Debate sobre dominância fiscal serve de alerta
O Globo
Brasil está longe do ponto em que alta de
juros é ineficaz contra inflação, mas economistas já cogitam tal cenário
O Comitê de Política Monetária (Copom),
do Banco Central (BC),
aumentou a taxa básica de juros de 11,25% ao ano para 12,25%. Diante das
expectativas de inflação acima
do teto da meta em 2025, não havia outra alternativa senão aumentar o custo do
crédito, para deter o crescimento da demanda e a alta dos preços. Foi o maior
aumento nos juros desde fevereiro de 2022 e o maior do atual governo. A medida
— necessária para deter a escalada inflacionária — ocorre num momento de
intenso debate entre economistas sobre o risco de o Brasil chegar a um ponto em
que subir os juros não adiantará mais para deter a inflação, situação conhecida
tecnicamente como “dominância fiscal”.
Essa anomalia acontece quando a dívida pública sai de controle, e o aumento dos juros acaba contribuindo para aumentá-la ainda mais, deteriora a percepção de risco, alimenta a alta do dólar e repercute negativamente na própria inflação. Quando um país chega a tal ponto, a alta dos juros pode até surtir o efeito oposto ao desejado. É consenso que o Brasil ainda está muito longe dele, mas o simples fato de que a questão seja debatida revela até que ponto se deteriorou a credibilidade do governo para manter as contas públicas sob controle.