sexta-feira, 26 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Sérgio Henriques: ‘assembleísmo’

Além do fato de o mundo virtual também estar atravessado de boas e más possibilidades, podendo gerar, no limite negativo, um "assembleísmo eletrônico" com todos os vícios do assembleísmo tradicional, resta a evidência de que a esquerda hegemônica não parece ter pela Carta de 1988 o apreço a que devem sentir-se convocados todos os cidadãos. Alguns dos seus dirigentes veem a crise como ocasião para "enfrentar a direita e levar o governo para a esquerda", ainda que, a rigor, não tenham nenhum projeto alternativo de País ou de sociedade. Enxergam o conflito social legítimo como oportunidade de processos constituintes espúrios ou plebiscitos mal-ajambrados, que supostamente reuniriam um Executivo ainda mais hipertrofiado e a massa da população, fora ou dentro das redes sociais - mas sempre ao largo das instituições.

Luiz Sérgio Henriques é tradutor, ensaísta e um dos organizadores da obra de Gramsci no Brasil. É vice- presidente da Fundação Astrojildo Pereira. In, “O legado de Armênio, agora”, O Estado de S. Paulo, 22/7/2013

Governo Dilma é pior avaliado no Rio, estado em que a presidente foi mais bem votada em 2010

Aprovação da gestão registrou queda de 24 pontos e caiu de55% para 31%

Reprovação ao estilo da presidente governar era de 25%, e agora subiu para 49%

Flávia Pierry, Isabel Braga

BRASÍLIA - A aprovação do governo Dilma Rousseff caiu 24 pontos, de acordo com pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), feita em parceria com o Ibope. No levantamento anterior, de junho, 55% dos entrevistados avaliaram o governo positivamente, fatia que caiu para 31% em dados divulgados nesta quinta-feira. Por estado, Dilma recebeu a pior avaliação no Rio de Janeiro, justamente a unidade da federação em que a atual presidente mais recebeu votos no 2º turno das eleições de 2010, quando obteve 60,5% (4,9 milhões de votos) no terceiro maior colégio eleitoral do país.


A aprovação do governo Dilma no estado é de apenas 19% (com respostas ótimo ou bom). Já o jeito de governar da presidente teve 38% de avaliações positivas no Rio de Janeiro, a quarta mais baixa. No caso da confiança na presidente, a pesquisa aponta que 38% dos fluminenses confiam em Dilma.

Além disso, cresceu a fatia de pessoas que consideram o governo ruim ou péssimo, passando de 13% das respostas em junho para 31% hoje. Outros 37% consideram o governo regular. Os dados do levantamento são afetados pelas manifestações e protestos que ocorrem em todo o país desde junho. A pesquisa anterior da CNI foi feita antes do começo dos protestos.

A avaliação pessoal da presidente também piorou. No levantamento anterior, 71% aprovavam o jeito de Dilma governar, agora esse dado caiu para 45%. Os que desaprovavam a presidente eram 25%, e agora esse número subiu para 49%.
A popularidade de Dilma é maior nos estados das regiões Nordeste e Norte/Centro-Oeste (elas aparecem juntas na pesquisa), com aprovação de 43% dos entrevistados. A menor popularidade é vista no Sudeste, com avaliação "bom ou ótimo" de 24% dos entrevistados.

Segundo a pesquisa, a aprovação do jeito de governar é maior no Nordeste (58%) e a mais baixa no Sudeste (aprovado por 37%). Além disso, 56% confiam na presidente no Nordeste, ao passo que do outro lado do espectro, no Sudeste, 37% confiam em Dilma.

O gerente-executivo da unidade de pesquisas da CNI, Renato Fonseca, afirma que a presidente ainda pode conseguir recuperar sua popularidade, mas que isso vai depender do que acontecer daqui para frente, em especial na educação.

— Recuperar é possível, até porque a queda neste mês foi muito influenciada pelas manifestações. É possível subir, mas não acredito que ao nível anterior. Vai depender da economia, do crescimento, do emprego. A indústria já está mostrando tendência de queda do emprego. Se a inflação continuar corroendo os salários, isso vai atingir a avaliação da presidente — disse Fonseca.

Pesquisa confirma queda após protestos

Esta é a quarta pesquisa, divulgada num intervalo de um mês, que aponta queda na popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff ou ainda recuo nas intenções de voto. No último dia 29 de junho, três semanas após o início dos protestos que ganharam as ruas do país, o Datafolha apontou que a porcentagem dos que consideravam sua gestão boa ou ótima foi de 57% para 30%.

Já no levantamento do Ibope da semana passada, e divulgado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, Dilma perdeu 28 pontos nas intenções de voto e viu sua popularidade cair de 58% para 30%. No mesmo cenário de disputa, Lula alcançaria 41%.

Já na pesquisa do Instituto MDA encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e divulgada no último dia 16 de julho, a popularidade do governo da presidente que era de 54,2% despencou para 31,3%.

Manifestações nas ruas

As manifestações foram avaliadas pela pesquisa, que aponta que apenas 9% dos entrevistados estiveram nos protestos. Porém, 89% são favoráveis a eles. Mais de 30% dos entrevistados reprovaram as respostas dadas pelos governantes e pelo Congresso aos protestos, apontou a pesquisa. A maior desaprovação foi dada às medidas adotadas pela Câmara, com 39% dos entrevistados avaliando negativamente, seguida pelas adotadas pelo Senado, desaprovadas por 37%. As medidas anunciadas por Dilma foram avaliadas negativamente por 31% das pessoas, sendo que a nota média dada à presidente foi de 4,0, em uma escala de 0 a dez.

As manifestações marcam o governo. Questionados sobre as notícias que mais marcam a gestão de Dilma, 63% dos entrevistados citaram as manifestações; 33% lembraram de notícias sobre as respostas do governo ou do Congresso para atender as demandas das ruas. Apenas 8% dos entrevistados lembraram da reforma política. A presidente Dilma sugeriu, no conjunto das medidas para a crise, consultar a população sobre a reforma política por meio de um plebiscito.

Saúde é área com pior desempenho

De acordo com a pesquisa, a saúde é a área do governo que registra o pior desempenho, sendo citada por 71% dos entrevistados. Uma das respostas dadas pela presidente Dilma às manifestações das ruas para essa área foi a criação do programa Mais Médicos, que tem medidas de levar médicos para o interior do país.

Em seguida, o pior desempenho do governo é apontado na área de segurança pública/violência, por 40% dos entrevistados. Educação vem em terceiro, com 37% das respostas.

O programa Minha Casa Minha Vida repercute positivamente na população. A área com melhor desempenho no governo Dilma é a habitação, indicada por 28% dos entrevistados. As ações de combate à fome e à miséria foram apontadas por 23% dos entrevistados

Segundo a CNI, a pesquisa foi feita entre 9 e 12 de julho, com 7.686 pessoas com mais de 16 anos de idade, em 434 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Fonte: O Globo

Falta de confiança em Dilma preocupa o Planalto

Eduardo Campos comemora popularidade; Cabral não quis falar

BRASÍLIA - Os números da pesquisa CNI/Ibope de ontem geraram comemoração entre os aliados do presidenciável Eduardo Campos, do PSB, e apreensão ou cautela entre boa parte dos demais avaliados, inclusive no Palácio do Planalto. Além da já conhecida queda de popularidade, alguns dados novos geraram preocupação, segundo fontes do governo. Em especial o que aponta que 50% dos entrevistados não confiam hoje na presidente, contra 45% que confiam. Esse conceito, de confiança na presidente, não havia sido divulgado em nenhuma das sondagens recentes.

Assim que soube dos números, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) comemorou como uma boa vitrine para o embate eleitoral na construção de sua candidatura presidencial. Ele liderou, com 58% de aprovação, a lista dos 11 governos avaliados.

- Esse resultado é um valor palpável e visível para usar no debate que será travado agora - disse Campos, nas conversas com seus aliados.

Para o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), não foram as manifestações de rua, mas os maus resultados e falhas de gestão que derrubaram a popularidade de governantes:

- O Eduardo já é um exemplo a ser seguido, e sua linha de frente, que não é de agora, deve-se à gestão com planejamento, metas e objetivos perseguidos. No nosso caso, os números do Ibope refletem os resultados, não conversa e promessas.

Cabral não se manifesta

O governador Sérgio Cabral, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não comentaria a pesquisa. O deputado Danilo Forte (PMDB-CE) admitiu que o mau desempenho de Cabral é ruim para o PMDB:

- É o maior estado que governamos. Mas acredito que ainda seja reflexo de o movimento das ruas ter continuado de forma mais consistente no Rio.

Thiago Hoffmann, secretário de Governo de Renato Casagrande (PSB-ES), que ficou com 29% de aprovação, preferiu comparar esse percentual com o de Dilma no estado.

- Se considerarmos a avaliação da presidente Dilma no estado, a do governador é bem superior. Ela ficou com apenas 21%.

O tucano Beto Richa, do Paraná, que ficou em segundo lugar entre os governadores mais bem avaliados, comemorou:

- Meio arranhado, mas estamos sobrevivendo ao terremoto. É a demonstração de que estamos governando com firmeza, austeridade. Acabou a fase do discurso fácil, da maquiagem. O povo quer agora resultados.

Outro tucano bem posicionado de acordo com os novos patamares, o mineiro Antonio Anastasia (36%) é cauteloso:

- Acredito que as manifestações tiveram reflexo na avaliação da população com relação a todos os governantes. Cabe aos governantes entender as mensagens que vêm das ruas.

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o segundo com pior avaliação, disse, em nota, que "o Ibope tem histórico ruim em Goiás" porque "os números de suas pesquisas locais quase nunca se confirmam". (Cristiane Jungblut, Junia Gama, Maria Lima e Paulo Celso Pereira)

Fonte: O Globo

Dilma decide com Lula não mexer na gestão

Após longa conversa com ex-presidente, ela pediu ajuda para conter o racha entre PT e PMDB e concluiu que não fará mudanças sob pressão.

Vera Rosa, Tania Monteiro

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff não cortará nenhum dos 39 ministérios nem pretende mexer no primeiro escalão agora. Em conversa de três horas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira, em Salvador, Dilma mostrou preocupação com a queda de popularidade do governo, registrada após as manifestações de rua de junho, mas disse que não vai ceder, nesse momento, a pressões por mudanças na equipe. Aportas fechadas houve muita reclamação sobre o comportamento cio aliado PMDB e também do PT, Não foi só: Dilma pediu ajuda a Lula para "enquadrar" o PT, que, no seu diagnóstico, não está colaborando co¬mo deveria para defender o governo e o plebiscito da reforma política. Para a presidente, divisões na seara petista è o coro do "Volta Lula"prejudicam a governabilidade.

Embora os números da pesquisa CNI/Ibope só tenham sido divulgados ontem, Dilma e Lula sabiam na reunião que a rejeição aos políticos afetaria a avaliação não só da petista, mas também dos governadores. Apreensiva, a presidente chegou a perguntar a auxiliares qual seria a repercussão na mídia da má avaliação do governo, em meio à visita do papa Francisco ao Brasil. O levantamento do Ibope mostra que o porcentual dos que consideram o governo Dilma "ótimo" ou bom" caiu de 55% para 31% em um período de um mês, após as manifestações de rua. Outros números indicam que a avaliação pessoal da presidente despencou de 71% para 45% e que metade dos entrevistados não confia nela.

Segundo o Estado apurou, Dilma e Lula expressaram contrariedade não só com o racha no PT, mas também com a atitude do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que pregou publicamente o corte de ministérios como solução para a crise política. A avaliação reservada é a de que o PMDB- quer "surfar" na onda dos protestos.

Cortes. A proposta de Alves prevê o corte de 14 dos 39 ministérios. Sem mencionar o número de pastas que deveriam ser extintas e ressalvando que a de¬cisão é de Dilma, o vice-presidente Michel Temer considerou "razoável" a ideia de diminuir o tamanho da Esplanada.

Menos de uma semana depois, porém, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) afirmou que seu partido deveria entregar os cinco ministérios que ocupa (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e Secretaria da Aviação Civil) para dar o exemplo. "Há uma grande desfaçatez de líderes do PMDB, que exigem o enxugamento da máquina, mas não abrem mão de seus postos", criticou o senador capixaba.

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse que o corte linear de cargos não é solução. "Não é reduzindo ministério que se dá eficiência à máquina pública. E preciso saber para que cada ministério foi construído, e isso todos nós sabemos, Quando criamos a Secreta¬ria para Mulheres, por exemplo, é porque sabíamos que era preciso ter foco no que foi abandonado ao longo da história", argumentou o governador.

Wagner e o presidente do PT, Rui Falcão, participaram de um pedaço da reunião entre Lula e Dilma. O ex-presidente contou como foi sua conversa, no fim de junho, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), possível adversário de Dilma na disputa de 2014. Na avaliação de Lula, Campos só não lançou ainda a candidatura ao Planalto para não ficar com uma "flecha" sobre sua cabeça, sendo alvo de ataques.

Apesar das queixas recebidas nos últimos dias a respeito de problemas na articulação política e na comunicação do governo, Dilma avisou que não fará mudanças sob pressão* Na prática, ela não quer mostrar fragilidade num momento em que a própria base aliada está conflagrada. Lula apoiou a decisão.

Em conversas reservadas, porém, petistas próximos a Lula dizem que Dilma "passou do prazo" para promover uma re¬forma ministerial. Agora, a presidente planeja trocas na equipe no fim do ono ou até mesmo no inicio- de 2014, pouco antes do prazo estipulado pela Lei Eleitoral para quem for candidato deixar o Executivo.

Colaborou Rafael Moraes Moura

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos quer PSB no palanque de Alckmin

Governador de Pernambuco age para que seu partido apoie reeleição de governador tucano e isole petistas na sucessão do ano que vem

Pedro Venceslau, Ricardo Chapola

A aproximação política do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do senador mineiro Aécio Neves (PSDB), potenciais adversários de Dilma Rousseff na corrida presidencial de 2014, já prevê uma tática de isolamento do PT na disputa pelo governo paulista. A dupla trabalha para que seus partidos estejam juntos nos Estados onde o cenário local mostra uma conjuntura viável, e São Paulo é um dos pilares dessa estratégia.

O diálogo nacional acelerou a aproximação dos tucanos com o PSB no Estado de São Paulo. O partido de Campos sinaliza apoio à reeleição do tucano Geraldo Alckmin e mostra interesse pela vaga de vice na chapa. Apesar de integrar o primeiro escalão do governo paulista desde a gestão de Mário Covas, o PSB nunca apoiou o PSDB nas disputas eleitorais. Alckmin já dá como certo o apoio do DEM, PTB, PPS, PRB e PSC, e negocia com PP e PR. Como PMDB, PSD, PDT e PV devem lançar candidatos próprios, restam poucas alternativas de aliança para os petistas no Estado. O PSB conta com 1m10s nas inserções de rádio e TV.

Um dos principais interlocutores de Eduardo Campos no Congresso e presidente do PSB mineiro, deputado Julio Delgado, disse esperar que seu partido e o PSDB estejam juntos em pelo menos três Estados estratégicos no ano que vem. "A peculiaridade de Minas (onde os dois partidos estão juntos) é a mesma de Pernambuco. A gente também tem essa preocupação com São Paulo, que é o Estado mais importante nesse contexto", disse o parlamentar ontem à Rádio Estadão. Aliados de Aécio dizem que o acordo seria bom para o senador e melhor ainda para Campos, pois fortaleceria um palanque local de oposição a Dilma. No primeiro turno, os dois presidenciáveis fariam campanhas separadas no Estado, mas, no segundo, estariam unidos contra a petista.

Vice cobiçada. O presidente do PSB paulista, Márcio França, reuniu-se na semana passada com o deputado Duarte Nogueira, dirigente do PSDB no Estado, e pediu que os socialistas indicassem o candidato a vice na chapa de Alckmin. França é hoje um interlocutor frequente do governador e faz parte do núcleo político do Palácio dos Bandeirantes e ele mesmo pleiteia essa vaga. O problema é que outras siglas têm a mesma demanda. "O PTB vai reivindicar o cargo de vice. Somos o partido mais consistente da aliança", afirmou o presidente do PTB paulista, o deputado estadual Campos Machado.

Aliado de Alckmin no interior de São Paulo, o prefeito de Campinas, Jonas Donizete (PSB), disse que uma eventual aliança do governador com os socialistas daria um "tempero" que a chapa tucana nunca teve no Estado. "O Márcio França agregaria algo novo na candidatura de Alckmin", disse Donizete.

Lideres do PSB acreditam que a composição "ganharia a sua parte de esquerda", o que poderia atrair um eleitor mais resistente a votar no PSDB. O PSB paulista, em especial na capital, tem histórico de aliado do PT.

Erundina. Outra alternativa ventilada por setores do PSB é lançar uma candidatura própria ao governo. Isso daria um palanque mais consistente para Eduardo Campos em São Paulo. Dois nomes têm força dentro do partido, caso seja essa a escolha dos dirigentes socialistas: a deputada Luiza Erundina, que deve coordenar a campanha de Campos em são Paulo, ou o próprio Márcio França.

Segundo um membro da executiva estadual do PSB, Erundina, que é egressa do PT e foi prefeita da capital paulista, tem mais "consistência eleitoral" do que França. A cúpula do PSB paulista pretende fazer uma reunião com os diretórios municipais do Estado para sentir a reação da aproximação com Alckmin. Caso isso ocorra, o PSB estuda lançar a candidatura em voo solo na disputa pelo governo.

A estratégia do PSB em São Paulo segue à risca o que disse Julio Delgado sobre a costura dos palanques de oposição a Dilma no País. Se houver uma decisão favorável a candidaturas estaduais próprias, PSDB e PSB trabalhariam separadamente no Estado, mas respeitando um pacto de não agressão. No entanto, na esfera federal, em eventual segundo turno, as siglas se aliariam de vez, apoiando quem fosse para o embate com a petista.

"Acho que temos condição de pensarmos num palanque comum, ou em pacto de não agressão, se tivermos dois palanques", afirmou Delgado. Segundo o deputado mineiro, em algum momento Aécio e Campos se unirão contra a candidatura da presidente.

"A máxima é verdadeira para os dois: tanto o Eduardo quer ter uma boa votação em Pernambuco e no Nordeste. Mas ele sabe que não terá unanimidade, o que vai obrigá-lo a deixar espaço para uma outra candidatura que não seja da presidente Dilma. Assim também é para Aécio", completou.

Delgado assumiu a presidência do PSB em Minas com a missão de viabilizar um palanque no Estado, segundo maior colégio eleitoral do País, para Eduardo Campos, se ele for mesmo candidato à Presidência.

Ele tomou o lugar do ex-ministro Walfrido Mares Guia, amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que declara abertamente apoio à reeleição de Dilma Rousseff.

Pacto à vista

"Acho que temos condição de pensar num palanque comum, ou em pacto de não agressão, se tivermos dois palanques"

"A peculiaridade de Minas é a mesma de Pernambuco. A gente também tem essa preocupação com São Paulo, que é o Estado mais importante nesse contexto"

Julio Delgado
Deputado Federal (PSB-MG)

Fonte: O Estado de S. Paulo

Gabeira: 'Sepultadas todas ideias de ser candidato'

Gabeira diz que não vai compor chapa nas eleições de 2014

Cássio Bruno

Aos 72 anos, o ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) diz ter enterrado de vez qualquer pretensão de disputar as eleições em 2014. Em entrevista ao GLOBO, o jornalista e comentarista de TV revelou que até já foi procurado por pré-candidatos ao governo do Rio para formar chapa, mas não levou a ideia à frente mesmo com o intenso assédio. A intenção dos verdes de lançá-lo presidente também não foi adiante.

- Estão sepultadas todas as ideias de ser candidato a presidente, governador, senador e deputado - afirma Gabeira, que disputou sete eleições: 1986 (governador), 1989 (presidente), 1998, 2002 e 2006 (deputado federal), 2008 (prefeito) e 2010 (governador).

Ao avaliar as disputas, Gabeira procura deixar claro que na última eleição concorreu "apenas para marcar posição":

- Fiz o que deveria ter feito. A oposição precisava de uma pessoa que encarnasse uma candidatura contrária, tanto em 2008 quanto em 2010. Fiz esse papel sabendo que as chances não eram muito altas, principalmente em 2010 .

Longe das urnas, mas próximo da política, Gabeira não poupa o governador Sérgio Cabral ao analisar as manifestações pelo país. Para o ex-deputado, Cabral manteve uma postura arrogante.

- Achei que ele teve um comportamento arrogante. E isso só pode prejudicar a solução dos problemas que estão na pauta. (...) De todos os políticos brasileiros, o Cabral foi o que mais se desgastou nesses protestos. Os protestos foram mais intensos no Rio. Naquela manifestação de 11 de julho, São Paulo reuniu 100 mil pessoas. No Rio, foram mais de 300 mil.

Além de Cabral, Gabeira não poupa críticas à presidente Dilma Rousseff:

- Tenho falado de dois erros. Primeiro, da política econômica. Teoricamente, aumentou o poder de consumo e, ao mesmo tempo, o endividamento. A indústria brasileira sofreu impacto. A inflação começa a rondar o país. Houve um erro de interpretação da crise de 2008. O governo entendeu que era válida a tese de que a economia crescia a partir dos estados. O segundo ponto foi a corrupção.

Entre os candidatos ao governo do estado que procuraram Gabeira em busca de uma dobradinha em 2014 está o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). O verde descartou, de pronto, a participação na chapa. Segundo ele, seria uma contradição, já que tem criticado o PT nos dois últimos anos em seu artigos.

Ainda sobre as eleições ao Guanabara, Gabeira diz que entre Lindbergh, o vereador e ex-prefeito Cesar Maia (DEM), o deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o vice-governador Pezão (PMDB), levará vantagem quem tem se desgastado menos, o que está "ligado diretamente à distância do poder."

- O desgaste do governo pode provocar algum prejuízo para o seu candidato (Pezão). Assim como eu acho que o desgaste do governo na escala federal certamente pode levar um desgaste aos candidatos do governo federal no Rio.

Fonte: O Globo

"Só a economia salva Dilma"

Avaliação é de dirigente do Ibope, após popularidade da presidente cair de 55% para 31%, mesmo índice de desaprovação

BELO HORIZONTE - As manifestações de junho foram fundamentais para a queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff e apenas a melhora da economia poderá garantir alguma recuperação, mas não aos patamares anteriores. A avaliação é de Renato da Fonseca, gerente-executivo da pesquisa CNI/Ibope. Em quatro meses, a aprovação do governo da petista despencou de 63% para 31%, após a onda de protestos - o último levantamento, no mês passado, Dilma registrou 55%.A proporção de pessoas que consideram o governo Dilma ruim ou péssimo subiu de 13% em maio para 31% em julho. Aqueles que avaliaram o governo como regular passou de 32% para 37% no período. Outro 1% não respondeu.

Para Fonseca, o retorno da inflação foi o "gatilho" da queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff e as manifestações trouxeram à tona problemas que já vinham sendo reclamados pelos entrevistados em levantamentos anteriores. "As insatisfações vão se acumulando até o momento em que as pessoas explodem", concluiu.

Não é à toa que saúde, educação e segurança, áreas que se destacaram nas reivindicações das ruas, aparecem com as piores avaliações na última pesquisa. Habitação, combate à fome e capacitação profissional são os setores da União que receberam as melhores avaliações da população.

Comparando a crise enfrentada hoje por Dilma com o pior momento vivido pelo ex-presidente Lula, em 2005, no escândalo do mensalão, Fonseca pondera que a diferença está no crescimento econômico registrado naquele período, ao contrário do cenário enfrentado por Dilma, em 2013.

"É possível recuperar (a popularidade), vai depender da evolução das condições econômicas, que não vão bem", ponderou Renato da Fonseca.

Passada as manifestações, a tendência é haver recuperação da avaliação positiva ou estabilização dos números, mas não há perspectiva de que os índices voltarão aos patamares anteriores. Segundo Renato da Fonseca, enquanto a inflação estiver corroendo os salários e houver registro da queda do nível de emprego, o cenário para a presidente Dilma tende a ser negativo.

Desaprovação

Conforme a CNI/Ibope, a desaprovação à maneira de governar de Dilma Rousseff superou a aprovação. A aprovação sofreu queda em julho, chegando a 45%. Em junho, o resultado foi de 71%. O porcentual dos que desaprovam subiu de 25% para 49%.

Há mais eleitores que não confiam na presidente Dilma Rousseff do que eleitores que confiam, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope A confiança dos eleitores na presidente caiu de 67%, em junho, para 45%, em julho. Já a proporção de pessoas que disseram não ter confiança subiu de 28% para 50%.

A pesquisa CNI/Ibope foi feita entre 9 e 12 de julho, ouvindo 7.686 pessoas com mais de 16 anos de idade, em 434 municípios. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou menos.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Lula não comenta manobra de Eduardo

SALVADOR - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou comentar ontem a articulação do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para viabilizar uma possível candidatura à Presidência, em 2014. Presidente nacional do PSB, Campos tenta concretizar a sua candidatura enquadrando diretórios que ainda defendem a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Em Minas Gerais, por exemplo, o "dilmista" Walfrido Mares Guia foi trocado no comando do diretório estadual pelo deputado federal Júlio Delgado, pró Campos.Indagado pela reportagem sobre a articulação do governador de Pernambuco, Lula desconversou: "Que mudança em Minas Gerais?". Informado sobre a troca no comando do diretório, Lula afirmou que "quando eu voltar a fazer política, falo sobre isso".

Lula deixou Salvador ontem, após participar de seminário anteontem com a presidente Dilma Rousseff. Os dois tiveram uma reunião privada durante mais de três horas. O ex-presidente optou pela discrição no Bahia Othon Palace, onde ficou hospedado, e preferiu fazer as refeições dentro do quarto, sem contato com os hóspedes.

Gripe

Dilma cancelou sua agenda ontem e permaneceu no Palácio da Alvorada tentando se recuperar de uma gripe que a ataca desde o início da semana. Ela desmarcou um encontro que teria com senadores do PT às 17 horas.

Mesmo adoentada, Dilma foi a Salvador. A presidente vem enfrentando problemas de relacionamento com o partido e tem sido muito criticada pelos "companheiros". A corrente majoritária da legenda a acusa de se distanciar de uma crise na qual está no epicentro. No sábado passado, ela preferiu cancelar participação na reunião do diretório regional do partido.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

O desmantelamento da indústria no governo petista - Roberto Freire

A sequência de más notícias na economia brasileira, como o pífio desempenho do PIB, a alta da inflação, as manobras contábeis do governo para fechar suas contas e a falta de credibilidade do Brasil junto aos investidores, atinge especialmente a indústria, que se enfraquece sob os auspícios do PT. A mais nova faceta da situação dramática vivida pelo setor industrial foi desnudada por uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI),que revela queda na produção e no nível de emprego em junho.

De acordo com o levantamento, a produção industrial no país caiu de 51,1 pontos para 46 entre maio e junho. Os dados fazem parte de uma pesquisa cujo índice é medido em uma escala de 0 a 100 pontos, na qual valores acima de 50 significam crescimento em relação ao mês anterior. Em fevereiro, já havia sido registrada uma redução na produção industrial de um mês para outro, com46,1 pontos. O mesmo estudo apontou uma queda no índice que mede a utilização da capacidade instalada na indústria brasileira, que passou de 45,6 pontos em maio para 42,9 em junho, o menor valor do ano.

Pela terceira vez consecutiva, o nível de estoques aumentou em relação ao mês anterior, o que evidencia um desaquecimento da atividade industrial. Diante de um cenário difícil para as empresas, a pesquisa também revelou um recuo no índice de emprego na indústria. De acordo com os dados da CNI, houve queda de 49,5pontos para 48,1 entre maio e junho, e apenas entre as grandes corporações o número de empregos se manteve em relativa estabilidade.

Os números corroboram dados divulgados pelo Ministério do Trabalho, que apontam a criação de 826 mil empregos no primeiro semestre, o pior desempenho para o período desde o auge da crise financeira internacional, em 2009. Apesar da falácia propagada pelo governo petista de que o Brasil vive realidade quase de “pleno emprego” com uma taxa de desocupação de 6% em junho, de acordo com o IBGE, este índice é bem diferente quando se mede o desemprego nas principais regiões metropolitanas do país, alcançando os dois dígitos. É importante lembrar que existe uma imensa parcela da população que sequer procura trabalho, pois está atrelada a programas como o Bolsa Família.

Outros indicadores mostram que a tese do governo de que a indústria alavancaria a retomada do crescimento em 2013, diante do arrefecimento do setor de serviços, é um desejo irrealizável. Entre janeiro e maio, o setor de máquinas e equipamentos teve queda de 7,6% no faturamento em comparação com o mesmo período de 2012.

O investimento estrangeiro nos cinco primeiros meses do ano foi 47% menor que em 2012, segundo o Banco Central. O Índice de Confiança na Indústria medido pela Fundação Getúlio Vargas caiu 3,6% na prévia de julho, maior revés desde dezembro de 2008. O processo de desindustrialização no país já vem de algum tempo, mas se acentuou durante o governo Lula e teve continuidade com Dilma Rousseff, comprometendo o desempenho econômico do país e condenando milhões de trabalhadores a um futuro incerto.

O Brasil real é sempre mais espinhoso do que o reduto do “pleno emprego ”vendido pelo PT na propaganda. Sem uma indústria forte, não há desenvolvimento. E sem desenvolvimento, não há esperança.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Reforma ou farsa? - Almir Pazzianotto Pinto

Se queremos que tudo fique como está
é preciso que tudo mude.
Expliquei-me bem?
Lampedusa (O leopardo)

Talvez passe desapercebido, mas o que não nos faltaram foram reformas políticas. A primeira se deu com a Proclamação da República, mudança drástica que obrigou a elaboração da Constituição de 1891. Até então, vigorara a Carta Imperial de 1824, jurada por D. Pedro I, “para observarmos e a fazermos observar como Constituição”. Após a primeira Constituição republicana, ferida de morte pela Revolução de 1930 e substituída pela de 1934, o Brasil conheceu sucessivas alterações constitucionais, cada uma com sentido de reforma política.

A Constituição de 1988 não tem melhor sorte do que as antecessoras. Vejam-se as 76 emendas padecidas desde a de nº 1, de 1992, que tratou da remuneração dos deputados estaduais e vereadores, seguida pela de nº 2, que dispôs “sobre o plebiscito previsto no art. 2º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”.

A cada soluço, agita-se o Congresso e trata de alterar a “Constituição Coragem” como a denominou Ulysses Guimarães no preâmbulo introduzido na primeira impressão do Senado, eliminada de edições posteriores.

A Carta Política prevê a consulta direta à população nos casos de incorporação, subdivisão, desmembramento, formação de estados e municípios. Incapaz de medidas convincentes para atender justas exigências populares, traduzidas em corajosas manifestações de rua, a presidente Dilma Rousseff recorre ao escapismo do plebiscito. Ignora-se, entretanto, a profundidade do projeto presidencial. As ideias são nebulosas. A respeito do que a população será convocada a se manifestar? Nem os líderes do PT e dos partidos aliados estão aptos a responder.

Países imaturos cultivam o hábito de recorrer a golpes de Estado, reformas constitucionais, alterações legislativas e ao acúmulo de legislações como remédio destinado à cura de graves moléstias políticas. No primeiro momento, acreditarão na eficácia da reforma como antídoto à corrupção e a outras doenças típicas da falta de amadurecimento. Passado algum tempo, porém, sentirão que o vírus da maldade adquiriu maior resistência e volta a atacar o tecido social com violência redobrada.

Gustavo Le Bom escreveu que “um povo é um organismo criado pelo passado. Como todo organismo, só pode se modificar por lentas acumulações hereditárias”. “Sem tradições” — afirma o pai da psicologia social — “isto é, sem alma social, civilização alguma é possível”. Entre nós, a tradição consiste no Estado elitista e autoritário, que se manifesta por meio da ditadura, ou do presidencialismo monárquico, como esse sob o qual nos encontramos.

Estamos na 8ª Constituição, se computarmos a Carta Imperial, de 1825, e a Emenda nº 1/1969. Desconhecemos, desde 1988, o dia em que os jornais deixaram de noticiar algum caso grave de corrupção: ora no Executivo, ora no Legislativo, às vezes no Poder Judiciário. O que de muito raro acontece é ver o corrupto ser condenado e cumprir pena. Nada mais ilustrativo do que a Ação Penal nº 470, conhecida como mensalão. Após empolgar a opinião pública durante meses, e transformar o ministro Joaquim Barbosa em herói nacional, parece remetida aos porões do esquecimento. Já se suspeita de que os mensaleiros consideram questão de tempo a redução das penas, ou a absolvição.

O melhor momento para a reforma política, independentemente de plebiscito, referendo, emenda constitucional, o Brasil terá nas eleições de 2014. Se o povo desejar, poderá realizá-la nas urnas, por intermédio do voto. Obstáculos têm sido levantados em seu caminho, como a proliferação de partidos artificiais, a compra e a venda de alianças. A reforma política deve ter sido arquitetada como mais um complicador a ser eliminado.

É impossível presumir boa-fé da parte da maioria dos integrantes do Executivo e do Legislativo. A solução, em 2014, consistirá em removê-los pelo sufrágio universal e substituí-los por detentores de reputação ilibada e comprovada competência para o exercício de atividades executivas e legislativas no plano federal e nos estados.

A fórmula de Tancredi Falconieri, personagem de Lampedusa, tem sido usada no Brasil. Mudar é a melhor maneira de deixar tudo como está. Creio ser esse o objetivo do PT, com a proposta de plebiscito e reformas.

Advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)

Fonte: Correio Braziliense

Energia do erro - Marina Silva

China e EUA, os dois maiores emissores de gases do efeito estufa, divulgaram nas últimas semanas amplo plano de ação para reduzir suas emissões, incluindo aumento da eficiência energética, desenvolvimento de redes elétricas inteligentes e forte incentivo às fontes alternativas e renováveis.

Quase ao mesmo tempo, o Banco Europeu de Investimento decidiu não mais financiar usinas movidas a carvão. Os gigantes da poluição mundial começam a fazer inflexão na trajetória, para se alinhar na luta contra o aquecimento global e as mudanças climáticas.

No Brasil, o avanço é o do retrocesso. O governo prepara-se para um leilão de energia daqui a um mês e inclui as termelétricas a carvão, agora não mais na condição de reservas acionadas em caso de emergência, mas como parte do que chama de energia de base no "planejamento estratégico".

As emissões de carbono diminuíram no Brasil nos últimos anos graças, exclusivamente, ao plano de combate ao desmatamento, que iniciamos há quase dez anos, e já dá sinais de esgotamento devido à má gestão, à falta de atenção às demandas da sociedade e dos movimentos socioambientais e aos retrocessos na mudança do Código Florestal.

Em todos os outros setores, a emissão de gases-estufa aumentou. No setor elétrico, atingiu 28 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano, um aumento de 132% em relação ao mesmo período de 2012, que já era maior que a do ano anterior.

No ano que vem, o Brasil sediará uma conferência internacional sobre adaptação às mudanças climáticas e poderá repetir o fiasco da Rio+20, com palavreado evasivo para esconder o retrocesso na prática.

Talvez os psicanalistas expliquem a resistência do governo a todas as alternativas para aproveitar com inteligência os abundantes recursos naturais e redirecionar o desenvolvimento do país para um padrão de baixo carbono, adaptado às novas condições globais.

Uma explicação puramente econômica não resiste à análise. O modelo atual acumula crises, agora com ameaças de retorno da inflação e do desemprego. A opção pelas termelétricas não ajuda nesse contexto, pois é mais cara que a eólica e não aponta para um posicionamento do país em relação às tendências tecnológicas.

Colocado em posição de liderança pela riqueza ambiental e pela diversidade criativa de seu povo, o Brasil recua e se coloca a reboque dos países que mais emitem gases-estufa, entregando-lhes a responsabilidade de encontrar soluções para uma crise que é de todos.

A produção de energia está submetida, hoje, a esse equívoco estratégico. Estamos comprometendo nosso futuro com opções energéticas do passado, em vez de abraçar as oportunidades e potenciais que temos pela frente.

Ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente.

Fonte: Folha de S. Paulo

Política com P maiúsculo - Merval Pereira

O Papa Francisco fez ontem, na visita à favela da Varginha, seu discurso mais político, referindo-se às recentes manifestações ocorridas no país de maneira positiva, encorajando os jovens a permanecerem na sua luta contra a corrupção. Com outras palavras, retomou análises que fizera anteriormente, desde que assumiu, sobre a nobreza da ação política. Para ele, envolver-se na política é a obrigação de um cristão, pois a ação política é "das formas mais altas de caridade".

A política com P maiúsculo, como definiu em outra ocasião, visa ao bem comum, e "nós cristãos não podemos nos fingir de Pilatos e lavar as mãos". Ontem, ele se referiu especialmente aos jovens que "possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício".

Mas o Papa instou a que "nunca desanimem, não percam a confiança", insistindo em que a ação política pode mudar a realidade, "o homem pode mudar". Em palestras anteriores na Itália, logo depois de ser eleito Papa, ele falou mais diretamente sobre a atividade política, ao ser perguntado por um estudante jesuíta qual seria a atitude evangélica correta nos dias de hoje.

Depois de afirmar que atuar na política é um dever de cristão, Francisco comentou: "A política é muito suja, mas pergunto: por que é assim? Por que os cristãos não fazem política com o espírito evangélico? É fácil dizer que a culpa é do outro, mas o que eu faço? É um dever de um cristão trabalhar pelo bem comum".

Na favela da Varginha, o Papa Francisco fez um apelo para que a população não se deixe "acostumar ao mal, mas a vencê-lo", e se colocou ao lado daqueles que lutam: "Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês".

Numa referência crítica à política do governo do Rio, reforçada pela utilização da palavra "pacificação", o Papa disse que nenhum esforço nesse sentido será duradouro, "não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma".

Em outra passagem, de apoio às políticas sociais, Francisco encorajou "os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria".

O Papa insistiu, por fim, na necessidade de uma educação de qualidade e calcada em valores, e não apenas "uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucros". A atuação política com base em valores nas sociedades democráticas é uma preocupação recorrente do Papa Francisco, revelada em outras ocasiões.

Na sua avaliação, "algo aconteceu com nossa política, ficou defasada em relação às ideias, às propostas... As ideias saíram das plataformas políticas para a estética. Hoje, importa mais a imagem que o que se propõe. (...) Saímos do essencial para o estético, endeusamos a estatística e o marketing (...)".

Ele contou um dia que, como sacerdote, diante de uma eleição, mandava ler as plataformas para que os fiéis escolham. "No púlpito, tomo bastante cuidado, limito-me a pedir que busquem os valores, nada mais.(...) Participar da vida política é uma maneira de honrar a democracia.(...) Seria necessário distinguir entre a Política com P maiúsculo e a política com P minúsculo".

O Papa Francisco considera que a religião não pode impor caminhos na política aos cidadãos, mas, "se concebo o poder de uma maneira antropológica, como um serviço à comunidade, é outra coisa. A religião tem um patrimônio e o põe a serviço do povo, mas, se começa a se misturar com politicagem e a impor coisas por baixo do pano, transforma-se em um mau agente de poder".

Fonte: O Globo

Vencemos para isso? - Eliane Cantanhêde

Na chegada, o carro do papa Francisco espremido entre táxis e ônibus, num baita engarrafamento na avenida Presidente Vargas, centro do Rio, enquanto na larga pista ao lado, interditada, não se via uma única bicicleta. Um vexame inexplicável.

Logo mais, no Palácio Guanabara, a presidente Dilma, em vez de um singelo discurso de boas-vindas ao papa, puxou e leu um discurso maior do que o da grande estrela do evento. Faltou "semancol".

Na mesma noite, enquanto o mundo queria saber a quantas andava o papa no Brasil, o que se via era uma guerra campal entre policiais, vândalos e infiltrados de toda ordem. Uma violência vergonhosa.

No dia seguinte, milhares de repórteres do mundo inteiro se esfalfavam para registrar os preparativos do grande evento, enquanto cariocas e não cariocas amargavam horas de pane no metrô da cidade anfitriã. Competência zero.

Ontem, com tudo vistoriado e checado, veio a grande conclusão: impossível fazer a missa de encerramento em Guaratiba, no Rio. O local virou um mar de lama às vésperas do "gran finale". A culpa é só da chuva?

Em meio a tudo isso, as notícias domésticas nos governos e na mídia são desanimadoras: rombo histórico nas contas externas, emprego desacelerando, arrecadação devagar, quase parando. Os brasileiros gastaram mais de US$ 12 bilhões lá fora no primeiro semestre, e os estrangeiros gastaram aqui menos em junho de 2013 do que em junho de 2012 --apesar da Copa das Confederações. O paraíso evapora.

Segundo o "New York Times", houve "tensão, erros e protestos (contra Sérgio Cabral)" durante a visita do papa. E o "Chicago Sun-Times", da cidade derrotada pelo Rio para a Olimpíada, indaga, provocativo: "Perdemos para isso?".

Quando dão certo, papa, Copa e Olimpíada são alavancas eleitorais poderosas. Quando dão errado, o efeito é proporcionalmente inverso.

Fonte: Folha de S. Paulo

Fracasso de bilheteria - Dora Kramer

A pesquisa CNI/Ibope que registra a queda de avaliação positiva no desempenho dos governadores sanciona o já sabido: dos protestos de junho governo nenhum se saiu bem. Perderam os estaduais, perdeu o federal e, se alguma consulta incluir prefeitos, certamente constataremos que perderam também os municipais.

Feito um corte partidário na pesquisa realizada em 11 Estados, verifica-se que o mais bem avaliado é do PSB, Eduardo Campos (PE), e o mais rejeitado é do PMDB, Sérgio Cabral (RJ), com 58% e 12% de "ótimo" e "bom", respectivamente.

De todos, oito ficam abaixo de 40%: dois do PT - Jaques Wagner (BA) e Tarso Genro (RS); três do PSDB - Marconi Perillo (GO), Antonio Anastasia (MG) e Geraldo Alckmin (SP); um do PSB - Renato Casagrande (ES); um do PMDB - Sérgio Cabral; e um do PSD - Raimundo Colombo (SC).

Dos três que ultrapassam a marca, um é do PSDB - Beto Richa (PR); dois do PSB - Cid Gomes (CE) e Eduardo Campos. Resumo da ópera, o descontentamento não tem ideologia nem preferência partidária.

O alvo da insatisfação é o poder público. Problema que não se resolve com plebiscito nem com mudanças superficiais na legislação eleitoral às quais se têm dado o nome de reforma política, oferecida como fator de distração que atrai alguma atenção da crítica, mas que não faz o menor sucesso de bilheteria.

Esses mesmos governantes postos em xeque, alguns com mais dificuldade, outros com menos obstáculos, têm pouco tempo pela frente e um desafio e tanto: reencontrar o caminho da conquista do eleitorado, sob o risco de perderem a batalha para o voto nulo.

Hora certa. O "mergulho" do governador Eduardo Campos no auge dos protestos de junho não se deveu, como chegou a circular, a uma reaproximação com o PT (Lula), mas a uma ponderação dos companheiros de PSB. O partido avaliou que ele não deveria ter sido porta-voz dos governadores logo depois da reunião da presidente Dilma com eles no Palácio do Planalto.

Se, de um lado, concordaram que Campos não deveria ter uma atitude crítica a fim de não ser visto como "surfista" da onda, de outro argumentaram que não haveria razão para se contaminar com o desgaste do governo.

Uma das questões a serem administradas agora é o momento do desembarque. Janeiro, como anteriormente previsto, está sendo considerado um prazo longo demais. Mas o PSB também não quer ser confundido com o engalfinho do PT e do PMDB na fila dos botes salva-vidas para pular do barco.

Descontada a ação do imponderável, a possibilidade de recuo na decisão de se candidatar está fora do horizonte de Eduardo Campos. Raciocina um correligionário: "Depois de ter dito que quer e pode fazer mais pelo País, como dizer que não quer nem pode mais?".

Mão na roda. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ficará muito satisfeito se José Serra filiar-se ao PPS para disputar a Presidência da República. Não porque queira ver Serra fora do PSDB.

Mas porque não há outro nome paulista no cenário e uma candidatura a presidente oriunda do Estado ajudaria a "puxar" votos para a reeleição dele.

Grave a crise. O PT reduziu de 10 para seis as comemorações de uma década no poder. Sobre a temporada de caravanas de Lula pelo País anunciada para acontecer de maio a agosto nunca mais se ouviu falar.

Para completar, agora há quem defenda no partido a suspensão da eleição da nova direção para não alimentar a disputa interna e não dar a impressão ao País de que o foco do PT é o próprio umbigo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A Maré de Francisco - Maria Cristina Fernandes

Vinte dias antes de o papa Francisco desembarcar no Rio, um ato ecumênico reuniu cinco mil pessoas na Maré, um ajuntamento de favelas espremido entre a Avenida Brasil e a Baía da Guanabara.

Homenageava as dez vítimas de uma operação policial que, na semana anterior, havia entrado na Maré em busca de bandidos lá refugiados depois de arrastão na Avenida Brasil.

À frente da passeata que precedeu o ato estendia-se uma faixa: "A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela". Entre os mortos da operação policial havia dois jovens sem ficha criminal e um sargento do Bope.

Foi mais fácil arranjar helicópteros que um padre para a favela

Várias denominações religiosas evangélicas, além de uma congregação judaica, se fizeram representar. Dias antes os pentecostais haviam marchado pela paz.

Na noite em que abriu a Jornada Mundial da Juventude, o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, fez menção à chacina da Candelária, dez anos atrás, quando a polícia abriu fogo contra 70 pessoas abrigadas na marquise da igreja e matou oito. Mas a Igreja está muito distante daquela que, em 1968, celebrou, naquela mesma Candelária, um dos atos simbólicos da resistência à ditadura, pela morte do estudante Edson Luiz.

Contactada por Jailson de Souza e Silva, geógrafo da Universidade Federal Fluminense e coordenador da ONG Observatório de Favelas, a Arquidiocese do Rio informou que marcaria presença no ato da Maré. Nenhum padre, no entanto, apareceria por lá. Anunciou-se uma missa em memória das vítimas, mas a celebração tampouco aconteceu.

No dia em que o papa chegou ao Rio Jailson estava na ala dos manifestantes. Ex-militante da pastoral da juventude e do PT, abandonou ambos. Foi às ruas reclamar a ausência dos católicos na Maré.

A desmobilização do clero católico em torno da chacina da Maré só compete com a do governo estadual. É no asfalto, mais especificamente em frente à casa do governador, onde as balas são de borracha, que estão concentradas as atenções do Palácio da Guanabara.

Na primeira visita de um papa ao Brasil, a de João Paulo II em 1980, o Brasil tinha 90% de católicos. Hoje tem 60%. Nesse período, houve 1,1 milhão de assassinatos no país. A Igreja aposta na renovação de um papa que carrega sua própria mala e fala para ser entendido, mas a distância entre o clero e a tragédia social do país não tem como ser encurtada por um único Francisco por mais senso de marketing que se tenha.

A mesma Igreja que não foi capaz de deslocar um padre para a Maré conseguiu arregimentar, por obra e graça de seus devotos mais endinheirados, uma frota de helicópteros para o deslocamento de cardeais durante a visita do papa.

Não por acaso a Igreja Católica cresce entre os mais brancos e mais ricos. Os ventos de popularização se limitam aos grupos carismáticos que lideram o catolicismo televisivo mas não fazem sombra ao domínio dos pentecostais no ramo.

As vocações que têm surgido para a Igreja derivam, em grande parte, das correntes que buscam saídas miraculosas para fiéis em showmissas não muito diferentes das celebrações pentecostais.

Isso talvez explique o fato de que alguns dos maiores entusiastas da ordenação de padres casados estarem situados na ala favorável a um maior engajamento social da Igreja, como d. Demétrio Valetini (Jales) e d. Angélico Bernardino (Blumenau).

Nos quatro pronunciamentos que já fez desde que chegou ao Brasil o papa não tocou no tema, e é improvável que ainda o faça, mas parecem ser grandes as expectativas, nessa ala da Igreja, que o papa ao menos interrompa a política de alocações, iniciada no pontificado de João Paulo II e continuada sob Bento XVI. Desde então bispos e padres mais pastorais têm sido realocados em paróquias de maior poder aquisitivo, deixando aquelas mais carentes em mãos de clérigos menos engajados.

As pastorais católicas não perderam sua clientela apenas para o pentecostalismo. A concorrência também veio da ampliação dos programas sociais e do acesso ao consumo.

As manifestações que circundam a visita do papa sinalizam, em parte, para o esgotamento do modelo de expansão do consumo que não é acompanhado por políticas públicas de expansão das oportunidades. Como a Igreja Católica está mais aparelhada para atuar na crise do que na afluência, é natural que seu discurso busque rima com o clima de insatisfação.

Nas boas vindas que deu ao papa, a presidente Dilma Rousseff pecou pela pretensão de propor parcerias com a Igreja na globalização de políticas sociais. Só faltou dizer que inexistem médicos onde também escasseiam padres. Francisco não tirou os olhos arregalados da presidente, mas a resposta só viria no discurso de ontem.

Na chegada, ao dizer que não trazia ouro ou prata, imagem cara ao continente saqueado, se limitaria a anunciar que não estava ali para disputar a sociedade de consumo. Pela singeleza, foi um discurso ainda mais político que o de ontem na Varginha, quando citou a corrupção. Só lá respondeu à oferta de parceria da presidente. Ao elogiar os programas de combate à miséria, limitou-se a dizer que a Igreja os encoraja.

Das parcerias cuidam as pastorais, que disputam palmo a palmo com os evangélicos a gestão de programas sociais. Financiados por recursos públicos esses programas se destinam a cuidar de assentados da reforma agrária a drogados.

Para consumo externo, um papa que circula perto das multidões e é avesso a ostentações mostra uma Igreja tentando sair da defensiva. Tem na pedagogia do exemplo seu principal capital político.

Não é menor o impacto de sua performance para o clero. No National Catholic Reporter, maior jornal da poderosa comunidade católica dos Estados Unidos, os cardeais americanos se dizem inconformados com a despreocupação do papa com a segurança. Trouxeram comitivas menores do que pretendiam porque os fiéis de suas dioceses não se dispuseram a encarar os manifestantes da selva.

O cardeal de Nova York, Timothy Dolan, disse ao repórter John Allen Jr. que passou a repensar o aparato de que dispõe ao observar Francisco abrindo portas e morando sem luxo.

No clero brasileiro a visita de Francisco será seguida de uma intensa disputa de rumos pelo que se entende como recado do papa. Se na próxima chacina aparecer algum padre, é sinal de que alguma mudança terá havido.

Fonte: Valor Econômico

Prof. Luiz Eduardo Soares: "Um estadista não emerge da chama das ruas, forma-se ao longo da vida"

Por Marta Nogueira e Guilherme Serodio

RIO - Com os olhos do mundo voltados para o Rio de Janeiro, quando a cidade é palco de eventos mundiais esportivos e religiosos, os manifestantes que tomam as ruas parecem conseguir mais alcance para seus gritos. Acompanhado por câmeras e repórteres de diversos países, o cenário da cidade, com semelhanças ao quadro de outras do país, pode ter se tornado mais permanente e talvez mais violento. Assim avalia o cientista político Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança (2003) e ex-coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Rio (1999-2000), para quem o Brasil vivencia o colapso da representação política.

Um dos maiores especialistas do país em violência urbana, Soares lamenta que a reforma da polícia não seja pauta da sociedade. E diz que o centro da violência no Rio é a degradação das polícias. As dez mortes no Complexo da Maré e o desaparecimento do pedreiro Amarildo, na Rocinha, não suscitaram entrevista coletiva com a cúpula da segurança do Estado, como a convocada às pressas no dia seguinte às cenas de quebra-quebra no Leblon, bairro de elite onde mora o governador Sérgio Cabral (PMDB), lembra. "Escândalo é o vandalismo de manifestantes. O genocídio é parte da paisagem", diz.

Para Soares, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas para tornarem-se protagonistas da história. "A massa rompeu expectativas e a tradição de apatia, e inventou um movimento que será, por suas lições e seus efeitos, o verdadeiro legado às gerações futuras".

A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:

Valor: Quem são os manifestantes que vão as ruas no Rio? São "os mesmos" em outras cidades?

Luiz Eduardo Soares: A resposta exigiria uma pesquisa empírica que ainda está por ser feita, seja no Rio, seja em outras cidades. Seria necessário também evitar tratar os protestos como um bloco uniforme: no Rio, houve uma mobilização com mais de 300 mil participantes - eu diria: muito mais do que isso. Houve outras com duas ou três mil pessoas. São distintas na escala e, provavelmente, na composição. De todo modo, tudo leva a crer que a marca das grandes manifestações foi a diversidade, seja de pautas, seja de recursos expressivos, seja de origens sociais. A supremacia de jovens parece constituir outra característica constante. Estou inclinado a crer que não houve diferenças significativas entre as grandes manifestações que ocorreram no Rio e em outras cidades.

Valor: O que os manifestantes do Rio querem?

Soares: Se eu lhe respondesse estaria atestando o meu mais absoluto alheamento da experiência coletiva em curso nas ruas. O protesto parece recusar mediadores ou tradutores, o que nos remete para sua reiterada dramatização (mais do que declaração verbal): o rei está nu, o instituto da representação ruiu, a sociedade brasileira está vivenciando o colapso da representação política; e talvez isso valha também para nós, cientistas sociais e acadêmicos com pretensões de produzir diagnósticos e soluções, em aliança com a tecnocracia autoritária onipresente no Estado brasileiro. Os protestos são, nesse sentido, a performance que assinala, vocaliza, enuncia, proclama e, sobretudo, realiza em praça pública, dramaturgicamente, a ruptura com a representação política confinada em partidos e submetida aos jogos hipócritas e despudorados, sob títulos elegantes como governabilidade. A agenda é múltipla e prescinde de intérpretes, mas o modo como tem sido construída nas ruas, com base no novo protagonismo individualizado e dos pequenos coletivos, aponta para o desejo de participação.

Valor: Os movimentos no Rio ganharam proporção maior?

Soares: Não diria necessariamente maior proporção, talvez maior visibilidade, porque o crivo seletivo da mídia focaliza o Rio, por ser o palco dos grandes eventos esportivos e religiosos. O extraordinário é que, ao tomar as ruas, a sociedade brasileira apropriou-se do título que lhe custara bilhões de reais e, por decisões autocráticas, a excluíra: o grande evento. Centenas de milhares de pessoas deslocaram o campo de futebol para o meio da rua e vestiram a camisa do país, assumindo um protagonismo como nunca antes na história do Brasil. O interesse público tinha sido traído pela tecnocracia, associada a empreiteiras e subserviente à tutela arrogante da Fifa. A sociedade revogou expectativas, rompeu a tradição de apatia e inventou um movimento que será, por suas lições e seus efeitos, o verdadeiro legado às futuras gerações.

"Lojas saqueadas no Leblon merecem mais destaque que as milhares de execuções de jovens pobres e negros"

Valor: Por que a crítica à polícia ganhou destaque no Rio? A reforma da polícia é pauta aqui?

Soares: Gostaria de responder afirmativamente, mas creio que seria apenas um autoengano. Lamento ser obrigado a dizer que não. Não vejo a sociedade carioca, em seu conjunto ou como tendência predominante, mostrar-se sensível para a necessidade imperiosa e urgente de uma refundação das polícias, nem mesmo de uma reforma. Lojas saqueadas no Leblon, fato sem dúvida lamentável, merecem mais destaque do que as milhares de execuções extrajudiciais de jovens pobres e negros, perpetradas pelas polícias nas favelas. Entre 2003 e 2012, as ações policiais provocaram, no Estado do Rio, 9.231 mortes de civis. O desaparecimento de Amarildo, na Rocinha, levado para depor na sede da UPP e nunca mais localizado, não suscitou entrevista coletiva com a cúpula das polícias e o secretário de Segurança, nem as dez mortes na Maré. A pauta da mídia ajuda a formar e ao mesmo tempo expressa pontos de vista que acabam por se impor, quando se trata de definir a agenda das políticas públicas. Por isso, sou pessimista: acho que o que vai acabar predominando é apenas o raso e velho discurso da "falta de preparo dos policiais". Estamos longe ainda de reconhecer que, apesar de numerosos contingentes de policiais honrados e competentes, o centro nevrálgico da criminalidade violenta no Rio é a degradação de nossas polícias e que, portanto, antes de qualquer ação para enfrentar o crime é indispensável transformar as corporações radicalmente. Sem as polícias como instrumentos legais, rigorosamente submetidas aos mandamentos constitucionais e a controle externo, não avançaremos e colocaremos em risco o futuro dos bons projetos como as UPPs. No Rio, as desigualdades são muito profundas e enraizadas, a tal ponto que a morte dos jovens negros provocada pelo braço do Estado é naturalizada. Escândalo é o vandalismo de manifestantes. O genocídio é parte da paisagem.

Valor: A principal pauta é a polícia ou a oposição ao governador?

Soares: A pauta é muito diversificada como eu disse. As pessoas participam, não apenas demandam o direito de participar. Mas é claro que, equilibrando-se sobre um fio, esticando a corda, o movimento se arrisca a virar o jogo político em favor do governador e de suas forças policiais. É nisso que têm apostado o governador e o comando da PM, quando, por exemplo, no Leblon, por astúcia maquiavélica, deixaram as ruas entregues à babel dos manifestantes. Essa babel era composta por uma explosiva mistura dos seguintes ingredientes: uma boa dose de ingenuidade e inexperiência; falta de acordo interno entre manifestantes que estabelecesse limites consensuais; ação de ativistas radicais, inspirados na velha teoria simplista de que ao aumento da força destrutiva empregada pelos ativistas corresponde o enfraquecimento político dos adversários; intervenção de provocadores, como policiais e outros agentes infiltrados; e a ajuda luxuosa de alguns aproveitadores, que visavam um "ganho" individual e não estavam ali por nenhuma razão política. Qual a diferença entre a postura sustentável de um estadista, voltada para fins estratégicos superiores, e a política de alta emissão de carbono do governador Cabral, intensiva em gás, bombas, cassetetes e manobras estritamente táticas? O estadista extrairia das manifestações uma agenda o mais próxima possível do espírito das ruas e de sua intensidade. Um governador com a estatura de estadista ousaria traduzir esses temas em uma ousada agenda de reformas para o país - que ele levaria a Brasília - iniciando, aqui e agora, no Estado do Rio, o que fosse legalmente viável. E haveria muito a fazer no interior dos marcos legais vigentes, antes que o Congresso Nacional promovesse mudanças de fôlego. Entretanto, lamentavelmente, qual foi a atitude do governador Cabral? Defensiva. Se os protestos dirigiam-se a ele, nominalmente, ele reagiu como um adolescente insultado, acuado, e buscou, sorrateiramente, montar ciladas para a ingenuidade indisciplinada do movimento. Além disso, tendo sido hostilizado nas ruas, respondeu na mesma moeda como faz um indivíduo inseguro, um cidadão imaturo ou um torcedor de futebol, mas como jamais faria um estadista. A mesma moeda dos cânticos adolescentes contra Cabral é o canto de guerra do governador, que joga a pedra de volta na vidraça alheia, acusando adversários políticos e denunciando o caráter, imaginem só, "político" das manifestações. Quem jamais pensou que o caráter fosse religioso ou esportivo? É de política que se trata do começo ao fim e de sua ressignificação. Patética a reação personalizada e defensiva do governador, que apenas reforça seu lugar no alvo dos protestos. Entretanto, é bom que se diga, um estadista não emerge da chama das ruas, como suco instantâneo. Forma-se ao longo da vida. Quem viaja de helicóptero da Lagoa a Laranjeiras no Estado mais desigual do país não tinha mesmo a compreensão e a sensibilidade típicas do estadista.

Valor: A polícia só sabe usar a violência ou cumpre ordens?

Soares: A PM mimetizou a postura de seu chefe supremo, o governador. Foi defensiva, em vez de ser profissional. Reagiu como se os seus membros estivessem sendo injuriados pessoalmente. Adotou o modelo das torcidas organizadas que reagem a hostilidades com hostilidades; se eles podem, eu posso etc. O discurso comovido do comandante geral da PM [coronel Erir Ribeiro da Costa] foi inacreditável para quem sabe distinguir a suscetibilidade personalista do ofício que corresponde a um mandato constitucional ou do papel que equivale a uma responsabilidade pública. Se o comando psicologiza e evoca o moral ofendido da tropa, é fácil deduzir o moral da tropa nas ruas, transposto para a prática. Por isso, os sinais da vingança estampados no sorriso de escárnio que testemunhei em ataques arbitrários na Lapa de policiais a transeuntes que apenas caminhavam de volta para casa, depois de uma das manifestações. Em vez de aproveitar a energia desprendida para ajudar a reinventar as práticas políticas no país, infundindo renovada credibilidade no mundo político, o governador zangou-se e tentou jogar a opinião pública contra o movimento, preocupado apenas em contabilizar seu futuro desgaste eleitoral e os eventuais danos sobre o projeto de poder de seu grupo político.

Fonte: Valor Econômico

Panorama Político - Ilimar Franco

Oposição festeja
Os tucanos ainda não sabem se serão o instrumento que a população vai escolher para confrontar o governo petista. Além de Aécio Neves, há Marina Silva e Eduardo Campos no páreo. O que importa para o PSDB é que há uma virada de expectativa importante na opinião pública e a indicação de que não chegaremos a 2014 com uma eleição monótona e resolvida previamente.

Cautela no governo
O fato que mais preocupa o governo Dilma, na pesquisa CNI/Ibope, divulgada ontem, segundo ministros, é a grande vinculação entre as avaliações negativas da presidente e dos governadores. Acreditam que essa cola negativa atingiu índices inéditos, decorrentes de uma catarse nacional coletiva. Mas consideram que essa pesquisa, que repete resultados de outras sondagens, mostra que ela, ao menos, parou de cair . Sobre uma eventual recuperação da imagem da presidente Dilma, seus auxiliares preveem que nada se dará a curto prazo, em razão da magnitude do fenômeno sociopolítico das manifestações de junho.

Entre mortos e feridos, salvou-se o governador de Pernambuco , Eduardo Campos (PSB)
Lúcio Vieira Lima -Deputado (PMDB-BA), sobre ter sido o socialista o governador mais bem avaliado

Palanques abertos
A intervenção do governador Eduardo Campos (PE) no PSB mineiro animou a oposição. O novo presidente, deputado Julio Delgado, é parceiro dos tucanos. A escolha sinaliza que podem não se repetir antigos esquemas rígidos de alianças.

À flor da pele
Ministros amenizam o resultado da pesquisa CNI/Ibope. Alegam que a maioria esmagadora dos governadores acompanhou a queda, na mesma proporção. E que a avaliação tem caráter emocional, pois a perda de confiança é menor onde as pessoas têm relação mais afetiva com a presidente, como Nordeste e Rio Grande do Sul.

Procura-se um culpado
Os publicitários, que servem a diversos governos, estão se irritando com os políticos que, ao primeiro sinal de crise, colocam a culpa na “comunicação do governo”. Dizem que os políticos precisam trabalhar e fazer política.

Boicote seletivo
As entidades médicas se retiraram de todos os grupos de trabalho do governo, em retaliação ao programa Mais Médicos. Mas ontem, por interesse próprio, retomaram assento na reunião do Conselho Nacional de Residência Médica para aprovar o aumento de dois para três anos da residência de pediatria. Aprovado o item, levantaram e foram embora.

Virou mantra
Os ministros do PMDB já não se queixam mais apenas com o vice-presidente Michel Temer. Eles agora abrem o coração para políticos de suas relações, no governo e na oposição, e dizem: “a presidente não ouve ninguém”.

Sem trégua
A presidente Dilma não terá trégua no Congresso na volta do recesso. A quantidade de vetos explosivos na pauta dará o tom do descontentamento dos aliados. São seis na fila, o mais novo deles, o fim da multa de 10% do FGTS.

O GOVERNISTA GIM ARGELLO (PTB-DF) atua para derrubar veto da presidente Dilma que impedia a transferência por herança de licenças de táxi.

Fonte: O Globo

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo

O que vem por aí
A presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Jaques Wagner (PT) reuniram-se durante mais de três horas, a portas fechadas, no Bahia Othon Palace, quarta-feira, em Salvador. Discutiram a situação política e econômica do país. O recado de Lula não foi bem aquele que agitou o plenário do seminário petista “O Decênio que Mudou o Brasil”, quando defendeu Dilma de ataques dos adversários e minimizou as dificuldades políticas que ela enfrenta.

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Lula posicionou-se a favor do enxugamento de ministérios e a redução de pastas dos partidos que ocupam mais de uma posição na Esplanada, ou seja, do PMDB e do PT. Lula também está preocupado com as eleições internas do seu partido. Nem tanto com a reeleição do presidente da sigla, Rui Falcão, que parece garantida, mas com as direções regionais que podem vir a criar problemas em relação às alianças na campanha de reeleição de Dilma.

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A situação da aliança do PT com o PMDB é a grande preocupação de Lula, não só nos estados. Boa parte dos petistas quer jogar o PMDB ao mar e considera a chapa de Dilma com Michel Temer, o vice-presidente da República, com cara de coisa velha, em um ambiente social que exige mudanças. Do ponto de vista institucional, porém, o rompimento com o PMDB é o caminho para uma crise política de muita envergadura.

Fundo// A presidente Dilma decidiu vetar integralmente projeto de lei que extingue a cobrança da multa rescisória de 10% sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), paga pelos empregadores nas demissões sem justa causa.

Bruxa/ Estão internados no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o deputado José Genoino (PT), que sofreu uma cirurgia cardíaca e ainda está em estado grave, e o ex-governador José Serra (PSDB), que fez um cateterismo, após realizar exame de risco cirúrgico para uma operação de próstata.

Trabalho/ O número de trabalhadores temporários efetivados no país, no primeiro semestre deste ano, caiu 20,8% em relação ao mesmo período de 2012, segundo balanço do Sindeprestem, que representa as empresas de serviços terceirizáveis.

Foi pro sal
Uma das alternativas de renovação da chapa de Dilma Rousseff para as eleições de 2014 era lançar a candidatura do vice-presidente Michel Temer (PMDB) ao governo de São Paulo, com o apoio do PT, substituindo-o pelo governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) na vaga de vice-presidente. Isso abriria espaço para a eleição do senador petista Lindbergh Farias ao governo do Rio, com o apoio do PMDB. Para quem tinha alguma dúvida da inviabilidade desse arranjo, a pesquisa CNI/Ibope de ontem fulminou a tese: Cabral é o governador pior avaliado do país, com apenas 12% de “bom ou ótimo”.

Nas nuvens
Quem está nas nuvens com o resultado da pesquisa é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o mais aprovado do país, com 58% de bom e ótimo. Passou ao largo do tsunami das manifestações. Analistas atribuem esse desempenho à boa administração e à candidatura a presidente de República.

Na baixa
A aprovação do governo Dilma Rousseff , segundo pequisa Ibope em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu de 55% para 31%. Em pesquisa anterior, já havia caído de 63% para 55%. O levantamento mostrou a avaliação dos governos da Bahia, Espírito Santo, Goiás , Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo abaixo dos 30%. Paraná tem 41%; Ceará, 40%; e Minas Gerais, 36%. O governo do Distrito Federal não foi pesquisado.

Volta!
A pesquisa do CNI/Ibope põe lenha no “Volta, Lula!”. Em junho, 73% disseram que a presidente Dilma era melhor ou igual a Lula, enquanto na pesquisa deste mês o percentual caiu para 52%. Além disso, aqueles que acreditam que Dilma faz um governo pior do que o de Lula, que eram 25% no mês passado, subiram para 46% em julho.

Rombo
A extinção da cobrança da contribuição social geraria um rombo nas contas do FGTS, que financia o programa Minha Casa, Minha Vida, superior a R$ 3 bilhões por ano

Pacotaço
O mercado financeiro está inquieto. A presidente Dilma Rousseff teria encomendado um plano heterodoxo ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo (foto) para retomar o crescimento e resgatar a popularidade do governo, que está em queda.

Fonte: Correio Braziliense