quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Bolsas para ensino médio e Enem são meros paliativos

O Globo

Medidas ajudam, mas, para atrair os jovens às escolas, seria melhor aprovar a reforma que continua parada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou nesta semana a lei criando o programa Pé-de-Meia, que concede bolsas para alunos de baixa renda permanecerem no ensino médio. A evasão nesse segmento tem desafiado gestores. Ao mesmo tempo, o governo pretende pagar um bônus a estudantes do terceiro ano que prestarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujo esvaziamento também tem preocupado o MEC.

Pelo projeto, alunos da rede pública de famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) receberão uma ajuda mensal e uma poupança anual para permanecer no ensino médio. O dinheiro acumulado nos três anos poderá ser usado após a conclusão do curso. De acordo com o MEC, os valores a pagar dependerão de negociação com os estados. Para usufruir o benefício, os alunos precisarão ter frequência mínima de 80% nas aulas.

Assis Moreira * - Desafios no comércio Brasil-UE neste ano

Valor Econômico

Os campos econômico e comercial em 2024 continuarão marcados pelo cruzamento entre comércio e outros temas, com suspeitas de boa dose de protecionismo

As negociações do acordo Mercosul-União Europeia (UE) continuam na agenda neste ano, com poucas chances de prosperar. Também o aprofundamento da Parceria Estratégica Brasil-UE, que poderia explorar mais áreas como energias renováveis e agenda digital, enfrenta cenário desafiador.

Este será um ano atípico na agenda europeia. Haverá eleições europeias entre 6 e 9 de junho, em meio ao avanço da direita dura em vários países. Essas eleições definirão a nova composição do Parlamento Europeu para 2024-2029 e as novas autoridades europeias.

Esse processo eleitoral vai desacelerar as atividades nas instituições europeias já em abril, e isso vai até setembro, quando se espera a definição na Comissão Europeia, o braço executivo da UE, de seu presidente e todos seus comissários. A UE se voltará nesse período para questões internas. A agenda será centrada na invasão da Ucrânia pela Rússia e intensificação de discussões sobre adesão de novos membros da UE, incluindo a própria Ucrânia.

Merval Pereira - Trump já dita o rumo

O Globo

A decadência ocidental seria aprofundada com o retorno de Trump ao poder nos Estados Unidos com uma política voltada para dentro, sem levar em conta sua responsabilidade com o Ocidente.

A possibilidade cada vez mais concreta de que Donald Trump venha a ser eleito novamente presidente dos Estados Unidos desarranja toda a organização internacional, hoje submetida a uma lógica que esbarra na imprevisibilidade do futuro líder americano e levaria a uma decadência do mundo ocidental como nós conhecemos.

O desprezo de Trump pela Otan e sua indissimulável simpatia por autocratas como Putin levam a ser provável que a Ucrânia perca o apoio na guerra contra a invasão russa. Trump disse que a guerra não drenaria tanto dinheiro dos Estados Unidos — o que provoca a reação do eleitorado conservador —, pois ele se entenderia com Putin.

Trump também já demonstrou aonde pode chegar ao revelar uma conversa com o presidente francês Emmanuel Macron em que supostamente o humilhou, realimentando a humilhação com a divulgação pública anos depois. Jactando-se, disse que ameaçou a França com a taxação de 100% das importações de vinhos se Macron não desistisse de taxar manufaturados americanos, conseguindo dobrar o presidente francês.

William Waack - O futuro distante

O Estado de S. Paulo

O Brasil oferece a imagem de um país que não sabe explorar seu potencial

Para um estrangeiro participando do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o Brasil não deve ter sido um país fácil de ser decifrado. Num mesmo dia ele ouviu do ministro de Minas e Energia que o petróleo continuará sendo – e muito – explorado. E da ministra do Meio Ambiente que negará permissões para mais exploração de petróleo.

Ouviu de ambos que o Brasil é “a” solução para o investimento privado na transição de energia (leia-se economia verde). Seria por tentar ressuscitar o capitalismo de Estado e projetos estatais da velha indústria pesada, com seu direcionamento para os tais “campeões nacionais”, como desconfia o Financial Times (muito lido pela turma que frequenta Davos), que seja a aposta do presidente Lula?

Felipe Salto* - O cheque sem fundo do Congresso

O Estado de S. Paulo

A desoneração da folha é uma medida sem efeito sobre emprego, renda e crescimento. Mesmo assim, o Congresso decidiu impor ao País um custo de R$ 20 bi

É direito do Congresso Nacional derrubar qualquer veto presidencial. Foi o que ocorreu no caso do veto ao Projeto de Lei n.º 334, de 2023, que prorrogava a desoneração da folha de pagamentos e reduzia a alíquota de contribuição previdenciária de parte dos municípios. Contudo, essa decisão do Congresso foi intempestiva, pois levou à promulgação da Lei n.º 14.784, em dezembro de 2023, um cheque sem fundos de cerca de R$ 20 bilhões. Só que o Orçamento público não aceita fiado.

A desoneração da folha é uma medida sem efeito sobre o emprego, a renda e o crescimento econômico. Mesmo assim, o Congresso decidiu rejeitar o veto presidencial e impor ao País um custo de cerca de R$ 20 bilhões. Pior, não mostrou como a conta seria paga, em desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal.

A Lei Orçamentária Anual não previa recursos para essas duas finalidades – a prorrogação da desoneração da folha para 17 setores de atividade econômica e a redução da alíquota de contribuição previdenciária para um conjunto de municípios (aqueles que utilizam o regime geral da Previdência para seus servidores). O Congresso, depois de garfar R$ 53 bilhões em emendas, no processo orçamentário, deu ao governo mais esse presente de grego.

Roberto Macedo* - Economia: notícias boas, exceto sobre o PIB de 2024

O Estado de S. Paulo

O Brasil continuará sonhando com um futuro que não chega, tal como a Argentina sonha com um passado que não volta

A virada do ano veio com vários artigos enaltecendo bons aspectos da economia, mas ficou de fora o problema mais sério, o fraco crescimento do PIB previsto para 2024, de apenas 1,5% no ano, metade do crescimento perto de 3% estimado para 2023.

Passemos às boas notícias. O IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, que é também o índicemeta da política monetária do Banco Central (BC), fechou 2023 com uma taxa anual de 4,62% e ficou dentro da meta com centro na taxa de 3,25% e teto de 4,75%. Nos dois anos anteriores, esse índice superou o teto com taxas de 5,79% em 2022 e 10,05% em 2021. Ou seja, inflação anual em queda.

A taxa Selic, operada pelo BC de olho na inflação, iniciou 2023 em 13,75% ao ano e terminou em 11,75%, num movimento de queda, ainda que mantida em nível muito alto, mais que o dobro da inflação apontada acima. Notícia boa, mas que poderia ter sido melhor, não fosse a teimosia do BC.

O dólar terminou 2023 cotado em R$ 4,84 e havia começado em R$ 5,34, com a mudança refletindo valorização do real. Um forte superávit comercial, perto de US$ 100 bilhões, trouxe mais dólares para o Brasil, contribuindo para essa valorização, com o que foi possível manter as reservas externas elevadas, perto de US$ 350 bilhões. E veio o aumento da nota de crédito do País pela Standard & Poor’s.

Vinicius Torres Freire - Ano de decisões difíceis para Lula

Folha de S. Paulo

Presidente terá de definir meta de déficit, crucial para seu mandato, e gastos em saúde e educação

O que vai dar o tom do governo neste 2024?

Em 2023, Luiz Inácio Lula da Silva dedicou-se a reconstruir a política externa, deixada em ruínas pelas trevas de 2019-22. Promoveu grande aumento de gasto, quase todo dedicado a aumentar a renda de pobres. De modo improvisado e aos trancos, estabeleceu relações com um Congresso dominado pela direita de modo inédito.

O presidente referendou a política econômica de Fernando Haddad quase inteira, apesar dos incompreensíveis e contraproducentes ataques às políticas de controle de inflação e do déficit do governo federal.

Neste ano, Lula viajará mais, em palavras e aviões, com o objetivo de cuidar de seu partido e de aliados nas eleições municipais. Não haverá aumento relevante de gasto para os mais pobres.

O Congresso estará mais indócil também por causa da eleição municipal e, mais circunstancialmente, porque Lula e Haddad quiseram derrubar por decreto uma decisão reiterada dos parlamentares (que prorrogaram a redução de impostos sobre folha de pagamento de empresas).

Maria Hermínia Tavares* - Aposta de alto risco

Folha de S. Paulo

Decisão de Lula não foi um passo inédito, nem resultado, sobretudo, da indignação com o drama palestino

O maior problema criado pelo apoio brasileiro à denúncia contra Israel, feita pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ) não é a adesão aberta à ideia controversa de que em Gaza ocorre um genocídio. Afinal, há espaço para discutir como designar o massacre de civis palestinos pelo Exército israelense, que sobrepassa o legítimo exercício do direito de defesa do país diante do selvagem ataque do Hamas, em 7/10.

A decisão do presidente Lula não foi um passo inédito, nem resultado, sobretudo, da indignação com o drama palestino. Outras tragédias humanitárias correm mundo —e o entorno do país— sem que ele julgasse necessário manifestar seu repúdio.

Conrado Hübner Mendes* - 'Perderam, manés'

Folha de S. Paulo

Gravidade limítrofe do 8 de janeiro virou pretexto para repressão geral a protestos

modesta reação do Estado brasileiro à tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 representa um pequeno passo para a democracia, um grande salto para a bestialidade. Ou pelo menos um novo salto para a continuidade de uma longa história de ilusionismo verbal e eufemismos que, a pretexto de "pacificar", preservam incentivos à delinquência política. Na nossa tradição da pacificação, cabe mais violência do que direitos.

A principal dúvida para a celebração de um ano da tentativa de golpe militar, aparentemente, foi estilística. Alguns queriam dar à cerimônia o título de "democracia restaurada". Arthur Lira, presente nos palanques de Bolsonaro, pediu "democracia inabalada", pois se recusou a enxergar qualquer ameaça ou dano a ser consertado. E venceu, inabalado.

Se honestidade fosse marca da verborragia política, o evento poderia se chamar "democracia emasculada". Ou então democracia impedida, algemada: a indisposição, por fraqueza de vontade ou de força, para punir crimes do poder político, econômico e militar.

Perderam os manés e lambaris, as manicures e caminhoneiros, condenados à prisão por "atentado à democracia". Celebraram os barões, patrões e tubarões, fardados ou engravatados, com ou sem coturno. Liberados para a reincidência, já já podem voltar a conspirar contra eleições livres.

Bruno Boghossian - O esqueleto de Abreu e Lima

Folha de S. Paulo

Apesar de interesse político e desejo de desforra, presidente poderia evitar assombrações do passado

Antes de embarcar para Havana, em setembro, Lula encomendou uma escala em Pernambuco. O presidente queria anunciar um investimento bilionário na refinaria Abreu e Lima. Não houve tempo para organizar o evento, a vida seguiu, e o projeto virou fato consumado. Mas o petista não desistiu de pisar ali.

Um misto de interesse político, desejo de desforra e excesso de confiança levará Lula a revirar o esqueleto de Abreu e Lima. O presidente viaja nesta quinta (18) para visitar as obras de expansão da refinaria.

Ruy Castro - Em casa, para sempre

Folha de S. Paulo

Em breve, as cinzas de Carlos Lyra farão parte do bioma da Lagoa Rodrigo de Freitas, como ele queria

Carlos Lyra, o mestre da bossa nova, morto no dia 16 de dezembro, descansa agora no cenário do Rio que ele mais amava: a Lagoa Rodrigo de Freitas. Ao contrário de Tom Jobim, cuja alma cantava quando Tom, do avião, via o Rio por inteiro, a dele se iluminava ao sair do túnel Rebouças e o espelho d’água se abria aos seus olhos. Foi às margens da Lagoa que Carlos passeou com sua mulher Magda Botafogo todos os dias, pelas últimas décadas, e decidiu que, ao morrer, queria ser cremado e ter as cinzas dispersadas ali. E assim, na quarta última (10), Magda e 15 íntimos do casal foram cumprir o seu desejo.

Raul Jungmann* - Segurança mineral

O Globo

Não existe solução de energia limpa que não demande minerais críticos para a sua concretização

Qualquer nação que almeje a sustentabilidade para proporcionar qualidade de vida a seus cidadãos necessita de alto nível de “segurança” em vários campos, a exemplo da segurança alimentar, energética, econômica, tecnológica, climática. Esta última enseja outra modalidade, a que chamo de segurança mineral. É a garantia decisiva para a continuidade da transição a uma economia de baixo carbono visando à superação da emergência climática, já que não existe solução de energia limpa que não demande minerais críticos para sua concretização.

A energia fotovoltaica requer muito cobre; a energia eólica, ferro; uma turbina eólica exige duas toneladas de minerais chamados “terras raras”; as redes de eletricidade precisam de grande oferta de cobre e alumínio. A eletrificação dos transportes deverá impulsionar a demanda por lítio em 965% até 2050 — além disso, um veículo elétrico necessita de 2,4 vezes mais cobre e 2,2 vezes mais manganês e dezenas de quilos de minérios não vistos no veículo tradicional, como níquel, lítio, grafita e cobalto, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

Poesia | Chopp no Bar Savoy - Carlos Pena Filho

 

Música | Almir Rouche - FREVO Nº 1 DO RECIFE - Antonio Maria - MADEIRA DO ROSARINHO - Capiba