Não fosse o apagão de ontem em 33 cidades do Piauí, a passagem da presidente Dilma Rousseff pelo estado seria um perfeito roteiro de campanha. Vestida de vaqueira, teve até a candidatura à reeleição lançada por um prefeito do PT. A viagem ocorreu quatro dias depois que Dilma afirmou, em encontro com o governador Eduardo Campos (PSB), que disputará de novo a Presidência em 2014
Dilma diz a Campos que é candidata em 2014
Presidente garante que disputa reeleição e pede a governador, que também cogita concorrer, apoio do PSB
Fernanda Krakovics, Sávia Barreto* e Efrém Ribeiro*
Em clima de campanha. Dilma, ao lado do governador Wilson Martins, veste gibão de vaqueiro e chapéu de couro em palanque no Piauí, onde visitou obras da adutora Piaus I
BRASÍLIA, TERESINA e JAICÓS (PI) - Em sua terceira conversa desde o início de novembro com o presidente do PSB e pré-candidato à Presidência da República em 2014, governador Eduardo Campos (PE), na última segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff afirmou categoricamente que é candidata à reeleição. O socialista, que tenta viabilizar sua própria candidatura, mas continua na base de apoio ao governo, não se posicionou em relação ao eventual apoio à reeleição de Dilma. Comprometeu-se apenas a ajudá-la a fazer uma boa administração neste ano de 2013.
Setores do PT gostariam que o ex-presidente Lula fosse candidato em 2014, já que Dilma mantém uma relação mais distante com o partido. Essa opção também funciona como uma espécie de garantia caso algo vá mal no governo. Já a presidente tem evitado falar publicamente sobre o assunto porque não quer antecipar o debate eleitoral, o que poderia prejudicar sua administração.
Integrantes do PSB e interlocutores de Eduardo Campos contaram que, na conversa de segunda-feira, no Palácio do Planalto, Dilma afirmou que será candidata à reeleição e pediu apoio do presidente do partido para atravessar 2013, principalmente por causa da crise econômica e da necessidade de retomar o crescimento do país. A informação foi divulgada pela agência Reuters, e confirmada pelo GLOBO.
- O PSB é fundamental para nós (governo). Se você é candidato ou não, não altera - teria dito a presidente para Campos, de acordo com interlocutores do pernambucano.
- Eu vou para a reeleição - teria afirmado a presidente, sem ter de volta o compromisso de apoio de Eduardo Campos.
O tom da conversa foi uma saia-justa para Campos. Ele ainda não sabe se realmente será candidato, porque, para isso, precisa costurar apoios e analisar o cenário político e econômico, para ver se tem alguma chance. O presidente do PSB não quer entrar em uma aventura, mas também não quer excluir seu nome do processo.
Enquanto isso, os socialistas continuam no governo Dilma, ocupando dois ministérios, Integração Nacional e Portos.
- Nossa estratégia hoje é que o Eduardo não pode dizer que é candidato e também não tem como dizer que não é. E ele também não quer se expor - disse uma pessoa próxima de Campos.
Depois da conversa de quase duas horas, o presidente do PSB deixou o Planalto repetindo o discurso de apoio ao governo federal, mas sem se comprometer com as eleições de 2014. Ele disse que antecipar o debate eleitoral não interessa ao desenvolvimento do país.
Essa foi a primeira vez em que Dilma falou sobre 2014 com Campos. No último dia 5, a presidente o recebeu para almoço na Bahia, onde passava férias, junto com o governador Jaques Wagner (BA) e as respectivas famílias. Amenidades dominaram a conversa, que serviu mais como um gesto de aproximação. Antes, no início de novembro, logo após as eleições municipais, os dois jantaram no Palácio da Alvorada, com a presença do vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, do presidente do PT, Rui Falcão, e da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Nessa ocasião, 2014 foi deixado de lado. A preocupação de Dilma era não deixar que as rusgas entre PT e PSB, que romperam em Fortaleza e Recife, contaminassem a relação dos socialistas com o governo federal.
Presidente afirma que 2013 será o ano do "crescimento sério"
Em São Julião, a 390km de Teresina, primeira parada de sua visita ontem ao Piauí, Dilma afirmou, em discurso na vistoria às obras da adutora Piaus I, que o ano de 2013 será de crescimento:
- 2013 será o ano que vamos colher muito do que plantamos. Vamos plantar mais do que colher. 2013 será o ano do crescimento sério, seja o crescimento com obras, do cimento armado, da estrutura metálica, dos prédios, e o crescimento das pessoas e da educação com qualidade.
Um pouco antes, o prefeito de São Julião, José Neci, do PT, lançou a candidatura de Dilma à reeleição, durante seu discurso.
- O governo do PT, seu e do ex-presidente Lula, conseguiu mudar a situação que existia. A senhora tem que continuar com a obra depois de 2014 para que não voltem aqueles que querem o destroço do país. O Brasil muda, mudou e deve continuar mudando após 2014 com a senhora - afirmou o prefeito.
O clima de pré-campanha eleitoral foi reforçado quando Dilma vestiu um gibão de vaqueiro e colocou o chapéu de couro. Depois, ela desceu do palanque para cumprimentar as pessoas que assistiam à solenidade e posou com os operários.
A adutora Piaus I tinha conclusão prevista para setembro do ano passado, mas só deverá estar pronta em abril. Segundo o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, a obra está 98% concluída.
Dilma assinou duas medidas provisórias, ampliando para todo o ano de 2013 o Bolsa Estiagem, que paga R$ 400, em cinco parcelas de R$ 80, e o Garantia Safra, que paga R$ 960 aos agricultores que perderam suas lavouras com a seca.
Em Teresina, aonde chegou à tarde, Dilma afirmou, durante a cerimônia de entrega de 400 unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida, que irá erradicar a pobreza extrema no país até o início de 2014:
- Ninguém nos respeitará se deixarmos parte da população em condição de pobreza extrema. O objetivo é completar o processo de extinção da miséria no Brasil até 2014, e é óbvio que não vai ser no dia 31 de dezembro. Em boa parte dos estados, vamos fazer isso ainda em 2013 e, para 2014, queremos completar.
Dilma criticou os "pessimistas" e voltou a dizer que em 2012 o país se preparou para o crescimento que virá em 2013.
- É impossível levar desenvolvimento sem atacar vários problemas. Mesmo contrariando os pessimistas, iremos procurar todas as oportunidades que tivermos - frisou.
Sobre as cobranças de prefeitos e parlamentares para que o governo envie recursos aos municípios, Dilma disse que os gestores "querem receber em um Natal só os presentes dos próximos anos. Aí não tem quem aguente".
Fonte: O Globo