Às vésperas do segundo
turno, José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) trocam ofensas e acusações de
uso de material apócrifo. Tucanos chamaram o petista de "delinquente"
Para Haddad, Serra faz "jogo rasteiro".
Baixaria
na maior cidade do país
Às vésperas do 2º turno, ofensas e acusações apócrifas proliferam na
campanha em SP
Maria Lima, Marcelle Ribeiro
Apócrifo. Cartaz vinculando Serra à violência contra pobres; tucanos acusam,
mas petistas negam autoria do material
Ataque. Site falso sobre Haddad: criado por empresa contratada por campanha
tucana, segundo provedor de internet
SÃO PAULO - Às vésperas do segundo turno, a disputa pela prefeitura de São
Paulo descambou para a baixaria total. Enquanto os tucanos acusam a campanha do
petista Fernando Haddad de espalhar pela cidade cartazes com foto de José Serra
mirando com uma espingarda e vinculando o candidato ao extermínio de jovens
pobres e negros, os advogados da campanha do PT entraram com representação na
Justiça Eleitoral contra a coligação de Serra e a empresa Soluções Originais em
Desenvolvimento e Arte Ltda. (Soda), contratada pelo PSDB e que criou um site
falso com ataques a Haddad.
Ao longo do dia, numa guerra de notas e em entrevistas, Serra e Haddad
trocaram ofensas. Os tucanos chamaram Haddad de delinquente por disseminar
falsas acusações. Os petistas negaram a confecção dos cartazes apócrifos, e o
candidato do partido disse que as baixarias de Serra passaram dos limites.
Os cartazes com a foto de Serra empunhando uma espingarda, com os dizeres
"Serra é cúmplice do extermínio da juventude negra e pobre", foram
pregados ao longo do muro do Cemitério da Consolação, em Higienópolis e outras
regiões de São Paulo. A cidade vive uma guerra entre o crime organizado e a
polícia. Também foram espalhadas faixas em viadutos com a inscrição "Serra
nunca mais".
No meio da tarde, a coordenação da campanha de Serra divulgou duas notas
repudiando o que chamou de agressão e baixaria. "Quem quer ser prefeito de
São Paulo não pode se apresentar como um delinquente que não respeita as
leis". "O cinismo do PT prega na TV uma campanha sem ataques, mas
utiliza material sem nome da coligação e sem CNPJ. Os recursos desses
materiais, seguramente, não são legais".
- A especialidade do PT é fazer o jogo baixo e acusar a gente de jogar
baixo. Ficam batendo numa mentira até que pareça verdade. Isso é uma infâmia! -
protestou Serra no meio da tarde.
Haddad: "jogo rasteiro" de Serra
Do lado petista, a reação foi contra a criação de site falso com ataques a
Haddad, com supostas propostas do petista. A representação contra Serra foi
protocolada ontem no Tribunal Regional Eleitoral, depois que o provedor de
internet GVT confirmou que a empresa Soda, com sede em João Pessoa (PB) e
contratada pela campanha tucana, era a responsável pela criação do site
apócrifo "Propostas Haddad 13". O endereço falso já tinha sido
retirado do ar no dia 18 por determinação judicial. O visual era similar ao do
site oficial da campanha de Haddad.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, a Soda recebeu R$ 531
mil da campanha e do comitê financeiro de Serra para prestar serviços de
"criação e inclusão de páginas na internet". Em nota, os petistas
disseram que "mais uma farsa do Serra vem a público" e que "o
tucano desperdiça energias criando panfletos apócrifos, mentirosos e ofensivos".
- Se você fizer um repertório de tudo o que fizemos chegar ao conhecimento
das autoridades, sites falsos, boatos falsos, panfletos apócrifos... Eu não
entendo como é que alguém, com tantos anos de vida pública, dispõe-se a um jogo
tão rasteiro, faltando dois dias para a eleição. Realmente, está passando dos
limites! - reclamou Haddad.
Ao falar para moradores de rua e catadores de material reciclado, em
encontro promovido pelo padre Júlio Lancelotti na Casa de Oração do Povo de
Rua, na manhã de ontem, Haddad disse que vem sofrendo nas mãos de Serra.
- Vocês são violentados nos seus direitos todo santo dia. Eu só estou sendo
nos 60 dias da campanha. Eu me solidarizo com vocês, porque eu senti o gostinho
do que é sofrer na mão desse cidadão (Serra). Ele não respeita a democracia.
Democracia não é isso - provocou Haddad.
À frente nas pesquisas de intenção de voto produzidas por Ibope e Datafolha,
o petista negou que já considere a vitória assegurada na disputa de segundo
turno:
- Eu não trabalho com isso. Trabalho com campanha, sei que o eleitor vai
decidir domingo (amanhã). Respeito o eleitor. Tenho humildade em relação a isso
- disse Haddad.
Serra, por sua vez, mostrou confiança de que ainda pode virar o jogo das
pesquisas.
- O que eu previa aconteceu. É uma campanha dura. O PT está jogando toda sua
máquina aqui, tem o peso da máquina federal, há uso e abuso da máquina pública
com ministros e a presidente usando o avião oficial, o que deve custar no
mínimo R$ 1 milhão. Usam e abusam da baixaria. Mas creio que vamos chegar lá -
disse Serra antes do debate da TV Globo na noite de ontem.
Colaborou: Juliana Dal Piva
Fonte: O Globo