quinta-feira, 2 de novembro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

MEC faz bem em manter data do Enem

O Globo

Mas ministério deve explicações sobre falhas que levam candidatos a fazer provas a mais de 30 km de casa

O Ministério da Educação (MEC) tomou a decisão correta ao não adiar a data do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para o próximo domingo e o seguinte. Apesar dos problemas constatados na organização — como agendamento das provas longe da casa dos alunos —, o adiamento seria um equívoco e prejudicaria a imensa maioria dos estudantes. De acordo com o MEC, as falhas atingem apenas 1% dos inscritos, concentrados em cidades grandes como São Paulo, Rio ou Brasília.

Pela alternativa sugerida pelo MEC, esses estudantes poderão fazer as provas nos dias 12 e 13 de dezembro noutros locais, desde que, para isso, se inscrevam entre 13 e 17 de novembro. Há reclamações de que esse contingente será beneficiado por ter mais tempo para estudar, mas a solução é menos danosa do que o adiamento geral.

Míriam Leitão - O Estado contra-ataca

O Globo

Com atuação das Forças Armadas, o objetivo do plano divulgado pelo ministro Flávio Dino é descapitalizar a “narcomilícia”, e estrangular a logística do crime

O governo convocou todas as forças federais para atuar na crise de segurança, mas através de um plano que é diferente de outros e, ao contrário do que se pensava, não é apenas do Rio. É nacional. A Marinha e a Aeronáutica atuarão através de uma GLO, e que também é diferente das que ocorreram no passado, porque será específica e pontual.

O ministro Flávio Dino me disse o que o governo não fará: “não concordamos e não faremos ações de ocupação militar com tiros a esmo porque isso é irresponsável, ineficiente, puramente demagógico e quem morre são os mais vulneráveis”. O ministro combate a ideia de que o crime organizado está apenas nas áreas mais pobres do Rio. “Quem inventou a milícia no Rio de Janeiro foram os políticos. Onde houve a apreensão de 47 fuzis? Numa mansão na Barra da Tijuca”.

Ontem, dia do lançamento do plano para combater a milícia e o tráfico de drogas, o ministro da Justiça me deu uma longa entrevista que foi ao ar na GloboNews. Ele detalhou o plano que resume como sendo “integrar as ações do Estado, focar na prioridade e não cometer erros pretéritos”. Além disso, falou de outros temas que o circundam. Negou que o presidente Lula tenha falado com ele sobre indicação para o Supremo e disse que prefere pensar no assunto apenas quando, e se, isso for colocado. Sobre a tentativa de golpe do começo do ano, ele descreveu o que sentiu.

Luiz Carlos Azedo - O fracasso pode se repetir com a GLO de Lula

Correio Braziliense

"A operação anunciada é mais uma resposta política ao caos na segurança pública do Rio do que um plano efetivo para restabelecer o controle do Estado sobre os 'territórios' ocupados por traficantes e milicianos"

Era domingo, 24 de outubro de 2012, o dia ainda não havia amanhecido e dois mil agentes de segurança, entre policiais e fuzileiros navais, ocuparam a região de Manguinhos conhecida como “Faixa de Gaza”, no Rio de Janeiro — assim batizada por causa dos frequentes tiroteios entre traficantes, milicianos e policiais naquele subúrbio carioca. Iniciada às 5 horas, a operação militar não encontrou resistência. Uma hora e meia depois, estava tudo dominado.

No dia 16 de janeiro de 2013, com pompa e circunstância, o então governador Sérgio Cabral inaugurou sua 29ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na região. Manguinhos é conhecida principalmente por causa do Palácio Mourisco, a belíssima construção no alto da colina que abriga o complexo de pesquisas em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Quase 900 soldados da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, incluindo os batalhões de Operações Policiais Especiais, de Choque, de Ação com Cães e o Grupamento Aéreo-Marítimo, com apoio de efetivos e blindados dos fuzileiros navais, 100 agentes e um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e policiais federais participaram da operação.

Thiago Amparo - Coisas boas e novas na GLO no Rio

Folha de S. Paulo

Será que sempre precisaremos de fardados a nos tutelar?

Parafraseando o já finado Foro de Teresina, que deixará saudades como o melhor podcast em política já feito neste país, há coisas boas e coisas novas no plano de Lula para lidar com a crise de segurança pública no Rio de Janeiro, o que inclui o decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Acontece que as coisas boas não são novas, e as coisas novas não são boas. Vamos por partes, a iniciar pelas coisas boas e intencionalmente vagas no plano de dez pontos anunciado nesta quarta (1º).

Merval Pereira - Sinal trocado

O Globo

A cada discussão sobre aumentar o limite de gastos, cresce a desconfiança sobre a real intenção do governo

A guerra interna no governo sobre o déficit fiscal continua intensa, com a ala política retomando a tese que defendia desde o início do governo: fixar a meta em 0,5% do PIB. A Fazenda continua tentando salvar a credibilidade da busca por zerar o déficit, que não será alcançada, mas continuará sendo um objetivo saudável para as contas públicas, em vez de um limite permissivo de gastos.

A definição de déficit zero, aliás, foi assumida como mensagem do novo governo para o mercado financeiro, uma demonstração do empenho em equilibrar as contas. A cada discussão sobre aumentar o limite de gastos, cresce a desconfiança sobre a real intenção do governo.

Lula dizer que um déficit de 0,25% ou 0,50% “não é nada” envia um recado à sociedade de que o lema deste governo é o mesmo dos anteriores, a partir do segundo mandato de Lula: “Gasto é vida”. Deu no que deu. O governo começou com a benevolência do Centrão liberando uma verba extra para que pudesse se equilibrar diante do caos que diziam existir na economia.

Malu Gaspar – O buraco é mais embaixo

O Globo

A implosão do déficit zero no Orçamento de 2024 pelo próprio presidente Lula — ao dizer num café da manhã com jornalistas que a meta dificilmente será cumprida — não escancarou apenas o debate dentro do governo sobre qual deve ser o tamanho do aperto fiscal. Trouxe à tona também uma série de outras variáveis e personagens que andavam ofuscados pela narrativa que Fernando Haddad emplacou tanto no Congresso como no mercado financeiro — ainda que todos soubessem que se tratava de meta praticamente impossível de cumprir.

A atitude de Lula pôs Haddad num corner de que ele até agora não conseguiu sair e colocou alguns de seus principais auxiliares num indisfarçável estado de barata-voa. O desarranjo foi tão grande que, agora, já não há mais certeza do que seria uma projeção razoável para o déficit, nem de como modificá-la sem desmoralizar ainda mais o ministro da Fazenda.

Eugênio Bucci* - Assim falou Mano Brown

O Estado de S. Paulo

Se levarmos a sério o alerta do incômodo discurso de cinco anos atrás, veremos que a miséria da comunicação do ‘campo democrático’ não foi resolvida

A observação foi do cineasta Roberto Gervitz. Quando se acenderam as luzes na sala do cinema, após a projeção do documentário Partido (com direção de Cesar Charlone, Sebastián Bednarik e Joaquim Castro), na 47.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ele sentenciou, com sua argúcia costumeira, que a fala do rapper Mano Brown é o ponto alto do filme. Estávamos na Rua Augusta, sábado à noite, chovia lá fora, em pleno horário de lazer da classe média e, bem, você sabe como é, Gervitz tem razão.

Mas do que se trata, exatamente? Expliquemos. O documentário registra a campanha presidencial de Fernando Haddad (PT), em 2018. O trabalho dos cinegrafistas conduz o fio narrativo. A câmera sai dos espaços públicos protocolares e previsíveis para adentrar a esfera familiar do político até se aboletar, confortavelmente, na cozinha e na sala de jantar. A reportagem flagra, entre outros episódios reveladores, o momento em que os Haddad recebem o linguista Noam Chomsky para almoçar. À vontade, Chomsky tece considerações, em inglês, sobre o consumo de bens de luxo. É interessante. Outras passagens, com personagens também inesperados, denotam sinais de alguma vida inteligente na burocracia partidária. Com ingredientes assim, o curso das imagens carrega enunciados ilustrados e, por vezes, eruditos, mas, no fim das contas, quem mais chama a atenção é mesmo o compositor de rap.

William Waack – O custo de hesitar

O Estado de S. Paulo

Em seu terceiro mandato, Lula exibe incapacidade decisória

A indecisão como método tem custado a Lula um alto preço para governar. Além de piorar as expectativas de agentes econômicos e o funcionamento de instituições como o STF e o Ministério Público.

Políticos de diversos partidos e integrantes da cúpula do Judiciário e do MPF acham que a demora do presidente em encontrar nomes para cargos, cumprir acertos políticos e definir diretrizes para políticas públicas revela cálculos equivocados. E se traduz em incapacidade decisória.

Exemplo recente foi a demora no timing em entregar ao Centrão a Caixa Econômica, que Lula sabia ser incontornável. Acabou atrasando a tramitação de pautas relevantes para a política econômica. Em especial as arrecadatórias, nas quais está concentrado todo o esforço do governo para “equilibrar” as contas públicas.

Roberto Macedo* - Lula quer gastar mais e desautoriza Haddad

O Estado de S. Paulo

Seria importante discutir também a perspectiva de forte queda da taxa de crescimento do PIB em 2024

O presidente Lula disse, na sexta-feira passada, que a meta fiscal de 2024 quanto ao resultado primário – o que exclui juros sobre a dívida – do seu governo não precisa ser zero. Ora, esta é a principal bandeira do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que vem lutando para viabilizar o novo arcabouço fiscal. Na mesma sexta-feira, a declaração de Lula levou a uma reação do mercado financeiro com a Bolsa caindo e o câmbio subindo, o mesmo acontecendo com juros de contratos futuros. Esses movimentos se repetiram na segunda-feira.

No mesmo dia, ao ser questionado pela imprensa sobre o assunto, não sem razão Haddad mostrou-se cansado, contrariado, impaciente e malhumorado, segundo Eliane Cantanhêde, colunista deste jornal. Mas pareceu-me disposto a seguir em frente, dizendo: “A minha meta (está) estabelecida. Vou buscar o equilíbrio fiscal de todas as formas, justas e necessárias (...)”, sem dizer como irá se acertar com Lula.

Celso Ming - Os juros do Copom e os novos riscos

O Estado de S. Paulo

Desta vez, o corte dos juros básicos (Selic), de 0,5 ponto porcentual, para 12,25% ao ano, não foi o ponto mais importante da decisão do Copom. Mais importante foi o crescimento de duas fontes de incertezas que tomaram o ambiente da economia e das finanças.

A primeira delas foi o peteleco que o presidente Lula deu na lei complementar do arcabouço fiscal. Ninguém sabe agora qual será o peso do rombo do governo. Está em discussão no Congresso o tamanho do déficit de 2024 a ser admitido na Lei de Diretrizes Orçamentárias: se será de 0,25% ou de 0,50% do PIB. Se uma lei fechada há 3 meses, com tanto esforço político, foi derrubada com uma declaração do presidente Lula, enquanto mastigava pão de queijo com jornalistas, que valor terá uma previsão orçamentária prevista em lei ordinária?

Vinicius Torres Freire - Uma reviravolta na economia

Folha de S. Paulo

Decisões do BC chovem no molhado de um leite derramado; governo precisa de ruptura positiva

Como pode acontecer uma reviravolta positiva na economia brasileira, ainda que não seja grande mudança de ritmo e que tratemos apenas do curto prazo (até dois anos)? Esse é o assunto. Pelo menos por enquanto, discutir decisão do Banco Central é chover no molhado de um leite derramado.

A direção do BC baixou a meta para a Selic de 12,75% ao ano para 12,25%, como previsto. Sugeriu que são quase certos cortes de 0,5 ponto percentual nas reuniões de 13 de dezembro próximo e de 31 de janeiro de 2024, afora mais desastres, como guerra generalizada no Oriente Médio ou encrenca maior com os juros dos EUA.

Bruno Boghossian - A propaganda do pós-guerra

Folga de S. Paulo

Netanyahu contempla custos políticos e diplomáticos de uma guerra com duração e resultado incertos

Enquanto o Hamas mantém reféns e Israel despeja bombas, há gente interessada em falar do pós-guerra. Um documento do Ministério da Inteligência israelense cita a remoção forçada de 2,2 milhões de palestinos. Já o secretário de Estado americano indicou que uma coalizão de países ou órgãos internacionais pode controlar Gaza temporariamente.

A esta altura, qualquer cenário só existe à base de muita propaganda, alguma torcida e nenhuma disposição para a trégua. O governo de Israel pode fazer uma exibição de valentia e convencer seus cidadãos de que há um plano até a vitória. Para os EUA, projetar o dia seguinte à guerra poderia ser uma tentativa de exorcizar o fantasma do caos afegão.

Ruy Castro - Soberania de araque

Folha de S. Paulo

Aqui vão sugestões para se desenhar um mapa do Brasil que não pertence mais ao Brasil

Sim, são mais de oito milhões de quilômetros quadrados de território nacional. Mas de quantos a nação detém a soberania? Soberania é onde o Estado entra e sai à vontade, dita normas e se guia por elas, faz a sua parte e espera o mesmo dos cidadãos. Afinal, a nação diz respeito a todos, não a feudos particulares com regras próprias. Mas é isto em que se transformou o país —um amálgama de cercadinhos dominados por grupos anônimos a que têm de se submeter milhões de brasileiros.

Poesia | Ode ao Gato - Pablo Neruda

 

Música | Trem de Ferro - Tom Jobim