quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Opinião do dia: Roberto DaMatta

O Museu Nacional não foi uma vítima somente do descaso. O descaso é o resultado da mais absoluta ausência em nosso horizonte cultural do lugar do professor. O descaso é irmão da nossa aliança com a ignorância, o oportunismo e a esperteza. Ele é filho dileto do abandono dos governos e de governantes orgulhosos de nunca terem lido um livro, mas que se concedem o direito de falar de tudo, sobretudo do que não entendem. Ele é o fruto de uma cultura aristocrática, autoritária e beletrista, que se compraz nos folguedos de poesia e pensa que contar casos é sabedoria.

Um museu que morre por falta de apoio oficial é o que se colhe quando se elegem governantes ignorantes e burros-doutores narcisistas, que pensam que entendem de tudo, quando não são meros ladrões patológicos dos bens coletivos.

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Roberto DaMatta é antropólogo. “A morte de um museu”, O Globo, 5/9/2018

Merval Pereira: O calvário de ‘Andrade’

- O Globo

Estratégia de insistir com candidatura de Lula até onde as brechas permitirem já causou anulação de pesquisas

A candidatura fake do ex-presidente Lula à Presidência da República continua sendo propagada em vários programas eleitorais e nos cartazes espalhados pelo país, obrigando os ministros encarregados da propaganda oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a vetar seguidamente os anúncios e inserções do PT que insistem em vender a imagem de Lula como candidato a presidente, mesmo depois que sua candidatura foi impugnada devido à Lei da Ficha Limpa.

A mesma lei, que impede a candidatura de quem foi condenado por órgão colegiado, alcançou ontem o candidato ao governo do Rio de Janeiro Garotinho, condenado em segunda instância pela Segunda Turma do Tribunal Federal Regional (TRF-2) por formação de quadrilha. Assim como aconteceu com Lula, também a pena de Garotinho foi aumentada pelos desembargadores.

Com relação à propaganda do PT, o ministro Carlos Horbach, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), definiu que é “inegável que a utilização de espaço de propaganda oficial, custeado pelo contribuinte, para divulgação de candidatura que não mais existe tem a potencialidade de confundir o eleitor, criando, artificialmente, estados mentais e emocionais equivocados”.

Essa confusão proposital, além de ser uma afronta ao sistema judiciário brasileiro e uma tentativa de enganar o eleitor, já virou piada. A chapa Lula-Haddad, com Manoela D’Ávila de regra três para a vice-presidência se e quando Haddad substituir oficialmente Lula, era chamada de “chapa tríplex”, em referência ao apartamento no Guarujá doado pela empreiteira OAS, pelo qual o ex-presidente foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Agora, com a insistência de Lula em se manter na propaganda como candidato a presidente, está sendo chamada de “sítio de Atibaia”, que, pelas denúncias, é do condenado, mas está em nome de terceiros. Na verdade, o ex-prefeito Fernando Haddad está sendo utilizado pelo PT como laranja, na vã esperança de que uma liminar salvadora mantenha a candidatura de Lula mesmo impugnada pelo TSE.

Ascânio Seleme: Ao insistir em Lula, PT afronta a democracia

- O Globo

Partido afrontou a Justiça ao ignorar a determinação de suspender seu programa

Se ainda havia alguma dúvida, ela desapareceu na tarde desta terça-feira, 4 de setembro. Ao insistir com o programa eleitoral proibido pelo TSE, o Partido dos Trabalhadores provou que não tem qualquer apreço ao legal, ao justo, ao democrático. Foi muito mais do que simples desrespeito, o PT afrontou a Justiça ao ignorar a determinação de suspender o programa com mensagem dúbia sobre o papel de Lula na eleição. Depois de ouvir a ordem do ex-presidente preso de manter a luta pela sua candidatura, o PT resolveu encarar o TSE.

Os líderes do partido resolveram pagar para ver. Aliás, pagar talvez não seja nem o caso. Embora o TSE tenha determinado multa de R$ 500 mil para cada vez que o programa ilegal for ao ar, o PT vai recorrer quando a conta chegar. Mas mesmo se tiver de pagar, a estratégia grotesca e antidemocrática vale R$ 1 milhão por dia, no raciocínio dos mandarins do partido, uns R$ 18 milhões até a eleição. Deixa que o Fundo Partidário paga a conta, se ela vier mesmo a ser cobrada.

O PT perdeu na Justiça cinco vezes (Moro, TRF4, STJ, STF e TSE). Em cada uma delas acusou de injusta a Justiça. A nenhuma delas se rendeu. Perdeu, claro, todos os recursos. Vai perder outra vez no Supremo. Mesmo assim, segue acusando um hipotético “eles”, que talvez sejamos nós, os brasileiros, pela perseguição implacável ao inocente Lula preso sem provas. Oras, sejamos razoáveis, Lula perdeu em cinco instâncias. Se fosse democrático, já teria optado por seguir o jogo com a alternativa que lhe resta.

Mas, não. Preferiu a afronta. É como se um time cometesse um pênalti e não deixasse o adversário cobrar, mesmo tendo o juiz marcado a falta e a confirmado com o bandeirinha, o auxiliar da linha de fundo e com o VAR, o árbitro de vídeo. Qual a solução nesse caso? O jogo não pode prosseguir. Talvez seja essa mesmo a estratégia do PT, impedir que a democracia se manifeste. Afinal, o partido quer fazer crer que eleição sem Lula é fraude. Na verdade, a fraude é a candidatura de Lula.

Talvez o Partido dos Trabalhadores aposte que o único recurso do TSE é impor a multa. Não é. Apesar do equívoco cometido na madrugada de sábado passado, quando permitiu que a campanha seguisse na TV sem a definição de candidato, o tribunal pode ainda proibir a veiculação do programa diante da afronta. Seria um recuo do TSE, mas justificado pela intransigência do PT. O fato é que nunca antes se viu situação semelhante na democracia brasileira. Nem Bolsonaro seria capaz de ir tão longe.

Rosângela Bittar: Lula explica

- Valor Econômico

Petista quer ser candidato mas, antes, proclamar inocência

O PT terá candidato a presidente da República, não tem perigo de ficar fora das eleições presidenciais de 2018 como temem alguns de seus principais líderes. Apesar do impasse jurídico que o impede de dar andamento à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, nem o partido nem Lula rasgam dinheiro e não devem estar dispostos a perder seu capital político: esgotados, daqui a dez dias, conforme os prazos do Tribunal Superior Eleitoral, os recursos à Justiça brasileira e à ONU, se prevalecerem as derrotas, haverá a troca de candidato a presidente.

Essa decisão, contudo, não vai ser e nem pode ser tomada agora, não faz sentido precipitar a indicação de Fernando Haddad, por mais que os governadores do Nordeste estejam pressionando, é o que acha Lula. E por que não pode? A esta pergunta o PT responde: porque não vamos legitimar um processo eleitoral que o partido e o ex-presidente consideram um golpe.

A estratégia é usar todas as possibilidades de recurso e só tomar uma decisão drástica, como seria a troca de candidato, depois de esgotados os prazos. Foi isso que em linhas gerais foi discutido na reunião do dia 3, em Curitiba, onde Lula está preso, com seus advogados e o candidato a vice.

Ao contrário da lenda, não houve divergência na reunião na cela, a dissenção está apenas aqui fora, por causa da impaciência dos governadores do partido para fazer logo a campanha de Haddad e entrar forte na sucessão.

A reunião serviu para promover uma análise minuciosa da decisão do Tribunal Superior Eleitoral com o objetivo de definir os recursos a serem apresentados. Os advogados comentaram longamente o voto do ministro Edson Fachin, o único que considerou válida a determinação de dois integrantes de uma comissão da ONU para incluir a candidatura de Lula na disputa. Na avaliação desse voto, ficou decidido que o PT e Lula deveriam voltar à ONU para reiterar o pleito.

O voto do ministro Luís Barroso foi comentado no que consideraram equívocos. Entre eles, ferir o princípio do direito eleitoral, o da anualidade. A jurisprudência só pode ser alterada faltando um ano para a eleição em causa. E Barroso determinou que deveria vigir imediatamente e não cabia recurso. O voto de Rosa Weber também foi analisado à luz de sua contribuição à legalidade do processo, pois ela contrariou Barroso e defendeu que Lula e PT podem recorrer de tudo, a decisão do TSE não é definitiva.

Bruno Boghossian: Perdas e ganhos

- Folha de S. Paulo

PT arrisca classe média para reter eleitor de renda mais baixa

O PT aceitou correr o risco de frustrar uma fatia de seu eleitorado ao esticar até o limite a substituição de Lula.

Dirigentes argumentam que insistir na manutenção do ex-presidente na corrida é a melhor maneira de garantir a fidelidade de petistas de baixa renda —mesmo que a demora afaste a classe média.

A sigla acompanha o humor de seus eleitores com pesquisas periódicas. Os números, segundo integrantes do partido, mostram que a ansiedade pela substituição de Lula se concentra principalmente em segmentos intermediários de renda.

Estes eleitores têm mais acesso à informação, têm consciência de que são baixas as chances de o ex-presidente ser candidato, agem pelo chamado “voto de opinião” e já procuram alternativas por conta própria —antes, portanto, que Lula abençoe Fernando Haddad oficialmente.

Os números alarmaram parte da direção do PT ao indicarem sinais de uma migração de votos de Lula para Ciro Gomes (PDT). Ainda que Marina Silva (Rede) herde uma fatia maior de eleitores do petista, é o ex-governador cearense quem causa maior desconforto entre petistas que monitoram o fluxo na esquerda.

Silvana Krause: As capitanias herdadas e o centrão na política brasileira

- Folha de S. Paulo

O centro na Constituinte não era exatamente o mesmo do que hoje é assim denominado

As heranças herdadas se adaptam. Os velhos tempos não sucumbem e funcionam como matriz genética que carimba e cativa nossa alma política.

Na entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a “O Estado de S. Paulo”, em 18 de maio, houve um esforço para filtrar e separar o centro do centrão. O primeiro seria fundamentado em uma união do “Centro Democrático e Reformista”, a “banda boa” liderada por PSDB, DEM, MDB e PTB. O segundo, fisiológico, associado ao “toma-lá-dá-cá”.

“De lá para cá”, o espírito do centrão venceu? Diria que não somente venceu o desejo de FHC, um “centro limpo”, como provavelmente garantiu vagas em um próximo governo. O problema é que as siglas consideradas “desintoxicadas” por FHC são também contaminadas pelo espírito do centrão.

Independentemente de quem ganhar, tudo indica que boa parte dos associados do PSDB (PP, PTB, PSD, SD, PRB, DEM, PPS, PR) e outras agremiações de peso estão de prontidão para o que der e vier.

O centrão na Constituinte não era exatamente o mesmo que hoje é assim denominado. Porém, há uma lógica no seu funcionamento que é de ontem e de hoje, reside acima de uma ordem partidária, funciona ao lado dos tratados formais e está muito presente em legendas que não são “flash”, ou seja, aquelas que aparecem e desaparecem sem deixar rastros.

Vera Magalhães: ‘Cirão da Massa’

- O Estado de S.Paulo

Ciro Gomes disse na sabatina Estadão/Faap que não quer ser “herdeiro” de votos de Lula porque voto não é herança. Retórica à parte, todo o roteiro da fase atual da campanha do candidato do PDT mira esse espólio. Ao se despedir da entrevista, ele disse que não será nem um “capitão nem um picolé de chuchu”. Não por acaso, foram Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin que concentraram os ataques do pedetista.

Também não foi inadvertidamente que Ciro não citou uma única vez o nome de Fernando Haddad. “Haddad não existe no Nordeste”, me disse recentemente um dos principais aliados do pedetista. Ele quer que continue a não existir. Por isso, também, que Ciro não fala mal de Lula além do protocolar.

Ele monitora a transferência dos votos, ainda que em público rejeite a tese da herança. Sabe que, hoje, ele e Marina Silva estão no testamento, mas que Haddad pode crescer.

Quer aproveitar o vácuo do PT para falar a esse eleitorado: daí a insistência na tecla do programa Nome Limpo e o uso voluntário (sem ser provocado) da retórica mais incisiva, a la “Cirão da Massa”, apelido que ganhou nas redes sociais.

Ciro vê nesta eleição um vetor de mudança – “radical”, segundo ele. Por isso, quer se situar entre os que falam grosso, como Bolsonaro, mas com consistência e do lado do povo. Daí a rapidez com que se coloca no time dos “mortadelas”, contra o “baronato” – que engloba bancos, mídia, empreiteiras e sabe-se lá mais quem.

Ricardo Noblat: Moleque e molecagem

- Blog do Noblat | Veja

Tudo o que que o senhor mandar

Está tudo pronto para o PT ficar de fora da eleição presidencial deste ano. Tudo pronto. Basta que Lula queira. Foram meses a fio de repetição por toda parte que Lula acabara preso porque se desejava impedir sua candidatura. Quem? Os golpistas, ora.

Não importa que ele tenha sido condenado a 12 anos de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro. E que lei assinada por Lula determine sem a menor margem de dúvida que um condenado por órgão colegiado não possa concorrer a cargo público.

Minta até cansar que sempre haverá gente para acreditar no que você diga. Funciona! Costuma funcionar. Não é também o que faz Jair Bolsonaro, deputado há quase 30 anos, ao se apresentar como não político? Ao dizer que tudo se revolve à bala?

Lula perdeu todos os recursos que impetrou para ser absolvido e solto. Simplesmente todos. E daí? É inocente. Mais inocente que nunca! E foi assim que, de dentro da cela, o encarcerado em Curitiba só fez crescer nas pesquisas de intenção de voto.

Ao desafiar a recente decisão da Justiça Eleitoral de negar registro à sua candidatura, que fez o PT às ordens de Lula? Continuou a fazer de conta no rádio e na tv que decisão final a respeito não havia. Então Lula para fazer o Brasil feliz de novo!

O tribunal reagiu punindo o partido com a retirada do ar de sua propaganda – que bom, mais uma prova da perseguição! Fernando Haddad, o falso candidato a vice de um partido sem candidato, foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Melhor ainda! A perseguição a Lula se estende agora ao seu substituto confirmando o discurso do PT. Uma vez que renuncie a lançar candidato à presidência, o PT escapará ao risco de não conseguir por Haddad no segundo turno.

Estará na oposição ao próximo governo seja quem for o presidente. E apostará no pior do pior para um dia voltar ao poder. Será assim se Lula preferir. Para que a romaria a Curitiba não cesse. Para que ele permaneça no comando.

A lambança do IBOPE
Pesquisa guardada alimenta boatos nas redes sociais

No dia 29 de agosto, o IBOPE registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pesquisa sobre intenção de votos nos candidatos a presidente da República contratada pela Rede Globo de Televisão e o jornal O Estado de S. Paulo.

Como das vezes anteriores, seriam apresentados aos entrevistados dois cenários – um com Lula candidato, outro com Fernando Haddad. Ocorre que na madrugada do último sábado, dia 1º, o TSE negou o pedido de registro da candidatura de Lula.

Não só. Mandou retirar o nome de Lula da programação da urna eletrônica de votação, proibiu a Lula a prática de atos de campanha, incluindo a veiculação de propaganda no rádio e na televisão, e deu ao PT prazo de 10 dias para que indicasse novo candidato.

Que fez o IBOPE então? Diz que por causa disso só testou na pesquisa o cenário sem Lula. Quis “se por de acordo com o julgamento e as determinações do tribunal”. Ontem à tarde, porém, consultou o TSE em busca de aval para divulgar os resultados.

Até o meio da madrugada de hoje, o tribunal não havia respondido à consulta. Não sei se responderá. E não sei por que deveria responder. Onde está escrito que instituto de pesquisa não pode pesquisar o que quiser?

Luiz Carlos Azedo: A alma e o cavalo

- Correio Braziliense

“Este é o desafio de Fernando Haddad na campanha eleitoral: se passar por Lula perante os eleitores. Se esforça para isso, mesmo que o preço a pagar seja a perda da própria identidade política”

Para Miyamoto Musashi, o xogum que unificou o Japão, um guerreiro somente está derrotado quando a sua alma também se sente abatida. Enquanto o espírito não estiver derrotado, mesmo prisioneiro, estará disposto a continuar o combate. Entre os presos da Operação Lava-jato, quem traduziu esse ensinamento com precisão foi o executivo da OAS Léo Pinheiro, o delator do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex do Guarujá, ao explicar aos companheiros de cela que a ficha demorou a cair quando foi detido. Somente quando foi obrigado a dividir uma cela no presídio e fazer as necessidades fisiológicas no “boi”, como é chamado o equipamento sanitário das prisões, é que se convenceu da dura realidade de encarcerado comum.

Quem não se deu por vencido até agora, entre os condenados da Operação Lava-jato, é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há cinco meses nas dependências da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente da República não entregou os pontos. Comanda a campanha do PT de sua cela improvisada — uma sala com banheiro, transformada em escritório político —, ditando a estratégia a ser seguida pela cúpula da legenda. Na segunda-feira, por exemplo, Lula se reuniu com o vice Fernando Haddad e comunicou que recorreria da decisão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que impugnou sua candidatura. Ou seja, ainda não desistiu de ser candidato.

Lula aposta no próprio carisma. Deixou isso muito claro para o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, que disputa uma vaga ao Senado, quando o petista de maior prestígio entre os quadros do partido tentou convencê-lo a antecipar sua substituição na campanha, já se vão alguns meses. Nova tentativa foi feita pouco antes da convenção do PT, mas Lula outra vez rechaçou a proposta, com o argumento de que não haveria ninguém com mais prestígio do que ele próprio para unificar o partido e resgatar a base eleitoral histórica da legenda, que estava se dispersando. Os fatos deram razão a Lula, que insistiu na estratégia ao forçar seu registro.

Depois da impugnação da candidatura, nove entre 10 petistas acreditavam que Haddad sairia da conversa com Lula ungido como candidato à Presidência, tendo Manoela D’Ávila, do PCdoB, como vice. Enganaram-se: Lula comunicou ao ex-prefeito e aos dirigentes do PT que se manteria como concorrente, esticando a corda, mesmo sabendo que a sentença do TSE dava um prazo de 10 dias para a legenda oficializar a substituição. Como a curva do petista nas pesquisas é ascendente, a manutenção da candidatura reforça a narrativa da vitimização, agora nos programas de rádio e televisão, cujas regras o PT burla sistematicamente.

Se antes havia uma preocupação com o tempo que restará para fazer a fusão das imagens de Lula e Haddad e a capacidade desse estratagema garantir a transferência de votos de um para o outro, agora o temor é com os riscos de se inviabilizar o registro da nova chapa, cujo prazo se encerrará no próximo dia 11. Lula não é maluco: força a barra nos tribunais porque acredita que seu prestígio eleitoral pode alterar de tal maneira a correlação de forças na eleição que a substituição pura e simples levará Haddad para o segundo turno. Mesmo entre os adversários, essa possibilidade é considerada.

Geraldo Alckmin pretende reabrir 20 mil leitos do SUS

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, visitou nesta terça-feira o Hospital Santa Marcelina, na zona leste de São Paulo. Ele destacou que o acesso à saúde é hoje uma das principais demandas dos brasileiros e se comprometeu a reabrir os mais de 20 mil leitos do SUS fechados no país por falta de recursos para custeio.

“Esse hospital emprega mais de 15 mil pessoas, o que deixa claro também a importância social da saúde. Vamos colocar os leitos fechados a serviço da população, e também investir em telemedicina e integrar os prontuários em rede, o que tornará o atendimento mais rápido”, disse. “É meu dever, como médico, priorizar a saúde. Vamos fazer mutirões para zerar as filas. Saúde é direito garantido pela Constituição, não um favor dos governantes”, completou.

O Santa Marcelina é gerido por uma Organização Social (OS). As OS têm se tornado alternativa para oferecer serviços públicos para mais pessoas, com mais qualidade, menor custo e maior eficácia. Em reunião com a administração da OS Casa de Saúde Santa Marcelina, Alckmin defendeu o modelo.

Na gestão em parceria com as OS, os governos são responsáveis pela contratação, avaliação e controle dos serviços prestados pelas entidades. Por meio de indicadores de qualidade, produtividade e avaliação econômico-financeira, o órgão público gerencia e monitora o cumprimento das metas e pactuações.

Assim, a responsabilidade direta pela administração da unidade é das OS, mas o serviço de saúde continua sendo público – bens, mobiliários e equipamentos pertencem ao Estado.

Alckmin se baseia na eficiência da segurança de São Paulo para tornar o Brasil um país sem violência

Por Danilo Queiroz

Depois de transformar São Paulo no estado com segurança pública mais eficiente de todo o país, Geraldo Alckmin buscará fazer o Brasil seguir o mesmo caminho e deixar o rumo da insegurança para trás. Candidato do PSDB à Presidência da República, o tucano tem em mãos projetos de sucesso colocados em prática durante seu governo de oito anos no estado paulista para cercear a violência que assola os brasileiros há tanto tempo.

Em São Paulo, Alckmin combateu duramente a criminalidade com ações inteligentes e responsáveis. Com muito trabalho por parte do seu governo, a taxa de homicídios do estado se tornou a menor do Brasil, caindo cerca de 78%. Ao todo, foram 130 mil vidas poupadas nos últimos anos oito anos e nenhum criminoso famoso solto nas ruas.

A taxa de homicídios do ano de 2017 fechou em 7,54 para cada 100 mil habitantes,o menor índice desde que as estatísticas criminais começaram a ser registradas pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em 1995. Antes do governo Alckmin, eram 13 mil assassinatos por ano. Com o tucano no poder, o dado caiu para 3.503 vítimas.

O caminho percorrido pelo candidato para deixar São Paulo mais seguro foi, inicialmente, aumentar o efetivo policial nas ruas dos municípios do estado. O atual efetivo, com 118.249 policiais – 85.562 militares, 29.139 civis e 3.548 técnico-científicos -, é maior do que o contingente das Forças Armadas da Argentina, por exemplo. O governo foi responsável pela contratação de 32 mil novos policiais entre 2011 e março deste ano.

Tucanos comemoram decisão do PT

Por Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - A coordenação da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República comemorou a decisão do PT de adiar a substituição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo vice Fernando Haddad na cabeça de chapa. Pesquisas qualitativas encomendadas pela coligação de apoio ao tucano detectaram eleitores "confusos" diante da estratégia petista de não identificar os cargos dos candidatos no programa de televisão.

As mesmas sondagens indicaram que Alckmin acertou o tom da propaganda em bloco, que é dividida em dois eixos: os ataques sem assinatura a Jair Bolsonaro (PSL) e o mote "cabeça e coração", que apresenta o "gestor com sensibilidade social".

Um integrante da coordenação da campanha disse ao Valor que as qualitativas mostraram que os eleitores "não entenderam" o papel de Haddad no primeiro programa exibido pelo PT no sábado. Ontem, no segundo programa - e após as advertências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -, o PT retomou a legenda "vice-presidente" abaixo do nome de Haddad no comercial de tevê.

Aliados de Alckmin avaliam que a estratégia da dubiedade adotada inicialmente pelo PT induz à dispersão dos votos dos eleitores não comprometidos com o partido. Embora haja uma tendência já detectada em pesquisas de migração dos votos de Lula para Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), Alckmin vai se lançar no embate por esse eleitorado, e já deu sinais claros desse movimento.

Durante uma caminhada em São Paulo na segunda-feira, o candidato tucano anunciou que vai pagar metade do botijão de gás para 8 milhões de famílias, que já possuem auxílio na energia elétrica. O produto chegou a ser vendido a R$ 85 em regiões do país um mês após a greve dos caminhoneiros, e muitas famílias voltaram a cozinhar em fogões a lenha.

Embate entre Alckmin e Bolsonaro ganha força na área jurídica

Por Isadora Peron e Luísa Martins | Valor Econômico

BRASÍLIA – O embate entre os candidatos a presidente Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL) já produz efeitos na área jurídica. A coligação de Bolsonaro entrou com pelo menos nove representações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a propaganda eleitoral veiculada pelo tucano. A equipe jurídica de Alckmin também já protocolou quatro ações contra o candidato do PSL.

A campanha de Alckmin escolheu Bolsonaro como alvo nas peças publicitárias que estão sendo veiculadas no rádio e na televisão. As críticas do tucano ao rival estão sendo contestadas no TSE, mas, até agora, ministros já negaram quatro pedidos da "Coligação Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos" para retirá-las do ar.

Na última decisão, o ministro Luis Felipe Salomão negou um pedido de resposta de Bolsonaro por uma propaganda da campanha de Alckmin em que o candidato do PSL é acusado de ser "contra pobre" por ter votado contra a PEC das Domésticas.

A Justiça Eleitoral também não acatou a manifestação de Bolsonaro para suspender a campanha tucana "Não é na bala que se resolve" - alusão ao ex-militar, que tem como proposta liberar o porte de arma para a população.

A peça publicitária que mostra Bolsonaro xingando a deputada Maria do Rosário (PT-RS) também não foi considerada ofensiva. "A propaganda impugnada expõe acontecimento amplamente divulgado e traduz fatos efetivamente ocorridos", disse o ministro Sérgio Banhos.

A campanha tucana, por sua vez, já questionou o TSE por outdoors de Bolsonaro, pela divulgação do que considera propagandas pagas na internet e pela suposta divulgação de pesquisa eleitoral sem registro prévio pelo filho do candidato, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Ciro parte para o ataque contra Alckmin e diz que tucano 'precisa se explicar'

Candidato do PDT cita delação da Odebrecht, escândalo da Alstom e Paulo Preto

Isabel Fleck | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Ciro Gomes, candidato do PDT ao Planalto, decidiu que é hora de deixar de lado a versão batizada por ele de “doce de coco”, adotada no início da campanha, e partiu para o ataque contra adversários, em especial Geraldo Alckmin (PSDB), que ele disse nesta terça (4) ser responsável, junto com Michel Temer, pelas reformas “antipovo, antipobre e antinação”.

“Vai ficando claro que o inimigo hoje do povo brasileiro é a economia política que representa o governo Temer e o PSDB. Evidentemente que a responsabilidade grave por isso é centralizada no Temer, no Alckmin e no simpático [Henrique] Meirelles [MDB]”, afirmou Ciro a jornalistas após sabatina promovida pelo Estadão e pela FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado).

Ciro se disse disposto a ajudar o povo brasileiro a descobrir “quem é quem por trás da mistificação, da propaganda, da converseira, do discurso bonito que todo político tem em véspera de eleição”.

“Eu acho que estamos nos aproximando da hora de a onça beber água, o Brasil hoje está bailando à beira de um certo abismo”, afirmou.

Na segunda-feira (3), em sabatina promovida por Folha, UOL e SBT, Ciro já havia dito que Alckmin “deixa roubar”. Nesta terça, ele afirmou que o tucano “deve muitas explicações ao povo brasileiro”.

“Ele próprio está respondendo a inquérito com delação premiada de ter participado do escândalo da Odebrecht. Toda a sociedade brasileira sabe do inquérito Alstom dos trens de São Paulo. Toda a sociedade brasileira ficou chocada com o escândalo da merenda escolar. Todo mundo já ouviu falar do Paulo Preto”, disse.

Ciro acusou, inclusive, Alckmin de, junto com Temer, ter encomendado reportagem da revista Veja em que o ex-tesoureiro do Pros Niomar Calazans diz que Ciro “sabia e participava” de um esquema de extorsão no Ceará denunciado pelos irmãos Batista e que envolveria seu irmão, Cid Gomes.

“Que tal vocês imaginarem que eles compraram uma matéria caluniosa na revista Veja? Foram os dois juntos, o Temer e o Alckmin, todo mundo está sabendo”, disse. A prova, segundo ele, é um financiamento que o Grupo Abril estaria pedindo ao BNDES.

O candidato do PDT ainda disse que a “lupa moral” geralmente aplicada sobre Jair Bolsonaro não é adotada com Alckmin. “Contratar um funcionário fantasma é desonesto mesmo, mas aplica aí essa lupa moral do Bolsonaro em cima do Alckmin. Esse filtro aí é vesgo”, disse Ciro, referindo-se à assessora de gabinete de Bolsonaro que vendia açaí em Angra dos Reis-RJ em seu horário de expediente em Brasília.

Na segunda (3), após Ciro declarar que ele “deixa roubar”, o tucano o chamou de irresponsável e “aloprado fujão”, que não esclarece a denúncia publicada contra ele pela Veja.


ELEITORADO 'TRUCULENTO E EGOÍSTA'

Enquanto o cenário em relação à candidatura de Lula (PT) não se define, Alckmin e Marina Silva (Rede) são os adversários que disputam com Ciro o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Bolsonaro.

Por ora, a candidata da Rede tem sido poupada pelo pedetista, mas ele já endureceu o tom contra o capitão reformado —e seu eleitorado— também.

Nesta terça, Ciro disse que o eleitor do deputado federal é o “lado mais truculento e mais egoísta da sociedade”.

“Lembre-se que quem está puxando o Bolsonaro são os ricos, os brancos e os machos —ou os homens—, e é basicamente esse lado mais truculento e mais egoísta da sociedade”, afirmou.

Segundo Ciro, o voto no Bolsonaro é um “pit stop na corrida”. “Sabe como é? O carro vem e de repente para para trocar o pneu, botar gasolina?”, afirmou. “Mas daí a ter que ganhar a eleição, eu acho que o povo brasileiro não cometerá esse suicídio coletivo”, completou.

Alckmin diz que PT tenta poupar Haddad de 'linha de tiro' da campanha

Tucano diz que estratégia de vitimizar Lula é 'desrespeito' aos eleitores

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, acusou nesta terça-feira o PT de manter a candidatura do ex-presidente Lula somente para poupar eleitoralmente seu provável candidato na urna, Fernando Haddad. Para o tucano, a estratégia é um desrespeito à população.

- Estão fazendo essa enganação para vitimizar o ex-presidente Lula e com o objetivo claro de tirar o candidato da linha de tiro - afirmou o presidenciável ao deixar um hospital filantrópico na capital paulista onde cumpriu agenda de campanha.

Para o tucano, o substituto de Lula se tornará alvo dos adversários assim que for anunciado.

- Todo candidato entra na linha de tiro. Querem poupà-lo - disse.

Alckmin não comentou se levará essa discussão ao horário eleitoral. A equipe dele está testando algumas abordagens sobre o assunto. O objetivo é tentar dificultar uma transferência de voto de Lula para Haddad.

Enquanto Lula aparece com 39% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha de agosto, Haddad tem 4%.

Alckmin voltou a condenar a estratégia eleitoral do PT. No domingo passado, o tucano classificou a postura petista de uma "enganação".

- É um desrespeito à inteligência da população porque o PT sabe que o Lula não vai ser candidato.

No rádio, Haddad faz 'juramento de lealdade' a Lula e Alckmin ironiza Dilma e Bolsonaro

PT diz que vai insistir na candidatura de líder barrado pelo TSE

- O Globo

RIO — No programa eleitoral de rádio desta terça-feira, o PT insistiu na candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, mas já começou a ressaltar o nome de Fernando Haddad, o vice da chapa, que fez um "juramento de lealdade" ao líder petista na propaganda.

Geraldo Alckmin (PSDB) apostou em apresentar propostas para a saúde e tentou convencer o eleitor de que votar em Jair Bolsonaro (PSL) seria "errar outra vez".

Com Lula barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para concorrer à Presidência, em função da condenação em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, a campanha petista reforçou o elo do líder petista com o vice da chapa, Fernando Haddad, no programa eleitoral de rádio desta terça-feira. Ainda assim, o partido ressaltou que "vai seguir lutando pelo direito de Lula ser candidato". No começo da semana, ministros do TSE determinaram que o PT suspendesse campanhas que promovessem Lula como cabeça da chapa em razão de sua inelegibilidade.

— Eu sou Fernando Haddad, vice-presidente. Os que perseguem Lula perseguem o povo brasileiro. Ele está preso enquanto o governo Temer bagunça o país. Aqui, eu faço juramento de lealdade a Lula. Não vamos descansar. Vamos libertar os brasileiros de toda essa injustiça — ressaltou o ex-prefeito de São Paulo sobre a iniciativa do partido de recorrer do veto do TSE.

A campanha ressaltou que "Haddad é Lula" e "Lula é Haddad", uma das estratégias do partido já usadas para promover o nome do vice, que não goza da mesma popularidade do líder, hoje preso em Curitiba.

Já Geraldo Alckmin (PSDB) tentou relacionar o governo do PT a uma eventual administração de Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas de intenção de voto na ausência de Lula. Segundo a campanha, não é hora de "votar no impulso e na raiva e errar outra vez". O programa eleitoral do tucano mostrou um diálogo entre eleitores em que um deles ressalta ter votado em Dilma Rousseff (PT) e decidido apoiar Bolsonaro este ano.

"Você não aprende mesmo", diz o interlocutor, apoiador de Alckmin.

Henrique Meirelles (MDB) ressaltou seu histórico limpo de investigações e ressaltou que não aposta na polarização do Brasil. O candidato do governo destaca que divide as pessoas entre "quem ajuda" o país ou não na hora da necessidade. Ciro Gomes (PDT), por sua vez, voltou a detalhar sua proposta de limpar o nome dos brasileiros do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) por meio da renegociação de juros e multas.

Candidato do PSOL, Guilherme Boulos usou os seus segundos para exibir uma declaração de apoio ao ator Wagner Moura, que se disse "indignado" e apontou o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) para "mudar essa esculhambação".

Álvaro Dias (Podemos) tentou reforçar a sua posição anti-corruptos. Disse no rádio que apoiou o impeachment de Dilma para "parar o PT", a cassação do presidente Michel Temer para "parar a corrupção" e a prisão de Lula. Defendeu ainda o juiz federal Sergio Moro por considerar que "a Operação Lava-Jato está em perigo".

— A maior vítima é você. Abre o olho — alertou o candidato.

Bolsonaro só teve tempo de apresentar a coligação "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos". João Amoêdo (Novo) prometeu acabar com o programa eleitoral obrigatório. E o PSTU ressaltou sua chapa e seu número aos eleitores.

Fachin deve decidir sobre recurso de Lula para disputar eleição

Ministro foi o único a votar a favor do ex-presidente durante julgamento no TSE na semana passada

Por Guilherme Venaglia | Veja

O futuro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República deve ir para as mãos do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa do petista protocolou na noite de terça-feira um pedido para conseguir disputar as eleições com base em uma liminar do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, que afirma que o petista deve ter todos os direitos políticos garantidos.

Na sessão do Tribunal Superior Eleitoral que negou o registro de candidatura do petista, Fachin foi o único ministro a concordar com a defesa do petista de que a liminar do Comitê da ONU tem validade no país.

O pedido dos advogados do ex-presidente foi apresentado por meio de medida cautelar dentro de um recurso contra sua condenação em segunda instância já apresentado ao próprio Supremo em abril — e que está sob análise de Fachin pelo fato de ele já ser o relator dos processos relacionados à Operação Lava Jato na corte.

Com a opção pela medida cautelar, Fachin deve estar à frente da decisão. A argumentação da medida cautelar segue a mesma linha adotada pelo ministro em seu voto na Justiça Eleitoral, no sentido de que o pacto que garante o poder do Comitê da ONU no país está em pleno vigor.

A defesa do ex-presidente pede que o pedido seja colocado em pauta na 2ª Turma do STF, formada também pelos ministros Celso de Mello, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, mas admite a possibilidade de que Fachin decida sozinho sobre a questão “ante a urgência demonstrada”. Ao receber o pedido, o ministro também pode considerar que não se trata de fato correlato ao processo criminal e afastar sua competência para julgá-lo. Nesse caso, o pedido seria sorteado entre os demais magistrados da Corte.

Fábio Alves: Tudo parado

- O Estado de S.Paulo

Analistas não parecem ainda ter contabilizado integralmente o enorme impacto que a incerteza em relação ao desfecho das eleições está exercendo sobre empresários e consumidores

A sensação que se tem da economia brasileira é de que está tudo parado: a atividade econômica vem perdendo fôlego visivelmente ao longo deste ano, mas o mais preocupante é que as projeções dos analistas do mercado financeiro para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, embora tenham passado por sucessivas revisões para baixo, ainda parecem um tanto otimistas.

E por que isso? Uma das razões é que os analistas das instituições financeiras não parecem ainda ter contabilizado integralmente o enorme impacto que a elevada incerteza em relação ao desfecho das eleições presidenciais está exercendo sobre empresários e consumidores, afetando o investimento e o consumo.

Essa incerteza eleitoral já seria danosa por si só, mas seu impacto vem sendo exacerbado pelo ambiente externo bastante adverso aos países emergentes, haja vista a desvalorização forte de moedas da Argentina, Turquia e África do Sul, forçando os bancos centrais desses países a elevar as taxas de juros. Na Argentina, por exemplo, o BC elevou os juros básicos para 60%, agravando a preocupação de recessão na economia argentina. Quanto do efeito dessa turbulência está incluído nas projeções do PIB brasileiro?

Na mais recente pesquisa Focus, do BC, as estimativas apontam para um crescimento de 1,44% do PIB em 2018. Na primeira pesquisa divulgada em janeiro deste ano, essa projeção era de um crescimento de 3,96% em 2018.

Na semana passada, o IBGE divulgou o PIB do segundo trimestre deste ano, que cresceu apenas 0,2% em relação ao primeiro trimestre, refletindo, entre outros fatores, os efeitos na economia da greve dos caminhoneiros em maio. Esse resultado foi até levemente melhor do que os analistas projetavam, que era de uma expansão de 0,1%, porém o que preocupou foi o fato de que o IBGE revisou significativamente para baixo o PIB do primeiro trimestre deste ano. O crescimento da economia nos três primeiros meses de 2018 foi revisado de +0,4% para apenas +0,1%, na leitura final.

Míriam Leitão: A Argentina no espelho

- O Globo

Crise argentina expõe dilema ao Brasil: quem promete ajuste rápido pode não conseguir, quem promete corte gradual pode não ter tempo

A crise da Argentina cria para nós um dilema. O presidente Maurício Macri assumiu afirmando que consertaria a difícil herança que recebera e faria isso gradualmente. Não teve tempo. Agora seu governo está contra a parede e ele tenta dobrar a aposta e correr com o ajuste que talvez não tenha como fazer. O próximo governo, seja qual for, receberá a herança de um país com grave desequilíbrio fiscal. Quem promete o ajuste imediato pode não conseguir, quem promete fazê-lo gradualmente pode não ter tempo.

Existem diferenças que nos favorecem na comparação entre os dois países. O Brasil tem alta reserva cambial, acumulada principalmente nos governos do PT. O país está com inflação e juros baixos alcançados na administração Michel Temer. Com esses três elementos — reservas, inflação e juros — nos distanciamos da crise argentina. Existe uma semelhança que nos ameaça, o déficit público criado pelo governo Dilma Rousseff ainda não foi vencido e continua alto.

Macri recebeu de herança um país com inflação alta, preços públicos reprimidos que, para corrigir, levariam a outro choque de preços, e déficit primário. Uma das suas primeiras medidas foi suspender os impostos sobre exportações que pesavam fortemente no agronegócio, principalmente o de soja. As retenciones foram reduzidas, porque ele havia prometido na campanha e porque é um imposto que aumenta o desajuste da economia. O tributo fazia o país perder competitividade e isso derrubava exportações, agravando a crise. Macri eliminou o imposto como um gesto antigoverno Cristina Kirchner. Só que esta semana, no seu pacote para aumentar receitas, voltou com o imposto.

Cristiano Romero: Quem ganha com os subsídios?

- Valor Econômico

Nunca se avaliou a eficácia das políticas de subsídio

Numa economia marcada pela desigualdade de renda e oportunidade e por um índice de pobreza inaceitável, a concessão de subsídios em algumas áreas pode ser justificável. Subsídios podem ser usados também para corrigir o que economistas chamam de falhas ou imperfeições de mercado. Em todos os casos, porém, deveriam ser avaliados de forma permanente para evitar o desperdício de recursos públicos, além de corrupção.

O subsídio é usado para reduzir o preço cobrado do consumidor ou o custo do produtor. No primeiro caso, um exemplo é subsídio da conta de luz dos habitantes das regiões mais pobres do país; no segundo, o subsídio dado a fabricantes de medicamentos, produtos farmacêuticos e equipamentos médicos.

A União opera com duas formas de subsídio: do lado da despesa, concede benefícios financeiros e creditícios; do lado da receita, realiza o "gasto tributário" (redução ou isenção de impostos).

Os benefícios financeiros são conhecidos como subsídios explícitos. Ocorrem quando o governo concede subvenções econômicas (equalização de taxa de juros e preços, por exemplo), aprovadas previamente pelo Congresso. O subsídio é explícito: a União banca uma conta, com a autorização dos parlamentares, para, por exemplo, honrar o subsídio das contas de luz ou garantir os preços mínimos de produtos agrícolas.

Monica De Bolle*: ‘Uma sensação geral de desordem’

- O Estado de S.Paulo

O Museu Nacional é o símbolo do descaso do País, do dinheiro desperdiçado em malas obscenas, das prioridades tortas de um país que prefere gastar na manutenção de estádios ou nos aumentos de salários para servidores

Começa com um ponto de cegueira no centro do campo visual, geralmente em um olho apenas – ou mais marcante em um dos dois olhos. Em seguida, transforma-se numa meia-lua cintilante de bordas irregulares que se alarga aos poucos e se move lentamente para a periferia do campo visual. Não há dor, apenas o incômodo de ver algo que lá não está. Quando a meia-lua em zigue-zague está prestes a sumir, ela brilha com força, prenunciando a agonia pulsante, geralmente em um dos lados da cabeça. Durante a aura, ainda é possível espantar a enxaqueca com um forte analgésico. Contudo, uma vez instalada a dor que a sucede, tudo está perdido.

O título desse artigo faz referência ao primeiro livro do neurologista e escritor Oliver Sacks, falecido em 2015. Trata-se de meu favorito em sua vastíssima e erudita obra por abordar um mal que afeta tanta gente.

Queria poder dizer que o Brasil ainda está nesse preâmbulo das auras, que ainda dá tempo de frear a agonia. Não é o caso. Entre o voto de Fachin no TSE, o incêndio que destruiu o Museu Nacional, rumores sobre mais greves de caminhoneiros, e o tempo de TV que se inicia, vejo a desordem instalada. O ministro do TSE e do STF usou um conselho de peritos externos ligado à ONU como justificativa para seu voto a favor da candidatura do ex-presidente Lula.

Vinicius Torres Freire: Guilhotina e dinheiro no Museu

- Folha de S. Paulo

Incêndio provoca guerra nas redes sociais a respeito dos culpados por gastos

A desgraça do Museu Nacional tornou-se motivo de guerra nas redes insociáveis, bidu. Temas centrais da discussão eram o gasto público e os responsáveis pela falta de dinheiro que teria levado parte da memória nacional à ruína.

A pindaíba terminal do governo tornou-se um debate "pop", tão disseminado quanto as ilusões sobre as despesas públicas e onde se pode arrumar dinheiro.

Na confusão do tiroteio, apareciam também bandeiras pedindo a cabeça de autoridades.

Um meme frequente mostrava um desenho do Congresso em chamas com a legenda "Sonho"; logo acima, a imagem do Museu queimando, com a legenda "Realidade". Noutros, "políticos" ou ministros do Supremo eram guilhotinados.

O incêndio motivou 1,6 milhão de publicações no Twitter entre a noite de domingo da tragédia e o começo da tarde de segunda-feira, segundo levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV (FGV Dapp). Foi um frenesi de postagem similar ao de momentos como o assassinato de Marielle Franco, o julgamento de Lula no STF e a greve dos caminhoneiros.

Além de vexames e exorbitâncias dos anos recentes, o Supremo está com o filme queimado por causa dos penduricalhos e do reajuste dos seus salários. "O custo de um ministro do Supremo por ano pagaria a manutenção do Museu", lia-se. Mas há revolta contra "tudo o que está aí".

"Vermelhos" criticavam o teto de gastos, cortes de verbas para a cultura, congelamento de salários de servidores. Os "Azuis" atribuíam o incêndio a governos de esquerda, a corrupções, ao uso de dinheiro para "artistas ricos" da lei Rouanet e para exposições "LGBT" como a "Queermuseu".

Os que querem decapitar juízes e queimar o Congresso, além da maioria menos radical que critica os gastos de Judiciário e Legislativo, precisariam levar em conta o peso desses gastos no Orçamento.

Vários são francamente exorbitantes, como as aposentadorias de parlamentares e magistrados. Mas o Congresso leva 0,9% da despesa federal total (R$ 12,5 bilhões por ano, incluindo pessoal, encargos sociais e investimento).

Tribunais superiores e Justiça Federal levam 3,5% (sendo 43% disso gasto pela Justiça do Trabalho).

Elio Gaspari: Só uma greve salva os museus

- O Globo

Aqui vai uma sugestão para os milhares de servidores públicos que trabalham em museus federais, estaduais e municipais: a partir de hoje, organizem comissões e peçam aos seus diretores que lhes mostrem o alvará do Corpo de Bombeiros que autoriza o funcionamento da instituição. Não tem? Venceu? Tudo bem, declarem-se em greve e só voltem ao trabalho quando vier o alvará. O Museu Nacional havia sido inspecionado pelo Corpo de Bombeiros há dez anos. Diante do fogo, dos hidrantes não saía água.

É isso ou, infelizmente, todos os servidores serão cúmplices do próximo incêndio. O Museu Nacional estava vendido há mais de uma década. Pegou fogo no ano do 40º aniversário do incêndio do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, mantido pela elite carioca. Em 1972, a ditadura desfilou os restos mortais de Dom Pedro I pelo país, até que os colocou numa cripta no Museu do Ipiranga, em São Paulo; 20 anos depois, ela era mictório de mendigos. A instituição está fechada porque o prédio ameaçava desabar, e a Universidade de São Paulo liberou apenas 3,2% da verba destinada à sua recuperação.

Quem viu as primeiras reações dos hierarcas da burocracia cultural diante da tragédia da Quinta da Boa Vista teve o sofrimento adicional de ser tratado como cretino. O incêndio foi um acidente previsível, mas ainda assim foi um acidente. A estupidificação oferecida pelos hierarcas foi empulhação deliberada. Foram muitos os que seguiram uma linha de argumentação parecida com a do ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, queixando-se da falta de atenção “do conjunto da sociedade” para defender a cultura nacional. Outro hierarca disse que “faz parte da cultura brasileira um certo desprestígio” pela memória nacional.

Zuenir Ventura: Quarenta anos depois

- O Globo

Não tive com o Museu Nacional a relação afetiva que tinha com o Museu de Arte Moderna, que na madrugada de 8 de julho de 1978 foi também destruído por um incêndio. Como professor da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), participei durante algum tempo do Instituto de Design que funcionava no MAM, ao lado de Bergmiller, Goebel e Aloisio Magalhães. Em menos de uma hora, foram perdidos 90% do acervo, que incluía pinturas de Picasso, Salvador Dalí e boa parte da fase construtivista do uruguaio Joaquín Torres- García, além dos volumes da biblioteca especializada em artes visuais.

Por tudo isso, compartilhei de forma muito intensa neste fim de semana, pela televisão, as cenas de funcionários, professores e alunos chorando e protestando contra o descaso com que foi tratada uma das mais importantes entidades científicas e antropológicas da América Latina. Ainda não se sabe a dimensão real da perda de uma instituição de 200 anos e 20 milhões de peças — uma tragédia que comoveu o mundo como poucas vezes se viu, inclusive com ofertas de ajuda para a reconstrução, como o caso de Portugal e França.

Roberto DaMatta: A morte de um museu

- O Globo

Um museu que morre por falta de apoio oficial é o que se colhe quando se elegem governantes ignorantes e burros-doutores

Como um museu pode morrer? Afinal, museus têm muito de cemitérios: eles guardam relíquias, e espécimes embalsamados de fauna, flora, artefatos de sociedades tribais desaparecidas e obras de arte; além de livros —muitos livros que, fechados, jazem ao lado dos diários daqueles que passam a vida dentro deles para aprender o que existe do lado de fora. Ficam fora do mundo para vê-lo com suas doenças, traições, erros e sofrimento. Neste sentido, um museu é um palácio de tesouros e de objetos sagrados. De artefatos deslocados no tempo e no espaço, ininteligíveis aos olhos comuns.

Tal perspectiva me ajuda a elaborar a morte do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no qual trabalhei como antropólogo social por cerca de três décadas.

Ao vê-lo ser impiedosamente lambido pelas chamas, pensei nos meus mentores — Luiz de Castro Faria, Roberto Cardoso de Oliveira e David Maybury-Lewis, responsáveis pela transformação do seu Setor de Antropologia num dinâmico Programa de Pós-graduação em Antropologia Social que é hoje uma referência mundial.

O que sentiriam esses fundadores ao ver a catástrofe anunciada pelo total descaso de múltiplos governos, partidos, posicionamentos e hipocrisias tão nacionais e tão isentas do perigo de incêndio? O que diriam eles, que — seja como pesquisadores, professores e administradores, como, aliás, foi o meu caso — jamais perderam o rumo da honestidade intelectual para privilegiar suas preferências ideológicas e partidárias? Essa malvada dialética do ser isso e aquilo vai suicidando o Brasil?

Em todas as minhas pesquisas entre os jêtimbira, gaviões e apinayé, encontrei quem me tomasse como um disfarçado espertalhão, que se apresentava como etnólogo, mas, de fato, buscava pedras preciosas, ouro ou urânio naquele mato que deveria ser tomado dos índios e destruído para dar lucro. 

Para muitos, estudar índios era não apenas uma utilidade dos imbecis da minha estirpe, era uma malandragem inteligente para enricar. Até hoje ouço que pesquisar para compreender, e não para tomar partido, é uma mitificação. É triste constatar que não temos neste Brasil, cada vez mais castrado por si mesmo, lugar para o professor, para o estudioso, para o investigador que sabe que não sabe e trabalha na esperança de acrescentar mais um pouco ao saber humano, mesmo seguro de que será inevitavelmente superado e esquecido.

O Museu Nacional não foi uma vítima somente do descaso. O descaso é o resultado da mais absoluta ausência em nosso horizonte cultural do lugar do professor. O descaso é irmão da nossa aliança com a ignorância, o oportunismo e a esperteza. Ele é filho dileto do abandono dos governos e de governantes orgulhosos de nunca terem lido um livro, mas que se concedem o direito de falar de tudo, sobretudo do que não entendem. Ele é o fruto de uma cultura aristocrática, autoritária e beletrista, que se compraz nos folguedos de poesia e pensa que contar casos é sabedoria. 

Empreitada antidemocrática: Editorial | O Estado de S. Paulo

A Justiça Eleitoral mandou suspender as propagandas eleitorais do PT que, em franco desafio à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que impugnou a candidatura de Lula da Silva, apresentam o chefão petista como seu candidato à Presidência. Felizmente, a reação institucional à desfaçatez petista foi rápida e adequada, mas não se pense que o PT, em razão disso, se emendará. Para o partido e seu demiurgo, só há democracia real quando eles estão no poder, razão pela qual os petistas vivem a denunciar que eleição sem Lula é “fraude”.

Nesse aspecto, mais do que em qualquer outro, Lula da Silva e o PT são gêmeos univitelinos de Jair Bolsonaro (PSL), candidato que demonstra idêntico desapreço pela democracia e por suas instituições. Em recente entrevista ao Valor, o ex-capitão afirmou que, “desde que não haja fraude nas eleições”, ele será eleito presidente. Questionado sobre se, diante disso, respeitará o resultado da eleição, Bolsonaro afirmou: “Qualquer que seja o lado perdedor, não vai reconhecer”. Não parece haver dúvida, portanto, que Bolsonaro, a exemplo dos petistas, não tem a menor disposição de acatar qualquer desfecho da eleição que não seja sua vitória.

Tudo isso, levado ao pé da letra, indica que o próximo presidente, seja quem for, sofrerá enorme desgaste causado por petistas ou bolsonaristas. Já não bastam os imensos problemas que aguardam o futuro governante; ele terá de lidar também, ao que parece, com a irresponsabilidade e a truculência desses liberticidas.

Não será a primeira vez. Sempre que esteve na oposição, o PT se notabilizou por sua sistemática tentativa de desestabilizar o governo. O partido ajudou a encaminhar nada menos que 50 pedidos de impeachment dos presidentes entre 1990 e 2002. Nenhum partido lutou tanto para destituir presidentes como o PT desde o restabelecimento da democracia. Atacar o poder constituído e legitimamente eleito é uma especialidade petista.

A prioridade dos gastos e a tragédia do Museu Nacional: Editorial | Valor Econômico

Duzentos anos de história do Brasil desapareceram em 6 horas, tempo que os bombeiros levaram para apagar o incêndio que consumiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na noite de domingo. A tragédia segue os padrões recorrentes de inúmeras outras em que os poderes públicos (termo já impróprio) estiveram envolvidos. O que ficou soterrado nos escombros do museu não pode ser recuperado e o acervo perdido tem um valor incalculável. Não se conhecem, com absoluta certeza, as causas do incêndio. Quanto ao que o tornava possível, a lista é longa e comum a outros desastres. Em um país em que a vida parece ter pouco valor e o tratamento dispensado pelo Estado aos cidadãos comuns é abaixo da crítica, o acervo histórico e cultural só poderia ser visto como um luxo dispendioso - e tratado como tal.

A tragédia do incêndio do Museu Nacional surpreende também por não ter ocorrido antes - há mais de 10 anos se mencionou oficialmente o risco. A responsabilidade pelos danos é do governo federal, não de uma gestão, mas das que se sucederam por décadas. O descaso pelo passado, que não é privilégio do poder público, ganhou tons gritantes à medida que a crise fiscal do Estado se aproxima da fase terminal. Quem enxerga apenas um pedaço do filme, o final lamentável de um acervo precioso, acusa o teto de gastos públicos como se fosse a chama que destruiu o museu. A demagogia impera e, em ano eleitoral, é engrossada por candidatos que querem angariar mais votos surfando na indignação pública.

Ensino médio continua a ser grande desafio: Editorial | O Globo

Índice reprova todos os estados e mostra ser difícil atingir metas tendo como referência a OCDE

Mais uma pesquisa sobre a qualidade da educação com resultados negativos e que chega no momento em que candidatos aos executivos federal e estaduais, e aos respectivos legislativos, aceleram a busca por votos. Coincidência feliz, mas que também pode inspirar propostas salvacionistas que nada produzem, a não ser ilusões hoje e frustração mais à frente.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), referente a 2017, reforça a constatação antiga da extrema dificuldade no aprimoramento do ensino fundamental e médio, principalmente deste último, onde há elevada evasão.

Calculado a cada dois anos, o Ideb nacional ficou praticamente estável em relação a 2015 — 3,8 contra 3,7 —, porém o mais grave é a distância em relação à meta de 4,7. Assim, torna-se cada vez mais difícil chegar-se a 2022 com o resultado médio atual do conjunto dos países desenvolvidos, congregados na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), conforme pactuado entre governo e organizações civis que atuam no setor.

O quadro é ruinoso. Nenhuma das 27 unidades atingiu os objetivos pré-definidos —entre as notas 5,2 (Santa Catarina), a mais elevada, e 3,7, a mais baixa (Amazonas). É da natureza humana buscar longe de si a responsabilidade por fracassos. Faz relativo sentido formular alguma relação entre a grave crise fiscal brasileira e o Ideb-2017, mas não se aconselha usar este tipo de explicação fácil, ao feitio de corporações.

Decepção tucana: Editorial | Folha de S. Paulo

Avaliação do ensino básico mostra que São Paulo, sob Alckmin, perdeu a liderança nacional

O PSDB foi vitorioso em todas as eleições para o governo estadual paulista desde 1994. Geraldo Alckmin, ora candidato a presidente, venceu três dos seis pleitos, além de ter sido vice de Mário Covas.

Não se pode dizer, portanto, que a descontinuidade administrativa seja responsável pelos resultados medíocres da educação paulista nos recém-divulgados dados nacionais sobre o aprendizado.

Conforme os resultados de 2017 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), São Paulo perdeu a liderança nacional em duas etapas do ensino fundamental (5º e 9º ano) e no ensino médio. Manter-se entre os três ou quatro mais bem colocados do ranking não basta para configurar um desempenho aceitável.

Primeiro, porque os padrões do Brasil se mostram muito baixos. Mesmo estudantes de países emergentes que gastam menos no setor obtêm notas melhores em testes internacionais como o Pisa.

Choro das 3: Ave Maria no Morro ( Herivelto Martins)

Edgar Allan Poe: Um sonho num sonho

Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?