quinta-feira, 16 de novembro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Cláusula de barreira melhora qualidade da democracia

O Globo

Desde que foi adotada, já houve dez uniões partidárias. Movimento de consolidação deverá se intensificar

As eleições municipais do ano que vem tornarão perceptíveis os benefícios da redução no número de partidos, forçada pela cláusula de barreira, ou desempenho, que garante acesso a recursos dos fundos eleitoral e partidário apenas às legendas que alcançarem um percentual mínimo de votos. Adotada progressivamente desde 2018, ela já propiciou dez uniões partidárias, uma a cada seis meses, segundo revelou reportagem do GLOBO. Na última, aprovada na semana passada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), PTB e Patriota se fundiram para criar o Partido Renovação Democrática (PRD).

Ricardo José de Azevedo Marinho* - Casa-Grande & Senzala no Pós-Segunda Guerra Francês

Aqui está uma bela obra sobre Gilberto Freyre oferecida às leitoras e leitores pela historiadora Cibele Barbosa, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco do Recife. Escrita histórica e geopolítica da raça: a recepção de Gilberto Freyre na França é um livro chave para compreender a riqueza das relações intelectuais que marcaram o período 1950-1970 entre a França e o Brasil e não só. O livro é fruto da sua tese de doutorado defendida em 2011 perante a Universidade de Paris-Sorbonne e vencedor do 1º Concurso Internacional de Ensaios - Prêmio Gilberto Freyre 2020-2021.

A riqueza da obra aparece antes de tudo no lugar dado pela historiadora a abordagem que situa a grande obra de Gilberto Freyre na diversidade do pensamento social brasileiro. Mas a sua principal fortuna está na descrição da rede de sociabilidade estabelecida entre Gilberto Freyre e os intelectuais franceses como Lucien Febvre, Fernand Braudel, Roger Bastide entre outros que saudaram a moderna escrita da história. Ao conhecerem a obra de Gilberto Freyre publicada no Brasil em 1933, Casa-grande & senzala é uma revelação para os intelectuais franceses que notavelmente integraram essa elaboração da formação da sociedade brasileira, essa civilização em seus conhecimentos da história. A recepção da obra de Gilberto Freyre tem como ponto de partida trocas intelectuais com os franceses.

Merval Pereira - Lugar de fala

O Globo

Hoje, mais do que nunca, exigem-se dos ocupantes de cargos públicos transparência e comportamento probo, que não podem ser apenas presumidos pelos cidadãos, mas têm de ser comprovados no cotidiano.

A necessidade de existência de regras bem definidas de comportamento de autoridades de vários níveis ficou evidenciada nos dias recentes por casos de diversas naturezas. A surpresa com que foi recebida a divulgação de um código de conduta pela Suprema Corte dos Estados Unidos, com o objetivo de impedir que se perpetue a imagem na opinião pública de que aqueles nove magistrados se sentem acima dos cidadãos comuns, inatingíveis pelas leis, mostra como mudaram os tempos desde sua fundação, em 1789.

Hoje, mais do que nunca, exigem-se dos ocupantes de cargos públicos transparência e comportamento probo, que não podem ser apenas presumidos pelos cidadãos, mas têm de ser comprovados no cotidiano. Essa necessidade já estava explicitada pelo imperador Júlio César em 62 a.C., ao dizer: “A mulher de César, não basta ser honesta, tem de parecer honesta”. De lá para cá, nossos césares convenceram-se de que, por si sós, são respeitáveis e respeitados, por isso é necessário que se produzam normas e regras de conduta nos diversos níveis de poder.

Malu Gaspar – Uma cilada para Dino e Lula

O Globo

A ordem no governo Lula é abafar o mais rapidamente possível o caso da mulher de um líder de facção criminosa do Amazonas recebida em audiências por secretários do Ministério da Justiça. Neste feriado, dois dias depois da primeira reportagem do Estado de S. Paulo sobre as visitas de Luciane Barbosa, a “dama do tráfico amazonense”, uma tropa de integrantes do primeiro e do segundo escalão fez postagens de desagravo a Dino.

O coro foi puxado pelo presidente da República, que atribuiu as denúncias a “ataques artificialmente plantados” — ou, nas palavras do titular dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, “claramente coordenados”. Subindo o tom na defesa do chefe, o secretário nacional do Consumidor, Wadih Damous, falou em “mentira adotada como padrão de jornalismo”.

Na superfície, a manifestação de Lula foi apenas uma defesa enfática de seu ministro. Indo mais fundo, o que emerge é outra coisa. Observadores privilegiados da guerra intestina que se desenrola em Brasília pela nomeação para a próxima vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) não têm dúvida de que Lula buscou traçar um “risco no chão”, impondo um freio não à imprensa ou às fake news, mas a seus próprios aliados.

Afinal, embora tenham circulado informações falsas afirmando que Dino se encontrara com a tal “dama do tráfico”, não foi isso que o jornalismo profissional trouxe à tona.

Míriam Leitão -Os negros no horizonte da República

O Globo

Na visão do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, a República é um horizonte que só se realiza com a inclusão dos negros

Estamos entre o dia da República, ontem, e o dia da Consciência Negra, na próxima segunda. O que liga os dois? Na visão do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, o republicanismo, que nasceu restrito, precisa da inclusão de cada vez mais brasileiros: “a República é um horizonte”, diz ele. Um dia da consciência negra é pouco para tanto trabalho. Mesmo o Novembro Negro, que o ministro quer que se institua, ainda é insuficiente. Porque a tarefa é nacional. “Me diga um país que conseguiu se desenvolver discriminando 50% da população?”.

Nesta segunda metade de novembro, o Brasil tem a chance de pensar em duas datas que nos constituem e que podem nos dar um horizonte. A inclusão dos negros em todos os campos da atividade brasileira, a remoção incessante de barreiras à ascensão do povo preto não é o atendimento de reivindicações de uma parcela da população. É a realização do projeto de República, e a garantia de que haja desenvolvimento.

Martin Wolf* - Afrouxamento monetário à vista

Valor Econômico

Inflação em queda põe BCs no ponto mais difícil do ciclo monetário

As taxas de juros dos bancos centrais atingiram um pico nos Estados Unidos e na zona do euro? Se sim, com que rapidez elas poderão cair? Começando na metade de 2021, os bancos centrais tiveram que apertar significativamente suas políticas monetárias. Mas o que eles terão de fazer a seguir é incerto. Independentemente do que os banqueiros centrais possam dizer sobre o que pretendem fazer, os acontecimentos sempre têm a última palavra. Se, como muitos agora esperam, o núcleo da inflação cair rapidamente em direção a suas metas, eles terão de flexibilizar suas políticas.

Embora a perda de credibilidade seja prejudicial quando a inflação fica alta demais, ela também o é quando a inflação fica baixa demais. Um retorno da inflação abaixo da meta e à política monetária de “puxar a corda” seria altamente indesejável. O momento de responder a esses riscos parece próximo - mais próximo do que os bancos centrais admitem, especialmente tendo em conta as defasagens na transmissão do aperto passado. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), e Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), declararam seu plano de não flexibilizar tão cedo. As taxas de intervenção permanecem estáveis há algum tempo: a taxa dos fed funds está em 5,5% desde julho e a taxa de depósito do BCE está em 4% desde setembro.

Nilson Teixeira* - A necessária regulação dos lobbies

Valor Econômico

PL do lobby é um grande avanço, mas há espaço para aperfeiçoamentos

A existência de organizações destinadas ao convencimento de agentes públicos em prol de redações de políticas públicas, leis, atos executivos, licitações e contratos que beneficiem ou protejam seus membros é legítima em um ambiente democrático. Todavia, essas organizações têm demonstrado uma influência excessiva no Brasil, a ponto de obterem redações de leis que pendem em demasia e de forma recorrente contra o bem comum. A manutenção de injustificáveis privilégios para alguns setores da sociedade durante a tramitação da reforma tributária é um exemplo do poder desmedido dessas organizações frente aos interesses da coletividade.

Eugênio Bucci* - O entretenimento engole a política

O Estado de S. Paulo

Quando as decisões que afetam a ordem do comum repelem o entendimento do que seja o bem comum, é porque vai dar ruim. O conceito de República se desfaz na poeira do tempo

Você olha e fica boquiaberto. Mas como pode ser? Você esfrega os olhos, não é possível que esteja vendo o que vê. O modo como as pessoas reagem às notícias desperta no seu espírito uma incredulidade perplexa. Tudo na política – tudo mesmo, sem exceção – virou uma questão de torcida organizada, de arrebatamento de almas (pequenas) e de furor irracional. Nos tempos da covid a gente viu de perto: a hidroxicloroquina vai dar certo porque eu tenho fé; a ivermectina vai salvar vidas porque eu acredito; a vacina chinesa carrega um chip oculto que vai rastrear os desejos de consumo da vizinha, eu sei, eu vi um vídeo na internet. Parece loucura. É loucura.

A polarização se faz de ânimos conflagrados, não mais de opiniões divergentes. A metáfora da ágora grega não serve mais para representar o debate público. A imagem da disputa de pontos de vista entre seres racionais perdeu a validade. Agora, as multidões se sentem em guerras santas, em cruzadas sanguinárias, se sentem no Coliseu de Roma apontando o polegar para baixo. O script do tempo são os linchamentos virtuais. O fundamentalismo corre solto. Intolerância na veia. Nos Estados Unidos, os numerosos radicais do Partido Republicano trabalham com o dogma tácito de que as eleições de 2020 foram roubadas, e ai de quem discordar. Para muita gente, o aquecimento global é um mito fabricado. Eis o colégio eleitoral do nosso tempo.

Roberto Macedo* - Taxa do PIB em 2024: metade da de 2023?

O Estado de S. Paulo

Seria importante que a classe política, Lula e a sociedade em geral dedicassem à fragilidade do crescimento econômico ao menos a atenção que deram à discussão da reforma tributária

Venho insistindo que desde a década de 1980 o nosso Produto Interno Bruto (PIB) passa por um período de estagnação que meu dicionário define como um em que a economia cresce abaixo do seu potencial. Nas três décadas anteriores à de 1980, o crescimento médio anual foi de 7,2% (1950), 6,1% (1960) e 8,8% (1970) e nas quatro seguintes foi de 3,0% (1980), 1,8% (1990), 3,4% (2000) e 1,9% (2010), conforme dados do Ipeadata. Creio que o leitor concordaria que, com uma boa arrumação da economia, em particular do seu setor público, o PIB poderia crescer bem mais. O Brasil vem crescendo menos que muitos países emergentes.

Insisto nessa visão pois ela é pouco percebida pela classe política e pela sociedade em geral. Sem crescer bem mais, este país do futuro vai continuar sem chegar lá e acumulando este passado de baixo crescimento que continua se repetindo.

Celso Ming - Afinal, qual é o limite do progresso?

O Estado de S. Paulo

Neste aniversário da República, vale tomar como tema do dia o que vai cravado no final da Bandeira Brasileira: Progresso.

Antes de seguir, cabe lembrar que o significado original das principais cores da bandeira vem dos tempos do Império e não se referem nem ao "verde das nossas matas" nem ao "amarelo do nosso ouro", expressões que, na sua criação, nada têm a ver com o sentido da heráldica adotada. O campo verde é o da Casa de Bragança, a do Imperador Pedro I; e o losango amarelo, o da Casa de Habsburgo (Áustria), a da Imperatriz Leopoldina. O globo azul com as estrelas substituiu na República o brasão imperial. O lema “Ordem e Progresso" é de inspiração positivista, de grande influência no pensamento do Brasil da época.

A ideia de progresso é relativamente nova na história da humanidade. Toma forma a partir da Revolução Industrial, no século 18. O pensamento antigo partia do pressuposto de que a trajetória humana era progressivamente declinante. Desde Hesíodo (O trabalho e os dias) e Ovídio (Metamorfoses dos Deuses), a história começa com a idade do ouro que, em seguida, vai se deteriorando em prata, bronze, ferro e daí para pior.

William Waack - Desperdiçando o depois

O Estado de S. Paulo

A postura atual do Brasil no conflito de Gaza limita as opções

A política externa de potências regionais médias com escassa capacidade de projetar poder, como é o caso do Brasil, precisa de sutileza, credibilidade e reputação. No caso do conflito em Gaza, o presidente brasileiro escolheu falar grosso, arruinar a credibilidade e buscar reputação com um dos lados envolvidos.

Israel está sendo criticado com veemência, contundência e palavras duras pronunciadas por países democráticos, que consideram inaceitável a matança de civis na operação militar contra o terrorismo do Hamas. Esses mesmos países, porém, não igualam Israel ao Hamas, como Lula insiste – por mais que denunciem o sofrimento imposto aos civis em Gaza.

Ao desprezar esse tipo de sutileza, Lula perde a credibilidade de uma política externa que pretende defender princípios consagrados. Ela sofre fortemente com relativismos frente ao conceito de democracia, como ocorreu com a Venezuela, ou quando se denuncia como crime de guerra a morte de crianças em Gaza, mas não quando a Rússia as deporta da Ucrânia.

Luiz Carlos Azedo - Conselho aprova pausa na guerra, mas Israel não aceita

Correio Braziliense

A resolução da ONU reflete uma mudança de postura do governo dos Estados Unidos, que se absteve na votação, ao lado da Rússia e do Reino Unido

Imaginem um terremoto na Faixa de Gaza maior do que aquele que ocorreu em fevereiro passado na Síria e na Turquia, quando morreram 7, 2 mil pessoas e 35 mil ficaram feridas. Todos os países da região, inclusive Israel, se mobilizariam para socorrer as vítimas, enviando bombeiros, médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais. Doações de mantimentos e medicamentos, bem como equipamentos hospitalares e de construção civil, seriam providenciados, com a mobilização de organizações humanitárias para fazer com que tudo isso chegasse aos flagelados no menor espaço de tempo possível. Feridos e desabrigados seriam levados para hospitais e abrigos, respectivamente.

As imagens da destruição causada pelos bombardeios de Israel em Gaza são muito piores do que as de um terremoto daquelas proporções, mas nada disso está sendo feito, muito pelo contrário, a destruição continua. Apesar de o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), pela primeira vez, aprovar uma resolução sem vetos sobre a guerra na Faixa de Gaza, que possibilitaria a mobilização humanitária descrita acima, Israel já avisou que não pretende acatar a decisão e continuará os ataques contra o Hamas, como aconteceu no hospital Al Shifa, ocupado desde quarta-feira.

Marcos Augusto Gonçalves - Política criminosa de Netanyahu é derrota moral de Israel

Folha de S. Paulo

Em mundo que muda, país perde apoio e argumentos com supremacismo no poder

É um sinal de que as coisas não andam bem no mundo do sionismo real quando vemos porta-vozes de Israel se desdobrando para tentar explicar a diferença entre o morticínio de crianças e civis provocado pelo Hamas e o morticínio de crianças e civis provocado por Binyamin Netanyahu.

Lembro-me aqui de atrocidades do socialismo soviético, vistas por intelectuais comunistas como efeitos colaterais da luta inarredável contra os inimigos da grande revolução. Eram claros os sinais, então, de que havia algo de podre no reino do socialismo real.

Já escrevi que Israel não é um Hamas às avessas, mas o país e seus aliados precisam querer manter essa diferença. Não borrá-la, no final das contas, a favor do antissemitismo e das desconfianças consideráveis que rondam a criação de um estado judeu na Palestina. A colonização acintosa da Cisjordânia é outro parafuso central dessa engrenagem ideológica que gira em falso.

Bruno Boghossian - Os decibéis de Lula na guerra

Folha de S. Paulo

Retórica da indignação impulsiona condenação da violência, mas mantém Brasil em papel vago

Em um mês, a reação de Lula à guerra no Oriente Médio passou por quatro movimentos distintos. Nos primeiros dias, as manifestações condenaram os atentados do Hamas, seguindo a cautela histórica do Itamaraty. Depois, o presidente investiu em missões de repatriação e se desviou de ciladas ideológicas iniciais. Na sequência, usou o palco da ONU para emitir as primeiras censuras aos ataques de Israel.

Agora, Lula soltou algumas amarras. Disse que o conflito havia se tornado "um genocídio", responsabilizou as forças militares israelenses pela morte de crianças e afirmou que a conduta de Israel "é uma atitude igual ao terrorismo" do Hamas.

Maria Hermínia Tavares - A excelência cria deveres

Folha de S. Paulo

A Reforma Tributária pode colocar entre parênteses o arranjo vencedor que destaca USP, Unicamp, Unesp e Fapesp

Neste ano, USP e Unicamp ocupam o topo do Ranking Universitário feito por esta Folha. A Unesp, também paulista, ocupa um honroso 6º lugar entre 203 instituições.

O reconhecimento deve-se ao esforço coletivo dos milhares que dão vida às suas faculdades e aos seus institutos, laboratórios, centros especializados, núcleos de pesquisa, observatórios, hospitais, museus e bibliotecas. Mas, além da atuação dos seus integrantes, a força das universidades paulistas vem do fato de estarem no centro de um ecossistema de produção de conhecimentos e formação de quadros, nutrido por uma poderosa agência de financiamento —a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)— e entrelaçado a institutos públicos e privados de pesquisa; a departamentos similares em empresas; a grandes estruturas estatais, como o SUS e a rede pública de educação; a importantes instituições de cultura.

Ruy Castro - Protegendo os governados

Folha de S. Paulo

Governador considerado um dos mais ineptos do país proíbe nas escolas livros de autores consagrados

Graças a Deus, fui educado por Drácula, Frankenstein, Jack, o Estripador, a Múmia, o Lobisomem, o Médico e o Monstro, Fu Manchu e estrelas que tais da alta literatura. Li-os por volta dos 10 ou 11 anos, nos livros de bolso da editora Tecnoprint, as famosas Edições de Ouro, com texto integral e tradução competente. Eram vendidos em displays verticais em bancas de jornal e pontos de ônibus, ao alcance da mesada de qualquer criança. Não me consta que alguma delas tenha cravado os caninos na mãe ou aberto seu cachorro à faca para lhe perscrutar as tripas. Não éramos idiotas, sabíamos o que estávamos lendo. Mil anos depois, ainda conservo aquelas edições originais.

Thiago Amparo - O calor tem cor e tem classe

Folha de S. Paulo

O clima quente ao extremo expõe as injustiças climáticas, como racismo e aporofobia

Está calor? Sim. Para todo mundo de forma igual? Não. Quantos aparelhos de ar-condicionado ou umidificador de ar você tem em casa? Em SP, apenas 210 das 5.600 escolas da rede estadual possuem sistema de refrigeração (3,7%), segundo dados oficiais; em 12 escolas em Guarulhos as paredes e telhas são de chapa de aço, superaquecidas. Você trabalha ao ar livre sob o sol ou em lugares fechados sem proteção ao calor? Você tem descanso remunerado ou possui flexibilidade de horário?

Você utiliza um transporte de qualidade, confortável e refrigerado todos os dias? Na capital paulista a média de deslocamento pela cidade é de 2h26min; em 2023, a percepção de que os ônibus estão mais cheios chegou a 27%, maior índice registrado em cinco anos pela pesquisa da Rede Nossa São Paulo. Ilhas de calor em SP, agravadas pela poluição automobilística e pela distribuição desigual de mobilidade urbana impactam mais pessoas periféricas, revelou nesta semana estudo do Instituto Peregum.

Poesia | Soneto XXXV | Um Poema de William Shakespeare

 

Música | Francis Hime - "Parceiros" | 50 anos de música