segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

OPINIÃO DO DIA - Eugênio Bucci: as mentiras de Lula

Há coisa de dez dias, em Paris, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou dos jornais. De novo. "Quando político é denunciado, a cara dele sai noite e dia nos jornais", disse ele. Na seqüência, lançou uma acusação baixa contra a imprensa: "Vocês já viram banqueiro nos jornais? São eles que pagam as publicidades da mídia" Segundo Lula, os anunciantes estão a salvo das reportagens investigativas, pois os repórteres e os editores não têm a dignidade de apurar os fatos e de publicá-los com um grau mínimo de independência crítica.

Claro: os jornalistas de brio, honrados, foram ultrajados por ele. O interessante é que quase ninguém se deu ao trabalho de responder à ofensa. Por que será?

Desta vez, porém, uma resposta não pode faltar. O julgamento de Lula está baseado em quatro grandes mentiras, que desinformam a sociedade e podem induzir a enganos desastrosos. Por isso, tratemos de pôr as coisas a limpo.

Essas quatro grandes mentiras põem em marcha uma lógica desastrosa. Nos dois governos de Lula, os gastos de dinheiro público em publicidade se mantiveram em crescimento. Hoje, o governo federal, com suas estatais, é um dos maiores anunciantes do mercado. Agora que sabemos que, na opinião de Lula, os jornalistas são comprados pelos anunciantes, é o caso de perguntar: com que propósito o governo gasta fortunas em comunicação? Será que pretende comprar jornalistas? Será que os anúncios governamentais são uma tentativa de suborno?

Eugênio Bucci é jornalista e professor da ESPM e da ECA-USP. A lógica de Lula sobre a imprensa. Revista Época.

Manchetes dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Fisco fecha o cerco para recuperar R$ 630 bi
Em plena seca, supersalários

FOLHA DE S. PAULO
Assembleias vetam ações do STJ contra cinco governadores
'Mantenham a sua confiança no Brasil', pede Dilma na TV
Kassab reajusta contratos do lixo com aval de Haddad
Violência marca ato contra estupro na Índia
Universidades de SP reprovadas no MEC mantêm matrículas
Juiz determina que reitora volte ao cargo na PUC

O ESTADO DE S. PAULO
Diálogos revelam despreparo de técnicos durante apagão
País está 'no rumo certo', diz Dilma em rede nacional
Brasileiro confia mais no STF que no Congresso, aponta Ibope
Acupuntura pelo SUS cresce 429% em cinco anos

CORREIO BRAZILIENSE
Nova Lei Seca alerta brasilienses no natal
Serviço público: Sangue azul exige outro aumento
Dilma e Barbosa estão entre os mais influentes da terra
Lei de cotas muda perfil de alunos com deficiências

ESTADO DE MINAS
Boca no trombone
Vereadores de BH custaram R$ 47 milhões
Porte de armas: Servidores públicos querem usar revólveres em serviço

O TEMPO (MG)
Cidades não recebem dinheiro do governo, e seca se agrava
São 3.000 inquéritos de desvios
Incêndio danifica prédio da biblioteca pública estadual

GAZETA DO POVO (PR)
Principais ‘abacaxis’ de Fruet estão no transporte
Governo Richa é aprovado por 69,5%; segurança é a marca
Vendas de Natal para limpar as prateleiras
Paulistas migram para Curitiba e Rio de Janeiro

ZERO HORA (RS)
Nova Lei Seca levou 39 para a delegacia
Projetos parados protegeriam RS de apagão
Magistério: Piso estadual mais longe do nacional

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dilma pede mais confiança aos empresários

O que pensa a mídia - Editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Diálogos revelam despreparo de técnicos durante apagão

Transcrição de relatórios oficiais mostra tensão dos técnicos no blecaute que atingiu 8 Estados em 2011

Diálogos entre operadores do sistema elétrico revelam o despreparo nas subestações e nos centros de controle para enfrentar interrupções no fornecimento de energia, informam os repórteres Alana Rizzo e Iuri Dantas. As transcrições constam de relatórios da Aneel e do Operador Nacional do Sistema (ONS), obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação. Eles mostram a tensão dos técnicos no apagão de fevereiro de 2011, que deixou oito Estados do Nordeste sem luz por horas. À época, o governo atribuiu o apagão a defeito em placa eletrônica. Nos minutos seguintes ao blecaute, os técnicos mostravam-se perdidos. Faltou energia para abrir um portão que dá acesso a alguns equipamentos. Foi preciso quebrar a fechadura. O relatório da Aneel também lista disjuntores fechados, discrepâncias na supervisão e dificuldade de acesso aos procedimentos operacionais para a religar a instalação.

Diálogos gravados revelam despreparo de operadores para lidar com apagão

Transcrição de relatórios da Aneel e do ONS mostra tensão dos técnicos durante o blecaute ocorrido no Nordeste em fevereiro de 2011

Mana Uizzo, Suri Dantas

BRASÍLIA - Diálogos inéditos entre opera¬dores do sistema elétrico reve¬lam o despreparo das subesta¬ções e dos centros de controle para enfrentar interrupções no fornecimento. As transcri¬ções constam dos relatórios da Agência Nacional de Ener¬gia Elétrica (Aneel) e do Ope¬rador Nacional do Sistema (ONS), obtidos pelo ‘Estado’ por meio da Lei de Acesso à In¬formação.

Elas mostram o “sufoco” dos técnicos durante o apagão de fe¬vereiro do ano passado, que dei¬xou oito Estados do Nordeste sem luz por horas. À época, o go¬verno Dilma Rousseff atribuiu o apagão a um defeito ocorrido em uma placa eletrônica.

Nos minutos seguintes ao ble¬caute, os técnicos batiam cabe¬ça. Faltou energia para abrir um portão e assim conseguir religar alguns equipamentos. Foi preci¬so quebrar a fechadura, atrasan¬do a solução.

A subestação desconhecia co¬mo proceder e foi preciso ir atrás do manual de instruções em ci¬ma da hora. “É porque a gente tem que pegar o guia aqui por¬que não tem como acessar, aí es¬tamos pegando o guia do norma¬tivo aqui e vamos fazer com ele”, completa.

Quando o abastecimento de todo o Nordeste dependia ape¬nas da abertura de uma chave, como previa o guia de opera¬ções, os técnicos envolvidos dis¬cutiam se, em vez de abrir como previa o rito normal, não era me¬lhor fechar essa mesma chave. “Tá dependendo tudo, tem risco até de inundação na usina IV, tem que fechar”, respondeu o Centro de Operações.

‘Funciona não’. Duas horas de¬pois de iniciado o apagão, o Cen¬tro Regional de Operações (Crop) da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) questionou o técnico da subestação de Sobradinho se lá havia um equipamento chama¬do mesa de sincronismo. “Fun¬ciona não... Vou chamar um ra¬paz para ver se liga ela, muitos anos sem ligar, viu, chamo você depois”, foi a resposta.

O relatório da Aneel lista as ir¬regularidades. Além do portão travado, aparelhos fora de opera¬ção, disjuntores fechados, discrepâncias no sistema de supervi¬são e controle e dificuldade de acesso aos procedimentos opera¬cionais para a recomposição da instalação.

A placa que apresentou defei¬to dando origem ao apagão deve¬ria ter sido substituída quatro anos antes, informam os relató¬rios. Responsável pela fiscaliza¬ção das concessionárias, a Aneel não verificou se o equipamento fora efetivamente trocado. Tam-pouco sabia que duas usinas não tinham a máquina para religamento automático, para casos como aquele. Ao final, coube à agência reguladora pôr no papel o relato de uma sucessão de pro¬blemas facilmente evitáveis. Os erros renderam à Chesf uma mul¬ta de R$ 32 milhões.

Proteção. Segundo os docu¬mentos liberados pela Aneel, a “perturbação” no Sistema Inter¬ligado Nacional começou às ; oho8 do dia 4 de fevereiro de 2011, quando o sistema de proteção desligou automaticamente a linha de transmissão (LT) entre as subestações de Luiz Gonzaga e Sobradinho. O caso teria se encerrado aí, “caso a falha des¬crita não fosse acompanhada de procedimentos inadequados de operação das equipes de tempo real da Chesf”.

Mesmo depois de tomar as me¬didas necessárias e religar a li¬nha de transmissão, a energia não voltou. Segundo a Aneel, as equipes “disponibilizaram a LT 500 kV Luiz Gonzaga-Sobradinho, sem no entanto retirar o blo¬queio da linha, impossibilitando a reintegração da linha à opera¬ção, atrasando o reestabeleci- mento do sistema”.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma vê avanço da economia, mas não cita crescimento fraco

Presidente diz que 2012 foi bom e 2013 será melhor, apesar de incertezas

Chico de Gois

BRASÍLIA - Num pronunciamento de 11 minutos para desejar feliz Natal e próspero Ano Novo aos brasileiros, a presidente Dilma Rousseff fez uma avaliação positiva deste ano e prometeu que 2013 será ainda melhor. Ela desconsiderou o pífio crescimento do PIB neste ano, estimado em 1% pelo Banco Central (BC), ou a inflação, que ultrapassará a meta de 4,5%, atingindo, segundo relatório do próprio BC, 5,7%.

Para a presidente, 2012 foi um bom ano, e o próximo será melhor. Ela listou entre pontos positivos de seu governo no ano que se encerra a continuidade da expansão do emprego - 1,7 milhão de novos postos até outubro, ou quatro milhões nos dois primeiros anos de mandato dela -, as reservas, que atingiram US$ 379 bilhões, e os 16,4 milhões de pessoas que deixaram a extrema pobreza graças ao Brasil Sem Miséria, programa lançado por ela no ano passado.

- Mesmo com o mundo cheio de incertezas, tivemos um ano bom e plantamos as bases para que o próximo seja ainda melhor - disse a presidente, sem citar o baixo crescimento do país. - Trabalhamos todos com afinco e determinação para deter os efeitos da crise internacional sobre nosso país. Ao olhar 2012 em retrospectiva, vemos que continuamos crescendo e aprofundamos nossas grandes conquistas. Os resultados deste ano falam por si.

Presidente pede investimento

Dirigindo-se ao telespectador como "minhas amigas e meus amigos" ou "queridas brasileiras e queridos brasileiros", a presidente fez questão de lembrar da redução do preço da energia, a partir de janeiro e listou uma série de obras de infraestrutura, como rodovias, ferrovias, portos e aeroportos como forma de reduzir gargalos para que o Brasil ganhe mais competitividade.

No encerramento, Dilma conclamou os empresários para que mantenham a confiança e invistam no país.

- Este é um governo que confia no seu povo, no seu empresariado, que respeita contratos e está empenhado na construção de novas parcerias entre os setores público e privado - disse a presidente em seu pronunciamento. - Para nosso governo, 2013 será o ano de ampliar ainda mais o diálogo com todos setores da sociedade, acelerar obras, melhorar a qualidade dos serviços públicos e continuar defendendo o emprego e os salários dos brasileiros.

Fonte: O Globo

Fim da corrupção, o milagre de Natal

O Correio perguntou à população do Distrito Federal qual seria o pedido para Papai Noel com relação à política. A maioria das pessoas respondeu que gostaria de ver o bom velhinho acabar com o desvio de dinheiro público

Juliana Colares

Se nos pedidos rabiscados nas cartinhas para Papai Noel houvesse cunho político, o bom velhinho teria uma tarefa das mais árduas. O Correio foi às ruas de Brasília saber quais os desejos natalinos da população em relação à política, e percebeu que, na capital federal, onde os principais cartões-postais abrigam instâncias máximas do poder e são usados como tabuleiro do jogo político, um anseio se impõe: o de assistir ao fim da corrupção.

O resultado em nada surpreendeu o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Lúcio Rennó. “Nas pesquisas públicas sobre problemas nacionais, a corrupção é um dos principais problemas apontados pelos entrevistados. Fica atrás da saúde e à frente da violência”, afirmou, referindo-se ao estudo Barômetro nas Américas, realizado desde 2006. Para o professor, a divulgação de escândalos ajuda a manter a corrupção no alto da lista de chagas que afetam e preocupam a sociedade.

O último a vir à tona revelou um esquema criminoso de negociação de pareceres técnicos e uso da administração pública para atender a fins particulares. Deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal em 23 de novembro, a primeira fase da Operação Porto Seguro terminou com 24 denunciados, incluindo a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Nóvoa de Noronha e os irmãos Paulo e Rubens Vieira, ex-diretores das agências nacionais de Águas (ANA) e de Aviação Civil (Anac), respectivamente. O número de denúncias pode aumentar, pois ainda não foram concluídos os inquéritos abertos para investigar atos de improbidade administrativa e de lavagem de dinheiro dos envolvidos. Outro escândalo vivo na memória do brasileiro é o mensalão. O julgamento do caso foi concluído com a condenação de 25 dos 37 réus.

Opinião pública

Para Lúcio Rennó, casos assim têm reflexo direto na opinião pública sobre a classe política e impacta negativamente no apoio popular às instituições democráticas. O professor destaca, no entanto, que as recentes investigações e o resultado da Ação Penal 470 têm mostrado maior capacidade do Estado em identificar e punir o problema. Para Rennó, o fato de a corrupção ser apontada como um dos principais problemas nacionais não significa que a democracia esteja ameaçada.

Mais justiça é o desejo da professora Mônica Macêdo, nascida no Rio de Janeiro e radicada em Brasília há uma década. Nas aulas para crianças de 10 anos, ela ensina quais são os mecanismos de fiscalização disponíveis para a população, e mostra como a internet pode servir para facilitar o acompanhamento da atividade parlamentar. “De tanta impunidade, parece que as pessoas não acreditam mais na democracia. Ainda estamos engatinhando no processo democrático e precisamos reagir, exigir nossos direitos. E isso passa pela educação”, disse.

Para o cientista político e diretor do Centro de Estudos Avançados da UnB, Ricardo Caldas, o problema é que a população diz querer o fim da corrupção, mas não se mobiliza para combatê-la. “As pessoas querem que ao problema acabe da boca para fora, mas não estão dispostas a colocar isso na agenda. Não é a prioridade. Escrever para Papai Noel acabar com a corrupção é fácil. Desse jeito, esse desejo continuará no campo dos sonhos, permanecerá irrealizável.”

Ricardo Caldas citou as críticas à Marcha contra a Corrupção, que ocorreu em outubro passado, como exemplo da discrepância entre discurso e prática. Munidos de vassouras nas cores verde e amarelo, os manifestantes foram à frente do Congresso Nacional pedir uma faxina na política. “Em vez de comparecer, de pensar em ajudar ou de pelo menos divulgar o ato, muita gente criticou o movimento e tratou os participantes como alienados apartidários, que não estavam contribuindo com nada. É aquela história de chamar o Brasil de país do futuro. É o país do futuro e sempre vai ser.”

Fonte: Correio Braziliense

Brasileiro confia mais no STF que no Congresso, aponta Ibope

Envolvido em um conflito com o Legislativo em torno do mensalão, o Supremo Tribunal Federal leva vantagem na opinião pública. Pesquisa Ibope mostra que o STF tem um índice de confiança maior do que o do Congresso: 54 a 35, numa escala que vai a 100. É a primeira vez que o instituto mede o índice de confiança no STF.

Brasileiro confia mais no Supremo do que no Congresso, diz pesquisa Ibope

Imagem institucional. Parlamento fica em último lugar em levantamento sobre índice de confiança das instituições do País, atrás da polícia e do sistema eleitoral, enquanto o STF é mais bem avaliado que o Judiciário como um todo; bombeiros lideram ranking

José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti

Envolvido em um conflito com o Poder Legislativo em torno do mensalão, o Supremo Tribunal Federal leva vantagem na batalha pela opinião pública. Pesquisa Ibope mostra que o STF tem um índice de confiança entre a população maior do que o do Congresso Nacional: 54 a 35, numa escala que vai a 100.

Marco Maia e Joaquim Barbosa, presidentes da Câmara dos Deputados e do STF, respectivamente, estão em campos opostos desde que o plenário do tribunal decidiu cassar os mandatos dos deputados federais condenados no processo do mensalão. Maia reagiu à sentença e, na semana passada, afirmou que só o Legislativo tem a prerrogativa de cassar seus próprios integrantes, o que gerou o impasse.

Comparando-se aos 83 pontos do Corpo de Bombeiros sempre a instituição mais bem avaliada pela população nem o Supremo nem o Parlamento estão especialmente bem aos olhos do público. Mas os 19 pontos de vantagem dos ministros de toga em relação aos congressistas estão além de qualquer margem de erro.

Evolução. É a primeira vez que o Ibope mede o índice de confiança no STF e não há como saber se ele cresceu ou diminuiu durante os 136 dias do julgamento do mensalão, nos quais o tribunal esteve em evidência nos meios de comunicação. Mas uma pista é dada pela evolução da confiança no Judiciário. Entre junho e dezembro, o índice oscilou de 53 para 47 pontos. Os brasileiros estão mais confiantes no Supremo (54) do que na Justiça (47) de modo geral.

Há diferenças, porém, do grau de confiança no STF entre os brasileiros. Os mais confiantes são os mais ricos (60 pontos entre quem tem renda familiar superior a 10 salários mínimos), os moradores das regiões Norte e Centro-Oeste (60 pontos) e os com 50 anos ou mais de idade : (56 pontos).

Impopular. Das sete instituições pesquisadas pelo Ibope em dezembro, o Congresso foi a que inspirou menos coníiançana população. Seu índice de 35 pontos é inferior aos 40 da polícia, aos 54 do sistema eleitoral e aos 60 dos meios de comunicação, por exemplo.

Em junho, o Ibope pesquisou um número maior de instituições, e o Congresso ficou em penúltimo lugar, à frente apenas dos partidos políticos: bateu 36 pontos contra 29. Se serve de consolo, nesses seis meses a desconfiança da população em relação aos parlamentares manteve-se estável.

Se o Supremo bate o Congresso aos olhos do público, ambos perdem para o chefe do Executivo federal. Em junho, a Presidência da República chegou a 63 pontos de confiança, enquanto o governo ficou 10 pontos abaixo.

O Ibope não avaliou a Presidência nem o governo federal na mesma pesquisa que analisou o STF e o Congresso em dezembro. Mas outra sondagem feita no mesmo período também pelo Ibope mostra que a confiança da população em Dilma Rousseff é maior do que nos outros dois Poderes: 73% dizem que confiam na presidente, mesma taxa obtida em setembro.

Dados permitem comparação com outros países

0 índice de confiança social foi criado pelo Ibope para comparar o quanto a população confia em cada uma das principais instituições do País e no seu conjunto. A metodologia permite que os valores sejam comparáveis entre países também.

Para cada uma das 22 instituições sociais e políticas avaliadas o Ibope perguntou aos cidadãos com 18 anos ou mais se tinham "muita", "alguma", "pouca" ou "nenhuma" confiança. Cada resposta tem peso 100,66,33 ou zero, proporcional à intensidade da confiança. 0 índice é a soma das alternativas dividida pelo número de respostas. Assim, uma instituição que tivesse 25% para cada uma das quatro alternativas (muita confiança, alguma, pouca ou nenhuma) acabaria com um índice final de 50, em uma escala até 100. Quanto mais alto é o valor, maior é o grau de confiança da população naquela instituição. A média aritmética simples de todas as instituições é o índice de confiança social de cada país.

Índices mostram estabilidade institucional

O Brasil parece uma ilha de estabilidade, em relação à Argentina, quando se compara a evolução do grau de confiança nas instituições nos dois países.

Enquanto os índices da Argentina variam aos solavancos, os do Brasil evoluem de maneira mais suave um indicador da ausência de crises ou acontecimentos que mobilizem a opinião pública numa ou noutra direção.

É possível comparar a percepção de brasileiros e argentinos sobre distintas instituições porque o Ibope usa a mesma metodologia em pesquisas sobre o assunto, ano a ano, desde 2009.

O índice de Confiança Social sobre o governo do Brasil, por exemplo, era de 53 (emuma escala até 100) há quatro anos, mesmo patamar em que se encontrava em junho deste ano data da última pesquisa feita nos dois países. No período, a maior variação foi de 7 pontos, entre 2010 (59) e 2011 (52).

Já no país vizinho, a confiança no governo saiu de um nível bem mais baixo em 2009 (29), dobrou nos dois anos seguintes, chegando a 60, e desabou 18 pontos em 2012, chegando a 42.

As opiniões dos brasileiros sobre os partidos políticos e o Congresso Nacional praticamente não variaram nos últimos quatro anos. No caso dos argentinos, os dois itens tiveram um saltó próximo a 10 pontos em seus índices de confiança em 2011, mas voltaram a cair para o patamar de origem em 2012.

Há outra diferença entre brasileiros e argentinos: os primeiros mantêm praticamente estável o nível de confiança no governo, mas confiam cada vez menos nos serviços prestados por ele. Desde 2009, por exemplo, houve queda de 7 pontos no índice de confiança dos brasileiros em relação ao sistema público de saúde (de 49 para 42). O mesmo ocorreu em relação às escolas públicas (de 62 para 55).

Já os moradores do país vizinho, cujo grau de desconfiança em relação ao governo é bem maior, estão bem mais satisfeitos com a educação (aumento de 63 para 69 pontos) e a saúde públicas (de 58 para 64).

Alvo de ataques freqüentes do governo da presidente Cristina Kirchner, os meios de comunicação argentinos mantiveram seu nível de confiança praticamente intocado nos últimos quatro anos (57 em 2009,58 em 2012). No Brasil, esse índice caiu nove pontos em quatro anos, de 71 para 62. /D.B.e J.R.T.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Lições de um grande julgamento - Ivar A. Hartmann

Para o Brasil, a grande lição do processo do mensalão é a de que o STF está pronto a cumprir uma de suas funções na democracia brasileira e condenar à prisão mesmo corruptos de mais alto escalão. Mas esse julgamento é oportunidade única de aprendizado também para os ministros.

O primeiro e mais importante legado é sobre limites. Mais do que em qualquer outro processo, o STF percebeu até onde deve ir. E onde precisa parar. É certo agora que as instituições continuam firmes mesmo quando os ministros punem aqueles que atentaram contra os bens públicos e a democracia. Ao proteger a união homossexual e as cotas raciais, o STF enfrentou resistência por julgar temas poderosos. Mas agora julgou pessoas poderosas do Legislativo e do Executivo - e não houve instabilidade institucional.

A decisão pela cassação de mandato parlamentar mostrou também a linha que o STF não deve cruzar. É certo que, depois de esgotados os recursos, a Câmara de Deputados cassará rapidamente os três condenados. Mas os ministros precisavam deixar que o Parlamento assumisse a responsabilidade. O STF não pode tomar para si a missão de resolver todos os problemas. Isso, a sociedade não exige e a democracia não permite.

Decidiu bem, portanto, o ministro Joaquim Barbosa ao negar a prisão imediata dos réus, mesmo que constitucionalmente pudesse fazê-lo. Se desafiar repetidamente o Congresso, o STF deixará o Legislativo acuado. As cogitações absurdas de asilar deputados na Câmara e votar mais de 3.000 vetos presidenciais em uma sessão são prova recente da imprevisibilidade de uma instituição que se sente ameaçada.

A outra lição é também valiosa: mais que em qualquer época anterior, o STF está em evidência. Isso significa nível muito maior de transparência, pois as pessoas sabem quem os ministros são, querem informar-se sobre as decisões, querem saber como os ministros chegam ao STF. Mais visibilidade significa mais responsabilidade. O Supremo ganhou a merecida atenção do povo brasileiro.

Ivar A. Hartmann é pesquisador da FGV Direito, Rio

Fonte: O Globo

Base de Dilma tenta enfraquecer Aécio em Minas

Após fracassos em 2010 e 2012. quando formaram chapa única, PT e PMDB apostam em candidatos próprios para tentar forçar 2º turno no Estado

Depois das derrotas para o governo de Minas, em 2010, e para a prefeitura de Belo Horizonte, dois anos depois, os dois maiores partidos da base da presidente Dilma Rousseff, PT e PMDB, começam a traçar estratégias para tentar evitar novo revés na disputa estadual de 2014. As legendas já articulam as possíveis candidaturas do ministro petista Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e do senador peemedebista Glésio Andrade.

O que a princípio poderia parecer uma divisão da base do governo federal no Estado é, na verdade, uma tática dos dirigentes dos dois partidos para fazer frente a um adversário apoiado pelo governo do tucano Antonio Anastasia, que deve dividir palanque em Minas com a provável candidatura presidencial do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Nas eleições de 2010 e 2012, PT e PMDB caminharam juntos. Na disputa estadual, o então senador e ex-ministro peemedebista Hélio Costa encabeçou a chapa, com o também ex-ministro Patrus Ananias como vice. Na eleição da capital mineira neste ano, foi a vez de o petista encabeçar a chapa com o ex-deputado Aloísio Vasconcellos (PMDB) como vice. Em ambos os casos, foram derrotados em primeiro turno, sempre por candidatos apoiados por Aécio.

"Temos conversado", afirmou o presidente do PMDB mineiro, deputado federal Antônio Andrade, referindo-se à direção do PT no Estado. "Podemos até compor em um segundo momento. Mas achamos que nosso candidato é melhor e manteremos (a candidatura). O PT pode achar que o candidato dele é melhor e manter também."

Para o peemedebista, "a história tem mostrado" que o melhor caminho é a divisão da base, ao menos no 1° turno, justamente para tentar forçar uma disputa em duas votações. Tanto na eleição para o governo estadual em 2010 quanto na municipal deste ano, a união das candidaturas gerou descontentamento em militantes de ambas as legendas. "Partidos do tamanho do PMDB e do PT têm que ter candidaturas. As últimas eleições provaram que o melhor é deixar o eleitor decidir", disse o deputado.

Já o PT, que trabalhou com o peso do governo federal para unificar as candidaturas nas duas últimas eleições, começa a ver com bons olhos o lançamento de mais nomes da base para a disputa contra um candidato aliado dos tucanos um nome cotado é o do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), reeleito com o apoio de Aécio após racha com os petistas na capital. O presidente do PT-MG, deputado federal Reginaldo Lopes, afirmou que o partido não vai mais ceder a cabeça de chapa para aliados, como fez em 2010, e que, se o PMDB não quiser compor a candidatura com a indicação do vice ou de um nome ao Senado, o melhor mesmo é "levar a eleição para o segundo turno".

Palanque. Lopes também afirmou ser a favor da recomposição da aliança com PSB em Minas. Porém, sem um nome forte para a próxima disputa estadual, os tucanos trabalham para manter a proximidade com Lacerda.

Na seara tucana já se cogitou também o nome da irmã do senador, Andréa Neves, do atual secretário de Estado de Ciência e I Tecnologia, Nárcio Rodrigues e do deputado federal Rodrigo de Castro, secretário-geral do PSDB. Mas o consenso no partido e de que a definição ocorrerá : apenas após a confirmação da candidatura presidencial de Aécio já lançada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo presidente nacional da legenda, Sérgio Guerra (PE).

"Esse quadro nacional é que vai influenciar a eleição em Minas. Quer para o governo do Estado, quer para o cargo de senador", disse Anastasia, confirmando que as negociações de apoio ao tucano vão influenciar diretamente na definição do cenário no Estado.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Tempo de reflexão - Aécio Neves

Não importa a religião que se tenha, o Natal é sempre tempo de solidariedade e reflexão.

Nessa época, nos afastamos da rotina e é inevitável examinar as perdas e conquistas, as experiências e aprendizados.

Ao olhar para 2012, é forçoso reconhecer que o protagonismo não foi do governo federal nem do Congresso Nacional. Nem um nem outro conseguiram oferecer ao país o que, por direito, deles os brasileiros esperavam.

O primeiro encerra o ano colecionando promessas não cumpridas. O governo Dilma chega à metade sem que importantes compromissos com os brasileiros tenham sido honrados e vendo reforçado o traço da ausência de diálogo com Legislativo e sociedade.

O segundo apequenou-se sob o peso da subserviência de uma maioria pragmática e obediente. O melhor exemplo talvez seja constatar que dorme até hoje nas gavetas da Câmara o projeto que disciplina o uso de medidas provisórias.

Confirmando a tese de que em política não existe vácuo, a boa nova é que o protagonismo político do país está sendo cada vez mais assumido por aquele que é o grande interessado nas mudanças e nos avanços: o cidadão. A lei da ficha limpa, a obrigatoriedade de dar transparência, nas notas fiscais, aos impostos cobrados sobre produtos e serviços e a atuação de diversas entidades civis sinalizam um país de pé, ciente de seus direitos.

Ao lado do cidadão, o Judiciário agigantou-se. Ficará para sempre o marco emblemático do fim da impunidade. O elogio público que devemos ao STF não homenageia a condenação de pessoas, mas o exercício de autonomia e independência do Poder.

Foi uma conquista enorme, cujo mérito é coletivo e a responsabilidade é partilhada. Ninguém simboliza melhor este momento de altivez que o ministro e agora presidente do STF, Joaquim Barbosa, que soube imprimir uma condução processual exemplar, acima das pressões de praxe.

A sociedade também tem outra importante conquista a celebrar: a manutenção da liberdade de expressão. Sob crescentes ataques e insinuações, meios de comunicação e jornalistas independentes atravessaram este difícil 2012 com suas prerrogativas preservadas. Não é batalha ganha, mas revela uma sociedade que não tolera o controle da informação, independentemente do nome que o disfarce.

Estamos nos preparando para deixar 2012 e começamos a imaginar o que 2013 nos reserva. Mas hoje é noite de Natal. Que ela possa abrigar a saudade e o reconhecimento aos que não se encontram mais entre nós e nos ajude a acolher, com afeto e compreensão, aqueles com quem ainda temos a alegria de conviver.

E que ela nos ilumine, para que a solidariedade possa habitar de forma definitiva os nossos corações. Feliz Natal.

Aécio Neves é senador (PSDB-MG)

Fonte: Folha de S. Paulo

O bezerro de ouro - Wilson Figueiredo

De passagem por Paris, a presidente de todos os brasileiros, Dilma Rousseff, não perdeu tempo e anunciou a construção de oitocentos terminais de aeroportos nas cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. Não foi mania de grandeza, mas acidente numa informação de dados que não cabem mais nas próprias fronteiras e fazem extra onde for possível. Por aqui, 283 cidades têm 100 mil habitantes e, na metade dessas, aviões levantam voo e descem normalmente. Menos, presidente. Menos ênfase. Dilma foi mais longe como candidata ao próprio lugar, para não deixar o concorrente pré-histórico desistir e jogar a toalha quando 2014 já está à vista. Ele, Lula, mantém preferência pelo tipo que faz desde que entrou em cena, no fim do século, e quer continuar como foi ao preço de ocasiões.

Não faltará oportunidade para Dilma Rousseff ratificar a ênfase ética, objeto de repúdio por parte do competidor, com quem não tem a aprender mais do que defeitos que as pesquisas de opinião deixam de lado para não perderem tempo. A aura que a classe média brasileira — a tradicional e não a que está chegando ainda sem jeito para a coisa — viu na presidente é a saída para o beco em que, pela via eleitoral, o país se meteu no começo do século, e a cercou de simpatia (o chá ficou de fora, pois ainda é costume restrito a uma parcela insuficiente de eleitores).

Afinal, 2014 vai ter, se tudo chegar até lá como está, um encontro de águas capaz de gerar uma pororoca histórica: de duas candidaturas fazer uma única, quando o outro é o próprio, não se pode desejar senão aquele cuidado equivalente ao caldo de galinha recomendado sempre pela garantia de que não faz mal a ninguém.

Quem conhece Lula, como é o caso da sucessora dele, deve ter o cuidado ao usar frase de efeito fora do contexto. Ele pode, ela não, vender gato por lebre quando fala em caça às bruxas a propósito de casos de polícia e intencional confusão entre público e privado, que a classe média não perdoa. Tem lá as suas razões. A temporada a que se referiu a presidente como de caça às bruxas foi de natureza ideológica e ocorreu quando a Guerra Fria exacerbou a expectativa do desfecho atômico entre Estados Unidos e União Soviética, nos anos 50. Era muito mais do que uma ação policial para comprovar corrupção endêmica, e não mais epidêmica, que se estabeleceu no Brasil, com raízes históricas, e resiste de dentro para fora.

No fundo do palco, o senador mineiro Aécio Neves botou as cartas na mesa, ao apagar das luzes de um ano que oferece estatísticas ainda não devidamente digeridas: deixou claro que está aí para dizer, com todo respeito, o que pode ser entendido desde já como mais do que um modo de observar. Este é o pior momento da economia brasileira desde o começo do século. Um PIB no diminutivo, um crescimento infantil de 0,7% em relação ao ano anterior, comprometedor de um país adulto pelo menos em economia. Fecha este ano um mísero 1% de crescimento econômico.

Não dá para sair e entrar na Historia com uma inflação que sobe como foguete enquanto os investimentos descem, avalia o senador mineiro, que lança a preocupação com os dois anos perdidos, este pior que o anterior. Fica subentendido que os fatos autorizam a elevar o tom crítico e modelam a candidatura mineira à República.

Não se trata, quando nada, de falar pela oposição afônica na matéria eleitoral, mas de vocalizar a classe média que dá a medida da necessidade política esvaziada pela crise moral que patrocina os costumes e envenena a democracia. Cada situação tem sua hora. E quem sabe ainda faz a hora.

Aquele leve toque de hesitação no começo das frases de Aécio Neves é o charme com que Minas — como dizia Leonel Brizola — costeia o alambrado da sucessão. O Brasil é o fecha-alas dos emergentes — Rússia, China, Índia — e o senador Aécio Neves mandou às favas o centro da meta onde a presidente Dilma Rousseff, inconscientemente por certo, localizou a inflação como o bezerro de ouro.

Fonte: Jornal do Brasil

Pacto federativo: outro contraste entre PT e PSDB – Marcus Pestana

Insisto nos pontos que contrastam a postura dos dois principais partidos brasileiros: o PT e o PSDB. Isso, por entender que devemos dar nitidez política e ideológica à disputa que domina a política brasileira desde 1994. Isso contribui para dissipar a névoa disseminada por aqueles que identificam todos como iguais e que se trata apenas de uma luta cega em torno de projetos de poder, e não de estratégias diferenciadas em relação à sociedade e ao país. Isso, reconhecendo que os dois partidos partem da mesma matriz social-democrata e que inexiste vocalização significativa, no Brasil, das posições liberais e conservadoras, restando apenas, como alternativa, as posições claramente à esquerda.

Assistimos, nas últimas semanas, a Federação sangrar dividida nas votações da distribuição dos royalties do petróleo e do novo marco regulatório do setor energético. A falta de capacidade de arbitrar conflitos, dialogar e produzir consensos do governo Dilma não é fato isolado. Reflete uma visão autoritária e centralizadora do PT e seu governo em relação à questão federativa. As sessões do Congresso Nacional que avaliaram o veto à regulamentação da partilha dos royalties do petróleo foram as mais radicalizadas das últimas décadas. Certamente, a contradição principal da vida nacional não é entre Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo e o resto do país. Se o governo Dilma tivesse uma posição mais generosa e maior capacidade de coordenar um grande diálogo nacional sobre o pacto federativo, não assistiríamos às cenas lamentáveis que ocorreram. Na verdade, o desafio é produzir uma consistente redistribuição dos recursos fiscais, hoje, absurdamente centralizados na esfera federal.

O descuido do governo Dilma e do PT com a questão federativa esteve presente na unilateral e desrespeitosa condução do novo marco para o setor elétrico, nas desonerações fiscais que afetaram gravemente o FPE e o FPM, no esvaziamento da Cide para compensar a política de compensação à Petrobras pela não correção dos preços dos derivados de petróleo, afetando Estados e municípios. O governo Dilma e o PT reiteram a cada gesto uma visão não explicitada em favor de um "Estado quase unitário". Os Estados e municípios são tratados não como parceiros, mas como joguetes nas mãos do presidencialismo imperial.

O PSDB defende uma perspectiva descentralizante e a rediscussão do pacto federativo. A centralização excessiva tem se revelado um rico manancial para a ineficiência e para a corrupção.

A visão de Federação do PSDB esteve presente em propostas concretas de líderes como Aécio Neves e José Serra, entre outros, como a desoneração fiscal das companhias de saneamento e a estadualização das rodovias.

A realidade clama por um novo pacto federativo e uma verdadeira reforma fiscal e tributária. É uma tarefa complexa e polêmica. O PT parece ter abandonado qualquer preocupação com o tema. O PSDB se propõe a liderar essa difícil tarefa.

Marcus Pestana, deputado federal (PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

Tempo, mano velho - Melchiades Filho

Embora os políticos repitam o mantra de que a eleição de 2014 já começou, os nomes mais cotados para a próxima corrida presidencial têm freado o ímpeto.

Essa hesitação causa alguma estranheza. Exemplos recentes tinham mostrado a importância de acelerar as campanhas, para aumentar a possibilidade de atrair e comover um eleitor cada vez mais arredio.

A Dilma, porém, ainda interessa o fantasma da volta de Lula. Se o padrinho não frequentasse as especulações, os ataques dos adversários estariam concentrados nela.

A presidente não ignora que seu governo tem pontos vulneráveis. É hora de vender uma agenda positiva, e não de cuidar de rebater críticas. Que dirá de montar chapa.

Apesar do raquitismo que aflige os parceiros restantes e lhes dá um sentimento de urgência, Aécio Neves ainda aposta no ensinamento do avô Tancredo: paciência. O tucano está convencido de que a oposição terá de apresentar um nome em 2014 e que, por gravidade, a candidatura cairá no colo dele. Não há necessidade de se antecipar.

Além disso, acredita que sua chance reside no naufrágio de Dilma e na erosão da coalizão federal. Confirmar já a intenção de concorrer só faria dar visibilidade às pesquisas que ainda mostram a presidente na liderança folgada e o senador mineiro na rabeira, comendo poeira.

A "terceira via" pensa do mesmo modo. Jornalistas e acólitos se afligem com as declarações ambivalentes de Eduardo Campos (PSB). Numa mesma semana, o governador pernambucano dá uma entrevista em que fixa um prazo de 90 dias para Dilma dizer a que veio e outra em que jura fidelidade a ela.

O jogo duplo busca manter aberto o horizonte. Romper tão cedo significaria ser metralhado agora por um governo popular e forte. Abdicar neste momento de 2014 acarretaria ser esquecido pelo noticiário nacional e devolvido à política paroquial.

Fonte: Folha de S. Paulo

Na corda bamba - Ricardo Noblat

"Não acatar decisão judicial é esdrúxulo, arbitrário e inconstitucional" - Celso de Mello, ministro do STF

O ministro Joaquim. Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), disse na semana passada que sai de cena com a sensação do dever cumprido. Destacou o fato de ter contribuído para a condenação de 25 dos 37 réus do mensalão, o aumento dá pena reservada a cada um e também da multa.

"Acho que cumpri com meu dever de relator do caso" concluiu Joaquim. O STF voltará das férias só em fevereiro.

E ENTÃO: perplexo com o fato de um ministro da Suprema Corte ilustrar a sensação do dever cumprido lembrando apenas os votos que deu para condenar réus, engordar penas e multas? Como se fazer Justiça não fosse também absolver acusados? Convencido, afinal, de que Barbosa se comportou como refém da vontade dos interessados num julgamento de exceção para prejudicar o PT?

(VOCÊ DEVE estar se perguntando onde leu o que Barbosa comentou a respeito do seu próprio desempenho no julgamento mais longo da História do STF. E, como não consegue lembrar onde fói, deve estar pensando o que o levou a proceder como uma pessoa sensata em seu último ato antes de sair temporariamente de cena. Sim, porque, podendo mandar prender de imediato 11 dos condenados, preferiu não fazê-lo.)

DO GLOBO na última quarta-feira: "O ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão, disse que sai de cena com a sensação do dever cumprido. Destacou o fato de ter contribuído para a absolvição de 12 dos 37 réus e a diminuição de multas impostas aos condenados. Mencionou que o 38° réu, Carlos Alberto Quaglia, teve o caso transferido para a primeira instância do Judiciário. Acho que cumpri com meu dever de revisor," declarou"

E AÍ? PERPLEXO com o fato de um ministro da mais alta Corte da Justiça ilustrar a sensação do dever cumprido citando apenas os votos que deu para absolver réus e abater penas? Como se fazer Justiça não fosse também condenar acusados? Convencido de que Lewandowski se comportou como quem ocupa cargo de confiança de livre nomeação do presidente da República ou do PT?

PRESTEM ATENÇÃO! Barbosa não disse uma só das palavras que lhe atribuí. Lewandowski disse todas que este jornal registrou. Não ouvi ninguém criticar o ministro que menciona como provas do dever cumprido o número de réus que absolveu e as multas que conseguiu diminuir. Barbosa quase foi levado ao pelourinho pelo simples fato de que poderia decidir onde os mensaleiros passariam as festas de fim de ano.

EM MOMENTO algum, ele sugeriu que pretendesse antecipar a prisão dos condenados. Há duas semanas, em conversa com jornalistas, confidenciou que jamais decidiria a questão sozinho. A maioria dos seus colegas só concorda com a execução da pena de prisão depois que a sentença transite em julgado — algo previsto para ocorrer no segundo semestre de 2013. Haveria graça em ser desautorizado mais tarde?

A PRESIDÊNCIA DE Barbosa correu o risco de naufragar na semana passada. Três ministros do STF espalharam aos quatro cantos que ele mandaria prender os mensaleiros. O presidente da Câmara dos Deputados ofereceu refugio aos que desejassem. Seria inconcebível o desrespeito a uma ordem do presidente do STF. Como seria inconcebível a Polícia Federal invadir a Câmara à caça de deputados condenados.

LEWANDOWSKI, QUE se revezará com Barbosa no plantão das férias do STF, comentou, a propósito do pior: "Vai acabar sobrando para mim" Chegada a sua vez, ele suspenderia a ordem de prisão dada por Barbosa. Imaginou?

Fonte: O Globo

Apocalipse adiado - José Roberto de Toledo

O anunciado conflito de titãs entre os Poderes Legislativo e Judiciário acabou em "tender". O recesso natalino prevaleceu sobre a beligerância de gabinete. A crise produzida pelo excesso de holofotes se apagou junto com eles.

A troca de presentes verbais entre os presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional pode ressurgir em 2013, mas, como previu Joaquim Barbosa, será fugaz. Marco Maia já terá voltado ao baixo clero da Câmara quando o STF se reunir para decretar ou não a prisão de deputados mensaleiros.

Antes de estimular qualquer coisa que se assemelhe a uma crise institucional, magistrados e parlamentares deveriam atentar ao grau de confiança da população nas instituições do País, medido por pesquisa do Ibope.

Mesmo após meses de superexposição elogiosa, o Supremo alcançou 54 pontos num máximo de 100. É melhor do que os 35 pontos que o Congresso marca sempre que a pesquisa é feita, mas não dá para comemorar. Toda vez que Judiciário e Legislativo brigam, ganha o Executivo.

Pesquisa sobre os termos mais pesquisados no Google mostra que o interesse pelo STF já foi maior o auge foi quando o tribunal julgou o uso de células-tronco. Mesmo Joaquim Barbosa desperta menos curiosidade.

Políticos, juízes e aprendizes de feiticeiro têm a aprender com os bombeiros, a instituição mais confiável aos olhos da população. Sua especialidade é apagar, e não fomentar, fogueiras vaidosas.

Soltando a corda. Curiosa a entrevista de Eduardo Campos a Luiz Maklouf, em Época. O governador de Pernambuco parece ter tomado a iniciativa de ; afrouxar a corda. Reiterou apoio a Dilma em 2014 e disse que só será candidato a presidente quando disser que é. Ao pregar distensão, o herdeiro de Miguel Arraes enfatiza uma suposta crise que rondaria 2013 como as neovivandeiras rondam o STF.

Por superstição, rivalidade ou prudência, 13 não é o número de Eduardo Campos. 14 talvez seja. Mas 18 inspira melhor sorte.

Puxando a corda. Mais curiosa a não entrevista de José Dirceu a Mônica Bergamo, na Folha. Enquanto faz planos de trabalhar na cadeia para abater a pena, o chefe petista conta que sugeriu a Lula e ao PT organizarem manifestação em fevereiro, "colocando 200 mil pessoas na rua". Quer dar "demonstração de força". É Dirceu esticando a corda que Eduardo Campos ensaiou relaxar. Seus conselhos são de quem tem pouco a perder porque já perdeu o que tinha.

A corda política no Brasil tem pouca elasticidade. Sempre que puxada com força, rompeu obviamente, do lado mais fraco.

Blitz tucana. O desafio de Aécio Neves em 2013 não será zelar pela implementação da nova e mais rigorosa Lei Seca. De volta ao Brasil, proxies de José Serra querem o nome dele em pesquisas estimuladas de intenção de voto para presidente. De certo gostariam de comparar os desempenhos de Serra e de Aécio. É o PSDB a caminho de confundir "recall" e popularidade. De novo.

A Lição de Kassab. O anunciado aumento da gasolina é o melhor presente de Natal que Dilma Rousseff poderá dar a Fernando Haddad. O que ela perder em popularidade o prefeito eleito tem chances de achar. Combustível mais caro, menos carros circulando. Nas metrópoles, a redução de veículos nas ruas tem impacto logarítmico nos engarrafa! mentos. É o tipo de desafogo que se vê quando o ano escolar acaba e pais deixam de conduzir filhos pra lá e pra cá.

Gilberto Kassab foi uma vítima silenciosa da isenção de IPI e da facilidade de financiamento de automóveis, acelerados nos governos Lula e Dilma, A quantidade de carros novos em circulação bastou para São Paulo quase parar sob sua vigília.

Contra o prefeito pesa, afora a mudez, a falta de fiscalização dos veículos . sem licenciamento, cuja retirada de circulação poderia compensar o emplacamento da nova frota financiada.

O "Controlar" é, segundo o Ibope, o programa mais impopular da Prefeitura - não apenas por obrigar o paulistano a colocar a mão no bolso. A desaprovação vem da inocuidade. Vem de sair da inspeção veicular e ficar parado atrás de um carro sem selo, sem para-choque e, acima de tudo, sem medo de ser guinchado.

Kassab não comprou briga com os carros indocumentados, como não compraram todos os governantes que temem perder popularidade entre seus motoristas. Fecha o mandato no vermelho da opinião pública, mais malvisto do que Paulo Maluf e Marta Suplicy. Não quis acelerar por medo da curva, parou no congestionamento.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A expansão da UFRRJ do tempo recente – Raimundo Santos

O momento em que vive a UFRRJ leva-me a apresentar o livro da colega Ana Lucia da Costa Silveira como professor da instituição. E falar para o seu principal público, pois nada melhor para nossa universidade, neste instante da segunda metade de 2012, recém eleito novo Reitorado, que a publicação de um texto dedicado justamente a sua expansão dos últimos tempos. Um crescimento em curso contínuo à medida que a Rural segue implantando as cotas estabelecidas pelo Congresso nacional em lei aprovada também em 2012.

A autora entrega a nossa comunidade universitária reflexões em hora ainda tensionada pelo processo eleitoral, quando podemos ver com nitidez que estratégias – formuladas em resposta ao desafio posto pelas eleições – foram vitoriosas das urnas. Vale relembrar como a questão apareceu na campanha eleitoral: seguir com a expansão tendo como norte alcançar a excelência que já caracterizou a instituição em outras épocas. Esta busca de qualidade é o cometimento a ser assumido agora – compromisso próprio do nosso trabalho – como um fim em si mesmo.

É hora para mobilizar energias acadêmico-universitárias para concretizar uma transição que ora se abre. Transição do ponto em que estamos hoje – após um considerável aumento de cursos de graduação em descompasso com acumulação amadurecida de conhecimentos e avanços investigativos – até o término do mandato da nova reitoria, quando, então, as lideranças da política universitária haverão de ser quadros do professorado jovem hoje ativos em nossos campi.

Do que nos vem falar este livro que nos ajude a pensar o momento presente? Ele revisita o passado, o tempo do pós-1964, quando a Rural foi levada a um crescimento de fins reestruturantes com o qual o ciclo expansivo trazido pelo REUNI guarda semelhança no sentido de ambos terem impulso determinante de fora do ambiente acadêmico-docente. O volume nos leva ao contexto de 1967, considerado pela autora como emblema de um padrão de subalternidade das relações da Rural com as estruturas governamentais, forçada em anos mais distantes e durante o regime de 1964; padrão que foi diminuindo a partir da anistia de 1979.

Naquele pós-64, as instâncias oficiais tentaram redefinir o perfil da Universidade, não em relação à sua vocação rural, constituída nos idos do Estado Novo a serviço da “Marcha para o Oeste” sem reforma do mundo rural. O “giro” do novo tempo autoritário por acréscimos de cursos – marcado por uma espécie de pedagogismo-difusionista – vinha na esteira da modernização conservadora da agricultura que os governos militares já promoviam. Realizada “pelo alto”, mantendo a estrutura fundiária, essa transformação agroprodutiva, como se vê depois, não pretendia pôr a universidade em posição de contribuir para o patrimônio científico - tecnológico do país.

A expansão promovida pelo REUNI lembra essa modalidade de crescimento. Ela igualmente advém movida pelos fins extra-universitários das oportunidades que o governo oferece às universidades e não de uma evolução interna da sua academia. O “condutor verdadeiro” da expansão, se por tanto podemos chamar o “sentido dos tempos” da Era Lula, “atuou” mobilizando o imperativo da inclusão social. Esta razão substantiva (no nosso caso, a incorporação da juventude de regiões mais pobres) guiou o alargamento do ingresso à Rural, determinando o seu ritmo.

A Rural acolheu de imediato, como devia fazê-lo, a proposição da inclusão social proveniente do programa governamental dirigido às IFES. Da perspectiva de hoje, vemos que, conduzidos pelos fatos, o nosso mundo propriamente acadêmico-universitário viveu o aumento dos cursos como um movimento quantitativo. Ao fim e ao cabo, estamos diante de uma realidade de grande significação para milhares de famílias dos jovens ora estudantes de uma instituição – brasileira e sustentada por verbas federais –, com todos os seus direitos, sobremaneira o direito à formação profissional da mais alta qualidade. As consequências da expansão concentrada em áreas não agrárias – usando aqui conceito antigo, pois o rural é bem amplo – ainda não levaram a uma reorientação do seu objeto de estudo multidisciplinar do rural, o que implicaria a saída da UFRRJ da cena nacional, seu lugar histórico.

Como muitas outras coisas na Era Lula, essa expansão do REUNI vem nos surpreender, pois, desde a redemocratização da passagem da década de 1970 aos primeiros anos 1980, se afirmara na Rural uma larga esfera de discussão político-universitária com presença de atores bem ativos – institucionais e associativos. A luta pelo exercício de autonomia de facto na vida da UFFRJ teve bastante êxito, permanecendo sua gestão, universitária e administrativa, cada vez mais nas mãos dos nossos protagonistas como professores-pesquisadores.

Não é uma conjectura negativista, muito pelo contrário, anotar que o mundo acadêmico como tal teve presença pequena na expansão da Rural. Esse tipo de participação pode ser cotejada na parte central deste livro, para onde com certeza primeiro irá o seu leitor da nossa comunidade. Suas páginas nos leva diretamente no interior da criação dos cursos, à medida que conhecemos os seus processos e outros elementos contextualizantes que compõem a narrativa da autora. O leitor encontra nessas páginas registro por demais expressivo do ciclo expansivo da Rural dos últimos tempos.

Confirmado por tal leitura, o baixo protagonismo da esfera acadêmica no que fazer real da Rural durante a expansão é uma questão – o livro não põe mas a deixa à percepção do leitor – de muito valor na hora presente, pois nesse tipo de protagonismo radicam as energias a serem mobilizadas. Não estaria demais insistir neste ponto.

A expansão do REUNI se desenvolve em tempos democráticos, com nossas instâncias departamentais e colegiadas, associativas, funcionando completamente livres e autônomas. No entanto, relembrando o emblema 1967, novamente se viu a presença do determinismo oficial. Ao entrar no ciclo expansivo, a administração central não apresentou condicionamentos à tese do aumento dos cursos; tese a cuja síntese, dados os fatos, hoje, nosso mundo acadêmico está chamado a pôr mãos à obra na consolidação da busca de excelência da nova Rural que sai da expansão.

Pressionados por tarefas redobradas, temos que prosseguir com o processo de inclusão. Agora avaliando a sustentabilidade do crescimento, definindo exigências acadêmicas diversas, equacionando as condições requeridas. Estas tarefas se põem a todos, tensionando nossa responsabilidade – aqui está o cerne da questão neste instante – em termos incontornavelmente acadêmico-universitários. O crescimento já não é uma questão de governo. O “escolão”, como se disse arriscadamente, é o perigo que nos ameaça. A rota do “escolão” é um rumo que a comunidade da Rural recusa com muita força.

Todavia, o tempo da expansão ainda não se encerrou. É de se esperar, por conta da lei de cotas, novos desdobramentos, agora mais consistentes, pois cada dia se dilui o momento carismático dos promotores iniciais do ciclo do REUNI. Há lugar para a reflexão sobre o caminho andado e para projetar cenários segundo parâmetros universitários. A conjuntura atual nos exige concretizar o lineamento traçado pela lei das cotas do Congresso Nacional, levar a bom termo a tarefa de incorporar mais contingentes de jovens a nossa Universidade.

Cf. Prefácio ao livro A vocação Rural da UFRRJ do tempo recente, editora ACM Guedes, Rio de Janeiro, dezembro de 2012. Raimundo Santos é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Entrevista - Francisco Weffort: A capacidade prática deste país de fazer sem saber é enorme

Em novo livro, ex-ministro investiga permanência de herança ibérica no Brasil

Cassiano Elek Machado

RIO - Francisco Weffort passou os últimos anos vivendo no século 16. E esteve por lá em busca dos anos 1930.

A máquina do tempo do cientista político e ex-ministro da Cultura não está quebrada. Seguindo as raízes do Brasil, ele procurava realizar um retrato do país na mesma linha dos que pensadores como Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e Gilberto Freyre (1900-1987) publicaram no início do século 20.

"Espada, Cobiça e Fé - As Origens do Brasil" (Civilização Brasileira, R$ 39,90, 240 págs.), que ele acaba de publicar, foi o resultado destas expedições.

Os três elementos elencados no título são, na ótica de Weffort, 75, vetores essenciais da atuação de portugueses e espanhóis na descoberta (ou conquista, como dizem os hispânicos) da América.

"Nos ambientes europeus em que se formaram, a fé em Deus podia conviver com uma noção de honra e de poder que não excluía a cobiça e a busca do enriquecimento rápido", escreve Weffort. "Sua profunda religiosidade era parte de uma cultura na qual a violência na vida cotidiana e o saqueio na guerra eram recursos habituais."

O tripé espada, cobiça e fé, que marcou a atuação dos ibéricos em Terra Brasilis, teria deixado traços profundos no caráter brasileiro.

Para tratar destes temas, e de como eles estão ligados a acontecimentos recentes no país, Weffort recebeu a Folha para uma conversa em seu apartamento, no Rio. Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha - O seu novo livro é uma busca das raízes do país. O que o sr. encontrou de mais desagradável em nossas raízes?encontrou de mais desagradável em nossas raízes?

Francisco Weffort - Não diria uma coisa só, mas a descoberta ou a conquista do Brasil foi um difícil processo de reconhecimento do povo brasileiro. Levou séculos e se prolongou numa cultura preconceituosa. Os europeus que chegavam aqui, mesmo os padres, que foram os que mais defenderam índios e negros contra injustiças, não tinham a ideia do que era este povo. Estavam desinteressados do tema da humanidade dos negros, por exemplo. O padre Vieira, quando foi consultado sobre o que fazer com o Quilombo dos Palmares, disse que se déssemos liberdade aos negros de lá seríamos obrigados a fazer o mesmo com todos os negros da colônia, o que inviabilizaria a colonização.

No livro, o sr. diz que o Renascimento ibérico se expressava mais na conquista do mundo do que na arte. De que modo a falta de valorização da cultura reflete nosso desinteresse na área?

A tradição ibérica é a da prática, do fazer. No campo das ciências humanas, por exemplo, temos belos historiadores, magníficos ensaístas, mas muito pouca teoria. A capacidade prática deste país de fazer sem saber é enorme. Uma vez conversei com uma figura importante na construção de Brasília. Ele comentava que tinham medo que o lago não enchesse, que as árvores não crescessem. Quase perguntei por que fizeram Brasília aqui. Eles eram de uma grande audácia e de uma enorme ignorância, mas fizeram uma imensa cidade.

Um tema importante no livro é a atuação dos bandeirantes. Eles são a melhor personificação da "audácia ignorante"?

Comecei a fazer o livro preocupado com este tema. Sei que os bandeirantes foram brutais e violentos, mas conquistaram esta terra. Todos temos uma dívida com eles. Então é preciso entendê-los.

O livro ilumina um lado menos conhecido dos bandeirantes, que foi a atuação deles na Bahia. Por que esse capítulo é tão desconhecido?

Existe uma ideia de que os bandeirantes foram só paulistas. Os baianos foram os primeiros. O que é notável é que foram atrás de tesouros por conta das descobertas de riquezas pelos espanhóis no outro lado da América. Se havia lá, deveria haver aqui. Eles não sabiam nada. Mas foram de coragem espantosa.

Outro traço que seu livro acentua ter vindo das raízes ibéricas é a violência...

Os conquistadores construíram o germe de estrutura hierárquica que acompanhou a formação do país nos séculos que se seguiram.Você tinha o monarca, depois os militares que o representavam. A sequência clara disso foi a Guarda Nacional do Império, os coronéis do Nordeste. Até o século 19, o Brasil teve tanta violência que este estilo persiste até hoje.

Como a violência ancestral ressoa no cenário atual?

Não acredito que o crime organizado seja uma projeção da violência daquela época, mas certamente a capacidade que estes grupos marginais têm de produzir violência de maneira organizada tem a ver com esta história. Eles não são finlandeses ou suecos, são como nós. Uma coisa importante é esta dualidade entre os que estão dentro e os que estão fora. No Rio, a grande manobra política recente foi a de expulsar os bandidos que estavam dentro da comunidade. Esta dualidade, os de dentro e os de fora, os civilizados e os bárbaros, está o tempo todo na cabeça do brasileiro.

E qual o papel do personalismo ibérico nisso?

O personalismo é uma dimensão fundamental de nossa identidade. Nós nos reconhecemos de pessoa a pessoa. Na cultura, isso fica claro. Entre nós, quem fala é porque tem algo a expressar do meio pessoal. Por isso você tem aqui artistas que falam sobre qualquer tema: futebol, cinema, guerra.

Numa entrevista anterior o sr. evocou as raízes ibéricas para comentar a formação das instituições políticas brasileiras. O sr. dizia que não havia partidos, só personalismos. O Brasil tem como mudar esta tradição?

O Brasil está mudando. A época atual, não estou falando em governo atual, é de avanços. Quando falo em época, estou me referindo ao pós-1950. É uma época de democratização do Brasil.
E, veja, isso inclui um período de ditadura, mas é democratização no sentido social. O número de pessoas nas cidades, de alfabetizados, de pessoas que expressam algo aumentou na escala de milhões.

Mas e os partidos?

Os partidos... [silêncio]. Em alguns casos, as instituições são mais frágeis do que o crescimento democrático. Isso porque o crescimento democrático também alimenta os personalismos. O Lula é um fenômeno do personalismo. Mas é óbvio que ele é um fenômeno da democracia. É um problema típico da construção das instituições políticas. Se pegarmos uma escala de século, veremos o crescimento das instituições. O que está ocorrendo no Brasil hoje, por exemplo no Supremo Tribunal Federal, era impensável há 50 anos.

Mas no seu livro o sr. fala da "subvalorização das normas e leis, típica da cultura brasileira e hispano-americana em geral"...

Em termos gerais, isso ainda é verdade. Nós tendemos a ter dificuldade para aceitar que a lei tem de ser cumprida. Fulano vai ser preso?, perguntam. Claro, tem de cumprir a lei. A ideia de que é preciso cumprir um princípio abstrato para nós é difícil. Mas cada vez mais vamos aceitando.

A corrupção é herança do tripé fé, espada e cobiça?

Não. As pessoas às vezes projetam uma imagem errada de que o Brasil nasceu de gente sem caráter, de ladrões. Não acho que aqui haja mais corrupção do que em outros lugares. Temos um grau de corrupção coerente com o tamanho do país, que é enorme [risos]. Mas não creio que haja complacência com isso.

Fenômenos como o mensalão não surpreendem o sr.?

Se me permite, não vou discutir o mensalão. O que me parece surpreendente é como a opinião pública e o sistema judiciário estão funcionando tão bem.

O sr. está otimista em relação ao Brasil?

Em relação à democracia no Brasil, sou otimista. Acho até que há uma certa continuidade entre o crescimento econômico da sociedade brasileira e o da participação democrática. É claro que no meio do caminho há muita trombada, botinada, ladrão. Mas democracia é isso.

E dentro dessa perspectiva positiva, o sr. vislumbra a volta a um cargo público?

Não vislumbro nada disso. O que gostaria agora seria pesquisar o corporativismo na sociedade brasileira. É um tema importante porque, no Brasil, quando você critica o corporativismo do outro, não lembra do seu. Nós todos somos corporativistas.

Em termos de gestão cultural, o sr. vê um aperfeiçoamento nos governos Lula e Dilma?

Eu dou uma opinião geral: está melhorando. O ponto de partida é o governo Collor, que foi péssimo nisso. De lá para cá, foi melhorando. E tem que melhorar, até porque, como diz o Tiririca, pior do que está não fica [risos]. Todos os sujeitos que entram no MinC têm ideias, teorias, mas querem mais gente pra trabalhar e mais recursos. Ainda é um tema fundamental. Porque estamos longe de ter esbanjamento em cultura.

Fonte: Folha de S. Paulo

Adriana Calcanhoto - Ciranda da Bailarina -

Feliz Natal


Cartão de Natal – João Cabral de Melo Neto

Pois que inaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:

que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.

In. João Cabral de Melo Neto. Museu de Tudo.