O Globo
Nos tempos pré-internet, eram três os
pilares das “estruturas de poder” que viabilizavam uma disputa eleitoral
exitosa para presidente da República: as oligarquias nos grotões, os pastores
pentecostais e políticos populistas na periferia e a classe média urbana
escolarizada. Esses grupos influenciavam as eleições desde a redemocratização,
e foi por isso que Fernando Henrique procurou o PFL, não apenas para governar,
mas para vencer a eleição, pois o partido era formado pelas oligarquias nos
grotões.
O PSDB conquistou a classe média escolarizada e as capitais com o Plano Real e
uma postura ética que se contrapunha ao PT. Venceu duas eleições no primeiro
turno e disputou o segundo turno em quatro outras. A partir de 2014, quando
quase derrotaram o PT, os tucanos perderam o rumo de casa, passaram a votar
contra os próprios fundamentos do Plano Real, aproximaram-se excessivamente do
governo Michel Temer e acabaram marcados pela relação promíscua de seu líder
Aécio Neves com empresários corruptos, perdendo a aura de defensores da ética.
A verdadeira revolução político-partidária provocada pela vitória de Jair
Bolsonaro na eleição presidencial em 2018 teve como bases o uso da internet
como instrumento político-eleitoral e a transferência do eleitorado tucano em
massa para aquele que se apresentou como alternativa para derrotar o PT,
jogando justamente no terreno da defesa da ética na política, do combate à
corrupção e de uma economia liberal. Parte desse eleitorado está hoje órfã, em
busca de alternativa, por isso nunca houve chance tão clara de que uma terceira
via seja trilhada.