domingo, 14 de abril de 2013

OPINIÃO DO DIA – Aécio Neves: a seca nordestina

"O nordestino sofre hoje com a pior seca em 40 anos. Se não chover logo, não haverá nem onde mais buscar água. Está na hora de prepararmos o Nordeste para um ousado projeto que garanta água para que as famílias possam preparar a terra e manter os seus rebanhos. A seca é inevitável, mas ela só vira calamidade, como agora, quando falta governo."

Aécio Neves, senador (PSDB-MG). O Estado de S. Paulo, 14/4/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Moradias Populares: ex-servidores fraudaram Minha Casa Minha Vida
Venezuela decide o seu futuro
Lei mais flexível para domésticas

FOLHA DE S. PAULO
Engenharia supera direito em total de calouros pela 1ª vez
Maduro é favorito em eleição hoje na Venezuela
Sindicatos inflam associados por fatia maior de imposto

O ESTADO DE S. PAULO
Inflação não precisa de tiro de canhão’, diz Mantega
Propaganda oficial cria mitologia
Governo pode mudar meta de contas públicas

ESTADO DE MINAS
Cruzada às avessas na política do país
Governador fala do plano de ajuda aos municípios
Projeto contra os conflitos e pela preservação

O TEMPO (MG)
Norte de Minas vive a pior seca dos últimos 40 anos
Obras federais herdadas da gestão de Lula estão travadas
Ministro é suspeito de fazer caixa dois

CORREIO BRAZILIENSE
Morte de bebês fecha maternidade do HRC
Carro oficial e sem controle
Inflação, quem te trouxe de volta?
Às urnas, pós-Chávez

GAZETA DO POVO (PR)
País precisa criar 1 milhão de vagas para ensino aos 4 anos
Bancada do PR é contra limitar poder do MP para investigar
Venezuelanos testam nas urnas o legado de Hugo Chávez

ZERO HORA (RS)
“Meu negócio é vender combustível”

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Seca devora a economia
Geraldo descarta disputar eleição para governador
A Arena vai abrir suas portas

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do País

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Moradias Populares: ex-servidores fraudaram Minha Casa Minha Vida

Grupo criou esquema utilizando construtoras de fachada para obter contratos. Empresas registradas no mesmo endereço, numa modesta casa em São aulo, conseguiam executar obras com recursos do Ministério das Cidades. Um grupo de ex-funcionários do Ministério das Cidades criou uma rede de empresas de fachada, algumas registradas no mesmo endereço, para abocanhar contratos de construção de casas populares do programa Minha Casa, Minha Vida
Casa de fachada

Ex-servidores das Cidades integram esquema para ganhar contratos de habitação popular

Gabriela Valente

BRASÍLIA - Um esquema de empresas de fachada, parte delas registrada no mesmo endereço e controlada por um grupo de ex-funcionários do Ministério das Cidades, abocanha cada vez mais contratos para construção de casas populares destinadas às faixas mais pobres da população. No centro da história está a RCA Assessoria em Controle de Obras e Serviços, empresa com sede em São Paulo e três sócios: Daniel Vital Nolasco, ex-diretor de Produção Habitacional do Ministério das Cidades até 2008 e filiado ao PCdoB; o ex-garçom do ministério José Iran Alves dos Santos; e Carlos Roberto de Luna. A RCA funciona numa sede modesta, mas apresenta números invejáveis para quem está no setor há tão pouco tempo. Alardeia atuar em 24 estados e mil municípios, e garante que entregou 80 mil casas. Hoje, estaria à frente da construção de 24 mil unidades. O faturamento milionário da RCA virou alvo de disputa judicial, que expõe supostas conexões da empresa com o PCdoB. Até a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra tem o nome citado.

A RCA dá consultoria a prefeituras e beneficiários, e atua como correspondente bancário de sete pequenas instituições financeiras autorizadas a repassar verbas federais nos programas de casas populares para cidades com menos de 50 mil habitantes. Atuou no Programa Social de Habitação (PSH) e agora opera no seu sucessor, o Minha Casa. Até aí, tudo dentro da normalidade. Mas a RCA faz mais: consegue ao mesmo tempo ser representante do agente financeiro, tocar construções e também medi-las e fiscalizá-las. Para isso, usa uma rede de empresas que os sócios e os funcionários registraram em seus nomes e cujos endereços ou são na sede da RCA, em São Paulo, ou na casa de parentes.

O site da empresa dava o exemplo de como a RCA frauda o processo de seleção de construtoras que vão executar obras financiadas com recursos federais e encomendadas por prefeituras. Para contratar uma construtora responsável pela execução de obras no Espírito Santo, lançou um edital de convocação em dezembro de 2012. O site convocou os interessados e dias depois divulgou os vencedores. Duas foram selecionadas. Uma delas é a JB Lar. Tudo como manda o figurino. Não fosse um detalhe: o endereço da JB Lar é o mesmo da RCA, a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio 4.553. A JB Lar foi habilitada para construção de 95 casas no Espírito Santo. Na sexta-feira, após ser procurada pelo GLOBO, a RCA tirou do ar o link "Editais" do seu site.

Disputa pelo faturamento da empresa

O esquema de empresas de fachada está narrado numa ação na Justiça de São Paulo. Nela, Fernando Lopes Borges - outro ex-servidor do Ministério das Cidades, que seguiu na Secretaria Nacional de Programas Urbanos até ser exonerado por abandono do cargo em 2010 - apresenta-se como sócio oculto da RCA. Ele era representado no negócio pelo irmão Ivo, já falecido. E a disputa pelo faturamento da empresa começou justamente após a morte de Ivo.

Num acordo prejudicial, Fernando chegou a receber pouco mais de R$ 1 milhão da RCA. Mas quer mais e briga na Justiça. Na ação, afirma, sem apresentar provas, que o desvio de recursos do Minha Casa Minha Vida teria começado com Erenice Guerra. Ela teria articulado a entrada de bancos privados na operação do programa em pequenos municípios. Segundo o denunciante, teria direito a R$ 200 por casa construída. Fernando sustenta na ação que o negócio chegaria a render R$ 12 milhões.

Ele diz que o PCdoB desde 2005 receberia dinheiro desviado para a construção de casas populares do Programa de Subsídio Habitacional (PSH), que foi absorvido pelo Minha Casa Minha Vida. Procurado, Fernando sustentou que a RCA está envolvida em irregularidades nos programas federais do Ministério da Cidades, mas não quis confirmar as denúncias contra Erenice e o PCdoB. No processo, Fernando mostra uma troca de e-mails entre Carlos Luna, da RCA, e o escritório Trajano & Silva, que foi fundado por Erenice. Eles tratam da retirada do sócio Ivo e do valor que deveria ser pago a Fernando.

O esquema incluiria a construtora Souza e Lima Engenharia, que pertence ao ex-engenheiro e ao ex-gerente-geral da própria RCA. Essa empresa fez casas no Maranhão para o Minha Casa Minha Vida em contratos geridos pela RCA. Outra empresa de pessoas próximas prestou o mesmo serviço. A Martins MA Engenharia - que hoje pertence ao cunhado de Daniel Vital Nolasco - também construiu casa para a RCA.

Na ação, Fernando reclama a sociedade nas empresas de assessoria cadastral Artifício, Setorial, Sigma e Marketplan. Todas seriam do grupo RCA. As três primeiras têm Nolasco como sócio. José Iran é um dos donos da última. O grupo tem participação em outras empresas. Carlos Luna e José Iran são donos da Superdata. Luna é um dos sócios da LL Engenharia. Fernando relata no processo que há contratos com a DJC/Naza Engenharia, que seria responsável pela construção de oito mil casas. Essa empresa seria de Divaildo, irmão de Celma Casado Silva. Ela foi exonerada em fevereiro deste ano da Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades. Segundo o órgão, ela foi exonerada a pedido.

Fonte: O Globo

Inflação, quem te trouxe de volta?

Economistas ouvidos pelo Correio atribuem o aumento do custo de vida e o baixo crescimento a uma sequência de falhas da política enconômica, a começar pela queda nos juros sem controle do gasto público.

O tormento da inflação

Especialistas apontam erros de política econômica que levam o país a viver uma estagflação - situação que combina custo de vida em alta e baixo crescimento

Victor Martins, Rosana Hessel

Há pelo menos uma década, quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder e os mercados não sabiam o que esperar, o assunto inflação não ganhava as ruas como nas últimas semanas. Seja nas redes sociais, mesas de bar ou corredores de supermercado, a carestia está no centro do debate, sobretudo depois de ter estourado o teto da meta em março, quando bateu em 6,59% no acumulado de 12 meses, obrigando o governo a colocar a alta de juros de volta na agenda econômica. O custo de vida corrói o orçamento das famílias por meio do tomate, da batata, do arroz, da farinha — alimentos indispensáveis ao brasileiro cujos preços dispararam e causaram a sensação de que o dinheiro está valendo pouco. Segundo analistas, foi o modelo de gestão adotado pelo governo nos últimos anos que empurrou o país para o atual cenário que combina inflação alta e baixo crescimento — no ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 0,9%. O fenômeno é chamado pelos economistas de estagflação.

A política leniente com a carestia, que defende que um pouco de inflação ajuda no crescimento, se mostra, na visão de especialistas, equivocada. O resultado da produção industrial e das vendas do comércio em fevereiro, que caíram de 2,5% e 0,4% respectivamente, mostra porque a alta generalizada de preços é, na verdade, perversa. Para os especialistas, ela tira renda de quem consome e confiança de quem investe. Sem investimento, o país perde produtividade e cresce pouco.

Segundo economistas ouvidos pelo Correio, o atual quadro de inflação alta e baixo crescimento é resultado de uma sequência de falhas da política econômica. Os juros foram colocados no menor patamar da história — o que, em princípio, não é ruim — sem que houvesse controle do gasto público. Em 2012, mesmo maquiando os números, o governo não cumpriu a meta de superavit nas contas públicas, de 3,1% do PIB, e admite que também não vai fazê-lo neste ano. A política fiscal expansionista, combinada com juro baixo e crédito farto, gerou um volume de demanda que o sistema produtivo não conseguiu suprir.

No ano passado, quando o mundo vivia uma queda na oferta de alimentos e alta nas cotações de commodities, o governo permitiu que o dólar subisse, o que pressionou os preços dos importados. E, na tentativa de baixar as tarifas de eletricidade — objetivo, em si, também meritório —, o governo promoveu uma atabalhoada intervenção nos contratos de concessão de energia, que assustou o setor privado. Com isso, os investimentos terminaram o ano passado com queda de 4%, o pior desempenho desde 2009.

“Tudo isso pressiona a inflação”, constata Simão Silber, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP). “O instrumento mais geral para segurar a inflação é a taxa de juros. Em segundo lugar, gerenciar melhor os gastos públicos, para eles não injetarem demanda adicional. É preciso ainda deixar de controlar o câmbio artificialmente. Do jeito que estão os fundamentos econômicos, tudo conspira para ter inflação elevada”, pondera.

Produtividade

Outro problema é a falta de qualificação da mão de obra, que fez os salários subirem muito além da capacidade produtiva dos trabalhadores e elevou custos para a indústria. Essa falha reduz a produtividade e tira a competitividade das empresas em relação a concorrentes internacionais. No Brasil, são necessários cinco trabalhadores para produzir o mesmo que um nos Estados Unidos.

A falta de capacitação é tamanha que, entre 144 nações avaliadas pelo Fórum Econômico Mundial, o país aparece no 116º lugar em educação, atrás de Chade, Suazilândia e Azerbaijão. Em ciências, Venezuela, Lesoto, Uruguai e Tanzânia estão mais bem posicionados que a bandeira verde e amarela, dona da 132ª posição.

Com a capacidade produtiva limitada, o caminho natural para suprir a demanda doméstica seria a importação. O governo, porém, impõe barreiras protecionistas, encarecendo os produtos estrangeiros. A justificativa da equipe econômica para manter o Brasil tão fechado ao exterior é a defesa do setor produtivo nacional. No entanto, o Planalto teme uma crise no balanço de pagamentos, que tem se deteriorado expressivamente nos últimos anos por conta do enfraquecimento das exportações.

Essas preocupações impedem o Brasil de se integrar a cadeias produtivas internacionais, o que se torna mais um elemento a tirar a capacidade de o país competir. “O Brasil tem condições de baixar a inflação e crescer se o governo atacar os problemas de competitividade. O que vai na direção de uma reforma tributária, de um programa de concessões de serviços públicos, de melhora na educação e da produtividade do trabalho”, alerta Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe do banco J. Safra.

Na avaliação de Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, o Banco Central errou em 2011, quando obedeceu à presidente Dilma Rousseff e deu início ao processo que levou os juros para 7,25% ao ano — o menor patamar da história. “Agora ele está pagando a conta. Os erros estão vindo desde o segundo semestre de 2010, quando o BC deveria ter elevado a Selic, mas não o fez. Não é à toa que a inflação rompeu o teto da meta”, sentencia.

Ritmo lento

Diante do fraco desempenho das vendas do varejo e da produção industrial em fevereiro, o país encolheu 0,52% no mês, segundo dados do Banco Central. Com o resultado, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano corre o risco de ser inferior a 1% e mostrar uma desaceleração frente ao último período de 2012. O cenário preocupa o governo, que ainda vê o ritmo de expansão como gradual e aquém do desejado. Por isso, o Ministério da Fazenda está disposto a turbinar a economia com mais desonerações fiscais. Até o momento, a renúncia fiscal programada para o ano é de R$ 65 bilhões, mas o número pode ser maior caso a atividade continue a patinar. Para o Itaú Unibanco, o governo deve abrir mão do superavit primário. Em 2013, ele deve cair para 1,9% do PIB — em 2012 a economia havia sido de 2,4% — e para 0,9% em 2014.

Fonte: Correio Braziliense

Seca devora a economia

A imagem de retirantes famintos ficou no passado. programas de trasnferência de renda abrandam a vergonha da fome durante a estiagem. Hoje, são atividades produtivas que estão sendo dizimadas. Só na pecuária, prejuízo é de R$ 1,5 bilhão

Um novo flagelo

Estiagem que castiga Pernambuco e o Nordeste não é mais aquela que produz retirantes famintos. Mas segue perversa ao dizimar animais e plantações

Adriana Guarda

BOM CONSELHO - Na seca de 1932, o jovem Miguel Arraes decidiu fazer prontidão na frente de sua casa, no município cearense do Crato. Com uma jarra do lado e bolachas à mão, o ex-governador de Pernambuco distribuía água e comida com retirantes famintos. Hoje, a calamidade tem outra face. A imagem de crianças esquálidas de Vidas Secas não representa a "nova estiagem". Programas de transferência de renda abrandaram a vergonha da fome. O flagelo é econômico. No Semiárido pernambucano, atividades produtivas foram quase dizimadas. Só na pecuária, o prejuízo é de R$ 1,5 bilhão. Há 2 anos não cai chuva suficiente para plantar feijão e milho. O verão prolongado comprometeu até a produção irrigada. Entre os meteorologistas é consenso que as previsões para os próximos três meses não são otimistas.

"Se não chover dentro de mais um mês vou abrir a porteira do curral e deixar o gado ir embora", confessa, desolado, o pequeno criador Sebastião Curvelo, de Bom Conselho (Agreste). Bastim, como é conhecido no campo, admite abandonar a atividade de uma vida inteira, por falta de condições para alimentar os animais. Desde que a estiagem se prolongou, o produtor divide o dinheiro da aposentadoria rural com os bichos. "Fico com uma parte para a feira da família e o restante gasto com eles, mas não tô aguentando", diz.

Anêmicas e desnutridas, as vacas quase não produzem mais leite e deixam de gerar renda para virar um fardo. "Hoje a bóia delas é folha de bananeira. Compro uma carrada por R$ 200 e ainda tenho que pagar mais R$ 200 pelo frete", calcula Bastim, que chegou a ter 60 animais, mas hoje só restam 13. Uma parte vendeu barato e outros morreram de inanição.

A terra esturricada e sem pasto obriga os criadores a uma rotina de peregrinação pelo Semiárido em busca de água e comida para os animais. Referência de uma pequena produtora que conseguiu estruturar seu sítio, Maria Tito Luz, de 51 anos, vendeu uma casa e pediu empréstimo para manter o curral vivo, no distrito de Barra do Brejo, em Bom Conselho. Os barreiros secaram e a silagem armazenada para dar ao gado na estiagem só durou seis meses. "A última trovoada que deu por aqui foi em junho de 2012, mas foi fraca. Nasci e me criei por essas bandas e nunca vi uma seca dessas", diz.

Os carros-pipa do Exército, do Estado e da prefeitura nunca deram o ar da graça em Barra do Brejo. Maria é obrigada a desembolsar R$ 120 por semana num pipeiro para encher o barreiro onde os bichos matam a sede. O sol a pino e o céu sem nuvem, de um azul estridente, fazem a água evaporar rápido. Junto com os irmãos que moram na vizinhança, a criadora cotiza a compra de palma, vai buscar cana-de-açúcar doada pelo governo e disputa espaço nos mananciais onde resta uma nesga de água.
"Se a praga (da cochonilha do carmim) não tivesse acabado com a palma, nossa situação seria diferente. Ela era a salvação do gado. Hoje, precisamos buscar a planta em Alagoas. Pagamos R$ 600 por um caminhão pequeno e quem vende ainda nos obriga a cortar o caule e carregar o caminhão", conta. A cochinilha dizimou 90% da plantação de palma de Pernambuco.

Com a altivez da mulher do campo e um empréstimo que conseguiu tirar (a muito custo) no Banco do Nordeste, Maria vai conseguindo afastar, enquanto pode, o fantasma da morte de seu rebanho. "Ainda cheguei a perder cinco reses", contabiliza. Dos 30 animais que ficaram, vendeu dez (cada um por R$ 500) para dar de comer e beber ao restante. Toda a persistência é para manter a criação viva, porque a produção de leite e a geração de renda definhou junto com as vacas. "Faísca era minha melhor matriz. Dava até 12 litros de leite por dia. Hoje (mal alimentada) não faz nem três litros", compara.

Quem não se empenhou ou não teve a mesma sorte que Maria viu a seca levar os bichos. Os cemitérios de carcaças de animais se espalham por todo o Agreste e Sertão do Estado. Nos 1.233 quilômetros percorridos pela reportagem do JC em seis municípios, na semana passada, a cena se repetiu invariavelmente. É o retrato de uma terra arrasada, que perdeu metade do seu rebanho bovino. "Num intervalo de 10 anos, o plantel pernambucano disparou de 1 milhão para 2,5 milhões de cabeças de gado", compara o secretário estadual de Agricultura, Ranilson Ramos. Em 2 anos de seca, a tradicional bacia leiteira do Estado retrocedeu ao que era há uma década.

O colapso na oferta deixou de balde na mão um parque industrial inteiro e alçou o preço do leite de Pernambuco ao mais caro do País. Gigantes como a Brasil Foods (dona da Sadia e Perdigão), Betânia e Lácteos Brasil (LBR) estão com suas fábricas ociosas e já dispensaram pessoal. No mercado, a informação é que a Perdigão/Batavo, em Bom Conselho, já teria demitido 93 funcionários e tem outra lista de 100 cortes prevista para este mês. Procurada, a empresa não respondeu ao pedido de entrevista. "Antes da seca processava 150 mil litros na fábrica, hoje só consigo captar 50 mil litros", lamenta o dono da Bom Leite, Stênio Galvão. O laticínio de São Bento do Una (Agreste) está comprando leite em pó para fabricar suas bebidas fermentadas.

"O volume diário de leite no Estado não roda sequer três indústrias, que dirá o mercado inteiro, que inclui laticínios menores e queijarias", observa o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios de Pernambuco, Albérico Bezerra. Pesquisa da Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária (Sara) do Estado, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) em 600 propriedades do semiárido, mostra que a produção de leite despencou 72% e que 17% dos criadores venderam (ou perderam) seus animais e saíram da atividade. O mais dramático é que 80% da atividade estava na mão de pequenos produtores, que levaram décadas para construir um ativo agora arruinado.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

O custo de abrigar mais um aliado

O 39º ministério do governo federal terá um orçamento anual de R$ 54,3 milhões, mas sua necessidade provoca debates

Acomodar o PSD na base aliada do governo federal no Congresso tem seu preço. A recém criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa, o 39º ministério da Esplanada, nasce com orçamento de R$ 54,3 milhões, sendo R$ 1,45 milhão somente para custear servidores.

Números extraoficiais estimam em R$ 7,9 milhões o investimento para instalar a nova pasta. O discurso de valorizar e incentivar a expansão dos negócios dos micro e pequenos empresários se associa à necessidade política do surgimento da estrutura. Disposta a evitar deserções de sua base no Congresso e atrás de tempo de TV para a campanha de 2014, Dilma Rousseff operou uma minirreforma ministerial no mês passado. Atendeu PDT, PR e a ala mineira do PMDB. Faltou o PSD, que deve assumir a nova secretaria.

Publicada em 1º de abril, a lei que estabelece o ministério determinou prazo de 90 dias para que a estrutura esteja funcionando. Serão 68 funcionários, incluindo ministro, secretário executivo e 66 cargos de livre nomeação – composição que custará R$ 328 mil mensais em salários.

A secretaria absorverá atribuições até então executadas pelo Ministério do Desenvolvimento, como incentivar o crescimento, a qualificação, a inovação e a captação de mercados estrangeiros para as empresas de micro e pequeno porte e artesanato.

Apesar da relevância do setor, a necessidade de criar o ministério sofre questionamentos. Para o economista Carlos Cova, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), benefícios aos pequenos empresários não dependem de uma pasta. A sincronia entre diferentes órgãos seria suficiente para resolver problemas estruturais:

– Não há compromisso com eficiência e racionalidade. Nenhum gestor da iniciativa privada, bem sucedido, coloca na sua subordinação imediata 39 diretorias.

Segundo o professor, a simplificação da burocracia, capaz de reunir em uma guia todos os tributos, taxas e outros encargos, deveria ser uma bandeira da secretaria, assim como a facilitação do acesso ao crédito e programas de qualificação de mão de obra.

A crítica mais contundente ao 39º ministério partiu de um conselheiro direto de Dilma, o empresário Jorge Gerdau. À frente da Câmara de Políticas de Gestão, o industrial tem assessorado o Planalto na busca por eficiência e resultados. Em março, desabafou:

– O Brasil deveria trabalhar com meia dúzia de ministérios.

Sete partidos dominam pastas

No total, os ministérios gastam mais de dois terços do orçamento no custeio da máquina

A criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa reforçou a hipertrofia do primeiro escalão federal e a extensão da base do governo Dilma Rousseff. Dos 10 partidos que ajudaram a presidente a se eleger, sete têm titulares na Esplanada (PMDB, PP, PSB, PRB, PDT, PR, PC do B). A composição estabeleceu o recorde de 39 pastas, divididas em 24 ministérios, 10 secretarias especiais e cinco cargos com status de ministro, como o chefe da Casa Civil e o presidente do Banco Central.

Contemplar tantos aliados custa caro. Juntos, os 39 ministros administram um orçamento superior a R$ 2 trilhões, mas empregam mais de dois terços de seu caixa no custeio da máquina pública, composta por cerca de 915 mil servidores.

O cientista político Lucio Rennó, professor da Universidade de Brasília (UnB), destaca que este inchaço é progressivo no Executivo brasileiro, com um salto mais alto no governo petista, marcado pela diversidade de correntes internas e alianças externas.

– Quanto maior a coalizão, em número de siglas, e quanto mais diversa ela for ideologicamente, mais cargos de confiança se tornam necessários – explica Rennó.

Apesar do exagero na estrutura, Rennó acredita que algumas novidades da Esplanada trouxeram benefícios. O Ministério do Desenvolvimento Social, com suas políticas de combate à pobreza extrema, vem tendo sucesso ao reduzir as desigualdades no país. Já o Ministério da Pesca, em resposta aos pedidos do PRB, nem tanto.

– A criação de algumas pastas representaram avanços relevantes em suas áreas específicas. Não são todas que aumentam gastos sem retorno de eficiência – pondera.

Fonte: Zero Hora (RS)

A inflação do tomate

Por que o governo Dilma fez quase tudo errado no combate à alta dos preços

Esstou usando uma joia." Com essa frase, a apresentadora Ana Maria Braga apresentou o colar de tomates de seu figurino no programa da quarta-feira passada. Foi apenas uma das muitas piadas que pipocaram ao longo da semana sobre o mais novo símbolo da inflação. Numa piada da internet, a atriz Claudia Raia, chefe de uma quadrilha internacional de prostituição na novela das 9, diz que mudará de ramo e traficará tomates. Em outra, um caqui que se passa por tomate vai para a cadeia. Alguém sugeriu um novo programa social - Meu Tomate Minha Vida. Na semana em que a inflação acumulada nos últimos 12 meses ultrapassou o teto da meta estipulada pelo Banco Central, o Brasil se transformou no "país do tomate". Com alta de 122% em um ano, o fruto contribuiu para o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechar o período em 6,59%.

Não se acredita num descontrole que leve o país aos patamares de inflação do final dos anos 1980, quando, na casa dos 1.000% ao ano, ela obrigava os brasileiros a apostar corrida, entre as gôndolas dos supermercados, com os funcionários responsáveis pela remarcação de preços. É um erro, porém, comparar os índices desses dois períodos, tantas foram as mudanças da economia na conquista da estabilidade. Mesmo que o patamar atual não pareça assustador, ele é, índices desse porte estão longe de representar um problema trivial. Um primeiro efeito: na semana passada, os supermercados divulgaram que, em fevereiro, registraram queda de 2,1% nas vendas de alimentos e bebidas, em comparação com o mesmo mês de 2012.

O consumo diminuiu sobretudo entre a classe média e os mais pobres. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), as vendas para famílias de menor renda caíram 4% em 12 meses. Essa situação — em que os maiores beneficiários do crescimento recente da economia brasileira perdem poder de compra - é a principal fonte de preocupação para o futuro político da presidente Dilma Rousseff.

Dois dias antes da divulgação do IPCA, a presidente convocara a seu gabinete três de seus principais consultores econômicos: o ex-ministro Delfim Netto, Luiz Gonzaga Beluzzo e Yoshiaki Nakano, que cuidou das contas de várias administrações tucanas. O governo só se pronunciou sobre o assunto depois que o índice foi divulgado, na última quarta-feira. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não pouparia esforços para evitar a alta de preços e quis demonstrar otimismo. Afirmou que a entressaff a agrícola terminará em breve, que as pressões sobre o setor de serviços estão mais brandas. Também lembrou que a inflação de março foi a mais baixa do ano - segundo ele, um bom sinal. Procurado por ÉPOCA para comentar o assunto, Mantega não quis dar entrevista. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também não quis se pronunciar. Na sexta-feira, durante um evento em São Paulo, Mantega afirmou que "as medidas que forem necessárias serão tomadas pelo governo". "Não titubeamos em tomar as medidas, inclusive, posso dizer, mesmo medidas que são consideradas não populares, como elevação da taxa de juros, quando isso é necessário", afirmou. "O Banco Central tem dito que não há e não haverá tolerância com a inflação", disse Tombini no mesmo dia.

Sai o tomate, entra o camarão

É bom mesmo que o governo se preocupe. O Brasil é hoje o país do tomate da mesma forma que, no passado, foi o "país do chuchu" ou o "país da merreca". Nos anos 1970, quando a inflação disparou depois do choque do petróleo, o ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen tornou-se motivo de piada quando tentou expurgar o chuchu do cálculo para reduzir o índice da inflação, alegando que poucos brasileiros incluíam um alimento tão sem gosto em sua dieta. Pouco depois, o humorista Jô Soares, no programa Viva o Gordo, satirizava Delfim Netto com o personagem Doutor Sardinha - um ministro da Agricultura que, a muito custo, aprendia os nomes das frutas, legumes e tubérculos que pressionavam os preços para cima. Anos mais tarde, na ressaca do Plano Cruzado, uma nova geração de humoristas criticava a mudança constante da moeda durante o governo José Sarney. No programa TV pirata, o dinheiro, chamado "merreca", era desvalorizado e passava a se chamar "merreca nova". Ainda mais desvalorizado, virava "saco de pitomba", para terminar como "Narjara Turetta" - homenagem brincalhona a uma atriz de novela daquele tempo. O Brasil sempre fez piada com a alta dos preços.

A inflação, como as piadas sobre ela, faz parte de nossa história e de nossa cultura. Ela já foi uma epidemia na América Latina - e, nos anos 1990, foi controlada em quase toda a região. Em países como Chile (1% ao ano), Colômbia (1,8%), Peru (2,6%) e México (3,6%) a alta dos preços não assusta. No Brasil, também foi assim desde que o Plano Real adotou procedimentos transparentes para combater a alta dos preços e manter a estabilidade. A inflação só voltou a ser uma preocupação recentemente porque essa transparência entrou em xeque. Várias medidas do governo sugerem que ele tem sido menos rigoroso em pelo menos duas questões que interferem no combate à inflação - o câmbio e as contas públicas. A inflação atual é, portanto, um fenômeno bem distinto do que era no passado. Se, antes, temia-se o furor da remarcação, e todos os preços eram indexados e subiam por inércia, hoje a alta de preços tem uma natureza mais complexa do que sugerem os tomates da feira.

A inflação atual tem dois tipos de explicação. O primeiro, e nisso Mantega tem razão, tem a ver com fatores do momento - o vaivém das chuvas sobre a lavoura e a adequação dos preços ao alto nível de emprego e de consumo no país. O outro tipo de explicação são os erros do governo. A administração Dilma Rousseff reproduziu, em maior ou menor grau, mitos e lendas cristalizados ao longo dos anos no Brasil fatores de nossa cultura econômica que contribuem para alimentar a inflação.

Primeiro, as primeiras explicações. Até março, a alta dos alimentos foi de 13,5%, quase o dobro da inflação oficial. A principal causa foi a chuva que castiga o Sul, principal região de agricultura do país. Além do tomate, alimentos como a farinha de mandioca e a batata-inglesa subiram, em um ano, 150% e 97%, respectivamente. Temperos básicos usados no dia a dia, como alho e cebola, não ficam atrás. O tomate não se tornou o bode expiatório à toa. As chuvas atrapalharam o plantio em Goiás, principal polo produtor, onde também houve uma redução planejada da área plantada. Os produtores, desestimulados pelo baixo preço das caixas, investiram em outras culturas. A área plantada de tomate caiu 16%. Como a lavoura encolheu, o preço da matéria-prima essencial nas cantinas italianas subiu 122%, de acordo com o IBGE.

Para quem consome quantidades significativas, fez toda a diferença. Augusto Mello, dono da cantina Nello"s, em São Paulo, costumava comprar uma caixa de 20 quilos de tomate por R$ 35. Quando o preço chegou a R$ 180, ele tirou do cardápio o molho ao sugo - ficaria caro demais. Algo que parecia impensável tempos atrás - o molho de camarão ser mais barato que o molho de tomate - se reflete hoje no menu do Nello"s.

Essa alta dos alimentos pode ser sazonal. Segundo os pesquisadores, a tendência é que o preço se estabilize. "Há expectativas de boas safras brasileiras de milho e soja. Além disso, a entrada da safra americana deverá equilibrar o mercado, e os preços caem", diz José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MBAgro. Espera-se que o tomate e outros vegetais produzidos no Sudeste também barateiem, embora a produção venha crescendo devagar, contribuindo com os preços altos.

A inflação que afeta o setor de serviços - 60% da economia brasileira - é mais complicada. Os serviços não têm safra. Não se pode abrir mão de muitos deles. De acordo com o IBGE, o brasileiro gasta hoje entre 8% e 11% a mais com consultas médicas, aluguéis, condomínios e escola. Serviços também não estão expostos à competição internacional. Seus preços variam por critérios intangíveis - da qualidade oferecida ao poder de compra de quem precisa deles. Ficam mais caros por causa da mão de obra, outro combustível da inflação. Por trás dessa alta, está a indexação salarial - um dos fatores que resultam de nossa cultura inflacionária.

Os erros do passado

Ao segundo tipo de explicação, portanto. Os que nasceram depois dos anos 1980 não viveram o tempo da hiperinflação. O dinheiro do salário se desvalorizava ao longo do mês. As famílias tinham de fazer compras logo que recebiam o salário, pois uma ou duas semanas mais tarde não seria possível comprar nem metade dos produtos. Como os valores de aluguéis e prestações mudavam o tempo todo, periodicamente contratos e tarifas eram reajustados de acordo com a expectativa da alta de preços, um mecanismo conhecido como indexação. Tal mecanismo persiste no Brasil atual, onde vigora a reposição da inflação para tarifas, preços e salários. As datas anuais de dissídio coletivo e os aumentos reais de salário mínimo assegurados por lei são reflexo dessa cultura. Como no Brasil há carência de trabalhadores qualificados, e a elevação dos salários se dá, muitas vezes, acima dos índices de produtividade, o aumento do custo da mão de obra é um dos principais fatores da inflação, especialmente na área de serviços. O jeito de evitar essa armadilha seria desindexar tarifas e mexer na lei trabalhista - algo que o governo Dilma não pensou em fazer.

Outro fator que interfere na inflação é a crença de que o governo pode turbinar a economia pela interferência direta. Movida por esse credo, muito mais arraigado em sua gestão que no governo Lula, Dilma mexeu na economia logo no início do mandato - e mexeu mal. Isso desencadeou fatores inflacionários. Para mudar um cenário de crescimento econômico baixo, o governo resolveu estimular o consumo e negligenciou as medidas que poderiam criar segurança para novos investimentos. "Não era necessário, dado que o brasileiro já comprava bastante por causa da alta da renda e do emprego. Pesaram a mão", diz Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do Banco Central. Com consumo em alta e investimento em baixa, cria-se um cenário de oferta estagnada diante de uma demanda crescente. É como se muitas pessoas disputassem a compra de um mesmo produto. A tendência, nesses casos, é o preço subir.

"O governo precisa concentrar suas baterias no estímulo ao investimento. Essas medidas só começaram a ser tomadas em meados do ano passado e, mesmo assim, de forma equivocada", afirma Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e chefe do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas. Para ele, o consumo das famílias não sofrerá nenhum revés significativo a ponto de precisar ser resgatado. A produção industrial, porém, está em queda desde janeiro de 2011. A interferência pontual do governo em vários setores causou insegurança no ambiente de negócios e minou a confiança dos investidores privados. Atitudes como tentar fixar um "lucro justo", no caso das concessões de rodovias, ou tornar obrigatória a presença estatal em setores como o petróleo também não contribuíram para atrair os investidores. As maiores obras de infraestrutura em andamento no país, as usinas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, só saíram do papel com recursos do Tesouro e participação de entes públicos. Para Langoni, se a intenção é estimular investimentos, é preciso definir um novo patamar de impostos para a indústria planejar a expansão da produção - não apenas bancar desonerações temporárias sem data certa para acabar. "A carga de impostos em cima dos investimentos ainda está em torno de 20%, 25%, número péssimo para um país emergente", diz ele.

Com as rodas na zebra

A crença de que o governo pode e deve comandar a economia vem do de-senvolvimentismo do século passado, uma mentalidade segundo a qual tudo valia a pena em nome de um "Brasil Grande". Vem também do desenvolvimentismo a crença de que um pouco de inflação não faz mal, desde que a economia cresça. Como a inflação é dos maiores concentradores de renda que existem, essa ideia aprofundou a iniqüidade social contra a qual o país luta até hoje. Resquícios dessa tolerância com o mal ainda persistem. Como um carro de Fórmula 1 que acelera e não se importa em passar com as quatro rodas em cima da zebra, o Brasil flertou com o teto da meta de inflação várias vezes desde 2011. Ninguém mais fala do centro da meta, de 4,5% ao ano. Em artigo recente, o presidente do Banco Central durante o governo Lula, Henrique Meirelles, questionou a existência de uma espécie de "banda" da inflação. Segundo ele, passa-se a impressão de que qualquer índice entre 2,5% e 6,5% seria adequado. "A experiência mostra que essa abordagem tende a deixar a inflação próxima do teto da meta, com riscos crescentes de estouro", escreveu Meirelles.

Por último, e talvez mais importante, o governo Dilma - como de resto, todos os governos democráticos antes dela — nada fez para controlar um importante fator gerador de inflação: o gasto público. Ele aumenta a necessidade que tem o governo de captar dinheiro no mercado, reduz a margem para a queda de juros e, numa economia indexada como a nossa, também afeta os preços no futuro. Do governo Collor ao governo Dilma, o gasto do governo federal como proporção do Produto Interno Bruto aumentou de 14% para 22%. "A forma que o governo tem de ajudar a controlar a inflação é economizar. Mas ele faz justamente o contrário. Gasta e abre mão de receitas com desonerações pontuais", diz Mansueto Almeida, especialista em contas públicas.

Há, portanto, dois jeitos de combater a inflação. O primeiro, de longo prazo, é deixar de lado as crenças culturais e fazer o dever de casa: reduzir gastos, criar um ambiente de negócios favorável ao investimento privado, desonerar impostos por igual, sem privilegiar alguns setores, e reduzir o tamanho do Estado. Quando isso não acontece, o país fica doente, e o jeito é chamar o médico - no caso, o Comitê de Política Monetária do Banco Central. O problema é que o remédio -a alta dos juros - é sempre amargo. Da administração certa de sua dose depende a tranquilidade dos brasileiros nos próximos meses, e um futuro eleitoral sem tomatadas para a presidente Dilma.

Fonte: Revista Época

Inflação sobe no palanque de 2014

Enquanto o governo federal luta para controlar a economia, Aécio Neves e Eduardo Campos aumentam o tom das críticas

Paulo de Tarso Lyra

BRASÍLIA – O empenho do governo em controlar a inflação não está ligado apenas ao crescimento da economia, ao desenvolvimento do país e à manutenção da política de inserção das classes menos favorecidas. No campo político, o Palácio do Planalto não pode, em um ano pré-eleitoral, dar munição ao discurso dos adversários em potencial, como o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves. "O governo do PT tem sido leniente no combate à inflação. O PT sempre agiu assim, desde os tempos em que se colocou contrário ao Plano Real", disse o pré-candidato tucano na quinta-feira, durante seminário promovido pelo PPS, em Brasília. "Fomos forjados na classe média", completou um integrante da atual executiva tucana.

O mercado e o Banco Central estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano deve crescer entre 3% e 3,5%, bem melhor do que o 1% verificado em 2012. "Mas temos que cuidar da inflação, ela não pode disparar de jeito nenhum, porque perderemos gordura perante o eleitorado", complementou um articulador do PT. Além dos informes quase constantes à presidente Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi escalado para tranquilizar titulares de outras pastas — e legendas —, oferecendo subsídios para o discurso da campanha presidencial antecipada.

Um dos ministros responsáveis por uma pasta com obras espalhadas por todo o país acredita que a sensação de inflação ainda não chegou às camadas mais pobres da população. Apesar de o índice pesar também sobre essas famílias, sobretudo na chamada inflação de alimentos, medidas anunciadas recentemente pela presidente Dilma em cadeia de rádio e televisão, como a desoneração das contas de luz e dos produtos da cesta básica, ajudam a aliviar a pressão inflacionária no imaginário dos brasileiros mais carentes.

Mas a elevação dos preços já começa a ser sentida nas classes alta e média, um segmento do eleitorado que a presidente agregou ao PT após a eleição e que resistia ao petismo durante os anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. É justamente essa faixa da população, a que mais cresceu no país nos últimos anos, que está sendo disputada por PT, PSDB e PSB.

Pauta comum

Por isso, na visão dos petistas, Aécio Neves e o governador de Pernambuco e presidente do partido socialista, Eduardo Campos, intensificaram tanto o discurso econômico nos últimos meses. "Eduardo só colocou a "cabeça para fora" porque a economia estagnou no fim do ano passado. Quando retomarmos as rédeas do crescimento, ele ficará sem discurso alternativo para apresentar aos brasileiros", declarou ao Estado de Minas um cacique petista no Congresso. O PSB pretende intensificar as viagens de Eduardo Campos no que classificou de "Triângulo das Bermudas mais um", representado por Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Os quatro são os maiores colégios eleitorais do país, e em todos eles os socialistas enfrentam problemas. "Em Minas, dos quatro mandatos de prefeito que tivemos (duas reeleições), dois deles aconteceram graças a alianças com o PT (Célio de Castro) e os outros dois apoiados pelo PSDB (Marcio Lacerda)", lembrou um dirigente do PSB.


Fonte: Estado de Minas

Dilma triplica exposição em eventos oficiais

Presidente amplia duração de discursos em 2013 e passa a usar artifícios de Lula para atrair população

Bruno Boghossian

A presidente Dilma Rousseff multiplicou sua presença em palanques oficiais e aumentou a duração de seus discursos em 2013, revertendo o perfil discreto do início de sua gestão. Nos 100 primeiros dias do ano, ela discursou por um total de 15h20min em inaugurações e cerimônias públicas. Em 2011 e 2012, em período equivalente, falou por 5h34min e 5h44min, respectivamente.

Em um processo de construção de sua candidatura à reeleição, a presidente passou a divulgar mais a sua imagem. Nas viagens pelo País, e nos eventos oficiais de que participou em 2013, Dilma subiu a mais de 30 palanques, posou para fotos com centenas de prefeitos, chamou operários pelo nome e chegou a fazer discursos de até uma hora.

A presidente aumentou tanto a frequência de suas falas públicas quanto sua duração média. Este ano, apareceu em 32 inaugurações, reuniões públicas e eventos oficiais - excluídas posses de ministros e solenidades internacionais. Cada discurso durou quase 29 minutos, em média. Em 2011, falou 18 vezes (na média de 18min30s) e, no ano seguinte, foram 19 pronunciamentos (média de 18min cada). As falas mais longas da presidência Dilma foram as de 2013. Em 5 de março, em Brasília, ela discursou por 1h02min39s em encontro com trabalhadores rurais.

Tipo Lula. Sua relação direta com o público, em eventos oficiais, também ficou mais frequente. Trabalhadores ou representantes de movimentos sociais eram chamados pelo nome - expediente habitual nas falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas incomum quando Dilma subia a rampa.

Em 12 de março deste ano, ao visitar obras do Canal do Sertão Alagoano, em Água Branca, Dilma disse que queria "cumprimentar o Cícero de Barros de Souza, um pequeno agricultor da cidade aqui de Olho D"Água", antes mesmo de saudar o governador Teotônio Vilela Filho (PSDB) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Na semana passada, na inauguração da Fonte Nova, em Salvador, chamou pelo nome Lucimar de Freitas, "primeira operária mulher do complexo esportivo".

Apesar de se inspirar em seu antecessor, Dilma passou a falar menos de Lula nos palanques. Em 2011, disse o nome de seu padrinho político 6,5 vezes a cada hora. Nos anos seguintes, citou o ex-presidente 3,8 e 3,1 vezes por hora de discurso, respectivamente.

Prefeitos. O esforço de Dilma é parte de uma estratégia para intensificar a articulação política com as cidades e levar aos Estados as marcas da atual administração petista, No palanque, Dilma entregou pessoalmente as chaves de mais de 200 retroescavadeiras, motoniveladoras e ônibus escolares nas mãos de prefeitos de cidades médias.

Em Fortaleza, no início de abril, cada um dos 59 prefeitos agraciados com o presente do governo foi chamado pelo nome para subir ao palco. Dilma cumprimentou todos, entregou as chaves dos equipamentos e posou com eles para o fotógrafo da Presidência.

Nesse movimento, Dilma também aumentou sua participação em palanques no Nordeste. Ela discursou em 12 eventos na região em 2013 - mais de um terço de todos os pronunciamentos feitos no ano. Nos mesmos período de 2011 e de 2012, ela havia participado de três eventos em cada ano.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Em mensagem a eleitor nordestino, Aécio explora a seca

Tucano grava 3 tipos de spots que vão ao ar neste mês, moldando o discurso conforme o eleitorado; marqueteiro é um antropólogo

Julia Duailibi

Em mensagens no rádio e na televisão gravadas para o eleitor do Nordeste, o senador e presidenciável do PSDB, Aécio Neves (MG), ataca a ação do governo federal no combate à seca e fala em "ousadia" para garantir água às famílias da região. Com as declarações o tucano mira o eleitor nordestino, que votou majoritariamente no PT nas últimas disputas presidenciais, e o reduto eleitoral do governador Eduardo Campos (PE), presidenciável do PSB, que rivaliza com ele como possível opção à reeleição de Dilma Rousseff em 2014.

As declarações de Aécio fazem parte de um pacote com três tipos de comerciais regionais do PSDB, estrelados pelo senador em inserções no rádio e natelevi são. Os spots, que serão exibidos neste mês, são uma prévia do programa nacional do partido que irá ao ar em maio, quando o senador estreia nova estratégia, novo marqueteiro e novo discurso para impulsionar a sua pré-candidatura à Presidência.

"O nordestino sofre hoje com a pior seca em 40 anos. Se não chover logo, não haverá nem onde mais buscar água. Está na hora de prepararmos o Nordeste para um ousado projeto que garanta água para que as famílias possam preparar a terra e manter os seus rebanhos", disse Aécio. "A seca é inevitável, mas ela só vira calamidade, como agora, quando falta governo", completou.

O senador aparecerá em três comerciais de 30 segundos: um para a região Nordeste, outro para o Rio de Janeiro e um terceiro, genérico, para o resto do País. Em São Paulo, principal colégio eleitoral brasileiro, Aécio não terá palanque eletrônico. Embora a maior parte das lideranças paulistas já defendam o projeto presidencial do senador, o governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, preferiu usar as inserções para propagar feitos da sua administração.

O objetivo dos comerciais regionais é tornar Aécio conhecido nacionalmente. No final, as três inserções seguem uma sequência padrão, que soa como um slogan por meio do qual ele tenta se aproximar do eleitor. "Sou Aécio Neves, fui governador de Minas. E se você também acredita que é possível, vamos conversar."

As inserções foram elaborados com ajuda da equipe do antropólogo Renato Pereira, contratado pelo partido para ser o novo marqueteiro e cuja estreia para valer será no programa nacional de maio, depois da convenção do PSDB, que elegerá Aécio presidente da legenda. Antes de fechar com Pereira, Aécio se encontrou duas vezes com o publicitário Nizan Guanaes, que teria manifestado não ter interesse de estar na linha de frente de uma campanha.

O contrato de Pereira com o PSDB vai até junho e teria custado mais de R$ 2,5 milhões. Considerado um dos nomes da nova geração de marketing político, ele trabalhou nas campanhas vitoriosas de Eduardo Paes (PMDB) para a Prefeitura do Rio e de Sérgio Cabral (PMDB) para o governo fluminense.

Discurso. Duas pesquisas qualitativas estão sendo preparadas pela moldar o discurso oposicionista de Aécio. Uma encomendada por Pereira. Outra pelo Instituto Teotônio Vilela (ITV), presidido pelo ex-senador Tasso Jereissati (CE), aliado de Aécio, ao consultor Orjan Olsen, da Analítica. A irmã de Aécio, a jornalista Andrea Neves, também colabora com a criação da estratégia em reuniões com o grupo de Pereira.

Nos comerciais, Aécio fala ainda da inflação, tema que tem usado para atacar o governo. "Tem momentos na vida em. que a gente tem que fazer escolhas. Esse é um desses momentos. O PSDB escolheu lutar por uma saúde pública que funcione, segurança para as nossas famílias, inflação controlada e respeito pelo dinheiro público." E lança um bordão: "Essas coisas que às vezes dizem que não tem mais jeito, mas que tem jeito, sim". Na propagando que irá ao ar no Rio, ele chama o eleitor de "meu amigo, minha amiga aqui do Rio".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Para apoiar Aécio, DEM pede cargos a tucanos

Partido reivindica espaços em governos de São Paulo e Minas para poder apagar "mágoas profundas"

Maria Lima

BRASÍLIA - Não são só os partidos da base que estão usando 2014 para se cacifar junto ao governo da presidente Dilma Rousseff e aumentar seu espaço na máquina pública. A desunião da oposição, que fez encontro esta semana em Brasília para tentar um rumo unificado para 2014, também tem alimentado a barganha por cargos públicos em troca de apoios. Certos de que, sem a tradicional parceria do PSDB com o DEM - antes PFL, e que existe desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994 - o pré-candidato tucano à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), fica muito enfraquecido, líderes do DEM estão cobrando aumento de participação no segundo escalão dos governos do PSDB nos estados.

Alegam que, no momento, existem outras alternativas viáveis ao PT, como a pré-candidatura do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. E, justamente por isso e para evitar uma debandada da tradicional aliança, precisam de mais cargos e prestígio nos governos tucanos de Geraldo Alckmin, em São Paulo, e de Antonio Anastasia, em Minas Gerais, além de outras localidades estratégicas. Esse movimento do DEM ocorre ao mesmo tempo em que o PSB de Eduardo Campos investe em seus políticos e nos do PPS - outro braço da histórica coligação tucana.

Porta-voz dos descontentes, o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), já teve uma conversa franca com Aécio Neves esta semana. Relatou que, para segurar sua tropa e apagar "mágoas profundas" que ficaram da longa e desgastada relação entre os dois partidos, é preciso agora reacomodar nomes da legenda nos governos tucanos.

Agripino citou como "mágoas recentes" os embates nas eleições municipais de 2012, especialmente em Fortaleza (CE) e Recife (PE), onde o DEM começou a disputa com candidatos competitivos, mas não contou com apoio do PSDB, mesmo não tendo os tucanos candidato forte, no caso cearense. Alegou que muita gente está querendo buscar alternativas para 2014 fora do PSDB, não só porque apareceu a alternativa Eduardo Campos, mas também porque é incerta a unidade do PSDB em torno da candidatura Aécio Neves.

Para "segurar essa aliança e domar as feras no DEM", e dar ao tucano o tempo de TV do partido, Agripino diz que precisa fortalecer sua legenda em São Paulo e Minas, para eleger uma boa bancada de deputados em 2014 - o partido foi o que mais sangrou ano passado com a debandada de deputados para o novo PSD.

- Dentro do partido há grandes divisões e grandes mágoas. Para dobrá-los, é preciso gestões do PSDB que me deem condições de dizer que há opções e caminhos de conveniências e de reaproximação - disse Agripino, após conversa com o mineiro, quando ainda não estava certo de que poderia garantir a aliança.

Fonte: O Globo

Em discurso, Serra prega união da oposição, e aliados de Aécio celebram

Paulista disse que apoiaria o senador para presidente do PSDB

BRASÍLIA, SÃO PAULO - Aliados do senador Aécio Neves (PSDB-MG) comemoraram, já na noite de anteontem, as recentes declarações do ex-governador José Serra de que trabalhará pela "união" das oposições e que, "se Aécio for o candidato" a presidente de seu partido, o PSDB, o apoiará.

Foi a primeira declaração de Serra sobre o projeto do mineiro de assumir o comando do partido. Ele falou após participar de um ato do PPS,sexta-feira, em Brasília.

A chefia do PSDB é parte do projeto de Aécio para 2014. Ele pretende usar o cargo para ampliar sua exposição com vistas à eleição presidencial.

Ainda que tímida, a declaração de Serra foi considerada um avanço no tucanato. Já na noite de anteontem deputados de Minas Gerais enviaram e-mails parabenizando o ex-governador pela "fala de estadista".

No evento do PPS, Serra disse que era preciso deixar "coisas que nos apaixonaram para trás e olhar para adiante", e que suas desavenças internas estavam "zeradas".

Serristas no entanto chamam atenção para outro trecho da fala do ex-governador, em que ele diz que trabalhará pelo agrupamento de forças da oposição e ressalta: "Se será em torno de um ou mais candidatos, é uma decisão para depois", numa referência à possível candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Interlocutores garantem que Serra ainda estuda trocar o PSDB pelo PPS, partido dirigido por seu amigo, o deputado Roberto Freire.

Na tarde de ontem, o PPS começou a discutir oficialmente a fusão com o PMN. O processo poderia abrir uma janela na lei eleitoral e permitir a migração integrantes de outros partido. A ida de Serra se daria nesse contexto.

Fonte: Folha de S. Paulo

Cúpula do PSDB já conta com saída do PPS da aliança

Destino do aliado pode ser apoiar PSB de Campos ou Rede de Marina

BRASÍLIA - O seminário "Esquerda Democrática pensa o Brasil", realizado pelo PPS semana passada em Brasília, tinha o objetivo de tentar reforçar a oposição contra o projeto petista, mas está longe da unificação desse grupo para as eleições de 2014. Pelo contrário. A cúpula do PSDB e o próprio senador Aécio Neves já contam com a debandada do PPS, o segundo aliado tradicional dos tucanos, para a provável candidatura de Eduardo Campos (PSB). Mas, pela estratégia traçada neste momento de pré-campanha tão antecipada, Aécio não vai brigar contra o movimento do PPS, por entender que isso estimularia a candidatura do socialista, aumentando as chances de um segundo turno ano que vem.

O senador tucano aposta na proliferação de candidatos contra a presidente Dilma Rousseff, pelo menos quatro, para levar a disputa para o segundo turno. Quando, acredita, todos estarão unidos contra a reeleição.

- Independentemente de alianças formais, isso é secundário, estaremos caminhando na mesma direção para romper esse ciclo do PT em 2014 - disse Aécio.

Outra estratégia do PPS é tentar uma fusão com o PMN, abrindo uma janela para a eventual filiação do ex-governador José Serra e um grupo de 45 seguidores para a nova legenda. O PPS vislumbra vários cenários alternativos ao PSDB: Marina Silva, pela Rede; Eduardo Campos, pelo PSB; e até mesmo Serra com seu eleitorado cativo, descolado do PSDB.

- Hoje, se formos avaliar viabilidades no campo oposto a Dilma, não podemos descartar ninguém. O PPS está transitando entre esses três nomes, e só o tempo dirá com quem vamos ficar. Temos que pensar em nossas chapas também - diz o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PPS-PR). - Se podemos lançar o Serra nesse novo partido? É uma possibilidade.

O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), participou dos encontros desta semana em Brasília, ouviu também os pedidos do DEM por mais prestígio nas gestões tucanas e afirmou:

- Se depender de São Paulo e Minas, com certeza resolveremos esses problemas.

Fonte: O Globo

Diretório do PPS aprova fusão do partido com o PMN

Por: Diogenes Botelho / Valéria de Oliveira

O Diretório Nacional do PPS aprovou, neste sábado, a fusão do partido com o PMN. Os passos legais para a união das duas siglas serão tomados na próxima quarta-feira (17/04), em congressos extraordinários em Brasília. O processo, que já vinha sendo costurado há anos, foi antecipado em virtude de um golpe engendrado pelo governo do PT para impedir a criação de novos partidos. O congresso extraordinário do PPS acontece a partir das 10 horas da próxima quarta-feira, no San Marco Hotel.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), explicou que a nova formação política iniciada com a decisão não se restringe apenas fusão com o PMN. “Estamos convocando esse congresso para empreendermos uma fusão com o PMN e ou outra sigla, o que nos garante um plano B”, explicou Freire, na reunião do Diretório Nacional. Com a tentativa de golpe representada pela votação no Congresso, na próxima semana, da urgência do projeto que quer impedir a formação de novos partidos, Freire disse que não há mais tempo a perder.

“Não vamos seguir aquilo que o Palácio do Planalto quer que sigamos; vamos decidir antes que o governo o faça por nós, vamos construir nossa alternativa a este projeto político que está no poder”, salientou o presidente do PPS. Ele lembrou que a ex-ministra Marina Silva e o deputado Paulo Pereira da Silva também estão empenhados em erguer suas próprias estruturas e as normas não podem ser mudadas ao longo do jogo, como quer fazer o governo.
Freire comparou a fusão com a mudança do PCB para PPS. “Só que naquela época foi dolorido; não nascemos numa festa”. Ele lembrou que o Partido Comunista Italiano havia mudado um ano antes do PCB com o intuito de se ampliar, como foi o caso também do PPS.

Segundo o secretário-geral do PPS e líder do partido na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), o protocolo oficial da nova sigla, que nasce com o objetivo de construir uma nova alternativa política para o Brasil, pode ser feito ainda na próxima quarta-feira, após o congresso extraordinário dos dois partidos. "Temos experiência na luta contra golpes e ninguém que se inspira em ditaduras vai nos pegar desprevenidos", disse, num recado direto ao Palácio do Planalto.

Já o deputado federal Arnaldo Jardim, um dos articuladores da fusão, resumiu da seguinte maneira a movimentação do PPS no tabuleiro da política nacional: "Se seguirmos a polarização atual PT x PSDB, a disputa está decidida em 2014 (a favor do PT). Podemos ter a ousadia e a pretensão de ser o sal da terra".

Confira abaixo a resolução do partido sobre a fusão.

RESOLUÇÃO POLÍTICA DO DIRETÓRIO NACIONAL DO PPS

Brasília, 13 de abril de 2013

O país vem sentindo as consequências da irresponsabilidade que marcou as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, não apenas no aspecto econômico, mas também no plano institucional. Por um lado, a economia brasileira segue estagnada, o processo de desindustrialização caminha a passos largos e a inflação atinge o bolso do trabalhador mais pobre como não acontecia há pelo menos duas décadas e, por outro, são preocupantes as sucessivas tentativas do governo de afrontar as oposições, a imprensa independente, a Procuradoria Geral da República e até mesmo o Supremo Tribunal Federal, instância máxima do Poder Judiciário.

Diante desse cenário, em que se unem o descalabro administrativo e uma completa falta de compromisso com valores republicanos, é imprescindível que todos aqueles que defendem a democracia como princípio inegociável se posicionem como guardiões desse valor universal.

A interferência do governo no Legislativo, submetendo o Congresso Nacional às vontades da Presidência da República, é um acinte contra a pluralidade democrática e a independência entre os Três Poderes. Na última semana, por exemplo, o Parlamento foi palco de uma escandalosa tentativa de golpe patrocinada pelo Palácio do Planalto, com pressões para que fosse aprovado um projeto de lei cujo intuito mais evidente é inviabilizar a criação de novos partidos, alterando regras vigentes e praticadas na atual legislatura.

Além de violar a Constituição, que garante a todos os cidadãos brasileiros o direito de livre associação partidária, a tentativa de limitar o acesso de novas legendas tanto aos recursos do Fundo Partidário quanto ao tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão representa um golpe inaceitável na democracia e escancara a visão autoritária do PT.

Se, há alguns meses, a criação de um novo partido foi recebida com entusiasmo pelo governismo porque serviu para fragilizar as legendas oposicionistas, desta vez a postura é rigorosamente antagônica, já que o eventual surgimento da Rede Sustentabilidade, idealizada pela ex-ministra Marina Silva, ou do movimento Solidariedade, do deputado Paulo Pereira da Silva, poderia causar perdas de apoio nas hostes governistas.

Além das duas possíveis novas legendas supracitadas, a tentativa de golpe busca atingir o PPS e o PMN, que vêm discutindo abertamente, já há alguns anos, a possibilidade de fusão e a criação de um partido de esquerda democrática.

Na iminência de ser aprovado um projeto de lei que ameaça a autonomia e a liberdade do partido para decidir seu próprio destino, o Diretório Nacional do PPS, com base no Artigo 18, parágrafo 5º, item C do Estatuto Partidário, que prevê a competência do Diretório Nacional para “discutir questões da vida nacional e internacional e, se oportuno, tomar resoluções a respeito”, e no Artigo 55, que trata de situações não previstas, decide:

Pela fusão com o PMN e/ou outra ou outras agremiações partidárias.

E convoca:

Um Congresso Nacional Extraordinário para o próximo dia 17 de abril, quarta-feira, em Brasília (DF), para que os militantes do partido se manifestem a respeito desta decisão baseada nos termos do Artigo 16, parágrafo 7º, alíneas B e C do Estatuto Partidário.

Certo de que nossos dirigentes e nossa militância, conhecedores da histórica vocação democrática do partido e de seu respeito por princípios caros à democracia e à República, têm clareza quanto ao momento decisivo vivido pelo país, o PPS aguarda a presença de todos e a manifestação soberana daqueles que nos ajudaram a chegar até aqui com honradez e decência inabaláveis.

Sem medo de pressões, com coragem e altivez, contamos com cada um de vocês neste compromisso permanente com o fortalecimento da democracia brasileira.

Resolução do Diretório Nacional do PPS

Próximo a Campos, PPS aprova fusão com PMN

Congresso extraordinário ocorre na quarta-feira para oficializar decisão

Isabel Braga

BRASÍLIA - O PPS corre contra o tempo para oficializar a fusão com o PMN já na próxima semana de olho na mobilização dos partidos governistas em favor do projeto que limita os direitos das novas legendas ao fundo partidário e ao tempo de propaganda política no rádio e na TV. Em reunião realizada na tarde de ontem, o partido aprovou a fusão. A ideia do PPS é garantir que a operação se concretize antes da aprovação deste projeto.

A fusão e a criação da nova legenda abrirão janela para que deputados e políticos que estão insatisfeitos em seus partidos migrem para o novo grupo, sem o risco de perder o mandato e ainda levando o percentual do fundo e o tempo de TV proporcionais aos votos que receberam. Nos bastidores, a expectativa é de que pelo menos 15 deputados aproveitem a janela.

A nova legenda surge como uma força importante e poderá fortalecer a candidatura à Presidência da República do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O governo tentou, em manobra na última semana, aprovar a urgência do projeto que limita os direitos das novas legendas. Os partidos contrários à aprovação da nova regra reagiram, acusando o PMDB e o PT de golpismo. A urgência acabou não sendo aprovada porque faltaram dez votos, mas os líderes já se articularam para votar a proposta esta semana. o projeto também pode prejudicar a candidatura da ex-senadora Marina Silva, que tenta criar a Rede.

O PPS já convocou Congresso extraordinário do Diretório Nacional para a próxima quarta-feira, dia 17, onde devem oficializar a fusão. A ideia é que o PMN também realize, na quarta-feira, sua convenção e aprove a fusão. As duas atas têm que ser registradas em cartório e entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

- O que nos motiva é apostar numa nova formação política capaz de aglutinar as forças de oposição - afirmou o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP).

Fonte: O Globo

PPS aprova fusão com o PMN

Venilson Ferreira

O Diretório Nacional do Partido Popular Socialista (PPS) aprovou neste sábado a fusão com o Partido da Mobilização Nacional (PMN). Os passos legais para a união das duas siglas serão tomados na próxima quarta-feira (17), em congressos extraordinários dos partidos que serão realizados em Brasília. O PPS informa que o processo de fusão, que já vinha sendo costurado há meses, foi antecipado "em virtude de um golpe engendrado pelo governo do PT para impedir a criação de novos partidos". O congresso extraordinário do PPS acontece a partir das 10 horas da próxima quarta-feira.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), explicou que a nova formação política iniciada com a decisão não se restringe apenas fusão com o PMN. "Estamos convocando esse congresso para empreendermos uma fusão com o PMN e ou outra sigla, o que nos garante um plano "B", disse ele.

Freire afirmou que "com a tentativa de golpe representada pela votação no Congresso, na próxima semana, da urgência do projeto que quer impedir a formação de novos partidos, não há mais tempo a perder". Ele lembrou que a ex-ministra Marina Silva e o deputado Paulo Pereira da Silva também estão empenhados em erguer suas próprias estruturas e "as normas não podem ser mudadas ao longo do jogo, como quer fazer o governo". O deputado compara a fusão com a mudança do PCB para PPS. "Só que naquela época foi dolorido; não nascemos numa festa". Ele lembrou que o Partido Comunista Italiano havia mudado um ano antes do PCB com o intuito de se ampliar, como foi o caso também do PPS.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PPS e PMN decidem antecipar fusão para esta quarta

Erich Decat

BRASÍLIA - Diante dos sinais de integrantes da base aliada para atrapalhar o surgimento de novos partidos, PPS e PMN anteciparam o processo de fusão para a próxima quarta-feira (17).

Inicialmente, a possibilidade de união entre os dois partidos estava sendo discutida para ocorrer apenas no meio do ano.

A decisão de se antecipar ocorreu neste sábado (13) em Brasília, após integrantes do diretório nacional do PPS em Brasília aprovarem a fusão e acertarem os detalhes para a realização de um Congresso Nacional do partido na próxima semana. Na ocasião, deverá ser feita a oficialização da união.

A ansiedade pelo "casamento" fez com que a assessoria jurídica da legenda tivesse que encontrar uma brecha no próprio estatuto, que prevê que um Congresso só poderia ocorrer com convocação de 15 dias de antecedência.

De sua parte, a secretária-geral do PMN, Telma Ribeiro, passou o dia em um hotel de Brasília disparando telefonemas e e-mails avisando os seus correligionários sobre o encontro da próxima quarta-feira. Até a semana passada, Telma Ribeiro trabalhava com a possibilidade de fazer as consultas finais no dia 5 de maio.

A ação conjunta dos dois partidos tem como objetivo se adiantar a uma possível aprovação do projeto, que tramita no plenário da Câmara, e determina que uma nova legenda só poderá contar com tempo de TV e o fundo partidário após passar por uma eleição para a Câmara dos Deputados.

Na noite da última quarta-feira (10), integrantes do PT e PMDB articularam nos bastidores para aprovar um requerimento que acelerava a votação do projeto. A medida foi tomada sem o conhecimento da maioria dos líderes partidários, o que gerou revolta por parte do PSB, PSDB, PPS e PV no plenário. A proposta acabou não sendo aprovada.

Após admitir o erro, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), anunciou que o projeto será colocado em votação na próxima terça-feira (16), véspera da possível fusão entre PPS e PMN. Para que entre em vigor, o projeto precisa, depois de passar pela Câmara, ser votado pelo Senado.

"A manobra pegou o pessoal desconcertado. Percebe-se que se trata de um interesse casuístico", disse Telma Ribeiro.

"Quem está com o cronometro na mão é o governo. É agora ou nunca", disse ex-deputado e membro da Executiva do PPS, Raul Jungmann.

Janela

Caso se confirme a fusão na próxima quarta-feira, deverá ser aberto um prazo de 30 dias para que os políticos mudem para o partido sem o risco de perder o mandato. Esse período também é conhecido como "janela".

O nome mais contado hoje da nova legenda é o MD (Mobilização Democrática), o mesmo registrado em 2006 quando as duas legendas, mais o PHS, ensaiaram uma primeira união.

Com a criação da janela, a expectativa de parte dos integrantes do PPS é que o ex-governador José Serra deixe o PSDB para fazer parte da nova legenda.

Serra participou ontem de evento promovido pelo PPS onde defendeu a união de forças da oposição contra possível candidatura de Dilma à reeleição.

Outra hipótese discutida é o apoio à possível candidatura à Presidência de Eduardo Campos (PSB) ou até mesmo de Marina Silva, que tenta criar o Rede Sustentabilidade.

Também está no radar do novo partido a adesão de parlamentares descontentes com as atuais legendas. Hoje o PPS conta com 10 deputados e o PMN com três. A expectativa é que a nova bancada na Câmara chegue a pelo menos a 20 deputados

O comando do partido deve ser destinado o atual presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP).

Como parte do estatuto estuda-se, entretanto, que se divida, meio a meio, as presidências estaduais e municipais. E onde tiver o presidente de um dos partidos, ele não contará com a maioria dos membros.

Fonte: Folha de S. Paulo

Momento decisivo - Merval Pereira

Fez bem a presidente Dilma em antecipar o lançamento de sua candidatura à reeleição, pela boca do ex-presidente Lula. Se naquela altura havia necessidade de esvaziar uma crescente corrente dentro do PT que queria ver Lula como o candidato de 2014, imaginem o que não estaria acontecendo hoje com a situação econômica do jeito que está.

Cada vez fica mais claro que o que vai definir a eleição de 2014 é a economia, assim como o que define a alta popularidade de Dilma é a sensação de bem-estar que ainda domina a população, embora a inflação já esteja chegando ao bolso do cidadão comum, como mostram os dados mais recentes de queda de consumo.

Assim como as mais recentes pesquisas de opinião foram realizadas em momentos propícios ao governo, como logo depois da fala em rádio e televisão anunciando a redução das tarifas elétricas ou a desoneração dos alimentos da cesta básica, talvez uma pesquisa realizada nos dias de hoje, com a alta do custo de vida voltando a ser tema de conversas das donas de casa, pudesse avaliar a repercussão dessa nova situação nos índices de popularidade da presidente.

As medidas pontuais lançadas pelo governo para estimular o consumo não conseguiram alavancar a economia, que continua patinando, um mês bom e outro ruim. E a redução das tarifas, e também da cesta básica, acabou tendo efeito efêmero, corroídas por outros efeitos da inflação. Não há informações sobre pesquisas mandadas fazer pelas oposições, mas é sintomático que tanto Eduardo Campos quanto Aécio Neves estejam convencidos de que a situação econômica só piorará até a eleição.

O governador de Pernambuco, em seu périplo pelo país que só fortalece a sensação de que está mesmo disposto a concorrer à Presidência em 2014, garantiu outro dia que a crise econômica que assola a Europa e os Estados Unidos ainda chegará ao país, e o governo não está preparado para enfrentá-la devidamente.

Na sexta-feira foi a vez de o ex-governador José Serra fazer críticas ao governo Dilma, dizendo que a economia está no chão, e que a perspectiva é piorar, embora sua participação no seminário do PPS, depois de ter faltado ao encontro na véspera, quando Aécio Neves discursou, tenha trazido a confirmação de que o PSDB continua rachado em São Paulo, aumentando as especulações de que Serra pode até deixar o partido para apoiar Eduardo Campos.

O Palácio do Planalto conta com essa divisão na oposição para facilitar seu trabalho para a reeleição e tem uma receita bastante simples para ganhar a eleição. Bastaria conter a inflação dentro das metas - este mês a inflação anualizada estourou o topo da meta - e crescer pelo menos a 2% este ano para ter a garantia de que em 2014 poderá manter os programas sociais e a sensação de bem-estar da população.

Difícil entender como, com a economia crescendo tão lentamente, será possível manter o nível de emprego e também os gastos com a máquina estatal, aí incluídos os programas sociais, fundamentais para a manutenção dos altos índices de popularidade da presidente Dilma. Mas, assim como a oposição tem bastante tempo para se organizar internamente e montar uma estratégia de unidade de ação na campanha presidencial, é também verdade que a presidente Dilma terá ainda prazo suficiente para recolocar a economia em funcionamento até chegar a hora da definição do eleitorado.

Mas o cenário atual é de tomar medidas impopulares, como a alta de juros que está se tornando inevitável, para reassumir o controle da economia. E, para quem estava acostumada a só distribuir bondades através de cadeia nacional de rádio e televisão, admitir que não deu certo uma de suas principais estratégias não deve ser fácil.

Fonte: O Globo

Inimigos cordiais - Dora Kramer

A amabilidade que a presidente Dilma Rousseff confere no trato a Eduardo Campos em sua rota de dissidência para uma possível candidatura presidencial em 2014, dissimula o clima de tensão pré-eleitoral que o governo e o PT criam em torno dele.

É possível detectar a mesma dualidade no governador de Pernambuco: reafirma sua aliança com o Planalto e ao mesmo tempo tensiona a relação com um discurso crítico. Mas aqui vamos tratar de Eduardo Campos apenas da perspectiva do governo, como é vista a possibilidade de candidatura, se ameaça a reeleição de Dilma, se haverá retaliação ou se ainda há espaço para um "meia volta, volver".

Atuar com mãos de ferro calçadas em luvas de veludo é um conceito difundido por Napoleão Bonaparte sobre a eficácia da combinação de gestos cordiais com atos firmes na política, que define bem o espírito da estratégia governista enunciada no primeiro parágrafo.

O governo não vai brigar - a não ser quando, e se, a luta for necessária - com Eduardo Campos, mas também não vai deixar de fazer suas escaramuças para dificultar-lhe a trajetória em direção à candidatura.

A mais explícita, e exemplar dó que virá adiante, aconteceu em recente visita da presidente a Pernambuco, onde fez discurso cobrando lealdade de aliados e ressaltando que o crescimento do Estado deve-se aos inúmeros e vultosos (R$ 60 bilhões, segundo dados do Planalto) investimentos federais.

Com isso, atua no campo seguro - por ora o único - do possível desafiante com sua fórmula "dois em um": Dilma e Lula.

O governo tenta limitar seu discurso de eficácia administrativa a Pernambuco e também esvaziá-lo transferindo o êxito para a esfera federal, vale dizer, o PT.

O jogo talvez não sej a assim tão combinado, mas fato é que parte do PT alimenta a tensão cobrando que o governo o trate desde já como adversário e outro grupo faz o papel moderado para manter a porta aberta para o caso de recuo.

E por que Eduardo Campos recuaria depois de avançar tantas casas, mais não seja para acumular forças para disputa futura (2018) da Presidência?

Na visão do governo, por causa das enormes dificuldades práticas que terá de enfrentar. Uma delas, a ambigüidade do discurso, forçosamente de oposição e pragmaticamente de situação. "Haverá o momento em que terá de se definir e aí é que começarão as pressões dos governadores, dos deputados e dos ocupantes de cargos federais", argumenta um ministro do PT.

Ele vislumbra obstáculos intransponíveis na formação de alianças regionais, na fragilidade da máquina do PSB em comparação às estruturas do PT, PMDB, do PSDB; e na disputa por uma vaga no segundo turno com o tucano Aécio Neves.

Outro ministro do PT, como o citado acima com ótimo acesso à presidente, considera que na hora das definições ainda prevalecerá a tradicional disputa de petistas contra tucanos. E acrescenta: "Nos últimos anos quem tentou ser terceira via saiu das eleições menor do que entrou: Anthony Garotinho, Ciro Gomes, Heloisa Helena, Marina Silva e Cristovam Buarque".

Na opinião dele, por mais que digam que a disputa entre PT e PSDB cansou o eleitorado, aa alternativa não tem sido um espaço político consistente".

Ambos apostam (torcem?) que Eduardo Campos pensará melhor e concluirá pelo benefício do passo atrás. Acreditam que, na hipótese de um segundo turno entre Aécio e Dilma - nesse momento, no governo, a palavra de ordem é dizer que o mineiro tem anos luz de vantagem sobre o pernambucano - o governador ficaria necessariamente com a presidente.

Apontam dois motivos. Um: porque a disputa da vaga do segundo lugar definirá o nome mais forte da oposição em 2018. Outro: se Aécio ganhar teria a vantagem da reeleição, em tese adiando os planos de Eduardo Campos para 2022.

Fonte: O Estado de S. Paulo