quinta-feira, 2 de agosto de 2018

William Waack: Memórias distantes

- O Estado de S.Paulo

Há momentos em que sociedades decidem que um assunto já foi encerrado

A reabertura da investigação sobre o assassinato no DOI/Codi de Vladimir Herzog por parte do MPF e o consequente apelo a invalidar a Lei da Anistia – que perdoou crimes cometidos nos dois lados da guerra suja brasileira – trouxeram de volta a mim memórias muito pessoais que, confesso, estavam bem distantes. Simbolicamente representadas na morte terça-feira última de Hélio Bicudo, naquela época um herói para mim e exemplo de coragem como o homem que enfrentou o Esquadrão da Morte.

Lembranças pessoais nada têm a ver com a maneira como sociedades “trabalham” períodos traumáticos de sua história, isto é, como “lembram” (ou decidem esquecer) esse tipo de acontecimento. Lição que aprendi participando diretamente durante cinco anos seguidos da cobertura jornalística de como a Alemanha reunificada lidou com o legado vivo e palpitante de uma odiosa ditadura comunista, também acusada de crimes contra a humanidade.

Há momentos em que essas sociedades (e aqui incluiria os exemplos de Espanha, Chile, Argentina e Uruguai – mais complexos são os casos de França e Itália) decidem por um entendimento político tácito que o assunto foi encerrado. Por mais ofensivo e dolorido que possa parecer, por exemplo, à viúva de Vlado e seus filhos. E parece-me bastante óbvio que o mesmo – página virada – ocorreu já no Brasil. Não se trata aqui de examinar argumentos jurídicos para invalidar a anistia, e que me parecem bastante frágeis, devido ao fato de que os constituintes de 1988 plantaram-se sobre essa lei para propor a rota futura do País.

Merval Pereira: Voto útil ou envergonhado

- O Globo

O pré-candidato do PSL à Presidência da República, diz que sente em suas viagens que tem mais votos do que Lula. Em qualquer lugar que vá, é recebido por uma multidão de ensandecidos, que o carregam nos ombros e gritam o mantra “mito, mito” como se estivessem hipnotizados.

Ao contrário de tempos atrás, quando militantes petistas recebiam Lula onde quer que fosse aos magotes, os bolsominions, como são conhecidos pejorativamente os seguidores de Bolsonaro, aparentemente se reúnem de maneira espontânea, não têm a estrutura que os sindicatos forneciam ao PT.

Há ainda os possíveis “eleitores envergonhados”, que preferem Bolsonaro, mas não revelam o voto com receio da reação. Não é impossível, portanto, que o pré- candidato do PSL tenha mais eleitores do que captam as pesquisas. Contra Bolsonaro, porém, há o voto útil, que em uma eleição como esta, tão fora de parâmetros, pode ser fundamental já no primeiro turno.

Diante da possibilidade real de Bolsonaro estar no segundo turno, muito eleitor tucano pode votar em Marina, assim como parte dos eleitores petistas que não anularem o voto, cristianizando tanto Geraldo Alckmin quanto o poste de Lula.

Já Ciro Gomes poderá ter o apoio dos partidos de esquerda que não conseguem se unir no primeiro turno. Pode ser que a perspectiva de a esquerda tradicional não ir para o segundo turno faça com que eleitores dessa tendência invistam em Ciro para evitar que o segundo turno seja disputado pela extrema- direita contra a centro- direita, que pode ser representada tanto por Marina quanto por Alckmin.

Bruno Boghossian: Preso, Lula exercerá influência sobre capítulos finais da eleição

- Folha de S. Paulo

Petista reconfigura disputa na esquerda e explora indefinição sobre candidatura

Fora da eleição, Lula exerce a distância sua força gravitacional. Nas últimas semanas, o ex-presidente agiu como negociador político e reconfigurou os termos da competição na esquerda. Nos próximos 65 dias, o petista vai explorar as incertezas de sua candidatura para se manter no centro do debate.

Parte da campanha deste ano ainda gira em torno de uma indefinição que desorienta cerca de 30% dos brasileiros e provoca a repulsa de outros 36%. As interrogações propositadamente mantidas ao redor de Lula provocam tempestades nos campos de seus adversários e numa fatia significativa do eleitorado.

Na semana que vem, o Supremo deve julgar um pedido de liberdade do ex-presidente. A inclusão do caso na pauta é suficiente para mobilizar eleitores e candidatos. Ainda que o petista sofra um revés, o PT buscará reforçar a narrativa de perseguição judicial a seu candidato.

A esse episódio, sucederá a batalha sabidamente perdida sobre o registro da candidatura de Lula, no dia 15. A Justiça Eleitoral articula o veto à inscrição do ex-presidente no fim do mês, o que deve prolongar por ao menos duas semanas essa falsa dúvida na disputa.

Maria Cristina Fernandes: A ideia fixa do PT

- Valor Econômico

PT demonstra a mesma obsessão de seus perseguidores

Faz quase quatro meses que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que abandonara a categoria de ser humano para se transformar numa ideia. Não haveria como prendê-lo porque já estaria pairando no ar. Se um dia parasse de sonhar, milhões de brasileiros sonhariam por ele. Se tivesse um infarto, seu coração bateria no de seus compatriotas.

A ideia que está para prevalecer é que não apenas o PT mas todo o campo da esquerda deve ser refém das grades de Curitiba. Uma ideia não precisa de registro eleitoral, programa de governo ou aliados. Basta ter a pretensão de que nenhuma outra prospere à sua sombra.

A decisão de ontem da executiva nacional não poderia ter sido mais clara. O PT abriu mão da candidatura mais competitiva que o partido já teve na disputa pelo governo de Pernambuco. Como todos os carcereiros de Curitiba sabem, não o fez pelo apoio do PSB na disputa presidencial, mas para evitar que Ciro Gomes o tivesse.

A estratégia de Lula de levar sua candidatura adiante, ainda que inviável, já estava traçada muito antes de a prisão ser dada como desfecho inevitável. Mas sua execução, num momento em que a campanha entra na fase de debates e entrevistas, explicita o alcance da ausência.

Pouco importa se o partido não participa do confronto de posições sobre os rumos do país. Tampouco interessa se candidatos com os quais o PT divide um ideário comum se estapeiem por segundos no horário eleitoral. O que o partido não pode é abrir mão da ideia. A de que Lula vem antes de tudo, da eleição e do país.

É um laranja de Lula que o PT prepara para ser ungido candidato no prazo limite dos recursos, a 20 dias do primeiro turno. O partido confia que o consagrará, a despeito do pouco tempo para fazê-lo conhecido da grande maioria do eleitorado, pela transferência de voto, ou melhor, da ideia.

E ninguém pode dizer que Lula não avisou o que estava em curso. A rigor, daria para dispensar até os eleitores, uma vez que o coração, os sonhos e, principalmente, a ideia, já está consubstanciada em milhões de brasileiros.

Por enquanto, a única ideia que, de fato, move milhões de eleitores é a escolha de um candidato que culpa mães que não escovam os dentes pela morte de crianças miseráveis e os negros por seu próprio infortúnio.

Com a decisão de ontem, o PT não comete apenas mais um dedaço que, ao longo dos últimos trinta anos, condenou sucessivas lideranças regionais promissoras ao limbo. O partido inviabiliza uma candidata que se impõe no manejo de três mitos, Lula, o avô, Miguel Arraes, e o primo Eduardo Campos. Mostra-se capaz de mobilizar militância num momento em que os partidos já não conseguem mais encher praças públicas. O partido de Marília Arraes parece ignorar qualquer outra chance de revitalizar a esquerda que não seja o #LulaLivre. Não é a toa que o deputado Jair Bolsonaro hoje disponha de exércitos mais do que virtuais.

Os petistas deixaram para a reta final a participação na disputa eleitoral que, desde a redemocratização, mais colocou o futuro do país em xeque. Estão tomados pela mesma obsessão dos adversários do ex-presidente. Se magistrados e procuradores têm a ideia fixa de mantê-lo preso em processos que acumulam pedaladas jurídicas, o PT também tem a sua. Na outra ponta da corda que resolveu esticar, também resiste a democracia.

Ascânio Seleme: Quinze dias de agosto

- O Globo

Está em curso a mais bem coordenada ação em favor de Lula desde que ele foi preso, há quase quatro meses. O PT e seus braços sindical, rural e pastoral vão usar todo o resto de força e capacidade de mobilização de que dispõem para tentar emplacar a tese de que a prisão de Lula foi um golpe antidemocrático e que ele deve ser solto e participar da eleição de outubro. Como não foi possível a sublevação das massas, sonho que não se alcançou nem mesmo com o auxílio do exuberante e que de apoio nas redes sociais, a cartada final será jogada com greves de fome, marchas de militantes e sem-terra e com mobilizações sindicais.

O que está em jogo nestes dias que antecedem à data de registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral, 15 de agosto, é se o Brasil conseguirá manter em vigor os rigores de duas leis que o Congresso aprovou com o apoio de todos os partidos, inclusive do PT. A lei que estabelece prisão após condenação em segunda instância está em vigor pleno após apreciação do Supremo. E a Lei da Ficha Limpa — que impede criminoso condenado por tribunal colegiado de se candidatar a cargo eletivo— foi aprovada na Câmara e no Senado e sancionada pelo então presidente Lula.

A desenvoltura do PT em atacar os dois dispositivos legais faz todo sentido para o partido, que aparentemente acredita que leis e artigos constitucionais foram concebidos para serem quebrados. Foi o que se viu na manobra de Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski, quando, manipulando o plenário do Senado, rasgaram a Constituição e preservaram os direitos políticos de Dilma Rousseff no mesmo ato que cassou o seu mandato.

Nestes primeiros 15 dias de agosto tudo será feito usando- se o nome da democracia e da justiça para se atentar justamente contra a democracia e a justiça. O barulho começou antes mesmo de agosto. Começou no domingo passado, com o Festival Lula Livre, que levou para os Arcos da Lapa alguns dos grandes e muitos dos pequenos nomes da música popular brasileira para cantar em favor da soltura do líder preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Embora fosse um ato de natureza política com caráter eleitoral, os músicos puderam cantar e se manifestar a favor de Lula. O que é proibido pela lei eleitoral. Mas lei é apenas um detalhe.

Ricardo Noblat: Envergonhado, o PSB se cala sobre acordo com o PT

“O jogo só termina quando acaba”

Desde que o ex-ministro Joaquim Barbosa desistiu de disputar a sucessão de Temer, o presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, esgoelou-se de tanto repetir que caberia ao seu partido apoiar algum candidato, mas jamais ficar neutro.

Siqueira viajou, ontem, às pressas a Belo Horizonte para comunicar a Márcio Lacerda (PSB) que ele não poderá ser mais candidato ao governo de Minas Gerais como pretendia. A cúpula do PSB, pressionada pelo PT, afinal decidira pela neutralidade do partido.

Que cúpula? – quis saber Lacerda. Siqueira enrolou-se para explicar, uma vez que não houve reunião de cúpula alguma. O PSB tem convenção marcada para o próximo domingo. E a maioria de suas seções estaduais não foi consultada sobre o acordo com o PT.

De volta a Brasília, Siqueira calou-se. Os principais líderes do PSB também se calaram à espera que o partido nos Estados engula ou regurgite o acordo. “O jogo só termina quando acaba”, comentou irônico o presidente do PDT, Carlos Lupi.

PDT e PSB se coligaram em 13 Estados para concorrer aos governos. Em seis deles, o PDT apoia candidatos do PSB. Esse número ainda poderá crescer a depender do que aconteça nas próximas horas.

A marcha da insensatez do PT em Pernambuco

A lição esquecida de Tancredo Neves

Do alto de uma sabedoria acumulada ao longo de décadas, o presidente da República que morreu antes de tomar posse costumava ensinar aos jovens: “O natural na política é muito forte”.

O mineiro Tancredo de Almeida Neves, no ramo da política há mais de 50 anos, queria dizer simplesmente o seguinte: contra o natural, não insista. Se insistir, no mais das vezes perderá.

Era natural, por exemplo, que o deputado Ulysses Guimarães, líder da oposição nos anos 80, fosse o candidato do PMDB a presidente da República se as eleições diretas acabassem restabelecidas.

Como não foram, a candidatura de Tancredo tornou-se natural. Tanto que ele se elegeu em um colégio formado por deputados, senadores e delegados estaduais onde o governo tinha maioria.

PT tira neta de Arraes da eleição para isolar Ciro

Partido veta candidatura em troca de ‘neutralidade’ do PSB e deixa presidenciável do PDT sem apoios

Depois de perder para Geraldo Alckmin (PSDB) a disputa pelo apoio do Centrão, Ciro Gomes (PDT) sofreu ontem mais um revés. A decisão do PSB de não apoiar presidenciáveis no 1.º turno isolou Ciro e afetou arranjos eleitorais em vários Estados. Para afastar o PSB – que tem 44 segundos em cada bloco do horário eleitoral – de Ciro, o PT interveio na campanha para o governo de Pernambuco e retirou a candidatura da vereadora Marília Arraes. Ela é neta de Miguel Arraes (1916-2005) e prima de Eduardo Campos (1965-2014). O PSB tem como um dos objetivos a reeleição do governador Paulo Câmara. Marília afirmou que o acordo entre PSB e PT é “ataque especulativo” à sua candidatura e recorreu da decisão. Sem alianças, Ciro terá apenas 5% do horário eleitoral. À noite, à GloboNews, Ciro disse que o não apoio do PSB é um revés, mas que não o abate ou surpreende. Ele avaliou que a atitude do PT é “hostil ao País”, porque coloca o Brasil “à beira do abismo”, uma vez que Lula não deve ser candidato.

PT faz acordo com PSB e impõe derrota a Ciro

Ricardo G,0,0alhardo, Felipe Frazão, Mateus Fagundes, Marianna Holanda, Renato Onofre, Jonathas Cotrim e Kleber Nunes | O Estado de S. Paulo.

PSB e PT fecharam ontem um acordo que impõe uma nova derrota ao candidato do PDT, Ciro Gomes, na corrida presidencial. Pelo acerto, a sigla socialista se comprometeu a anunciar a neutralidade no primeiro turno, o que poderá deixar Ciro isolado na corrida pelo Palácio do Planalto. Este foi o segundo revés sofrido pelo candidato do PDT em duas semanas. Antes ele havia perdido para o tucano Geraldo Alckmin o embate pelo apoio dos partidos do Centrão – PP, DEM, PRB, PR e Solidariedade.

A costura entre as cúpulas do PT e do PSB sacrificou candidaturas regionais dos dois partidos e gerou reações indignadas em Pernambuco e Minas Gerais. A legenda petista articulou um processo de asfixia da candidatura de Ciro para manter a hegemonia no campo da esquerda, mesmo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso e condenado na Lava Jato – apesar da prisão e potencial inelegibilidade de Lula com base na Lei da Ficha Limpa, o partido vai anunciá-lo oficialmente como candidato.

Com o PSB neutro, seu tempo (44 segundos em cada bloco do horário eleitoral fixo 12 minutos e 30 segundos) no horário eleitoral no rádio e na TV não irá para nenhum outro candidato. Ciro, sem alianças, terá cerca de 26 segundos em cada bloco da propaganda presidencial. De acordo com estimativa do Estadão Dados, Alckmin, após o acordo com o Centrão, deverá contar com cerca de 4 minutos e 40 segundos em cada conjunto no horário eleitoral. Já o PT terá 1 minuto e 29 segundos por cada bloco.

Restam aos petistas e pedetistas agora a disputa pelo apoio do PCdoB, que ontem oficializou a candidatura de Manuela d’Ávila (mais informações nesta página), mas continua negociando com os partidos. A tendência é o PCdoB fechar com o PT. A manutenção da candidatura de Manuela serve para pressionar os petistas a ceder a vaga de vice à deputada gaúcha. Essa decisão depende de um aval de Lula, que articulou o acordo com o PSB da prisão.

Estados. Ontem, em Brasília, executiva nacional do PT aprovou, por 17 votos a 8, a retirada da candidatura da vereadora do Recife Marília Arraes – neta de Miguel Arraes – ao governo de Pernambuco. A medida era vista como fundamental para haver a neutralidade do PSB por favorecer o governador Paulo Câmara, candidato à reeleição. Por outro lado, o PSB rifou a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda ao governo de Minas, abrindo caminho para uma composição com o governador Fernando Pimentel (PT), que vai disputar um novo mandato.

Marília afirmou que o acordo entre PSB e PT é “ataque especulativo” à sua candidatura. Ela disse que vai recorrer. Lacerda divulgou nota na qual afirmou que recebeu a decisão da direção do seu partido com “indignação, perplexidade, revolta e desprezo”.

A movimentação política entre PT e PSB também beneficia o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), que desde o início do processo eleitoral rejeitava a aliança do partido com outra legenda da esquerda. Com a neutralidade, França poderá apoiar livremente a candidatura de Alckmin, seu antecessor no Estado.

Arranjo pode beneficiar Alckmin

Marco Antonio Carvalho Teixeira | O Estado de S. Paulo.

Para quem esperava uma eleição presidencial com novos nomes e novos arranjos de coligações políticas, a reta final para a definição das candidaturas pode estar sendo frustrante. A expectativa de que a esquerda se uniria em torno de um nome, de que a direita estaria fortalecida num bloco partidário e de que o centro traria a figura de um outsider como alternativa parece definitivamente sepultada.

Todavia, é no chamado bloco da esquerda que o momento se apresenta de forma mais confusa. Sem a garantia de que Lula será candidato, o PCdoB lançou Manuela d’Ávila. Ciro Gomes, ao fracassar na tentativa de atrair o apoio do Centrão, também está vendo naufragar a esperança de ter o PSB como aliado. O sinal mais forte foi dado com acordo firmado entre o PSB e o PT que implicou na retirada da candidatura da petista Marília Arraes ao governo de Pernambuco e no apoio do PT à reeleição do atual governador Paulo Câmara com o petista Humberto Costa candidato a permanecer no senado. A contrapartida dos socialistas é a neutralidade nas eleições presidenciais.

Ciro se isola ao fracassar nas tentativas de atrair simultaneamente a esquerda e a direita (paradoxalmente chamada de centrão) e perde tempo de TV, além de perder o palanque socialista em Pernambuco e em outros Estados. O arranjo entre petistas e socialistas não foi simplesmente uma derrota para Ciro, mas pode se transformar numa importante vitória para Geraldo Alckmin. O tucano assiste tranquilamente seus principais rivais à esquerda se digladiarem e perderem força num processo eleitoral em que a unidade é crucial para a viabilização de qualquer candidatura.
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Cientista político, é professor da FGV-SP

Isolamento e reação PT afasta PSB de Ciro, que contra-ataca

Catarina Alencastro e Sérgio Roxo | O Globo

BRASÍLIA, SÃO PAULO E RIO / convenções partidárias, o PT e o PSB anunciaram ontem uma série de alianças regionais que praticamente sepultaram as chances de o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, conseguir um aliado de peso na corrida presidencial.

Desde que desistiu de lançar um candidato ao Palácio do Planalto, o PSB flertava com uma possível aliança tanto com petistas quanto com pedetistas. Pelo acordo firmado ontem, o PT se aliou a candidaturas socialistas em quatro estados — Pernambuco, Amapá, Amazonas e Paraíba — em troca do apoio dos socialistas em Minas Gerais e da neutralidade do PSB na corrida presidencial.

Depois de perder o apoio do centrão, Ciro apostava suas fichas em uma aliança com o PSB. Em entrevista à Globonews ontem à noite, ele atacou o PT, “que estaria ensaiando uma valsa na beira do abismo” ao insistir na pré-candidatura do ex-presidente Lula:

— A burocracia do PT não está pensando no país. Virou religião. Agora o companheiro ( João Pedro) Stédile ( líder do MST) chamou seis companheiros para fazer greve de fome. Tem romaria. Na minha opinião, isso é caudilhismo do mais barato possível.

Apesar de dizer que considera “injusta” a sentença que condenou Lula, Ciro afirmou que “(Antonio) Palocci é réu confesso e comandou a economia por oito anos”.
O presidenciável do PDT disse ainda não saber o que fez para merecer essa “hostilidade” do PT:

—Apoiei o Lula todos os dias, sem faltar nenhum, ao longo de 16 anos.

MARÍLIA PROMETE RESISTIR
Ciro reconheceu que a perda do PSB é um “revés”, mas disse que não foi comunicado oficialmente da decisão.

Sozinho, o pedetista terá que se virar dentro de seu próprio partido e se contentar com pouco mais de 40 segundos de tempo de TV.

O ponto de convergência entre petistas e socialistas foi o acordo firmado em Pernambuco, estado que vem sendo governado pelo PSB há 12 anos, e abriga o diretório mais influente da sigla.

O atual governador, Paulo Câmara( PSB), estava coma reeleição ameaçada pela candidatura de Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, um dos fundadores do PSB. Marília, vereadora pelo PT, estava tecnicamente empatada com Câmara nas pesquisas.

Mas, soba justificativa de que a “prioridade absoluta” do partido é a candidatura do ex-presidente Lula ao Planalto, a direção do PT aprovou ontem, por 17 votos a 8, a retirada da candidatura de Marília e o apoio ao PSB. Em troca, o PT pediu a não candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda ao governo de Minas Gerais. Ele era uma pedra no caminho da reeleição do petista Fernando Pimentel.

O acerto costurado pelas cúpulas do PSB e do PT gerou desgastes para os dois lados. Confirmada a decisão da cúpulapetista, anetadeMiguel Arraes prometeu lutar até as “últimas instâncias” para revertera situação. Um grupo de oito dirigentes apresentou recurso para que o diretório nacional volte atrás.

— É uma candidatura da base do PT, que hoje tem o apoio massivo da sociedade de Pernambuco. Não temos o direito de recuar e colocar a esperança das pessoas em uma mesa como moeda de troca a preço de banana — afirmou Marília Arraes.

A máquina hegemônica rói mais um aliado

Paulo Celso Pereira | O Globo

BRASÍLIA / Foi por 450 mil votos que Lula tirou Leonel Brizola do segundo turno da eleição presidencial de 1989 e deu início à hegemonia do PT no comando da esquerda brasileira. Desde então, o partido não hesitou em atropelar qualquer nome que tentasse ameaçar seu poder.

A dinâmica externa replica a atuação interna de Lula. Foi para não permitir que alguém lhe fizesse sombra que o ex-presidente optou por lançar Dilma Rousseff — recém- chegada ao PT e sem qualquer expressão eleitoral — para sucedê-lo em 2010.

Um dos maiores símbolos do partido, Marina Silva decidiu abandonar a legenda que ajudou a organizar para disputar seus eleitores. Quando tornou- se competitiva, ao se aliar com o PSB em 2014, acabou trucidada pela campanha de Dilma.

Hoje, com Lula preso e a rejeição nas alturas, o desafio do PT é ainda maior. Sem ter como garantir a unidade da esquerda em torno de um candidato indefinido, restou fazer o necessário para impedir que Ciro Gomes — ironicamente um dos mais fieis escudeiros de Lula na crise do mensalão — possa se apresentar na TV como alternativa.

Acordo entre PT e PSB nos estados isola Ciro e causa protestos nos diretórios

Costura prevê neutralidade de sigla socialista, evitando apoio ao rival de Lula na esquerda

Catia Seabra , Gustavo Uribe , Marina Dias , João Valadares e Carolina Linhares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA, RECIFE E BELO HORIZONTE - Sob protestos em suas bases regionais, as cúpulas do PT e PSB decidiram, nesta quarta-feira (1ª), sacrificar candidaturas estaduais em nome de um pacto nacional que levará ao isolamento do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes.

Consumado o acordo, o PSB vai anunciar neutralidade na corrida presidencial, abandonando a costura de aliança com o PDT.

Em troca, o PT vai retirar a candidatura da vereadora Marília Arraes ao governo de Pernambuco em apoio à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Por 17 votos contra 8, a Executiva Nacional do PT decidiu apoiar o PSB no estado.

O comando petista aprovou a aliança com o PSB de Pernambuco às 16h. No mesmo momento, em um hotel de Belo Horizonte, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, informava ao ex-prefeito e pré-candidato Márcio Lacerda a decisão de desistir da disputa ao Palácio da Liberdade em apoio à reeleição do petista Fernando Pimentel.

"Recebi esta comunicação com indignação, perplexidade, revolta e desprezo", escreveu Lacerda, informando em nota que recusará o convite para que concorra ao Senado na chapa encabeçada por Pimentel. Em declaração posterior à Folha, ele disse que teve apenas uma conversa e que espera receber uma comunicação formal.

Pré-candidata em Pernambuco, Marília afirmou que não vai desistir de sua candidatura. A vereadora disse acreditar que o recurso remetido ao Diretório Nacional para reverter a decisão será acolhido.

"Não tenho o direito de recuar e colocar a esperança do povo de Pernambuco como moeda de troca a preço de banana. A neutralidade é a única coisa que Paulo Câmara e seu grupo político pode oferecer porque não tem força de levar o partido dele para um lado ou para o outro”, disse a jornalistas no Recife.

Dez dirigentes do PT também entraram com recurso pela permanência de Marília. A instância máxima do PT, no entanto, deverá reproduzir a decisão de sua Executiva, que prevê também apoio petista aos candidatos do PSB no Amazonas, Amapá e Paraíba.

O acordo tem o aval da maior corrente petista, a CNB (Construindo um Novo Brasil), cujo líder é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Preso há 116 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula coordenou os principais movimentos da pré-campanha até agora. Pelos seus cálculos, a eleição será novamente polarizada entre direita e esquerda e só há espaço para um nome de cada campo. Ciro seria o adversário direto do PT na competição por votos, principalmente entre os eleitores do Nordeste.

O petista mandou recados por meio de pessoas que o visitam na prisão.

Desastre para Ciro, acordo com PSB mostra que PT começou a cair na real

Partido bloqueia o pedetista e dá prioridade à sobrevivência nos estados, a começar por Minas

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O acordo entre PT e PSB não é só má notícia, se não a pior até aqui na campanha, para Ciro Gomes. É prova de que o partido de Luiz Inácio Lula da Silva caiu na real sobre o pleito de 2018, que para os petistas até aqui só gira em torno da ideia algo fantasiosa da candidatura do ex-presidente preso ao Planalto.

Ainda que mantenha Lula no centro do palco virtual, o PT indica que está pensando na sua sobrevivência. Com o acerto, caso se mantenha apesar da resistência já demonstrada por alguns dos nomes afetados por ele, a sigla ganha alguma musculatura para a difícil tentativa de reeleição de Fernando Pimentel em Minas, de longe o mais importante alvo factível para o PT neste ano.

Além disso, ao buscar acertar os ponteiros com o PSB em Pernambuco, um dos principais colégios eleitorais do Nordeste, tenta unificar a região em torno do nome do PT à presidência. Sacrificará Marília Arraes, que de todo modo é jovem e parece ter uma carreira longa à frente.

Nas contas de estrategistas deste pleito, o Nordeste deverá dar algo como 45% dos seus votos para o PT na eleição federal. Isso dá ao menos uns 10% de largada para qualquer nome que esteja na urna eletrônica pelo partido de Lula.

Naturalmente, há um preço potencial a pagar. A política de alianças com aqueles que acusa de golpistas e a limitação ao surgimento de novas lideranças coloca mais alguns pregos no caixão político petista, mas esse "centralismo democrático" (aspas obrigatórias) está no DNA do partido.

O PT vai insistir até o limite do possível em manter a candidatura do ex-presidente como uma possibilidade. É a estratégia desde sempre, mas os sinais advindos do Tribunal Superior Eleitoral nos últimos dias foram claros no sentido de que a lei deverá ser cumprida e Lula, preso ou solto, não poderá concorrer por ter uma condenação em segunda instância.

A jogada tem seu lado mais óbvio: quebra mais um alicerce da campanha de Ciro, candidato do PDT a presidente. O PSB era a última esperança do presidenciável para ter alguma densidade maior no campo da esquerda e capilaridade nos Estados, sem falar no tempo de TV.

Sem o PSB, Ciro ficará restrito a cerca de 30 segundos por bloco de 25 minutos de propaganda eleitoral no rádio e na TV. O jogo para o pedetista, que já vinha num certo viés de baixa política nas últimas semanas, com percalços de imagem, ficou bem mais difícil. Se um dia sonhou numa aliança com o PT, nesta quarta (1º) acordou sozinho.

Para os pessebistas, o acerto é o melhor possível. Desde que Joaquim Barbosa rejeitou a ideia de concorrer à Presidência mesmo tendo se filiado ao partido e contando com chances razoáveis segundo pesquisas qualitativas, o plano nacional virou mera moeda de troca para seus desígnios estaduais.

O governador Paulo Câmara (PE) tem um cenário complexo na disputa pela reeleição, e o apoio de Lula, que é uma espécie de deidade política no estado, lhe fortalece bastante.

Em São Paulo, onde enfrenta dificuldades enormes, o governador Márcio França terá o argumento de que está colado com Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa —o que desagrada o tucano João Doria, que de todo modo poderá dizer que seu adversário está num partido aliado do PT, o que é palavrão na contenda paulista.

Alckmin diz que há sete nomes possíveis para ser vice na chapa

Por Vandson Lima e Fabio Murakawa | Valor Econômico

BRASÍLIA - Pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin afirmou que há "sete nomes" possíveis para compor sua chapa como vice. O tucano deu a declaração ontem, ao sair da convenção nacional do PRB, um dos partidos do chamado "Centrão", que na semana passada declarou apoio à sua candidatura.

O bloco, composto também por PP, PR, DEM e SD, ainda busca um nome de consenso para a vice, depois que o empresário Josué Alencar (PR), o mais cotado até então, declarou que não participaria. Na noite de ontem, o tucano se reuniu com representantes do Centrão na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O encontro, porém, acabou sem uma definição sobre o vice.

Embora alguns presidenciáveis já tenham se lançado sem um indicar um vice, Alckmin prometeu que seu companheiro de chapa será anunciado no máximo no sábado, na convenção do PSDB, que oficializará sua candidatura ao Planalto.

Questionado sobre o perfil do escolhido, e se ele estava entre aqueles já especulados na imprensa, o tucano disse que "pode ter surpresa" e que "não necessariamente" o indicado será integrante de uma das siglas do Centrão.

Dentre os citados, estão a senadora Ana Amélia (PP-RS), a vice-governadora do Piauí, Margarete Coelho (PP), o empresário Benjamin Steinbruch (PP), o ex-ministro Aldo Rebelo (SD) e a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS). A definição do nome ainda está complicada, admitiu Alckmin. "Está longe [de definir]", apontou.

Na convenção do PRB, o presidente licenciado do partido, Marcos Pereira, cobrou de Alckmin participação da sigla na construção do programa e nas decisões de um eventual governo do tucano.

"Quero aqui fazer um alerta quanto à postura do PRB em relação a um eventual governo seu", disse Pereira, dirigindo-se ao presidenciável, que estava sentado ao seu lado. "Em 2014, quando por uma série de fatores, nós decidimos apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff, eu alertei para as condições da manutenção do nosso apoio durante um eventual governo dela [...]. Eu cobrava naquele momento um espaço à mesa como aliado para decidirmos juntos sobre as políticas de governo e de Estado. Isso nunca aconteceu", disse Pereira, que foi um dos principais articuladores do apoio do Centrão a Alckmin.

“A democracia não existe sem partidos”, diz Alckmin ao destacar importância das alianças

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, participou nesta quarta-feira (01/08), em Brasília, da Convenção Nacional do PRB. Ao lado das lideranças do partido, Alckmin reforçou a importância das alianças na democracia. “Não sei fazer mágica, mas aprendi com o povo. Quando a gente ouve mais, erra menos. Aprendi que ninguém faz nada sozinho. Não tem bala de prata. Tem muito trabalho e time para a gente mudar o Brasil.”, disse.

Alckmin ressaltou os quadros que compõem o PRB: “A democracia não existe sem partidos. Eles unem as pessoas através de suas propostas, e aqui ficou muito claro o compromisso dos Republicanos com as pessoas, com o emprego. Esse é um partido de quadros: de mulheres, de jovens, de capilaridade em todo Brasil. Por isso o partido que mais cresce no país”.

O presidenciável reafirmou seu compromisso com a retomada do crescimento brasileiro. “O populismo leva ao desemprego, ao desarranjo das contas públicas, e quem paga a conta é o povo. Na outra ponta, o extremismo não é caminho, é o descaminho. Precisamos agir com responsabilidade.”, afirmou. “A economia, como na política, é confiança. Nossa tarefa é retomar a esperança”.

Paes afirma que não apoiará tucano

Por Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - Candidato a governador do Rio, o ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM) afirmou que não se engajará na campanha presidencial tucana do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Apoiado pelo PSDB - que anunciará a decisão em convenção amanhã - Paes deveria ser o palanque de Alckmin no Rio, mas não dará a contrapartida esperada, sob a justificativa de não querer desagradar aliados de sua coligação. "É uma questão de consideração política que eu não me envolva numa candidatura presidencial", disse Paes, depois de participar de ato na sede do PPS, que abriu mão da pré-candidatura do antropólogo Rubem César Fernandes para apoiá-lo.

Apesar de extensa - deve superar dez partidos - a coligação de Paes só tem mais uma legenda, o MDB, com candidato a presidente, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que registra apenas 1% de intenção de voto nas pesquisas. Alckmin também tem tido dificuldade de decolar e não ultrapassa os dois dígitos. Mas recebeu o apoio nacional do DEM e de legendas do chamado Blocão, num movimento que o fortaleceu com capilaridade e lhe garantirá, de longe, o maior tempo de propaganda em rádio e TV. Paes e Alckmin formam coligações assemelhadas e a lógica seria que o arranjo nacional desse musculatura ao tucano no Rio, onde o ex-prefeito tem uma candidatura competitiva. Mas a neutralidade deixará Alckmin sem um cabo eleitoral forte no terceiro maior colégio eleitoral do país.

Paes afirmou que isso "ficou combinado". "Você tem uma questão nacional - o Democratas apoia o governador Geraldo Alckmin - e aqui no Rio de Janeiro ficou combinado, e claro, desde o início, (...) a tendência é essa, que a gente não tenha [apoio], pelo menos do candidato majoritário", disse, em referência a ele próprio.

O ex-prefeito afirmou sua neutralidade "apesar de ter enorme admiração" por Alckmin. Justificou a posição dizendo se tratar de "questão de respeito" com os aliados. "Tem gente que não tem nem Meirelles nem Alckmin e pode votar no [Jair] Bolsonaro [PSL], no [Guilherme] Boulos [Psol]. Pode ter outro que vote no Ciro [Gomes, do PDT]. A aliança é ampla. Nem todos os partidos têm candidato a presidente. Nem todos os parlamentares que fazem parte da aliança são eleitores desses dois candidatos. É uma estratégia minha, desde o início", disse. O apoio a Paes foi costurado por Alckmin, a despeito de uma relação ruim desde que o ex-prefeito largou o PSDB para se filiar ao MDB, em 2007.

Por alianças, Paes deve ficar longe da campanha de Alckmin

Tática do ex-prefeito é não se envolver diretamente na disputa presidencial

Marco Grillo | O Globo

O pré-candidato do DEM ao governo do Rio, Eduardo Paes, afirmou ontem que não vai fazer campanha exclusivamente para o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, apoiado por seu partido no plano nacional. O ex-prefeito terá o apoio do MDB, que vai lançar Henrique Meirelles à Presidência, e ainda espera atrair o PDT, cujo pré-candidato é Ciro Gomes. Em função do amplo arco de alianças que está montando no estado, Paes disse que não vai se “envolver” na disputa presidencial, evitando incomodar aliados:

— Na medida em que você monta uma aliança tão ampla como estou montando, tem possibilidade de ter candidaturas presidenciais distintas. Portanto, é uma questão de consideração política que não me envolva diretamente numa candidatura presidencial.

Segundo Paes, o arranjo ficou “combinado e claro” desde o início das discussões para a formação da coligação. Ele elogiou Alckmin, a quem classificou de um “quadro qualificado”, mas descartou pedir votos ao tucano no horário eleitoral gratuito na televisão. Paes recebeu na tarde de ontem o apoio do PPS, que desistiu da candidatura do antropólogo Rubem César Fernandes. O partido indicou os nomes de Rubem César e do babalaô Ivanir dos Santos como possíveis vices na chapa, mas as discussões ainda estão acontecendo e há outras siglas interessadas no posto.

Alckmin também trabalha comum grande arco de aliançase afirmou ontem que recebeu um alista com sete nomes como opções para ser vice. Depois de participar da convenção nacional do PRB e receber oficialmente o apoio do partido, o tucano disse que “poderá haver surpresa” no nome a ser escolhido.

— Está longe, está médio (de decidir). É até sábado.

Questionados e alista trazia novidades em relação aos postulantes à vice já ventilados, Alckmin sorriu e respondeu que “poderá haver surpresas”.

Alckmin repetiu que o vice não será de São Paulo, para a chapa ter maior representatividade, e que será de qualquer um dos partidos que o apoiam, não necessariamente do centrão. O centrão, no entanto, pressiona para que o escolhido seja do grupo. (Colaborou Cristiane Jungblut)

Luiz Carlos Azedo: Arma-se o jogo do PT

- Correio Braziliense

Nos cálculos otimistas dos petistas, o candidato a ser escolhido por Lula estará seguramente no segundo turno. Vem daí a gana dos militantes contra os “coxinhas” e “golpistas”

Depois da aliança em torno do tucano Geraldo Alckmin, na qual DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade se juntam ao PSDB, ao PSD, ao PTB e ao PPS, a movimentação mais importante até agora no tabuleiro eleitoral foi feita pelo PT, que conseguiu costurar por baixo uma aliança com o PSB em 11 estados e anular qualquer possibilidade de a legenda fechar com o candidato do PDT, Ciro Gomes, no plano nacional. Hegemonizado pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, o PSB também abriu mão da candidatura de Márcio Lacerda, em Minas Gerais, em troca da retirada do nome de Marília Arraes, candidata petista em Pernambuco. Sem candidato a presidente da República, a legenda optou por liberar seus caciques regionais.

Com isso, a movimentação do PT para viabilizar os candidatos do partido nos estados começa a predominar em relação à manutenção da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba. Tudo indica que a legenda vai mesmo lançá-lo à Presidência na convenção de sábado, em São Paulo, e forçar a barra junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para registrar seu nome, mas está difícil encontrar um aliado coadjuvante para a manobra, até porque a tendência do PT é indicar o “poste” que irá substituí-lo como vice já na convenção. Ontem, Manuela D’Ávila teve o nome confirmado pelo PCdoB, que sonha com a vice na chapa petista tão logo Lula seja substituído. Por ora, não há outros pretendentes.

Marqueteiros fazem as contas da capacidade de transferência de votos de Lula, que lidera as pesquisas de opinião quando seu nome é consultado, com 30% de intenções de votos. Imagina-se que o petista alavancará de 17% a 22% dos votos para o “poste” que vier a apoiar, garantindo-lhe um lugar no segundo turno. O problema é que os mais cotados para substituir Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, largam bem atrás dos demais candidatos, na faixa dos 2% de intenções de voto.

Nos cálculos otimistas dos petistas, o candidato a ser escolhido por Lula estará seguramente no segundo turno. Vem daí a gana dos militantes contra os “coxinhas” e “golpistas”, o “apagão” moral de artistas, intelectuais e sindicalistas em relação ao propinoduto da Petrobras e outros escândalos, a campanha ensandecida de seus advogados e parlamentares contra a Operação Lava-Jato, sem falar nas afrontas da cúpula partidária ao Judiciário. Com a faca nos dentes, a legenda quer revanche. Esqueçam Jair Bolsonaro (PSL), em segundo lugar nas pesquisas e favorito no pleito sem Lula na disputa. O inimigo principal do PT é o tucano Geraldo Alckmin. Caciques do PMDB, como Renan Calheiros e Eunício de Oliveira, que votaram a favor do impeachment, já foram perdoados.

Lula é, sim, inelegível: Editorial | O Estado de S. Paulo

As artimanhas jurídicas que vêm sendo maquinadas pela defesa do ex-presidente Lula da Silva para viabilizá-lo como candidato à Presidência da República na eleição de outubro não devem prosperar se, como se espera, a Lei Complementar n.º 135/2010, a chamada Lei da Ficha Limpa, for respeitada. E há bons sinais de que será. O ministro Luiz Fux, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi taxativo ao afirmar ao Estado que “o candidato condenado em segunda instância já é um candidato inelegível, ele é um candidato cuja situação jurídica já está definida. A Lei da Ficha Limpa impede ele de concorrer, portanto, ele é inelegível”, disse.

Não é a primeira vez que o ministro dá uma declaração nessa linha. Quando tomou posse na presidência da Corte Eleitoral, em fevereiro deste ano, Luiz Fux já tinha dito que “o ficha-suja está fora do jogo democrático”.

Embora o ministro Luiz Fux tenha ressalvado que “não gostaria de personalizar nenhuma questão”, sua afirmação se aplica perfeitamente à situação de Lula da Silva, condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelos três desembargadores da 8.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), em Porto Alegre.

Sucessos e fragilidades da Lava-Jato quatro anos depois: Editorial | Valor Econômico

A partir das delações de Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras, e do doleiro Alberto Yousseff, há 4 anos, começou a ser desvendado o maior escândalo de corrupção da história republicana moderna. A sequência das delações revelou intensa e extensa relação entre grupos empresariais, principalmente as maiores empreiteiras do país, e políticos de quase todos os partidos. A sequência da operação mostrou que o assalto ao dinheiro público foi muito além da Petrobras, atingiu várias estatais e ministérios, alojando-se também no Congresso, onde parlamentares venderam seu voto em deliberações que favoreceram os setores interessados. O desenrolar dos processos, no entanto, mostram um resultado bem mais sóbrio do que prometeram as 50 fases da Operação Lava-Jato e seus presos ilustres.

A ação perseverante de procuradores do Ministério Público permitiu quebrar uma barreira crucial da impunidade, ao denunciar em grande escala os corruptores, e não só os corruptos, e levar empresários poderosos à cadeia. O tempo mostrou, porém, as fragilidades desse esforço inédito. Houve açodamento na apresentação de várias denúncias, ênfase exagerada e exclusiva nas delações, em detrimento das provas, que se revelaram precárias e tendência ao espetáculo midiático.

As últimas janelas: Editorial | Folha de S. Paulo

Restam poucas oportunidades para fazer avançar a agenda legislativa

Uma análise da produção legislativa nacional dos últimos dois anos mostra que, desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT), o Congresso deliberou sobre temas difíceis e cruciais com intensidade não vista desde os anos 1990.

Não houve propriamente um despertar cívico de deputados e senadores. Estes se moveram —assim como o governo formado após o colapso da gestão petista— pela imperiosa necessidade de conter um aprofundamento ainda mais trágico da recessão econômica.

Evitou-se, sim, o pior; mas a agenda de reformas, mesmo em seus aspectos mais emergenciais, tem muito a avançar no que resta deste mandato presidencial.

Decerto que a ruína do Orçamento e a perspectiva de uma escalada sem controle da dívida pública ocuparam a maior parte das atenções parlamentares até agora.

Nada justifica a revisão da Lei da Anistia: Editorial | O Globo

Perdão foi aprovado pelo Congresso, depois de negociado por líderes da oposição, e incluído na Constituição

O assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI- Codi, um dos braços da repressão política durante a ditadura militar, em 1975, em São Paulo, passou a ser um referencial histórico daqueles tempos inomináveis. Que se pretende deixar no passado.

O assunto, que não pode mesmo ser esquecido, costuma voltar, porém, embalado na resistência que persiste, em certos grupos, à Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso, de forma livre, em 1979, embora ainda em um governo militar, de João Baptista Figueiredo, mas como regime nos estertores.

No Brasil, ao contrário de outras ditaduras no continente, a redemocratização negociada — é sempre melhor assim — envolveu amplos espectros da oposição e da sociedade em geral, o que concedeu à mudança do regime elevada dosagem de legitimidade.

O mesmo aconteceu com a Lei da Anistia, responsável por abrir as portas do país para a volta dos refugiados, um símbolo da reconciliação nacional. Mas esses processos são mesmo difíceis, embora o tempo ajude a diluir heranças indesejáveis.

Nem todas, como é o caso do assassinato de Herzog por meio de tortura, morte simulada de forma tosca. Sequer o deputado Jair Bolsonaro (PSL), militar reformado, candidato da extrema-direita na campanha presidencial, leva a sério o suicídio simulado de Herzog, como demonstrou na entrevista que concedeu ao “Roda Viva”, na segunda-feira.

Entre os bolsões que resistem à anistia de 79, estão familiares das vítimas. Muito compreensível. O Ministério Público Federal insiste em reabrir o caso, mesma posição da Corte Interamericana de Direitos Humanos, à qual o Brasil não deve obediência. Até porque o Supremo já rejeitou a revisão da lei.

Melhorando a herança: Editorial | O Estado de S. Paulo

Um reforço de R$ 10,7 bilhões no Orçamento federal tornará mais fácil o primeiro ano do novo presidente, se o Congresso aprovar a tempo o projeto de tributação dos fundos exclusivos de investimento. Enviado ao Parlamento no fim de junho, esse projeto é parte do esforço do governo para aliviar os problemas da futura administração. O sucessor do presidente Michel Temer enfrentará duras batalhas, em 2019, para fechar as contas sem violar o limite de R$ 139 bilhões para o déficit primário e sem romper a chamada regra de ouro, a proibição de endividar o Tesouro para cobrir despesas correntes. O legado seria muito melhor sem a paralisação da agenda de reformas, interrompida por entraves políticos desde o ano passado. Mas o esforço para suavizar a transição tem continuado – nem sempre com sucesso.

Com a nova proposta de tributação dos fundos exclusivos de investimento, o governo retoma um esforço fracassado em 2017. A tentativa, no ano passado, foi feita por meio da edição de uma medida provisória (MP). O texto nunca foi votado e perdeu validade.

Congressistas, tudo indica, tinham pouco ou nenhum interesse na cobrança de mais impostos sobre uma operação financeira típica de gente muito endinheirada. Se convertida em lei, a MP teria reforçado as finanças federais neste ano e simplificado a execução do Orçamento. Ao insistir na proposta, o governo procura pelo menos garantir esse benefício para a futura administração.

A persistência do presidente da República e de sua equipe econômica é sintoma, talvez, de um otimismo injustificável. A preocupação de atenuar os problemas financeiros da nova administração manifestou-se também no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), aprovado em votação final no dia 11 de julho. Mas a boa intenção mais uma vez foi frustrada no Parlamento.

Por acordo entre líderes partidários foi reduzido de 10% para 5% o corte obrigatório de custeio administrativo proposto inicialmente. Além disso, os congressistas derrubaram a proibição de reajustes ao funcionalismo em 2019 e a criação de cargos no serviço público. Foi mantido, no entanto, o limite de R$ 139 bilhões para o déficit primário (sem o custo dos juros) do governo central.

O que é ser progressista hoje - Fundação IFHC

Paulinho da Viola: Quando bate uma saudade

Vinicius de Moraes: A morte de madrugada

Muerto cayó Federico.
Antonio Machado

Uma certa madrugada
Eu por um caminho andava
Não sei bem se estava bêbado
Ou se tinha a morte n'alma
Não sei também se o caminho
Me perdia ou encaminhava
Só sei que a sede queimava-me
A boca desidratada.
Era uma terra estrangeira
Que me recordava algo
Com sua argila cor de sangue
E seu ar desesperado.
Lembro que havia uma estrela
Morrendo no céu vazio
De uma outra coisa me lembro:
... Un horizonte de perros
Ladra muy lejos del río...

De repente reconheço:
Eram campos de Granada!
Estava em terras de Espanha
Em sua terra ensangüentada
Por que estranha providência
Não sei... não sabia nada...
Só sei da nuvem de pó
Caminhando sobre a estrada
E um duro passo de marcha
Que em meu sentido avançava.

Como uma mancha de sangue
Abria-se a madrugada
Enquanto a estrela morria
Numa tremura de lágrima
Sobre as colinas vermelhas
Os galhos também choravam
Aumentando a fria angústia
Que de mim transverberava.

Era um grupo de soldados
Que pela estrada marchava
Trazendo fuzis ao ombro
E impiedade na cara
Entre eles andava um moço
De face morena e cálida
Cabelos soltos ao vento
Camisa desabotoada.
Diante de um velho muro
O tenente gritou: Alto!
E à frente conduz o moço
De fisionomia pálida.
Sem ser visto me aproximo
Daquela cena macabra
Ao tempo em que o pelotão
Se dispunha horizontal.

Súbito um raio de sol
Ao moço ilumina a face
E eu à boca levo as mãos
Para evitar que gritasse.
Era ele, era Federico
O poeta meu muito amado
A um muro de pedra seca
Colado, como um fantasma.
Chamei-o: Garcia Lorca!
Mas já não ouvia nada
O horror da morte imatura
Sobre a expressão estampada...
Mas que me via, me via
Porque em seus olhos havia
Uma luz mal-disfarçada.
Com o peito de dor rompido
Me quedei, paralisado
Enquanto os soldados miram
A cabeça delicada.

Assim vi a Federico
Entre dois canos de arma
A fitar-me estranhamente
Como querendo falar-me.
Hoje sei que teve medo
Diante do inesperado
E foi maior seu martírio
Do que a tortura da carne.
Hoje sei que teve medo
Mas sei que não foi covarde
Pela curiosa maneira
Com que de longe me olhava
Como quem me diz: a morte
É sempre desagradável
Mas antes morrer ciente
Do que viver enganado.

Atiraram-lhe na cara
Os vendilhões de sua pátria
Nos seus olhos andaluzes
Em sua boca de palavras.
Muerto cayó Federico
Sobre a terra de Granada
La tierra del inocente
No la tierra del culpable.
Nos olhos que tinha abertos
Numa infinita mirada
Em meio a flores de sangue
A expressão se conservava
Como a segredar-me: - A morte
É simples, de madrugada...