Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
terça-feira, 13 de abril de 2021
Merval Pereira - Supremo sob pressão
Carlos Andreazza - Pachequismo parlamentar
Bolsonaro
terminara a quinta, 7 de abril, abatido. Roberto Barroso havia, pouco antes,
ordenado ao Senado que instalasse CPI cujo objeto consiste em investigar as
omissões do governo federal no enfrentamento à peste.
Uma
nota: Barroso — que não raro se excede para interferir no Legislativo — não
mandara abrir, de ofício, uma CPI; mas tão somente reagira a uma provocação, um
mandado de segurança, que invocava a Constituição por um direito das minorias
parlamentares. O ministro acertara. Lastreada em jurisprudência do tribunal, a
liminar era incontornável e vinha em defesa da democracia representativa. Uma
vez cumpridos os requisitos formais, havendo um terço de assinantes entre os
senadores, fato determinado e prazo definido, não caberia ao presidente do Senado
outro ato senão criar a comissão. Ponto final. Era, pois, o procrastinador
Rodrigo Pacheco, comportando-se como um general-ramos de Bolsonaro, a faltar
com a responsabilidade institucional — tocado a ser chefe de Poder pela vara do
Supremo.
E,
então, o abatimento de Bolsonaro na quinta: produto de seu isolamento,
aprofundado pela decisão do ministro. No mundo real: está fraco, dependente de
Valdemar da Costa Neto e de pachequismos no Congresso.
Na
sexta-feira, porém, o presidente mudaria — subiria — o tom; artificialmente,
conforme o padrão, para alimentar sua base de apoio sectária. Barroso — a
rigor, o STF como instituição a ser corroída — voltava a ser o inimigo. Inimigo
imaginário. Inimigo imaginário e secundário, aquele contra quem batalhar na
guerra — a principal — contra os tiranos governadores, os corruptos cerceadores
da liberdade e semeadores da pobreza.
Por
que não investigá-los também — incluí-los — na CPI?
Ali, Bolsonaro soprava o apito que ditaria o comportamento dos seus no curso do fim de semana. Haveria uma “jogada casada” entre STF e a “bancada de esquerda no Senado” — o establishment operando — para derrubá-lo (preservando os tucanos e comunistas). Não apenas. O presidente daria outra senha: era hora de retomar a carga pelo impeachment de ministros do Supremo; cobrou “coragem moral” de Barroso para determinar a abertura de processos dessa natureza.
Míriam Leitão - O governo em grande confusão
No
governo, a situação é completamente confusa, quando se trata de Orçamento. Para
citar três exemplos, a peça que foi aprovada corta todo o dinheiro da área de
tecnologia do Banco Central. Se esse gasto não for recomposto, não tem como
rodar o Pix. Foi cortado todo o dinheiro do Pronaf, se não corrigir isso, não
haverá financiamento da agricultura familiar. O Plano Safra foi reduzido à
metade. Em qualquer órgão que se vá, é o que se ouve. Fala-se em shutdown. Nesse
clima, o Senado instala hoje uma CPI para investigar ações e omissões do
governo federal na gestão da pandemia que espalhou a morte pelo país. Os fios
desencapados estão todos se juntando.
A CPI será instalada num momento de tensão entre governo e Congresso por causa do Orçamento, e ele só pode ser resolvido com um remédio que aumentará o conflito entre os dois poderes: vetando emendas parlamentares e mandando um projeto de lei. Ontem, o Ministério da Economia ensaiava mandar uma PEC tirando despesas do teto. Mesmo assim será necessário explicar bem essa PEC fura-teto para não parecer mais uma manobra criativa.
Da perplexidade ao desprezo – Opinião / Editorial | O Estado de S. Paulo
Hoje, contudo, ninguém fica mais perplexo com as grosserias de Bolsonaro. E o povo, conforme atestam as pesquisas de opinião, quer cada vez mais distância do presidente, pois a conduta indecorosa de Bolsonaro constrange os brasileiros decentes. Cansados das obscenidades de Bolsonaro, esses cidadãos – a maioria da população – certamente lhe reservam agora o mais olímpico desprezo.
Eliane Cantanhêde – As mortes e a limonada
Bolsonaro tenta fazer, do limão, da CPI e das mortes, uma limonada
O
ambiente está como o diabo e o presidente Jair
Bolsonaro gostam: uma verdadeira bagunça, com a pandemia fora
de controle, as mortes disparando e as vacinas e leitos acabando, mas
todas as atenções de Executivo, Legislativo e Judiciário estão na CPI da Covid no
Senado. Em vez de discutir e agir contra a pandemia, Brasília faz o que
Bolsonaro quer: esquece a covid para privilegiar a guerra política.
Em
conversa gravada com o curioso senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Bolsonaro resumiu sua estratégia: fazer do limão uma limonada.
Finge que não tem nada a ver com pandemia – nem com o próprio governo e os
erros do governo – e faz chantagens contra ministros do Supremo, governadores e
prefeitos, enquanto compra apoios no Senado.
A sensação, porém, é de que a CPI vai pegar fogo contra Bolsonaro e o Ministério da Saúde, porque há uma consciência generalizada, dentro e fora do Congresso, de que os fatos, as falas e os resultados não admitem tergiversação nem jogar a poeira – e os mortos – para debaixo do tapete.
Luiz Carlos Azedo - A CPI não sabe como começar
CPIs bem
focadas promovem ampla exposição de fatos até então encobertos por silêncio,
dissimulações e fraudes. Algumas CPIs fracassaram por má condução
Um
velho jargão parlamentar, atribuído a Ulysses Guimarães, sustenta que todos
sabem como começa uma comissão parlamentar de inquérito, mas ninguém sabe como
termina. A CPI da Covid-19 do Senado, porém, nem sabe ainda como vai começar,
embora já esteja no centro das tensões entre o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário, em razão da divulgação de uma gravação da conversa entre o senador
Kajuru (Cidadania-GO) e o presidente da República.
Na conversa, o presidente Jair Bolsonaro orienta o parlamentar a protegê-lo e direcionar a investigação contra governadores e prefeitos. De quebra, pede para Kajuru pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a decidir sobre seu pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Quem mais se beneficia dessa confusão é o presidente Bolsonaro. A Executiva do Cidadania, partido envolvido na polêmica, apoia a instalação da CPI e saiu em defesa do senador Alessandro Vieira(SE), mas não endossa que se investigue governadores e prefeitos. Além disso, repudiou a conversa de Kajuru com Bolsonaro e solicitou que o parlamentar deixasse a legenda.
Ricardo Noblat - Bolsonaro coleciona derrotas na guerra contra a CPI da Covid
Um
presidente em apuros
O
presidente Jair Bolsonaro negou que soubesse que fora gravada sua conversa com
o senador Jorge Kajuru (CIDADANIA) e que autorizou sua divulgação. Gravar
conversa com presidente da República é crime, segundo ele. (Não é, mas deixa
pra lá.) O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) denunciou Kajuru ao Conselho
de Ética do Senado que não se reúne há dois anos.
Kajuru
disse que grava todas as suas conversas com políticos para poder se defender
depois, caso digam que ele falou uma coisa que não tenha falado. Dispõe para
isso de uma caneta-gravador que ganhou de presente. Disse que avisou, sim, a
Bolsonaro, em um segundo telefonema, que divulgaria o conteúdo da conversa. E
que o presidente não se opôs a isso.
Bolsonaro
é presidente do baixo clero, como Kajuru é do baixo clero do Senado. Não se
deve dar importância ao episódio, aconselham políticos experientes e ministros
do Supremo Tribunal Federal. Valer-se de Kajuru como escada revela o crescente
isolamento de Bolsonaro. Os dois formam uma dupla do barulho. Ambos se merecem.
O país passaria muito bem sem eles.
Mas
como ignorar que Bolsonaro, deputado do baixo clero por quase 30 anos,
acidentalmente eleito presidente, governa – ou desgoverna – o país há 15 meses,
e tem mais 20 pela frente? O fato é que ele perdeu a batalha inicial da CPI
destinada a apurar os erros do seu governo no combate à Covid. Os senadores
mantiveram suas assinaturas no pedido de convocação.
Para completar, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, ordenou a Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, que instalasse a CPI. É o que ele começará a fazer hoje. Restou a Bolsonaro, portanto, criar tumulto com o propósito de retardar o início da CPI, e uma narrativa a ser compartilhada com seus devotos mais radicais sempre dispostos a defendê-lo.
Fogo na CPI – Opinião /Editorial | Folha de S. Paulo
Governantes
de todas as orientações políticas e ideológicas procuram conter ou até esvaziar
a atuação de comissões parlamentares de inquérito que miram suas
administrações, o que pode ser legítimo a depender dos métodos empregados. Essa
lógica não se aplica, entretanto, a Jair Bolsonaro.
Como
de costume, o presidente trocou o papel de bombeiro pelo de incendiário ao
fazer seu movimento contra a CPI da Covid no Senado. Na bombástica
conversa com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Bolsonaro
abriu novas frentes de conflito e deu mais motivos para que os parlamentares
levem adiante a apuração.
Note-se
que no diálogo, prontamente divulgado por Kajuru, não há uma mísera tentativa
de defesa da atuação do governo na crise sanitária —a menos que reste algum
trecho misterioso a vir à tona.
Nem por apreço às aparências Bolsonaro procura justificar o boicote ao distanciamento social, a difusão da cloroquina ou a campanha antivacina, só muito tardiamente abandonada. O ministro da Saúde, aliás, candidamente trata o chefe como inimputável (“É meu dever persuadir meu presidente”) em entrevista concedida à Folha.
Hélio Schwartsman - O paradoxo de Bolsonaro
Quanto
mais crimes de responsabilidade o presidente comete, mais nos acostumamos com a
situação
Atribui-se
a Eubulides de Mileto o paradoxo do monte (“sorítes”). Um grão de areia
obviamente não constitui um monte. Se eu adicionar um segundo grão ao primeiro,
ainda não tenho um monte. Nem com um terceiro. Mas, se eu continuar com esse
processo, em algum momento eu chegarei lá. De quantos grãos eu preciso para
fazer um monte?
Filósofos, matemáticos e linguistas estão há 2.500 anos propondo soluções engenhosas para paradoxos como os de Eubulides, que fazem recurso à indeterminação ou à vagueza dos termos. Numa delas, a filósofa Diana Raffman traz a noção de histerese e sustenta que os limites em que os termos serão usados são elásticos e se relacionam com a história dos objetos.
Joel Pinheiro da Fonseca - A ascensão do terrorismo bolsonarista
Temos
o coquetel perfeito para novos surtos com consequências letais
Cidadania defende CPI com foco no Governo Federal e convida Kajuru a deixar o partido
Em resolução adotada nesta 2ª, Executiva Nacional condena
interferência de Bolsonaro no Senado e tentativa de intimidação aos ministros
do STF
A Executiva Nacional do Cidadania, reunida nesta
segunda-feira (12), adotou resolução política em defesa da instalação da CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia com o objeto previsto
inicialmente – as ações e omissões do governo federal no enfrentamento à
COVID-19 – e da saída do senador Jorge Kajuru (GO) do partido. Ele será
formalmente convidado a se desligar do Cidadania.
Leia abaixo:
Resolução Política da Executiva Nacional do
Cidadania
O Cidadania reafirma a defesa intransigente da
instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia conforme
requerimento que tem como primeiro signatário Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e
que foi subscrito pela bancada do partido no Senado. O fato determinado dessa
CPI são as ações e omissões do Governo Federal na pandemia, em especial no
agravamento do quadro no Amazonas, em que a falta de oxigênio levou a mortes
por asfixia.
Foi essa CPI, com esse objeto, que o Supremo
Tribunal Federal (STF), em decisão liminar tomada em Mandado de Segurança impetrado
pelo Cidadania, mandou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG),
instalar. O ministro Luís Roberto Barroso seguiu jurisprudência já estabelecida
na Corte, garantindo um direito constitucional da oposição no Congresso
Nacional.
O papel central do Governo Federal na escala
industrial de mortes em curso não pode ser ignorado, até por ser ele a cabeça
do Sistema Único de Saúde (SUS). A ele, cabiam diretrizes nacionais de
enfrentamento e de tratamento, focado desde o início em medicamentos ineficazes.
A ele, cabiam campanhas nacionais de informação. A ele, cabia a compra e
distribuição de vacinas. A ele, cabe, no atual estágio, a decretação do
necessário isolamento social. Também ao governo federal competem medidas amplas
e efetivas de compensação financeira a empresários e trabalhadores na
interrupção de suas atividades, tal como ocorreu nos mais diversos países.
Há opiniões divergentes quanto à ampliação do
escopo da CPI para incluir governadores e prefeitos, uma vez que interessa ao
presidente expiar suas culpas jogando-as no colo dos únicos que efetivamente
agiram contra o avanço da Covid-19 – mesmo constantemente sabotados pelo
presidente e por seu Ministério. É, no entanto, uma opinião a ser respeitada e
debatida, uma vez que alguns chefes de Executivo praticaram atos alinhados com
as omissões do presidente.
O Cidadania se orgulha da posição de liderança no
cenário nacional assumida pelo senador Alessandro Vieira (SE), seja no
enfrentamento da pandemia, seja no combate à corrupção, na fiscalização do
Executivo ou na mitigação da tragédia social que atinge e empobrece a nossa
população. Se o país discute a instalação de uma CPI e a indicação de seus
integrantes, é por seu papel como líder do partido no Senado e signatário do
Mandado de Segurança.
O Cidadania também reafirma a defesa irrestrita do
Estado Democrático, dos valores republicanos e da separação entre os Poderes,
especialmente do papel da Suprema Corte como guardiã da Constituição. Esses
valores são diametralmente opostos aos observados na conversa do senador Jorge
Kajuru com o presidente Jair Bolsonaro, em que flagrantemente se discute e se
comete um crime de responsabilidade. E, nesse sentido, o partido fará um
convite formal, com todo o respeito pelo senador, para que ele procure outra legenda
partidária.
Por fim, o Cidadania condena, de forma veemente,
não apenas a interferência do Executivo no Senado Federal como também a
tentativa clara de intimidação aos ministros do STF, o que também deve ser
merecedor de total repúdio da sociedade brasileira.
Pacheco decide foco de CPI da Covid sob pressão de governistas e oposição
Presidente
da Casa deve ler hoje requerimento de criação da comissão da covid, ordenada
por Barroso; governistas tentam evitar que Planalto seja alvo único da
investigação
BRASÍLIA
- Sob pressão do Palácio
do Planalto e na mira da oposição, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), anunciou que vai ler nesta
terça-feira, 13, o requerimento de criação da CPI da Covid, cumprindo ordem do ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. Nos últimos
dias, o presidente Jair Bolsonaro intensificou as
articulações para sair do foco e ampliar o escopo das investigações. O
movimento fez senadores governistas deflagrarem uma operação de guerra para
atropelar a CPI proposta originalmente, que tem como alvo as falhas cometidas
pelo governo federal na pandemia do novo coronavírus.
Em
menos de 12 horas um pedido para abertura de uma segunda CPI, desta vez
atingindo a atuação de governadores e prefeitos na crise sanitária, conseguiu
37 assinaturas, dez a mais do que as 27 necessárias. A estratégia para buscar
assinaturas para esta segunda CPI teve o apoio do Planalto e o requerimento foi
apresentado pelo senador Eduardo
Girão (Podemos-CE).
A manobra atende aos interesses de Bolsonaro, pois não deixa o governo federal como único alvo da CPI. O presidente também quer que os aliados incluam a conduta dos ministros do Supremo nas apurações. O problema é que o artigo 146 do regimento interno do Senado não dá amparo legal à ampliação dessas investigações. Diz o regimento que “não se admitirá Comissão Parlamentar de Inquérito sobre matérias pertinentes à Câmara dos Deputados; às atribuições do Poder Judiciário; aos Estados”.
Os
governistas, porém, lembram de outras CPIs em que Estados foram investigados,
como a da Amazônia, em 2019, e a do Metrô, em 2014. Sustentam, ainda, que a CPI
pode também mirar em Estados e municípios porque boa parte dos recursos
transferidos para o combate à pandemia é federal.
Pacheco avalia a possibilidade de ampliar o escopo das investigações e vai consultar a Secretaria-Geral da Mesa do Senado. A ordem do ministro Barroso, no entanto, foi específica para que fosse instalada a CPI nos moldes do pedido apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), tendo como foco apenas o governo federal.
Telefonema provoca bate-boca e amplia desgaste de Bolsonaro em Poderes
- Folha de S.
Paulo
Kajuru rebateu
ministros do STF e disse que não faz teatro; Flávio Bolsonaro acionou Conselho
de Ética
BRASÍLIA e SÃO
PAULO - A
publicação da conversa entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) sobre a CPI da Covid
provocou nesta segunda-feira (12) um bate-boca que atingiu outras autoridades e
ampliou o desgaste do governo com o Congresso e o STF (Supremo Tribunal
Federal).
O
conteúdo da ligação telefônica, que veio a público no domingo (11) e teve uma
segunda parte divulgada no dia seguinte, expôs a pressão de Bolsonaro para que
o Senado amplie o escopo da CPI que investigará responsabilidades
na pandemia, de forma a atingir também prefeitos e governadores.
A
instalação da comissão parlamentar de inquérito sobre a atuação do governo
federal na crise sanitária foi determinada na quinta-feira (8) pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, em
decisão monocrática que deverá ser julgada no plenário físico da corte nesta
quarta-feira (14).
A exposição da conversa, feita por Kajuru em redes sociais, mostrava o presidente dizendo que, se os senadores não alargarem o foco de investigação da CPI, incluindo apurações sobre as ações de governos estaduais e prefeituras, serão escrutinados apenas o governo federal e seus aliados.
No
diálogo, o chefe do Executivo também estimulou o senador a atuar pelo
impeachment de ministros do STF, sugerindo que dá para fazer "do limão uma
limonada".
Na
manhã desta segunda-feira, ao conversar com simpatizantes em Brasília,
Bolsonaro condenou o registro e a divulgação do diálogo, indicando que não
sabia que estava sendo gravado.
"O
que está em voga hoje em dia é que eu fui gravado numa conversa telefônica. A
que ponto chegamos no Brasil aqui. Gravado", disse Bolsonaro, segundo
imagens divulgadas na internet por um apoiador.
"Não é vazar. É te gravar. A gravação é só com autorização judicial. Agora, gravar o presidente e divulgar. E outra, só para controle, falei mais coisas naquela conversa lá. Pode divulgar tudo da minha parte, tá?", complementou o presidente na porta do Palácio da Alvorada.
Ampliação de CPI no Senado gera dúvidas
Bolsonaristas
pressionam para que governadores e prefeitos sejam investigados por comissão
Por
Renan Truffi, Isadora Peron, Luísa Martins e Marcelo Ribeiro / Valor
Econômico
BRASÍLIA - Pressionado pelo governo Jair Bolsonaro e por parlamentares da base aliada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deve decidir hoje o caminho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia. O embate principal é se o colegiado irá restringir suas investigações à União, como sugeria o requerimento inicial apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que será lido hoje em plenário,, ou se ampliará seu escopo para Estados e municípios, como desejam os bolsonaristas. O obstáculo, no entanto, é o regimento interno da Casa, que não dá amparo legal para essa possibilidade.
O
assunto será discutido entre Pacheco e técnicos da Secretária-Geral da Mesa
(SGM) do Senado hoje.. Na avaliação de interlocutores próximos ao presidente da
Casa, o impedimento para um CPI mais ampla está explícito no artigo 146 do
regimento da Casa.
O
texto em questão diz que “não se admitirá Comissão Parlamentar de Inquérito
sobre matérias pertinentes: à Câmara dos Deputados; às atribuições do Poder
Judiciário; aos Estados”.
Isso deve embasar uma resposta negativa de Pacheco diante de novos requerimentos de CPIs. Um desses casos é a solicitação a ser feita pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE). Ele conseguiu ontem as assinaturas necessárias para uma outra comissão de inquérito, que investigaria também os governadores e prefeitos. “Reunimos o número de assinaturas suficientes para protocolar uma CPI abrangendo União, Estados e municípios. Espero que a verdade venha à tona, quem tá devendo vai ter que se justificar e quem errou vai ter que ser punido”, escreveu o parlamentar em sua página oficial.
Braga Netto repete crítica a Barroso
Bolsonaro
reclama de gravação de conversa
Por
Fabio Murakawa e Matheus Schuch / Valor Econômico
BRASÍLIA - O ministro da Defesa, general Braga Netto, disse ontem que o país vive uma instabilidade que exige “coragem moral” dos homens públicos e respeito a limites impostos pela Constituição. Ao discursar na cerimônia de posse do novo comandante da Força Aérea, repetiu o termo utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro ao atacar o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter determinado a abertura da CPI da Pandemia no Senado.
A
fala do ministro ocorreu horas depois de Bolsonaro ter se queixado do senador
Jorge Kajuru (Cidadania-GO) por haver divulgado um diálogo entre ambos em que o
presidente pede que a CPI investigue Estados e municípios e encorajá-lo a atuar
para acelerar a abertura de processos de impeachment contra ministros do STF.
Braga
Netto assumiu a Defesa em meio a desconfianças sobre politização das Forças
Armadas. Ele foi deslocado da Casa Civil para a Defesa após queixas de
Bolsonaro de que o antigo titular da pasta, Fernando Azevedo, não fazia uma
defesa política do presidente.
“O
momento exige de todos e as cizânias geram instabilidades”, disse Braga Netto,
na posse do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior no comando da
Aeronáutica. “Os homens públicos devem ter coragem moral, compreendendo os
papéis institucionais e constitucionais de todos os envolvidos para que as
ações tenham sinergia e os resultados sejam efetivos.”
Na
sexta-feira, ao comentar a decisão de Barroso, Bolsonaro disse faltar ao
ministro “coragem moral” e sobrar “ativismo judicial”.
Braga
Netto afirmou que as Forças Armadas honrarão “sempre os propósitos de
liberdade, democracia, independência e harmonia entre os Poderes e as
expectativas do povo brasileiro”.
Em linha com Bolsonaro, que acompanhou a cerimônia sem discursar, o ministro exaltou o repasse de mais de R$ 700 bilhões para apoio a Estados e municípios para viabilizar o auxílio emergencial. E cobrou fiscalização sobre aplicação dos recursos.
‘Judiciário tem de compreender limites’, diz Mourão
Vice-presidente
disse que o eventual “fracasso” do governo Bolsonaro não vai afetar a imagem
das Forças Armadas
Por
Carolina Freitas / Valor Econômico
SÃO PAULO - O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou ontem que decisões do Judiciário vêm interferindo nos outros Poderes e que isso precisa mudar. Para Mourão, o Brasil passa por um “momento de adaptação” em que os representantes dos Três Poderes precisam “entender que cada um tem as suas responsabilidades”.
“Pouco
a pouco vamos conseguir superar a imagem de que o país está sendo governado
pelo Judiciário. Não é verdade. Ele tem tomado algumas decisões que interferem
[em outros Poderes], mas são apenas algumas, não a totalidade delas”, afirmou
Mourão, ao responder perguntas na abertura do Fórum da Liberdade, evento
on-line baseado em Porto Alegre.
“Precisamos ter uma concertação melhor, de modo que o Poder Judiciário compreenda o tamanho da sua cadeira, os seus limites, de modo que não interfira de forma tão contundente em decisões que seriam próprias de outros Poderes, notadamente o Legislativo”, disse o vice-presidente.
Rosa Weber suspende trechos de decretos de armas
Por Isadora Peron / Valor Econômico
BRASÍLIA - A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu suspender trechos dos decretos editados em fevereiro pelo presidente Jair Bolsonaro que flexibilizaram as regras para o porte de armas de fogo e aquisição de munições. As medidas entrariam em vigor hoje. O despacho de Rosa representa mais uma derrota ao governo. Facilitar o acesso a armamentos é uma das principais bandeiras do presidente.
De
acordo com a decisão de Rosa, a ação vai ser submetida ao colegiado. Antes
mesmo de conceder a liminar, o julgamento das cinco ações que questionavam os
decretos estava pautado para a sessão do plenário virtual, que começa na
sexta-feira.
Segundo
ela, a decisão monocrática aconteceu “diante da iminência da entrada em vigor
dos decretos”.
Ao decidir não anular integralmente os decretos, Rosa afirmou que “a invalidação, pura e simples, da integralidade dos decretos impugnados, inclusive daqueles dispositivos que apenas reproduzem o modelo administrativo vigente desde 2004, poderia instaurar uma situação de anomia no âmbito do Sistema Nacional de Armas”.
Mudança na tributação global ganha urgência na pandemia – Opinião / Editorial | Valor Econômico
A
pandemia acelerou o debate internacional a respeito da revisão dos impostos e
pode dar um fim a 30 anos de guerra fiscal global. Os gastos elevados dos
governos para enfrentar a pandemia com medidas sanitárias, compra de vacinas e
estímulos à economia ampliaram os gastos públicos. O Fundo Monetário
Internacional (FMI) calcula em US$ 16 trilhões as ações fiscais globais em
resposta à pandemia até agora. Em consequência, em toda parte do mundo, não só
no Brasil, buscam-se fontes de recursos para cobrir os gastos que parecem não
acabar. Esse é um dos temas da reunião do FMI deste mês. Imposto de
solidariedade, tributo sobre os serviços digitais, taxar as multinacionais que
ganharam dinheiro com a pandemia e a lista dos mais ricos da Forbes são algumas
das ideias em circulação.
A derrota de Donald Trump nas últimas eleições americanas abriu caminho para o avanço nas negociações. Durante alguns anos a União Europeia pressionou os Estados Unidos para analisar a taxação dos serviços digitais. Trump sempre se apôs alegando que as gigantes americanas Amazon, Google e Facebook, entre outras, seriam particularmente prejudicadas. No Fórum de Davos virtual deste ano, em janeiro, os europeus voltaram à carga com a proposta que compreende o pagamento de impostos onde os consumidores residem (Pilar I) e a instituição de um imposto mínimo global para combater os paraísos fiscais. Qualquer semelhança com o debate da reforma tributária brasileira não é mera coincidência.
Andrea Jubé - CPI testa casamento de Bolsonaro
Presidente
dependerá mais do Centrão em 2022
Os manuais de biologia definem a simbiose como a relação entre duas
espécies em que uma, ou ambas, se beneficiam da união. Se apenas uma das partes
se favorece, o enlace descamba para o parasitismo.
Aplicando-se a biologia à política, a controversa CPI da pandemia
colocará à prova o casamento do Centrão com o governo Jair Bolsonaro, e o tempo
definirá a natureza dessa também relação simbiótica: mutualismo, comensalismo,
ou, num cenário de esgarçamento dos laços - diante de eventual corrosão da
popularidade presidencial -, parasitismo.
O apogeu dessa relação materializou-se na nomeação da deputada Flávia
Arruda, do PL do Distrito Federal, para a Secretaria de Governo. A CPI que
investigará responsabilidades do governo federal - mas também de governadores e
prefeitos - na condução da pandemia colocará à prova a solidez do enlace e a
habilidade da ministra estreante.
Se o Centrão tomar para si as rédeas da investigação, centrando fogo sobre os governadores, que entraram na mira graças à articulação de Bolsonaro, essa relação tende a se fortalecer, com a provável expansão dos domínios do bloco no governo, e fragilizando os militares.
Pedro Cafardo - Autocrítica é coisa rara no país dos infalíveis
Tática mais comum é mudar o discurso e eventualmente a prática, mas admitir equívocos somente “en passant”
Só
há uma pessoa infalível no mundo, o papa Francisco. Assim mesmo, esse dogma,
estabelecido para os papas em 1870 pelo Concílio Vaticano I, vale apenas para
os católicos e com uma ressalva: a infalibilidade se restringe a matérias
relativas à fé e à moral (costumes).
No
Brasil, porém, a infalibilidade parece ter aplicação mais ampla. Políticos
quase sempre se negam a admitir erros e a fazer autocrítica. É inevitável
voltar a esse tema, já abordado aqui um ano atrás, porque o culto à
infalibilidade se espalha à direita e à esquerda.
O
caso clássico desse culto, pelo qual o partido tem sido seguidamente cobrado, é
o do PT, cujos governos tiveram muitos acertos, mas também cometeram muitos
erros. Lula e o PT até hoje não assumiram formalmente a responsabilidade pelos
desvios do Mensalão e do Petrolão. Dilma nunca admitiu suas falhas na condução
da política econômica nem sua omissão no combate à corrupção na Petrobras.
Lula, ressuscitado politicamente pelo Supremo, continua a tergiversar sobre o
tema.
O tucanato jamais fez mea culpa sobre erros na gestão do PSDB no governo Fernando Henrique. Incensado pelos acertos, como a estabilização promovida pelo Plano Real, os tucanos nunca admitiram o equívoco na sua política cambial, responsável pela quebra do país e por destruição de indústrias. Quando FHC deixou o governo, em 2002, o Brasil estava insolvente, com uma dívida de US$ 30 bilhões no FMI, só quitada no primeiro governo Lula. Nunca se admitiu também a escancarada compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, em 1997. Tampouco houve mea culpa quando, contra seus próprios princípios, o PSDB bloqueou medidas fiscais propostas ao Congresso pelo ministro Joaquim Levy, em 2015.
Aylê-Salassié F. Quintão* - Sociedade dos órfãos (wolfskinder)
Assusta a
quantidade de crianças órfãs que a pandemia está gerando no mundo. A cada
13 mortes por coronavírus, uma perdeu um dos pais. Estudo publicado semana
passada na revista de saúde coletiva Jama Pediatrics estima que entre
37 mil a 43 mil crianças podem ter perdido ao menos um dos pais para
a Covid-19, somente nos Estados Unidos. Mas, o drama é planetário.
No Brasil,
pesquisa realizada com o aval da Associação de Medicina Intensiva Brasileira,
até fevereiro deste ano, a quantidade de crianças de 0 a 17 anos
que perdeu os pais aumentou de 17% a 20% em relação aos anos
anteriores, quando nem se pensava em pandemia.
A Covid trouxe a desaceleração dos sistemas produtivos, o crescimento assustador da fome no mundo que, antes do flagelo dessa peste já atingia quase um bilhão de pessoas, a morte em massa para os idosos, e o aumento vertiginoso do número de crianças e jovens órfãos no mundo. Imagine o que está acontecendo na África.
Poesia | João Cabral de Melo Neto - Ainda a retórica
Talvez retórica: na voz
que não sabe ser em voz baixa,
e que por isso mais explode
do que fala, se é que ela fala;
retórica
ao avesso, ela ensina
senão o falar, essa explosão
com que a voz, como qualquer gás,
se expressa ao ser forte a pressão;
da vida sul-americana,
que explode sem quandos nem ondes,
ou onde parece mais mansa.