Para apresentador, é preciso sair do enfrentamento automático e dar algum crédito ao presidente
Marina Dias / Folha de S. Paulo
BOSTON - O presidente Jair Bolsonaro (PSL) começou o governo sem um projeto claro e está pensando em como executar suas ideias "já com o avião voando". Essa é a avaliação do apresentador Luciano Huck, que participou na sexta-feira (5), nos EUA, de uma conferência para debater os rumos e os principais problemas do Brasil.
Em entrevista à Folha, Huck afirmou que o governo não pode deixar a ideologia se sobrepor em áreas prioritárias, como educação, mas ponderou que Bolsonaro ainda merece um crédito por ter sido eleito legitimamente.
"Se Bolsonaro tiver a sensatez e o bom senso de corrigir os prumos do governo quando tiver errado, acho que todo mundo sai ganhando", afirmou o apresentador da TV Globo.
A atuação do Ministério da Educação do governo Bolsonaro e a escolha do novo titular da pasta, confirmada nesta segunda (8), são alvo de críticas de Huck. "O MEC não é espaço para polemizar. Até aqui foi um erro nestes 100 primeiros dias", disse.
"O presidente entendeu e mexeu, mas me parece que a ideologia tenha se sobreposto à pauta. A elaboração de uma lista de bons nomes para o MEC é de fácil consenso. E, de novo, temos um nome de não consenso", afirmou, em referência à saída de Ricardo Vélez Rodríguez e à nomeação de Abraham Weintraub.
Cotado como candidato a presidente da República no ano passado, Huck não descarta concorrer ao cargo em 2022, mas diz que seu papel, hoje, é de diálogo e construção de projetos que não sejam personalistas.
• No segundo turno da eleição, o sr. disse que não se sentia representado por Jair Bolsonaro ou Fernando Haddad. Isso mudou?
Essa resposta seria importante num ciclo eleitoral, que foi o que a gente viveu. Esse cenário não existe mais. A gente tem um presidente eleito de forma democrática e legítima, por ampla maioria, num momento em que o país precisa de reformas estruturais. Não é hora de discutir ideologias ou voto, mas, sim propostas, projetos e como eles vão ser executados.
• Qual é o balanço que o sr. faz dos cem primeiros dias de governo?
É muito difícil começar qualquer governo quando você não tem um projeto claro e não sabe como vai executá-lo.
• Bolsonaro não tem?
Bolsonaro tem ideias, ideologia e crenças que, inclusive, o levaram à Presidência. Só que também está claro que o que fazer e como executar as ideias eles estão modulando, lapidando e pensando em como fazer já com o avião voando.
Há setores em que você enxerga clareza de ideias, mas a capacidade de execução a gente vai ver agora. Quando você vê o Ministério da Economia e o que ele está querendo fazer, tem muita consistência. Na minha opinião pessoal, são reformas necessárias.
No Ministério da Justiça, o plano do Sergio Moro é de alguém que sabe o que está fazendo também. Ele tem noção muito clara do que tem que ser feito, mas vai ter dificuldade de implementar por uma questão de conseguir montar um grupo técnico que o ajude politicamente a viabilizar [as propostas].