quarta-feira, 14 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Homicídios caem em um país ainda muito violento

Folha de S. Paulo

Número se reduz 20,3% em dez anos, mas taxa segue entre maiores do mundo; autoridades têm muito a avançar em políticas

Não é todo dia que se podem celebrar dados de segurança pública em um país acostumado a conviver dolorosamente com a violênciaA recém-divulgada redução de 20,3% dos homicídios entre os anos de 2013 e 2023 precisa ser valorizada, no devido contexto.

De acordo com o Atlas da Violência, publicado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nesse período o número anual de vítimas caiu de 60.474 para 45.747, e a taxa por 100 mil habitantes, de 28,8 para 21,2 —com pico de 31,8 em 2017.

É notável que, a despeito da melhora, nos últimos anos a criminalidade passou a figurar entre as principais preocupações mencionadas por brasileiros em pesquisas de opinião. Talvez o fenômeno deva algo ao acirramento da polarização política, mas é fato que o país se mantém entre os mas violentos do mundo, só superado por outros 14.

Opinião do dia - Pepe Mujica*

 

A vida é linda. Com todos os seus altos e baixos, eu amo a vida. E estou perdendo-a porque é minha hora de ir embora. Que sentido podemos dar à vida? O homem, comparado a outros animais, tem a capacidade de encontrar um propósito. Se você encontrar [um propósito], você terá algo pelo qual viver. Aqueles que investigam, aqueles que tocam música, aqueles que amam esportes, qualquer coisa. Algo que preencha sua vida.

Espero que a vida humana seja prolongada, mas estou preocupado. Há muitas pessoas loucas com armas atômicas. Muito fanatismo. Deveríamos estar construindo moinhos de vento. No entanto gastamos em armas. Que animal complicado é o homem. Ele é inteligente e estúpido."

*Pepe Mujica,(1935-2025), ex-presidente do Uruguai.

Já é 2026 em Nova York - Vera Magalhães

O Globo

Governadores alardeiam tese do fim da reeleição como caminho para quebrar a polarização entre lulismo e bolsonarismo

Não só boa parte do poder e do dinheiro brasileiros se mudou para Nova York nesta semana, como já vive em 2026. Os prognósticos correntes nas conversas nos muitos eventos simultâneos na cidade não são nada animadores para Lula e o governo.

O presidente brasileiro escolheu exatamente as mesmas datas da Brazilian Week, efeméride anual que reúne políticos e empresários nos Estados Unidos, para visitar Rússia e China. Estabeleceu-se, assim, uma espécie de polarização também nas agendas internacionais.

Em Nova York, o governo federal está com contingente modesto, representado pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, e pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan. A maioria dos ministros acompanha Lula. Um dos resultados é a presença em bem maior número de governadores, muitos assumidamente pré-candidatos a presidente no ano que vem (e já a pleno vapor).

O acerto de Lula e Haddad sobre as eleições de 2026 - Malu Gaspar

O Globo

Fernando Haddad nunca confirmará em público, mas já acertou nos bastidores com o presidente Lula: vai se desincompatibilizar do Ministério da Fazenda em abril de 2026 para disputar as eleições. A qual cargo ele vai concorrer ainda não se sabe. Conforme informou Andréia Sadi em seu blog na última terça-feira (13), a preferência do presidente é que Haddad concorra para uma das duas vagas que serão abertas para o Senado Federal, para fazer frente ao bolsonarismo na Casa.

A Câmara em modo 18+ - Miguel Caballero*

O Globo

Para ninguém perder cadeiras, criam-se 18 novas vagas de deputado (e suas cotas, auxílios e verbas indenizatórias...)

Na semana passada, os jornais informavam que, depois de presidir a Câmara, Arthur Lira fazia sua “reestreia na planície” na comissão sobre a reforma do Imposto de Renda. Poderia (deveria) ser uma notícia de fevereiro ou março, mas já estamos em maio. Nesta semana, com o sucessor de Lira, Hugo Motta, em Nova York, os parlamentares ganharam um “recesso informal”. Com um ritmo de projetos aprovados similar ao do ápice da pandemia, a atual legislatura tem sido marcada pela ausência de votações importantes.

Menos quando são importantes para os próprios deputados. No último dia 6, a letargia virou celeridade na adequação da distribuição dos assentos na Casa à população dos estados medida no último Censo. A mudança havia sido determinada há quase dois anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi deixada de lado e, em poucas horas, a Câmara aprovou a urgência e o mérito da proposta de reconfiguração. Para ninguém perder cadeiras, criam-se 18 novas vagas de deputado (e suas cotas, auxílios e verbas indenizatórias...).

José Mujica foi exemplo de austeridade e ética para a esquerda no poder - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Ex-presidente uruguaio faleceu nesta terça-feira, aos 89 anos, no sítio onde vivia, nos arredores de Montevidéu. Liderou pela palavra e pelo exemplo, com diálogo e sem ressentimentos

A morte do ex-presidente José Mujica, nesta terça-feira, foi anunciada pelo presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, em mensagem pelo X (antigo Twitter). A esquerda latino-americana perdeu o líder político mais carismático de sua geração, que talvez só possa ser equiparado ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, que liderou a luta contra o apartheid por mais de duas décadas, mesmo estando preso.

José Alberto “Pepe” Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Uruguai. Ex-guerrilheiro, agricultor e político, presidiu o país entre 2010 e 2015, sendo amplamente reconhecido por seu estilo de vida austero, sua retórica humanista e sua atuação firme em defesa da democracia, dos direitos sociais e da soberania popular.

Pepe Mujica deixa um legado de integridade, coerência e compromisso com os valores humanos. Sua trajetória inspira líderes e cidadãos ao redor do mundo a repensarem as prioridades da vida e da política, valorizando a simplicidade, a empatia e a justiça social. Como presidente, manteve a simplicidade e as críticas ao consumismo. Em 2013, fez um discurso marcante na ONU, em que criticou o consumismo e a lógica do crescimento econômico sem limites. “Desenvolvimento não é consumir mais. É ser mais feliz com menos”, afirmou Mujica. O discurso viralizou nas redes sociais.

Um ponto de partida para a CPI Mista do INSS - Fernando Exman

Valor Econômico

Requerimento de informações da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara de abril de 2023 já levantava suspeita de fraude

Cerca de 50 dias atrás, conta um líder da oposição, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) alertou alguns interlocutores no Congresso que um escândalo na Previdência Social estava para eclodir e poderia abalar a República.

Paulinho da Força já havia apresentado reclamações a autoridades do governo, apontando que associações estavam descontando indevidamente recursos dos aposentados. Em resposta, relata, ouviu que o problema já havia sido resolvido. Insatisfeito com o retorno, também procurava integrantes do Tribunal de Contas da União (TCU). Tentava, sem sucesso, que a análise do caso avançasse na Corte de Contas desde 2023.

Problema fiscal tratado com paliativos - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Expectativa é que relatório bimestral não apresente contenção grande de despesas, pois as receitas têm apresentado bom desempenho

É triste, mas não se espera muita coisa do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias (RARDP), também conhecido como “bimestral”, que será divulgado até o dia 22. O documento atualizará as projeções de receitas e despesas para este ano e indicará a contenção de despesas necessária para cumprir a meta fiscal do ano, o déficit zero.

Especialistas ouvidos pela coluna não acreditam que o equilíbrio será alcançado. Tampouco acham que o governo fará agora um aperto mais forte nos gastos para atingir esse objetivo.

“A meu ver, o bimestral deveria trazer um contingenciamento ou bloqueio significativo, algo como R$ 30 bilhões ou R$ 35 bilhões”, disse à coluna o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto.

A inflação ‘Poliana’ do Banco Central - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Chama a atenção de vários analistas quão otimistas são as projeções do BC para o IPCA

Chama a atenção de vários analistas quão otimistas estão as projeções de inflação do Banco Central, em particular a de 2026, que agora é o horizonte relevante para a política monetária. A questão é que praticamente ninguém ainda entendeu direito o porquê de essas estimativas estarem bem abaixo do consenso das projeções do mercado.

Para o ano inteiro de 2026, a projeção de inflação do BC, divulgada no comunicado da última reunião do Copom, é de 3,6%. Esse número é quase 1 ponto porcentual (0,90 ponto) abaixo da mediana das estimativas dos analistas para o IPCA de 2026 (de 4,50%) na última pesquisa Focus.

Congresso inventa inimigos imaginários - Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Imunidade parlamentar vem desde a Monarquia, mas Legislativo perde a vergonha em defendê-la

A imunidade parlamentar existe desde a primeira Constituição brasileira. Em 1824, a Monarquia já determinava que deputados e senadores não seriam presos "por autoridade alguma", salvo com aval do próprio Legislativo ou se pegos em flagrante delito de pena capital.

Cada deputado e senador representa milhares de pessoas, e essas vozes não podem ser caladas por enfrentarem outras autoridades, criminosos ou o poderio financeiro. É uma prerrogativa valiosíssima, especialmente em relação à liberdade de opinião e em regimes de exceção, como na ditadura militar.

BC pode aliviar, arrocho segue - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Selic pode subir mais um tico, como insinua ata do BC, mas debate central é alta da dívida pública

Banco Central bem que gostaria de ter encerrado a campanha de alta da Selic, que chegou a 14,75% ao ano na quarta passada. Nesta terça, na exposição de motivos dessa alta extra de meio ponto percentual, reiterou que deixa a porta aberta para mais alguma alta, de 0,25 ponto percentual, como havia feito no comunicado da decisão da semana passada. Foi o que disse na chamada "Ata do Copom". Se tiver qualquer fio de esperança, deixa a coisa em 14,75%.

Ainda assim, afora milagres, a taxa de juros de um ano, no mercado, deve ficar em 8% ao ano ou mais até fins do governo Lula, em termos reais —descontada a inflação. Está ora perto de 9% ao ano (triscou em 10% no pânico de dezembro).

PT repete script que quase o destruiu - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Governo repete protocolo petista de gestão de crise, mesmo sem acusação de corrupção

Diferentemente dos últimos governos —inclusive, mas não só, os do PT—, a administração Lula tem enfrentado vários tipos de crises, mas não acusações de corrupção ou de negligência em episódios de desvio de recursos públicos. Nosso justificado pessimismo com os padrões morais da política não deve nos impedir de reconhecer isso.

Mas agora, com a descoberta de quadrilhas mancomunadas com funcionários públicos desviando parte da aposentadoria de velhinhos há anos, impunemente, o nível da crise mudou. Roubar a bolsa do órfão e da viúva é indignidade que ofende qualquer um com o mínimo de decência.

Saber que o governo não só fracassou em impedir como também demorou a agir, mesmo alertado, é politicamente indesculpável. E, obviamente, é tarde demais para dizer que não sabia ou que não podia ter feito algo para impedir que bilhões fossem desviados em seu turno de guarda.

Morre Pepe Mujica, referência na esquerda latino-americana

O Globo e agências internacionais

Uma das figuras mais populares de seu país, ele lutava contra um câncer no esôfago e no fígado e duas doenças autoimunes

O ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica, uma das figuras mais populares do Uruguai e mais influentes na esquerda na América Latina, morreu nesta terça-feira, aos 89 anos de idade. Diagnosticado com câncer de esôfago em abril de 2024, ele anunciou, em janeiro deste ano, que o tumor havia se espalhado para o fígado e, "por ser um idoso", seu corpo não aguentaria novos tratamentos. Dias antes da morte, sua mulher, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky, disse que Mujica estava recebendo cuidados paliativos para aliviar a dor.

— Não posso fazer nenhum tratamento bioquímico nem cirurgia porque meu corpo não aguenta — disse Mujica em abril, acrescentando: — Estou morrendo. O que peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já terminou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso.

Poesia | Poética, de Manuel Bandeira

 

Música | João Bosco e Orquestra Ouro Preto - O Bêbado e a Equilibrista

 

terça-feira, 13 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trégua tarifária entre EUA e China deveria perdurar

O Globo

Anúncio de negociação para acordo na guerra comercial é um alívio, mas, com Trump, tudo segue imprevisível

Trouxe alívio ao planeta o anúncio de uma trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China. A escalada tarifária iniciada por Donald Trump em fevereiro saiu de controle desde o início de abril, com retaliações em série. Quando negociadores dos dois países deram início a conversas na Suíça no sábado, os produtos chineses pagavam sobretaxa de 145% nos Estados Unidos, e os americanos de 125% na China. Mantido tal patamar, o comércio entre as duas maiores economias do mundo se tornaria inviável. Pelo que foi acertado, os dois lados suspenderão as barreiras por 90 dias enquanto tentam negociar um acordo definitivo. Nesse período, as sobretaxas cairão, respectivamente, a 30% e 10% (na prática, as tarifas serão de 40% e 25%, levando em conta os patamares anteriores à disputa). A redução é bem-vinda — e deveria perdurar.

O GPT vai mudar – Pedro Doria

O Globo

Mudanças em curso na OpenAI fatalmente afetarão os rumos de toda a indústria da IA

Algumas mudanças profundas em curso na OpenAI fatalmente mudarão os rumos de toda a indústria da inteligência artificial. Duas são estritamente de negócios, e a terceira tem a ver com o produto — é o GPT 5, esperado para algum momento do segundo semestre deste ano. Mas, bem antes desse lançamento, a empresa OpenAI se transformará, com a chegada de uma nova executiva. É a francesa Fidji Simo, de 39 anos, que ocupava o cargo de CEO da Instacart, uma companhia de e-commerce voltada para tecnologia de supermercados.

Para entender como as peças se encaixam, é preciso antes sobrevoar um pouco a história de como a OpenAI nasceu e se formou. A companhia vem de uma obsessão de Elon Musk. Em 2015, Musk já considerava que a IA estava a um passo de explodir e temia que, nas mãos do Google, se tornasse um monopólio privado. Foi por isso que passou o chapéu entre investidores do Vale do Silício, com o objetivo de criar uma empresa sem fins lucrativos que desenvolveria modelos abertos de IA para todos.

Credibilidade em jogo – Merval Pereira

O Globo

A intenção sempre foi salvar Bolsonaro, como se com isso conseguissem que ele pudesse se candidatar à eleição presidencial do próximo ano

Como diz um velho ditado, até um relógio parado está certo duas vezes ao dia. Assim também, até um Congresso esclerosado pelo fisiologismo ou patrimonialismo pode estar certo em algum momento. É o caso da proposta negociada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, para equilibrar as penas dos indiciados na tentativa de golpe de 2023, reduzindo as dos “bagrinhos” e, quem sabe, aumentando as dos líderes.

Não é razoável que a imensa maioria de meros “inocentes úteis” recebam as mesmas penas e sejam acusados dos mesmos crimes que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas, militares ou civis. Mesmo que se entenda que ali não havia inocentes, não eram os financiadores e estrategistas que comandaram a depredação dos prédios públicos, mas uma “massa de manobra” incentivada a tal vandalismo pelos verdadeiros “estrategistas”, muitos deles infiltrados na multidão para facilitar a invasão.

Um bom alívio, mas não o fim da crise - Míriam Leitão

O Globo

Estados Unidos e China decidiram voltar à mesa de negociação, pois o tarifaço estava ferindo a economia de ambos

Quem piscou primeiro? Essa é a pergunta feita por uma reportagem escrita a seis mãos pelos jornalistas do Financial Times em Washington, Beijing e Londres. Falavam sobre o acordo anunciado entre Estados Unidos e China em que ambos os lados suspenderam temporariamente a maior parte das supertarifas que cada país impôs ao outro. No Brasil, fontes que acompanham essa guerra tarifária avaliam que há um alívio, mas não o fim da crise. Mesmo que a trégua seja mantida como solução permanente, o que ficaria de tudo isso é que os Estados Unidos elevaram sua tarifa contra todos os países, criaram barreiras ainda maiores para alguns produtos e quebraram as regras multilaterais de comércio.

Viagem de Lula marca a integração informal do Brasil na Rota da Seda – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O Itamaraty evita alianças formais que possam ser interpretadas como alinhamento geopolítico. A adesão formal ao projeto da China seria politicamente disruptiva

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, a convite do presidente chinês, Xi Jinping, compensa em muito o desgaste causado por sua participação nas comemorações do Dia da Vitória em Moscou, como um dos convidados de honra do presidente Vladimir Putin. Enquanto a passagem por Moscou foi marcada por críticas da oposição no Brasil e um inegável desgaste político junto às chancelarias europeias, aliadas do presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, o encontro com dirigentes e executivos chineses marcou, informalmente, a integração do Brasil à chamada Nova Rota da Seda, o ambicioso projeto comercial e logístico da China.

A turnê de Lula e a bola de cristal de Bannon - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O ideólogo do trumpismo colocou Lula, Putin e Xi no mesmo balaio num momento em que o presidente brasileiro faz turnê por Rússia e China

Steve Bannon foi taxativo ao “Financial Times”: “Donald Trump vai se recandidatar e vai ganhar”. A capacidade preditiva do ideólogo do trumpismo escalou quando ele apostou, duas semanas antes do conclave, na escolha de Robert Prevost para papa. O recuo na guerra comercial só viria dois dias depois, mas Bannon, mesmo sem tratar dela, também pareceu premonitório.

A guerra comercial foi, até aqui, um dos fatores mais determinantes para que Trump tenha chegado aos 100 dias com a mais baixa popularidade dos últimos 80 anos. Não tende a ser visto internamente como o provocador de muito barulho por nada, mas como um presidente que, frente às evidências, foi capaz de recuar e devolver otimismo aos agentes econômicos.

Bannon colocou Xi Jiping, Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo balaio: “Xi, Lula e Putin são uma aliança ruim. Eles não se cruzam com Trump. Eles não vão ajudar com a Ucrânia. Eles vão fazer o que estiver no interesse deles”. Não é uma visão exclusiva de Bannon. A ideia de que o Brasil seja visto como parte dessa aliança foi o que levou conselheiros deste governo a sugerir que o país voasse baixo para aproveitar oportunidades sem cutucar a onça com a vara curta.

A sorte e o azar de novo na rota de Lula - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Uma coisa é o impacto econômico do fator Trump no Brasil a médio e longo prazos e outra é seu efeito político a curto prazo

Lá atrás, durante o segundo governo Lula, já havia a polarização política no país, entre o PT governista e o PSDB oposicionista. Foi a época em que “The Economist” colocou o Cristo Redentor decolando na capa e um jornalista da revista inglesa escreveu “Já é amanhã no Brasil”.

Tucanos procuravam depreciar o governo que dava certo e ganhava credibilidade internacional. Citavam três razões para o sucesso: herança, juízo e sorte. Herança porque Lula teria recebido a economia arrumada por Fernando Henrique Cardoso, com privatizações, inflação baixa e contas em dia. Juízo porque Lula teria seguido a mesma política neoliberal de FHC. E sorte por pegar um período de crescimento global e boom das commodities.

Há verdades e exageros nessas avaliações. Herança existia, mas incompleta, porque FHC deixara uma vultosa dívida externa a ser paga. Juízo era discutível, porque Lula não seguiu totalmente a política neoliberal. Houve lances de sorte, mas também o azar de enfrentar, em 2008, a maior crise financeira internacional desde 1929.

Governo Lula amplia a busca de aproximação com os EUA - Assis Moreira

Valor Econômico

Uma 'agenda positiva' no atual cenário desafiador tem sido levantada com os americanos

O governo Lula multiplica a busca por maior aproximação econômica com o governo Trump, ao mesmo tempo em que em Pequim o presidente qualifica de “indestrutível” a relação bilateral com a China.

No começo do mês, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em viagem à Califórnia, destacou a mensagem do interesse brasileiro em aprofundar a cooperação bilateral com os EUA, em meio ao choque tarifário trumpista que causa incertezas no país e globalmente.

Agora foi a vez de a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, com uma delegação do setor privado, sinalizar em Washington a importância que Brasília dá para os dois lados construírem uma agenda positiva nesse ‘cenário desafiador’.

Oposição digital, defesa analógica - Eliane Cantanhêde


O Estado de S. Paulo

Risco de Lula é eleitor trocar a ‘defesa da democracia’ de 2022 pela ‘anticorrupção’ em 2026

O maior risco do presidente Lula, talvez do País, é a troca da bandeira decisiva de 2022, democracia, para uma outra, demolidora, em 2026, corrupção. Lula conquistou o terceiro mandato e impediu o segundo de Jair Bolsonaro na onda da defesa democrática e precisa ser mais ágil e convincente para não chegar à próxima eleição afogado pela narrativa da corrupção, fantasma que o acompanha desde mensalão e Lava Jato.

Tem negócio - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O Parlamento, sobretudo a Câmara, já se lança a mais uma semana de férias. O maledicente dirá que o recesso talvez não seja tão mau, dada a agenda legislativa dos últimos tempos.

Debilitada a pauta parlamentar em função da delirante campanha por anistia – impunidade – a Bolsonaro, a turma afinal se uniu para aprovar o aumento do número de deputados e para tentar malocar, contrabandear mesmo, o ex-presidente no alcance da sustação de ação penal que só poderia beneficiar Alexandre Ramagem.

Toda essa vergonha – e então este “recesso branco” – desenvolvendo-se enquanto somos informados sobre novos detalhes da roubalheira bilionária aos aposentados, assalto facilitado por iniciativa do Congresso, agente decisivo na desmobilização de mecanismos de controle às concessões de descontos.

Brasil como potência média regional - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Torna-se urgente a formulação de uma política proativa do Brasil para a região, que promova a intensificação do intercâmbio regional

As recentes visitas de Lula à Rússia, à China e a organização dos encontros do Brics e da COP-30 reforçam a presença global do Brasil, mas colocam crescentes desafios para a política externa.

As grandes transformações que ocorrem no mundo, tanto na economia global quanto na nova ordem internacional, estão acarretando impactos em todos os países. O fortalecimento do regionalismo surge como uma resposta à redução das vulnerabilidades e ao aproveitamento das oportunidades que estão surgindo. A América do Sul, na contramão do que ocorre em outros continentes, continua desunida e fragmentada.

Ninguém ousa chamar pelo nome essa aristocracia? - Michael França

Folha de S. Paulo

Hereditariedade disfarçada de competência não é uma distorção do sistema

Parte de nossa elite especializou-se na arte da simbiose com o Estado. Quando não está no poder, está ao lado dele. E quando perde uma eleição, ganha uma licitação. O país é um exemplo de como a herança de uma elite aristocrática pode atravessar gerações sem jamais sair de cena.

Diferentemente das elites europeias, que aprenderam a ceder espaço sob a pressão de revoluções e guilhotinas, a brasileira adaptou-se aos novos tempos refinando seu controle. Tornou-se banqueira, tecnocrata, lobista e acionista do próprio privilégio. Tornou-se tudo, mas raramente republicana. Mudou de nome sem mudar sua natureza.

Atlas da Violência trouxe esperança - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Mesmo com o quadro sombrio, há também iniciativas que vêm funcionando

Pesquisa atrás de pesquisa reforça que a violência é, hoje, o tema que mais preocupa o brasileiro. O preço do ovo importa, assim como a fila no posto de saúde e a corrupção em Brasília, mas o medo de levar um tiro na cabeça a caminho do trabalho é maior. E, no entanto, segundo o Atlas da Violência 2025, publicado nesta segunda, os homicídios no Brasil vêm caindo.

Se pegarmos o pico da série —2017— tivemos uma queda expressiva de 31,8 para 21,2 homicídios por 100 mil habitantes atualmente. Os dados do Atlas são de 2023, então não é impossível que, ao se contabilizar os dados de 2024, vejamos uma piora. No entanto, não parece ser o caso: na cidade de São Paulo, por exemplo, 2024 teve menos homicídios do que 2023.

Nada com a hora do Brasil - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Cláudio Castro ainda propõe a mexicanização do problema, com agência antidrogas dos EUA atuando no Rio

Pelo longo tempo que se gastou em estudos, debates e xingamentos, era de supor que a PEC da Segurança Pública chegasse ao Congresso pronta para votação, pois o assunto é para ontem. Quem dera.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, garantiu que a proposta —com relatoria do deputado Mendonça Filho, opositor do Planalto— sofrerá alterações. Depois tentou contemporizar: "O único apelo que faço é que a gente não permita a politização da discussão". Diante do clima aguardado, politização é uma palavra suave demais. A meteorologia em Brasília prevê barracos e sururus.

A quem interessar possa, todo o amor que houver nessa vida… - Ricardo Marinho

Há mais de um ano o Voto Positivo fez conhecer um texto onde se chamava a atenção sobre a “importância da leitura na primeira infância”. Naquele breve texto contava-se como um garoto se tornou leitor em outrora entre os livros de seu irmão mais velho e como hoje existem barreiras a leitura advindas da hipermodernização.

Daquela iniciativa brotou a curiosidade nos leitores e leitoras de se buscar saber como aquele menino antes de se tornar o leitor na primeira infância havia começado a ler.

Dessa dúvida interessante começamos um exercício dificílimo da busca da memorização.

Não sabemos os endereços para lhes contactar. Também não compõem de estar a mão facilmente nas memórias se elas e eles teriam caixa postal. Não saberíamos dizer se vovô português tinha uma para nossos parentes da Terra Estrangeira (1996). Sabe-se que esse recurso a despeito do seu proposito bem pode servir para destruir nomes preciosos por coordenadas ocas.

"Fumacinha...", me lembra o "charutão" da Universidade - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Essa história de "fumacinha”, nas gírias da língua portuguesa, é intrigante mesmo. Lembra-me um "fumacê”.  Nunca fumei ou consumi algo tóxico. Para dizer a verdade, nem cigarro. Mas não deixo de ser cúmplice indireto na fabricação e consumo amplo de um “charutão” que apareceu  na Universidade Católica de Brasília, durante um  encontro nacional de comunicação,  nas  férias de julho,  produzido clandestinamente pelos estudantes  para aquecerem-se e se divertirem naquela  noite gelada de inverno no campus .   

Como sói acontecer em eventos estudantis, eles sempre deixam para escolher a universidade anfitriã já próximo do da data do evento. Reitores, diretores, assessores das escolas superiores do Distrito Federal, consultados de última hora recusaram-se dar guarita à reunião. Mas a minha universidade, a dos padres, topou. Foi uma confusão, porque eram estudantes de quase 200 cursos de jornalismo, publicidade, relações públicas, marketing e, como não podia deixar de ser, também de sociologia.  Aproximadamente mil estudantes de comunicação.

Como vai o mundo? - Ivan Alves Filho,

Não é o Ocidente colonialista e imperialista que incomoda a Rússia e a China de hoje, conforme os governos ditatoriais desses dois países vêm divulgando a torto e a direito. Ou melhor, esse Ocidente histórico só incomoda em parte: vale dizer, quando as duas potências ex-socialistas e hoje imperialistas começam a disputar espaço com a União Europeia, sobretudo, na cena internacional. Aí, sim, essas potências desfilam suas acusações antiocidentais, manipulando situações reais até. 

Poesia | Ode ao burguês, de Mario de Andrade

 

Música | Roberta Sá - Sorriso Aberto

 

segunda-feira, 12 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Queda da miséria e da desigualdade precisa ser contínua

O Globo

Sem equilibrar contas públicas, governo petista corre risco de outro retrocesso nas conquistas sociais

Nos últimos dois anos, cerca de 6 milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema. Pelas estatísticas oficiais, os miseráveis eram 8,3% da população em 2023 e passaram a ser 6,8% em 2024. Em todo o país, um contingente equivalente à população do Rio ultrapassou a linha de R$ 333 mensais de rendimento domiciliar per capita. Principalmente para os mais pobres entre os pobres, ter mais dinheiro no bolso é transformador. Abre a possibilidade de acesso a mais comida, moradia melhor, uma vida mais digna. Outra boa notícia divulgada pelo IBGE na semana passada diz respeito à desigualdade de renda. O índice mais usado para medi-la, o Gini, caiu em 2024 para o nível mais baixo registrado desde 2012. Fora da África, o Brasil é o segundo país mais desigual, em situação melhor apenas que a Colômbia. O lugar nesse vergonhoso ranking segue inalterado, mas a queda abre uma oportunidade única.

Um golpe contra a esperança – Fernando Gabeira

O Globo

Meio profeticamente, antes das eleições, previ que nos livraríamos do horror e cairíamos na mediocridade

O Brasil de hoje me entristece. Macunaíma sentiria apenas preguiça. Os grandes escândalos de corrupção se sucedem. É triste ver os velhos roubados por entidades-fantasmas, com descontos em sua aposentadoria, roubados nos empréstimos consignados, cartão de crédito e quase roubados com a promessa de devolução rápida do dinheiro roubado.

Viramos o paraíso do estelionato. Neste momento, recebo ligações com a voz da assistente digital do banco, falando de uma absurda compra numa loja de construção. Disque 1 para confirmar, dois para rejeitar. Disco coisa nenhuma porque sei que é golpe. Nas cadeias e nas ruas, centenas de golpistas inventam formas de lesar. Tenho amigos que perderam suas economias. Os bancos são implacáveis, não devolvem 1 centavo.

Harvard versus Trump - Demétrio Magnoli

O Globo

Harvard não pode combater Trump sem resgatar os valores abandonados do pluralismo de ideias e do debate aberto

‘Ele tem um longo histórico de críticas às elites das quais, desesperadamente, deseja aceitação.’ Timothy O’Brien, biógrafo de Trump, usa as lentes da psicologia para interpretar o ressentimento que o presidente nutre pelas universidades da Ivy League. Trump estudou numa delas, que nunca lhe ofereceu um título honorífico. Seu vice, J.D. Vance, graduado pela Escola de Direito de Yale, esclareceu que a hostilidade ultrapassa a esfera pessoal. Em discurso à Conferência Nacional do Conservadorismo, em 2021, intitulado As Universidades são o Inimigo, conclamou o movimento a “atacar agressivamente as universidades neste país”.

Aécio critica ida Leite para PSD e minimiza pré-candidatura presidencial

Cristiane Agostine / Valor Econômico

Ex-presidente do PSDB, deputado diz que governador trocou de legenda por um 'projeto regional'

Ex-presidente nacional do PSDB e atual integrante da Executiva tucana, o deputado federal Aécio Neves (MG) criticou a saída do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do partido para se filiar ao PSD. Aécio disse que Leite trocou de legenda por um “projeto regional” e minimizou a pré-candidatura presidencial do ex-tucano.

“Vejo nessa decisão do governador, na verdade, a opção por um projeto regional, já que o partido ao qual ele se filia, como todos sabem, provavelmente terá outras opções na disputa presidencial”, disse Aécio em nota divulgada à imprensa.

Decisão sobre Ramagem abala relação entre STF e Câmara

Por Andrea JubéMurillo CamarottoGabriel ShinoharaMarcelo Ribeiro / Valor Econômico

Semana começa com a expectativa de reação de Hugo Motta contra anular, parcialmente, a resolução da Casa que havia suspendido a ação envolvendo Ramagem

A semana começa com a expectativa de reação do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), à decisão unânime da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para anular, parcialmente, a resolução da Casa que havia suspendido a ação penal sobre a trama golpista contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

A decisão do STF, embora amparada pela Constituição Federal, deve estremecer as relações entre os dois Poderes, e reacender a crise entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a Corte.

No sábado (10), a Primeira Turma do STF alcançou a unanimidade no julgamento com o voto da ministra Cármen Lúcia no plenário virtual. O colegiado seguiu o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, no sentido de que a suspensão da ação penal, imposta pelo plenário da Câmara, se aplica apenas para crimes cometidos após a diplomação de Ramagem, conforme dispõe a norma constitucional.

De Jorgina ao Careca do INSS, pouco se recupera

Bruno Carazza  / Valor Econômico

Sistema judiciário brasileiro é incapaz de apurar conexões políticas e de reaver valores desviados, o que proporciona a recorrência de fraudes

A primeira vez que o nome de Jorgina Maria de Freitas Fernandes apareceu na grande imprensa associado ao termo INSS foi há quase 34 anos, no dia 22 de maio de 1991, em reportagens de “O Globo” e do extinto “Jornal do Brasil”.

As notícias davam conta do pedido de abertura de processo contra um juiz (Nestor José do Nascimento), dois procuradores do INSS (Hélio Ribeiro de Souza e Marcílio Gomes Silva), um perito judicial (Carlos Alberto Mello dos Santos) e 16 advogados por um esquema que forjava e superfaturava indenizações por acidente de trabalho para beneficiários da previdência pública. Jorgina era uma das advogadas e tornou-se o rosto e o símbolo da fraude bilionária que indignou o país.

Do relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito aberta para apurar as denúncias, percebe-se o quanto esse tipo de crime já era recorrente na história brasileira: “A CPMI para ‘Apurar Fraudes na Previdência Social’, que ora apresenta o relatório final dos trabalhos desenvolvidos, é a 19ª já instituída para esse mesmo fim”.