domingo, 27 de janeiro de 2013

OPINIÃO DO DIA - Eugênio Bucci: a devoção

A histeria com que certos militantes se recusam a debater em público as mazelas dos partidos de esquerda chama a atenção - não por ser uma demonstração virtuosa de disciplina partidária, mas por ser um sintoma de silêncio obsequioso. Estamos falando, pois, de servidão, de adoração, de culto. Estamos falando de condutas reverenciais, não de atitudes de livres-pensadores.

Não estamos falando sequer de política, pois a política que se rende a tantos dogmas deixa de ser política para se converter em fundamentalismo. É aí que surgem esses fiéis ardorosos que acreditam piamente na infalibilidade dos caciques, mesmo quando os caciques carregam nos bolsos fatias do erário. Sobre tamanha devoção valeria pensar um pouco mais. E ler Gabeira.

Eugênio Bucci é jornalista, professor da ECA-USP e da ESPM. In. A devoção como política, O Estado de S. Paulo, 24/1/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Jovens abandonam assentamentos rurais
Quadras: governo faz pouco e mal
Censura desafia a Constituição
Petrobrás: déficit de US$ 13 bi/ano

FOLHA DE S. PAULO
Igrejas arrecadam R$ 21 bi por ano
Protesto no Egito causa morte de pelo menos 30
Procurador envia ao STF denúncia contra Renan
'Fora da Ordem' explica São Paulo mais que 'Sampa'
Extremistas deixam soldados mortos sem enterro no Mali

O ESTADO DE S. PAULO
Audios mostram ligação entre máfia dos pareceres e o poder
Dilma elevou tom para evitar prejuízo eleitoral
Obras atraem construtoras estrangeiras
Mané Garrincha, conta que não fecha

CORREIO BRAZILIENSE
Qualificação, já
A 500 dias para a Copa, o Correio mostra como estão as obras nas cidades sedes

ESTADO DE MINAS
Municípios de olho no dinheiro do pedágio
Os empregos mais cobiçados

GAZETA DO POVO (PR)
Maus motoristas na prisão
Congresso tem eleição movida a benesses e poder
Voluntários por um mundo mais solidário
Venda de artesanato indígena expõe crianças a risco social Candidatos à Câmara trarão TRF no Paraná de volta à pauta

ZERO HORA (RS)
No ano 3, Dilma busca marca para se credenciar à reeleição

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
500 dias, muito por fazer
Governo federal vai mapear as florestas
Brasil possui índice alto de abusos sexuais

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do país

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

A triste sina da democracia brasileira - Luiz Werneck Vianna*

De fato, para quem é leitor da mídia eletrônica e de alguns notáveis do colunismo econômico da grande imprensa, se vale o que é dito, parece que estamos em meio a mais uma floração do nacionalismo tanto nos rumos atuais da política interna quanto nos da externa, embora não se precisem a sua natureza nem as forças contra as quais se opõe. Nesse vasto material, nas citações abundantes dos colunistas de maior renome, em suas interpretações sobre o estado de coisas no mundo, uma ausência pode ser considerada sintomática, a de Jürgen Habermas, tido - o que ninguém lhe nega - como um dos maiores pensadores contemporâneos.

Faz sentido, Habermas, a seu modo, um herdeiro das tradições libertárias da filosofia clássica alemã, é um cosmopolita e, como tal, refratário à estatolatria, patologia que encontra terreno fértil nos contextos nacionais de capitalismo politicamente orientado, aberto ou encapuzado, como aqui. De outra parte, e em igual medida, é também refratário às concepções sistêmicas que confiam ao mercado o destino das sociedades, na crença de que ele conhece mecanismos de autoajuste. Tudo contado, sua obra monumental se aplica na valorização da política, da democracia como prática de homens dotados de autonomia para agir e pensar livremente, e não à toa ele se voltou, em plena maturidade, para o estudo do Direito e dos direitos, com ênfase especial nos direitos humanos, seara propícia à sua perspectiva universalista.

Nossos maîtres à penser, senhores da língua franca dos economistas - hoje, dominante na comunicação -, na contramão das correntes intelectuais que sondam as possibilidades de evasão dessa gaiola de ferro que construímos para nós mesmos, sem controlar o alcance das nossas micro e macrodecisões, reagem ao cenário da globalização numa aceitação tácita do mundo tal como ele se nos apresenta. Diante dela, o esforço concentra-se na busca de janelas de oportunidade para uma inscrição com grandeza na economia-mundo, sob a pilotagem de peritos nas navegações de longo curso exigidas pelas peripécias do mercado. Nos dias que correm, sob a condução geral da presidente Dilma Rousseff, ela mesma uma economista, falante da língua franca dessa grei, por livre escolha em diálogo permanente com alguns dos seus membros mais eminentes.

Mas, além desses personagens, há outros, no caso, os maiores interessados no sucesso dessa navegação de longo curso, os empresários das grandes empresas, nem sempre inteiramente nacionais, das finanças, das empreiteiras e do agronegócio. Para eles franqueia a cornucópia dos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do financiamento estatal a fim de alavancarem os seus empreendimentos no País e fora dele, como na África e na América do Sul, quando, especialmente estes últimos, são revestidos do manto de aura que os identifica como portadores do interesse nacional, parceiros na política de projeção do poder estatal.

Com essa manobra ideológica, tais personagens são alçados, sob a mediação do Estado, da dimensão da economia para a da política, apresentados como "campeões", heróis-empresários que desbravam o mundo em torno, não na busca de território, como na atuação de um barão do Rio Branco e suas motivações ibéricas, mas como novos bandeirantes que levam à frente o capitalismo brasileiro em nome da representação de presumidos interesses gerais da sociedade.

Nessa roupagem, o nacional é subsumido à lógica da modernização econômica, que, na nova tradução que lhe concede o governo Dilma, passa a ser um processo conduzido condominialmente pelo poder político, pela tecnocracia e pelo grande empresariado, novo ator ativo na tomada de decisões, ao contrário dos surtos modernizantes anteriores, em que o poder político agia monocraticamente. Sob esse estatuto de acento bismarkiano, o nacional se apresenta sem vínculos com a agenda da sociedade civil, que se tem orientado, desde a democratização do País, em torno da agenda de direitos. Nesse registro, quando muito, a sociedade civil é vista como uma beneficiária indireta dos êxitos da acumulação capitalista resultante dos empreendimentos econômicos bem-sucedidos no interior de nossas fronteiras e fora delas.

Trata-se, pois - e isso precisa ser declarado em alto e bom som - de um projeto nacional grão-burguês, que manipulações ideológicas ora em curso pretendem aproximar retoricamente da configuração do ideário nacional-popular.

O ideário nacional-popular começou a tomar forma a partir dos últimos meses do segundo governo Getúlio Vargas, encontrou sua expressão nos últimos anos da democracia de 1946 e foi sustentado por intensa participação popular em favor de mudanças sociais de largo alcance até ser varrido do léxico político brasileiro pelo regime militar. Não há o nacional-popular sem a presença e a voz da sociedade e dos seus setores subalternos.

Dez anos atrás, em seu belo discurso de posse, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, logo depois de evocar - sem o citar - as lições de Gilberto Freire sobre o sincretismo e a mestiçagem como a contribuição original brasileira ao mundo, dizia que "(a nossa) política externa refletirá também os anseios que se expressaram nas ruas".

As ruas estão, há tempo, silenciosas e mal têm notícias dos feitos do nosso Estado e das nossas grandes empresas, aqui e lá fora, com seus consultores e suas elites dirigentes imersos em cálculos de macroeconomia e artes afins, empenhados em realizar um projeto de País às nossas costas, no qual só há lugar para as razões instrumentais que nos elevem ao estatuto de grande potência mundial, triste sina que, mais uma vez, acomete a democracia brasileira.

* É professor-pesquisador da PUC-RIO.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Juízes censuram e afrontam Constituição

Nos últimos cinco anos, foram 57 casos, segundo ANJ; fórum reunirá especialistas para discutir a questão

Carolina Brígido

Apesar de a Constituição garantir o direito à livre expressão e ter abolido a censura, casos de restrições à imprensa têm ocorrido com o aval de setores do Judiciário. Levantamento da Associação Nacional de Jornais (ANJ) mostra que, em 2012, onze decisões judiciais determinaram censura à imprensa. Outros 14 casos foram registrados em 2011; 16, em 2010; dez, em 2009; e seis, em 2008.

Atento à questão, o ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto criou, em novembro do ano passado, o Fórum Nacional do Poder Judiciário e Liberdade de Imprensa no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que também presidia na ocasião. Apesar de não ter poderes para impedir a censura judicial, o grupo vai monitorar casos e discutir o assunto. Ainda não há data prevista para o início das atividades do fórum. Mas sabe-se que a ANJ terá assento. O diretor-executivo da ANJ, Ricardo Pedreira, considera absurdo um juiz determinar censura prévia à imprensa:

- A censura judicial acontece em flagrante desrespeito à Constituição. Infelizmente, é um fato que vem ocorrendo com uma frequência preocupante, em geral, por parte de juízes de primeira instância, indo contra a própria decisão do STF (que revogou a Lei de Imprensa em 2009). Naquele caso, ficou muito claro que não cabe absolutamente, da parte de quem quer que seja, censura prévia. A gente espera que os juízes de instâncias inferiores passem a entender a importância da decisão do Supremo. É um absurdo que isso aconteça porque a Constituição é muito clara - protesta Pedreira.

Para ele, iniciativas como o fórum contribuem para mudar a mentalidade dos juízes. Pedreira ressalta que o evento não terá o poder de mudar as decisões judiciais, mas que a discussão do tema pode esclarecer a magistratura:

- Qualquer iniciativa que vise divulgar os princípios da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão, nos termos da nossa Constituição, é muito bem-vinda. Não basta uma decisão do Supremo para as coisas acontecerem de forma efetiva. Um debate desse tema no Judiciário é bastante positivo. A gente não imagina que o CNJ vá determinar as sentenças dos juízes porque não há esse poder: os juízes têm sua autonomia. O que a gente espera é um debate de alto nível, em que se possa deixar clara essa questão dentro do Judiciário - afirma.

Para Ayres Britto, problema tende a diminuir

Ayres Britto acredita que esse tipo de decisão judicial se tornará raro com o tempo:

- Isso tende a diminuir consideravelmente, na medida em que a decisão do Supremo e a própria compreensão do texto constitucional se tornem mais conhecidas. Isso é um problema cultural. A liberdade de imprensa ainda incomoda e há setores do Poder Judiciário, felizmente minoritários, refratários à plenitude com que a Constituição aquinhoou a liberdade de imprensa para o mais desembaraçado trânsito das informações, das ideias e das expressões artística, científica, intelectual e comunicacional - explica.

O ex-presidente do STF também frisa que o fórum não poderá reprimir juízes:

- O fórum não é de monitoramento das decisões judiciais porque nenhum juiz pode ser patrulhado. É um fórum de acompanhamento de decisões para ver até que ponto elas são compatíveis com o espírito da decisão do STF. A intenção é fazer congressos, seminários e estimular a discussão do tema nas escolas de magistrados.

Ayres Britto aprovou a criação do fórum em 13 de novembro, na última semana antes de se aposentar como ministro do STF. Ele presidia a Corte e o CNJ. O fórum vai organizar um banco de dados que permitirá identificar casos em que jornalistas são punidos pela Justiça. Será presidido por um conselheiro do CNJ e integrado por dois conselheiros e um juiz auxiliar do CNJ, um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), um representante da ANJ, um da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), um da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e dois magistrados, sendo um estadual e um federal.

Fonte: O Globo

Magistrada, além de proibir publicação, ditou a jornal recomendações editoriais a serem seguidas

Pesquisas de intenção de voto também não puderam ser divulgadas

Em 11 de julho de 2012, o jornal eletrônico "Século Diário" sofreu, pela terceira vez, censura judicial. A juíza Ana Cláudia Rodrigues de Faria Soares, da 6ª Vara Cível de Vitória, proibiu o portal de manter a publicação de três notícias e dois editoriais sobre a atuação do promotor de Justiça Marcelo Barbosa de Castro Zenkner, publicadas entre maio de 2010 e março de 2012.

Na decisão, a juíza recomendou que o jornal seguisse recomendações editoriais ditadas por ela. O caso foi uma das onze censuras contabilizadas em 2012 pela Associação Nacional de Jornais (ANJ).

O relatório da entidade classifica a atitude da magistrada como "descabida ingerência na autonomia editorial de que constitucionalmente gozam os órgãos de imprensa, nos termos da Constituição e das sucessivas decisões do Supremo Tribunal Federal".

A ANJ também registrou que, em outubro, por ordem judicial, o "Jornal do Povo", de Cachoeira do Sul (RS), foi obrigado a retirar da internet reportagem sobre uma investigação do Ministério Público sobre compra de votos. Segundo o texto, uma coligação que disputava as eleições municipais era suspeita de fornecer ilegalmente 150 vales-combustível.

Em agosto, a juíza da 36ª Zona Eleitoral do Mato Grosso do Sul, Elisabeth Baisch, a pedido dos candidatos Reinaldo Azambuja e Alcides Bernal, proibiu a circulação do jornal "Correio do Estado" caso houvesse reportagem sobre pesquisa de intenção de voto para prefeito de Campo Grande.

Além dos casos de censura, a ANJ contabilizou em 2012 oito assassinatos de profissionais de imprensa, 24 agressões, seis ameaças, um atentado e uma prisão.

Fonte: O Globo

No ano 3, Dilma busca marca para se credenciar à reeleição

Ao encerrar primeira metade do mandato com PIB baixo, inflação acima do centro da meta e obras estagnadas, presidente aposta na volta de investimentos para acelerar economia.

Dilma procura uma marca

A primeira mulher a comandar o Brasil fechou a primeira metade de governo sem fazer deslanchar metas assumidas na posse, mas com avanços em áreas importantes como transparência e emprego. Mirando 2014, Dilma Rousseff vai em busca nos próximos dois anos de uma marca para sua gestão. Zero Hora apresenta um balanço político e econômico do mandato da petista.

As mudanças de postura da petista não visam apenas à reeleição, mas a um melhor andamento do governo.

– Dilma fez pequenos avanços. Um deles é tornar o debate sobre o desenvolvimento do país menos ideológico e mais pragmático. É consenso que o governo dela tem de acontecer em 2013 – avalia o cientista político André César, da consultoria Prospecta.

Enquanto Brasília ainda boceja pelo início de ano, Dilma aproveita para fazer uma agenda pré-eleitoral. Anunciou cortes na conta de luz e faz visitas a Estados que ainda não tinha ido como presidente.

Em relação ao Congresso, a avaliação da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, é sintomática:

– As votações sobre os royalties do petróleo e o Código Florestal não foram influenciadas por força da oposição.

Por este motivo, o governo Dilma inicia o ano mais preocupado com a base aliada. Acompanha os movimentos do PSB – do qual pode sair um presidenciável, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos –, e reconhece a importância de um novo ator.

– Vejo zero chance de o PSB não estar com o governo em 2014 ou de se rebelar. O fiel da balança será o PSD – diz o deputado Marco Maia (PT-RS), de saída da presidência da Câmara.

A sigla liderada por Gilberto Kassab conta com 49 deputados, um a mais que o PSDB. Convidado ao governo, o PSD ficará com o Ministério da Micro e Pequena Empresa.

Com a oposição desarticulada, um receio do Planalto é voltar à vidraça por pecados alheios. Dilma assiste às presidências da Câmara e do Senado prestes a cair em mãos chamuscadas por suspeitas de corrupção, as dos peemedebistas Henrique Alves (RN) e Renan Calheiros (AL). Passará pela influência deles a aprovação de projetos com peso eleitoral, como o Plano de Educação.

Em 2007, em uma tentativa de manter viva a CPMF, Lula ficou ao lado de Renan até a saída do senador da presidência da Casa se tornar inevitável. Perdeu nas duas frentes. A diferença é que a reeleição de Lula já havia ocorrido.

Fonte: Zero Hora (RS)

Após "pibinho", governo aposta em investimentos

Ao encerrar a primeira metade do mandato com um pibinho (expressão já usada pelo ministro Guido Mantega para definir o crescimento da União Europeia), inflação acima do centro da meta, obras estagnadas e reformas na gaveta, Dilma Rousseff terá o desafio de abrir o leque de prioridades neste terceiro ano. Com um desempenho econômico inferior a países como Chile, Colômbia e Peru, onde a inflação não chega a metade da brasileira, o país ficou bem distante das metas estabelecidas na época da posse.

O saldo dos 24 meses iniciais de gestão reforça a convicção de que não é mais possível crescer apenas em cima do consumo das famílias. A política econômica baseada no aumento do poder de compra não consegue mais sustentar sozinha o desenvolvimento. Até mesmo entre especialistas de correntes diferentes, é consenso de que somente com um ambiente favorável para a retomada de investimentos privados e públicos será possível aumentar as taxas de crescimento e voltar a ostentar estatísticas dignas das maiores economias mundiais.

Emprego e renda

Mesmo com o baixo crescimento da economia, o go¬verno conseguiu reduzir ainda mais o desemprego. Em dezembro, o percentual de trabalhadores sem emprego formal nas seis principais regiões metropolitanas do pa¬ís era de apenas 4,4%. A renda dos brasileiros também manteve a expansão na gestão Dilma.

- Vivemos um momento positivo. O setor de comércio e serviços continua criando muitos empregos, puxado pelo maior poder de compra da população - afirma Ma¬nuel Enriquez Garcia, professor da Universidade de São Paulo (USP).

No entanto, em 2012, o ritmo de criação de vagas foi 33% inferior ao do ano anterior, conforme dados divulgados na sexta-feira pelo Ministério do Trabalho. O desempenho, reflexo do baixo crescimento da economia, é o pior desde 2009.

Crescimento e investimentos

Com 2,7% de crescimento em 2011 e cerca de 1% em 2012, Dilma teve o pior desempenho nos dois primeiros anos de um governo desde Fernando Collor.

O resultado abaixo do esperado é atri¬buído à insistência em manter a política baseada no incentivo ao consumo, sem criar ambiente favorável para aumento dos investimentos - público e privado.

- O governo vem insistindo em medidas de expansão do consumo e do crédito, desonerações tributárias e ; aumento do salário mínimo. Nosso problema não é de demanda, mas de oferta, por isso é preciso fazer com que o país torne-se mais eficiente e a indústria retome a competitividade - aponta Maílson da Nobrega, ex- ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria.

Contas públicas

No final de 2012, o governo Dilma recorreu a uma série de manobras contábeis para permitir o cumprimento da meta fiscal, ou seja, mostrar um superávit primário que não foi alcançado. A "maquiagem fiscal" foi alvo de críticas até no Exterior, com citações irônicas na revista The Economist e no jornal Financial Times. A mudança na meta do superávit primário, conforme o economista do Instituto Millenium Vítor Wilher, teve impacto negativo:

- A política econômica tem de ser previsível, para não gerar desconfiança entre os investidores.

Na sua "contabilidade criativa", o governo omitiu despesas em infraestrutura, antecipou dividendos de estatais e mexeu no fundo soberano.

Infraestrutura e logística

Dilma anunciou a concessão de rodo¬vias, ferrovias, portos e aeroportos à iniciativa privada para modernizar a deteriorada infraestrutura do país - considerada uma das responsáveis pelo baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Essa é a aposta para fazer o Brasil voltar a crescer e aumentar a taxa de investimentos, que teve queda em cinco trimestres consecutivos.

- Nos países onde a logística funciona, esse foi o sistema adotado. A questão é que ainda há um embate ideológico dentro do governo sobre "privatizar"", modelo sempre criticado pelos partidos socialistas - avalia Carlos Honorato, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA).

Inflação

A inflação está acima do centro da meta, mas ainda dentro dos limites. A alta foi influenciada por dois protagonistas: pressão dos alimentos e dos serviços. Mesmo com a inflação de 6,5% em 2011 e 5,84% em 2012, o Banco Central baixou as taxas de juros aos menores níveis da história no ano passado. O aumento da renda do trabalhador fez com que a variação de preço dos serviços se aproximasse de dois dígitos - dificultando o controle inflacionário.
- O Brasil tem o dobro da inflação de países da América do Sul, como Chile, Colômbia e Peru, e menos da metade do percentual de crescimento - compara o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nobrega.

Energia

Apesar de o risco de racionamento ter voltado a assombrar em 2012, quando os níveis dos reservató¬rios das principais hidrelétricas baixaram pela escassez de chuva, a situação nem de longe é comparável ao período do apagão, em 2001. 0 temor é afastado no médio prazo pela geração das usinas térmicas e pelo reforço das linhas de transmissão do sistema interligado.

- Houve esforço para aumentar a confiança do sistema, mas ainda dependemos de uma matriz energética. Não podemos ficar nas mãos de São Pedro - avalia Carlos Honorato, da Fundação Instituto de Administração (FIA),

Com grandes obras de hidrelétricas, como Belo Monte, o governo investiu também em fontes renováveis.

Reforma tributária

Aguardada há anos, a reforma tribu¬tária começou a ser ensaiada pelo governo, mas as medidas ainda são consideradas tímidas.

- Houve alguns ensaios, mas a peça teatral não começou ainda - destaca João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).

Em 2012, o valor total pago pelos brasileiros em impos¬tos chegou a R$ 1,55 trilhão - quase 35% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Fala-se em "reforma fatia¬da", mas as medidas estruturais não saíram do papel.

- É preciso diminuir a tributação sobre o consumo, que impacta mais justamente naqueles que ganham menos - aponta Olenike.

Fonte: Zero Hora (RS)

Dilma elevou tom para evitar prejuízo eleitoral

Marcelo de Moraes

O tom mais duro adotado pela presidente Dilma Rousseff no pronunciamento feito para anunciar a queda do valor da conta de luz não foi casual. Ele foi resultado da avaliação feita dentro do Palácio do Planalto que identificou um risco para a imagem do governo e da própria Dilma e potencial prejuízo político que poderia se refletir até nas eleições de 2014.

Segundo essa análise, estava se formando uma espécie de "caldo de cultura" junto à opinião pública de que o governo está emperrado, sem conseguir fazer a economia alavancar, com problemas de gestão, sob risco da volta da inflação e de apagão ou racionamento de energia. O fato de integrantes da oposição e até de partidos aliados insistirem no tema também reforçou a impressão de que o assunto tinha tamanho suficiente para virar bandeira de campanha eleitoral e fragilizar o governo.

Por causa disso, segundo interlocutores próximos da presidente, Dilma quis falar de forma mais veemente para não apenas conter as críticas da oposição, mas também para mostrar que o governo está trabalhando. A redução na conta de energia foi considerada a ação ideal para exibir um movimento pró-ativo do governo e de impacto imediato.

Marqueteiro

Como em todos os seus pronunciamentos oficiais, a presidente Dilma discutiu a maneira de falar diretamente com o marqueteiro João Santana e saiu convencida que era estratégico negar a possibilidade de falta de energia no País.

Além de poder mostrar imediatamente uma ação de seu governo - a queda na conta da luz -, Dilma e seus principais auxiliares também sabem que o tema energia é extremamente delicado. Em 2001, o PT ganhou muito espaço no seu discurso de oposição por causa do apagão ocorrido durante o governo Fernando Henrique Cardoso e que provocou racionamento de energia no País. Os petistas aproveitaram a situação e conseguiram um desgaste expressivo na imagem do governo tucano por esse problema. O assunto acabou sendo um ponto importante na campanha presidencial do ano seguinte, vencida pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.

No caso de Dilma, o tema é mais importante ainda já que seu nome começou a ganhar destaque no cenário político justamente por sua gestão eficiente como secretaria estadual de Minas e Energia do governo do Rio Grande do Sul no período do apagão. Essa atuação fez com que Lula a escolhesse para ocupar o Ministério de Minas e Energia, em 2003, abrindo o caminho para sua trajetória vitoriosa até a eleição presidencial de 2010.

Disposição

O pronunciamento mais forte de Dilma apontou ainda para sua disposição de concorrer à reeleição em 2014. O embate acirrado em torno da questão de energia e as críticas feitas aos adversários foi interpretado por integrantes da oposição como sinal de disposição da presidente em tentar um novo mandato presidencial. Tanto que o PSDB soltou uma nota oficial logo em seguida para criticar a presidente por aproveitar o espaço de cadeia nacional de televisão e rádio para fazer campanha política e antecipar a disputa eleitoral.

O governo prevê que a oposição vá insistir no tema, mas interlocutores diretos da presidente avaliam que o assunto poderá esfriar assim que o desconto na conta de luz comece a ser sentido no bolso dos consumidores brasileiros. Com isso, esperam que a crise de energia deixe de ser um ponto de fragilidade para o governo federal.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Um ex-presidente "encarnado" e andarilho

Incapaz de "desencarnar", como prometera, o "Pelé no banco" do PT fará viagens em consonância com Dilma e ainda dará orientações políticas

Julia Dualibi

Em janeiro de 2011, o governo de Dilma Rousseff mal havia começado, e o recém empossado ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, fez uma análise sobre a eleição de 2014: "Temos um curinga. Estou dizendo para a oposição: "Calma, não se agitem demais. Temos uma carga pesada. Não brinca muito que a gente traz. É como ter o Pelé no banco de reservas"".

Como um dos principais aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Carvalho detinha credenciais para traçar prognósticos sobre o petista. A frase foi vista como um recado não só pela oposição, mas pelo PT: Lula pode voltar.

No começo deste ano, as declarações de Carvalho começaram a ganhar eco entre os petistas, alimentadas por movimentações de Lula que, depois das férias de final de ano na casa de um empresário em Angra dos Reis, mergulhou em compromissos políticos, alguns deles com forte conotação eleitoral.

Antes de viajar, chamara ministros petistas de Dilma Rousseff para conversar no Instituto Lula. A Alexandre Padilha (Saúde) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) deu orientações sobre o governo. Na segunda semana de janeiro, foi à Prefeitura participar de reunião de Fernando Haddad com secretários, na qual falou quais deveriam ser as prioridades da gestão municipal.

Na semana passada, ocupou o noticiário em encontro que promoveu com intelectuais sul-americanos. Aliados também anunciaram as viagens que fará pelo País, o que criou uma conexão imediata com as Caravanas da Cidadania, promovidas por ele nos anos 90 antes como forma de preparar terreno para a eleição - Lula quer fortalecer o PT no Nordeste, onde o partido perdeu importantes capitais em 2012 para o PSB do governador Eduardo Campos (PE), virtual adversário de Dilma na eleição de 2014.

O petista foi ainda até o Rio visitar obras e se encontrar com o prefeito Eduardo Paes, mostrando, mais uma vez, relação de proximidade com o PMDB do governador Sérgio Cabral, numa contraposição ao grupo do atual vice de Dilma, Michel Temer.

A agenda pública e a movimentação nos bastidores alimentaram a tese ventilada por Carva¬lho. Diferentemente do que anunciara ao deixar a Presidência, Lula não "desencarnara" do cargo. Recuperado do câncer na laringe e insatisfeito com os rumos da gestão Dilma, prepararia a volta ao Planalto. A campanha seria ainda resposta a denúncias de envolvimento no mensalão.

Mas, apesar da movimentação do petista, o PT e o próprio Lula ainda trabalham com o "plano A", que é a reeleição de Dilma.

"Lula sempre foi um andarilho, fez sua vida na estrada. Esteve uma época sem sair porque estava doente. Não vai deixar de andar, de dar a posição dele sobre os assuntos. Ele é uma referência no País", declarou o sena¬dor Jorge Viana (PT-AC). "É o jeito dele de fazer política, ele não quer ser candidato", disse o ex-deputado Sigmaringa Seixas.

"A minha vocação é outra. Quero falar com as pessoas", co¬mentou o ex-presidente com um parlamentar numa comparação entre o que gosta de fazer - leia-se, política - e as palestras, pelas quais, estima-se, ele recebe pelo menos R$ 100 mil.

Isso, no entanto, não significa que o plano B, o de colocar o "Pelé" em campo, esteja descarta¬do. O cenário de Lula candidato em 2014 é admitido pelos aliados do petista, mas somente em caso de forte crise econômica que devaste a popularidade de Dilma.

"Ele só será candidato se hou¬ver um cataclisma econômico. Senão, não será em 2014, não será em 2018", afirmou um amigo de Lula. "Não há movimentos in¬ternos dissidentes ou divergências quanto à reeleição dela. Não vejo um elemento de cisão. Tudo indica que caminha para a reeleição. Até este momento é a 1ª estratégia", avalia o cientista político Francisco Fonseca (FGV-SP).

A tese da volta do ex-presidente é também alimentada pelas "viúvas de Lula", petistas que, sem acesso a Dilma, perderam influência no Planalto, onde a petista costuma manter as portas fechadas para parlamentares.

Críticas. Mais do que uma eventual candidatura à Presidência, o que está por trás das movimentações de Lula é a insatisfação com os rumos do governo Dilma. Para ele, Dilma precisa aprimorar a gestão em 2013 para ter uma vitrine na campanha de 2014.

O petista acha que o governo sofre de um certo imobilismo e de falta de comunicação com se¬tores da sociedade, entre os quais o empresariado. Mostrou-se preocupado com a execução lenta de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal marca da atual gestão.

Chegou a expor essas questões em uma conversa com a presidente em Paris, em dezembro do ano passado. Dilma entendeu o recado e, em janeiro, alterou a agenda e passou a receber mais empresários, potenciais doadores de campanha em 2014.

Na sexta-feira passada, ambos voltaram a se encontrar em São Paulo. Lula queria tratar com a presidente das viagens que fará pelo País, de maneira que a agenda seja cumprida em consonância com Dilma. No encontro, também estava o ministro Guido Mantega (Fazenda), para falar sobre o panorama econômico.

Horas após a conversa com Lula, Dilma fez a lição de casa. Num evento na capital paulista, fez um discurso enfático de defesa da sua gestão. Citou programas sociais e enalteceu a política econômica.

"Há uma fidelidade entre criador e criatura", disse Viana. "Pelo que conheço, jamais será candidato. Ele e Dilma são parceiros. Se for candidato, será depois da Dilma", afirmou o deputado Vicentinho.

Numa ação coordenada, Lula entrará na articulação política do governo, área mal avaliada pelos partidos da base e na qual Dilma é considerada amadora. "Ele vai empurrar o governo. Vai para cima dos ministros do PT", conta um petista. Lula trabalha para evitar a fragmentação da base, o que preocupa mais o PT hoje do que um eventual fortalecimento da oposição. Em 2013, Lula pretende ficar na beira do campo, dando orientações ao time e ameaçando a oposição com sua entrada na partida. Mas, ainda "encarnado", definirá o jogo apenas 2014.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Só 8% das quadras prometidas por Dilma saíram do papel até agora

Projeto malfeito obriga funcionários de escola a carregar tabela de basquete

André de Souza Durante a campanha presidencial de 2010, a então candidata Dilma Rousseff prometeu entregar 10 mil quadras esportivas cobertas, se fosse eleita. Passados dois dos quatro anos de mandato da presidente, o número de quadras sendo construídas ainda está muito abaixo da meta. E, nas que estão em obras, há problemas. Segundo dados do próprio Ministério da Educação (MEC), até agora, saíram do papel menos de 8% das quadras prometidas.

Em 2011, foram aprovadas 1.564 quadras, das quais 96 estão concluídas e 693 em obras. Em relação às unidades aprovadas em 2012, o MEC informou que as obras só devem começar no primeiro semestre deste ano - embora os primeiros pagamentos tenham sido feitos no segundo semestre do ano passado.

Além da promessa eleitoral, as obras nas escolas também entraram no lançamento do PAC 2, em março de 2010. Na época, a previsão era investir R$ 4,1 bilhões para "universalizar quadras esportivas em escolas com mais de 500 alunos". Pelo PAC, foram previstas 6.116 novas quadras, além de obras de cobertura em outras 4.000 já existentes, totalizando 10.116 unidades.

Mas nem o PAC 2 garantiu os investimentos. Levantamento feito pela liderança do DEM no Senado mostra que, entre 2011 e 2012, dos R$ 3,939 bilhões previstos para estruturas esportivas (o que inclui as quadras em escolas), foram pagos R$ 412,35 milhões, no primeiro ano; e R$ 224,29 milhões, no ano seguinte. Ou seja, foram gastos 16,16% do orçamento, somando os dois anos.

O número baixo de quadras em construção não é o único problema. O GLOBO visitou algumas delas na cidade de Águas Lindas de Goiás, no Entorno de Brasília, e constatou problemas que vão de projetos malfeitos a atrasos nas obras.

Quatro homens para erguer tabela

Águas Lindas, que, segundo estimativas do IBGE, tinha 167.477 habitantes em 2012, conta com 43 escolas na rede municipal, onde estudam 22 mil alunos. As escolas têm entre 200 e 1.300 alunos. Enquanto o governo federal faz os repasses de verba, o município tem a obrigação de fornecer a área e fazer a terraplanagem do terreno.

Na cidade, a prefeitura recebeu recursos para construir dez quadras poliesportivas, das quais oito estão quase prontas. Uma delas, na Escola Municipal Jardim Pérola, que tem 730 alunos do 1º ao 5º ano, chegou a ser inaugurada em setembro do ano passado, mas ainda passa por retoques. Na prática, serve apenas para partidas de futsal.

A quadra foi projetada de tal forma que as tabelas de basquete, quando postas no lugar, impedem a atuação do goleiro. Ou seja, quem quiser jogar basquete, tem que instalar as pesadas tabelas. Se quiser jogar futebol, é preciso retirá-las. O GLOBO presenciou quatro adultos enfrentando dificuldades para pôr a tabela no lugar.

- A tabela nunca vai ser usada porque os meninos preferem jogar futebol a basquete - disse um dos homens.

A diretora da escola, Maristela Regina Neves, teme que as crianças se machuquem se tentarem carregar as tabelas. Ela também reclama de outro problema: o uso de drogas na escola e a falta de vigilância. A quadra não é usada só pelas crianças, mas pela comunidade.

- De noite, (algumas pessoas) jogam e fumam. Não há como impedir. Fazem buraco no muro, derrubam o portão. Se for reclamar, recebe ameaça de morte. Tem que ter policiamento - reclama ela.

Na mesma quadra, os buracos para a rede de vôlei existem, mas não há sequer as hastes de metal que a sustentam. O chão é sujo e as linhas que demarcam a área de jogo estão quase apagadas. A placa do lado de fora indica que a quadra foi feita após repasse de R$ 437,8 mil do governo federal. A previsão era terminá-la em junho de 2012, mas, até hoje, ela sofre reparos.

Instado a explicar a diferença entre promessa e realidade, o MEC enviou nota em que prefere enfatizar o número de obras aprovadas nos últimos dois anos. Foram 4.681, referentes à construção de 3.012 quadras cobertas e à cobertura de 1.669 quadras já existentes. "A meta do governo é apoiar a construção ou cobertura de 10.116 unidades escolares - logo, o cronograma segue dentro do planejado", diz o texto do ministério.

O MEC também destacou que a execução das obras não começa no momento em que são aprovadas. "Após o recebimento da primeira parcela dos recursos federais, os entes federados devem realizar um processo licitatório, que, no Brasil, leva no mínimo 6 meses. Após a licitação, ocorre um período de contratação, e só depois de todos esses processos a empresa contratada faz a instalação do canteiro para dar início às obras propriamente ditas", diz trecho da nota.

O MEC também ressaltou que não há atraso no repasse dos recursos, e que a responsabilidade pela execução das obras é de estados e municípios.

Em dezembro, o GLOBO mostrou que, de 46 promessas assumidas pela então candidata Dilma, em 2010, pelo menos metade ainda estava longe de sair do papel. Na época, o MEC destacou o elevado número de quadras aprovadas, mas não detalhou quantas tinham sido concluídas ou estavam em construção.

Fonte: O Globo

Apagão atinge 11 municípios do interior do Rio de Janeiro

Dois rios, um na Baixada e outro na Região Serrana, seguem em estado de alerta máximo para transbordamento

RIO — A chuva que atingiu o estado na madrugada deste domingo deixa ao menos 11 cidades do interior sem luz. Além disso, dois rios estão em alerta máximo, de acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), estão nesta situação os rios Quitandinha, em Petrópolis, e Capivari, que passa por Duque de Caxias e Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Os municípios atingidos pela falta de energia são: Saquarema, Araruama, Armação dos Búzios, São Pedro da Aldeia, Macaé, Carapebus, Rio das Ostras, São Gonçalo, Itaboraí, Angra dos Reis e Petrópolis. A Ampla, empresa responsável pela distribuição de energias nestas cidades, diz que está trabalhando para solucionar os problemas o quanto antes.

Ainda na Baixada, o rio Sarapuí está em estágio de atenção, segundo o sistema de alerta de cheias do Inea. Durante a madrugada, o instituto chegou a colocar o Rio Grande, no município de Bom Jardim, em alerta máximo para o risco de transbordamento.

Por causa do temporal, uma árvore caiu no quilômetro 99 da RJ-116 (Itaboraí-Nova Friburgo), na localidade de Banquete, em Nova Friburgo. O tráfego de veículos foi suspenso no trecho. Agentes da concessionária que administra a via trabalham para retirar a árvore da pista.

Durante a madrugada, os bairros Neves e Boaçu, em São Gonçalo, também ficaram sem luz. No Rio, moradores de ruas da Tijuca, como Alzira Brandão, Campos Salles, sofreram com o mesmo problema.

A chuva que atingiu a cidade no início da noite deste sábado deixou bolsões de água na Estrada das Canárias, na Ilha do Governador, obrigando motoristas que trafegam na região a redobrarem a atenção. Além da pista alagada, o motorista também enfrentou problemas devido à falta de iluminação num trecho da via.

Havia também pontos às escuras na Avenida Brasil, na altura do bairro de Manguinhos, onde equipes da Light realizaram reparos. Já na Linha Vermelha, altura do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o motorista também encontrou problemas com a falta de iluminação.

Fonte: O Globo.

Partidos cobram do Planalto a fatura

Legendas aliadas reclamam o espaço prometido nas eleições municipais, quando cederam a vez na corrida pelas prefeituras

Karla Correia e Marcelo da Fonseca

Tão logo se resolvam as eleições das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, o governo terá que se debruçar sobre faturas políticas acumuladas desde os pleitos municipais do ano passado, resultantes, sobretudo, de acordos firmados com partidos aliados que cederam lugar na corrida pelas prefeituras. Com uma reforma ministerial mais discreta do que a desejada pela base, os mais de 20 cargos vagos ou com mandatos prestes a expirar distribuídos nas agências reguladoras passam a ser a menina dos olhos das legendas governistas em busca de mais espaço no governo federal.

O poder de ditar as regras sobre setores regulados da economia e um bolo orçamentário de mais de R$ 9 bilhões, se considerados os números de 2012, fazem das agências alvo comum da cobiça partidária. São, também, fonte de escândalos frequentes, como o desencandeado recentemente pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que defenestrou os diretores de Infraestrutura Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Vieira, e de Hidrologia da Agência Nacional de Águas, Paulo Vieira, ambos indicações políticas da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha.

As duas vagas permanecem em aberto. A demora do governo em preencher esses espaços é motivo constante de atrito entre a base e o Palácio do Planalto, hoje menos pródigo com as indicações políticas do que durante a administração de Luiz Inácio Lula da Silva. A irritação da bancada mineira do PMDB com a presidente Dilma Rousseff é um exemplo. Desde o início da atual gestão, o diretório estadual do partido sonha expandir seus horizontes para o setor de petróleo. Acalenta o desejo de ocupar a Diretoria Internacional da Petrobras e trabalha firmemente pela indicação de José Carlos Amigo, que foi gerente executivo da estatal para a América do Sul. Mira também uma das duas diretorias vagas da Agência Nacional do Petróleo (ANP). "Até agora, é só o silêncio. Está tudo congelado até as eleições para as mesas no Congresso", lamenta o deputado Antônio Andrade (PMDB-MG), presidente do diretório estadual do partido em Minas.

Sem espaço no governo, a bancada ameaça se descolar da base e apoiar o projeto de candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) ao Planalto em 2014. No ano passado, o vice-presidente Michel Temer chegou a vir a Minas para acalmar os ânimos da bancada. Mas, com a demora do governo em atender os pleitos aliados, o clima voltou a esquentar. "Temos um bom relacionamento com o Aécio e, por outro lado, nossa participação no governo federal é ínfima. Já existe uma ala do partido que é mais próxima do senador. Em uma circunstância como essa, por que não apoiar sua candidatura?", questiona Andrade.

PMDB e PT dividem a maior parte das indicações políticas nas agências e, em consequencia, travam os mais acirrados embates pelas vagas abertas. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é, hoje, um dos principais palcos dessa disputa. O PMDB perdeu uma vaga no donselho diretor da agência ao não emplacar a recondução de Emília Ribeiro. Ligada ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ela deixou a agência em novembro e até agora a vaga está aberta, objeto de uma queda de braço entre Sarney e o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que, se conseguir emplacar uma indicação, terá ascendência sobre todo o conselho da Anatel.

Indicações emperradas

Para todas essas as cadeiras vazias, os escolhidos terão que passar por sabatina na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado e por votação secreta em plenário antes de serem nomeados. Segundo o presidente da CCJ, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), as indicações para os cargos no Judiciário devem chegar para avaliação do grupo a partir da reabertura do Congresso. "Há uma resolução interna na CCJ que nos permite ler a indicação em uma semana e fazer a sabatina uma semana depois. Então, no Parlamento, não corremos o risco de ter adiamentos ou atrasos, mas dependemos exclusivamente da presidente. Mas ainda não tivemos indicações sobre as próximas nomeações", informou Eunício.

O senador ressalta que a demora nas indicações para os cargos vagos nas agências reguladoras é um problema que causa maior preocupação do que o acúmulo de sabatinas a serem marcados para a CCJ a partir de fevereiro. "Há dois anos não mandam indicações para cargos estratégicos na administração pública. Existe hoje um gargalo muito grande, já que praticamente todas as agências têm buracos ou são ocupadas por interinos. Nesse caso, não há como o Congresso se manifestar se as nomeações não acontecerem", cobrou. Segundo Eunício, o acúmulo de funções devido ao grande número de vagas abertas passou a ser comum nos órgãos, o que é considerado falta grave, uma vez que o serviço prestado à população acaba perdendo qualidade.

Fonte: Estado de Minas

O risco do desalento - Míriam Leitão

O que há de desanimador no noticiário político dos últimos dias é ver o vigor do arcaico. É difícil encontrar algo mais antigo na República do que o truque de os políticos explorarem o drama das secas do Nordeste. E é tudo tão parecido: famílias que dominam a política de estados pobres e que encontram uma forma de ganhar nos contratos das obras contra as secas.

O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) apresentou emendas que beneficiaram a empresa de Aluízio de Almeida, seu assessor, com recursos do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, cujo titular o deputado indicou. Ele se defendeu dizendo que nada sabia da empresa; já o funcionário se demitiu depois de 14 anos de bons serviços. Isso não sana as dúvidas em relação ao fato de uma empresa de fachada ter contratos milionários e um bode tomando conta da sede. O pobre do animal foi desalojado depois de fotografado na sede vazia da empresa.

O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas foi criado em 1909. Tem, portanto, mais de um século. Nesse período, enriqueceu muitas famílias da oligarquia nordestina. O órgão foi criado para aumentar a liquidez dos ricos e não para eliminar a aridez da vida dos pobres. Uma vasta seca voltou a machucar áreas do Nordeste, provando que um século não é o bastante.

O deputado faz sua campanha à bordo do avião do amigo e parceiro Newton Cardoso (PMDB-MG). Foi a várias capitais do país reunindo-se com os governadores e bancadas, num circuito cujo verdadeiro custo jamais se saberá.

O Senado será presidido novamente pelo conhecidíssimo Renan Calheiros (PMDB-AL), aquele que saiu do cargo em 2007 no meio do escândalo de um caso de promiscuidade explícita com empreiteira que pagava suas contas íntimas. Para se defender, ele apresentou notas frias de venda de gado. A liderança do PMDB, partido do vice-presidente, será do notório Eduardo Cunha (RJ), com tantos e tão controversos casos em sua ficha.

O Congresso se divorcia cada vez mais do sentimento do país. O futuro presidente da Câmara usa como argumento de defesa os seus 11 mandatos. Foi modesto. Deveria fazer até uma conta maior: com quantos mandatos de Alves se fez a política do seu estado nas últimas décadas.

Mais do que o Congresso, a política vai se distanciando dos cidadãos. Quadros que poderiam representar uma novidade repetem os velhos erros de relativizar valores. São Paulo vive uma situação surrealista pela união entre o prefeito Fernando Haddad e Paulo Maluf. O velho e conhecido político é influente na prefeitura a ponto de indicar secretários, mas ao mesmo tempo foi condenado pela Corte de Jersey a devolver R$ 58 milhões à prefeitura. Uma dualidade dessas, de fazer parte do consórcio do poder numa prefeitura à qual terá que indenizar por desvios é surrealista. Até quando o prefeito Fernando Haddad vai fingir que não vê essa fratura exposta?

Novos casos de Renan Calheiros voltam a aparecer no noticiário. A empreiteira Uchôa, de um empresário cujo irmão é sócio do filho de Renan, tem contratos milionários com a Caixa, no programa Minha Casa, Minha Vida. Não entrega as casas, mas a vida de todo o grupo Uchôa-Calheiros fica bem melhor.

A escolha de tais políticos para o comando do Senado, Câmara e liderança de um dos grandes partidos da coligação governista produz desalento. A indignação e revolta são sentimentos fortes, que mostram disposição de luta. O desalento é a véspera da desistência. É mais perigoso. Quando o eleitor vai sendo dominado por esse sentimento há o risco de que ele considere que nada disso vale o preço que custa aos cofres públicos. Esse é o maior dos prejuízos.

Fonte: O Globo

Monobloco - Dora Kramer

Normalmente governos governam e oposição faz campanha para vir a governar.

Por aqui é diferente: o governo faz campanha e a oposição, em sua extrema delicadeza, ajuda a governar. De vez em quando leva umas pancadas - na última foi acusada de traição à pátria -, mas nem assim fica esperta.

Por campanha eleitoral entenda-se não só o tom do pronunciamento em que a presidente Dilma Rousseff anunciou a redução das tarifas de energia elétrica, mas todo o gestual do ex-presidente Lula, do PT e da assessoria palaciana.

Fala-se na reeleição de Dilma como se o pleito fosse depois de amanhã. Fala-se em desentendimentos entre ela e Lula como se fossem adversários ou houvesse a mais pálida hipótese de virem a ser. Fala-se que o governador Eduardo Campos não será candidato a presidente como quem tem a posse do destino alheio. Fala-se que Aécio Neves só disputará o Planalto para valer em 2018, como quem se dá o direito de traçar o destino do vizinho.

Nada do que se diz, no entanto, tem a menor relevância porque as nuvens da política estão hoje de um jeito, amanhã de outro e daqui a dois anos sabe-se lá como estarão.

O que existe de concreto é só um jogo de ocupação de espaço e geração de uma atmosfera de continuidade inevitável, a fim de evitar que os ventos da expectativa de poder tomem outra direção: seja de Eduardo Campos, Aécio Neves, Marina Silva ou de quem quer que se apresente como alternativa.

A reafirmação contundente da candidatura de Dilma em 2014 cumpre o objetivo de impedir o esvaziamento político do mandato daqui até lá. A insinuação de que Lula pode vir a ser candidato no lugar dela ou até mesmo em 2018 tem a finalidade de sinalizar impossibilidade de alternância.

Já as supostas divergências entre o ex-presidente e a sucessora são apenas suposições. Eles podem até pensar diferente nessa ou naquela questão, mas o projeto tem um arquiteto chefe em cujas mãos estão a régua e o compasso.

Há o "lulismo", mas não há o "dilmismo". A não ser como expressão de um desejo - inútil, note-se - de separar criador e criatura. Dilma e o PT farão o que Lula disser que deve ser feito e certeza sobre o que fazer só haverá quando 2013 chegar ao fim e disser a que veio.

Por enquanto o que existe é uma governante com direito a concorrer à reeleição - o que só não acontecerá em situação excepcional - e o líder de um partido em seu mais confortável papel. Como ex-presidente Lula transita em toda parte, é reverenciado, gera fatos, continua como protagonista, distribui ordens e é obedecido. Tudo isso sem precisar disputar eleição nem correr o risco de perder.

Ou pior: ganhar e pôr em jogo o patrimônio conquistado em dois mandatos que o levaram ao topo.

Efeito colateral. O governo dá sorte para o azar quando faz da redução do preço da energia uma bandeira política. Desenha cenário feliz de preços mais baixos, sem se preocupar com o possível aumento do consumo que amanhã ou depois pode obrigá-lo a pedir moderação aos consumidores.

Dois senhores. Até outro dia mesmo ouvia-se no PSDB que o partido só aguardava a oficialização da entrega de um ministério ao PSD para formalizar o rompimento com o ex-prefeito Gilberto Kassab.

Mantida a decisão, vai se configurar uma situação inusitada, caso se confirme a indicação de Guilherme Afif Domingos para a pasta e, ainda assim, ele permaneça como vice-governador do tucano Geraldo Alckmin. Ou o PSDB recua ou convence Afif a renunciar ou se submete à esquisitice dessa dupla militância em nome dos acertos eleitorais para 2014.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Morte - Eliane Cantanhêde

Morte, morte, morte, morte, morte. É impressionante como o Brasil, que se escandaliza com as matanças em escolas e cinemas nos EUA, se acostumou com histórias cinematográficas de assassinatos em toda a parte do país.

O dono de um restaurante do litoral paulista esfaqueia e mata um cliente por causa de R$ 7. Um cliente faz o contrário no DF: liquida a tiros o dono de um "self-service" que não admitia restos no prato.

Uma moça em final de gravidez leva um tiro e morre. Por causa de uma mochila barata, uma adolescente é atingida, sem chance de socorro, em um bairro nobre paulistano.

Já uma menininha com uma bala na cabeça, mas com chance de sobreviver, espera por oito horas o cirurgião que não vem e acaba morrendo num hospital no Rio.

Um cidadão é morto, na frente da mulher e da enteada, por uma garota de 15 anos. Nada menos que 56 mulheres foram assassinadas no Paraná no ano passado.

E, numa periferia de Brasília, a cena macabra: as cabeças de um casal gay expostas no meio da rua, enquanto a casa deles vira cinzas.

Em São Paulo, os índices são chocantes: em 2012, os homicídios cresceram mais de 15% no Estado e 34%, numa versão, ou 40%, em outra, na capital. E são materializados nas chacinas e nas mortes em sequência de policiais.

O governo Alckmin gaba-se de que os índices ainda estão entre os melhores do país, mas isso não ameniza o fato de que a tendência de queda foi interrompida e de que a meta de 10 homicídios por 100 mil habitantes não foi atingida.

É preocupante para um candidato à reeleição em 2014, com Lula a mil por hora no seu encalço, mas é desesperador para a população que não sabe mais como morar, dirigir, andar -ou seja, como viver.

A jabuticaba, azeda como ela só, é que a onda de violência no país coincide com recordes de arrecadação de impostos: mais de R$ 1 trilhão.

Fonte: Folha de S. Paulo

O peculiar ‘espírito público’ do PT – O Estado de S. Paulo / Editorial

Em termos singelos, ter espírito público significa colocar os interesses da comunidade acima de interesses pessoais ou de grupos.

No trato da coisa pública - por exemplo, no governo de um país - a aplicação rigorosa desse princípio é fundamento indispensável, porque os interesses nacionais nem sempre coincidem com os interesses ocasionais dos grupos políticos que empolgam o poder. Estes tendem a priorizar ações governa¬mentais que favoreçam sua ambição - nem por isso menos legítima - de se manter no poder.

A isso se dá o nome de interesse eleitoral. Do bom governante espera-se a coragem de fazer o que pre¬cisa ser feito em benefício do bem comum, o que eventualmente - principalmente em situações de cri¬se - implica adotar medidas que contrariem os interesses eleitorais imediatos dos grupos políticos que o sustentam.

Em outras palavras, não dá para governar cumprindo exclusivamente uma agenda artificial de boas notícias talhadas sob medida para ali¬mentar campanhas eleitorais. Fazer um país andar para a frente não é responsabilidade apenas do governo, mas de toda a sociedade. Governar, portanto, significa envolver a sociedade no processo inevitavelmente difícil de construir o futuro.

A alternativa é o populismo, que reduz o cidadão à condição de eleitor manipulado por uma máquina de fabricar ilusões. Assim, um governo que se pretende democrático e progressista ou bem se conduz em obediência ao espírito público, ou bem cede à pressão dos interesses meno¬res e se rende ao populismo. Este é o grande dilema que o governo de Dilma Rousseff enfrenta ao ingressar na segunda metade de seu mandato.

As lideranças do PT - partido que nasceu "ideológico" e no poder se tornou deslavadamente populista - andam extremamente preocupadas com os rumos do governo Dilma. O cumprimento das metas otimistas triunfalmente anunciadas, especial-mente na área econômica, é no mo¬mento a grande pedra no sapato dos mais influentes líderes petistas, segundo revela o jornal Valor (17/1). E essa preocupação é agrava¬da pelo fato de que todos consideram que, a partir de agora, a campanha presidencial de 2014 está nas ruas e é imprescindível, portanto, atentar para o efeito eleitoral das principais ações governamentais. Ou seja, "sincronizar as agendas do PT, do Lula e da Dilma". E é aí, evidentemente, para colocar a questão nos termos enunciados pelo alto dirigente petista citado pelo Valor, que PT, Lula e Dilma podem entrar em rota de colisão. A hipótese, no entanto, nos parece inteiramente improvável, a menos que a presidente imponha o espírito público na condução do governo.

O que parece bastante provável é que, nos próximos meses, a relação entre o governo e o principal partido que o apoia adquira certa tensão. Es¬tá claro que, a partir de agora, o PT não está interessado em governar o País, mas em vencer as eleições de 2014. É a inversão do princípio de que os partidos políticos querem ganhar eleições para chegar ao poder. O PT quer usar o poder para ganhar eleições e para tanto não hesitará em fazer rigorosamente tudo o que for necessário. Essa é sua visão mui¬to peculiar de espírito público.

Dessa perspectiva, Lula & Cia. têm de fato motivos de sobra para se preocuparem. Na contramão das pre¬visões otimistas de Dilma e, principalmente, do ministro Guido Mantega, a economia patina e cambaleia à custa de um amplo repertório de artifícios como incentivos fiscais, financiamento do consumo e imposição de freios ao reajuste do preço de serviços públicos.

A aparelhada máquina do governo dá demonstrações repetidas de enorme incompetência no cumprimento do cronograma de obras de impacto na área de infraestrututa, anuncia¬das como prioritárias. No setor de energia, o desempenho público do ministro Lobão seria cômico, se não fosse trágico, pois demonstra diariamente que não entende nada do as¬sunto ou é mal informado. Talvez os dois.

Nesse quadro, aguarda-se a "Visita" que Lula, de volta à cena política, fará a Dilma nos próximos dias. O encontro poderá marcar um episódio importante no confronto dos interesses do PT com o espírito público.

A caravana parte - Tereza Cruvinel

Melhor faria a oposição se, em vez de reclamar do tom eleitoral do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff sobre a redução da tarifa elétrica, acertasse logo os ponteiros internos e passasse sebo nas canelas para não largar muito atrasada. Pois enquanto os tucanos paulistas lançam amanhã um manifesto exigindo prévias, o que só pode significar uma disputa de José Serra com Aécio Neves pela candidatura presidencial, a caravana dilmista já tomou a estrada de 2014. Janeiro nem acabou, mas já foram realizados ou planejados os seguintes movimentos.

1- Dilma ganhou a batalha pela redução das tarifas e respondeu com um pronunciamento no melhor estilo “bateu, levou”. Há problemas estruturais no setor elétrico, mas os reservatórios estão se enchendo, afastando o risco de desabastecimento. A redução tarifária foi possível em percentuais até maiores do que o prometido. A fala de quarta-feira passada, em cadeia de rádio e TV, de fato lançou farpas contra os críticos, os céticos e os governos estaduais tucanos, que refugaram a renovação de concessões sob novas regras tarifárias. Não quer dizer que se manterá na linha de confronto, mas, no caso, a reação era necessária, diz um colaborador.

2- Na sexta-feira, enquanto Dilma participava de evento ao lado do governador tucano Geraldo Alckmin e do prefeito petista Fernando Haddad, no qual fez discurso ameno, mas tocou muito bumbo sobre as bondades de seu governo, o PT dava um passo importante. A tendência majoritária Construindo o Novo Brasil (CNB) decidiu apoiar a reeleição do deputado Rui Falcão para a presidência da sigla nas eleições diretas de outubro. Com isso, o PT chegará mais unido e coeso a 2014.

3- O ano passado terminou com os empresários reclamando de Dilma aonde podiam, especialmente junto ao ouvido de Lula. Ela deu início às conversas individuais com eles, nas quais defende a política econômica, promete diálogo e cobra investimentos, lembrando as concessões ao setor privado para a exploração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Na sexta-feira, enquanto o PSDB ameaçava processá-la, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que nunca foi próximo do governo, elogiava, em nota, a presidente e a redução das tarifas de energia.

4- Amanhã, o Planalto espera reunir cerca de 5 mil prefeitos em Brasília para ensinar a todos o caminho das pedras para parcerias com o governo federal. Claro que isso ajuda na retomada do crescimento, mas é óbvio também que Dilma lança a rede buscando apoios político-eleitorais. O PT aproveitará para reunir, à parte, seus próprios prefeitos, e com eles afinar o discurso.

5- Deixando de lamber a ferida do mensalão, o PT fará, talvez para fevereiro, quando completará 33 anos, mais provavelmente em março, porque o tempo está curto, um grande acontecimento para marcar os 10 anos de “governos petistas com mudanças para o Brasil”.

6- Em outra frente, o aliado principal, o PMDB, caminha para eleger os presidentes da Câmara e do Senado. Os candidatos enfrentam denúncias e Dilma finge não apoiá-los, mas está em curso o cumprimento de um acordo que consolidará a coalizão. A seguir, Dilma amarrará o PSD ao governo, colocando ninguém menos que vice de Geraldo Alckmin, Guilherme Afif Domingos, na Esplanada. Resta o enigma Eduardo Campos/PSB, que, pelo menos este ano, se manterão na base dilmista.

7- Para completar, Dilma e Lula tiveram uma boa conversa na sexta-feira. Ele elogiou o pronunciamento dela e reiterou que entrará em campo para ajudá-la a se reeleger.

Diante deste quadro, a oposição não devia se dar ao luxo da disputa interna. Aécio mira corretamente em Dilma e na economia, mas continua lhe faltando a ordem unida no PSDB.

Alguma luz

O PT teve sete anos para dar sua versão do mensalão, mas não o fez, subestimando a pressão externa sobre o STF. Outros se esforçam para iluminar as passagens mais obscuras do julgamento. A revista Retrato do Brasil, dirigida pelo jornalista Raimundo Pereira, traz, em sua última edição, uma sólida demonstração de que a verba publicitária da Visanet, de R$ 71 milhões, que, segundo a acusação e o STF, foi desviada para o valerioduto e disfarçada pelos empréstimos do Banco Rural, efetivamente pagou campanhas dos cartões Ourocard/Visa. Os repórteres mergulharam nos autos, cuja organização definem como balbúrdia, e encontraram os demonstrativos em apensos separados do volume que trata do assunto, aparentemente não lidos pelos ministros. Estão documentadas campanhas para rádio, TV, mídia impressa e mobiliário urbano, expressão que, em publicidade, refere-se a outdoors e painéis em ruas e outros locais públicos. A acusação entendeu que houve desvio para compra de móveis.

Diretas quando?

Na quinta-feira, 31, a nova direção nacional da OAB será eleita pelo seleto colegiado de 81 conselheiros. Para uma entidade que apoiou as Diretas Já e é historicamente comprometida com a democracia, um contra-senso. Se depender do candidato Alberto de Paula Machado, esta será a última eleição indireta. Seu adversário, Marcus Vinicius Furtado Lobo, não se pronunciou a respeito.

Fonte: Correio Braziliense

O apartidarismo no Brasil - Gaudêncio Torquato*

A pesquisa do Ibope, solicitada por este jornal, dando conta de que, ao final de 2012, 56% dos brasileiros não tinham nenhuma preferência partidária é mais um atestado de aversão da sociedade ao nosso modelo político. Não se trata, como se pode apressadamente concluir, de o desinteresse pela política ter declinado desde 1988, quando apenas 38% alegavam desinteresse por alguma sigla. Uma coisa é abjeção à geleia partidária, fruto de um jogo político mais embaciado, outra é a expansão da cidadania ativa, que se manifesta no engajamento do cidadão no processo político. Não há contradição entre as hipóteses.

O distanciamento entre a esfera social e a constelação partidária é, de certa forma, consequência do ativismo de núcleos que se organizam em defesa de interesses. Igualdade de gêneros, demandas de categorias profissionais, regulamentação de direitos de setores no escopo da Constituição de 88 e, nos últimos tempos, aceso debate sobre temas controversos e de impacto - aborto, eutanásia, experiências com células-tronco embrionárias, união civil de pessoas do mesmo sexo, descriminação das drogas - têm contribuído para adensar o engajamento político da sociedade. Ou seja, o discurso social eleva-se na esteira de maior participação política de grupos (cidadania ativa), enquanto a vida partidária se "uniformiza no cinzento", para usar imagem do sociólogo Roger-Gérard Schwartzenberg. Esse é o vácuo que o corpo político teima em não enxergar. Vemos, de um lado, o pulsar da vida social, energias criadoras em busca de avanços na modelagem do bem-estar comunitário, e, de outro, uma engrenagem partidária que não acompanha os desafios da modernidade.

É fato que a debilidade de partidos, aqui e alhures, é consequência de fenômenos que, ao longo das últimas três décadas, abalam os sistemas políticos, entre os quais o declínio das ideologias, o desinteresse de eleitores, a perda de poder dos Parlamentos e o enfraquecimento das oposições. Tudo isso decorre do arrefecimento de antagonismos de classes, característica da era da expansão econômica. Há, pois, um imenso arco de vetores a explicar a fragilidade dos atores partidários no cenário mundial. Se a pasteurização das siglas, todas assemelhadas, ganha mais densidade entre nós, é porque elas não têm sabido canalizar as aspirações sociais e promover a mudança em práticas e costumes.

Mas o que podemos ver, ao longo de nossa História, são partidos com fortes definições doutrinárias. Recorde-se a UDN, nascida em 1945, congregando a alta burguesia e a classe média urbana, identificada com as elites econômicas, apego ao moralismo, defesa do capital estrangeiro e da iniciativa privada. Rivalizando com ela, o velho PSD, cuja identificação com os grandes proprietários rurais lhe conferia feição ultraconservadora e de trincheira getulista. Ou mesmo o PTB, fundado sob inspiração do Partido Trabalhista inglês, reunindo operários fabris e lideranças sindicais, sob o controle de Getúlio Vargas. Todos eram facilmente perceptíveis.

Voltando mais ao passado, em 1922 tínhamos o PCB, liderado por Luiz Carlos Prestes e vinculado à 3.ª Internacional Comunista, com sede em Moscou. Em 1932 via-se a Ação Integralista Brasileira, inspirada no movimento fascista italiano e na Falange Espanhola, sob o comando de Plínio Salgado. Ambos tinham como meta a deposição do regime getulista. Proibidos os partidos durante o Estado Novo, voltaram à vida institucional em 1945, quando a política passou a conviver com a polarização entre UDN (antigetulista) e PSD-PTB (getulistas).

Os mais velhos se lembram dos tempos heroicos do MDB, criado em 1966, que ganhou prestígio e admiração ao se firmar como legenda de oposição à ditadura militar. O partido colecionou grandes derrotas até 1974, quando lhe coube ocupar quase três quartos das vagas em disputa para o Senado e duplicar sua bancada na Câmara dos Deputados. Ganhando um P em 1980, o partido foi melhorando o desempenho até se transformar no ancoradouro das aspirações sociais. No governo Sarney, em novembro de 1986 atingiu o clímax de sua história política, elegendo 22 governadores - só foi derrotado em Sergipe. O que aconteceu com o PMDB, que ainda é o maior partido brasileiro? E com o PT, fundado em 1980 sob a inspiração da mudança política e canalizando expectativas das massas marginalizadas? A pesquisa Ibope mostra que ainda é o partido mais popular no País, com 24% da preferência dos eleitores, mas também o que mais perdeu prestígio - em março de 2010 tinha a preferência de 33%.

O que explica o descolamento de simpatizantes das siglas que os abrigavam? A par do declínio dos mecanismos clássicos da política e da expansão econômica, que desmobilizam as massas, o que se observa é a pulverização de siglas. Como mosaicos na parede, fica difícil distinguir características e diferenças, mesmo em partidos estruturados de maneira vertical, como o PT, que organizam discursos, realizam congressos, obedecem à hierarquia e dão obrigações à militância.

Dá para acreditar numa aliança pela moralidade entre PSOL e DEM, o primeiro identificado com um ponto, à esquerda, e o segundo, com um contraponto, à direita? Pois essa parceria foi feita na última eleição para a prefeitura de Macapá. E a imagem de vestal que até há pouco tempo o PT usava para se mostrar diferente no espectro partidário? Todos os grandes e médios partidos foram chamuscados por fogueiras formadas pela lenha de escândalos, malversações e desvios de conduta.

Ademais, as demandas sociais batem cada vez mais à porta dos Executivos e de seus tecnocratas. A representação política já não tem a força de outrora para realizar compromissos com parcelas da sociedade. A tosca feição partidária tolhe o ânimo social. O que explica a tendência de expansão do apartidarismo no País.

* Jornalista, professor titular da USP.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A busca da felicidade - Merval Pereira

Ao mesmo tempo em que discute os temas econômicos mais atuais, o Fórum Econômico Mundial abre espaços, há alguns anos, para debates paralelos, e, este ano, um deles foi dedicado a discutir como incluir a felicidade e o bem-estar dos cidadãos na medida da prosperidade de um país, para além do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB). Entre os debatedores, os economistas Jeffrey Sachs, da Universidade Columbia, e o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, além de Laura Chincilla, presidente da Costa Rica, um dos países mais felizes do mundo segundo pesquisas ainda incipientes sobre o tema.

O resultado dessa pesquisa fez Sachs ressaltar que os países escandinavos aparecem nos quatro primeiros lugares (Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia), na frente de países da Europa mais ricos e dos Estados Unidos. O Brasil aparece em várias pesquisas entre os mais felizes. Mas o que faz um país feliz?

Paul Dolan, professor de Ciência do Comportamento da London School of Economics, e Oliver Harrison, diretor de Estratégia da Autoridade de Saúde de Abu Dhabi, escreveram um artigo para o blog do Fórum Econômico Mundial onde afirmam que "uma vida boa tem que ser medida individualmente." Há evidências científicas de que um povo mais feliz é mais saudável, produtivo e mais resistente a choques externos, como desemprego.

Não é apenas o Butão que usa a medida da felicidade. A Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países mais desenvolvidos do mundo, está fazendo pesquisas para medir o bem-estar das populações, assim como o Reino Unido já está monitorando esse estado de espírito da população.

O economista Joseph Stiglitz diz que não sabemos ainda fazer boas medições sobre as diversas dimensões do progresso, e ele está convencido de que o PIB não é uma boa medida da felicidade do povo. O PIB pode crescer e o indivíduo não sentir o impacto em sua vida, pois o PIB per capita "é apenas uma estatística". Ele lembra que a produtividade do setor público não é medida, nem o sentimento de insegurança, assim como diversas outras dimensões que afetam a vida das pessoas. Há pesquisas que mostram que, no mundo atual, a conectividade é fundamental para o bem-estar das pessoas.

A presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, deu um exemplo do que seu país faz para aumentar a taxa de felicidade. Disse que o país poderia crescer mais que os 5% do PIB que vem conseguindo, em média, nos últimos anos, mas que não aprofunda a exploração de recursos naturais, como petróleo e gás, para manter o meio ambiente preservado. Com relação ao trabalho, disse que não basta ter pleno emprego, mas que o número de horas trabalhadas permita tempo para o lazer, e que o número de mulheres empregadas seja proporcional à presença delas na sociedade. Empregos inseguros e baixos pagamentos não produzem trabalhadores felizes.

Jeffrey Sachs lembrou que só nos últimos 200 anos o mundo passou à fase da riqueza, e que apesar de décadas de crescimento quase não houve mudança no bem-estar. As mudanças climáticas estão acontecendo e é preciso salvar a humanidade. Foi lembrado que questões políticas impedem mudanças, e o exemplo do Partido Verde da Alemanha é característico disso. A tentativa de impor limites de velocidade nas autoestradas alemãs para evitar acidentes e poluir menos, nunca é aprovada porque pode afrontar o sentimento machista dos homens.

Stewart Wallis, diretor executivo da New Economics Foundation, falou de estudos recentes sobre felicidade, mostrando que fazem a combinação de sentimentos de curto e longo prazos. Um deles, feito com mil estudantes entre 13 e 16 anos, mostrou que atividades esportivas e musicais davam mais alegria. Sachs falou sobre modelos psicológicos usados para medir o bem-estar, e citou outra pesquisa que mostrou que os piores momentos do dia são quando você se encontra com seu chefe e a volta para casa com a dificuldade de transporte. Os melhores momentos são quando se está com os amigos e quando se faz amor.

Sachs lembrou que a procura da felicidade é registrada desde sempre, com Buda e Aristóteles, com a busca de uma vida virtuosa e a redução do sofrimento. Alcançar a felicidade é um trabalho de longo prazo.

Fonte: O Globo

Revisão de agenda - Celso Ming

O Banco Central devolveu a bola para o governo federal. Na Ata do Copom divulgada quinta-feira passou o recado de que o problema da economia brasileira não é falta de consumo; é falta de oferta, que não se resolve com mais afrouxamento monetário (política de juros). Esta é tarefa do governo; não do Banco Central.

Falta saber se esse diagnóstico é partilhado pelo resto do governo Dilma, especialmente pelas autoridades do Ministério da Fazenda, os turbinadores do consumo. Mesmo se não for, é necessário ainda verificar que pauzinhos o governo Dilma poderia mexer para reaquecer a oferta de bens e serviços, que continua exasperadamente modorrenta.

Antes de verificar quais políticas podem ser acionadas pelo governo para garantir um PIB mais alentado em 2013 e 2014, é preciso sublinhar que o Banco Central se recusa a desempenhar dupla função: a de combater a inflação e, ao mesmo tempo, a de garantir o aumento do emprego e da produção. E isso contraria o que têm pedido setores importantes do governo federal. (Não faz mesmo sentido tentar engajar o Banco Central num projeto de ampliação de postos de trabalho, num ambiente que já é de pleno emprego.)

O Banco Central adverte para a necessidade de restabelecer a confiança (parágrafo 26 da Ata) - com o que fica admitido que não há confiança suficiente na condução da política econômica e que isso emperra o setor produtivo.

Em termos gerais, o roteiro é o mesmo dos SSS apontados pela presidente Dilma no dia 18, em São Julião, Piauí: é garantir "crescimento sério, sustentável e sistemático". Como se faz isso é que são elas...

A primeira coisa é passar a firmeza de que o governo vai controlar suas finanças com rédea curta. Despesas soltas demais, como aconteceu em 2012, não passam firmeza. Somente puxam o consumo, que aquece demais a economia, produz inflação e puxa as importações. Nessas condições, o investidor se retrai porque identifica na inflação e na alta dos seus custos sintomas de deterioração dos fundamentos da economia.

As autoridades da área da Fazenda vêm agindo e recomendando o contrário. Querem aumento das despesas públicas para que operem como "política anticíclica". No entanto, não está funcionando a atual estratégia, de complementar uma política fiscal expansionista (mais despesas), com boa dose de paciência até que chegue a tão esperada virada do jogo.

A presidente Dilma terá agora de bater o martelo sobre o caminho a seguir: se aceita a nova recomendação do Banco Central ou se continua a fazer o jogo de sua equipe de desenvolvimentistas, que, além de não entregar o PIB vigoroso insistentemente prometido, ainda propõe mais consumo, que cria mais inflação.

Apenas austeridade fiscal é pouco. Não basta intensificar o plano de concessões em portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, energia elétrica e petróleo. Será preciso convencer. E o convencimento passa pela implantação de nova agenda: recomposição da capacidade de produção da Petrobrás; retirada das restrições ao investimento estrangeiro; remoção da burocracia que bloqueia a rápida imigração de mão de obra especializada e a retomada das reformas: tributária, das leis trabalhistas e reforma do Judiciário. A ver.

Fonte: O Estado de S. Paulo