sábado, 9 de setembro de 2017

Opinião do dia – Jürgen Habermas

Eleições e referendos devem não só reproduzir um espectro de preferências existentes, mas também juízos sobre os programas e sobre as pessoas que se encontram em eleições. Eles não podem expressar irrefletidamente a vontade da população, pois têm também um sentido cognitivo. O governo precisa elaborar problemas urgentes com base nessas decisões sobre diretrizes.

Em uma democracia, eleições políticas não satisfazem sua determinação sistêmica se meramente registram a distribuição de preferências e de prejuízos. Os votos eleitorais alcançam o peso institucional de decisões civis de um colegislador somente porque procedem de um processo público de formação da opinião e da vontade, no que esse processo é controlado pelos prós e contras públicos de opiniões, argumentos e tomadas de posição livremente flutuantes. As opiniões dos cidadãos devem primeiramente se constituir a partir da maré dissonante das contribuições, à luz de uma troca de opiniões publicamente articulada.

De maneira ideal, a política deliberativa se enraíza em uma sociedade civil que faz um uso anarquista de suas liberdades comunicativas. Mas, em nossas esferas públicas espaçosas, produzidas primeiramente pela rede comunicativa de mídias de massas, carece-se não só de informações e impulsos da parte de uma imprensa espontânea e independente, mas, em primeira linha, da iniciativa do esclarecimento e da capacidade de organização dos partidos políticos.

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Jürgen Habermas (1929, é um filósofo e sociólogo alemão, “Na esteira da tecnocracia: pequenos escritos políticos Xll”, pp.172-3. Editora Unesp, 2014.

Janot pede prisão de Joesley, Ricardo Saud e de ex-procurado

Janot pede prisão de Joesley, Saud e ex-procurador Miller

Procurador-geral da República encaminhou a decisão ao ministro do Supremo Edson Fachin no fim da noite desta sexta-feira, 8; os três negam irregularidades

Beatriz Bulla | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou nesta sexta-feira, 8, ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de prisão do empresário Joesley Batista, um dos donos do Grupo J&F, segundo apurou o Estado. O pedido ainda precisa ser analisado pelo ministro Edson Fachin, relator do caso na Corte.

Além de Joesley, o procurador-geral pediu que o Supremo autorize a prisão de Ricardo Saud, diretor do J&F, e do ex-procurador Marcello Miller.

Os pedidos foram motivados pelo conteúdo de uma gravação entregue pela própria defesa do Grupo J&F, na qual Saud e Joesley falam sobre a suposta interferência de Miller para ajudar nas tratativas de delação premiada. O ex-procurador ainda fazia parte do Ministério Público quando começou a conversar com os executivos, no fim de fevereiro. Ele pediu a saída da instituição em fevereiro e foi exonerado, de fato, apenas em abril.

Na segunda-feira, Janot abriu um procedimento de revisão do acordo de delação dos executivos. Ele pediu a revogação do benefício de imunidade penal concedido aos delatores. Segundo interlocutores, Janot ficou irritado com a gravação que demonstrou que Joesley e Saud omitiram informações ao fazer acordo com as autoridades.

Fachin leva a plenário pedido de Temer para barrar denúncia

Fachin manda ao Pleno do Supremo pedido de Temer contra nova flechada de Janot

Ministro relator da Lava Jato e do caso JBS na Corte máxima submete ao colegiado recurso da defesa do presidente para 'sustação de qualquer nova medida' do procurador-geral da República contra o peemedebista

Beatriz Bulla e Breno Pires, de Brasília, e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo

O ministro relator da Operação Lava jato, Luiz Edson Fachin, remeteu, nesta sexta-feira, 8, o pedido de ‘sustação de qualquer nova medida’ de Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer, movido pela defesa do peemedebista, ao Pleno do Supremo Tribunal Federal.

“Nada obstante, é possível, sem adiantar qualquer apreciação sobre o mérito, colher do pleito defensivo questão preliminar inédita e com repercussão geral relevante, apta a indicar seja conveniente e oportuno definição colegiada, como “questão de ordem” ao conhecimento e à discussão do Pleno”, anotou Fachin.

Na petição, os advogados do peemedebista insistem na suspeição do procurador-geral da República. Voltam-se contra Janot que, recentemente, questionado sobre seus últimos dias de mandato disse ‘enquanto houver bambu, lá vai flecha’.

Janot pede prisão de Joesley e de ex-procurador

Miller teria ajudado na delação do executivo da JBS quando estava no cargo

Decisão será do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF; envolvidos negam suspeitas

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Joesley Batista, dono da JBS, do executivo da empresa Ricardo Saud e do ex-procurador Marcello Miller. Uma conversa entre Joesley e Saud indica que Miller teria auxiliado na delação da JBS enquanto ainda estava na Procuradoria, o que integrantes do gabinete de Janot chamaram de “jogo duplo”. A decisão sobre a prisão caberá ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. Joesley e Saud disseram que era uma “conversa de bêbados”. Eles e Miller negam irregularidades.

PGR pede prisão de Joesley, Saud e de ex-procurador que auxiliou a JBS

Para equipe de Janot, Miller fez ‘jogo duplo’ nas negociações da delação

Jailton de Carvalho | O Globo

-BRASÍLIA- A Procuradoria-Geral da República pediu ontem a prisão preventiva do empresário Joesley Batista, dono da JBS, do executivo da empresa Ricardo Saud e do ex-procurador da Marcello Miller.

Ex-procurador depõe sobre o caso por mais de 7 horas

Antes, Marcello Miller já havia negado ilegalidades na sua atuação

Marco Grillo | O Globo

O ex-procurador Marcello Miller depôs por mais de sete horas ontem na sede da Procuradoria Regional da República da 2ª Região, no Centro do Rio, no procedimento interno do Ministério Público Federal (MPF) que apura se houve fraude no acordo de delação premiada da JBS.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, abriu o procedimento após um áudio entre Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud indicar que Miller poderia ter atuado de maneira ilícita na negociação do acordo. Em nota, o ex-procurador já negou as acusações.

Dois procuradores tomaram seu depoimento: um procurador regional da República, que atua na segunda instância da Justiça Federal, e um procurador da primeira instância.

PGR denuncia cúpula do PMDB no Senado

O procurador Rodrigo Janot denunciou ao STF a cúpula do PMDB no Senado. Renan Calheiros, Romero Jucá, Edison Lobão, Jader Barbalho, Valdir Raupp, José Sarney e Sérgio Machado são suspeitos de integrar organização criminosa.

A vez do PMDB do Senado

Janot denuncia Jucá, Renan, Sarney, Lobão, Jader, Raupp e Sérgio Machado

Carolina Brígido | O Globo

-BRASÍLIA- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra a cúpula do PMDB no Senado por participação em organização criminosa. Essa é a terceira das quatro denúncias esperadas no inquérito denominado de “quadrilhão” — já haviam sido feitas as que se referem a PT e a PP, e agora falta só a que trata do PMDB da Câmara, que ainda pode atingir o presidente Michel Temer.

São alvo da nova denúncia os senadores Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA), Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), além dos ex-senadores José Sarney e Sérgio Machado. O grupo teria recebido propina de R$ 864 milhões, além de ter provocado prejuízo de R$ 5,5 bilhões à Petrobras e de R$ 113 milhões à Transpetro.

Segundo a PGR, desde 2004 até os dias atuais, os políticos, “com vontade livre e consciência, de forma estável, profissionalizada, preordenada, com estrutura definida e repartição de tarefas, integram o núcleo político de organização criminosa estruturada, para desviar em proveito próprio e alheio recursos públicos e obter vantagens indevidas, sobretudo no âmbito da administração pública federal e do Senado”.

Janot alertou para o fato de que “a organização criminosa vigora até os dias de hoje”. De acordo com o procurador-geral, mesmo depois de ter sido deflagrada a Operação Lava-Jato, em 2014, “ante a forte atuação parlamentar e responsabilidade por outras indicações políticas, as quais ainda perduram, a organização criminosa permaneceu praticando crimes nos anos de 2015, 2016 e 2017”.

Para a Procuradoria-Geral da República, há indícios de que o grupo controlava nomeações da diretoria de Abastecimento e da diretoria Internacional da Petrobras, bem como cargos da Transpetro. Em troca, os políticos recebiam propina dos diretores escolhidos para os postos.

Além da condenação do grupo à prisão, Janot também pede o pagamento de danos financeiros ao poder público no valor de R$ 100 milhões e de danos morais no mesmo valor. Também quer perda de função pública para os condenados que ocuparem cargo ou emprego público.

Desde a semana passada, Janot denunciou ao STF políticos do PP e do PT por integrar organizações criminosas. Até o fim do mandato, na próxima sexta-feira, Janot deve apresentar denúncia pelo mesmo crime contra políticos do PMDB da Câmara dos Deputados. O presidente Temer está sujeito a ser denunciado nesse último caso, a depender da avaliação de Janot.

ESQUEMA COMEÇOU NO GOVERNO LULA
Segundo a denúncia, os partidos começaram a se organizar para desfalcar os cofres públicos em 2003, no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Em comum, os integrantes do PT, do PMDB e do PP queriam arrecadar recursos ilícitos para financiar seus projetos próprios. Assim, decidiram se juntar e dividir os cargos públicos mais relevantes, de forma que todos pudessem de alguma maneira ter asseguradas fontes de vantagens indevidas”, escreveu Janot.

Janot pede prisão de Joesley e ex-procurador

Leandro Colon, Bela Megale | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta sexta (8) um pedido de prisão dos delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud e também do ex-procurador Marcello Miller, segundo a Folhaapurou.

A solicitação de Janot ainda vai ser analisada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na corte e o responsável pela homologação do acordo de delação dos executivos do grupo.

O pedido de prisão foi feito após a Procuradoria-Geral da República ouvi-los nos dois últimos dias sobre a gravação em que Joesley e Saud indicam possível atuação de Miller no acordo de delação quando ainda era procurador - ele deixou o cargo oficialmente em 5 de abril.

Para a equipe de Janot, houve patente descumprimento de dois pontos de uma cláusula do acordo de delação que tratam de omissão de má-fé, o que justificaria rever os benefícios.

O pedido de Janot está sob sigilo. Não há previsão ainda sobre quando Fachin vai despachá-lo.

Janot denuncia cúpula do PMDB no Senado sob acusação de organização criminosa

Angela Boldrini, Talita Fernandes e Bela Megale | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou sob acusação de organização criminosa políticos do PMDB, entre eles a cúpula do partido no Senado: Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR), Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA) e Valdir Raupp (RO).

Além deles, foram acusados o ex-senador José Sarney (AP) e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Em nota, a PGR informa que eles foram denunciados sob acusação de "receberem propina de R$ 864 milhões e gerarem prejuízo de R$ 5,5 bilhões aos cofres da Petrobras e de R$ 113 milhões aos da Transpetro".

Segundo a denúncia, além dos políticos "ora denunciados, o núcleo da organização era composto também por outros integrantes do PMDB, do Partido Progressista (PP) e do Partido dos Trabalhadores (PT)".

"A organização criminosa denunciada foi inicialmente constituída e estruturada em 2002, por ocasião da eleição de Lula à Presidência da República. Iniciado o seu governo, em 2003, Lula buscou compor uma base aliada mais robusta", afirma a Procuradoria.

Segundo o órgão, "as ações ilícitas voltaram-se inicialmente para a arrecadação de recursos da Petrobras por meio de contratos firmados no âmbito da Diretoria de Abastecimento e da Diretoria Internacional, assim como da Transpetro".

De acordo com a PGR, os políticos denunciados atuam desde ao menos meados de 2004 em atividades ilícitas e afirma que os prejuízos causados foram de pelo menos R$5,5 bilhões aos cofres da Petrobras e R$113 milhões aos da Transpetro, "em razão da manutenção do cartel formado pelo direcionamento dos contratos (...) para determinadas empresas".

Como contrapartida, as beneficiadas teriam pagado R$ 864,5 milhões em propina aos denunciados. Calheiros, Jucá, Lobão e Raupp teriam passado a receber vantagens indevidas dos contratos da Diretoria de Abastecimento da Petrobras a partir de 2006, quando apoiaram a permanência do então diretor, Paulo Roberto Costa, que depois se tornou o primeiro delator da Lava Jato.

Operador de Lula | João Domingos

- O Estado de S.Paulo

No depoimento, Palocci tentou passar a Moro mensagem de que cumpria tarefas

O depoimento do ex-ministro Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro arruinou o PT. Muito mais do que os petistas admitem. Não só porque teve Lula como alvo principal, e a presidente cassada Dilma Rousseff como alvo secundário. Mas também porque ofereceu informações que podem servir para o juízo de culpabilidade do ex-presidente quando o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) julgar o recurso de Lula contra a pena de nove anos e seis meses a que foi condenado pelo juiz Sérgio Moro no caso do triplex do Guarujá. Confirmada a pena, Lula vira ficha-suja e fica impedido de concorrer à Presidência da República no ano que vem.

Por causa do depoimento, que alguns mais íntimos de Palocci dizem se tratar também de um desabafo, o ex-ministro pode ter mudado o curso das eleições presidenciais do ano que vem. Tanto na parte jurídica, por comprometer Lula com o esquema de corrupção na Petrobrás e revelar relações promíscuas com empreiteiras, quanto na política, porque o que ele disse aparecerá na campanha caso o ex-presidente passe ileso pelo TRF. Logo Palocci, que foi um dos principais responsáveis pela vitória de Lula em 2002, ao defender a “Carta aos Brasileiros”, na qual o PT se comprometeu a não se meter em aventuras econômicas.

Todos no mesmo saco | Merval Pereira

- O Globo

Temer está seguro sobre JBS, mas em perigo com denúncias contra PMDB. A situação patológica da política brasileira faz com que o presidente Michel Temer sinta-se seguro em relação à confusão instalada sobre os áudios de sua conversa com Joesley Batista e, ao mesmo tempo, esteja em perigo com as denúncias do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra a cúpula do PMDB, classificada como “organização criminosa”.

À denúncia contra a cúpula do Senado feita ontem se seguirá a contra a da Câmara, em que estão envolvidos o próprio Temer e seus principais assessores, sejam os que já estão presos, como Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha, sejam os ainda exercendo cargos no governo, até mesmo ministeriais, como Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Ontem o presidente ganhou tempo com a decisão do ministro Luiz Edson Fachin, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), de levar ao plenário o pedido de sua defesa de suspender uma provável segunda denúncia contra Temer até que as investigações sobre a delação premiada dos donos da J&F terminem.

O segundo passo será pedir que o Supremo anule todas as provas baseadas na gravação feita por Joesley no Palácio do Jaburu. Com isso, o governo pretende inviabilizar uma segunda denúncia, que seria baseada na delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, que já foi homologada. Funaro, que era o operador clandestino do PMDB, confirmou que recebia dinheiro de Joesley Batista para ficar calado sobre os crimes do PMDB, fato que foi relatado ao presidente Temer pelo próprio Joesley na fatídica noite do Jaburu e recebeu seu apoio com a frase emblemática “tem que manter isso, viu?”.

Problemas reais Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Estou curioso para ler "Só Mais um Esforço", livro que meu colega colunista Vladimir Safatle lança este mês, mas do qual a "Ilustríssima" já antecipou trechos.

Dentre as muitas ideias que o autor apresentou nessa prévia, destaco uma que gostaria de explorar melhor. Safatle faz uma crítica da tecnocracia que, segundo ele, procura transmutar "uma guerra civil contra setores pauperizados" num discurso de racionalidade econômica, no qual medidas como a reforma da Previdência são descritas como "remédio amargo, porém necessário". Para o autor, a tecnocracia tenta pintar os que criticam sua lógica "como uma criança que crê na onipotência do pensamento, incapaz de lidar com o princípio de realidade que ensina que só posso gastar o que ganho".

O que ainda causa espanto? | Zuenir Ventura

- O Globo

Depoimento de Palocci produziu um estrago definitivo na imagem que é oferecida aos eleitores, a de um partido impoluto e um líder incorruptível

Palocci fez estrago definitivo em Lula e no PT. Foi uma semana para desafiar quem achava que já vira de tudo, e para confirmar a tese de que no Brasil não houve surrealismo nem realismo fantástico como movimentos literários porque eles existem na vida real. Apenas alguns exemplos. Teve o inacreditável vídeo dos R$ 51 milhões contados por máquinas como numa cena na Casa da Moeda. O dinheiro continha as impressões digitais de Geddel Vieira, aquele que há dois anos se indignava na televisão: “Chega. Ninguém aguenta mais. Isso já deixou de ser corrupção, é roubo”. O candidato ao Prêmio Cara de Pau tinha razão. Como classificou um procurador, ele é “um criminoso em série”.

Sob o encanto da política | Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

A substituição de Janot por Raquel Dodge não resolve o dilema da politização do Ministério Público

No ápice da crise provocada pela gravação da conversa entre Joesley Batista e Temer, a Folha noticiou que, bem antes do fatídico encontro, o advogado dos irmãos Batista recebera "aulas de delação" ministradas por um agente da PF e um procurador da República. Precisamente naquele período, o procurador Marcello Miller, lugar-tenente de Janot, preparava sua saída do Ministério Público negociando emprego num escritório de advocacia contratado pela JBS. Os novos áudios, entregues por um Joesley acuado, "com conteúdo gravíssimo" (Janot), podem evidenciar um nexo entre as duas informações. De qualquer forma, sua mera existência como novidade prova que há algo infectado no reino do Ministério Público.

Janot desmentira, peremptoriamente, em 20 de maio, os rumores sobre a participação de Miller nas tratativas do MPF com os irmãos Batista que culminaram com o acordo de delação. Agora, entre constrangido e indignado, o procurador-geral finalmente anuncia uma investigação do episódio, admitindo a possibilidade de que tenha sido ludibriado desde o início. De lá para cá, tudo mudou –menos a linguagem de Janot, perpassada de tons condoreiros, salpicada pela fúria santa dos justos. O rei ainda não está nu, mas já desfila de cueca em praça pública.

Viagem cara | Adriana Fernandes

- O Estado de S.Paulo

Ajuda às Santas Casas cria um custo adicional de cerca de R$ 10 bilhões no Orçamento

Algumas viagens são muito caras. A ida do presidente à China trouxe um custo considerável para o governo federal. A ponto de a área econômica possivelmente querer pedir de joelhos a Michel Temer não mais viajar até o fim do seu mandato.

No cargo de presidente em exercício, o presidente da Câmara Rodrigo Maia não só deixou de assinar as legislações que garantiriam o envio de uma proposta de orçamento de 2018 crível ao Congresso, como também forçou a assinatura do Plano de Recuperação Fiscal do Estado do Rio, que ainda não estava pronto.

Como grand finale, Maia aprovou a criação de uma linha de empréstimos subsidiados para as Santas Casas (entidades filantrópicas), que vai trazer um custo adicional para o Orçamento da União de R$ 10 bilhões.

Recuperação gradual | Míriam Leitão

- O Globo

O setor de petróleo ainda vai esperar a superação da crise política antes de recuperar o nível de investimentos no Brasil. É o que mostra pesquisa da Accenture Strategy em parceria com a FGV Energia. No curto prazo, a agenda ainda é de austeridade, mas a partir de 2019 a expectativa é de retorno gradual dos projetos. Para 2026, no melhor cenário, os investimentos podem chegar a US$ 50 bilhões, contra US$ 16 bi de 2016.

O Brasil perdeu o melhor momento do setor para investir. Quando os preços estavam acima de US$ 100, o país ficou discutindo a mudança no marco regulatório, no final do governo Lula e início do governo Dilma. Foram cinco anos sem rodadas de licitação, e o bilhete premiado do pré-sal se transformou em uma conta bilionária de desvios revelados pela Operação Lava-Jato. Nesse período, outros campos de petróleo foram descobertos pelo mundo, e os Estados Unidos começaram a produzir fortemente o petróleo por exploração não convencional (shale gas). Hoje, os preços estão rodando a casa de US$ 50, e as petrolíferas estão mais seletivas na hora de investir.

O impacto da interferência política no setor de petróleo fica evidente quando se olha para os investimentos. Em 2013, eles chegaram a US$ 33 bilhões, mas despencaram para US$ 16 bi no ano passado. A estimativa da Accenture e da FGV Energia é que esse número só começará a subir de forma mais consistente no próximo governo.

Estúpido carisma | Dora Kramer

- Veja

Tudo de que o Brasil menos precisa é mais um populista

Apesar do imenso pesar que governantes populistas causaram ao país na figura de carismáticos presidentes e/ou governadores ao longo do século passado e início deste agora XXI, a praga ainda nos ronda, ameaçando nova ofensiva na próxima eleição presidencial. Conspira para isso o ambiente de desgosto geral, terreno fértil para a ideia de que um herói há de surgir a fim de quebrar o que parece ser um feitiço malsão lançado sobre um Brasil de mandatos interrompidos (por morte morrida ou por morte matada) e corrupção endêmica.

O populismo de Getúlio Vargas sustentou uma ditadura; o de Jânio Quadros abriu espaço para outra; o de Leonel Brizola marcou os primórdios dos territórios controlados pelo crime no Rio; o de Fernando Collor deu ensejo ao primeiro impeachment da República; o de Lula fez da corrupção política de Estado, plantou a semente da desconstrução dos pilares da estabilidade econômica, levou ao poder a primeira mulher presidente, que seria também protagonista do segundo impedimento e jogou o país numa crise de desfecho imprevisível.

O mesmo erro duas vezes – Editorial | O Estado de S. Paulo

O papel do Ministério Público deve ser exatamente o oposto ao que vem sendo exercido por Rodrigo Janot

Longe de ser uma retificação, a declaração do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na segunda-feira, incorreu no mesmo erro cometido em maio de 2017, quando o País soube do acordo de colaboração premiada com Joesley Batista. Na ocasião, foi divulgado que havia, na gravação da conversa entre Joesley e o presidente Michel Temer, prova inequívoca da anuência do presidente à suposta compra do silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro. Um dia depois, quando se tornou pública a íntegra do áudio gravado no Palácio do Jaburu, constatou-se a inexistência da alegada anuência presidencial. Era simplesmente a velha calúnia, o ato de imputar falsamente fato definido como crime a uma pessoa.

Exatamente como ocorreu com o chefe do Poder Executivo em maio, agora foi a vez de o Supremo Tribunal Federal (STF) ser injustamente envolvido em supostos crimes. Na tarde da segunda-feira passada, o sr. Rodrigo Janot convocou a imprensa para dizer que a Procuradoria-Geral da República (PGR) havia recebido no dia 31 de agosto uma gravação com conteúdo gravíssimo, que poderia levar à rescisão do acordo de delação premiada com os executivos da JBS. “Áudios com conteúdo grave, eu diria, gravíssimo, foram obtidos pelo Ministério Público Federal (MPF) na semana passada, precisamente quinta-feira, às 19 horas. A análise de tal gravação revelou diálogo entre dois colaboradores com referências indevidas à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal”, disse Rodrigo Janot.

Rumo a uma reforma política possível – Editorial | O Globo

Emenda que acaba com coligações e cria cláusula de barreira, aprovada no primeiro de dois turnos na Câmara, não é a ideal, mas aperfeiçoa o quadro de hoje

Não é a primeira vez que reformas políticas amplas, com muitos itens, não prosperam. É provável que os múltiplos interesses em jogo, em um Congresso com quase três dezenas de legendas, expliquem as dificuldades — que podem ser positivas, por evitar mudanças indesejadas. Pelo menos tem sido assim nesta tentativa de reforma.

Antes do feriadão de 7 de setembro, a Câmara conseguiu aprovar, no primeiro dos dois turnos exigidos, a emenda constitucional que acaba com as coligações em pleitos proporcionais e estabelece uma cláusula de desempenho para os partidos terem representação nas Casas Legislativas e usufruírem de prerrogativas (tempo na propaganda dita gratuita, acesso ao Fundo Partidário etc.)

Digitais no tesouro – Editorial | Folha de S. Paulo

luz branca da sacada, sobre o ladrilho de um apartamento vazio, as várias malas de dinheiro encontradas pela Polícia Federal na Operação Tesouro Perdido oferecem uma imagem que, reproduzida à exaustão, quase dispensa comentários.

Ela tem o poder do fato bruto, da evidência opulenta. Mesmo o nome da operação policial parece incapaz de expressar a contento o que se vê. A visualização consagrada na literatura de um tesouro não se conforma às prosaicas embalagens de papelão e às malas corriqueiras flagradas na fotografia.

E não parecia tão perdida assim aquela soma, jogada num imóvel bem ventilado, cujo acesso é sujeito a vigilância eletrônica.

Entre outros elementos, a presença de impressões digitais do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) no apartamento contribuiu para determinar, na madrugada desta sexta-feira (8), que a Justiça decretasse sua transferência para o presídio da Papuda (DF).

O Universo não é uma Idéia Minha… | Fernando Pessoa

O universo não é uma idéia minha.
A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.

Marisa Monte - Carinhoso