terça-feira, 6 de setembro de 2016

Opinião do dia – Vinicius Mota

A esquerda brasileira, da velha e da nova geração, não sepultou a violência política. Nas derivações subletradas do marxismo de hoje, o culto da revolução —o banho de sangue que abriria caminho para o mundo pacificado— deu lugar ao prazer estético da depredação e do confronto provocado com a polícia.

O comitê central circula os alvos: empresários, imprensa, parlamentares, procuradores e juízes são atingidos dia e noite pela acusação de "golpistas". As tropas de assalto nas ruas entendem o recado e partem para a ação. Dilma Rousseff pronuncia a fatwa e vai morar em Ipanema.

______________________
Vinicius Mota é jornalista. ‘Dilma insufla o ódio nas ruas e vai morar em Ipanema’, Folha de S. Paulo, 5/9/2016.

Justiça bloqueia R$ 8 bi de suspeitos de desvios

• Funcionários de Caixa, BB, Correios e Petrobras são prejudicados

Dirigentes e empresários estão afastados dos cargos atuais

A PF investiga desvios bilionários nos fundos Funcef (Caixa), Petros (Petrobras), Previ (BB) e Postalis (Correios), que têm 1,3 milhão de trabalhadores e aposentados. Dois diretores da Funcef foram presos. Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS condenado na Lava-Jato, e os empresários Wesley e Joesley Batista, do grupo da JBS, além de ex-dirigentes de fundos, estão entre os investigados, que tiveram R$ 8 bilhões bloqueados.

Fraude em fundos de pensão

• Operação da PF prende diretores e ex-presidentes da Funcef e bloqueia R$ 8 bi em bens

Jailton Carvalho, Gabriela Valente, de Danielle Nogueira e Rrennan Setti - O Globo

De um escândalo a outro, Léo Pinheiro volta à prisão

Por ordem do juiz Sérgio Moro, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigos do ex-presidente Lula, que cumpriam prisão domiciliar, voltam à cadeia. Segundo Moro, Pinheiro, que atuou na reforma do tríplex de Lula em Guarujá, cometeu crimes até pelo menos janeiro deste ano e, por isso, oferece risco de obstrução das investigações. Ele foi levado ontem para a carceragem da PF em Curitiba. Bumlai ficou cinco meses em casa para tratamento de um câncer e terá de se apresentar hoje na PF. O pecuarista admitiu ter feito empréstimo para quitar dívidas do PT.

Ex-presidente da OAS volta à prisão por risco de obstruir investigações

• Bumlai, pecuarista amigo de Lula, tem de retornar à carceragem da PF hoje

Cleide Carvalho, Renato Onofre - O Globo

Fraude bilionária liga grandes empresas a fundos de pensão

• Petros, Previ, Funcef e Postalis são alvo de operação; Justiça bloqueia R$ 8 bilhões de investigados

A Operação Greenfield, da Polícia Federal, atingiu os quatro maiores fundos de pensão estatais brasileiros: Petros (Petrobrás), Funcef (Caixa), Previ (Banco do Brasil) e Postalis (Correios). Com autorização da Justiça do Distrito Federal, foram bloqueados R$ 8 bilhões de investigados, incluindo ex-dirigentes de empreiteiras, ex-administradores dos fundos e empresários. A operação apura “gestão temerária e fraudulenta”. Cinco pessoas foram presas e 28, conduzidas coercitivamente. Entre elas, os empresários Wesley Batista, da J&F, Eugênio Staub, da Gradiente, Gerson Almada, da Engevix, e Walter Torre, da WTorre. Segundo o juiz Vallisney Oliveira, a investigação apontou aquisição de cotas em Fundos de Investimentos por Participação com base em avaliações irregulares. O objetivo era superestimar o valor dos ativos das empresas para aumentar a quantia investida. Na prática, um esquema parecido ao superfaturamento de obras públicas

Operação apura fraudes de maiores fundos de pensão

- O Estado de S. Paulo

A Polícia Federal realizou ontem a Operação Greenfield, que atingiu os quatro maiores fundos de pensão estatais brasileiros – Petros (Petrobrás), Funcef (Caixa), Previ (Banco do Brasil) e Postalis (Correios). Autorizada pela Justiça do Distrito Federal, a opera- ção bloqueou R$ 8 bilhões dos investigados, entre eles ex-dirigentes de empreiteiras, como OAS e Engevix, ex-administradores dos fundos e proprietários de grandes empresas. A operação investiga “gestão temerária e fraudulenta” nos fundos patrocinados pelas estatais.

Auxiliar de Temer diz que governo foi soberbo

Coluna do Estadão / O Estado de S. Paulo

As manifestações contra o governo, com milhares de pessoas nas ruas no fim de semana, levaram interlocutores de Michel Temer a admitir erro na condução do processo de impeachment. Em especial, ao não rebater o discurso de que houve golpe, repetido à exaustão pelo PT. “Fomos soberbos.

Não foi falta de comunicação, foi falta de combate político. Deixamos prosperar ”, assume Moreira Franco, auxiliar próximo de Temer. Um colega seu fala em “salto alto” do governo e diz que será preciso mudar a postura para neutralizar os protestos.

O Palácio do Planalto já conta com novas manifestações pelo País quando iniciar, de fato, os debates da reforma da Previdência e da flexibilização das leis trabalhistas.

Atos foram 'substanciais', afirma Meirelles

• Ministro da Fazenda avalia que manifestações são feitas por parcela minoritária da população e ajudam a 'legitimar' o processo de impeachment 'frente ao mundo'

Cláudia Trevisan e Fernando Nakagawa, enviados especiais,
O Estado de S. Paulo

HANGZHOU, CHINA - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta segunda-feira, 5, que o número de pessoas que protestaram contra o governo Michel Temer no domingo, 4, é “substancial”, mas representa uma parcela minoritária da população. “Já tivemos manifestações muito maiores, já tivemos manifestação de 1 milhão de pessoas”, declarou em entrevista na China, onde participou de reunião do G20.

Segundo ele, é “normal” que aqueles que se opuseram ao processo de impeachment se expressem. “Não vejo isso como nenhum tipo de problema. Muito pelo contrário, acho que isso é parte da democracia, parte do debate livre do País, exatamente o que garante, legitima ainda mais o fato de que o processo é democrático, constitucional.” Em sua opinião, a existência de uma “discussão aberta” sobre o processo de impeachment ajuda a legitimá-lo “frente ao mundo”.

Michel Temer errou ao subestimar manifestações, avalia governo

Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer errou ao subestimar os protestos contra ele e seu governo durante entrevista na China, quando disse que as manifestações no Brasil eram coisa de um grupo de 40, 50, 100 pessoas. Na avaliação de sua equipe, Temer escorregou e transmitiu um sentimento de soberba, fugindo à sua característica de não menosprezar adversários mesmo em situações de conflito.

Ao dar as declarações durante sua passagem pela China, Temer até procurou dizer que seu governo não é contra manifestações nas ruas, mesmo as que têm sua administração como alvo. Criticou a ação de "baderneiros", mas acabou escorregando ao dizer que os protestos estavam sendo feitos por uma minoria de 40, 50, 100 pessoas.

Manifestantes detidos em São Paulo são indiciados e soltos

• Alckmin diz que querem culpar a PM pela violência nos atos

Jaqueline Falcão, Luiza Souto e Sérgio Roxo - O Globo

-SÃO PAULO- Dezesseis pessoas que haviam sido detidas pela Polícia Militar (PM) em São Paulo no último domingo, antes mesmo de chegarem ao protesto contra o governo de Michel Temer, foram indiciadas ontem por associação criminosa, acusadas de portar objetos que poderiam ser utilizados em eventuais atos de vandalismo. Horas depois, a Justiça entendeu que não havia motivos para mantê-las presas e ordenou a liberação. O governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), defendeu a prisão dos jovens e afirmou que existe a intenção de culpar a PM pela violência nos atos.

Além dos 16 detidos, dez adolescentes foram levados para a delegacia no domingo. O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) justificou o indiciamento com base em materiais apreendidos com os jovens, como pedras, estilingues, pedaços de madeira, máscaras e um celular roubado. Foram recolhidos também material para primeiros socorros e objetos pessoais. Durante audiência de custódia no início da noite, a Justiça entendeu que não houve flagrante e que os jovens não tinham antecedentes.

O advogado Marcelo Feller, que defende cinco acusados, afirmou que a polícia não conseguiu indicar o crime praticado por seus clientes e disse que o depoimento dos jovens foi tomado sem a presença de um advogado.

Segundo o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), cerca de cem mil pessoas se reuniram em São Paulo anteontem para pedir a saída de Temer e a convocação de novas eleições. A PM informou que só contabilizou o número de manifestantes às 18h, duas horas antes de o ato terminar: 30 mil pessoas. 

Pressão pode atrasar reforma da Previdência

Ao sinalizar que poderá adiar o envio da reforma da Previdência ao Congresso, como querem aliados preocupados com as eleições, o governo irritou parte de sua base. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, disse que o presidente Michel Temer precisa dar sinais claros sobre o empenho para aprovar a reforma. “Se não mandar agora, vai mandar quando?”

Aumento do STF também confronta PSDB e PMDB

• Nova disputa entre os partidos acontece no dia 13, quando proposta será votada no Senado

Maria Lima, Cristiane Jungblut - O Globo

-BRASÍLIA- PSDB e PMDB, os dois principais partidos de apoio ao governo, já têm data marcada para uma nova queda de braço: a próxima terça-feira, dia 13, quando deverá ser votado o aumento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está pessoalmente empenhado em garantir quórum para aprovar, nesta quinta-feira, um requerimento de urgência encaminhado pelo líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), para votar a matéria sem passar pela votação na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Mas sem previsão de quórum devido ao feriado de 7 de setembro, Eunício já prevê a votação na CAE dia 13 pela manhã e no plenário, à tarde, quando se dará o embate.

A proposta de elevar os subsídios dos ministros do STF de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil em 2017 tem oposição dos tucanos e do DEM. O salário dos ministros do Supremo é o teto do funcionalismo público da União e provocaria um efeito cascata nas Justiças estaduais estimado em R$ 5 bilhões por ano. A divisão na base é evidenciada pela divergência pública entre os líderes do governo, o tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP), e o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).

Freire diz que reforma da Previdência deve ficar para sucessor de Temer

• Para o deputado, governo de transição não é de salvação nacional e não tem que resolver todos os problemas do País

- Portal do PPS

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire, defendeu que a reforma da Previdência Social fique para o sucessor do presidente Michel Temer. “Esse governo não é um governo de salvação nacional, que vai resolver todos os problemas do País. Precisamos fazer uma reforma administrativa, discutir a reforma política, mas reformas como a da previdência devem ficar para aquele que sair das urnas em 2018”, afirmou.

Para Freire, a reforma da Previdência é uma questão a ser deixada para um governo “que venha com todo um debate com a sociedade, fruto das urnas, escolhendo e definindo caminhos”. O deputado lembrou que o tema vem sendo discutido há muito tempo. “Nenhum governo que veio com um mandato das urnas deu prosseguimento a essa reforma. Não será um governo de transição que terá que fazer isso. É um assunto para ser resolvido pelo governo eleito em 2018”.

A pauta principal do governo Temer, salientou o presidente do PPS, é a crise econômica e o encaminhamento do ajuste fiscal. Na avaliação de Freire, uma das reformas que podem ser discutidas agora é a administrativa, “com o enxugamento da máquina, para dar maior eficiência, porque nós ainda temos ministérios demais”.

A reforma política, “com uma discussão séria do parlamentarismo”, também poderia estar no horizonte do atual governo, analisa Roberto Freire. “Mas é preciso cuidado para não imaginarmos que somos governo de salvação nacional, e que todos os problemas têm que ser por esse governo resolvidos”.

Aécio e Alckmin reclamam de novo prazo para reforma da Previdência

• O presidente Michel Temer mostrou intenção de enviar o projeto ao Congresso Nacional só depois das eleições municipais

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, e o governador Geraldo Alckmin discordaram publicamente nesta segunda-feira, 5, da intenção do presidente Michel Temer de enviar o projeto de reforma da Previdência ao Congresso Nacional só depois das eleições municipais. "Se optaram por enviar após a eleição, paciência. Eu preferia discutir esse assunto o mais rápido possível", disse o senador mineiro.

Aécio veio a São Paulo para um encontro com o governador Geraldo Alckmin no Palácio dos Bandeirantes. Os dois conversaram juntos com os jornalistas depois da reunião.

"Para já ir amadurecendo e ganhando corpo, eu acho que deveria mandar o quanto antes. Se deixar para o final do ano corre o risco de não votar em 2016", disse Alckmin.

Para Aécio, o presidente Temer precisa dar "sinais mais claros". "Se não enviar hoje, então quando será?", perguntou.

Tensão eleitoral

• Tucanos voltam a atacar Temer, que cogita enviar reforma da Previdência só após a disputa

Júnia Gama, Silvia Amorim - O Globo

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- A sinalização do governo do presidente Michel Temer de só encaminhar a reforma da Previdência ao Congresso após a eleição municipal de outubro surpreendeu o PSDB, um aliado que já vem colecionando um histórico de desavenças desde o período da interinidade. Sem esconder desconforto com a situação, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse ontem que Temer precisa deixar claro, assim que retornar da viagem à China, as prioridades do governo no campo das reformas estruturantes. O tucano se encontrou com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e, juntos, cobraram rapidez para as mudanças na Previdência.

— Agora é hora de mãos à obra e mostrar o que é possível fazer ainda este ano. O presidente tem que dar sinais claros. Vamos aguardar o retorno dele. Se não vai mandar agora, vai mandar quando? — questionou Aécio.

O governo estuda deixar o envio da proposta de reforma da Previdência para depois das eleições municipais, mas a decisão só será tomada após o retorno de Temer da China, previsto para hoje. A expectativa inicial era que o texto fosse mandado ao Congresso logo após o impeachment, mas isto pode não acontecer devido ao temor do governo de que a reforma, com medidas impopulares, seja usada como munição contra candidatos alinhados ao Palácio do Planalto nas eleições municipais. 

Reforma será enviada sem pressa, diz Meirelles

Por Assis Moreira – Valor Econômico

HANGZHOU (CHINA) - O projeto de reforma da Previdência está sendo finalizado, mas seu envio ao Congresso será feito sem pressa, indicou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na China, insistindo que isso não tem nada a ver com o calendário eleitoral. Conforme o ministro, um ou dois meses não farão grande diferença para o envio do projeto. Alguns observadores avaliam que o governo Temer vai esperar as eleições municipais de outubro passarem, por se tratar de um tema considerado impopular.

Meirelles insiste que o importante é que o projeto seja feito com muito cuidado, consistente e "de um lado seja justo, mas de outro garanta que o aposentado vá receber a sua aposentaria no futuro". Ele insistiu que tanto a reforma do controle dos gastos públicos como a da Previdência terão efeito por décadas.

Aécio cobra ajuste fiscal rápido e ameaça com retirada de apoio

Por Cristiane Agostine - Valor Econômico

SÃO PAULO - O PSDB voltou a cobrar ontem do presidente Michel Temer o compromisso com a aprovação rápida de medidas de ajuste fiscal e sinalizou mais uma vez que poderá desembarcar da base aliada. Reunidos ontem em São Paulo, o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (MG), e o governador do Estado, Geraldo Alckmin, criticaram o adiamento para depois das eleições do envio da proposta de reforma da Previdência ao Congresso. Aécio se disse surpreso com a nova data e afirmou não ter sido consultado. Já Alckmin disse que não se chega à "terra prometida" com "torcida e voluntarismo". Os dois tucanos são pré-candidatos à Presidência.

Depois do encontro de cerca de uma hora, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Aécio e Alckmin defenderam que o debate da reforma da Previdência seja feito antes da eleição municipal. O presidente nacional do PSDB disse que o governo precisa sinalizar "de forma mais objetiva" o que pretende fazer neste ano. "É preciso que os sinais sejam muito claros. A PEC do teto, os gastos públicos, a reforma da Previdência essa é uma agenda que não é mais uma opção de governo, é uma necessidade. O governo tem que avançar nessa direção", afirmou o senador.

Temer fará ofensiva por apoio junto a bancadas

Por Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - Preocupado em reorganizar a base aliada e assegurar a maioria para a votação das duas principais matérias do governo neste semestre - a proposta de emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos e a reforma da Previdência Social -, o presidente Michel Temer vai se reunir, pessoalmente, com cada bancada para explicar os projetos e pedir apoio à votação.

Em outra frente, Temer autorizou a emissão de uma circular aos ministros pedindo que não levem os deputados em viagens nas datas de votações relevantes para o governo nem os recebam nos ministérios nos horários dessas votações.

Temer retorna hoje da viagem à China e gostaria de começar o quanto antes essas conversas, mas não haverá deputados em Brasília após o feriado de 7 de setembro. Por isso, segundo assessores, a rodada de reuniões começará no dia 12. Primeiro, Temer se reunirá com os líderes partidários, que serão incumbidos de convocar as bancadas para os encontros com o presidente.

A insegurança continua - Merval Pereira

- O Globo

Não sei se houve cem mil pessoas nas ruas de São Paulo, mas tinha muita gente, o que obrigou o ministro Henrique Meirelles a admitir que era “um número considerável”. Uma manifestação como essa sempre é um baque para qualquer governo, e tenho a impressão de que as forças que apoiam a presidente cassada Dilma ganharam motivação nova com o impasse criado pelo fatiamento, que acabou colocando o próprio impeachment em questionamento na judicialização do processo no Supremo Tribunal Federal.

Essa insegurança jurídica sobre o desfecho do processo obriga o Supremo a uma decisão rápida, mesmo que a impressão predominante entre os especialistas seja a de que nada será anulado, nem a decisão de cassar a presidente nem a esdrúxula divisão de um texto constitucional que não admitia tal separação de penas, como se a inabilitação da presidente punida fosse uma pena acessória, e não a própria continuidade do castigo legal.

Os inimigos moram ao lado - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

O início do governo efetivo de Michel Temer está mais tumultuado do que já se previa, com pressões vindas do exterior, dos movimentos aliados ao PT, de analistas políticos e até de Aécio Neves, presidente do principal partido da sua base aliada, o PSDB. No Planalto, porém, o discurso (pelo menos de boca para fora) é de tranquilidade. Tudo isso já estava “precificado”, dizem eles, recorrendo a uma expressão de economistas. Ou seja, estavam na conta. Mas e o PMDB?

“Se o governo acertar na economia, tudo isso passa”, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que ontem substituía Temer durante sua viagem à China. “Esses protestos são normais, já eram esperados. O fundamental é tomar as medidas certas e tirar o País da crise”, faz eco o secretário de Infraestrutura, Moreira Franco. Para o Planalto, milhares de pessoas em São Paulo é um contingente razoável, mas não chega a 10% dos que iam às ruas antes do impeachment.

Diretas já? - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

É o caso de antecipar para os próximos meses uma eleição direta para presidente da República? Pessoalmente, eu não teria nada contra. Há até caminhos constitucionais para fazê-lo. Agora que o marqueteiro João Santana já admitiu que recebeu dinheiro de caixa dois para dirigir a campanha que elegeu a dobradinha Dilma-Temer, seria em tese possível que a Justiça Eleitoral cassasse a chapa, abrindo caminho para o pleito direto.

Seria preciso correr. E bastante. A cassação teria de acontecer até o dia 31 de dezembro de 2016, ou a eleição deixaria de ser direta e a escolha do próximo mandatário recairia sobre o Congresso Nacional, onde centrões e centrinhos reinam soberanos.

Planalto engaveta anistia da Lava-Lato - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Enquanto as investigações da Lava-Jato avançam na primeira instância, permanecem em banho-maria nas instâncias superiores

Dorme na gaveta do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o projeto de anistia para quem praticou caixa dois nas últimas eleições, uma espécie de truco nas investigações da Operação Lava-Jato sobre as doações eleitorais das grandes empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras. É tudo o que os políticos enrolados nas “delações premiadas” dos grandes empreiteiros e executivos presos em Curitiba gostariam que acontecesse, mas isso seria um tiro no pé do presidente Michel Temer. O preço seria a volta às ruas dos movimentos independentes que apoiaram o impeachment da presidente Dilma.

Geddel, que não é bobo nem nada, trancou a sete chaves o projeto elaborado por advogados dos políticos e empresários envolvidos no escândalo da Petrobras. É nitroglicerina pura, embora tenha grande aceitação na cúpula do Senado. Enrolado na Lava-Jato, o mesmo grupo de senadores que articulou o fatiamento da votação do impeachment, para livrar a presidente Dilma da perda do direito de exercer cargos públicos, está de prontidão para articular a aprovação da anistia. Na Câmara, porém, há grande resistência. E prospera outra articulação para tipificar penalmente os casos de corrupção e enriquecimento ilícito vinculados ao caixa dois eleitoral, em acordo com o Ministério Público e a Polícia Federal.

O entulho do impeachment - Raymundo Costa

- Valor Econômico

• Os 40 que quebram carros nunca foram tantos na Paulista

O governo Temer tem a clareza de que perdeu - ou está perdendo, para ser mais preciso - a guerra da narrativa do golpe, um discurso que encontrou guarida interna e externamente. O "Fora Temer" embalou os manifestantes que ocuparam as ruas no domingo. Não há como comparar milhares que se reuniram para denunciar golpes, aos milhões que pediram "Fora Dilma". A régua é outra. Mas os protestos cresceram ajudados pelo ar blasé e pelos erros com que o novo governo da República encarou e cometeu em relação às manifestações.

Durante o processo que culminou no impeachment do atual senador Fernando Collor, o então presidente convocou a população para sair às ruas de verde e amarelo, no domingo, contra os que à época, pelos critérios atuais do PT, poderiam ser chamados de golpistas (todos os que defendiam a rescisão do seu contrato eleitoral). Uma provocação que teve uma resposta inesperada para Collor: na data marcada, a população vestiu-se de preto.

A ponta do iceberg - Míriam Leitão

- O Globo

Há muitas formas de se desviar dinheiro de um fundo de pensão, por isso a lista dos suspeitos é grande. A operação Greenfield conseguiu mapear dez casos em que houve o mesmo padrão de irregularidade. Há outros casos sendo investigados. Esse pode ser o começo de um longo processo de limpeza dos fundos de pensão, que precisavam, há muito tempo, de um esforço para estancar a sangria.

Aoperação que cumpriu ontem ordens de prisão, condução coercitiva, busca e apreensão contra 40 alvos começou a ser montada há dois anos diante de denúncias recebidas. No começo, eram genéricas. Depois, chegaram denúncias mais concretas, feitas por participantes dos fundos, que explicavam a complexidade de certas operações.

Hora de exercer a autoridade – Editorial / O Estado de S. Paulo

De regresso da China, onde deve ter tido a oportunidade de refletir sobre a enorme responsabilidade que lhe pesa sobre os ombros desde que passou a governar livre dos inconvenientes da interinidade, o presidente Michel Temer não poderá mais fugir da escolha que o atormenta: colocar sua autoridade a serviço da recuperação política, econômica e moral do País, tarefa com a qual mais de uma vez se declarou comprometido, ou continuar cedendo aos interesses e conveniências eleitorais de muitos dos que o cercam, principalmente seus correligionários do PMDB.

As perspectivas são preocupantes. O noticiário de ontem já destacava a pressão que se prepara entre seus aliados para convencê-lo a adiar o envio da proposta de reforma da Previdência ao Congresso para depois do segundo turno das eleições municipais. O motivo: esse tema pode prejudicar o desempenho nas urnas dos candidatos do PMDB e aliados. Além de adiar o início da discussão de um dos pontos fundamentais do programa de saneamento das finanças públicas, o que se deseja sugerir a Temer é uma artimanha de natureza eleiçoeira comparável, nos objetivos, ao estelionato eleitoral que Dilma Rousseff cometeu para se reeleger.

Governo Temer precisa ter cuidado com o FGTS – Editorial / O Globo

• Revelação de que Planalto estuda impedir saques no Fundo por demitidos sem justa causa é trágica para desempregados e prejudica o próprio presidente

Na luta para se livrar do impeachment, a ainda presidente afastada, Dilma Rousseff, acionou o velho arsenal de profecias tenebrosas para o caso de o vice Michel Temer ser confirmado no Planalto.

A tática, usada sem parcimônia pelo PT em eleições, foi, e tem sido, alertar que as políticas sociais virariam terra arrasada. Temer e equipe logo defenderam o Bolsa Família, anunciando o reajuste de 12,5% para o programa.

Mas as salvas disparadas por Dilma com o aceno de um futuro tétrico para os pobres não evitaram seu impeachment, delineado já há algum tempo.

Manobra do Senado é uma séria afronta à Constituição – Editorial / Valor Econômico

A última defesa contra a ruptura do processo institucional no caso de uma substituição imprevista de presidentes, como é o caso do impeachment, deveria estar na Constituição da República. O que o Senado fez no julgamento de Dilma Rousseff, porém, foi determinar as penas de acordo com conveniências de maiorias políticas, estendendo a insegurança jurídica agora até mesmo a momentos decisivos e traumáticos do regime democrático.

A questão transcende o mérito de se a então presidente Dilma Rousseff merecia sofrer o impeachment ou se o foi por razões legalmente justificáveis. A Constituição, em seu artigo 52, é muito clara e a língua portuguesa precisa ser torturada para fazê-lo se submeter a interesseiras ambiguidades. A pena para o presidente que sofrer impedimento é a perda do mandato e dos direitos políticos por 8 anos. O Senado pode não gostar do texto da lei, caso em que lhe compete propor mudanças na Constituição, mas não cabe a ele, com base em procedimentos regimentais burocráticos, inventar uma dosimetria casuística e alçar-se acima da Lei Magna.

Balanço de uma época – Editorial / Folha de S. Paulo

O clima de exaltação ideológica que acompanhou o impeachment diminui a receptividade a eventuais esforços para avaliar com equilíbrio o significado de 13 anos do PT no Planalto.

A atitude dos que se frustraram com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, tanto quanto a dos que o comemoram, traz consigo o risco de dissolver a diferença entre o que houve de específico na era petista e o que, para o bem ou para o mal, é característico do sistema social e político brasileiro.

A estratégia de vitimização, de que faz largo uso a militância petista, tem sua contrapartida no enfoque demonizador a que se entregaram muitos de seus adversários.

A tentação totalitária do PT – Editorial / O Estado de S. Paulo

A crise que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff parece ter estimulado o PT a adotar estratégias típicas de movimentos totalitários. Numa delas, a realidade percebida pelos sentidos é rejeitada in limine, pois é considerada como uma mentira construída pelos inimigos do povo para realizar seu perverso projeto de dominação. Em seu lugar, o PT oferece a “verdadeira” realidade, aquela que se constitui do que não é perceptível, do que está escondido, do que não se dá a conhecer senão por meio da revelação dos que passaram pelo adequado treinamento ideológico. A ideologia petista dá a seus simpatizantes o conforto de substituir o mundo real, com suas contradições e seus acidentes, por um mundo em que tudo faz “sentido”, graças ao discurso que lhe empresta coerência, mesmo que nada disso tenha a mais remota conexão com a realidade.

É com esse viés que os petistas, derrotados pela Constituição e pela democracia, querem fazer acreditar que o País viveu um “golpe”, com a destituição da presidente Dilma Rousseff, e que agora está em curso um processo que culminará em breve num “estado de exceção”, semelhante ao da ditadura militar.

Estamos sem ‘porquês’ - Arnaldo Jabor

- O Globo

Li outro dia uma frase aterrorizante que nos explica — hoje. Quando o escritor Primo Levi foi preso em Auschwitz, ele perguntou algo a um oficial do campo. O sujeito respondeu: “Hier ist kein Warum” (aqui não há o porquê). Estamos sem porquês.

Aquela fotografia de um menino sírio em Aleppo, coberto pelos restos de uma explosão, mostra nossa solidão diante do Mal. Existe hoje no mundo um novo mal, um mal sem culpados visíveis. O Mal no mundo atual é o “incompreensível”.

Quando Hitler atacou o mundo com o nazismo, quando Stalin matou mais gente que o alemão, ainda havia uma sórdida “finalidade” em seus atos; sua violência era justificada por uma “causa” a ser atingida: ou o Milênio Ariano ou o paraíso comunista. Para eles todos os atos eram perdoados por essa intenção de futuro. O Futuro de nosso Presente só nos promete tragédias anunciadas.

O Mal ficou difuso. Onde está o mal, hoje? No terror, no meio da miséria, entre fezes? Os fanáticos do Islã querem destruir o demônio — que somos nós. Os atentados são cada vez mais terríveis, procurando apagar a alegria da vida ocidental que tanto invejam.

A mulher que passa – Vinicius de Moraes

Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

Maria Rita - Cara Valente