sábado, 18 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Rubio e Vieira abrem caminho promissor para negociações

Por O Globo

Compromisso de encontro de Trump e Lula deixa clara boa vontade de ambos para superar as desavenças

Foi auspicioso o encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em Washington. Representa mais um passo no pedregoso caminho de reaproximação entre os dois países depois do tarifaço de 50% imposto às exportações e das sanções contra autoridades brasileiras, que esgarçaram uma relação de mais de dois séculos de boa convivência. O encontro deu enfim inicio à negociação entre os dois países para superar as desavenças. Comunicado conjunto informou que Vieira e Rubio trabalharão para que ocorra em breve outro encontro, entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda não há confirmação de data e local, mas, num cenário em que havia apenas incerteza, não é pouco.

Vieira chamou a conversa com Rubio de “produtiva e cordial”. Relatou que o foco foi a agenda econômica e que os dois países já trabalham na montagem de um cronograma de reuniões. Afirmou ainda ter reiterado o pedido de Lula a Trump, em conversa na semana passada, de reversão das sanções aplicadas ao Brasil pelo governo americano. Rubio também considerou a conversa “muito positiva”.

Pacificação política, participação e interatividade no espetáculo eleitoral, por Paulo Fábio Dantas Neto

Um amigo atento chamou-me a atenção para um comentário do jornalista Caio Junqueira da CNN: quem ganhar a próxima eleição presidencial vai ter o castigo de governar o país nos próximos anos. Foi feito há duas semanas, após a aprovação da nova legislação do IR e de indícios de que governo e congresso estariam negociando também novas janelas orçamentárias para aliviar a situação fiscal da União, sem cortes de despesas que cheguem a um nível que nenhum dos dois poderes parece disposto a assumir politicamente. O comentário amparava-se na hipótese de que se ensaia, em 2025, um modo de lidar com o orçamento público do ano eleitoral de 2026, que poderá se parecer com o adotado entre 2021 e 2022.

Mulheres apoiam mulheres? Depende de qual, por Thaís Oyama

O Globo

Uma juíza bolsonarista no STF serviria? Uma procuradora evangélica? Uma advogada da vertente pentecostal?

A esta altura, não resta dúvida de que o candidato favorito de Lula para a nova vaga no Supremo é Jorge Messias. O chefe da Advocacia-Geral da União é homem de confiança do petista, seu aliado histórico e, como evangélico, arma estratégica para a reeleição — precisamente o que André Mendonça foi para Jair Bolsonaro em 2021. A se confirmar o nome do advogado-geral da União para o lugar de Luís Roberto Barroso, estará confirmada também a preferência de Lula pelo critério da proximidade com o futuro julgador — o mesmo adotado por boa parte dos seus antecessores. Essa decisão deixará ao menos dois grupos descontentes.

Como preencher uma vaga no STF, por Eduardo Affonso

O Globo

Há dois flamenguistas, um corintiano, um palmeirense e um são-paulino, um placar justo. Mas santistas ocupam 18% das vagas

É só abrir vaga no STF que o assunto volta à tona: em nome da representatividade, passou da hora de ser indicada uma mulher preta.

Está implícito que deva ser uma mulher preta com reputação ilibada e notável saber jurídico — critérios assaz subjetivos, mas é o que diz a lei. Para ter o direito de ser a última a errar — e fazer jus a um assessor que lhe sirva cafezinho, carregue os processos e a ajude a vestir e desvestir a toga —, a aspirante ao cargo deve ter caráter íntegro e conduta ética e moral irrepreensível, além de reconhecido domínio do cipoal das nossas leis. E, claro, ser brasileira nata e ter entre 35 e 70 anos (alguma objetividade tinha de haver). Não há menção a outros atributos.

Feito para excluir, por Flávia Oliveira

O Globo

País tem baixíssima mobilidade social, com uma população convencida de que quem luta vence

Construir argumento frouxo para manter no poder as figuras de sempre é o novo preto. Melhor dizendo: o velho branco. É tática que, no momento, aproxima a escolha do sucessor de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF) do concurso para lecionar literatura africana na Universidade de São Paulo (USP). Uma mesma cartada, a (suposta) proximidade ou amizade, serve para repelir umas — no caso, mulheres negras — quanto para acolher outro — um homem branco, por óbvio. Ao fim do primeiro quarto do século XXI, racismo e sexismo à brasileira seguem positivos e operantes. E contando.

Ironia em altas doses é forma de confrontar os caminhos que a sociedade brasileira ainda encontra para mostrar que, sob véu de mudança, tudo segue como dantes. O Brasil é um país de baixíssima mobilidade social, com uma população convencida de que quem luta vence. Se não venceu, é porque não lutou o suficiente. Segue o bonde.

A complexidade da tarifa zero no transporte público, por Marcus Pestana

O presidente Lula solicitou à sua equipe um estudo sobre a possibilidade de implantação da tarifa zero no transporte público. No arranjo federativo brasileiro, a gestão e regulação da logística urbana cabe às prefeituras.

A mobilidade urbana e o transporte coletivo são aspectos centrais na vida cotidiana da população, sobretudo dos trabalhadores e cidadãos de mais baixa a renda. O deslocamento para o trabalho, as escolas, as unidades de saúde, o comércio, afeta visceralmente a qualidade de vida da população, que depende da eficiência e do custo do transporte. Boa parte do crescimento desordenado das cidades e da expansão das favelas se deveu ao custo elevado e às ineficiências da rede de ônibus, trens urbanos e metrôs. 

Cicatriz permanente, por Aldo Fornazieri

CartaCapital

O genocídio perpetrado por Israel jamais poderá ser esquecido, como não se olvidará o Holocausto praticado pelos nazistas contra os judeus no século XX

Ninguém sabe ainda se o cessar-fogo em Gaza se transformará num tratado de paz ou não. Existem muitos imponderáveis em jogo. Os principais são: o Hamas aceitará se desarmar? Israel deixará de usar qualquer pretexto para reiniciar os bombardeios? Quem governará Gaza? E o Estado palestino?

“Finalmente, teremos a paz no Oriente Médio. Demorou 3 mil anos para se chegar a este ponto, dá para acreditar?”, celebrou Donald Trump, durante a Cúpula do Egito. De fato, é difícil acreditar em uma paz duradoura sem a resolução desses pontos cruciais mencionados anteriormente.

O tsunami da ignorância, por Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

Os delírios de um Projeto de Lei no Senado vão criar esquizofrenia no circuito monetário financeiro nacional

O senador Oriovisto Guimarães (PSDB–PR) propõe um Projeto de Lei para estabelecer um limite à dívida pública federal. Em sua proposta, ultrapassado o teto de 80% da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto, o governo federal estaria sujeito a penalização de um ajuste primário extra na despesa de 25% nos primeiros quatro meses após o estouro da meta. Hoje seria, por exemplo, entre cerca de 150 bilhões e 200 bilhões de reais a mais no orçamento federal.

Seria interessante observar as relações entre a dívida pública e a dívida privada ao longo dos ciclos de expansão e contração da atividade econômica. O endividamento de empresas e famílias expande-se nos períodos de crescimento e “confiança”. Os bancos, sob a supervisão e regulação dos Bancos Centrais, emprestam às empresas e às famílias “gastadoras”.

Erosão silenciosa, por Adriana Augusta de Moura Souza

CartaCapital

Além de corroer o pacto social de 1988, a “pejotização” compromete a sustentabilidade da Previdência

O Supremo Tribunal Federal realizou, na segunda-feira 6, uma audiência pública para debater os desafios econômicos e sociais da chamada “pejotização” no Brasil. Na prática, discutiram-se os próprios rumos do Direito do Trabalho, a partir das questões formuladas pelo ministro Gilmar Mendes, relator do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1.532.603. Entre os temas em análise estão a licitude das contratações via pessoa jurídica ou como autônomo, a competência da Justiça do Trabalho para julgar eventuais fraudes e a distribuição do ônus da prova entre as partes.

Afago à classe média, por Carlos Drummond

CartaCapital

Novo programa eleva o financiamento habitacional e gera recursos de 111 bilhões de reais no primeiro ano

O novo modelo de crédito imobiliário lançado por Lula e dirigido à classe média, com elevação do valor máximo de financiamento para 2,25 milhões e juros de até 12% ao ano, é um marco na evolução do sistema de financiamento habitacional. Representa um avanço no uso de dispositivos das próprias instituições financeiras para fazer frente tanto ao desaquecimento da economia quanto às tentativas da oposição de cercear politicamente as iniciativas de Brasília, revelam dados e análises.

As novas normas incluem alterações no modelo de direcionamento obrigatório dos recursos dos depósitos de poupança e mudanças na regulamentação que disciplina o recolhimento compulsório sobre esses mesmos depósitos. Segundo o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central, o sistema viabiliza recursos de 111 bilhões de reais no primeiro ano e disponibiliza 52,4 bilhões a mais, em relação à configuração anterior, para o financiamento habitacional, dos quais 36,9 bilhões de forma imediata.

O que Lula quer no Supremo, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O cronista não sabe quem Lula indicará a ministro do Supremo. Talvez já o tenha feito, no intervalo entre a entrega e a publicação deste texto. Sabe, porém, qual perfil o presidente projetou para o ocupante da cadeira a ser deixada por Barroso, a poucos dias de descansar a defesa da democracia num retiro esotérico indiano. Uma evolução, se considerarmos que aquele que nos protegeu de nós mesmos – e que quer aparecer até o final, ainda que à custa de incitar tema divisivo –, acreditara em João de Deus.

Novo darwinismo social, por Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Diversos ministros do STF parecem dispostos a tornar facultativo o regime de direitos do trabalhador

Perda de arrecadação com pejotização inviabiliza a Previdência e demais políticas sociais

As primeiras formas de regulação do trabalho surgiram na Inglaterra, ainda no período medieval. O Estatuto dos Artífices, de 1563, fruto de um acordo judicial, impôs ao Estado "incentivar a lavoura e garantir aos empregados salários proporcionalmente convenientes, tanto em tempo de escassez como de fartura".

Essa expressão da "economia moral" do mundo feudal, nas palavras do historiador E. P. Thompson, ruiu em face do vertiginoso processo de urbanização e industrialização, na passagem do século 17 para o 19. A mão de obra, onde não havia escravidão, passou a ser objeto das leis de mercado. Sob o manto da autonomia individual, cada um poderia, teoricamente, negociar o valor do seu trabalho.

A queda de braço pelo pagamento de emendas em ano eleitoral, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Governo resiste à imposição do calendário e quer fazer cortes

O esquema no desvio de recursos funciona quase no automático

Por mais que o STF venha cobrando transparência no destino de emendas parlamentares —em especial aquelas em que a verba vai direto para o caixa das prefeituras, as chamadas emendas Pix—,
o esquema utilizado no desvio de recursos está tão azeitado que funciona quase no automático.

Segundo as investigações da Polícia Federal, o dinheiro é depositado pelas prefeituras numa conta de passagem e depois transferido a outras, destinadas a despesas correntes. Rapidamente ele some, dificultando o rastreio. As denúncias se sucedem, mas acabam caindo no vazio profundo do Brasilzão com 5.570 municípios.

Hollywood me enganou, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Filmes me fizeram acreditar que americanos amavam a liberdade e a democracia e rejeitavam a tirania

Pouca resistência à escalada autoritária de Trump mostra que tal imagem não era real

Sou uma vítima de Hollywood. Algumas décadas assistindo a filmes de ação me fizeram crer que o amor pela liberdade, pela democracia e a rejeição à tirania estavam inscritos no DNA dos americanos. É claro que nunca comprei essas ideias pelo valor de face.

Acompanhei dezenas de intervenções dos EUA em outros países que não podem ser catalogadas como defesa da democracia. Mesmo as que podem foram muitas vezes marcadas por um escandaloso autointeresse de Washington.

Poesia | Intangível, de Charles Baudelaire

 

Música | Paulinho da Viola - Filosofia, de Noel Rosa

 

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É urgente retomar território crescente em poder do crime

Por O Globo

Quase um em cinco brasileiros diz conviver com organizações criminosas em sua vizinhança, revela pesquisa

O domínio de vastas extensões do território brasileiro por facções criminosas e milícias tem se agravado. Praticamente um em cinco brasileiros (19%) diz conviver com o crime em sua vizinhança, segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). São ao menos 28,5 milhões de cidadãos expostos ao crime organizado. No levantamento anterior, do ano passado, eram 23 milhões, ou 14% da população. Os dados refletem, no entender de Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do FBSP, a ampliação e o controle de territórios e mercados pelas facções.

A presença dos grupos criminosos é mais sentida em cidades com mais de 500 mil habitantes, capitais e municípios do Nordeste. O crime, diz a pesquisa, cerca tanto os moradores de baixa renda (19%) quanto os de renda mais alta (18%). Mais de um quarto (27%) da população dessas áreas afirma conhecer cemitérios clandestinos, onde são sepultados mortos que não aparecem nas estatísticas oficiais.

Trabalho, principal motor para vencer a pobreza, por Cécile Fruman

Valor Econômico

O Brasil precisa de políticas que sustentem o emprego e facilitem o retorno ao trabalho após choques

Neste 17 de outubro, celebramos o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Escolhi esta data para escrever meu primeiro artigo como diretora do Banco Mundial para o Brasil porque este é o cerne da nossa missão: erradicar a pobreza e compartilhar a prosperidade em um planeta habitável.

Antes mesmo de assumir a liderança da operação no Brasil em 1º de setembro, testemunhei o avanço do país na luta contra a pobreza por meio da criação de empregos. Conheci beneficiários do programa Acredita no Primeiro Passo, como a Lauriane Costa, que com treinamento adequado e oportunidade na hora certa, saiu da pobreza por meio do trabalho como eletricista em uma grande empresa privada. Uma experiência que ela conta com a emoção e a alegria de quem viu a vida transformada para melhor.

Transições entre empregadores e trabalhadores autônomos, por João Saboia e outros

Valor Econômico

Para avançar, as políticas deveriam combinar incentivos à formalização, apoio ao crescimento dos pequenos negócios e proteção social adaptada às novas formas de trabalho

Hoje em dia tem sido comum ouvir argumentos sobre a preferência dos trabalhadores por autonomia, liberdade de horário, inexistência de patrão etc. Isto seria razão inclusive para uma certa má vontade com o trabalho celetista e a posse da carteira assinada. Trata-se de uma questão polêmica que depende muito do perfil do trabalhador e das condições do mercado de trabalho. Não pretendemos entrar hoje nessa discussão. A ideia é analisar a situação de quem já está trabalhando como autônomo ou empregador, grupo que representava cerca de 30% dos ocupados em 2024.

Em artigo publicado no Valor em 26/06/2025 analisamos o perfil dos trabalhadores por conta própria (TCPs), diferenciando aqueles que possuem CNPJ dos demais, a partir dos dados da PNAD Contínua do IBGE. Mostramos o forte crescimento da participação daqueles com CNPJ e destacamos que o aumento no número de TCPs no período 2019-2024 se deveu exclusivamente aos que se formalizaram. Essa formalização dos TCPs está fortemente ligada ao aumento do número de microempreendedores individuais (MEI) no período. Apesar disso, o percentual de TCPs com CNPJ não passava de 25% do total em 2024.

Termo ‘empreendedorismo’ se vulgarizou, por José de Souza Martins

Valor Econômico

Diferentemente de seu significado original, criado por Schumpeter, o termo designa hoje no Brasil ganhar dominação, poder e riqueza

Volta e meia circulam aqui palavras, geralmente traduções do inglês, para nós aparentemente novas, mas que já eram antigas e usuais, com variantes de significado ao longo do tempo. De certo modo, palavras têm “biografia”. Se quisermos colocar a questão numa perspectiva mais abrangente que, no caso, é a policial, elas têm até “folha corrida”.

Quando fui pesquisador visitante da Universidade de Cambridge, na Inglaterra e, depois, professor catedrático, pagava minhas contas numa agência de famoso banco bem no centro da cidade. Uma placa indicava que ali tivera casa, na qual instalara o primeiro banco da localidade, John Murdock (1755-1816), que fora membro do Parlamento e 13 vezes prefeito da cidade. Tinha um lema, que a placa consagra: “O que vocês chamam corrupção, eu chamo influência”. Explicava seu criativo modo de criar riqueza e poder.

Lula ganha tempo para Trump e IR, por Vera Magalhães

O Globo

Alcolumbre ajuda presidente a não acumular nova derrota, de olho em indicação de aliado ao Senado

Não foi pequeno o refresco que o governo obteve graças à ação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Aos poucos, ele vai somando créditos importantes junto a Lula e se credenciando como o principal avalista do Executivo no Congresso. O adiamento da votação dos vetos presidenciais, que evitou a esperada derrota do governo na queda de braço em torno da questão do licenciamento ambiental, foi providencial.

Não que alguém no Planalto acredite que seja possível, no prazo que for, mudar o ânimo da maioria do Parlamento em relação a esse tema. Ele conta com amplo apoio nas duas Casas para uma flexibilização geral dos critérios. Mas uma nova derrota agora, uma semana depois de a Medida Provisória destinada a tapar o buraco do IOF caducar, seria uma reversão muito grande da maré positiva que o governo vem tentando aproveitar para melhorar sua avaliação e as chances de reeleição de Lula.

A dinamite do bananinha, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Deputado mira caciques do Centrão, mas depende do grupo para salvar seu mandato

Depois de articular o tarifaço contra o Brasil, Eduardo Bolsonaro arranjou outro passatempo: atacar os aliados do pai. Nas últimas semanas, o Zero Três alvejou governadores de direita, parlamentares e dirigentes de partidos do Centrão. Agora volta a mira contra a senadora Tereza Cristina.

Na quarta-feira, o deputado em fuga insinuou que a ex-ministra da Agricultura teria usado o prestígio de sua família para se eleger. Acrescentou que ela só estaria preocupada com dois tipos de interesses: os pessoais e os dos “grandes capitais”.

Os progressistas e o populismo, por Pablo Ortellado

O Globo

Uma democracia saudável precisa de esquerda, direita e centro bem constituídos

Há um debate entre os cientistas sociais sobre a origem dos problemas políticos contemporâneos — se são fruto da emergência de uma nova direita que tensiona os marcos das democracias liberais ou de uma polarização mais ampla de todo o sistema político, que reorganiza tanto a esquerda quanto a direita, num mecanismo de codeterminação entre uma e outra. Em outras palavras, há um debate em curso sobre se essa nova direita radical emergiu de dinâmicas próprias ou de uma reorganização das dinâmicas entre esquerda e direita.

Na semana passada, comentei um estudo que a More in Common lançou no Brasil, aqui no GLOBO, mostrando que a população do país está segmentada em seis grupos coerentes em ideologia e valores. Nos polos, dois segmentos pequenos (cerca de 5% da população) ideologicamente coerentes e mobilizados, os Progressistas Militantes, à esquerda, e os Patriotas Indignados, à direita. Esses dois segmentos pequenos são respaldados, cada um deles, por um segmento maior, um pouco menos coerente e engajado, a Esquerda Tradicional (14%), de um lado, e os Conservadores Tradicionais (21%), do outro. Entre eles, dois segmentos grandes, muito desmobilizados e pouco afetados pelas posições ideológicas polarizadas, os Desengajados e os Cautelosos. Juntos, esses segmentos compõem a maioria (54%) da população.

Vieira e Rubio dão a largada na negociação para reverter tarifaço de 50%, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lula deixou de lado os conflitos geopolíticos com Trump. A proposta de moeda comum dos países do Brics, que irrita Washington, por exemplo, sumiu dos pronunciamentos

O primeiro encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, marcou o início efetivo da tentativa de reaproximação diplomática entre Brasília e Washington, após meses de tensão gerada pelo tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros. Ontem, na Casa Branca, a reunião representou o passo inaugural de um processo de negociação complexo, que envolve não apenas o comércio bilateral, mas, também, divergências de natureza política, ambiental e estratégica entre os dois países.

Não teve ganha-ganha nos acordos anteriores com os EUA, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Primeiros acordos celebrados entre Brasil e Estados Unidos envolvendo nossas reservas de minerais críticos proporcionaram ganhos aos americanos

Em setembro, durante entrevista ao final da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revelou que estava lendo muito sobre terras raras e minerais críticos porque não queria ser enganado. A propósito do interesse dos Estados Unidos sobre nossas reservas, alertou que “tem que ser um acordo de ganha-ganha”.

Não foi, entretanto, o que ocorreu no passado. Os primeiros acordos celebrados entre Brasil e Estados Unidos envolvendo nossas reservas de minerais críticos proporcionaram ganhos aos americanos, e nenhum retorno estratégico ao país. O acordo de assistência militar entre as duas nações, firmado em 1952, que contemplava a exploração de areias monazíticas, essenciais para a indústria de Defesa, foi tão controverso que rachou os militares, e levou o ministro da Guerra, general Estillac Leal, da ala nacionalista do Exército, a pedir demissão.

Negociação Brasil-EUA sobe de patamar, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A conversa do chanceler Mauro Vieira com o secretário de Estado Marco Rubio consolidou a determinação de Donald Trump em perseguir séria e objetivamente as negociações e a aproximação com o Brasil. “É para valer”, concluíram participantes da reunião. Trump não estava brincando, Rubio não está trucando e o pragmatismo unirá os dois países.

Se esse foi considerado pelo lado brasileiro como o principal resultado político do encontro de uma hora no Eisenhower Building, ao lado da Ala Oeste da Casa Branca, houve também avanços práticos, como a decisão de definir o cronograma de reuniões e os representantes dos dois lados para tratar de temas técnicos.

Desnecessário, excelência, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Não é papel do presidente fazer juízo público de valor sobre o desempenho de outro Poder

Lula não gostaria de ouvir dos chefes do Legislativo ou do Judiciário a desqualificação do ministério

Imprudente, para dizer o mínimo; deselegante, para usar um termo ameno. Arrogante, para expressar a impressão que dá o presidente da República dizer em público, nas barbas do presidente da Câmara, que nunca houve um Congresso Nacional de tão baixo nível.

Tal juízo é voz corrente, mas nem tudo o que se diz e se constata pode ser repetido em quaisquer situações, de qualquer maneira. Há freios de civilidade na vida cotidiana. E, quando envolve autoridades públicas, à contenção acrescentam-se as regras da institucionalidade.

Trump pode depor Maduro? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Encerramento da ditadura venezuelana seria uma boa notícia para o mundo

Mas uso de força bruta em vez de diplomacia viola sistema internacional estimulado pelos EUA

Donald Trump autorizou a CIA a empreender ações que possam derrubar Nicolás Maduro na Venezuela. Ele pode fazer isso?

Precisamos, antes de tudo, distinguir entre os reinos do ser e do dever ser. No primeiro, lidamos só com a força e o que ela pode realizar. Trump comanda a mais fabulosa máquina militar do planeta, de modo que pode fazer o que lhe der na telha, já que não há quem consiga resistir-lhe. Mas daí não se segue que ele deva fazer tudo o que pode. Isso nos remete ao reino do dever ser, onde entram as considerações éticas e cálculos políticos mais sofisticados, que vão além da força bruta. Aqui, as coisas ficam mais complicadas.

Geração Z encontra Marx ao rejeitar alienação do trabalho, por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Newsletter de pesquisador britânico, que critica irracionalidade no emprego corporativo, viraliza entre jovens

Conceito marxista tratou do assunto no século 19 e também viralizou num mundo que ainda não conhecia a internet

Noticia-se o mal-estar da geração Z com o emprego tradicional em corporações. Mais uma evidência dessa situação, segundo reportagem desta Folha, é a viralização de uma newsletter publicada no Substack por Alex McCann, escritor britânico e pesquisador do futuro do trabalho, transformado em porta-voz da massa insatisfeita.

McCann, 24, considera que o emprego corporativo envolve os trabalhadores em "não problemas" que geram reações em cadeia sem efeito prático e racionalidade.

Bem, a imposição de rotinas burocráticas ineficazes em companhias é fato conhecido. Por inércia, repetem-se procedimentos inúteis que encenam empenho e zelo pela busca de resultados, mas são rituais fechados em si mesmos. Poderiam perfeitamente ser abolidos. Mas será só isso?

Luta e bravura de Moacyr Luz, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Diagnosticado com Parkinson em 1988, o sambista foi em frente e enfrentou a doença no palco

Operado no Einstein, voltará a tocar como antes e roubar comida na geladeira sem derrubar tudo

Moacyr Luz não cabe num verbete de enciclopédia. Sambista, cantor, compositor, autor, com parceiros queridos, de "Vida da Minha Vida", "Pra Que Pedir Perdão", "Choro das Ondas", "Som de Prata", "Saudades da Guanabara" e muitas mais. Gourmet da baixa gastronomia carioca, expert em asas de galinha e bochecha de porco e padroeiro de botequins pelo país. Veio ao mundo para fazer amigos. Encontra-os onde quer que esteja. Mas só os 500 mais íntimos o chamam de Moa.

samba lhe deve uma multidão de convertidos. Desde 2005, eles cruzam a cidade ou as fronteiras dos estados para comparecer ao Samba do Trabalhador, sua roda de toda segunda-feira no Clube Renascença, no Andaraí. A roda extrapolou para São Paulo, aos sábados, no restaurante Pirajá, fora as frequentes incursões a Lisboa, Paris e, se duvidarem, Adis Abeba. Mas o que, no começo, era só o trabalho de um artista para ganhar a vida tornou-se, para Moacyr, sua maneira de salvar a vida.

Poesia | Papel, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Moacyr Luz/Ana Costa/Anna Luisa/Nilze Carvalho - Saudades da Guanabara

 

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso deveria manter vetos a PL do Licenciamento

Por O Globo

Às vésperas da COP30, país não pode dar ao mundo recado de desprezo pelo meio ambiente

O Congresso deverá analisar nesta quinta-feira os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Projeto de Lei (PL) que muda as regras do licenciamento ambiental. Depois de derrubar a Medida Provisória alternativa à elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a oposição se mobiliza para anular os vetos, embora não seja tarefa simples, uma vez que exige o voto de 257 deputados e 41 senadores. A articulação claudicante do governo no Parlamento, agravada pelas rusgas com partidos da base aliada, tem emitido sinais de dúvida ao Planalto.

A despeito das dificuldades com o Executivo, os parlamentares deveriam manter os vetos. Da forma açodada como foi aprovado em julho, sob pressão da bancada ruralista, o PL do Licenciamento, apelidado por ambientalistas “PL da Devastação”, contribuía para ampliar a degradação ambiental, ao reduzir exigências para análise de projetos com impacto relevante. Sob pretexto de modernizar a legislação, promovia um retrocesso.

Messias x Pacheco, por Julia Duailibi

O Globo

Relação pessoal de Lula com o postulante a ministro do STF pesa mais que qualquer padrinho político de peso

Em entrevista ao documentário “Visita, presidente”, da GloboNews, o então advogado Cristiano Zanin contou o que testemunhou no 7 de abril de 2018, dia em que Lula chegou à Polícia Federal, em Curitiba, para cumprir 580 dias de prisão:

— Então, o presidente colocou ali a sua mala, ele havia levado uma mala com algumas roupas. Eu e o Sigmaringa [Seixas, advogado e amigo de Lula, que morreu em 2018] perguntamos se ele queria ajuda para fazer a cama. E aí ele disse: “Não precisa. Vou ficar aqui por um tempo, então vou ter que aprender a desenvolver uma rotina aqui dentro”.

Continuou:

— Ele não quis comer nada. Era um dia muito triste para todos nós, e sobretudo para ele.

O trecho acima ilustra a razão de Lula, cinco anos depois, ter escolhido Zanin ministro do Supremo. A proximidade e a lealdade foram os atributos fundamentais. Meses depois, numa nova vaga, o mesmo critério. Flávio Dino foi protagonista nas defesas política e jurídica do governo no 8 de Janeiro. Saiu da cabeça de Dino — e do celular dele, literalmente — o decreto de intervenção federal na segurança do Distrito Federal enviado para Lula.

A marmota e os Correios, por Malu Gaspar

O Globo

Já virou lugar-comum para quem acompanha o noticiário no Brasil dizer que vivemos mergulhados num recorrente Dia da Marmota. A expressão, para os não familiarizados, é uma referência ao filme “Feitiço do tempo”, com Bill Murray, em que o protagonista acorda toda manhã para viver o mesmo dia em que os mesmos fatos se repetem, mas só ele percebe. Há vários “Dias da Marmota” rolando no Brasil neste momento, mas poucos vêm de tão longe e são tão sintomáticos quanto o dos Correios.

A estatal divulgou ontem um plano de reestruturação com medidas genéricas, de corte de despesas, demissões e venda de ativos a renegociação de contratos com fornecedores para recuperar a competitividade. Não foi informado quantas demissões, qual a economia estimada, se haverá metas de eficiência ou em que prazo se daria a tal recuperação.

Motta defende 'atualizar' relação, por Míriam Leitão

O Globo

Deputado afirma que se encontrará com Lula nos próximos dias e considerou ‘normal’ as vaias que ouviu no Rio

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),, contou que tem falado com o presidente Lula que é preciso dar uma “atualizada” na relação entre Executivo e a Câmara dos Deputados. “Devo ter, nos próximos dias, uma conversa pessoal com o presidente”, afirmou. Sobre as vaias que ouviu no Rio, considerou normal, mas discorda de Lula ao classificar o Congresso atual como de “baixo nível”. Motta também afirmou que a função de deputado é incompatível com morar fora do país, em referência a Eduardo Bolsonaro. Reconhece que “tramaram” contra a democracia, mas alivia para o ex-presidente Jair Bolsonaro. Eu o entrevistei ontem na GloboNews.

— O presidente quando se dirigiu a essa questão do Congresso, penso que ele quis fazer uma crítica mais à extrema direita. Se o presidente tiver falado se referindo ao Congresso, o que eu não acredito, quero dizer que discordo plenamente. Esse foi o Congresso que aprovou quase tudo o que o governo mandou, principalmente na pauta econômica — afirmou o deputado, em resposta à fala de Lula de que o Congresso nunca teve tão “baixo nível".

Lula está mais próximo do STF, porém estressa relação com Congresso, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A história serve para reflexão sobre Lula e a maioria conservadora do Legislativo. Uma aliança entre o Executivo e o STF para domar o Congresso é um equívoco

“Eu sou muito contra as pessoas falarem mal dos outros pela frente. Eu acho que é uma falta de educação muito grande. Não é? Falar, falar mal pela frente constrange quem ouve, constrange quem fala. Não custa nada a gente esperar um pouco as pessoas darem as costas”, dizia o escritor, filósofo e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, com ironia, numa palestra antológica, cujo vídeo viralizou nas redes sociais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no mínimo, foi muito deselegante com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao criticar o “baixo nível” do Congresso.

Lula fez a afirmação durante cerimônia, no Rio de Janeiro, de comemoração ao Dia do Professor, celebrado nesta quarta-feira. Ao fazer o comentário sobre o Congresso, com críticas a parlamentares de direita, virou-se para o presidente da Câmara, que estava entre as autoridades presentes no evento, e disparou: “O Hugo (Motta) é presidente desse Congresso, ele sabe que esse Congresso nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora. Aquela extrema-direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior”, disse Lula.

Lula e o próximo governo, por William Waack

O Estado de S. Paulo

Confiante numa vitória em 2026, Lula está prejudicando a própria governabilidade

Lula parece ter afastado de si qualquer preocupação sobre como vai governar, se ganhar a próxima eleição. Que ele acha que já levou. A soberba é um pecado grave também na política, mas esse problema é só dele.

O problema para o resto do País é avaliar em que medida as táticas político-eleitorais para permanecer no poder, ganhando a eleição, ofendem um princípio milenar da estratégia. Princípio que consiste em não destruir aquilo que se quer conquistar e manter.

Lula tem atuado contra a sua própria governabilidade em duas direções, cujos sinais de convergência são gritantes hoje mesmo. O primeiro é a armadilha fiscal pela qual garante que gastos vão subir sempre mais que as receitas.

Barroso cogita deixar pronto voto pró-aborto, por Carolina Brígido

O Estado de S. Paulo

Ministro não decidiu se vai se manifestar, mas já tem colega disposto a suspender de novo a votação

A nata do Judiciário se parece cada vez mais com um clube onde menina não entra. Cármen Lúcia deve continuar ocupando a única cadeira de ministra, mesmo com a saída de Luís Roberto Barroso. O alijamento da participação feminina no Supremo Tribunal Federal (STF) não tem impacto apenas visual, mas se reflete nas prioridades da pauta.

O processo sobre a descriminalização do aborto até a 12.ª semana de gestação, causa cara aos movimentos de defesa dos direitos das mulheres, aguarda julgamento desde 2017. Defensores da bandeira se animaram com a notícia de que Barroso cogita votar no processo antes de sábado, quando deixa a toga.

A natureza que não é, por Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Insisto: como a cultura dita “ocidental” enxerga essa entidade exterior e torturantemente real a que damos o nome de natureza?

Quando você olha para uma árvore, o que vê? A pergunta , embora soe brincalhona, carrega uma gravidade de todo tamanho. Eu a formulo a propósito da COP-30, que se aproxima da agenda global na forma de um rio intermitente, de águas débeis e incertas. Às vezes, esse rio figurado parece fluir: o número de países com presenças confirmadas na conferência já teria alcançado o quórum exigido pela ONU. Outras vezes parece secar: não haverá vagas para as delegações nos hotéis inflacionados de Belém, e muita gente não sabe até agora se poderá vir ou não. Em resumo, pelo menos até agora, só uma coisa é certa: não existe nada certo.