sábado, 26 de abril de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

A oposição fez o que deveria ter feito. As denúncias em relação à Petrobras não foram denúncias da oposição. Nós não acordamos e inventamos uma CPI para desgastar o governo. Nós cumprimos o nosso papel. Uma das responsabilidades fundamentais do parlamento, em qualquer nível, é fiscalizar as ações do poder Executivo. A CPI da Petrobras se impõe não como uma demanda da oposição, mas como uma demanda da sociedade brasileira.

Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB, O Globo, 26 de abril de 2014.

Ex-diretor da Petrobras vira réu por lavagem e corrupção

Agência Estado

A Justiça Federal abriu ontem (25) uma ação criminal contra o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa. O engenheiro é acusado de liderar organização criminosa para lavagem de dinheiro ilícito arrecadado a partir de crimes contra a administração pública. Segundo denúncia do Ministério Público, Costa praticou corrupção e peculato no período em que ocupou o cargo na estatal (2004-2012), época em que aprovou o contrato suspeito de superfaturamento do Consórcio Nacional Camargo Correa para as obras da refinaria Abreu e Lima, no Estado de Pernambuco.

Até agora é a mais pesada acusação a Costa, preso desde 20 de março, três dias após a deflagração da Operação Lava Jato, missão da Polícia Federal para estancar lavagem de dinheiro no montante de R$ 10 bilhões.

O Ministério Público imputa a Costa favorecimento direto em uma sucessão de 413 operações de câmbio fraudadas por meio de importações fictícias que abriram caminho para remessa e ocultação de valores no exterior, principalmente na China.

A acusação revela que o executivo continuou em ação mesmo depois de ter deixado a cadeira na estatal e constituir uma empresa de consultoria, a Costa Global, através da qual exigia propinas de fornecedores da Petrobrás sob o disfarce de comissão por assessoria prestada.

Além das acusações a que responde no caso da refinaria Abreu e Lima, Costa também é personagem da polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Ele era o representante da Petrobrás no comitê de proprietários da refinaria, que incluía também um representante da sócia belga Astra Oil.

Doileiro. Além de Costa, outros nove investigados da Lava Jato foram denunciados, entre eles o doleiro Alberto Youssef, que presenteou o engenheiro com uma Land Rover Evoque, de R$ 250 mil, em maio de 2013.

O Ministério Público sustenta que o ex-diretor da Petrobrás e o doleiro eram os líderes de "sofisticada organização criminosa". "Os laços entre Youssef e Costa são tão próximos que o escritório do doleiro é usado também como sede de sociedade comercial do ex-diretor da Petrobrás", dizem os procuradores.

Investigação da PF mira funcionários ligados a diretor da Petrobrás

Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

Após as denúncias contra dez pessoas, entre elas os principais alvos da operação Lava Jato – o ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef – a Polícia Federal mira agora outros funcionários da estatal petrolífera que teriam ligação com o suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que pode ter desviado R$ 10 bilhões. Os investigadores suspeitam que Costa pode ter repartido dinheiro dos desvios com colegas da estatal.

“Até abril de 2012, esses desvios ocorreram no exercício da função pública de diretor da Petrobrás”, aponta a Procuradoria da República. “Após esta data, continuaram acontecendo com o denunciado Paulo Roberto Costa contando com a colaboração de outros funcionários públicos da Petrobrás, que serão identificados em investigação autônoma.”

O destinatário de “comissões” era a Costa Global, consultoria que o ex-diretor criou depois que saiu da Petrobrás. “O pagamento de propina acontecia com depósitos nas empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef ou na própria conta corrente da Costa Global. Recentemente, Costa atuava diretamente na compra de cotas de sociedades que seriam contratadas pela Petrobrás.”

A PF interceptou contato de Youssef com o empresário Márcio Bonilho, do Grupo Sanko-Sider em 20 de outubro de 2013. “Vê quanto o Paulo Roberto levou”, comenta o doleiro ao interlocutor, que o chama de “presidente”. Planilha apreendia pela PF indica pagamento de R$ 7,95 milhões para Costa apenas na obra da Abreu e Lima.

Segundo a denúncia, a organização integrada por Costa “tinha por finalidade a prática de lavagem dos recursos financeiros auferidos de crimes contra a administração pública, mais precisamente contra a Petrobrás”. Costa “utilizava de seu cargo e, posteriormente, de suas influências para obtenção de contratos fraudados com a estatal”.

“Os desvios ocorreram de 2009 até 2014 e se referem a quantias relacionadas ao pagamento de contratos superfaturados a empresas que prestaram serviços direta ou indiretamente à Petrobrás, com a colaboração e intermediação de Costa.”

Partidos da base não garantem blindagem de governo na CPI da Petrobras

No PT, senadores que disputam eleições este ano não querem participar da comissão e mesmo os que não são candidatos relutam em participar

Júnia Gama e Washington Luiz – O Globo

BRASÍLIA - Integrantes da base aliada e da oposição começaram a articular a indicação dos nomes que irão integrar a CPI para investigar a Petrobras e a tendência é que o governo, apesar de ter ampla maioria no Congresso e o direito a indicar o presidente e o relator da comissão, enfrente dificuldades para ser blindado. O PMDB, principal partido da base no Senado, está cada vez mais distante do PT e tem demonstrado pouca disposição para ajudar o Palácio do Planalto. No PT, os senadores que irão disputar eleições este ano não querem participar e mesmo aqueles que não serão candidatos demonstram relutância em aceitar a missão.

Os ministros políticos da presidente Dilma Rousseff, Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Casa Civil), estão cuidando pessoalmente da escolha de nomes confiáveis e com poder de fogo para rebater os ataques da oposição. Mas, nos bastidores, caciques do PMDB já demonstraram incômodo com o que consideram interferência do governo na indicação dos integrantes da CPI. Os senadores da cúpula peemedebista têm dito que a CPI não é uma prioridade do partido e que não aceitarão ordens do Planalto para compor colegiado. A insistência no nome de Romero Jucá (PMDB-RR) para compor a CPI, por exemplo, tem irritado o PMDB.

Lideranças governistas alertaram ainda para a existência de um número considerável de senadores “rebeldes” na base aliada que, a todo custo, devem ser evitados. O líder do PT, senador Humberto Costa (PE), afirma que esses parlamentares serão taxativamente vetados na CPI. Costa terá de indicar 4 titulares e 3 suplentes para a comissão, entre senadores do PT, PDT, PRB, PCdoB, PSOL e PSB. Os dois últimos partidos, que integram a oposição de fato, mas permanecem no bloco da maioria apenas formalmente, não terão chance de participar da CPI, no que depender do petista.

– Não vou indicar ninguém que tenha assinado a CPI da oposição, só os senadores que sejam de fato do governo. O PDT, por exemplo, tem aqueles dissidentes e não vou indicá-los. Se quiserem participar, vão pedir vaga na CPI junto à oposição. Vamos contemplar os partidos do bloco, mas só com gente identificada com o governo – afirma Costa, outro integrante da base governista que não demonstra muito entusiasmo em encarar a tarefa:

– Se for preciso, eu participo. Vamos conversar na terça-feira com a bancada para resolver os nomes. É impossível colocar só gente que não vai participar das eleições, não teria número suficiente só com quem não é candidato – disse o líder, para temor dos colegas.

A ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) é um exemplo de parlamentar da tropa de choque governista que quer distância da CPI. Este ano, ela será candidata ao governo do Paraná, projeto pelo qual deixou a Casa Civil. Há pressões para que a senadora preencha ao menos uma vaga de suplente na comissão, mas ela resiste porque não quer ver prejudicada sua ambição eleitoral. Gleisi também tem evitado se envolver nas investigações sobre a Petrobras. Recentemente, seu marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, teve de dar explicações sobre suposta intermediação de contratos da Petrobras com uma empresa implicada em escândalos.

Alguns dos nomes que devem ser escalados para a missão são os do líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), o senador Walter Pinheiro (PT-BA), outro que iria a contragosto para a CPI, por não concordar com a condução do processo por parte do próprio PT, e Wellington Dias (PT-PI).

No PMDB, o líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), disse que irá conversar com os colegas para fazer a definição a partir do critério de disponibilidade e vontade de cada um. Quem for candidato este ano, diz, não deverá ser escalado, já que a prioridade do PMDB é fazer mais eleitos.

Oposição fica com 3 das 13 vagas
A oposição terá direito a indicar apenas 3 dos 13 integrantes da CPI no Senado. Os líderes do PSDB, Aloysio Nunes (SP), do DEM, José Agripino (RN), deverão participar. O líder do PSB, Rodrigo Rollemberg (DF), quer convencer Humberto Costa a aceitar a indicação do senador Antonio Carlos Valadares (SE).

De acordo com o requerimento feito pela oposição, a CPI no Senado deverá contar com 13 senadores e sete suplentes. A quantidade de parlamentares que cada bloco poderá indicar será estabelecida com base em um coeficiente obtido pela divisão entre o número total de senadores (81) pelo número de integrantes que consta no pedido de CPI (13). Assim, o bloco governista deverá indicar 4 senadores, o da maioria 4, o da minoria (PSDB, DEM e Solidariedade) 3 e o bloco União e Força 2. Em caso de CPI Mista, o número de parlamentares dobra e as investigações passam a contar com 13 deputados e 13 senadores.

Se, mais adiante, ficar decidido que a CPI será Mista, a oposição terá 6 integrantes, contra 20 da base. Isso não significa, entretanto, que todos os peemdebistas ou de outros partidos da base votarão alinhados com o governo. PT e PMDB poderão indicar dois deputados cada para compor a comissão. Outros nove partidos (PSDB, PSD, PP, PR, PSB, DEM, SDD, PTB, Bloco PV/PPS) terão que escolher apenas um parlamentar. A base rebelde promete não facilitar a vida do Planalto.

Responsável por articular um bloco de partidos que dificultou a aprovação de projetos do governo no início deste ano, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), alegou que o representante a ser escolhido será orientado a apurar tudo, sem politização:

— Não adianta nos precipitarmos. Na hora certa, vamos decidir. O escolhido será aquele que faça o que a bancada quer e que seja da minha estrita confiança.

Na oposição, o DEM já escolheu o deputado Rodrigo Maia (RJ) para ser o titular da legenda durante as investigações. O suplente será Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que faz parte da comissão externa criada para investigar a suspeita de que uma empresa holandesa tenha pago propina para funcionários da Petrobras. Para o líder do DEM, Mendonça Filho, os dois escolhidos terão a missão de não permitir que a maioria do governo dificulte os trabalhos:

— O governo tem criado obstáculos para a criação da CPI e vai agir para tumultuar e não esclarecer os fatos. Esperamos que a pressão da opinião pública e do nosso deputado possa evitar qualquer tipo de blindagem que o governo queira dar à CPI.

O PSDB também já definiu que o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) será o representante da legenda na investigação. Sampaio é promotor de Justiça e participou da CPI que apurou o envolvimento de políticos e empresários com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O deputado Antônio Imbassahy, líder do PSDB na Câmara, espera que os outros partidos façam logo a indicação dos parlamentares para que os trabalhos na CPI possam começar:

— Acredito que os partidos não vão enrolar para indicar os parlamentares. Vão indicar com brevidade para evitar repercussão negativa. Acho que em maio a CPI já estará instaurada — alegou.

Os líderes do PT e do PMDB afirmaram que só irão indicar os representantes depois que for oficializada a criação da CPI. Vicentinho, líder do PT, disse que a prioridade do partido no momento é escolher a indicação para a vice-presidência da Câmara:

— Vamos nos reunir na terça e decidir quem vamos indicar para o lugar do André Vargas. Ainda não estamos preocupados com CPI pois nem sabemos se ela será instaurada. Mas quando for, não teremos problema pois todos os nossos parlamentares estão preparados — garantiu.

Pressionado a renunciar, André Vargas pede desfiliação do PT

Daiene Cardoso, Ricardo Della Coletta e Vera Rosa – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – Pressionado pelo PT a renunciar ao mandato e evitar danos à campanha da presidente Dilma Rousseff, o deputado federal licenciado André Vargas (PR) pediu nesta sexta-feira, 25, sua desfiliação do partido. A justificativa do parlamentar, acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, é que o desligamento do PT permitirá que ele invista em sua defesa no Conselho de Ética da Casa, onde responde a um processo por quebra de decoro parlamentar.

A gota d’água para que Vargas tomasse a decisão de deixar o PT, no entanto, foram os danos causados à campanha do candidato petista ao governo de São Paulo, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Nesta sexta, o Estado revelou que um relatório da operação Lava Jato, da PF, sugeriu que Padilha indicou o executivo Marcus Cezar Ferreira de Moura ao Labogen, laboratório controlado por Youssef. À época, a empresa tentava obter um contrato milionário com a pasta, que não chegou a ser assinado. “Não quero prejudicar Padilha, que é meu amigo”, afirmou Vargas em conversas reservadas.

Na terça-feira, 22, o presidente do PT, Rui Falcão, pediu a Vargas que renunciasse ao mandato para não prejudicar as campanhas da presidente Dilma Rousseff, de Padilha, e da senadora Gleisi Hoffmann ao governo paranaense.

Falcão disse ao deputado que, se ele não renunciasse, seria expulso pela Comissão de Ética do PT. Em resposta, aliados de Vargas chegaram a afirmar que na sigla não existe “rito sumário”. No PT, as previsões davam como certa a expulsão do deputado licenciado na Comissão de Ética.

Vargas encaminhou carta de desfiliação ao diretório municipal de Londrina na manhã desta sexta.

Cabe ao partido encaminhar agora o pedido à Justiça Eleitoral para que o desligamento seja concluído. O deputado disse, em nota, acreditar “na isenção, imparcialidade e tratamento isonômico da Câmara” na análise do processo por quebra de decoro parlamentar. “Sem partido, irei dedicar-me agora à minha defesa no Conselho de Ética da Câmara, confiante de que me serão asseguradas as prerrogativas do contraditório e da ampla defesa”, argumentou ele no documento.

Nesta semana, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) apresentou um relatório pedindo a abertura de processo contra Vargas, mas uma manobra regimental do deputado Zé Geraldo (PT-PA) jogou a decisão para o dia 29. Na ocasião, Vargas reclamou do rito dado pelo colegiado a seu caso e queixou-se de não ter garantido seu “efetivo direito de defesa no processo”.

A ligação do deputado com o Alberto Youssef veio a público quando foi revelado que ele pegou carona em um jatinho do doleiro. As denúncias fizeram com que o paramentar renunciasse ao cargo de vice-presidente da Câmara. A operação Lava Jato foi deflagrada em março e apura um esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimento cerca de R$ 10 bilhões.

Em nota distribuída aos jornalistas, o deputado licenciado diz que ao tomar a decisão de se desfiliar do PT poderá priorizar sua defesa no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. “Sem partido, irei dedicar-me agora à minha defesa no Conselho de Ética da Câmara, confiante de que me serão asseguradas as prerrogativas do contraditório e da ampla defesa”, diz a mensagem.

Na nota, o deputado ressalta que passou 24 anos no PT e agradece a oportunidade de “servir” ao Paraná e ao Brasil. “Confio na isenção, imparcialidade e tratamento isonômico da Câmara em relação ao meu caso, reafirmando a minha crença na Democracia e no Estado de Direito”, finaliza.

Padilha ameaça processar ‘qualquer pessoa’ que tenha feito ligação dele com Youssef

Ex-ministro cancela agenda com empresários, convoca coletiva e afirma que está ‘indignado’

Relatório da Polícia Federal diz que Padilha indicou executivo para laboratório de doleiro

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO – O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), pré-candidato ao governo paulista, ameaçou nesta sexta-feira processar “qualquer pessoa” que tenha feito ligação entre ele e o doleiro Alberto Youssef, o principal alvo de investigação da Operação Lava-Jato da Polícia Federal (PF). Relatório da PF aponta indícios de que o ex-ministro indicou o executivo Marcus Cezar Ferreira de Moura para a diretoria do Labogen, laboratório que tem entre seus sócios Youssef. Em uma conversa gravada com autorização judicial entre o deputado André Vargas (PT-PR) e Youssef, em novembro passado, o primeiro menciona o nome de Marcus Cezar e diz que a indicação seria de Padilha. O ex-ministro disse estar “indignado”.

- Tendo acesso aos documentos, vou orientar meus advogados a interpelar judicialmente qualquer pessoa que tenha feito menção ao meu nome - declarou Padilha, em entrevista coletiva à imprensa na tarde desta sexta-feira em São Paulo, acrescentando:

- Mente quem cita qualquer relação minha com o doleiro. Mente quem diz que indiquei Marcus Cezar...para qualquer cargo em laboratório. Mente quem diz que o laboratório Labogen teve qualquer contrato com o Ministério da Saúde.

O ex-ministro havia cancelado encontro com empresários e lideranças políticas marcado para a manhã desta sexta-feira em Marília, no interior paulista. Outros cinco compromissos, todos parte da Caravana Horizonte Paulista, criada para alavancar o nome do ex-ministro no estado, também foram cancelados nesta sexta-feira. Na única agenda mantida, no município de Vera Cruz, o ex-ministro evitou a imprensa.

- Cancelei toda a agenda para manter uma postura que sempre tive de imediata resposta e estar à disposição da imprensa para todos os esclarecimentos – disse.

Ex-assessor de Padilha atuou em entidade ligada a Saúde

Julia Duailibi – O Estado de S. Paulo

O executivo Marcus Cezar Ferreira de Moura, que, segundo a Polícia Federal, teria sido indicado pelo ex-ministro e pré-candidato do PT ao governo paulista, Alexandre Padilha, para trabalhar em laboratório controlado pelo doleiro Alberto Youssef, foi funcionário da Geap, uma fundação de direito privado que vende planos de saúde para servidores da União e que tem indicados do Ministério da Saúde em seus quadros.

Logo que deixou o Ministério da Saúde, onde trabalhava com Padilha como coordenador de eventos, em agosto de 2011, Moura foi para a Geap, onde ficou até outubro de 2013, quando foi demitido por não ter o perfil técnico para o cargo, segundo a entidade. No mês seguinte, o deputado André Vargas (PT-PR) o indicou para o cargo no laboratório controlado por Youssef, ao citar, em mensagem interceptada pela PF, que a sugestão era de Padilha.

Durante sua gestão no Ministério da Saúde, que tem a maioria dos servidores atendida pelos planos de saúde da Geap, Padilha indicou funcionários para o conselho deliberativo. Na Geap, Moura foi assessor executivo parlamentar e assessor de desenvolvimento de produtos e clientes.

No ano passado, a Geap sofreu intervenção da Agência Nacional de Saúde Suplementar após críticas de má gestão e resultados financeiros negativos. Meses depois, a presidente Dilma Rousseff assinou decreto que privilegiava a entidade ao permitir que ela não participasse de licitações para vender os planos de saúde. O Supremo Tribunal Federal derrubou a decisão.

Nos últimos dez anos, o governo já repassou à entidade cerca de 1,9 bilhão para planos de saúde de cerca de 600 mil servidores.

Cientistas políticos acham que suposto envolvimento de Padilha com doleiro dificulta sua campanha

Roberto Romano, da Unicamp, acha que Padilha pode ter sido “imprudente” ao indicar ex-assessor para empresa de doleiro

Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - O suposto envolvimento do ex-ministro Alexandre Padilha com a quadrilha liderada pelo doleiro Alberto Youssef, ao indicar seu ex-assessor Marcus Cezar Ferreira de Moura para cargo executivo da Labogen, traz problemas éticos para a campanha petista em São Paulo e aumenta as dificuldades do partido de derrotar o PSDB, há 20 anos no governo paulista. Segundo cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, como Roberto Romano, professor de ética pública da Unicamp, Padilha cometeu no mínimo uma "imprudência" ao indicar um auxiliar para um doleiro, dizendo que ele deveria antes de mais nada levantar de quem se tratava a pessoa à qual indicaria um executivo.

Ele acha que a campanha fica abalada e respinga também na reeleição de Dilma, que depende dos votos de São Paulo. Já Claudio Couto, da FGV, diz que não é nada bom para um candidato que precisa se explicar, mas para se saber se ele deve ser substituído como pré-candidato ainda vai depender dos desdobramentos da investigação da PF.

— O prejuízo é enorme para a campanha de Padilha. Do ponto de vista ético, foi no mínimo falta de prudência. Antes de empreender qualquer ação, Padilha deveria ser se informado de quem se tratava a pessoa para a qual estaria indicando um ex-assessor. Agora, ele tem que assumir a responsabilidade por essa falta de prudência. Afinal, a Labogen era mais um laranjal do que uma indústria farmacêutica. Essa história de que uma autoridade nunca sabe de nada precisa acabar no Brasil — disse Romano.

Do ponto de visto político, o cientista da Unicamp entende que o futuro da candidatura de Padilha vai depender do desenvolvimento das investigações da PF.

— Se vier a aparecer nas investigações que houve dolo e que o ex-ministro sabia de quem Youssef se tratava, sua situação tende a piorar e o desgaste aumentar. Para quem começou a pré-campanha na ofensiva, com críticas ao governador tucano Geraldo Alckmin, não é nada confortável ter agora que ficar na defensiva exatamente no momento em que Padilha tentava consolidar sua candidatura como uma cara nova no cenário político estadual —disse Romano.

Segundo Romano, ainda é cedo para se falar em trocar o pré-candidato petista.

— Até porque, o PT não tem outros candidatos fortes. Os ministros Aloyzio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Marta Suplicy (Cultura) não se desincompatibilizaram e não podem ser candidatos e Rui Falcão (presidente nacional do PT) não tem apelo popular.
Para Cláudio Couto, da FGV. o fato de Padilha ter que passar a dar explicações, aumenta as dificuldades de sua candidatura.

— Tudo vai depender das explicações que o ex-ministro vai dar para o caso. Mas esse episódio, somado às dificuldades que o PT enfrenta a nível nacional com as denúncias envolvendo a Petrobras, agrava o quadro do palanque eleitoral da Dilma em São Paulo. Agora, é preciso esperar os desdobramentos das investigações da PF e ver se surgem novos indícios de vinculos nefastos para o pré-candidato petista. Esses fatos podem desembocar em consequências mais graves para a candidatura petista ou morrer na praia como muitos casos morrem — disse Couto.

Já o historiador Marco Antonio Vila, da Universidade de São Carlos (Ufscar), acredita que o diálogo do deputado André Vargas (PT-SP) com o doleiro Alberto Youssef sobre a indiciação de Padilha para um cargo de executivo da Labogen cai como "uma bomba" na campanha petista, no exato momento em que o partido costura alianças e percorre o interior do Estado em busca de apoios da sociedade.

— Isso é péssimo para a campanha do PT em São Paulo, assim como foi ruim para o PSDB de Minas com o Pimenta da Veiga tendo que explicar os R$ 300 mil recebidos do Marcos Valério. É difícil sustentar candidaturas com denúncias como essas. Dos dois, a situação mais difícil é a de Padilha. Afinal, a presidente Dilma, que está em queda nas pesquisas, contava com um palanque forte em São Paulo para alavancar sua eleição no maior colégio eleitoral brasileiro.

Aécio diz que Padilha precisa dar esclarecimentos sobre doleiro

Líder da oposição, tucano adota tom ameno durante cobrança, sem críticas ou acusações

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - Presidente nacional do PSDB e pré-candidato à Presidência da República, o senador Aécio Neves defendeu nesta sexta-feira que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha dê esclarecimentos sobre a denúncia de ligação dele com a empresa Labogen, do doleiro preso Alberto Youssef. Embora líder da oposição, o tom adotado por Aécio foi ameno, sem críticas ou acusações.

- Todas as denúncias têm que ser esclarecidas. Interessa principalmente ao ex-ministro prestar esclarecimentos. Não faço nenhum pré-julgamento. Eu vi pelos jornais as notícias. Acho que ele dever ser o primeiro interessado em esclarecer qual o envolvimento dele nessa questão. O que estamos percebendo é que há um emaranhado de situações que, de alguma forma, comprometem o governo - afirmou o senador, que estava nesta tarde na capital paulista para a gravação de uma entrevista a uma emissora de TV.

Aécio adiantou que na próxima semana a oposição vai redobrar a pressão sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros, para que a CPI da Petrobras seja instalada e comece a funcionar o mais rápido possível.

- Na terça-feira estaremos cobrando para que ele oficie os líderes dos partidos para que indiquem seus membros e, se houver um adiamento por parte dos líderes, nós cobraremos que faça ele próprio as indicações, porque é isso que o regimento determina.

Em relação à disputa presidencial, o senador embarcou para o Rio de Janeiro nesta tarde, onde será recebido por lideranças do PSD no estado para um jantar de apoio político a ele. O PSD faz parte da base de apoio da presidente Dilma Rousseff e, formalmente, estará na aliança do PT na disputa nacional. Mas, a exemplo do que ocorreu com o PMDB, o PSD é o mais novo foco no radar de Aécio para a construção das alianças regionais para o PSDB. No próximo domingo, ele estará presente num jantar organizado pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, na capital paulista.

Além do Rio, Aécio espera ter o apoio do PSD no Paraná e em Goiás.

- Agora está chegando o momento final das alianças. As realidades locais têm vida própria e não se submetem à decisão de uma liderança nacional por mais legítima que ela seja. Não se surpreendam ao verem grande parte dos partidos da base de apoio à presidente da República aliada à oposição em vários estados. Não é só o PSD, vamos ter PMDB, PP e PR. A presidente da República talvez leve o tempo de televisão de vários desses partidos, mas não levará mais a militância e o apoio das bases.

Aécio Neves (PSDB) recebe apoio do PSD no Rio

Luciana Nunes Leal - Agência Estado

Ao receber ontem à noite o apoio do PSD-RJ, o pré candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, disse que o Rio de Janeiro é estratégico para chegar ao segundo turno. "Dou à eleição no Rio importância estratégica enorme. Se avançar aqui para um bom resultado, é um passo largo para o segundo turno", disse o tucano quando chegou ao jantar com líderes do PSD.

Amanhã, Aécio vai jantar com o presidente nacional do PSD, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que se comprometeu com a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Kassab é ligado à Associação Comercial de São Paulo, onde Aécio fará uma palestra na segunda-feira (28).

Aécio lembrou que, além do Rio, tem apoio do PSD em Minas Gerais, no Paraná e Goiás. "A realidade local se sobrepõe à realidade nacional. O PSD tem maior aproximação com nosso pensamento que com nossos adversários", disse o tucano.

No Rio, o PSD fará campanha para a chapa "Aezão", que reunirá Aécio e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Aécio tem apoio de parte do PMDB do Rio, mas evitou se comprometer com o apoio à reeleição de Pezão. "A discussão está aberta. Não temos pressa para esta decisão", afirmou.

O pré candidato voltou a dizer que o governo "está à beira de um ataque de nervos" por causa da CPI da Petrobras e que a presidente Dilma comanda um "governo de cooptação e não de coalizão".

“CPI da Petrobras se impõe não como uma demanda da oposição, mas da sociedade”, disse Aécio Neves

RIO DE JANEIRO (RJ) – Na capital carioca para participar de um encontro com integrantes do diretório estadual do Partido Social Democrático (PSD) do Rio de Janeiro, na noite desta sexta-feira (25), o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, afirmou que a oposição cumpriu o seu papel ao exigir uma investigação detalhada acerca das últimas denúncias envolvendo uma das maiores empresas do país, a Petrobras.

“A oposição fez o que deveria ter feito. As denúncias em relação à Petrobras não foram denúncias da oposição. Nós não acordamos e inventamos uma CPI para desgastar o governo. Nós cumprimos o nosso papel. Uma das responsabilidades fundamentais do parlamento, em qualquer nível, é fiscalizar as ações do poder Executivo. A CPI da Petrobras se impõe não como uma demanda da oposição, mas como uma demanda da sociedade brasileira”, disse.

Para o senador, a decisão tomada pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, na última quarta-feira (23), em favor da realização da CPI da Petrobras, “garantiu o respeito à Constituição”.

“O que me surpreende a cada dia é o temor do governo em relação a essas investigações. Quem não deve, não teme. O governo tem dificuldades enormes de se acertar”, apontou. “O que a gente vê é um governo à beira de um ataque de nervos, que não encontra um discurso organizado. Esse desencontro do governo está aumentando o desgaste. A própria base de sustentação não sabe o que dizer”, salientou.

Alianças
Em entrevista coletiva, ao lado do presidente do PSD-RJ, Indio da Costa, e do presidente do PSDB no estado, deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha, Aécio manifestou-se também sobre o apoio recebido do PSD no Rio de Janeiro.

“O que percebo, não no Rio de Janeiro apenas, mas em vários outros lugares, é que há uma realidade local que muitas vezes se impõe sobre a realidade nacional. Temos aí partidos de apoio à atual presidente da República que estão, em praticamente todos os estados brasileiros, apoiando outras candidaturas. É algo absolutamente natural”, apontou.

Problemas
O presidente nacional do PSDB criticou ainda o “emaranhado de problemas” que permeia a administração petista.

“Tudo isso, a meu ver, é consequência daquilo que eu condeno há muito tempo: o absurdo e ilimitado aparelhamento da máquina pública em todas as áreas. A destruição das nossas agências reguladoras – que viraram balcões de negócio, a ocupação de espaços nas nossas principais estatais por pessoas que não tinham compromisso com a eficiência delas, isso tudo gera uma teia de problemas que vão se somando”, reiterou.

“O conjunto da obra deixa as pessoas indignadas com o que estão vendo no Brasil. Esse é o sentimento crescente: indignação com o pouco cuidado, apreço e respeito ao dinheiro público. Esse governismo de cooptação, muito mais do que de coalização que tomou conta do país hoje, é uma das principais razões para as denúncias sucessivas de desvios e irregularidades que nós assistimos no Brasil”, completou.

Sobre o apoio do PSD-RJ e em outros estados.
O que percebo, e não é no Rio de Janeiro apenas, mas em vários outros lugares, é que há uma realidade local que muitas vezes se impõe sobre a realidade nacional. Temos aí partidos de apoio à atual presidente da República que estão, em praticamente todos os estados brasileiros, apoiando outras candidaturas. Então é algo absolutamente natural. O que acontece aqui, no momento dessa manifestação do PSD, que recebo como uma das mais importantes manifestações nessa caminhada eleitoral, aconteceu recentemente em Minas Gerais, o meu estado. O PSD manifestou apoio à nossa candidatura. Está acontecendo no Paraná, onde o PSD está aliado à candidatura de Beto Richa. Acontece em Goiás, onde há um alinhamento também à candidatura de Marconi. E em vários outros estados.

Temos que respeitar essas realidades locais, e, para mim, pessoalmente, pelas relações pessoais que tenho com vários membros do partido, em especial com Índio e com Arolde, ela é muito importante. Porque eu dou à eleição do Rio de Janeiro uma importância estratégica enorme.

Hoje é um ato extremamente importante, que se soma a uma outra manifestação que aconteceu recentemente, de uma parcela importante do PMDB, e possivelmente outras acontecerão. Essa consolida de forma muito clara a nossa posição com a candidatura competitiva no Rio de Janeiro. A solidez das bases do PSD, somada à do PMDB, eventualmente do PP, do Solidariedade, além da nossa aliança história aqui no Rio com o Democratas, com o PPS, me permite pelo menos ter uma expectativa muito positiva quanto ao resultado das eleições.

Sobre possibilidade de candidatura própria do PSDB no Rio de Janeiro.
Essa discussão está aberta ainda. Estamos conversando com esse grupo de partidos que são nossos aliados históricos e estamos conversando, também, com esse partidos que se somam a nós. Não temos pressa para essa decisão. O prazo é o prazo das convenções partidárias. O fato concreto que temos aqui hoje é a manifestação de um dos maiores partidos do estado do Rio de Janeiro, o PSD.

Dilma é vaiada em Belém pela segunda vez durante discurso

Protesto contrário à Copa pedia recursos para saúde e educação

Patrícia Britto – Folha de S. Paulo / EBC

SÃO PAULO - Pela segunda vez em pouco mais de um mês, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada em Belém (PA), enquanto discursava na tarde de ontem em evento de entrega de máquinas a prefeitos.

Mal começou a falar, Dilma foi interrompida por manifestantes aos gritos de "não vai ter Copa" e "queremos mais dinheiro pra saúde e educação".

Em resposta, Dilma anunciou ajuda do governo federal para reabrir um hospital na cidade. "Eu sei que um hospital aqui foi paralisado e está fechado, apesar de estar pronto. Acertei hoje com o governador [Simão Jatene, do PSDB] que coloque esse hospital no investimento que nós estamos liberando para ele."

Pouco depois, a petista voltou a ser interrompida pela plateia, que repetiu os protestos por investimentos em saúde e educação, enquanto outro grupo saiu em defesa da presidente, com gritos de "olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma".

Irritada, ela pediu aos presentes que a deixassem concluir sua fala: "Ô, gente, eu entendo. Agora, por favor, eu estou no fim, eu agradeço. É da democracia, eles têm direito de falar o que quiserem, vocês também, mas eu quero pedir o seguinte: a gente pode fazer isso, se manifestar, desde que não prejudique a maioria. A maioria está ali calada. Então eu vou concluir."

Em seguida, encerrou rapidamente o discurso, que durou cerca de 20 minutos.

Mais cedo, a presidente havia inaugurado o complexo portuário Miritituba-Barcarena, a 87 km de Belém. Na capital paraense, Dilma também participou da formatura de 1.200 alunos do Pronatec, programa de ensino técnico.

Na última viagem que havia feito a Belém, em 20 de março, Dilma também foi vaiada durante cerimônia para anúncio de investimentos federais em projetos de mobilidade urbana.

Padilha tragado para o olho do furacão

Citado pela PF nas investigações sobre a teia do doleiro preso, o pré-candidato ao governo de São Paulo vira alvo do PSDB e do DEM

João Valadares – Correio Braziliense

Pré-candidato ao governo de São Paulo, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), que deixou o comando da pasta há três meses para iniciar a articulação da campanha eleitoral na tentativa de derrotar o governador Geraldo Alckmin (PSDB), virou alvo da artilharia tucana após suspeita de ligação com o doleiro Alberto Youssef. Relatório da Polícia Federal sugere que o petista teria indicado um ex-assessor para trabalhar no laboratório de fachada de Youssef, líder de um esquema que movimentou R$ 10 bilhões. Ontem, o PSDB anunciou que acionará o Ministério Público Federal no Distrito Federal para apurar os fatos e também protocolar requerimento, em parceria com o DEM, para que Padilha preste esclarecimentos na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara.

Na outra ponta, os aliados de Alckmin já se debruçam sobre todo o histórico de Marcus Cezar Ferreira de Moura, que, após deixar o Ministério da Saúde, virou o principal executivo da Labogen, utilizada pelo doleiro para fazer remessas ilegais de dólares ao exterior. Após Moura ter ido trabalhar no laboratório, a empresa de fachada chegou a firmar parceria de R$ 31 milhões com o Ministério da Saúde para produzir medicamentos por cinco anos. O convênio foi cancelado depois de denúncias da imprensa de que o doleiro comandava o laboratório suspeito.

O nome de Padilha surgiu em 28 de novembro de 2013. Naquele dia, a Polícia Federal interceptou troca de mensagens entre Youssef e o deputado federal André Vargas, que ontem se desfiliou do PT (leia mais na página 3). Os dois comentam sobre a indicação de Moura para a Labogen. O deputado paranaense, que renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara após a descoberta do envolvimento dele com Youssef, teria passado ao doleiro o contato do executivo e avisado que foi Padilha quem o indicou.

Marcus Cezar Ferreira de Moura trabalhava na coordenação de eventos do Ministério da Saúde. Filiado ao PT paulista entre 1994 e 2008, o ex-assessor chegou a trabalhar, em 2010, na campanha da presidente Dilma Roussef. Logo que deixou o Ministério da Saúde, em agosto de 2011, Moura foi para a Geap, entidade privada que, à época, administrava planos de saúde e de previdência. Dois ex-dirigentes da Geap, ouvidos pelo Correio em reserva, atestaram que Marcus dizia a todos ser amigo próximo do ex-ministro da Saúde e que estava no cargo por indicação dele. Lá, Moura foi assessor executivo parlamentar e de desenvolvimento de produtos e clientes.

Padilha conheceu Marcus Cezar quando trabalhava na Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República, em 2006. No Ministério da Saúde, o ex-assessor tinha atuação discreta. Na defensiva, Padilha cancelou a agenda de pré-candidato na tarde de ontem para se explicar em coletiva de imprensa. “Diante das notícias que foram veiculadas, envolvendo de forma incorreta o meu nome, quero constituir, formalmente, uma solicitação judicial à PF. Quero acesso a todos os detalhes de um relatório que, segundo as notícias, buscam fazer qualquer envolvimento a meu nome a partir de mensagens trocadas por terceiros que não têm nenhuma relação com o Ministério da Saúde”, afirmou.

Processo
O ex-ministro disse que pode processar André Vargas. “Se o senhor André Vargas ou qualquer pessoa usou meu nome em vão, vou interpelá-lo judicialmente”, disse. Padilha afirmou que “mente quem associa o nome dele ao do doleiro” e declarou que não vai comparecer à Câmara porque querem transformar o episódio em um espetáculo eleitoral. No entanto, ele confirmou que se reuniu com André Vargas quando ainda era ministro para falar institucionalmente sobre a Labogen.

O presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza, ressaltou que a sigla não cogita a hipótese de substituir Padilha por outro nome na disputa eleitoral deste ano. O relatório da PF indica que Youssef esteve na casa do deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) acompanhado de André Vargas. Ontem, o parlamentar voltou a dizer que não se reuniu com Youssef, mas que não descarta a hipótese de André Vargas ter levado o doleiro em seu apartamento.

Colaboraram Paulo de Tarso Lyra, Naira Trindade e Antonio Temóteo

Refinaria Abreu e Lima fazia parte do esquema de Youssef

- Diário de Pernambuco

A Justiça Federal acatou ontem a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, e abriu processo penal contra eles por constituírem organização criminosa, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A Procuradoria relata que Costa usava a posição privilegiada na Petrobras e a influência no setor para fechar contratos fraudulentos com a estatal. Um dos projetos investigados foi a Refinaria Abreu e Lima, inicialmente orçada em R$ 2,5 bilhões, mas que já está em R$ 20 bilhões.

Procuradores sustentam que o contrato "apresentou indícios de superfaturamento ou sobrepreço na execução e no fornecimento de materiais". A auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou sobrepreço de R$ 446,2 milhões. O projeto inicial da refinaria foi de responsabilidade Paulo Roberto Costa, que foi diretor de Distribuição da Petrobras entre 2012 e 2014 e cuidou dos projetos técnicos da Refinaria Abreu e Lima.

Decisão sobre o palanque no Amazonas nas mãos de Campos

Andrea Pinheiro - Diário de Pernambuco

Além de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, o ex-governador Eduardo Campos (PSB), pré-candidato à Presidência da República, terá que resolver a posição do partido no Amazonas. Lá, parte dos socialistas defende o lançamento de candidatura própria, apesar da pouca musculatura do partido, com o nome do deputado estadual Marcelo Ramos. Por enquanto, há quatro pré-candidatos ao governo amazonense.

O governador José Melo de Oliveira (Pros), que foi eleito vice em 2010 e assumiu o governo recentemente, concorre à reeleição. Também vão concorrer o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB), a deputada Rebeca Garcia (PT) e o vice-prefeito de Manaus, Hissa Abrahão Filho (PPS).

A montagem das alianças regionais é vista como estratégica para a pré-candidatura de Eduardo Campos. Ainda desconhecido da maior parte da população, ele precisa dos palanques no estado para garantir a pulverização de seu nome. Publicamente, o presidenciável tem dito que os diretórios socialistas regionais devem decidir sobre o lançamento ou não de candidatura. Em Manuas, nesta sexta-feira (25), Eduardo garantiu que o debate sobre o quadro local não é o foco da visita.

"Os partidos daqui têm que decidir o que for melhor para o Amazonas", afirmou o presidenciável em entrevista. Ele disse que a presença dele na capital do estado, onde recebeu o título de cidadão do município, é para receber as contribuições para a elaboração do programa de governo. Neste sábado (26), o partido realizará o penúltimo seminário programático do PSB/Rede. "Não vamos discutir alianças regionais", assegurou.

Questionado se haveria problema em ter um palanque duplo no estado, com as candidaturas do PSB e do PPS, Eduardo Campos lembrou a sua trajetória política. Ele citou a eleição de 2006, quando ele e o senador Humberto Costa (PT) concorreram ao governo de Pernambuco com apoio do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Vou apoiar as candidaturas do meu conjunto político, quantas forem. Não terei nenhum constragimento, já convivi com essa situação", comentou. Ele acrescentou que o povo não está preocupado com o assunto, mas com a "situação do país".

Depois da participação no seminário, Eduardo Campos seguirá para o Piauí, onde cumprirá agenda em Teresina. Inicialmente, ele iria ao Maranhão, mas os compromissos foram cancelados.

Marco Aurélio Nogueira: Farol alto

- O Estado de S. Paulo

Exceção feita aos temas macroeconômicos, do trabalho e da renda, a agenda nacional dos próximos anos está destinada a orbitar três pontos estratégicos: educação, saúde e mobilidade urbana, esta última abraçada com a segurança pública, as várias dimensões da infraestrutura e da gestão de cidades.

Além de estar na boca do povo, essa constatação vem sendo reiterada por diferentes analistas, operadores políticos e técnicos governamentais de distinta orientação. É de esperar, portanto, que figure em posição de destaque na plataforma dos candidatos que disputarão a Presidência da República em 2014.

Daqui para a frente, nenhum governo fará a diferença sem enfrentar com determinação e criatividade aquele tripé. Seja qual for o partido que governe, estará obrigado a fornecer respostas efetivas a ele, por onde passa boa parte do bem-estar da população e do futuro do País.

Isso significa, antes de tudo, que será preciso incrementar a cooperação entre os entes federados, já que não há como fixar boas políticas para aquelas áreas se os gestores operarem de forma isolada e autossuficiente. Políticas públicas continuam a ser políticas de Estado, e precisamente por isso têm mais chance de sucesso quando as instâncias por elas responsáveis dialogam entre si e trabalham umas com as outras. Educação, saúde e transportes não são definidos unilateralmente por Brasília, mas envolvem e dependem dos governos estaduais e municipais.

A solidão dos gestores também não faz sentido numa época que elogia a participação e a cidadania ativa. Políticas públicas que não nasçam da interação com a sociedade civil crescem tortas. Tornam-se pouco sustentáveis e expostas ao risco da descontinuidade ou da ineficácia. Ficam, também, mais intransparentes e suscetíveis a desvios e malversações.

Cooperação, coordenação, transparência e participação social - quanto mais houver disso, maiores as chances de sucesso.

Serão necessárias, também, evidentemente, clareza e consistência na formulação: uma boa teoria sociológica de base, diretrizes, princípios e metas - coisas que têm existido entre nós, mas de modo errático. Somos uma sociedade em que os políticos e os gestores se acostumaram a atuar com promessas vagas e genéricas, sem rigor técnico, mais preocupados com dividendos eleitorais e prestígio do que com resultados. É uma cultura que precisa ser enterrada.

Somada à dimensão orçamentária, com suas oscilações inevitáveis, a ausência de boas formulações técnico-políticas produz impacto catastrófico na qualidade do que se faz, comprometendo o desempenho governamental e prejudicando a população. Há dotações, parâmetros orçamentários, obrigações constitucionais, há boa vontade dos gestores e empenho de parlamentares atentos ao estado geral da Nação. Mas tudo parece insuficiente, seja porque sempre faltam recursos, seja porque se gasta mal.

É impossível detalhar, aqui, cada um destes pontos. Mas é possível destacar os vetores que os articulam, aquilo que poderia mudar a situação e representar um expressivo ganho de escala no enfrentamento da agenda estratégica.

O principal desses vetores está no campo político. Ele é o que pode produzir mudança e garantir avanços. E é, também, onde estão os maiores obstáculos. O sistema político não ajuda, os partidos falham em suas funções, os representantes são, na maioria, pouco preparados para interagir com a complexidade adquirida pela vida social. Tudo isso arrasta consigo os governos e a gestão pública.

Faltam ações focadas na construção de uma agenda nacional, de um projeto de sociedade. Todos apontam para a relevância da saúde, da educação e da mobilidade urbana, mas cada ator fala para seu próprio público: não debate, não interage nem se comunica com os demais. Ninguém dialoga com o povo e a sociedade civil. Não se disputa a hegemonia. A péssima qualidade do debate democrático prova isso.

Não se leva na devida conta que o capitalismo que hoje se tem no Brasil foi fruto de uma colaboração real (não intencional e não consciente) das duas principais forças políticas do País, o PSDB e o PT. Do combate à inflação e das medidas voltadas para estabilizar a moeda (governos FHC) às políticas de inclusão social e de apoio ao consumo popular (governos Lula/Dilma), a ação governamental impulsionou o capitalismo. Houve muito, é verdade, de imposições da globalização do capitalismo, que comprimiu o campo das escolhas governamentais. Mas o protagonismo político existiu e foi importante.

PT e PSDB, porém, em vez de explorarem a parceria, optaram por declarar guerra um ao outro, com o propósito de ocupar espaços de poder e salientar, mediante uma retórica simplista, exagerada e caricata, aquilo que os distingue. Estabeleceram um pacto informal: não coopere comigo que contigo não cooperarei. Deixaram, assim, de contribuir para completar a construção que empreenderam, pouco fizeram para suavizar o capitalismo e propor à sociedade outro modo de produção e de organização econômico-social, outro padrão de convivência.

Se convergências explícitas e programáticas entre os dois pilotos tivesse havido, as coisas teriam sido melhores. Haveria um bloco reformador hoje no País, ao qual se vinculariam o PSB e os demais partidos democráticos. Sua força magnética seria tanta que isolaria os setores retrógrados e empurraria o PMDB de volta às origens.
Falar isso em ano eleitoral é puro wishful thinking. Nos próximos meses, discursos maniqueístas e verborrágicos dominarão o cenário. É a lógica da política e da luta pelo poder. Mas não há por que arquivar as esperanças. O tempo para ajustes e articulações encolheu, mas ainda existe. Sempre é hora para que se acenda o farol alto e se descortine o horizonte.

*É professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp

Igor Gielow: Padilha no fogo

- Folha de S. Paulo / EBC

Ainda é cedo para saber se as suspeitas sobre o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha são isso ou algo mais. Politicamente, contudo, já há quem o veja como um candidato a morto-vivo após ter seu nome envolvido no cipoal de André Vargas e o doleiro Youssef.

Os fatos sugeridos são graves e, mesmo que nada seja provado até o fim da campanha, seria desastroso para Padilha permanecer nas páginas policiais ao longo da disputa. Se algo o for, bom, aí seria fatal.

Por isso, desde quinta-feira à noite os atores do mundinho político discutem os riscos à candidatura ao governo de São Paulo do "terceiro poste de Lula", como Padilha é conhecido entre correligionários --numa tentativa de invocar o sucesso eleitoral dos antecessores Dilma e Haddad.

Se Padilha acabar abatido pelo escândalo, Lula estará num mato sem cachorro. Ele apostou todas as fichas no jovem e enérgico ex-ministro para tentar apear os tucanos da fortaleza que comandam há duas décadas.

Apesar da posição confortável nas pesquisas, o governador Geraldo Alckmin sofre de fadiga de materiais justamente por essa longevidade do PSDB no poder. Além disso, o cartel dos trens e a sombra de um racionamento de água no carregado ambiente social pré-Copa tornam o ambiente especialmente volátil.

Sem Padilha, não há alternativa óbvia para o PT. Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo e Marta Suplicy ficaram na Esplanada, e o prazo de desincompatibilização já passou.

Exceto que Lula siga a sugestão feita em 2012 pelo marqueteiro João Santana e saia candidato ao Bandeirantes, não há figurão à mão. Nem poste a ser erguido em tempo hábil.

Há uma solução politicamente impensável até anteontem: o PT cair no colo do PMDB e apoiar de cara Paulo Skaf, que está viabilizado como candidato competitivo até segunda ordem. Seria uma humilhação e tanto para Lula e o partido, mas os prazos são curtos, e Padilha está no fogo.

Merval Pereira: Sim às UPPs

- O Globo

O governo do Estado do Rio está mais uma vez enfrentando um conjunto de problemas que se retroalimentam no que é o seu projeto mais importante, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas cariocas.

Alvos de uma campanha popular movida a indignação, por mais um assassinato, o do dançarino Douglas Rafael Pereira “DG”, as UPPs são também objeto de ardis dos traficantes, que se aproveitam do trauma provocado pela morte na comunidade para tentar desmoralizar o símbolo da política de Segurança mais efetiva já colocada em prática no Rio nos últimos muitos anos.

Cartazes com “Fora, UPP” e “UPP assassina” servem necessariamente aos bandidos, que lutam para recuperar os territórios ocupados pelas forças do Estado, e paradoxalmente são auxiliados pela péssima fama dos policiais, representantes desse mesmo Estado, cuja atuação, muitas vezes atrabiliária, em vez de levar segurança à comunidade, leva o terror em nome do Estado que deveria defendê-la.

O terror da parte podre, que faz com que a culpa da polícia seja a hipótese mais plausível nesses casos, no entanto, não pode inviabilizar o esforço de controle e pacificação dos territórios ocupados há 30, 40 anos por bandidos que hoje já fazem parte do tráfico internacional de drogas e estão muitas vezes mais armados do que a própria polícia que os combate.

São esses bandidos que historicamente implantaram o terror nas comunidades e hoje estão sendo confrontados pelas forças do Estado pela primeira vez em muitos anos. É uma questão que não se resolve senão com o tempo, com uma reforma radical na polícia e uma ação social que ainda engatinha, apesar das cobranças do próprio secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.

Mesmo que haja dúvida sobre se a violência está provindo da deficiência das políticas sociais, não pode haver dúvida sobre a necessidade delas na tentativa de solução. A própria presença do tráfico, porém, impede que a violência seja reduzida, mesmo nos locais onde há alguma presença social do Estado.

A realidade está mostrando que a estratégia de afugentar os bandidos com a chegada do Exército e outras forças policiais não resolve a questão, pois, se o principal objetivo é recuperar o território, ele fica prejudicado com a permanência dos bandidos fora da prisão, que sempre tentarão reaver seus domínios.

A corrupção da polícia é outro problema básico. Os policiais que mataram Amarildo faziam parte dessa nova geração de policiais das UPPs, que recebem um treinamento diferenciado com sentido de pacificação, mas o mais das vezes não estão em condições de executá-lo sob pressão. Ou se deixam corromper pelo tráfico.

A população está descontente com a atuação da polícia em várias comunidades, do que se aproveitam os traficantes. Encarar uma guerra em que o tráfico está mais bem aparelhado, e num terreno que eles conhecem melhor, traz insegurança ao policial e, em consequência, ao cidadão.

Há ainda a violência política de grupos que se utilizam das manifestações para conturbar o ambiente. O governador Pezão diz que, desde as manifestações de junho, o tráfico se aproveitou e tentou desestabilizar algumas UPPs, principalmente as que atuam onde há mais interesses comerciais, mercados consumidores fortes, como Rocinha e Pavão-Pavãozinho.

São 30 a 40 anos de uma ocupação pesada do tráfico, muito dinheiro circulando, analisa ele, e não vai ser com quatro, cinco anos de ocupação que o governo vai conseguir acabar com gerações de traficantes que vivem disso há muito tempo.

Acho que as UPPs têm que se transformar em política de Estado, e não de governo, com enfoque especial nas políticas sociais e na reformulação da polícia. (Amanhã, o enfoque social)

Demétrio Magnoli: Dilma é Lula?

Tal como há quatro anos, Dilma carece de qualquer lastro político próprio. "Volta, Lula"? Lula nunca saiu

Folha de S. Paulo - EBC

"Lula é Dilma, Dilma é Lula: Dilma é o pseudônimo de Lula" --a mensagem, propagada incessantemente, produziu os efeitos desejados nas eleições de 2010. Contudo, para além do teatro eleitoral, será verdadeira? Mais que interesse intelectual, a questão tem evidente relevância política quando soam as cornetas do "Volta, Lula!".

"Volta, Lula!" é a bandeira de uma facção do PT, mas, sobretudo, de setores do alto empresariado, que a difundem com discrição, operando nas sombras. Por motivos distintos, esses dois grupos acreditam que não: Dilma não é Lula. Os petistas engajados no neo-sebastianismo creem que Lula possui "habilidade política" superior, um eufemismo para louvar o desembaraço do ex-presidente na arte da distribuição de fragmentos da máquina pública aos "companheiros". Os empresários empenhados na mesma campanha, por sua vez, elogiam o "pragmatismo" lulista, que deve ser traduzido como um desprezo básico por qualquer tipo de convicção ideológica --e uma propensão irrefreável a distribuir a bolsa-empresário do BNDES aos magnatas "companheiros".

De certo modo, uns e outros têm razão. Dilma pode não ser a gerente perfeita, uma lenda que sobrevive apenas entre fanáticos oficialistas, mas conserva uma ética gerencial fundada no conceito de eficiência absolutamente estranha a Lula. A substituição do militante Gabrielli pela administradora Graça Foster na Petrobras é uma prova dramática da diferença. Ao mesmo tempo, Dilma acredita realmente no modelo do capitalismo de Estado. Oriunda do brizolismo, petista da undécima hora, a presidente nutre uma desconfiança fundamental em relação ao mercado. Não é fortuito que, resistindo às pressões de Lula, ela tenha bancado a permanência de um cambaleante Guido Mantega na pasta da Fazenda.

Lula só acredita no que serve às suas conveniências de poder: o ex-presidente pode ser "mercadista" ou "estatista", conforme as circunstâncias. Dilma também pode ser "mercadista", mas apenas a contragosto, premida pela conjuntura --ou por Lula. É por isso que a ala "desenvolvimentista" do PT prefere Dilma a Lula. André Singer, um arauto dessa ala, justificou a preferência em coluna publicada na Folha (9/11/13). Caracteristicamente, o texto descrevia uma suposta conspiração dos "donos do dinheiro", conduzida pela afinada "orquestra" do mercado financeiro (o FMI, a revista "Economist" e a agência Moody"s) contra o indômito governo Dilma. E, como conclusão, sugeria que Lula desempenhava um papel na macabra trama "mercadista".

Dilma, então, não é Lula, do ponto de vista dos interesses dos magnatas nacionais, dos petistas ocupados noite e dia na colonização do aparelho de Estado e da ala convictamente estatista do PT. Contudo, no que concerne aos interesses da esmagadora maioria dos brasileiros, Dilma é o pseudônimo de Lula pelo simples motivo de que a presidente de direito não exerce a plenitude do poder presidencial. Dilma é Lula no sentido bem preciso de que, nos momentos cruciais, a prerrogativa de decidir repousa nas mãos do presidente de facto.

Lula, o "pragmático", não Dilma, a "estatista", deflagrou a política econômica estatista durante seu segundo mandato. O mesmo Lula, não Dilma, deu o sinal de mudança de rota no ano passado, quando a falência do modelo tornou-se evidente para todos (exceto, claro, para os ideólogos "desenvolvimentistas"). Dilma poderia, em tese, ter obtido um grau razoável de independência --mas o fracasso de seu governo impediu que a criatura se libertasse da tutela do criador. Hoje, às vésperas das eleições, tal como há quatro anos, Dilma carece de qualquer lastro político próprio. Num eventual segundo mandato (que o céu nos proteja!), a presidente permaneceria tão refém de Lula quanto sempre foi.

"Volta, Lula"? Lula nunca saiu --como Lula e Dilma asseguram, nesse caso com razão.

Rolf Kuntz: O Brasil do banquinho de três pernas

- O Estado de S. Paulo

Monteiro Lobato criou um símbolo perfeito para o governo comandado pela presidente Dilma Rousseff, ao sintetizar no banquinho de três pernas o mobiliário e as ambições do caboclo. Para que quatro pernas, se três o sustentam e ainda evitam o trabalho de nivelamento? Os banquinhos do governo estão desenhados com perfeição nos principais indicadores e projeções da economia nacional, aceitos comodamente pelo grupo no poder. O aumento de preços na vizinhança de 6% é um bom exemplo de como funciona essa filosofia de Jeca Tatu.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu nesta semana, para o fim do ano, uma inflação dentro do limite de 6,5%, ponto extremo da margem de tolerância. A taxa anual até poderá ultrapassar essa marca nos próximos meses, mas em seguida - palavra de ministro - vai recuar e permanecer na área delimitada. Meta de 4,5%? Nem pensar, pelo menos por alguns anos.

Crescimento econômico? Muito bom, se chegar a 2,5% em 2013, como está indicado no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Contas externas? O Banco Central projeta para o ano um déficit em conta corrente de US$ 80 bilhões, muito parecido com o de 2013 (US$ 81,07 bilhões) e ainda perto de 3,6% do produto interno bruto (PIB), onde tem permanecido, sem grande agitação, desde março do ano passado.

Forçado a se mexer para atiçar o fogo, e de vez em quando provocado, o governo-Jeca se compraz na recitação monótona de façanhas discutíveis e ainda se permite, de vez em quando, alguma bravata. Uma das preferidas é a comparação das contas públicas brasileiras com as dos países mais avançados. Mas até essa lenga-lenga está ficando insustentável, porque os governos do mundo rico, menos propensos ao comportamento de Jeca Tatu, andaram tomando providências para melhorar as finanças. Resultado: o Brasil ficou muito pior na foto.

Segundo o Eurostat, o escritório de estatísticas da União Europeia, os 28 países do bloco reduziram seu déficit fiscal para a média de 3,3% do PIB no quarto trimestre de 2013. Nos 18 países da zona do euro a média diminuiu para 3%.

No Brasil, o déficit nominal das contas públicas (resultado total, como se mede em quase todo o mundo) ficou em 3,26% do PIB no ano passado e chegou a 3,3% nos 12 meses terminados em fevereiro deste ano. Não dá mais para esnobar os europeus, se forem consideradas aquelas médias.

Mas a bravata é igualmente insustentável quando se considera a maior parte dos resultados individuais. Em 18 dos 28 países do bloco maior o resultado fiscal de 2013 foi melhor que o brasileiro. Entre os 18 estão duas das maiores economias, a Itália, com 3% de déficit, e a Alemanha, com zero. Em quase todas as outras os resultados melhoraram de forma consistente entre 2010 e 2013. Além disso, também as economias mais afetadas pela crise começaram a vencer a recessão e suas perspectivas são de maior crescimento nos próximos anos.

Mas a dívida pública brasileira, pode insistir algum dirigente brasiliense, é menor que a da maior parte dos europeus como porcentagem do PIB. É verdade, mas esse argumento seria muito mais relevante se a classificação de risco do Brasil fosse tão boa quanto a desses países e se, além disso, os títulos brasileiros fossem aceitos no mercado com as taxas de juros cobradas dos governos europeus.

Além disso, ninguém acusou esses governos de ter recorrido a criatividade contábil para fechar seus balanços nos últimos anos, nem a truques para disfarçar indicadores incômodos, como a taxa de desemprego. Lances desse tipo têm sido frequentes no Brasil, mas em geral para outras finalidades. Empenhado em administrar os índices, em vez de cuidar da inflação, o governo tem controlado os preços dos combustíveis e recorrido a prefeituras e governos estaduais para conter as tarifas do transporte público. Além disso, forçou a contenção das tarifas de energia elétrica, impondo perdas a empresas do setor e pesados custos adicionais ao Tesouro.

Inútil no combate à inflação, essa política fracassada e desastrosa ainda levou o governo a tentar novas mágicas para disfarçar seus efeitos fiscais. Uma das saídas foi a montagem de um estranho esquema de financiamento bancário - R$ 11,2 bilhões - à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), uma entidade sem fim lucrativo e sem garantias próprias para oferecer aos bancos. A garantia será dada pelas distribuidoras e dependerá das tarifas cobradas. O custo será incluído no cálculo das novas tarifas a partir de 2015. Toda essa complicação, incluídos os juros do financiamento, seria evitada sem a demagogia da contenção de tarifas.

Políticas desse tipo são tão eficientes quanto as rezas de benzedeiras em atividade nas Itaocas de Monteiro Lobato. Sua serventia principal é poupar à autoridade - o Jeca de plantão - o trabalho de pensar seriamente e de enfrentar tarefas desagradáveis. Sem disposição para fazer o necessário, resta ao caboclo em função pública inventar meios de contemporizar e de empurrar os problemas para a frente. Inflação longe da meta de 4,5% em 2015 e crescimento econômico de 3%, também indicados no projeto da LDO, combinam com a filosofia do tripé.

Alguns se deixam contaminar pelo conformismo do Jeca e até enganar por sua esperteza rasa. A conversa sobre a criação de empregos é parte dessa esperteza. As demissões na indústria e a baixa qualidade dos postos criados no setor de serviços são temas postos de lado, assim como se tentou fazer com a pesquisa continuada por amostra domiciliar. Esta pesquisa - coincidência notável - vinha apontando taxas de desemprego maiores que as da pesquisa tradicional, mais limitada territorialmente. Para que pensar em modernização econômica, educação séria e criação de empregos decentes, se é muito mais cômodo levar adiante a conversa mole?

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Polícia acha que ‘DG’ estava na festa com ‘Pit-Bull’
O dançarino Douglas Pereira, o “DG”, participava de um churrasco na favela, com outros moradores, incluindo “Pit Bull”, um dos traficantes mais procurados, quando a Polícia Militar – alertada por denúncia – chegou. A informação é de fontes da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Quem estava na festa fugiu como pôde. “DG” e um amigo tentaram pular para a laje de uma creche no meio do tiroteio. Atingido, “DG” bateu num muro e caiu na creche. O amigo se safou e foi embora.

• Sem tortura
A Polícia Civil também está convencida de que o dançarino “DG” não foi torturado, e que teria morrido em decorrência do tiro e da queda.

• Sem saber
Os PMs do tiroteio somente souberam no dia seguinte que havia baleados. Foram outros PMs que recolheram o corpo de “DG”.

• Ação política
Policiais suspeitam de que a mãe de “DG”, muito articulada, estaria sendo orientada para “desmoralizar a polícia” e o governo estadual.

• PT atônito: já não há substitutos para Padilha
A direção nacional do PT e o ex-presidente Lula ficaram atônitos com a denúncia do suposto envolvimento do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha com o doleiro Alberto Yousseff, preso na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. É que já não há alternativas no PT para a eventual necessidade de substituí-lo na disputa pelo governo paulista. Lula, que inventou a candidatura Padilha, pediu tempo e calma à direção do PT.

• Fora de combate
Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Marta Suplicy (Cultura) já não podem disputar: perderam o prazo de desincompatibilização.

• Envolvimento
Padilha é acusado de indicar pessoa de confiança para dirigir empresa do esquema Yousseff-Vargas com interesses em seu ministério.

• Nem pensar
Entre petistas ilustres de São Paulo fora da Papuda, a única alternativa que resta a Padilha é impensável para Lula e o PT: Eduardo Suplicy.

• Feira sueca
Os caças de combate Gripen, que o Brasil comprou da Suécia, podem vir sem vários componentes, sugere o presidente da empresa, Håkan Buskhe, ao jornal Svenska Dagbladet: ainda na fase de acordo, o governo Dilma pode cortar daqui e dali para economizar no contrato.

• Sem voz, nem vez
Membro do grupo do enrolado André Vargas (PR), o deputado Cândido Vaccarezza (SP) foi jogado para escanteio nas últimas reuniões da bancada do PT, antes mesmo de ter o nome envolvido no escândalo.

• Escolhidos a dedo
O líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA), vai recrutar o deputado e promotor Carlos Sampaio (SP) para se juntar aos senadores Mário Couto (PA) e Alvaro Dias (PR) na CPI mista que investigará Petrobras.

• Não é piada
Leitor do jornal Notícias, de Maputo, ficou preocupado com a vinda da polícia de Moçambique para ajudar na segurança da Copa: “deveriam ser treinados, eles não estão familiarizados com a violência do Brasil.”

• Chapa pura
Com denúncias envolvendo o PT-PR, a oposição faz piada, dizendo que restará a Gleisi Hoffmann disputar o governo do Paraná com André Vargas de vice, e o pedófilo Eduardo Gaievski ao Senado.

• Na fila
Após lançar na terça (15) o governador Jackson Barreto à reeleição em Sergipe, o PMDB agora prepara o lançamento da candidatura do líder do governo, senador Eduardo Braga, ao governo do Amazonas.

• Frota judiciária
Diante da “situação irreversível”, o Conselho Nacional de Justiça recomendou cortar “gastos desnecessários” no Tribunal de Justiça do Paraná, que comprou 110 carros novos – 93 para desembargadores, cinco são Toyota Hilux. Aos juízes de primeiro grau entregaram 23.

• Não é nem louca
O deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA), que acompanhou a entrega do Complexo Portuário Mirituba-Barcarena, afirmou que a presidenta Dilma nem tocou no tema Petrobras: “Cairia a república de tanta vaia”.

• Santo homem
Deus garantiu lugar para o Papa Francisco no Céu, por ter fugido do assédio dos políticos brasileiros, no Vaticano.

Brasília-DF: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Cada um por si
No que depender do Palácio do Planalto, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha terá de responder sozinho sobre a parte que lhe cabe nesse latifúndio que se tornou o episódio envolvendo o doleiro Alberto Youssef e o partido. Seja no governo, seja na legenda, a ideia é deixar que cada um cuide de si. Isso vale tanto para o ex-ministro, hoje candidato ao governo de São Paulo, quanto para os deputados, petistas ou não. Sabe como é, em ano eleitoral, o Congresso vira meio terra de Murici, cada um por si. Padilha, pelo visto, entendeu o recado. Já soltou nota, deu entrevista e na segunda-feira irá ao Programa Roda Viva, da TV Cultura, uma das mais conceituadas rodas de entrevistas do país.

Digitais em casa…
A oposição, que planejava colocar Alexandre Padilha nas investigações envolvendo André Vargas, ria à toa ontem. É que os petistas mais experientes acreditam que o nome do ex-ministro entrou nessa roda da Operação Lava-Jato por obra e graça de André Vargas (PT-PR). O deputado tem dito a amigos que não vai sozinho para o cadafalso. Como repetia o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, nos tempos em que era deputado, “não duvide da nossa capacidade de criar confusão”.

…E fora
O PSDB atribui a André Vargas parte dos ataques apócrifos contra Aécio Neves nas redes sociais. Por isso, ninguém duvida que todos os votos do partido serão contra o petista. Em todas as rodas, os políticos são unânimes em afirmar que a saída do paranaense do parlamento é questão de tempo.

Renan e seus motivos
Nem só de defesa do governo é feita a vida de Renan Calheiros quando fala em recurso contra a CPI restrita à Petrobras. Ele também pretende fazer uma cerquinha para evitar que o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, indicado por ele, termine enroscado nessa teia.

Bolsa Família, o ensaio I
O governo começou a se preparar para responder aos adversários de Dilma Rousseff a respeito do Bolsa Família. O primeiro alvo é o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e a promessa de ampliar o programa para atender mais 10 milhões de famílias. Para início de conversa, diz o governo, as estatísticas apontam 500 mil famílias na miséria que teriam direito ao benefício. O governo tenta hoje localizar essas pessoas para abrigá-las. Esse argumento será batido pela presidente Dilma Rousseff, uma vez que é positivo dizer que já reduziu a miséria.

Bolsa Família, o ensaio II
O outro argumento que será usado para derrubar a promessa de Eduardo é de natureza econômica. Por mais que ele reduza o número de ministérios, o cálculo do Poder Executivo indica uma economia de menos de R$ 2 bilhões. A ampliação prevista pelo PSB obrigaria a um investimento de mais R$ 20 bilhões. Não há hoje folga orçamentária para direcionar esses recursos ao benefício. Esse argumento, entretanto, não será lembrado pela presidente Dilma. Será dito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que já tem cara de notícia ruim.

Da série perde o amigo, mas não a piada/ Os deputados que vivem às turras com os senadores do PMDB não perdoaram o fato de o papa Francisco ter deixado de cumprimentar os parlamentares depois da missa de canonização do padre José de Anchieta. Dizem que foi tudo porque Renan Calheiros estava presente. “Até o papa fugiu do Renan”, comentaram.

Natal acéfala/ Você consegue imaginar uma prefeitura que ninguém quer assumir? Foi mais ou menos isso que ocorreu em Natal. O prefeito, Carlos Eduardo Alves (PDT), foi para o exterior, a vice, Vilma de Faria, desapareceu, porque é candidata ao Senado e não quer assumir para não ficar inelegível. O presidente da Câmara Municipal está na mesma situação. Resultado, sobrou para a vice-presidente da Câmara, que só assumiu por ordem judicial. Eu, hein.

Por falar em Natal…/ O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (foto), está ressentido com os peemedebistas que o colocam sempre como aquele que, no passado, defendia o governo para conquistar o comando da Casa. Ele lembra que ganhou o parlamento no dia em que ficou contra o governo no Código Florestal, defendendo a posição dos deputados. E garante que vai continuar assim até o fim do mandato.

Dilma no Face/ A turma de comunicação do Palácio do Planalto vibrou esta semana com a participação dos internautas no papo com a presidente Dilma no Facebook. Ela foi a primeira chefe de Estado a adotar a rede social para conversar diretamente com os usuários da internet. Até aqui, muitos tinham usado o Twitter e as páginas oficiais de governo. Foram 700 mil acessos, 10 vezes mais do que o número de fãs da página do Planalto nessa rede.

A grande família petista: O Estado de S. Paulo - Editorial

Nem é preciso fazer escavações profundas. Arranhe-se apenas a superfície do sistema petista de poder e, certo como a noite que se segue ao dia, se encontrará um escândalo, uma maracutaia, uma armação, uma negociata, um vexame, um ato mal explicado ou inexplicável à luz da ética pública. E não se diga que é intriga da oposição em ano eleitoral.

Para ficar apenas na safra da semana, ora é uma auditoria da Petrobrás que afirma que em 5 de fevereiro de 2010 alguém foi autorizado verbalmente a sacar US$ 10 milhões de uma conta da Refinaria de Pasadena, na qual a empresa ainda tinha como sócia a Astra Oil. A revelação foi publicada pelo Globo. Quem autorizou, quem sacou, o porquê do saque e o que foi feito com a bolada, isso a Petrobrás não conta. Diz, burocraticamente, que o procedimento seria "uma atividade usual de trading" e nele "não foram constatadas quaisquer irregularidades".

Ora, para variar, são as sucessivas apurações da Polícia Federal (PF) sobre a amplitude da rede de conveniência recíproca em que se situam as ligações do deputado André Vargas, do PT paranaense, com o doleiro Alberto Youssef. O cambista foi preso no curso da Operação Lava Jato, que expôs um esquema de branqueamento de dinheiro, por ele comandado, da ordem de R$ 10 bilhões. O monitoramento, com autorização judicial, das comunicações do já agora réu Youssef trouxe à tona uma história de tráfico de influência que reduz a mera nota de rodapé o pedido de Vargas ao parceiro para que lhe arranjasse um jatinho para levá-lo numa viagem de férias ao Nordeste - descoberto, o favor custou ao favorecido o cargo de vice-presidente da Câmara, ao qual teve de renunciar.

A traficância, essa sim, era coisa graúda. Prometendo a Vargas que, se fizesse a parte dele, os dois conquistariam a "independência financeira" - palavras textuais do doleiro captadas pela PF -, ele acionou o deputado para que o Ministério da Saúde, então chefiado pelo também petista Alexandre Padilha, contratasse com o laboratório Labogen, de que Youssef é controlador oculto, o fornecimento de uma partida de medicamentos contra a hipertensão. O negócio renderia R$ 31 milhões em cinco anos. Quando a tratativa foi noticiada pela Folha de S.Paulo, Padilha imediatamente tirou o time de campo. Deu-se o dito pelo não dito, nenhum contrato foi assinado, nenhum real desembolsado.

Mas Padilha, pré-candidato ao governo paulista, era muito mais do que, digamos, o polo passivo do arranjo. Relatório da PF praticamente sustenta que, em novembro passado, ele ofereceu a Vargas um nome para dirigir o Labogen. Numa mensagem de celular lida pelos federais, o deputado identifica o apadrinhado para o doleiro e lhe dá o número de seu telefone, antes de arrematar: "Foi Padilha que indicou". Dois dias antes, Vargas tinha escrito a Youssef: "Falei com Pad agora e ele vai marcar uma agenda comigo". Naturalmente a PF não pode afirmar com todas as letras de que Padilha, ou Pad, se tratava. Mas quem mais poderia ser?

Afinal, o indicado pelo interlocutor de ambos para ser o executivo da Labogen, Marcus Cezar Ferreira de Moura, o Marcão, tinha sido nomeado pelo ministro, em 2011, coordenador de promoção e eventos da Saúde. No ano anterior, ele trabalhara na reta final da campanha de Dilma Rousseff. Só achando que o ministro era um rematado nefelibata, o suprassumo da ingenuidade, para imaginar que ele considerasse o Labogen um laboratório sério. A sua folha de pagamento não soma mais do que R$ 28 mil. A polícia apurou que foi uma das firmas de fachada usadas por Youssef para remeter ilegalmente ao exterior US$ 444,7 milhões.

Vargas, a PF também averiguou, não é o único petista das relações do doleiro. Outros citados, por ora, são os deputados Cândido Vaccarezza e Vicente Cândido, de São Paulo. Um admite ter se encontrado com o cambista no prédio onde ele e Vargas moram. O outro diz que o conheceu - em Cuba, ora vejam - em 2008 ou 2009. Em suma, formam todos uma grande família com parentes de sangue e por afinidade que às vezes brigam, mas em geral se ajudam a conseguir poder, prestígio e riqueza. Há mais de dez anos o solar da família fica em Brasília. Na sua fachada se lê: "Tudo pelo social".