quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Merval Pereira - Versões e fatos

O Globo

Anderson Torres é cínico ou incompetente. A investigações mostram que ele é mentiroso

A prisão do ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques por tentativa de sabotar a ida de eleitores do Nordeste para votar, a fim de prejudicar Lula, vem no dia seguinte ao depoimento cínico do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que, de tornozeleira, garantiu não ter tramado o bloqueio de estradas no dia do segundo turno da eleição presidencial.

Quem ouviu o depoimento de Torres, se não o considerar cínico, poderia classificá-lo de incompetente. As investigações estão mostrando que é simplesmente um mentiroso. Disse que viajou às vésperas da rebelião do dia 8 de janeiro sem ter a mínima noção de que caravanas de bolsonaristas se dirigiam a Brasília para uma grande manifestação. Apesar de ter sido nomeado secretário de Segurança do Distrito Federal dias antes e de ter recebido relatórios sobre a possível gravidade da situação.

Tanto que disse ter aprovado um plano de segurança que considerou exagerado, mas ter aceitado a sugestão dos subordinados. Dias antes, havia sido desbaratada uma tentativa de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília, indicando que os inconformados com a vitória de Lula se mobilizavam.

Luiz Carlos Azedo - Tempo fechado para os bolsonaristas envolvidos no 8 de janeiro

Correio Braziliense

As investigações comprovam ações do ex-diretor da PRF Silvinei Vasques com o objetivo de impedir que eleitores do Nordeste comparecessem às urnas nas eleições passadas

A prisão do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviário Federal (PRF) Silvinei Marques por ordem do ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, representa um novo patamar das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mais dois auxiliares muito próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro também estão em apuros: o tenente-coronel Mauro Cid, ainda preso num quartel do Exército, e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em restrição de liberdade (usa tornozeleira eletrônica e não pode sair de casa das 20h às 8h).

As investigações comprovam ações do ex-diretor da PRF com o objetivo de impedir que eleitores do Nordeste comparecessem às urnas nas eleições passadas. Essas ações foram planejadas, supervisionadas diretamente por Silvinei. Têm muita semelhança com táticas utilizadas pela extrema direita nas eleições da Flórida e podem revelar conexões internacionais da extrema direita brasileira.

Malu Gaspar - O dilema amazônico de Lula

O Globo

Um dos propósitos do encontro dos oito países que compartilham a Floresta Amazônica nesta semana em Belém, a convite do governo brasileiro, era demonstrar a força e a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva sobre os países da região, como parte de seu esforço para se tornar referência mundial em questões ambientais. Tal ambição gerou entre os ambientalistas grande expectativa de que a declaração final do evento trouxesse a promessa de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 ou, ao menos, estratégias para chegar lá.

Aos poucos, ficou claro que não havia consenso em torno do compromisso. Ainda assim, celebrava-se o fato de os países da Amazônia se reunirem depois de um hiato de 13 anos, reafirmando a disposição de preservar a floresta. Confiava-se, ainda, na força de uma cobrança conjunta aos países desenvolvidos, alguns dos quais campeões de poluição, para cumprirem suas próprias metas de financiamento a iniciativas sustentáveis das nações em desenvolvimento.

Míriam Leitão - Sangue no asfalto e a rotina do absurdo

O Globo

As chacinas no Rio, em São Paulo e na Bahia são mais uma mostra dramática de como o país tem errado na segurança pública

O sangue escorre do camburão. É Rio de Janeiro, na semana passada. Poderia ser na Bahia ou em São Paulo. Nas três chacinas em cada um desses estados, na última semana, a polícia matou 51 pessoas. Há 30 anos, o Rio assistia a duas chacinas quase simultâneas, a da Candelária e a de Vigário Geral. Em 92, houve Carandiru, em 95, Corumbiara, em 96, Eldorado dos Carajás. Não são casos isolados, nos últimos doze meses, segundo dados do Fogo Cruzado, houve 37 chacinas policiais no Rio e 29 na Bahia com, ao todo, 262 mortos.

A foto de Eduardo Anizelli, publicada na Folha de S.Paulo, em 4 de agosto, deveria parar o Brasil. O blindado da PM pingando sangue revela o quanto o país tem errado na segurança pública. O hoje desembargador José Muiños Piñeiro atuou como promotor nas chacinas da Candelária e de Vigário Geral e explica uma diferença.

—Corumbiara, Eldorado dos Carajás e Carandiru foram operações oficiais, a imprensa estava presente, havia a identificação dos policiais envolvidos. No caso das duas chacinas no Rio há 30 anos, os chacinadores eram policiais militares e alguns policiais civis, marginais e agentes da lei, que agiram clandestinamente. A foto no GLOBO dos 21 caixões era dantesca, humilhante — lembra Muiños.

Maria Hermínia Tavares * - Estamos condenados à barbárie?

Folha de S. Paulo

Em 2022, a violência tirou a vida de cerca de 48 mil brasileiros

Entre o final de julho e o começo de agosto, somaram 45 os mortos em operações policiais contra o tráfico de drogas na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Do total, uma vítima era agente da lei. A tragédia escancara a brutalidade em que estamos imersos.

Em 2019, segundo o Observatório Global da Organização Mundial da Saúde, só dez países tinham taxas de homicídio maiores do que o Brasil. Formávamos um time da pesada com países a que não costumamos nos comparar: África do Sul, Lesoto e oito vizinhos latino-americanos ­—El Salvador, Honduras, Colômbia e Venezuela, além de quatro nações caribenhas.

Bruno Boghossian - O verde possível de Lula

Folha de S. Paulo

Limites que presidente desenha vão balizar decisões e conflitos inevitáveis sobre o tema

A sabotagem ambiental de Jair Bolsonaro deu a Lula uma vantagem e uma desvantagem. Bastou restabelecer padrões de preservação para entregar resultados e tirar o país da classe de pária. Por outro lado, o contraste criou sobre o governo uma pressão por metas ambiciosas que não estão na agenda do presidente.

A Cúpula da Amazônia teve um certo gosto de frustração para grupos que defendem a adoção de obrigações ambientais rigorosas pelos países da região. O documento final do encontro deixou de fora uma proposta de corte acelerado na exploração de petróleo e amenizou um compromisso de desmatamento zero.

Ruy Castro - Bolsonaro, finalmente, ex

Folha de S. Paulo

Do Pix ao Drex, só não se lhe poderá perguntar as horas. Ele botou à venda seu Rolex

Justamente agora, que aposentei meu talão de cheques e comecei a me habituar ao Pix, os cérebros das finanças vêm aí com o Drex. É uma nova moeda digital, prima do Pix e com a mesma tecnologia das criptomoedas, só que, ao contrário destas, à prova de hackers e apta à transferência de gigantescas quantias sem o controle do Banco Central. Pelo que li, o Drex já está circulando em fase experimental desde março, o que significa que foi concebido no ano passado, quando Bolsonaro ainda tinha certeza de vitória nas eleições, eternização no poder e impunidade perpétua.

Maria Cristina Fernandes - Se Minas quebrar, é o Brasil todo que paga

Valor Econômico

Minas Gerais e Rio Grande do Sul têm a pior nota na classificação dos Estados a partir de sua capacidade de pagamento feita pelo Tesouro Nacional

O Tesouro Nacional mantém uma classificação dos Estados a partir de sua capacidade de pagamento. É parecida com aquela que as agências internacionais de risco fazem sobre os países para orientar investidores. Até no uso de letras para classificar se parecem. Apenas dois Estados, pelo último dado, de novembro de 2022, obtiveram a letra D, mais baixa das notas: Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Que o rebanho bovino de Minas, pela importância para a economia e para a culinária nacional, seja deixado em paz nesta contenda em que o governador do Estado se meteu. O que importa é que Minas não caminhe para um calote porque quando isso acontece, e não seria a primeira vez, é o país inteiro que paga.

De acordo com este índice de capacidade de pagamento, o Capag, apenas sete Estados têm a melhor nota, A: quatro estão no Norte e Nordeste (PB, PA, RO e RR), um no Sudeste (ES) e dois no Centro-Oeste (MT e MS). Dos 13 Estados com B, nove estão no Norte/Nordeste (AL, BA, CE, PE, PI, SE, AC, AM e TO), três no Sul e Sudeste (PR, SC e DF). A nota C está restrita a três Estados do Norte e Nordeste (MA, RN, AP) e um do Sudeste (RJ).

Assis Moreira - Brics: o G-77 do B?

Valor Econômico

Brasil vincula ampliação a Conselho de Segurança da ONU e entrada no banco do Brics

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva surpreendeu no começo do mês ao apoiar a expansão do Brics, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, atropelando o que a diplomacia brasileira vinha defendendo até agora.

O tema está no centro da agenda da cúpula dos líderes do Brics marcada para 22 e 24 deste mês em Joanesburgo (África do Sul). O Brasil se colocava contra a ampliação do número de países, para preservar o peso global e regional próprio dos sócios atuais. Além disso, a expansão tende a distorcer e dar outra dinâmica à agenda do grupo, inclusive sobre temas regionais que tornará uma convergência de interesses ainda mais difícil.

Jorge Arbache* - Investir na América Latina. Será?

Valor Econômico

AL e Caribe estão mais bem posicionados para apoiar o planeta na missão de evitar uma catástrofe ambiental

A mais importante fonte de atividade econômica das próximas décadas será a economia do baixo carbono. Afinal, teremos que praticamente reinventar em bases verdes quase tudo o que produzimos e consumimos e o como consumimos. Esta espetacular transformação resulta da necessidade e não de opção, mas estamos demasiado atrasados e corremos contra o relógio para evitar uma catástrofe ambiental.

Em curto prazo, teremos que encontrar os meios para acelerar a transição para essa nova geração de produtos e serviços verdes, o que vai requerer condições de produção distintas das que temos hoje. Para isto, serão necessários muita energia verde, muita água e muitos minerais da economia do baixo carbono.

William Waack - Muito falatório

O Estado de S. Paulo

Na diplomacia brasileira para o meio ambiente falta estratégia

O Brasil encontra dificuldades na sua “diplomacia ambiental”, descrita por Lula como “passaporte para uma nova relação com o mundo”. Além de ajudar a escapar do “lugar subalterno de fornecedores de matéria-prima historicamente a nós reservado”.

As dificuldades começam em casa. Ficaram claras na Cúpula da Amazônia, que terminou sem um compromisso sobre metas de desmatamento e exploração de energia fóssil na região. Como liderar se o próprio País empurra para adiante as metas de desmatamento e não define se vai ou não explorar petróleo na faixa tropical?

As mesmas dificuldades domésticas surgiram em relação à economia de baixo carbono. Os ministérios de Fazenda, Indústria e Comércio e Agricultura tinham chegado a entendimento para regular no Brasil o comércio de emissões de carbono. Simplificando, seria mirar os modelos internacionais para compra e venda de permissões para emitir gases de efeito estufa.

Adriana Fernandes - Haddad e a mudança da meta fiscal

O Estado de S. Paulo

O ministro da Fazenda fez uma aposta de alto risco, e agora está tendo de lidar com isso

O projeto do novo arcabouço fiscal ainda nem teve a sua votação concluída no Congresso, e o debate sobre mudança da meta fiscal de 2024 corre solto em Brasília.

Já era esperado que essa discussão acontecesse com o fim do teto de gastos e a sua substituição por um novo regime fiscal que precisa do aumento da arrecadação para abrir espaço para novas despesas. O problema, porém, chegou cedo demais.

Foi no dia 30 de março que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se comprometeu com a meta fiscal de zerar do governo em 2024. Naquele momento, havia desconfiança na política econômica e no projeto do arcabouço ainda em construção, além de pressão do PT por uma regra fiscal mais flexível.

Celso Ming - Um governo dividido sobre meio ambiente

O Estado de S. Paulo

Na Cúpula da Amazônia que culminou terça-feira com a assinatura da Declaração de Belém pelos chefes de Estado de 8 países, o mais importante não são avaliações do tipo “copo meio cheio meio vazio” sobre a qualidade das decisões tomadas, mas o fato de que o Brasil, e não só o governo Lula, não sabe bem o que quer em matéria de política ambiental.

O governo está dividido sobre explorar ou não explorar petróleo na Margem Equatorial. Está dividido até mesmo sobre perfurar um poço a mais de 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas apenas para saber o que tem e poder decidir, com conhecimento de causa, se convém ou não explorar produtos fósseis por lá.

Nem sempre um país tem decisão sobre tudo o que abrange a questão ambiental, que é bem mais ampla do que a da transição energética. Muitas vezes é necessária convergência política prévia para determinadas decisões. Mas, neste momento em que o planeta está queimando, é preciso sentido de urgência.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Governo busca atalhos para gastar com meta fiscal sob risco

Valor Econômico

“Jeitinhos” minam grande esforço da equipe econômica para dar confiabilidade ao novo regime fiscal

O governo terá dificuldades para cumprir as metas que estabeleceu no novo regime fiscal. Antes, porém, que as regras para as contas públicas sejam aprovadas - elas voltaram para o exame da Câmara, após modificações no Senado que podem ser rejeitadas - o Planalto já manobra para encontrar “jeitinhos” de excluir despesas do teto de gastos renovado. Em mensagem modificativa ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), pediu exclusão de R$ 5 bilhões de gastos que as estatais federais que não dependem de recursos do Tesouro farão no PAC. O sinal emitido pela manobra é muito ruim, pois põe em xeque antecipadamente a disposição de cumprir as próprias regras, que sequer estão em vigência.

O novo regime fiscal é mais condescendente com os gastos e a governança que o teto de gastos que o antecedeu. Mesmo assim, estabeleceu um sistema de contenção de gastos que não será de fácil execução. Os analistas de mercado e consultoria ouvidos pelo boletim Focus, do Banco Central, e Prisma Fiscal, do Ministério da Fazenda, não acreditam que as metas de resultado primário serão atingidas até 2026.

Pelo novo regime, há o compromisso de déficit de 0,5% do PIB este ano, déficit zero em 2024, superávits de 0,5% e 1% do PIB em 2025 e 2026, com uma banda de adequação de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos. As estimativas contidas no Focus preveem déficits de 1%, 0,8% e 0,5% nesse ano e nos dois seguintes. O Prisma Fiscal antevê déficits de R$ 101,7 bilhões em 2023 e de R$ 88,3 bilhões em 2024.

Há vários motivos para o ceticismo em relação ao cumprimento dos objetivos fiscais. Os investidores receberam com alívio o novo regime fiscal porque esperavam algo muito pior - uma gastança desenfreada e sem limites. As mudanças afastaram o pior cenário e limitaram muito as chances de um crescimento acelerado dos déficits. Como as regras preveem aumento real de gastos em quaisquer circunstâncias (mínimo de 0,6% real e máximo de 2,5%) há a suspeita de que o governo não se empenhará fervorosamente para atingi-las. Não há penalidades para o estouro das metas fiscais.

Poesia | Cecília Meireles - Timidez

 

Música | Moacyr Luz e Samba do Trabalhador - Pra que pedir perdão?