quinta-feira, 12 de maio de 2022

Merval Pereira: Bolsonaro e suas marionetes

O Globo

O presidente Jair Bolsonaro, em meio à crise entre as Forças Armadas e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em razão dos questionamentos reiterados, alguns até já respondidos, do representante dos militares na Comissão de Transparência das Eleições (CTE) sobre as urnas eletrônicas, abriu o jogo num “sincericídio” que lhe é peculiar. Disse que, como comandante em chefe das Forças Armadas, seu representante na comissão só poderia seguir suas orientações. Com isso, assumiu a autoria da tentativa de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro com questionamentos sem base técnica, muitos fora do prazo legal.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, pediu em seguida ao TSE que centralizasse as informações nele, e não no representante das Forças Armadas na comissão. Uma demissão branca do general indicado por escolha do Palácio do Planalto, que não aceitara a sugestão dos técnicos do TSE de colocar um almirante especialista em tecnologia da informação que já tinha contato com os ministros.

Malu Gaspar: Botão de pânico

O Globo

Militares atuam como buchas de canhão para o golpismo de Bolsonaro

A estratégia que Jair Bolsonaro desenhou para chegar às eleições em condições de vencer o pleito ou melar o jogo é conhecida: criar tumulto atrás de tumulto, espalhar focos de desconfiança e dispersar a atenção dos assuntos que realmente importam. Vem sendo assim desde o começo do governo. 

Toda vez que o presidente da República depara com um problema que não sabe ou não quer resolver, aciona o botão do pânico. Só que quem entra em pânico somos nós. E só continua funcionando porque sempre tem algum fardado disposto a ajudar o presidente em suas tentativas de criar o caos.

A história se repetiu na última polêmica em torno da segurança do sistema eleitoral. Bolsonaro lançou a bomba aproveitando-se da confusão criada pelo perdão presidencial ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e da fala do ministro do STF Luís Roberto Barroso, para quem as Forças Armadas estavam sendo orientadas a atacar e desacreditar o processo eleitoral.

Em discurso no Palácio do Planalto, difundiu a ideia de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apura os votos numa sala secreta que não existe, citando uma proposta de apuração paralela pelas Forças Armadas que também nunca foi feita.

Ao mesmo tempo que TSE e interlocutores do Judiciário e do Congresso tentavam desfazer o tumulto com notas de esclarecimento e encontros a portas fechadas, outro general, Heber Portella, enviava ofícios desaforados ao TSE demandando explicações sobre supostos riscos e fragilidades no sistema eleitoral.

Embora fosse o representante dos militares na famigerada Comissão de Transparência do TSE, o general adotou um tom que a hierarquia da força não lhe autoriza:

“Os militares recomendam previsão e divulgação antecipada de consequências para o processo eleitoral, caso seja identificada alguma irregularidade na contagem dos votos da amostra utilizada no Teste de Integridade, haja vista que não foi possível visualizar medidas concretas no caso da ocorrência de referidas irregularidades”.

Desde então, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, tomou para si a interlocução com a Corte eleitoral, desautorizando Portella. O TSE explicou que parte das sugestões já havia sido implementada e outra parte era inviável, expondo a falta de conhecimento técnico do general sobre o sistema.

Míriam Leitão: Inflação presente e o risco futuro

O Globo

O problema não é apenas a inflação de agora, mas o processo inflacionário à frente. O índice de abril foi horroroso, o pior para o mês desde 1996 e o acumulado chegou a 12,13%. O governo tem tomado decisões que podem manter a inflação alta por muito mais tempo que este mandato. De imediato, haverá oscilação pra baixo. Maio será um mês de refresco nessa fornalha que tem atingido os índices. Tanto o IPCA-15 quanto o IPCA vão trazer números baixos. Mas a questão mais preocupante é que o país pode estar contratando agora a elevação de preços de amanhã.

Quem alertou para isso foi Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil. Ela fez parte da equipe que, no governo Michel Temer, derrubou a inflação de dois dígitos para o centro da meta. Difícil repetir o feito. O mundo não está ajudando e há muitas escolhas erradas sendo feitas neste momento, como o aumento forte das despesas.

— Este ano o gasto primário está aumentando 5%, já descontada a inflação. Uma despesa de 5% real maior do que no ano passado. Isso não vai ceder de uma hora para outra. Todos os componentes presentes na inflação atual estão elevando a inércia e esse quadro fiscal é um desses componentes — disse Ana Paula em uma entrevista que me concedeu na Globonews.

Luiz Carlos Azedo: Almirante Bento vira homem ao mar

Correio Braziliense

É mais um oficial-general de quatro estrelas de grande prestígio nas Forças Armadas defenestrado por Bolsonaro de forma humilhante, por discordâncias com o Centrão e o presidente da República

O almirante de esquadra Bento Albuquerque foi demitido, ontem, do cargo de ministro de Minas e Energia, inesperadamente, pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a pretexto de que teria se omitido em relação aos aumentos dos combustíveis, sobre os quais não tem nenhuma responsabilidade direta, porque a decisão é da Petrobras. O real motivo da demissão, porém, foi sua discordância com o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e os partidos do Centrão, quanto à aprovação de um projeto bilionário de construção de uma rede de gasodutos interligando oito estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, para o qual pretende se destinar cerca de R$ 100 bilhões do lucro do pré-sal. O projeto beneficia diretamente o empresário Carlos Suarez, ex-sócio-fundador da empreiteira OAS, que tem o monopólio de distribuição de gás nos estados beneficiados.

Maria Cristina Fernandes: O preço a ser pago pelo desespero bolsonarista

Valor Econômico

Na área mais estratégia para a inserção nacional na economia mundial, o Brasil de Bolsonaro é guiado por uma visão de curto prazo e predatória

O presidente Jair Bolsonaro foi capaz, em 2018, de convencer incautos empresários de que mais do que no capitão, se deveria confiar em Paulo Guedes como guardião do gasto público e arauto da privatização.

O jogo montado om a substituição de Bento Albuquerque por Adolfo Sachsida no Ministério de Minas e Energia sinaliza que Bolsonaro redobra a aposta na mesma estratégia.

Sem apoio militar ao golpe, Bolsonaro vê se dá pra ganhar no voto. A primeira aposta é no controle de tarifas até outubro. Empacota como o preço a pagar por um segundo mandato que, aí sim, entregará privatizações. Como se isso resolvesse o nó dos combustíveis. O mercado de óleo de soja é privado e nem por isso o preço dos últimos 12 meses deixou de subir 24%.

A segunda aposta é no futuro da parceria com o Centrão, a partir da garantia de recursos orçamentários para a construção dos gasodutos para as termelétricas. Trata-se daquele projeto que tem meia dúzia de beneficiários entre os empresários do setor, algumas dezenas de sócios no Congresso Nacional e 216 milhões de vítimas, em todo país, pelo custo fiscal e ambiental que acarreta.

É este o pacote do MME. Na área mais estratégica para a inserção nacional na economia mundial, o Brasil de Bolsonaro é guiado por uma visão de curto prazo e predatória.

O ex-assessor especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia costuma ser vinculado a Paulo Guedes, mas, na verdade, é um bolsonarista raiz. Nega a dívida histórica com a escravidão e foi capaz de dizer, na pandemia, que a melhor vacina para país seria avançar na agenda de reformas.

Não espanta, portanto, que, na Petrobras, tema-se a mudança no MME como prenúncio da adesão do governo ao projeto de lei, já aprovado pelo Senado, que institui uma banda de flutuação do preço do combustível a ser bancada, majoritariamente, pelo caixa da empresa.

Cristiano Romero: Ajuste, crescimento e desigualdade

Valor Econômico

Made, da USP, fecha lacuna importante no debate econômico

Há exatos 40 anos os brasileiros são confrontados com duas palavras que, periodicamente ditas em Brasília, significam que a vida de muita gente, mas não de todos, vai piorar: ajuste fiscal. E o que é um ajuste fiscal? Sem eufemismo, é a redução da renda disponível tanto dos cidadãos quanto das empresas. Governos, desde sempre, fazem isso por meio de dois instrumentos: aumento de impostos e corte de despesas públicas.

Esse dinheiro que sai do bolso de indivíduos e de companhias não aumenta a disponibilidade dos Estados nacionais. Os recursos são usados para reduzir o endividamento público, de maneira que, em até cinco anos, o setor público reduza a sua necessidade de tomar dinheiro do mercado para se financiar e, assim, estimule o aumento da poupança privada, fonte do financiamento dos investimentos das empresas. Sob essa justificativa, dinheiro público foi usado à mancheia para cobrir rombos de empresas públicas e privadas, quando não, salvar bancos. Em alguns casos, o dinheiro dos contribuintes serviu para aumentar a margem de lucro de grandes empresas, que não deram a contrapartida acordada com seu benfeitor (o erátrio público) - investir mais, portanto, contratar trabalhadores, gerar renda...

Em tese, governantes são eleitos para aumentar a renda disponível da população e, sim, criar condições para que as empresas produzam e lucrem mais, de forma a gerar empregos e cada vez mais renda. Ocorre que ainda não se inventou um modelo econômico imune a crises periódicas - o socialismo real não funcionou como alternativa porque prescindiu de um valor inerente ao homem, que é a liberdade, e falhou também como alternativa econômica, uma vez que não foi capaz de gerar a riqueza necessária ao atendimento das necessidades básicas dos cidadãos.

Jorge Arbache: Terremotos e recessões

Valor Econômico

Já se fala de uma nova recessão global, com fadiga fiscal, elevado endividamento público e privado e crise climática

Os terremotos têm certa similaridade com as recessões. Enquanto terremotos sacodem o terreno e deixam um rastro de destruição, recessões sacodem os pilares da economia, paralisam negócios e geram desemprego, pobreza e quebradeira de empresas. Logo em seguida vêm as réplicas, ou terremotos secundários, de reacomodação do terreno. Mas, aqui, há uma dissimilaridade importante entre eles. Diferentemente dos terremotos, os efeitos secundários das recessões podem ser sentidos mais por uns grupos da sociedade do que por outros. Ou seja, as recessões podem não ser neutras, o que se deve à forma como os efeitos das recessões se distribuem no interior da economia e à estrutura produtiva e dos mercados.

Evidências empíricas para países em desenvolvimento mostram que vários dos efeitos negativos das recessões não são totalmente neutralizados durante as recuperações e, desta forma, pode restar uma espécie de “saldo de destruição”. A modo de exemplo, a taxa de crescimento do índice de Gini, que mede o grau de concentração da renda, aumenta mais durante períodos de recessão do que diminui durante períodos de recuperação econômica. Ou seja, recessões podem levar a desigualdade para outro patamar. Participação das mulheres no mercado de trabalho, taxa de desemprego estrutural e indicadores escolares estão entre os vários indicadores que podem capturar aquela destruição.

Vinicius Torres Freire: Bolsonaro insinua guerra civil

Folha de S. Paulo

Em discurso, presidente reapresenta seu programa, minimiza inflação e fala de povo armado

A inflação anual é a maior em quase 20 anos. Passou de 12% em abril. Deve permanecer acima de 10% até setembro, à beira da eleição. Em grande parte, é resultado de choques mundiais graves, piorados pela desvalorização brutal do real em 2020 e 2021.

Qualquer governo teria dificuldade de ao menos atenuar esses choques (Covid e suas sequelas, crise de energia, Guerra da Ucrânia etc.). Em um país com estabilidade econômica e política, a alta do dólar poderia ter sido menor.

É fácil perceber que a economia fica à deriva em um país desgovernado, submetido aos objetivos de um projeto autoritário e sob a regência da incompetência e de parlamentares negocistas.

O indivíduo que ocupa a cadeira de presidente procura então não apenas camuflar a ruína, mas o faz reafirmando seu programa de desmonte, "contra o sistema". Junta a fome com a vontade de poder autoritário, até mesmo por meio do conflito armado.

Maria Hermínia Tavares*: No ambiente, um (bom) sinal dos tempos

Folha de S. Paulo

A questão ambiental tornou-se tema inescapável neste ano eleitoral

Risonho, jovem, em uniforme de campanha, eis o presidente com uma suçuarana à frente e a mata ao fundo.

Tal é a abertura de um vídeo promocional que anuncia, em inglês —ou pior, para inglês ver—, que o Brasil é um país livre e seu território, extremamente preservado. A megamentira está nas redes desde a segunda-feira (9). No mesmo dia, o vice Hamilton Mourão reconheceu que os dados sobre o desmatamento na Amazônia Legal eram "péssimos", "horríveis", a ponto de tornar necessário descobrir onde o governo está falhando.

O general acerta ao dizer que os dados são péssimos. Segundo o Inpe, a derrubada da floresta superou inéditos 1.000 quilômetros quadrados entre janeiro e abril. Mas, ao contrário do que ele sugere, não há mistério a desvendar. O porte do desastre é consequência direta da ação do governo na área ambiental.
Segundo a MapBiomas —rede criada por especialistas em sensoriamento remoto e mapeamento de vegetação—, a administração federal deixou de averiguar 97% dos alertas de destruição das florestas emitidos pela organização entre janeiro de 2019 e março último.

Bruno Boghossian: Jogadas de Bolsonaro sobre preços transmitem um certo desespero

Folha de S. Paulo

Só falta o presidente trocar frentistas dos postos para ver se o preço dos combustíveis cai

Jair Bolsonaro telegrafou a demissão do ministro de Minas e Energia. Na semana passada, o presidente citou nominalmente o almirante Bento Albuquerque e o chefe da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, e mandou um recado, aos gritos: "Vocês não podem aumentar o preço do diesel! Eu não estou apelando, eu estou fazendo uma constatação".

Quatro dias depois do ultimato, a estatal anunciou mais uma alta do combustível. Passados mais dois dias, o ministro perdeu o cargo.

O presidente busca uma válvula de escape para os danos políticos provocados pelos aumentos. Na ausência de um plano eficiente para o setor, Bolsonaro já demitiu dois presidentes da Petrobras e, agora, o ministro da área. Nesse ritmo, falta trocar os frentistas dos postos de combustíveis, para ver se os preços caem.

Ruy Castro: Exército sob Bolsonaro

Folha de S. Paulo

O que os generais da ditadura diriam dele?

Jair Bolsonaro lembra aqueles meninos covardes que chamam alguém para a briga e, quando o outro topa, fogem correndo para o irmão mais velho, chorando e pedindo que ele brigue em seu lugar. É o que vem fazendo desde o dia em que tomou posse —chamando as instituições para brigar e, quando estas se cansam de ser provocadas e reagem, ele induz as Forças Armadas a promover desfile de canhão, sobrevoo da capital e bravatas de oficiais sem compostura. Entre uma e outra ameaça, cavalga motocicletas, jet skis e cavalos propriamente ditos, sempre em turma e contando com o apoio armado.

O Exército Nacional já foi mais exigente. Os generais do regime militar, com tudo o que nos custaram, eram pelo menos ciosos de três coisas: o crescimento econômico, a Petrobras e a Amazônia. Exatamente o que Bolsonaro detesta. Certa ou errada, eles tinham uma ideia de desenvolvimento e de modernização do Brasil. Sob Bolsonaro, ao contrário, já estamos perto do crescimento zero, da desmoralização da estatal e da destruição da floresta --programas que, com um segundo mandato, ele completará. Falta-me cultura política para entender o que o país ganha com isso e por que o pessoal fardado o aprova.

William Waack: País dos oportunistas

O Estado de S. Paulo

O cenário pós-eleitoral do Centrão e dos mercados assume poucas mudanças

No atual momento de falta de lideranças políticas abrangentes e esgarçamento do tecido institucional prevalece quem tem um mínimo de organização e objetivos comuns bem delineados. É o caso da consolidação das forças do Centrão em torno das ferramentas de poder (orçamento secreto) – que o STF parece pouco propenso a enfrentar de verdade.

Há integrantes do STF que se queixam de “ingratidão” por parte dos políticos. “Afinal, nós devolvemos a política aos políticos”, dizem, nutrindo esperanças de retribuição pela obra de liquidação da Lava Jato.

Mas onde estão esses ingratos, na hora em que o STF precisa de artilharia amiga no embate com um presidente que tem como principal tática político-eleitoral peitar os tribunais superiores e o sistema eleitoral?

Adriana Fernandes: Demissão de ministro em dia de IPCA a 12%

O Estado de S. Paulo

Alta de preços de combustíveis e de energia ameaça chances de reeleição de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro rifou o seu “ministro-almirante” de Minas e Energia, Bento Albuquerque, na noite da véspera do anúncio pelo IBGE da inflação fechada de abril. O IPCA fechou o mês com alta de 1,06%, e taxa acumulada em 12 meses atingindo 12,13%. Não é mera coincidência. A fotografia atual mostra também Bolsonaro parando de crescer nas pesquisas e o seu adversário nas eleições, Lula da Silva, mantendo a vantagem. Os bolsonaristas estavam animados com a recente diminuição da distância entre o presidente e Lula, mas esse avanço não prosperou como esperavam.

A crise de energia, com a alta dos preços de combustíveis e das tarifas de energia elétrica, ameaça os planos da reeleição.

O presidente fez a demissão e surpreendeu meio mundo, inclusive aliados, com a publicação no Diário Oficial da União na manhã de ontem. Sinal de que, desta vez, ao contrário das duas escolhas para o comando da Petrobras, ouviu poucas pessoas e acabou descartando mais um ministro do grupo dos militares.

A manobra foi conduzida num momento de ameaças renovadas de greve dos caminhoneiros após a alta do diesel. A troca deu um nó na cabeça de quem tenta entender os sinais desse movimento com a escolha de um auxiliar de Paulo Guedes, Adolfo Sachsida, que “dia sim, dia não” repete o mantra da necessidade de avançar nas políticas de reformas pró-mercado num ambiente de consolidação fiscal.

Celso Ming; A Petrobras e a cólera de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Alguém ainda leva a sério a indignação do presidente Jair Bolsonaro com o critério de preços adotado pela Petrobras? A Bolsa e o mercado financeiro começam a ignorar.

Já foram sacrificados três bodes expiatórios por conta desse teatro: dois presidentes da Petrobras, Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna e, agora, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

O maior indício de que Bolsonaro apenas finge indignação é o fato de que seus ministros não o acompanham nesse jogo. Alguém já ouviu alguma declaração do ministro Paulo Guedes que endosse as declarações de Bolsonaro de que “o lucro da Petrobras é um estupro”? Nem tampouco Bento Albuquerque tocou a mesma partitura. Tanto não tocou, que está demitido.

José Serra*: Marte e os meteoros fiscais

O Estado de S. Paulo

Acordo firmado entre o governo federal e a Prefeitura de SP na disputa sobre o Campo de Marte deve, mesmo, ser comemorado.

O recente acordo firmado entre o governo federal e a Prefeitura de São Paulo, numa disputa histórica sobre a posse do Aeroporto Campo de Marte, vem sendo comemorado por ambos os lados. O resultado da negociação abre espaço fiscal de R$ 23,9 bilhões nos orçamentos da União e da capital paulista, que poderá financiar investimentos em infraestrutura, ações na área da saúde, na educação e no atendimento dos mais vulneráveis por meio de políticas públicas assistenciais. Mais importante, o acordo inaugura um novo instrumento de gestão fiscal no federalismo brasileiro: a conciliação de contas entre unidades federativas.

Em 1929, a estreia do Aeroporto Campo de Marte, na zona oeste da cidade de São Paulo, foi um marco histórico. Sob propriedade do município, nascia o primeiro terminal aeroportuário da cidade, quando o transporte ferroviário já não atendia ao fluxo crescente de pessoas na capital. Ali foi fundado o Aeroclube de São Paulo em 1931, a maior escola de aviação da América Latina.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Emendas reavivam estelionato eleitoral de Jair Bolsonaro

Valor Econômico

As facções do Congresso que se aproveitam da apatia motivada do chefe do Executivo têm boas chances nas urnas em outubro

O presidente Jair Bolsonaro escapou de um impeachment pelo acordo com os partidos do Centrão, do qual resultou, como celebração do entendimento, as emendas do relator. Elas são a lembrança presente do estelionato eleitoral de Bolsonaro. Ao invocar a nova política e atacar a corrupção de governos do PT, Bolsonaro se elegeu e se engajou em práticas tão nocivas quanto as do mensalão como forma de se manter no poder. A bancada que elegeu em sua onda pseudomoralizadora também se locupletou com as emendas secretas, com a hipocrisia do presidente viralizando na bancada eleita.

O núcleo duro do bolsonarismo é simpático ao dinheiro - foram R$ 270 milhões repassados de forma obscura para obras Brasil afora, algo só revelado após exigência do Supremo Tribunal Federal. O deputado Eduardo Bolsonaro, o 02, fez uso de R$ 9,5 milhões, dos quais apartou R$ 300 mil para a cidade de Miracatu, onde seu tio, irmão do presidente, Renato Bolsonaro, é chefe de gabinete da prefeitura.

A tropa de choque ideológica, que não despreza oportunidades, foi pelo mesmo caminho. O major Vitor Hugo, candidato ao governo de Goiás pelo PL, encaminhou R$ 131 milhões para obras várias. A deputada Bia Kicis, que conseguiu se alçar a presidente da comissão mais importante da Câmara, a de Constituição e Justiça, serviu-se de R$ 32 milhões, com especial apreço à Codevasf, destinatário principal das emendas secretas, que recebeu um terço do dinheiro. Todos os dias chegam denúncias de obras inacabadas, abandonadas, pessimamente executadas ou superfaturadas pela estatal, cuja área de atuação só não chegou ainda ao Chuí por descuido. Seu presidente é um indicado pelo chefão da Casa Civil e orientador das emendas secretas, Ciro Nogueira (PP-PI). Carla Zambelli, que ameaça concorrer ao Senado por São Paulo, repassou R$ 25 milhões. Helio Lopes, seguidor compulsivo de Bolsonaro, obteve R$ 20 milhões. Luiz Philippe de Orleans e Bragança contentou-se com R$ 10 milhões.

Poesia| Mario Quintana: A Rua dos Cataventos

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Música | Zeca Pagodinho: Minha Fé -