políticos estão fazendo com que em época de eleição, quando a oposição não tem bandeira, programa nem voto, se levante essa ideia de fazer CPI. Eu nem acho que por conta de uma CPI você tem que fazer outra. Não sou daqueles que, por conta da Petrobras, tem que investigar ... eu não sou dessa linha. Quer investigar a Petrobras? Vai. Qual o fato determinado? Acabou. Essas pessoas nunca quiseram CPI. Pega aqui em São Paulo. Nunca aconteceu nenhuma. De repente essas pessoas viraram... Então acho que nesse aspecto o PT tem que ir pra cima".

LIÇÃO DO MENSALÃO
"O PT eu espero que tenha aprendido a lição do que significou a CPI do mensalão porque essa CPI deixou marcas profundas nas entranhas do PT. Se o PT tivesse feito o debate político no momento que tinha que fazer e não ficasse esperando uma solução jurídica, possivelmente a história fosse outra. Porque no fundo a imprensa construiu quase o resultado desse julgamento. O tempo vai julgar. Eu fico pensando como é possível uma CPI que começou investigando R$ 3 mil numa empresa pública que era dirigida pelo PMDB, que investigava um cara do PTB, terminou no PT? Não houve da parte do PT a sabedoria de fazer o enfrentamento político".

CANDIDATURA DE LINDBERGH FARIA
"É pra valer e irreversível. É muito difícil você pegar um jovem de 40 anos com a impetuosidade do Lindbergh no meio de um mandato, ele não tem nada a perder, só a ganhar, e dizer que não vai ser candidato. Ele acha que é o momento dele e eu acho que ele é um candidato bom, pode tomar cuidado que ele vai crescer e pode ganhar as eleições. Só espero que a disputa seja mais civilizada".

REGULAÇÃO DA MÍDIA
"Se a imprensa, nos editoriais, batesse e discordasse do governo seria ótimo. Agora, na cobertura normal que fosse um pouco mais sério, neutro. Acho que perdemos um tempo precioso em não fazer a discussão sobre marco regulatório da comunicação nesse país. Espero que em algum momento a gente retome essa discussão".

JOAQUIM BARBOSA
"Não me arrependo porque na época (em 2003) não havia o mensalão. Não o indiquei para julgar o mensalão. Eu o indiquei porque eu queria um negro no STF. O comportamento dele é de inteira responsabilidade dele. Eu acho que a Suprema Corte tem que se pronunciar nos autos do processo. Eu não posso ficar falando de você o que vou fazer com você, preciso pegar os autos e decidir. Alguns (ministros) inclusive mentiram descaradamente".

"Eu só quero que a verdade venha à tona. A história do mensalão vai ser recontada nesse país e, se eu puder, eu vou ajudar a recontá-la".

*MACUNAIMA
(ãi) ,s. m. (Bras.) || entidade da mitologia ameríndia, inicialmente tido como o Criador, Deus, o Grande Espírito e, mais tarde, no evoluir das histórias, herói astuto, maldoso, amoral, de espírito tanto inventivo como galhofeiro. [A forma macunaíma deu título a um famoso romance de Mário de Andrade e por isso está mais difundida.] F. t. caraíba

Para FH, investigação da Petrobras é de ‘interesse nacional’

Especialistas avaliam que impedir criação da CPI tem ônus político

André Miranda, Paulo Celso Pereira e Tiago Dantas – O Globo

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta terça-feira que acha difícil Lula impedir a criação da CPI da Petrobras, porque não se briga contra fatos.

— Ele (Lula) está se propondo a uma tarefa ambiciosa (barrar a CPI). Fica contra a opinião pública e os dados que estão aí por todos os lados. A oposição deve verificar os fatos e, ao contrário do que o Lula está dizendo, não deve usar (a CPI) como bandeira política. É uma coisa de interesse nacional. Tem que buscar os fatos e corrigi-los — defendeu.

Para FH, se tudo o que está sendo publicado for verdade, “é espantoso”:

— Se ele (Lula) conseguir demonstrar que está tudo certo, é bom para o Brasil. Mas é difícil.

Para o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), a proposta de Lula de mandar o governo e o PT para cima da CPI foi uma espécie de admissão de culpa.

— Com sua fala, ele revela receio de que a verdade possa vir à tona — afirmou.

O deputado Beto Albuquerque (RS), líder do PSB, também criticou:

— Espero que “ir para cima" signifique fazer a CPI para que não paire dúvidas sobre esses problemas que estão se empilhando na Petrobras, e não seja sufocar a necessidade de sabermos toda a verdade. Não estamos falando de uma empresa de fundo de quintal. Temos de investigar.

Ao pedir para o governo brigar com “unhas e dentes" contra a instalação da CPI, Lula fez uma jogada inteligente, na avaliação de cientistas políticos. Por outro lado, a medida pode gerar perdas políticas às vésperas da eleição presidencial.

O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto acredita que a opinião pública pode comparar a situação atual com os resultados do mensalão. Em entrevista dada para blogueiros nesta terça-feira, Lula disse que se o PT tivesse feito o “debate político no momento que tinha que fazer", o impacto do mensalão no partido poderia ser menor.

— Uma leitura sobre o que o Lula falou é simples: quem é governo, não quer CPI. E isso a gente vê em todas as esferas do governo: seja estadual ou federal. Mas há uma segunda questão nessa fala.

Pode estar passando recibo de que quer esconder algo. As pessoas podem pensar: “Se ele fez essa comparação com o mensalão e teve problema no mensalão, deve ter problema na Petrobras também” — argumenta o professor.

Para Couto, o discurso de Lula seria mais eficiente se tivesse sido feito para os políticos do PT e dos partidos aliados. Para o público externo, avalia, Lula poderia mostrar que a CPI é mais uma luta política do que uma investigação de fato.

O cientista político Valeriano Costa, professor da Unicamp, afirma que evitar a investigação traria uma certa tranquilidade para o PT nos próximos meses, mas não excluiria o ônus político:
— O custo político de barrar uma CPI é grande, mas é momentâneo. Pode haver uma crítica da opinião pública porque o governo não quis investigar. Mas, se a CPI é instalada, o assunto vai estar na mídia o tempo todo.


Veja também na Folha de S. Paulo

Em 2010, André Vargas doou quase R$ 1 milhão para candidatos

Até campanha de Dilma a presidente recebeu R$ 45,8 mil

Thiago Herdy e Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO — Embora previsse receber até R$ 6 milhões em doações para sua campanha para deputado federal em 2010, o vice-presidente licenciado da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), desempenhou um papel oposto nas eleições: doou R$ 893,9 mil para 32 candidaturas, por meio de seu comitê de campanha.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que os maiores beneficiários da distribuição de recursos por parte do comitê eleitoral de Vargas foram candidatos do PT: 12 deles receberam R$ 876 mil, entre eles a presidente Dilma Rousseff (R$ 45,8 mil).

O petista arrecadou R$ 1,3 milhão em sua campanha, dos quais R$ 806 mil vieram do diretório nacional da legenda, segundo o TSE.

Como doou a maior parte do que recebeu, na prática a campanha de Vargas teria custado, oficialmente, apenas R$ 468 mil, o que corresponde a apenas 7,8% do que havia previsto para sua campanha. Esse valor inclui doações que ele fez como pessoa física para a própria campanha.

Por terem sido registradas no TSE, as contribuições são consideradas legais pela Justiça. Porém, evidenciam o papel desempenhado por Vargas nas eleições de 2010, como intermediário da distribuição de recursos no estado.

Perguntado sobre o motivo da diferença entre o que estava previsto para ser gasto e o efetivamente realizado pela sua equipe de campanha, a assessoria do deputado argumentou que “a estimativa de gastos normalmente é superestimada, para evitar alterações posteriores”.

De acordo com o petista, a maior parte dos valores de sua campanha teria sido doada para outros políticos porque ele teria optado por uma gestão descentralizada dos recursos.

“A elevada quantidade de doações deve-se ao fato de que a campanha foi organizada em parcerias com candidatos a deputado estadual, que se responsabilizavam pela campanha em cada base eleitoral”, afirmou a assessoria de Vargas, em nota.

Oficialmente, quem recebeu mais recursos do petista foi Nedson Luiz Micheleti, ex-prefeito de Londrina e candidato a deputado estadual pelo PT em 2010, com R$ 279,7 mil.
O segundo que mais recebeu foi o também candidato a deputado estadual Elton Carlos Welter, com R$ 94,4 mil.

Por meio de sua assessoria, Welter informou ter pedido votos para ele e também para Vargas na região de Toledo, no interior do Paraná. Por isso, teria recebido a doação do colega. Ontem, Micheleti não foi localizado pelo GLOBO.

Embora petistas tenham recebido a maior parte dos recursos, candidatos a deputado estadual do PMDB e do PDT, partidos que faziam parte da aliança com o PT no Paraná, também receberam recursos do deputado.

Segundo o TSE, Vargas doou para sua própria campanha, como pessoa física, R$ 89 mil. O valor corresponde a 16% do patrimônio declarado pelo político em 2010 (R$ 572 mil). Conforme mostrou O GLOBO na última semana, em dez anos o patrimônio do deputado cresceu 50 vezes.

Quando entrou na política, em 2000, tudo o que o Vargas tinha era um Monza 1993, avaliado em R$ 9 mil, e sociedade em três pequenas empresas, cujas cotas somavam R$ 2,1 mil.

Na última campanha eleitoral, dez anos depois, Vargas declarou ter dois terrenos, uma casa e três carros de luxo, além de ter adquirido sociedade em duas empresas, alcançando um patrimônio de R$ 572 mil.

Por meio de sua assessoria, o deputado informou que sua evolução patrimonial teria sido “compatível com sua renda ao longo dos dez anos”.

Prolongamento do caso Vargas pode afetar Dilma, Padilha e Gleisi Hoffmann

Dirigentes do PT e o Planalto receberam com “grande alívio" a licença de André Vargas

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA — Preocupados com o potencial estrago de um escândalo em ano eleitoral, o Palácio do Planalto e a cúpula do PT passaram a pressionar André Vargas (PT-PR) a renunciar ao mandato depois que foram reveladas, no fim de semana, novas trocas de mensagens entre ele e o doleiro Alberto Youssef, reforçando suspeitas de intermediação de negócios no Ministério da Saúde.

A preocupação principal é com o desgaste para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff; mas também com a de Alexandre Padilha para o governo de São Paulo — ele comandava o Ministério da Saúde enquanto Vargas defendia interesses de Yousseff na pasta —; e da senadora Glesi Hoffmann ao governo do Paraná.

“Alívio” com licença
Dirigentes do PT e o Planalto receberam com “grande alívio" a licença de Vargas, mas preferiam que ele renunciasse ao mandato para tentar esfriar o assunto. Lideranças petistas argumentam que essa saída seria melhor para o próprio deputado, mas, até a noite desta terça-feira, ele resistia.

Questionado no início da noite desta terça-feira se renunciaria ao mandato, Vargas respondeu por mensagem de texto:

— Não.

No PT, no governo e na base aliada ninguém tem confiança de que não surgirão fatos novos contra Vargas. Isso porque, na semana passada, ele havia garantido que não havia nada além do jatinho que pediu ao doleiro para viajar com a família para João Pessoa no início do ano, e das trocas de mensagem que já haviam sido reveladas sobre um contrato para fornecimento de medicamentos para o Ministério da Saúde.

Outro fator que gera insegurança no governo e no PT é a linha de defesa de Vargas, que se contradisse sobre o uso do jatinho. Primeiro, ele afirmou que tinha reembolsado o valor do combustível, depois recuou e reconheceu ter viajado de graça.

O vice-presidente da Câmara estava disputando com o deputado Dr. Rosinha (PT-PR) a vaga de senador na chapa de Gleisi ao governo do Paraná. Assim como deputados federais, ele estava rodando o estado em agenda com a pré-candidata. No entorno da senadora, o desgaste é considerado inevitável.

Ela tentou minimizar esta terça-feira o impacto do escândalo em sua candidatura, afirmando que a campanha ainda não começou, que não daria para fazer uma avaliação, e tentou se descolar do problema:

— Cada um tem que ser responsável por seus atos, a população vai compreender. Já foi importante ele pedir afastamento (do mandato).

A pré-candidata petista, no entanto, já espera a exploração do assunto na campanha eleitoral.

— A oposição vai usar o que estiver a seu alcance para tentar nos desgastar, assim como faz no plano federal. Cabe a nós prestar os esclarecimentos — disse Gleisi.

A oposição, entretanto, está cautelosa. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que disputará a reeleição, não quis falar sobre o assunto esta terça-feira.

Assim que a relação entre Vargas e o doleiro veio à tona, o presidente do PT, Rui Falcão, já deixou claro que esse era um problema pessoal do deputado, e não uma questão do partido. Com o surgimento de novos fatos, o PT pressiona pela renúncia para tentar reduzir a agenda negativa associada à legenda.

Vargas teve a solidariedade da bancada petista em um primeiro momento, mas, com o aprofundamento da crise, deputados do PT jogaram a toalha e defendem sua renúncia para evitar a contaminação das candidaturas estaduais e nacional.

Jucá vota pela CPI 'ampliada' da Petrobrás e sessão é adiada

Votação dos recursos sobre a abrangência da investigação será na próxima quarta; oposição protesta 'contra a ditadura da maioria'

Ricardo Brito e Débora Álvares - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O senador Romero Jucá (PMDB-RR) votou na tarde desta terça-feira, 8, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa a favor da criação da CPI "ampliada" da Petrobrás, proposta pela base aliada. Em seu voto, o relator deixa aberta a possibilidade de a comissão investigar eventuais irregularidades nas obras de construção do metro de São Paulo e Distrito Federal, na refinaria de Abreu e Lima e no Porto de Suape.

A ampliação do escopo da investigação atinge contratos sob administração do PSDB e do PSB, dos pré-candidatos ao Planalto Aécio Neves e Eduardo Campos, além do DEM. Jucá, no entanto, rejeitou o pedido, por ausência de fato determinado, para investigar o superfaturamento em contratos da área de tecnologia da informação, que também visava a apurar gestões do PSB.

Numa tentativa de respaldar a decisão, o peemedebista sugeriu ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que provoque o Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito do alcance da CPI. Jucá também se posicionou pela imediata instalação da CPI, independentemente do recurso ao Supremo.

Após a apresentação do voto de Jucá, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) adiou para às 9 horas da manhã desta quarta-feira, a votação do recurso que analisa a abrangência da CPI da Petrobrás. A reunião foi suspensa pelo presidente do colegiado, Vital do Rêgo (PMDB-PB), por causa da abertura da pauta de votações do plenário.

AI-5. A oposição, que recorreu nesta quarta-feira ao Supremo para garantir a criação de uma CPI exclusiva da Petrobrás no Senado, protestou contra o voto de Romero Jucá. O pré-candidato do PSDB, senador Aécio Neves (MG), comparou um eventual posicionamento do Senado em favor da CPI proposta pela base aliada a um "AI-5" do Congresso - ato institucional, baixado em 1968 pela ditadura militar, que permitiu a cassação de mandatos parlamentares e acabou com o habeas corpus.

"É análogo aquilo que estamos fazendo hoje. Tirar da minoria a prerrogativa de investigar é extirpar, é ferir de morte o Parlamento e a sua atuação", afirmou.O tucano defendeu que, se a decisão "equivocada" do presidente do Senado for aceita, a maioria vai poder pedir a criação de CPI com até 80 temas.

Para Aécio, o Congresso está diante da "ditadura da maioria". Ele disse que não há, da parte do governo, a intenção de investigar a Petrobrás. Querem apenas, segundo o tucano, adiar as apurações. "A base governista tem a maioria necessária para apresentar uma CPI para iniciar efetiva e rapidamente a discussão sobre os temas".

Chapa branca. O senador Pedro Taques (PDT- MT) questionou a análise pela CCJ de uma questão que não tem, segundo ele, alcance constitucional. O líder do PSDB, Aloysio Nunes (SP), disse ter certeza de que a CPI proposta pela oposição não vai prosperar. "A única que vai ser instalada é a CPI chapa branca com a qual o governo pretende escamotear a verdade dos fatos", disse. Ele criticou ainda a decisão de Renan, que encaminhou a questão à análise da CCJ.

"Mandar instalar uma comissão não é ato discricionário do presidente; é fato vinculado".

Nunes também alfinetou Jucá, que manteve a posição de Renan ao votar pela instalação da CPI "combo". 

"Esse relatório defende uma posição casuística adotada pelo presidente Renan ao determinar que seja enterrada a CPI da oposição e ao submeter isso a órgãos colegiados", e finalizou: "Todos sabemos que o propósito do governo com essa CPI ampla é criar confusão para não investigar a grande confusão da Petrobrás".

Único da base aliada a falar na sessão da CCJ antes da suspensão da reunião, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), elogiou o parecer de Romero Jucá. Para ele, o governo não está contra a CPI, mas o que se discute é se é restrita ou ampla. Ele lembrou que a Petrobrás está sob investigação de cinco órgãos de investigação e é ainda acompanhada pela imprensa. Defendeu mais uma vez a CPI apresentada pela base aliada. "Estamos diante de uma investigação transparente, que a população acompanha par e passo. Agora por que não apurar outros fatos?", questionou.

Petistas pressionam por renúncia de Vargas

Lula diz que partido não pode 'pagar o pato' e colegas forçam saída para evitar desgaste

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O PT fechou ontem o cerco ao vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR). Oficialmente, o partido já pede que ele abra mão do cargo na Mesa Diretora. Nos bastidores, trabalha para que o deputado renuncie ao mandato.

O plano de rifar Vargas para evitar a contaminação da campanha eleitoral deste ano foi intensificado após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar, em entrevista ontem a blogueiros, que o deputado precisa esclarecer o envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal, para o PT não "pagar o pato".

No mesmo momento da entrevista, a bancada do PT na Câmara se reunia para discutir sobre o futuro do mandato do vice-presidente da Câmara. Antes mesmo de terminar a reunião, o vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), deixou a sala e passou a defender publicamente que Vargas renunciasse ao menos ao cargo de direção que ocupa na Casa. "Ele tem que entregar a Vice-Presidência, que é um posto na Câmara essencial ao PT, e neste momento ele não tem como atuar e não pode trancar isso", afirmou.

Cientes do enfraquecimento de Vargas dentro do partido alguns setores já se movimentam para substitui-lo no cargo da Mesa. "Ele está de acordo. Ele vai deixar a vice-presidência no momento certo, mais para a frente", afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que conversou com Vargas na manhã de ontem. Essa possível renúncia do deputado da vice-presidência "nos próximos dias" também reacende a disputa interna entre as correntes do partido. Adversários do grupo de Vargas tentarão emplacar no lugar dele o nome do ex-líder do PT Paulo Teixeira (SP). Em dezembro de 2012, Teixeira chegou a disputar com Vargas a indicação para a vice, mas perdeu por 48 votos a 37.

Segundo pessoas próximas ao paranaense, a maior preocupação dele hoje é com a instauração do processo disciplinar no Conselho de Ética que pode culminar na cassação do mandato. A instalação das investigações no colegiado está prevista para ocorrer na tarde de hoje.

Pelo regimento, o relator escolhido deve apresentar um parecer, contra ou a favor, da perda do mandato, em 90 dias.

O presidente do Conselho, deputado Ricardo Izar (PSD-SP), não descarta, entretanto, manobras regimentais por parte do PT para adiar o início das atividades na comissão. "Acho que estão preparando alguma coisa porque toda hora vai alguém do PT da área jurídica lá no Conselho questionando um determinado ponto do regimento. Regimentalmente pode acontecer qualquer coisa", disse Izar.

Aliados de Vargas também tentaram pressionar alguns integrantes do colegiado para que o processo seja inicialmente instalado na corregedoria da Casa para só depois tramitar no Conselho de Ética. "Hoje a questão principal não é a permanência na vice, mas o Conselho de Ética", afirmou Zarattini.

Ficha Limpa. Caso seja iniciado o processo no colegiado, em tese, Vargas, se for cassado, seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa, não podendo disputar as próximas eleições. Por outro lado, caso Vargas renuncie antes da instalação do processo, não há um entendimento jurídico, se ele também ficaria inelegível. O tema, no entanto, não está pacificado.

Relator da CPI da Petrobras quer que Supremo decida sobre instalação

Oposição entra no STF com mandado de segurança e pede que CPI seja exclusiva para investigar Petrobras

Júnia Gama - O Globo

BRASÍLIA - Relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da questão de ordem que irá definir se haverá ou não Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar denúncias de irregularidades na Petrobras, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) apresentou seu parecer nesta terça-feira, acatando a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ampla, para investigar denúncias na Petrobras e em obras de estados que afetam adversários da presidente Dilma Rousseff. Jucá, no entanto, decidiu enviar sua própria decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF), para que a Corte dê a palavra final sobre o tema.

Assim como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Jucá decidiu favoravelmente à CPI proposta por governistas, mas não quis arcar com o ônus de ser apontado como o único responsável pela manobra. Assim, o Supremo terá que decidir sobre a constitucionalidade do requerimento para criação da CPI que contenha múltiplos fatos determinados. Caso o STF decida pela inconstitucionalidade dessa ampliação do escopo da CPI, prevalecerá apenas uma CPI para investigar a Petrobras.

Caso, contrário, as investigações englobarão, além da estatal, o cartel de metrôs em São Paulo e as obras no Porto do Suape, em Pernambuco, estados comandados pelo PSDB e PSB, respectivamente partidos de Aécio neves (MG) e Eduardo Campos (PE), pré-candidatos à Presidência da República.

Em seu relatório, Jucá recomendou que a instalação da CPI não seja sobrestada até a decisão do STF. O relatório ainda será votado na CCJ e depois enviado ao plenário do Senado, onde o governo tem ampla maioria.

A pedido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o presidente da CCJ, Vital do Rêgo (PMDB-PB), suspendeu os trabalhos da comissão. A análise do relatório de Jucá sobre a instalação de uma CPI foi adiada para amanhã pela manhã. A justificativa dos senadores da base para derrubar a sessão e ganhar tempo foi que a ordem do dia havia iniciado no plenário do Senado.

Na manhã desta terça-feira, Jucá foi chamado no Palácio do Planalto, que deseja evitar a instalação de qualquer CPI, ou ao menos protelar ao máximo sua instalação. Ex-líder do governo, Jucá ponderou que a melhor forma para servir à estratégia, sem deixar a bomba estourar nas próprias mãos, seria deixar a cargo do Supremo a decisão sobre a instalação ou não da CPI e sobre o escopo que ela terá.

Pela manhã, Jucá se reuniu com Aécio Neves e com o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), a quem antecipou sua decisão. Jucá explicou ao tucano e ao líder do partido de Eduardo Campos que deixaria o Supremo resolver a respeito da questão. Mais cedo, Aécio esteve, junto a um grupo de parlamentares da oposição, no STF, para protocolar mandado de segurança para garantir a instalação da CPI da Petrobras. O grupo quer também impedir que seja criada uma CPI governista, cuja abrangência atingiria adversários da presidente Dilma Rousseff, o próprio senador Aécio Neves e o pernambucano Eduardo Campos.

No Supremo, Aécio Neves defendeu que a CPI tem de ser instalada porque cumpriu todos os requisitos para isso. A matéria terá de ser distribuída a um ministro da Corte que irá relatá-la, por sorteio. Não há data prevista para isso.

- Estamos aqui em defesa da prerrogativa para fazer cumprir a Constituição e o regimento interno.

Todos os requisitos para instalação da CPI foram cumpridos. Queremos que se cumpra agora a garantia do direito sagrado das minorias - afirmou Aécio.

O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), líder do partido comandado pelo presidenciável Eduardo Campos, também estava no grupo que foi ao STF pela CPI da Petrobras.

- Não tenho dúvida de que o STF vai mandar instalar a CPI da Petrobras porque ela cumpre todos os requisitos necessários. Não cabe ao presidente do Senado consultar a CCJ, porque, se fosse assim, jamais a maioria governista deixaria que fosse instalada qualquer CPI contra o governo - pontuou Rollemberg.

Além de Aécio e Rollemberg, participaram do ato também os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR), Aloysio Nunes (PSDB-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF), José Agripino (DEM-RN), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e os deputados líderes da oposição.

Na semana passada, Renan Calheiros rejeitou pedido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para impedir a instalação da comissão proposta pela oposição, mas delegou a palavra final sobre sua decisão à CCJ e ao plenário do Senado. Renan também respondeu negativamente ao pedido do líder do PSDB, senador Aloysio Nunes (SP), para que fossem excluídos os adendos feitos por governistas nos objetos que serão investigados, como o cartel de trens em São Paulo e as obras do Porto de Suape, em Pernambuco, que atingem adversários da presidente Dilma Rousseff.

Tucano critica governo por retirar do Congresso suas prerrogativas

Agência Senado

BRASÍLIA (DF) – O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, após participar nesta terça-feira (8) da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) em que foi discutido o parecer do senador Romero Jucá (PMDB-RR) sobre a CPI da Petrobras, concedeu entrevista coletiva em que respondeu perguntas sobre o parecer, o mandado de segurança no STF e declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A seguir, a entrevista coletiva.

Sobre parecer do senador Romero Jucá mantendo decisão do presidente Renan Calheiros, que impede a criação da CPI da Petrobras e instala CPI da base governista, com temas distintos para dificultar as investigações.

Esse ato comandado pelo PT com os seus aliados é a maior violência que já assistimos no Parlamento brasileiro após o regime autoritário. Isso é algo que não pode ser aceito pela sociedade brasileira e nem pelo Supremo Tribunal Federal. A pretexto de ajudar o governo, hoje temos um governo no Brasil à beira de um ataque de nervos, o que os governistas estão fazendo? Retirando do Congresso Nacional uma prerrogativa básica da minoria essencial ao convívio democrático que é: desde que haja um fato determinado, portanto um fato grave, e daí a partir do alcance do número de assinaturas, apresentar um requerimento e aí, estabelecer uma investigação. No momento em que a maioria inclui a priori, na largada, inúmeros outros temas, sempre que houver o pedido de investigação sobre um fato determinado, a maioria vai encontrar espaço para apresentar dez, 15, 20, 30 outros temas. Com quais objetivos? Investigá-los? De forma alguma.

É uma hipocrisia o que estamos assistindo aqui. Seria melhor que a base do governo dissesse: não queremos investigação em relação à Petrobras porque não estamos preparados para ela. E usa a sua maioria objetivamente para nos derrotar. Dizer que querem outra investigação, podem fazê-la sobre quaisquer temas que queiram e têm maioria para isso. E já há uma jurisprudência no Supremo Tribunal Federal que permite que as Comissões Parlamentares de Inquérito possam funcionar simultaneamente. O que queremos é exercer o nosso mandato e atender a uma convocação ou reclamo da sociedade brasileira. Quem quer as investigações em relação às gravíssimas denúncias sobre a Petrobras não é a oposição apenas. São cidadãos brasileiros de todas as partes do país que estão indignados, envergonhados com isso que está acontecendo. Nos tirar o direito de fazer esta investigação é apequenar o Parlamento, e isso ninguém tem o direito de fazer.

Sobre mandado de segurança protocolado no Supremo Tribunal Federal.

Estamos nas mãos do Supremo. Aqui o governo tem maioria. E uma maioria disposta absolutamente a qualquer coisa, sem absolutamente nenhum constrangimento. A decisão do presidente Renan foi equivocada. A decisão do relator foi equivocada, porque vai na mesma linha.

O correto seria: cumpriram as exigências constitucionais, ambas as CPIs deveriam estar sendo instaladas. É assim que funciona o Parlamento. É triste ver o desapreço que esse governo tem pela democracia, pelo exercício da oposição. Dependemos agora do Supremo Tribunal Federal, que, acreditamos, em razão de uma jurisprudência já reiterada pelo próprio Supremo em outras manifestações na mesma direção, vai permitir que haja as investigações em relação à Petrobras. É isso que o Brasil quer e isso que vamos fazer.

Sobre declarações do ex-presidente Lula de que o PT “tem que ir para cima” contra investigações da Petrobras e que “não pague o pato” por denúncias envolvendo o vice-presidente da Câmara, deputado federal André Vargas (PT).

O conjunto, não apenas a palavra do ex-presidente – lamentável que seja um ex-presidente –, mas o conjunto da obra do PT nesse episódio é uma confissão de culpa clara. Eles não estão preparados, estão temerosos de aonde essas investigações possam ir. E não podemos nos acovardar em razão de não sermos aqui maioria. Por isso, fomos hoje ao Supremo Tribunal Federal e esperamos ansiosamente para que haja uma definição de uma liminar que permita a instalação da CPI da Petrobras, que, tenho dito, não pré-julga, não condena antecipadamente ninguém. Ela permite que as explicações venham, que a própria presidente da República possa esclarecer sua participação naquele negócio e que o governo possa, quem sabe, escolher entre tantas histórias, entre tantas justificativas, pelo menos uma. Ou foi um péssimo negócio em razão de não ter a presidente ou o conselho as informações necessárias, ou foi como disse recentemente o ministro Mantega um ótimo negócio, em função do mercado naquele momento. Nem essa convergência de justificativas o governo consegue. Nunca vi um governo bater tanto a cabeça e desprezar tanto a democracia, e, além disso, desrespeitar tanto a sociedade brasileira.

CPI e 'disputa política': O Estado de S. Paulo - Editorial

Fazendo o que o seu mestre Lula mandou - impedir a todo custo a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) proposta pela oposição sobre a compra da Refinaria de Pasadena, além de outros guardados dessa caixa-preta chamada Petrobrás -, a presidente Dilma Rousseff partiu para desafiar os seus adversários. Em mais um evento eleitoral disfarçado de ato administrativo, depois de ter dito que "o governo continuará governando (sic), mantendo o seu caráter republicano", avisou que "não iremos recuar um milímetro na disputa política quando aparecer".

Diante de uma plateia de prefeitos reunidos em Contagem, nas cercanias de Belo Horizonte, para aplaudir o anúncio de uma liberação de recursos e doação de equipamentos, a presidente afirmou ser comum em períodos de pré-campanha "que haja a utilização de todos os instrumentos possíveis para desgastar esse ou aquele governo". Lembrou - sem entrar em detalhes - que "já enfrentamos isso em 2006, na reeleição do Lula, e em 2010, na minha eleição". No momento, o instrumento de desgaste, para repetir o seu termo, é a CPI que o PT e a parcela do PMDB ainda aliada ao Planalto tentam abater, desfigurar ou, em último caso, tolher até ser ofuscada pela Copa e, afinal, esvaziada pela temporada oficial de caça ao voto.

Dado que parte desse festival de espertezas já está em cena e o resto espera a vez nos bastidores, o brado poderia parecer redundante. Parece tratar-se, no entanto, do primeiro movimento da operação que Lula lhe ordenou que desencadeasse para desmoralizar a iniciativa oposicionista perante os setores do eleitorado suscetíveis às jogadas marqueteiras do governo. A ideia seria desqualificar os proponentes da CPI como oportunistas, voltados exclusivamente para os seus interesses eleitorais. Além disso, acusá-los de forjar uma investigação supérflua - Pasadena já é alvo do Tribunal de Contas da União (TCU), do Ministério Público e da Polícia Federal - com o secreto intento de enfraquecer a Petrobrás e reabrir caminho para a sua privatização, se conseguissem voltar ao poder.

O que atrapalha é um fato impossível de varrer para debaixo do tapete. Ninguém mandou nem sugeriu a Dilma declarar - em nota ao Estado, em 17 de março - que, na presidência do Conselho de Administração da estatal, em 2006, aprovou a compra de metade da refinaria texana por um preço extravagante, porque se baseara apenas em um sumário executivo que se revelaria "técnica e juridicamente falho", por omitir que o contrato a ser firmado com a empresa proprietária da instalação continha cláusulas lesivas aos interesses da Petrobrás. Se delas tivesse tido conhecimento, escreveu Dilma, "seguramente" objetaria ao negócio.

Na empresa, a manifestação da presidente, a que se seguiria a demissão - oito anos depois do ocorrido - do autor do sumário, Nestor Cerveró, que vinha dirigindo a área financeira da BR Distribuidora, criou uma turbulência que só se agravou. Veio à tona nos últimos dias a existência de uma rede de relações espúrias envolvendo fornecedores de bens e prestadores de serviços à petroleira (muitas vezes contratados por uma via expressa aberta nos anos 1990 que contorna a Lei de Licitações); obras encarecidas e atrasadas; até doações a partidos políticos por indicação do megadoleiro Alberto Youssef, o qual, por sua vez, tem laços com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.

Nada, por enquanto, parece atingir diretamente a estatal, mas é inegável que o noticiário acerca de seus subterrâneos e arredores é um efeito colateral da nota de Dilma, com a qual - segundo um exasperado Lula - ela conseguiu trazer a crise de Pasadena para dentro do Planalto. Não foi uma conspiração da "direita". Ao que tudo indica, com o seu "eu não sabia" e o "se eu soubesse" a presidente teria tentado neutralizar desde logo o risco de o TCU enquadrar o seu endosso à transação de Pasadena como ato de "gestão temerária". Isto posto, esperava o que da oposição? Que perdesse a ocasião de desgastá-la, abrindo mão de um direito inalienável das minorias parlamentares? Tampouco elas podem "recuar um milímetro da disputa política".

Pasadena: Para líder do PPS, Dilma pode ter mentido sobre compra de refinaria

Por: Assessoria PPS

O líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), afirmou, nesta terça-feira, que os telegramas confidenciais da diplomacia americana obtidos pelo grupo Wikileaks têm potencial para desmontar a versão da presidente Dilma Rousseff (PT) sobre a compra da refinaria de Pasadena.

Ao contrário da alegação do Planalto, os documentos indicam que Dilma, na época ministra da Casa Civil, tinha pleno conhecimento do negócio e chegou a se reunir, em junto de 2006, com o secretário de Comércio do governo de George W. Bush para tratar do assunto.

O caso foi revelado nesta terça-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo e mostra detalhes das tratativas entre autoridades americanas e brasileiras em torno da compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena, uma negócio que trouxe um prejuízo de US$ 1,6 bilhão para a estatal.

“Um ministro de Estado não iria se reunir com um secretário de Comércio de outro país sem ter todos os detalhes em torno do negócio. E esse encontro aconteceu antes da fatídica reunião do Conselho de Administração da Petrobras que decidiu pela compra de Pasadena. Ou seja, a versão de que Dilma tinha poucos elementos e votou pela compra baseada em um resumo executivo falho se enfraquece ainda mais. Me parece que a presidente mentiu”, afirmou o líder do PPS, para quem só a instalação de uma CPI Mista da Petrobras pode esclarecer os fatos.

Puxada por alimentos, inflação sobe para 0,92% em março

Seca pressionou oferta de produtos. Alta do tomate chegou a 32,85%. No acumulado em 12 meses, IPCA já avança para 6,15%

Clarice Spitz e Luciano Abreu - O Globo

RIO - A seca que atinge o país está pressionando os preços dos alimentos, e os aumentos já aparecem na inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,92% em março, após alta de 0,69% em fevereiro, informou nesta quarta-feira pelo IBGE. É o maior desde dezembro e o mais alto para meses de março desde 2003.

O resultado ficou acima da mediana de expectativas de 31 analistas de mercado da agência Bloomberg, que era de 0,85%. Em março do ano passado, o índice apresentou variação de 0,47%. No acumulado do ano, houve aumento de 2,18%. Em 12 meses, o IPCA avança 6,15%.

O grupo de Alimentação e bebidas subiu 1,92%, após ter tido alta de 0,56% em fevereiro. Sozinho, o grupo foi responsável por 51% de todo o IPCA do mês. Em segundo lugar veio o grupo Transporte, com alta de 1,38%, com impacto de 0,26 ponto percentual.

A seca que atingiu as lavouras prejudicou a oferta de alimentos, segundo o IBGE. O tomate ficou 32,85% mais caro. A batata inglesa subiu 35,85%. O feijão carioca teve alta de 11,81%. No grupo transportes, as passagens aéreas subiram 26,49%, contra recuo de 20,55% no mês anterior. Esse item foi responsável por 0,12 ponto percentual do IPCA.

O grupo Vestuário passou de -0,40% para 0,31%. No grupo Habitação, que desacelerou de 0,77% para 0,33%, houve contribuição do item conta de energia elétrica que caiu 0,87%, como reflexo da redução de PIS/Pasep e Cofins em algumas das regiões pesquisadas. O índice de serviços teve desaceleração de 1,24% em fevereiro para 1,09%, em março. Em 12 meses, sobe 9,09%.

O índice abrange as famílias em áreas urbanas cujos rendimentos estão entre um a 40 salários-mínimos. A coleta ocorre nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Vitória e Porto Alegre, Brasília e municípios de Goiânia e Campo Grande.

O IPCA é o índice oficial de inflação do país utilizado pelo Banco Central (BC) para verificar o cumprimento do sistema de metas de inflação. Segundo o boletim Focus divulgado nesta última segunda-feira, através do qual o BC consulta economistas e instituições financeiras, a expectativa é de que o índice fique em 6,35% em 2014, ante 6,30% na pesquisa anterior.

INPC sobe para 0,82%
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) apresentou alta de 0,82% em março. Em fevereiro, a variação havia sido de 0,63%. Em março de 2013, o indicador avançara 0,60%.

No primeiro trimestre, o indicador registrou aumento de 2,10% e, em 12 meses, subiu 5,62%. O INPC mede a inflação nas famílias com rendimentos mensais de 1 um e cinco salários-mínimos de quem vive nas mesmas regiões pesquisadas no IPCA.

FMI reduz perspectiva de crescimento do Brasil em 2014 para 1,8%

No relatório anterior, órgão previa crescimento da economia de 2,3%; projeção para 2015 também foi reduzida

Reuters

WASHINGTON - O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu nesta terça-feira, 8, sua projeção de crescimento econômico para o Brasil em 2014 a 1,8%, ante 2,3% previstos no início do ano.

No relatório "Perspectiva Econômica Global", o FMI ainda revisou para baixo sua perspectiva sobre a atividade econômica brasileira para 2015, a 2,7%, ante 2,9% em janeiro de acordo com números atualizados.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro surpreendeu ao crescer 0,7% no quarto trimestre de 2013 na comparação com os três meses anteriores, e encerrou o ano de 2013 com expansão de 2,3%.
No entanto, a avaliação dos agentes econômicos e dentro do próprio governo, que vê "recuperação gradual", é de que este ano a atividade perca força. Pesquisa Focus do Banco Central aponta que a expectativa de especialistas é de expansão de 1,63% neste ano e de 2% em 2015.

Segundo o FMI, a economia brasileira está sendo afetada pelas restrições de oferta no mercado interno, especialmente em infraestrutura, e pelo contínuo fraco crescimento do investimento privado. Também pesa a "perda de competitividade e a baixa confiança empresarial".

Inflação. O FMI também chamou a atenção para a inflação no país, que tem se mantido elevada e próxima do teto da meta oficial, de 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.

O organismo internacional calculou que a inflação ao consumidor do país fechará este ano em 5,9% e em 5,5% em 2015. Na quarta-feira, será divulgado o IPCA de março e as expectativas são de aceleração, chegando em 12 meses a 6,08%.

O FMI também projetou que o déficit em conta corrente do Brasil ficará em 3,6 por cento do PIB em 2014 e em 3,7 por cento em 2015.

Países ricos. O FMI projetou que a recuperação global vai se fortalecer este ano conforme a produção em economias avançadas se recupera, mas alertou para riscos crescentes em economias emergentes. O Fundo disse que políticas melhores são necessárias para elevar a capacidade produtiva mundial e evitar um período prolongado de crescimento lento.

A produção global deve se expandir 3,6% em 2014, levemente abaixo do que o previsto em janeiro, e crescer 3,9% no ano que vem.

Sem oposição, CCJ do Senado aprova CPI 'ampliada', ‘do fim do mundo’

Proposta pela base do governo, Comissão de Inquérito propõe investigar casos que envolvem o PSDB de Aécio Neves e o PSB de Eduardo Campos, ambos pré-candidatos à Presidência

Ricardo Brito e Débora Álvares - Agência Estado

BRASÍLIA - Sob protestos da oposição, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta manhã, em votação simbólica, a proposta de se instalar a CPI "ampliada" da Petrobrás. Os oposicionistas fizeram questão de não participar da votação do parecer do senador Romero Jucá (PMDB-RR), favorável a investigar a estatal e ao mesmo tempo casos que envolvem o PSDB de Aécio Neves e o PSB de Eduardo Campos. Essa decisão deve ser analisada esta tarde pelo plenário do Senado.

Desde terça-feira, quando iniciou a discussão na CCJ, os oposicionistas criticam a ação da base aliada de não permitir a instalação da CPI do Senado para investigar exclusivamente as suspeitas que pairam contra a Petrobrás. O principal foco da oposição era investigar a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Conforme o Estado revelou, a presidente Dilma Rousseff, que na ocasião presidia o Conselho de Administração da Petrobrás, votou a favor da operação, mas alegou ter tomado a medida embasada em um resumo "falho" e "incompleto".

Numa reação, os governistas propuseram na semana passada uma CPI "combo", para investigar Petrobrás e também irregularidades no metrô de São Paulo e do Distrito Federal, além do porto de Suape, em Pernambuco. Sem querer arcar com o ônus de barrar a CPI, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mandou sua decisão para ser analisada pela CCJ.

Na sessão desta quarta da CCJ, o debate entre base e oposição foi acalorado. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), defendeu a proposta de se incluir outros assuntos no requerimento de criação da CPI da Petrobrás. "O que estamos travando aqui é um debate eminentemente político. A oposição quer fazer uma CPI da Petrobrás para transformar um palanque. Vamos para a CPI, mas vamos investigar tudo", afirmou.

O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), chamou a CPI proposta pela base aliada de "chapa branca" e "diversionista". O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que a base aliada, maioria no Senado, não está respeitando o direito das minorias. "O que se está fazendo aqui é, na prática, um estupro ao que diz a Constituição", criticou Randolfe.

STF. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) anunciou durante a sessão que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal para impedir que o Senado instale a CPI da Petrobrás proposta pela oposição. Adotando a mesma tática dos oposicionistas, que na terça entraram com mandado de segurança questionando a CPI "ampliada" da base aliada, Gleisi disse que é preciso ter coerência.

"Quero dizer a esta comissão que, assim como a oposição, apresentaremos também um mandado de segurança ao Supremo Tribunal Federal com base nos mesmos argumentos para que se conceda uma liminar para que se suspenda a instalação da CPI por não atendimento da determinação e conexão dos fatos", afirmou.

A afirmação de Gleisi deu início a um bate-boca com Aloysio Nunes, que disse à senadora que ela "está no mundo da lua". "A senhora não quer CPI e ponto final", disse o tucano em reação à afirmação da petista de que "falta coerência à oposição". Gleisi rebateu dizendo que os tucanos têm que explicar os motivos pelos quais não permitiam a criação de CPIs durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Ex-ministra da Casa Civil de Dilma, Gleisi tem tomado a frente na defesa dos interesses do governo. Na semana passada, após a oposição protocolar o requerimento que pede a instalação de uma CPI exclusiva da Petrobrás, a senadora colocou uma questão de ordem, alegando que os objetos propostos são desconexos e, portanto, a comissão seria inconstitucional. São quatro os objetos propostos nessa CPI, todos referentes à estatal.

A oposição, que entrou com recurso na terça no Supremo, espera uma decisão favorável para instalar a CPI que tratará apenas da estatal.

Eleição ‘precificada’ e o paradoxo Dilma

Julia Duailibi – O Estado de S. Paulo

O mercado financeiro começou a “precificar” uma probabilidade maior de derrota da presidente Dilma Rousseff (PT) na eleição de outubro. Relatórios de bancos e consultorias enviados a clientes ontem e hoje, na esteira da divulgação das pesquisas Ibope e Datafolha, já ponderam um cenário de vitória da oposição, embora ainda coloquem a petista como favorita.

Aliada a outros fatores, como ação do Banco Central no mercado vendendo dólares, essa avaliação impactou o câmbio e, principalmente, o preço das ações das estatais. Ontem, após divulgação do Datafolha no final de semana, a bolsa fechou com alta de 2%, e o dólar recuou para o menor patamar em cinco meses, com queda de 1,2% - hoje o dólar segue em queda acompanhando o mercado internacional.

O banco de investimentos Brasil Plural calculou a probabilidade que os investidores dão ao cenário de vitória de Dilma em outubro. “Nós estimamos que o preço da ação da Petrobras está baseado numa probabilidade de 75% de Dilma vencer a eleição de outubro”, afirmaram analistas em relatório enviado ao mercado hoje, no qual dão peso de 25% ao cenário de derrota. O papel da Petrobras, que hoje vale R$ 15, passaria a R$ 29 se Dilma perder a eleição. Em caso de vitória, estimam, cairia para R$ 12 – há pouco ações da Petrobras começaram a cair, após declarações de Lula de que o PT tem de defender a empresa com “unhas e dentes“.

Desde meados de março, quando começaram os rumores de que o governo Dilma perderia popularidade, ações de estatais dispararam: Petrobras, Eletrobrás e Banco do Brasil valorizaram cerca de 35%, 33% e 30%, respectivamente. De acordo com um paper do Citi divulgado hoje, uma das razões que levaram à valorização dessas ações nas últimas três semanas foram “as pesquisas eleitorais mostrando um crescimento da chance de mudança de governo”.

“O mercado estava precificando a zero a chance de alternância de poder, mas agora está precificando uma boa probabilidade”, diz um economista de um banco estrangeiro ao explicar a movimentação da Bolsa e do dólar nos últimos dias. Os investidores ajustaram suas posições a essa probabilidade, ainda que pequena.

E é aí que ocorre um paradoxo. O mau humor do mercado com Dilma influencia positivamente a Bolsa e o dólar, quando ela cai nas pesquisas. Mas Ibovespa alto e dólar baixo ajudam quem? O candidato governista, ou seja, Dilma. Uma eventual melhora no ambiente econômico, principalmente na inflação, amparada pela queda do dólar, tem reflexo direto na popularidade da presidente. “O dólar baixo pode eleger Dilma”, comenta um economista de um fundo de investimento. Para qualquer candidato governista, é muito melhor enfrentar uma campanha com o Ibovespa nas alturas e o dólar no subsolo, do que o contrário. Que o diga José Serra, candidato do governo Fernando Henrique Cardoso, na eleição de 2002.

Naquela disputa, os sinais eram invertidos. A cada avanço da oposição, capitaneada por Lula, o mercado tremia, ajudando a contaminar ainda mais o ambiente econômico, que já sofria com os efeitos de uma crise financeira internacional. “Começou uma espécie de especulação pré eleição, mas, ao contrário de 2002, ela é positiva à medida que a situação do atual governo piora”, afirmou o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências, em reportagem publicada no Estado hoje.

Com os candidatos de oposição ainda desconhecidos, o mercado baseia seu otimismo na queda da aprovação do governo – mais do que no índice de intenção de voto. “A essa altura esses números (de intenção de voto) são menos importantes para fazer um prognóstico da eleição que o índice de aprovação da presidente”, avaliou em relatório ontem a Eurasia, consultoria em risco político.

Há uma semana o banco de investimento Morgan Stanley soltou breves perfis elogiosos de Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). No caso do tucano, destacaram como fator positivo a proximidade com Arminio Fraga, presidente do Banco Central no governo FHC e um “crítico da política econômica atual”. Ao apresentar Campos, colocaram como uma qualidade do pré-candidato declarações “simpáticas ao mercado”, entre as quais a defesa da independência do Banco Central e as críticas à influência política na Eletrobrás e Petrobras.

Semelhanças - Se por um lado o mercado age de maneira diferente na eleição deste ano, as disputas de 2002 e 2014 guardam algumas semelhanças. Talvez a mais visível delas seja o sentimento de mudança. De acordo com o Datafolha, 72% dos eleitores querem que o futuro presidente atue de maneira distinta da de Dilma. O cenário era parecido há doze anos, quando o oposicionista Lula enfrentou o governista Serra. Tanto que, à época, o tucano adotou o slogan “continuidade sem continuísmo”.

Agora o presidente do PT, Rui Falcão, recicla a ideia ao lançar o “continuidade com mudança” ou “mudança com continuidade”. No começo de 2014, as pesquisas mostram que o eleitor ainda acha que Lula ou Dilma são mais indicados para promoverem as mudanças que Aécio Neves ou Eduardo Campos. Mas isso tende a mudar, com maior ou menor intensidade, conforme o eleitor conhecer as demais candidaturas.

Em 2002, a retórica eleitoral governista naufragou. Em 2014, caberá a João Santana, para desgosto do mercado financeiro, fazer essa máxima de Falcão colar.

Rosângela Bittar: Mudar para viver

Há 48 horas Lula e Dilma exterminam sofás e mensageiros

 - Valor Econômico

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, com entrevista por ele armada, uma intervenção geral no governo, no PT e na campanha eleitoral, acertada no sábado com a presidente Dilma Rousseff. Uma tentativa de redirecionar os fatos negativos que solapam a popularidade da candidata à reeleição, do partido e a sua própria, dificultando-lhe a vida quando vier a assumir a troca de posição.

Seus recados principais: O candidato do PT a presidente não é ele, é ela (diz-se que Dilma está a cada dia mais resistente à ideia da renúncia, poderia ter dito Lula); é preciso enterrar a CPI da Petrobras, pois quem gosta de CPI é oposição (e esta pegaria os negócios da Petrobras em seus dois governos, inclusive os feitos com Hugo Chávez, poderia também ter dito); o governo tem que retomar com vigor o projeto de controle da mídia (já histórica pressão do PT sobre a imprensa, campanha antes liderada pelo defenestrado deputado André Vargas, que ganha peso na voz de Lula).

Com outras palavras, Dilma vocalizou o combinado em discurso em Minas Gerais, na véspera. Teve, pelo menos, a precedência. A estratégia toda ao melhor estilo dos ditos populares, de matar o mensageiro da má notícia, de tirar o sofá da sala.

Uma ação orquestrada pelo marketing, uma reação à crise grave, que se amplia a cada dia, por intermédio do discurso. Tudo o que os manuais políticos diriam que não funciona na instabilidade política provocada por fatos, principalmente fatos. E pela reação a eles dentro do próprio governo e dos partidos divididos sobre como sair do impasse.

A última pesquisa de intenção de voto e aprovação do governo, do Datafolha, acusou queda dos índices da presidente candidata à reeleição e foi isso que fez soar o alarme que moveu criador e criatura. A pesquisa revelou que os adversários da presidente não ganharam o que ela perdeu, mas 72% dos eleitores consultados disseram querer mudanças. Só a primeira parte foi considerada por Lula, Dilma e o PT. A segunda constatação, aparentemente contraditória com a primeira, não mereceu conveniente atenção.

O cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, especialista em leitura de pesquisas de opinião, recorre a uma comparação didática entre produtos de consumo e mercado eleitoral para explicar sobre o que falam os três quartos do eleitorado que desejam mudança e porque não sobem os índices dos que a representam.

Diz que, no mercado, quem comanda o processo é a demanda. Faz um paralelo: na abertura econômica dos anos 90, os consumidores brasileiros estavam em absoluta maioria insatisfeitos com os automóveis disponíveis, os tradicionais de todos conhecidos, chamados de "carroças" nos palanques. Queriam mudança do padrão.

A demanda, portanto, era por mudança, e não por uma marca específica de automóvel, que o consumidor sequer conhecia ainda. O mercado se abriu, as marcas novas se apresentaram, o mercado percebeu a nova oferta e passou a consumi-la.

Voltando ao outro segmento do paralelo, retoma-se o Datafolha. Ou o sentimento de mudança, expresso por 72% do eleitorado, cede lugar ao de continuidade (é difícil, mas não impossível) ou a cada pesquisa as intenções de voto nos oponentes de Dilma marcharão ao encontro da demanda por mudança (mais lentamente agora, mais rapidamente na campanha eleitoral aguda).

Voltando às carroças: as marcas tradicionais continuaram a existir, algumas permaneceram na liderança, mas tiveram que fazer alterações objetivas nos seus produtos.

Para Dilma, não resolve mudar o marketing, é preciso mudar o governo. Para Lula, também, não basta retomar o discurso de outras campanhas, é preciso conseguir que Dilma faça a mudança que três quartos do eleitorado pedem. Senão, nem sua própria candidatura, quando se apresentar, se a avaliação em junho mostrar que Dilma continua mal na aceitação do eleitorado, ficará incólume. Lula, portanto, esta cuidando da própria pele quando executa um script como o de ontem.

Da mesma maneira que Lula afirma que CPI serve apenas à oposição e não a governos (esquecendo-se que foi ele próprio quem acionou a turbina da inútil CPI do Cachoeira para concorrer com o julgamento do mensalão), cartas aos brasileiros também se prestam a quem está na oposição, não em governo. O que Lula e Dilma estão fazendo, há 48 horas, é declaração de intenção, é transferência de culpa, é marketing.

Resta à presidente mudar o governo para diminuir a demanda por mudança na eleição. Em algum momento, se não o fizer, seus adversários, quando conhecidos, passarão a ser alternativa.

Também se pode constatar alguns mitos permitidos por leitura superficial dos números: a troca de Eduardo Campos por Marina, na chapa do PSB, é um desejo do PT, para instalar também entre os adversários o desconforto da divisão e da indefinição do candidato. Como fato, porém, está fora de cogitação. Marina cresceu mais, Campos menos, mas cresceu. Entretanto, não há dúvida que ela está batendo no teto do recall e do eleitorado cativo, e ele tem campo indefinido para crescer. Na perspectiva da política, acredita-se que a inversão só fará a chapa estacionar definitivamente nos índices obtidos por Marina, uma candidata que restringe seu eleitorado, não o contrário.

E os dois cresceram à revelia do breve contra a luxúria eleitoral representado pela cena da propaganda do partido, em que ambos conversam em um cenário pastel, tensos e de cara amarrada, sobre o tema do desenvolvimento sustentável.

Ideia do marqueteiro argentino dos socialistas, amigo do marqueteiro argentino do candidato do PSDB, Aécio Neves? Talvez, eles trocam figurinhas, dizem no interior das campanhas. Mas seguramente, até pelo perfil do personagem principal, as inserções de Aécio, proximamente no ar, terão mais cor e apelo eleitoral.

Uma razão de a presidente Dilma ter puxado para si a crise dos negócios mal feitos da Petrobras, ao redigir nota em que justifica ter assinado a proposta com desconhecimento de suas cláusulas, pode estar no andamento do processo no Tribunal de Contas da União. Culpar apenas um diretor e livrar a si e ao Conselho Diretor da responsabilidade é antídoto à tomada de depoimento e punições que podem vir do TCU no momento em que declarar o negócio lesivo aos cofres públicos. Como apontou o dedo da presidente, na mira só pode ficar Nestor Cerveró. No máximo coadjuvado por Sérgio Gabrielli.

Elio Gaspari: Vem, Lula

Uma eleição presidencial com Nosso Guia na disputa faria bem a todo mundo, inclusive a ele

- O Globo

Quem viu a final do vôlei masculino das Olimpíadas de Londres há de se lembrar. O Brasil ganhara dois sets e faltava só fechar um ponto para levar o ouro, quando o técnico russo botou Dmitry Muserskiy (2,1 metros) na quadra. Resultado: a Rússia fez o ponto, levou os dois sets seguintes e ficou com o ouro. Se o PT achar que a reeleição de Dilma corre perigo, deixará Lula no banco para agradar a seus adversários?

Tudo ficaria melhor se Lula saísse como candidato a presidente. Por cinco razões:

1) Porque é maior de idade e está no exercício de seus direitos políticos.

2) Porque o “Volta Lula” vem enfraquecendo o governo do poste que ele ajudou a botar no Planalto.

3) Porque uma parte do desgaste que está corroendo a doutora Dilma é dele e foi-lhe jogado no colo. Afinal, o mensalão e as petrorroubalheiras nasceram na sua administração.

4) Porque a outra parte do desgaste da doutora está associada ao mito da gerentona, criado por ele. Afinal, é a “Mãe do PAC”.

5) Porque a transformação do PT num aparelho arrecadador de fundos teve o seu permanente beneplácito, tanto durante os oito anos em que esteve na Presidência, como depois. O deputado André Vargas não é um ponto fora da curva, mas uma luzinha dentro da estrela vermelha.

As urnas decidirão se o PT deve receber um novo mandato presidencial. Quatro anos de Dilma mostraram que o poder é mais do partido do que do ocupante do Planalto. Isso não deriva de qualquer malignidade intrínseca do comissariado, mas do fato que ele é o único partido organizado do país. Se os outros não se organizaram e o máximo que fazem é combinar jantares, o problema é deles. Vitorioso, o PT terá 16 anos ininterruptos de poder. Isso jamais aconteceu na História brasileira e não fará diferença se esse mandato for exercido por Lula ou Dilma. Pelo contrário, para o bem ou para o mal, ele representa melhor a estrela que fundou do que ela, uma convertida tardia.

A entrada de Lula na disputa daria maior clareza à escolha. Se ele é um político prestigiado, com 37% dos entrevistados pelo Datafolha dispostos a votar em quem tiver seu apoio, torcer para que fique no banco de reservas é uma ilusão.

Chegou-se a abril e os dois candidatos da oposição produziram apenas listas de celebridades e palavrório. Sabe-se mais das diferenças entre os prováveis candidatos republicanos para a eleição americana de 2016 do que das plataformas de Aécio Neves e Eduardo Campos.

Há pouco a Câmara aprovou uma medida provisória com centenas de contrabandos. Entre eles, mais uma estia para sonegadores de impostos e um mimo para os planos de saúde que não cumprem os contratos que vendem aos clientes. Isso só foi conseguido por um acordo de lideranças parlamentares, com o apoio das bancadas oposicionistas.

Nas três últimas eleições presidenciais os candidatos tucanos escondiam Fernando Henrique Cardoso, sem explicar por quê. Agora, Aécio Neves e Eduardo Campos escondem que fazem oposição a Lula. Talvez acreditem que só devem falar claro às vésperas da eleição, seguindo protocolos estabelecidos pelos marqueteiros. Nas eleições anteriores fizeram isso e, derrotados, procuraram culpar essa nova modalidade de astrólogos.

Dora Kramer: Antiga forma

Lula entra em cena para tentar pôr Dilma e PT no caminho da ofensiva

- O Estado de S. Paulo

Falar de assuntos espinhosos de maneira direta e transparente não é com ele.

Portanto, não seria de esperar mesmo que o ex-presidente Luiz Inácio da Silva abordasse o tema Petrobrás da perspectiva dos negócios nebulosos feitos pela estatal no governo dele e que agora estão sob a mira do Ministério Público, Polícia Federal, Tribunal de Contas e Congresso Nacional, na entrevista dada ontem a um grupo de blogueiros.

Lula passou ao largo das dificuldades objetivas que o governo enfrenta para se concentrar na exposição dos detalhes de uma agenda que permita ao PT e ao Planalto sair pela tangente na superação dos obstáculos.

Falou basicamente para a militância, ressuscitando teses caras ao partido, como o controle social dos meios de comunicação, vocalizando o discurso da altivez petista - "não podemos baixar a cabeça" - seguindo o lema "nós" contra "eles".

Inspirado na própria experiência de 2005/2006, quando saiu da defensiva em que seu governo foi jogado devido ao escândalo do mensalão e partiu para a ofensiva que o levou à reeleição, Lula aconselhou o PT a "ir pra cima" dos adversários para evitar a CPI da Petrobrás.

Sabe como são essas coisas. Lembrou ao partido que a CPI do Mensalão começou com uma investigação sobre "pagamento de propina de R$ 3 mil (nos Correios) e acabou no PT". Quer dizer, o problema foi que os petistas não abafaram o caso a tempo e a hora.

O presidente anunciou que não será candidato. Isso na abertura da entrevista. No fim, já não apresentava a mesma convicção, afirmando que só o "futuro" pode responder a perguntas hipotéticas. Lula atende, assim, a três objetivos: de um lado aparentemente reforça a presidente Dilma Rousseff, de outro não mata de todo as esperanças dos que o querem de volta na disputa agora e ainda mantém a oposição tensa.

Inclusive porque deu um aviso aos navegantes: pôs fim à sua fase de silêncio e vai começar a dar palpites em público até para a presidente ("acho que assim posso ajudar na eleição"), vai viajar com Dilma e vai voltar a falar sem parar.

Evidentemente, sempre dentro de uma ótica própria que não necessariamente guarda relação com a realidade. Como a versão apresentada ontem para o aumento da percepção negativa sobre o governo Dilma.

Não tendo como negar os números das pesquisas, depoimentos de gente que recebe no Instituto Lula e reclamações de petistas, o ex-presidente elegeu um responsável pelo mau humor generalizado: o mensageiro.

Segundo ele, "a massa feroz de informação deformada" produzida pelos meios de comunicação é responsável pelas agruras em série que assolam o governo. Para isso, recomenda dois remédios.

De imediato, "uma política agressiva de comunicação, com a ocupação de todos os espaços". Como se o governo ocupasse poucos. Mais adiante, a retomada do debate sobre o marco regulatório, também conhecido como controle social da mídia, em português claro traduzido como fiscalização governamental do conteúdo produzido por jornais, revistas, rádios e televisões.

Esses temas, Dilma como presidente não pode defender, mas Lula como cabo eleitoral, comandante em chefe do PT, pode.

Da mesma forma, ela não poderia - sem gerar uma crise com o Congresso - voltar a defender a Constituinte exclusiva. Mas Lula pode. Como fez na entrevista, ao defender as teses caras ao PT na reforma política, a começar pelo financiamento público de campanha.

Mensalão tampouco é assunto que interesse à presidente abordar. Mas Lula o faz na maior sem cerimônia dizendo que a "verdadeira história" ainda está para ser contada, sem dar pista sobre o tom da nova narrativa.

O ex-presidente esquivou-se de críticas mais pesadas ao Supremo Tribunal Federal. Limitou-se a trafegar no terreno do politicamente incorreto ao dizer a razão pela qual indicou o ministro Joaquim Barbosa: "Eu queria um advogado negro e o currículo dele era o melhor".

Corre o risco de Joaquim achar que é racismo.

Merval Pereira: Lula e a presidente

- O Globo

Acredito que o ex-presidente Lula esteja falando a verdade quando garante que não pretende se candidatar novamente à Presidência da República. O que não quer dizer que não venha a sê-lo. Nada mais verdadeiro, embora trivial, do que a comparação da política com uma nuvem que vai mudando de forma à medida que passa, feita pelo ex-governador mineiro Magalhães Pinto, muito em voga nos últimos dias devido ao seu papel no golpe militar de 1964.

Em política, o fato novo é capaz de provocar reações para que não se torne fato consumado. São tão grandes os interesses petistas, alguns até mesmo inconfessáveis, que, se a presidente Dilma continuar a cair nas pesquisas eleitorais, as pressões podem se tornar insuportáveis para que Lula entre em campo novamente para salvar o time.

Não foi assim que o ministro Gilberto Carvalho, o mais lulista dos lulistas no Palácio do Planalto, classificou Lula, o reserva de luxo que está no banco pronto para entrar em caso de necessidade? Mas será possível um jogador ganhar sozinho um jogo perdido, a poucos minutos de seu final, mesmo que seja considerado o Pelé da política?

O próprio Pelé sabiamente se recusou a esse papel quando, no governo Geisel, foi instado por assessores palacianos a voltar à seleção brasileira para jogar a Copa de 1974. Preferiu se preservar para manter a memória dos dias de glória.

Sim, porque, se Lula for escalado, é porque o jogo já está dado por perdido. O fogo amigo vem de vários lados. Uns já falam em uma chapa que teria Lula na cabeça e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos como vice.

Outros dizem que a própria Dilma aceitaria de bom agrado não sair para a reeleição, caso Lula queira disputar, sob o argumento de que esse rodízio já estava previsto no acordo que a lançou candidata. Realmente, seria preciso que Dilma concordasse em abrir mão de sua candidatura para que a transição fosse feita de forma pacífica, sem crise política, que enterraria até mesmo a candidatura de Lula.

Mas como explicar para o eleitorado a súbita mudança de posição? Ter um acordo desse tipo sem anunciar à população na ocasião mesma em que Dilma foi lançada presidente não será sentido por muitos como uma traição, um jogo político que aparta o eleitor das decisões?

Qual será o comportamento da presidente Dilma, ainda no Palácio do Planalto, com a caneta na mão, mas sem prestígio político, obrigada a abrir mão de seu direito à reeleição, mesmo para perder?

Há quem acredite que o ex-presidente Lula está agindo na vida real como o vice-presidente Frank Underwood no seriado “House of Cards”: oficialmente, elogia e defende o presidente Garrett Walker, para nos bastidores minar suas forças políticas e tomar o seu lugar. Não creio que seja assim.

Lula está na melhor situação que poderia ter. Não tem os problemas de um presidente, mas todas as suas regalias. Manda e desmanda, nomeia e demite quem quiser, é recebido no mundo todo com honras de chefe de Estado. Além do mais, essa condição, reconhecida por todos, coloca a responsabilidade do governo Dilma em suas mãos.

Difícil não atribuir a Lula grande parte do desarranjo por que passa o governo, no mínimo por ter sido o responsável por Dilma estar onde está. Mesmo que a presidente Dilma não faça tudo que Lula sugere, as constantes reuniões de aconselhamento que dá à presidente o fazem coautor de seus atos, mesmos os que critica.

Lula vai querer arriscar seu prestígio em uma eleição difícil ou, pior ainda, um governo difícil, que terá que apertar o cinto logo no início para não ser levado de cambulhada por uma crise econômica anunciada? Melhor tentar salvar Dilma e, caso seja impossível, preservar-se para poder voltar em 2018, se for o caso, depois que o trabalho sujo tiver sido feito pelo candidato eleito este ano.