domingo, 1 de novembro de 2020

Fernando Henrique Cardoso* - Tempestade e bonança

- O Globo | O Estado de S. Paulo

Do ponto de vista da economia, o que mais me preocupa é a relativa omissão do governo

A crer no que se sente e se lê nos jornais, pouco a pouco, a situação econômica do país está piorando. Será? Não tenho certeza, mas assim parece. Os sinais pipocam por todos os lados. Quase no final da semana passada os índices da Bolsa, para usar o jargão, “desabaram”, e o dólar foi a quase R$ 6.

No geral os críticos se queixam da morosidade das reformas no Congresso — a administrativa e, principalmente, a tributária — e da falta de compromissos do governo com a lei do “teto dos gastos”. Faltaria um claro compromisso com a austeridade.

De tanto baterem na mesma tecla os críticos que assim procedem, em geral jornalistas, empresários ou os que os seguem, parecem ser pessimistas. Mas é certo: sem compromissos claros do Executivo com o frear gastos e sem ação congressual mirando o futuro, a marcha da economia desanda. E isso parece estar acontecendo: a queda do valor do real e dos índices das Bolsas são indícios de que algo vai mal no reino da Dinamarca...

Além do mais, o Banco Central mantém os juros baixos. A taxa Selic foi definida pelo Copom em 2% para o ano, enquanto as próprias previsões “do mercado” (que nem sempre acerta...) para a inflação já passam de 3%.

É certo que em parte é graças aos juros baixos que muita gente se dispõe a comprar casas e apartamentos ou a fazer reformas. Assim, o mercado imobiliário e o de materiais de construção se mantêm ativos. E estes não são os únicos setores que prosperam: basta olhar as exportações para ver que os produtores agrícolas vão bem, obrigado.

Mas cuidado. Tal bonança provém, sobretudo, do mercado chinês, que compra sem parar nossos produtos do campo. E, ainda assim, há quem tema ver a pandemia nos levar a tratativas para importar e usar vacinas chinesas.... Tomara que os chineses (e não só eles) continuem consumindo nossos produtos e que produzam boas matérias-primas para as nossas vacinas.

Não escrevo isso para diminuir as preocupações com os sinais negativos que a economia apresenta, mas para, ao matizá-los com perspectivas menos sombrias, tentar entender o que ocorre.

George Gurgel* - As Eleições Municipais e a Cidadania

As próximas eleições municipais colocam em disputa as concepções de governar e de se relacionar de cada um de nós e da sociedade em geral, desafiando a nossa maneira de fazer política, antes e durante a pandemia, no dia a dia, e no futuro imediato da sociedade brasileira.

Qual está sendo o comportamento dos partidos e do(a)s candidato(a)s na disputa política-eleitoral em curso, rumo ao próximo pleito de novembro? Como o processo político-eleitoral está impactando a vida das pessoas? Qual o papel dos governos, do mercado, da sociedade civil e da Cidadania no enfrentamento dessa crise que estamos vivendo, aprofundada com a pandemia?

A Cidadania está desafiada a uma participação efetiva no processo político-eleitoral em curso. A escolha acertada do(a)s próximo(a)s prefeito(a)s e vereadores(as)sé o caminho mais curto para enfrentar a triste e desoladora realidade de uma parcela majoritária da população dos municípios brasileiros, desrespeitada nos seus direitos básicos, constitucionais, a saber: moradia, segurança, educação, saúde, saneamento, mobilidade, trabalho e renda.

Em quem estamos votando? Qual o partido do candidato(a) e o que fez e faz o candidato(a) pelo município? Deveriam ser as indagações da Cidadania e de toda a sociedade frente aos partidos e aos candidatos(as) que disputam mandatos no próximo pleito.

O(A)s eleitos(as) devem estar comprometidos(as) com o enfrentamento sistemático dos graves problemas sociais, econômicos e ambientais vividos no cotidiano dos municípios brasileiros, agravados com a pandemia.

Aqui a questão democrática coloca-se como centralidade nas relações entre os governantes e governados. O conteúdo das mudanças em curso e das que devem ser realizadas, durante e pós pandemia, em cada município brasileiro, deveria ser a pauta de toda a sociedade, neste processo político-eleitoral que estamos vivendo para a escolha das nossas representações municipais.

Ainda mais: como tais mudanças que estão ocorrendo no mundo e no Brasil, em plena pandemia, estão impactando cada município, em função das suas distintas realidades política, econômica e social?

Assim, a pandemia, a partir das mudanças técnicas e econômicas em andamento, está construindo   novas relações políticas e sociais, impactando o mundo do trabalho, da educação e da cultura em geral, de maneira presencial e/ou a distância.

A difícil realidade cotidiana das populações municipais, em plena pandemia, é o maior indicativo da necessidade de termos vereadores(as) e prefeitos(as) eleitos(as) comprometidos(as) com as mudanças a favor da maioria da sociedade. 

Portanto, o período político-eleitoral que estamos vivendo é muito importante para a sociedade: como nunca, a política deveria está sendo colocada na agenda pública. Os eleitores, através dos eleitos, estarão delegando as suas representações aos governos e câmaras municipais.

Devemos discutir e avaliar os desafios de cada política pública no município, relacionando-a com a realidade econômica, social e ambiental, regional e nacional, e o papel do(a)s prefeitos(as) e vereadores(as), neste contexto. 

Assim, a Cidadania, com seus direitos e deveres, está convocada a ter uma efetiva participação na construção e na implementação de políticas públicas municipais, assim como no processo de avaliação permanente destas políticas, através de Planos, Programas e Projetos que venham a atender às demandas municipais, em sintonia com as outras políticas públicas regionais e nacionais, no caminho da sustentabilidade econômica, social e ambiental de cada município brasileiro.

Merval Pereira - Cenários possíveis

- O Globo

Partindo do principio de que bolsonarismo e o petismo são as duas grandes forças a moldar a política brasileira na atualidade, o cientista político Octavio Amorim Neto, professor da FGV Rio acredita que o que os anos de 2021-2022 nos reservam dependerá do estado de cada um deles (fortalecido x enfraquecido), que resulta em quatro cenários hipotéticos, que abaixo resumo com base no texto publicado no Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV-Rio

Cenário 1:– Bolsonarismo fortalecido vs petismo fortalecido. Esse cenário supõe o aprofundamento da “normalização” política do governo, iniciada a partir da prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flavio Bolsonaro. As enérgicas ações do ministro Alexandre de Moraes na condução dos processos que investigam tanto atos antidemocráticos patrocinados por seguidores de Bolsonaro quanto ataques ao Supremo Tribunal Federal nas redes sociais foram decisivas para forçar o ex-capitão do Exército a mudar sua postura política.

O fato de as Forças Armadas não terem apoiado as referidas tentativas também contribuiu para o fracasso destas. A mudança levou Bolsonaro a procurar o respaldo legislativo do Centrão, o qual tem dado ao Executivo uma base de sustentação parlamentar distante ainda de uma maioria, mas suficiente para evitar a destituição do chefe do Executivo.

Se o novo presidente da Câmara dos Deputados for um parlamentar alinhado com o Palácio do Planalto, facilitará a aprovação dos projetos do Executivo, mas também dificultará a abertura de um processo de suspensão do mandato presidencial. A reeleição de Donald Trump nos EUA será outro fator relevante para o fortalecimento do bolsonarismo.

Para que os pleitos municipais signifiquem o fortalecimento do bolsonarismo, é preciso que este colha um bom resultado na cidade do Rio de Janeiro, berço político de Bolsonaro. Para que o bolsonarismo se fortaleça, o presidente deverá ter êxito em sua manobra de transferir os custos econômicos da Covid-19 para os governadores, e lograr a aprovação de um substituto do auxílio emergencial que sinalize ao mercado que a dívida pública e os gastos públicos não seguirão uma trajetória explosiva.

Para que o petismo saia fortalecido nos próximos meses, bastará que o PT tenha um desempenho superior ao que teve nas eleições municipais de 2016, que Lula continue aparecendo como um nome competitivo nas pesquisas de opinião relativas à disputa presidencial de 2022, e que não surja nenhuma nova de liderança de esquerda que efetivamente desafie a hegemonia petista nesse campo.

Míriam Leitão - Bolsonaro, o derrotado

- O Globo

A eleição municipal ainda não acabou, mas já tem um derrotado: o presidente Jair Bolsonaro. Quem acha isso é o cientista político Jairo Nicolau, autor do livro “O Brasil dobrou à direita”, uma análise da vitória de Bolsonaro em 2018, que ele define como o maior fenômeno eleitoral do país. Dois anos depois, o bolsonarismo está fora das principais disputas ou perdendo posições.

— Era natural que depois daquela vitória espetacular, que arrastou com ele inúmeros outros políticos, o presidente fosse querer organizar um partido de direita no Brasil, aproveitando o impulso e o fato de que ele elegeu a maior bancada e seu então partido ficou com a maior fatia do fundo eleitoral, R$ 200 milhões — diz Nicolau.

O professor conta que o Brasil teve sempre uma direita meio “aguada” que se definia mais em contraposição à esquerda, que sempre teve orgulho de se definir como esquerda. Bolsonaro mudou isso:

— O que seria de se esperar? Que ele organizasse esse campo político. A história não foi bem essa. Bolsonaro saiu do PSL, o partido se desagregou, seus filhos já mudaram de legenda, ele tentou fazer a Aliança, que é o maior fracasso da história da formação de partidos no Brasil, e nesta eleição suas forças estão dispersas.

Eleição municipal normalmente é menos polarizada em termos ideológicos, mas isso não resume o que está acontecendo. Bolsonaro disse que não se envolveria. Nos últimos dias fez fortes movimentos em direção aos candidatos que apoia em São Paulo e Rio:

— Ele fez esses movimentos agora, os filhos operam de forma subterrânea, mas a sua derrota é em relação ao que poderia ter sido. Ele poderia ter mantido a unidade do seu grupo e organizado o campo político que ele representa.

Luiz Carlos Azedo - A pandemia e o luto

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

No Dia de Finados, todos os mortos serão lembrados, mas as vítimas da pandemia são como corpos insepultos ou enterrados em cova rasa, cujo luto é diferenciado

Uma das singularidades da pandemia do novo coronavírus no Brasil — que chega aos 160 mil mortos e 5,5 milhões de infectados — é a sua naturalização pelo presidente Jair Bolsonaro, que sempre combateu as medidas de isolamento social adotadas por prefeitos e governadores e tratou-a como uma “gripezinha”. A aposta do presidente da República era de que ambos arcariam com as consequências negativas do impacto econômico da crise sanitária e ele, desafiando o vírus mortífero, se beneficiaria do auxilio emergencial aprovado pelo Congresso — cinco parcelas de R$ 600, de abril a agosto, e quatro de R$ 300, de setembro até dezembro e que o governo distribuiu à mais de 60 milhões de pessoa. O governo gastou até setembro R$ 411 bilhões com a pandemia, dos quais R$ 213 bilhões com o auxílio.

Acontece que essas despesas foram feitas como quem faz uma grande compra de consumo imediato com cartão de crédito, ou seja, a conta um dia vai chegar. E está chegando com a dívida pública já equivalente a 90% do PIB e uma taxa de desemprego de 14,4 %, que deve aumentar, porque a procura por emprego, com a redução do auxílio emergencial, também aumentará. Os reflexos políticos do agravamento da crise social são imediatos. Da mesma forma como a popularidade de Bolsonaro subiu com o auxílio emergencial, agora ameaça declinar nos grandes centros, com impacto eleitoral nos candidatos que o presidente da República apoia em São Paulo, onde Celso Russomano (Republicanos) está derretendo, e no Rio de Janeiro, cujo prefeito, Marcelo Crivela (Republicanos), candidato à reeleição, é amplamente rejeitado pelos eleitores. Bolsonaro já começa a se distanciar de ambos.

Ricardo Noblat - Flávio Bolsonaro nada aprendeu e nada esqueceu

- Blog do Noblat | Veja

Descoberto o golpe que ele tentou aplicar no Senado

Ensinou Tancredo Neves, o presidente da República eleito em 1985 que morreu sem tomar posse: “Esperteza quando é muita engole o esperto”. No caso do senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um, seria um exagero classificar de muita esperteza o que ele fez. Seus colegas de Congresso estão cansados de fazer a mesma coisa.

Flávio decidiu ir curtir com a sua mulher o feriado de Finados na paradisíaca ilha de Fernando de Noronha. E debitou na conta do Senado o custo da própria passagem área, o que só seria permitido se ele tivesse viajado a trabalho. Recentemente, o Senado pagou uma viagem dele a Manaus para escapar de uma ação da Justiça.

Cada senador, mensalmente, custa aos cofres públicos algo como R$ 135 mil, entre salário, benefícios, auxílio para que exerça o mandato e despesas de gabinete. Flávio pediu o reembolso de R$ 1.617,66 pelo preço da passagem, e o Senado o reembolsou. Pediu também o reembolso de diárias pelos seis dias que ficará na ilha.

Uma vez descoberto o golpe que pretendia aplicar no Orçamento do Senado, soltou uma nota onde afirma que tudo não passou de um “equívoco” dos seus assessores. Disse que devolverá o dinheiro já embolsado com a compra da passagem e que vai cancelar o pedido de pagamento das diárias. Taokey! Ficará por isso mesmo.

O senador está empenhado em que também fique por isso mesmo a história da rachadinha quando ele era deputado estadual no Rio, e Fabrício Queiroz seu chefe de gabinete. Segundo o Ministério Público, Flávio embolsou parte dos salários pagos pela Assembleia Legislativa a seus funcionários. Está sendo processado.

Janio de Freitas - Firmeza de Mourão não é a de opinião pessoal

- Folha de S. Paulo

Entrada repentina do vice nos temas da vacina e do 5G indica a voz que fala mais grosso

O firme pronunciamento do vice Hamilton Mourão, contraposto a afirmações incisivas de Bolsonaro, suscita duas interpretações, mas é provável que as duas sejam uma só, com duas roupagens. E, como preliminar, note-se que o dito pelo vice tem mais do que o sentido de confronto, estendendo-se a importante inversão nas relações externas.

Bolsonaro vetou a compra, em qualquer tempo, de vacina chinesa contra a Covid-19: “Não vai haver compra, ponto final”. Antes, usou do mesmo tom definitivo a propósito do sistema 5G, que revolucionará as possibilidades de comunicações. Atrasados na criação do seu sistema, os Estados Unidos de Trump não admitem que o Brasil adote o sistema chinês, o qual, além da vantagem em tempo, evitaria custosas mudanças nos equipamentos de telecomunicações usados aqui, com muitos componentes chineses.

No seu estilo sucinto e de uso das entrelinhas, Mourão antecipa-se a novidades prenunciadas na campanha eleitoral americana. Joe Biden já indicou mais de uma vez que, se eleito, esvaziará a tutela imposta pelos Estados Unidos na América Latina. Com isso, aos países e só a eles caberia a escolha de suas relações comerciais e políticas. Não é o desejado por Bolsonaro, servil a Trump: “Quem vai escolher sou eu. Sem palpite por aí”.

O general-vice, porém, é claro: desde que asseguradas “soberania, privacidade e economia”, qualquer produtor de sistema 5G estará apto a disputar a adoção brasileira. O que, é claro, incluirá o sistema chinês indesejado por Bolsonaro.

A firmeza de Mourão não é a de opinião pessoal. Também não é a do vice de um governo que tem posição pública oposta.

Bruno Boghossian – A segunda onda da sabotagem

- Folha de S. Paulo

Divergência entre presidente e vice sobre vacina mostra busca por ganhos políticos individuais

Quando começou a atacar as medidas de distanciamento para conter o coronavírus, Jair Bolsonaro ainda tentava disfarçar suas motivações. O presidente queria transferir para seus adversários políticos a responsabilidade pelos efeitos da pandemia, mas fingia estar preocupado só com a economia.

A segunda onda de sabotagem oficial é mais escancarada. Bolsonaro não se esforça mais para manter as aparências. Integrantes do governo reconhecem, sem pudor, que a saúde pública é explorada pelo presidente apenas para alimentar sua rivalidade com outros atores.

Um sincero Hamilton Mourão admitiu o óbvio numa entrevista à revista Veja. “Essa questão da vacina é briga política com o Doria”, afirmou, em referência ao veto de Bolsonaro à compra de doses produzidas em parceria com o governo paulista.

O vice-presidente disse que não veria problema em tomar a vacina chinesa fabricada em São Paulo e que o governo federal pagaria pelo imunizante. “O governo vai comprar a vacina, lógico que vai”, acrescentou.

Hélio Schwartsman - A tirania do mérito

- Folha de S. Paulo

Sandel é bom filósofo o suficiente para saber que os filósofos não têm todas as respostas

É muito bom o mais recente livro de Michael Sandel, "A Tirania do Mérito". O autor parte da constatação de que a tal de meritocracia não só é uma ficção como é uma que está causando enormes prejuízos para a democracia e para o bem comum.

Concordo inteiramente com a primeira parte da assertiva. Como já escrevi aqui algumas vezes, é preciso ter perdido a razão para acreditar que possuir inteligência, beleza ou qualquer outro talento é indicativo de alguma virtude pessoal. Tudo isso e também a disposição para dar duro e "subir na vida" é fruto da sorte, que começa com a loteria genética e continua com a roda das oportunidades.

Até dá para defender a meritocracia como instrumento para obter eficiência, mas certamente não para fazer justiça.

No que diz respeito à segunda parte, Sandel diz que o discurso meritocrático faz com que os vencedores no sistema fiquem extremamente arrogantes, e os perdedores, totalmente ressentidos. Numa meritocracia, se você fracassa, a culpa é inapelavelmente sua. O filósofo sustenta que é esse ressentimento que explica fenômenos como o brexit, Trump e demais sintomas do novo populismo.

Vinicius Torres Freire - Carta ao leitor cansado do coronavírus

- Folha de S. Paulo

O que o SUS, a Alemanha e a recaída europeia dizem sobre a doença no Brasil

A Alemanha acha que é difícil vacinar seus 83 milhões de habitantes até o final de 2021. Sim, vacinar contra a Covid. Sim, a eficiente, organizada e disciplinada Alemanha. Aplicar 100 mil doses por dia seria “um desafio”, disse na semana passada Thomas Mertens, o chefe do Comitê Permanente de Vacinação do Instituto Robert Koch, agência alemã de controle e prevenção de doenças.

No Brasil, o SUS chega a atender 1 milhão de pessoas por dia nas campanhas de vacinação contra a gripe. Em alguns anos, esteve preparado para vacinar quase 1,5 milhão de pessoas por dia, em cerca de 65 mil postos.

Isso dá o que pensar nas burrices que o governo diz sobre vacina e sobre as nossas possibilidades de conter a doença, muitas desperdiçadas de modo criminoso até agora.

Sim, de um modo ou de outro, estamos fartos de ouvir, falar ou saber de coronavírus. Mas ainda podemos fazer um esforço para atenuar a situação e reagir contra a ignorância homicida. Se por mais não fosse, a Europa nos dá outro alerta de perigo, como em março.

Ainda não há vacina. Alguns países, Alemanha, Estados Unidos, Indonésia ou Brasil, se preparam para distribuí-las a partir de dezembro, mas apenas isso: preparam-se para o melhor. Cientistas discutem ainda a possibilidade de, a princípio, usar as vacinas apenas de modo comedido, limitado, experimental mesmo. Há quem diga que a vacinação precoce pode até atrapalhar a continuidade dos testes de eficácia e segurança, que ainda prosseguirão por meses ou anos.

Michel Temer* - Nova Constituição?

- O Estado de S.Paulo

Não temos nenhuma desestruturação justificadora de uma nova Constituinte

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, sempre se revelou extraordinário administrador, tanto que conduziu com perfeição o Ministério da Saúde no meu governo. É também um líder político que sempre faz propostas muito adequadas.

Nestes últimos dias, propôs a hipótese de nova Constituinte. Instado, pronuncio-me sobre o tema.

Primeiro é preciso saber exata e precisamente o que é uma Constituinte. Direi trivialidades que, na verdade, devem ser sempre repetidas. A Constituinte é a face visível de um Estado que será. Diferentemente, a Constituição é a face visível do que o Estado é. Indispensável a pergunta: quando se justifica uma Constituinte? Quando há uma ruptura do sistema jurídico constitucional.

Será que neste momento temos uma ruptura desse sistema ou podemos seguir adiante com a Constituição que teve a sabedoria de amalgamar os chamados direitos liberais com os direitos sociais? Veja-se, só para exemplificar, que o direito à livre-iniciativa, o prestigiamento da propriedade, os direitos individuais em capítulo que é o maior que se conhece no mundo, com 78 incisos no seu artigo 5.º, de maneira exemplificativa, já que o parágrafo 1.º do mesmo artigo estabelece que a enumeração dos direitos ali listados não exclui a invocação de outros derivados dos princípios constitucionais e dos tratados de direitos aprovados pelo Brasil. Portanto, os direitos liberais aí estão.

Por sua vez, há um capítulo com direitos sociais que trouxe para o texto constitucional, por exemplo, o direito dos trabalhadores.

O que antes se verificava apenas na legislação infraconstitucional o constituinte de 1988 trouxe para a Lei Magna. De fora parte direitos como aqueles em que a Constituição estabelece o direito à educação e à saúde como dever do Estado. Quando a Constituição garante o direito à alimentação, o direito à moradia, o que visa é a alimentar as pessoas e dar teto àqueles que têm dificuldades para obtê-lo.

Vera Magalhães - Sacudindo o refrigerante

- O Estado de S.Paulo

Alheio ao precipício fiscal, Bolsonaro segue sua aposta na balbúrdia

O presidente da República é um galhofeiro. Em visita oficial a um dos Estados mais pobres do País, em plena pandemia, o máximo que seu repertório intelectual, humano, administrativo e social permite é fazer piada homofóbica com a cor de um refrigerante.

Isso um dia depois de seu ministro do Meio Ambiente, o mesmo que já carrega na capanga dois acidentes ecológicos graves, sucessivos recordes de desmatamentos e queimadas na Amazônia e o Pantanal incinerado, ter usado um apelido de humorístico mexicano para responder a uma cobrança política feita a ele pelo presidente da Câmara por outra infantilidade parecida.

Esse estado de infantilismo governamental já vem cobrando um preço alto nos excruciantes 22 meses deste governo, mas olhar a balbúrdia comendo solta quando o que se avizinha é o precipício fiscal, tão bem descrito em artigo recente aqui no Estado por Nathan Blanche, da Tendências, é ainda mais assustador.

O ministro Paulo Guedes falou em audiência virtual ao Congresso nesta semana que passou. Tentou de novo fazer o Jogo do Contente que já lhe rendeu memes e perfis satíricos nas redes sociais com previsões tão otimistas quanto furadas.

Pediu aos deputados e senadores a votação de projetos que podem ajudar, no seu entender, a destravar a academia. O que mais repercutiu, no entanto, foram seus renovados ataques ao colega Paulo Marinho.

A insistência nessa briga com um ministro de pasta claramente menos apetrechada que a poderosa Economia, além da defesa subsequente de Bolsonaro a Marinho e episódios em que a equipe de Guedes fica falando sozinha, como o do decreto revogado de estudos para parcerias público-privadas em saúde, são reveladores da tibieza do ministro hoje.

Eliane Cantanhêde* - No Forte Apache...

- O Estado de S.Paulo

Em forte sem comandante, pode faltar gás no Posto Ipiranga e tinta na caneta Bic

O embate entre o capitão da caneta Bic e o general de Exército com ordem de comando marca uma nova etapa na relação do presidente Jair Bolsonaro não só com o vice-presidente Hamilton Mourão, mas com as Forças Armadas. A unanimidade aparente ruiu, a insatisfação silenciosa emergiu e o momento é de avaliação de danos, ou de contagem de votos para um lado e para outro.

Sem noção da gravidade na saúde, na economia, no ambiente, na política, o presidente acha que pode falar e fazer o que lhe vai pela cachola, trocando a responsabilidade do cargo pelo oba-oba de uma campanha extemporânea, divertindo-se com a “boiolagem” cor-de-rosa do Guaraná Jesus, humilhando o general da Saúde, tirando o gás do ministro da Economia e guerreando contra a “vacina do Dória”.

É puro non-sense, mas Bolsonaro vai comprando lealdade com cargos e camaradagem. Qual um paizão às antigas, grita e dá umas palmadas, fingindo não ver a safadeza do caçula com o mais velho, mas resolve tudo bajulando o ofendido. A vítima dá um sorrisinho e cede: “um manda, o outro obedece”. Pergunte-se a Paulo Guedes e aos generais Luiz Eduardo RamosAugusto Heleno e Eduardo Pazuello e todos reagem com um sorriso condescendente: “o presidente é assim mesmo, diz tudo na bucha, mas gosta muito de mim”.

Lourival Sant'Anna - Flórida, de novo, decisiva

- O Estado de S.Paulo

Tática de ganhar eleição no grito, como em 2000, pode ser usada mais uma vez

O resultado das eleições nos Estados Unidos depende da aceitação ou rejeição dos americanos da tentativa do presidente Donald Trump de normalizar duas causas de mortes: covid-19 e violência policial contra negros. Assim como em 2000, a apuração na Flórida pode ter papel crucial na aceitação do resultado; dessa vez, num ambiente mais volátil e potencialmente violento. Vota em Trump quem aceita a tese de que as 230 mil mortes e os 9 milhões de casos são uma tragédia inevitável. O eleitor de Joe Biden atribui parte disso a falhas de liderança do presidente.

A covid-19 é uma preocupação menor para os jovens. Eles foram mobilizados neste ano pela morte de George Floyd, dia 25 de maio. O episódio trouxe à tona a desigualdade de tratamento que a polícia americana – assim como a brasileira – dispensa a negros e brancos. A causa canalizou as energias de jovens de todas as raças, depois de meses enclausurados em suas casas. Nesse período de eleições antecipadas, muitos jovens estão votando pela primeira vez, reforçando o histórico comparecimento e o favoritismo de Biden.

Muitas mulheres brancas dos subúrbios de classe média e alta também foram capturadas pela cena de Floyd, um homem alto e robusto, chamando por sua mãe e dizendo que não estava conseguindo respirar. Essa é uma fatia do eleitorado que ajudou a eleger Trump em 2016, e que já vinha se deslocando para os democratas nas eleições de 2018, quando a oposição recuperou a maioria na Câmara dos Deputados. As razões principais antes da morte de Floyd eram a inflação nos preços dos planos de saúde e dos medicamentos, fruto da desregulamentação promovida por Trump, e as atitudes e declarações destrambelhadas do presidente.

Mario Vargas Llosa* - Estados Unidos e o tiro no pé

- O Estado de S.Paulo

País que supostamente deveria guiar o mundo livre encontra-se isolado e solitário

Não basta que em um país se realizem eleições livres e autênticas: é preciso ainda que os seus cidadãos votem bem. Porque eles, às vezes, se equivocam. Há quatro anos, os eleitores americanos se equivocaram grosseiramente votando em Donald Trump.

Quem diz isso não é um “furioso socialista”, como o presidente dos Estados Unidos define geralmente todos os seus adversários, mas alguém que se sente mais próximo dos republicanos do que dos democratas, principalmente em política econômica, e considera Ronald Reagan um dos melhores mandatários da história americana.

Empresário milionário, porém sem o menor preparo político e tampouco cultural, o jornal The New York Times apurou que  Trump havia pago impostos em apenas sete dos últimos 18 anos, gastava cerca de US$ 70 mil com cabeleireiros e que a filha mimada Ivanka Trump, funcionária da Organização Trump, recebia estupendos “honorários de consultoria”. O senador McCain, republicano e herói nacional, que sempre foi contra Trump, morreria de novo se ficasse sabendo de tudo isso.

Desde a sua chegada à Casa Branca, ele começou a demitir colaboradores, a tal ponto que jamais houve na história americana um mandatário que mudasse tantas vezes a sua equipe. Mas muito mais grave foi a maneira ofensiva com que tratou os tradicionais aliados do seu próprio país, que fizeram a 2.ª Guerra ao lado dele, pressionando-os a “aumentar os gastos da defesa” com o argumento de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não podia viver somente das contribuições americanas.

Ao mesmo tempo, ele declarou que o presidente da RússiaVladimir Putin, era o chefe de Estado que mais admirava. Tudo isto mudou completamente as relações dos EUA com a Europa Ocidental de um modo sem precedentes. Hoje, Washington já não dirige a política internacional do Ocidente. Ninguém a dirige e por isso anda como está.

Bernardo Mello Franco - Vitória de Biden deixaria Bolsonaro à deriva

- O Globo

Há dez dias, o ministro Ernesto Araújo disse não se importar com a perda de relevância do Brasil no cenário internacional. “É bom ser pária”, desdenhou, em discurso para jovens diplomatas. O isolamento do país já é uma realidade desde a posse de Jair Bolsonaro. Mas pode se agravar a partir de terça-feira, quando os Estados Unidos escolherão seu próximo presidente.

Uma possível vitória de Joe Biden será péssima notícia para o capitão e seu chanceler olavista. Os dois ancoraram a política externa numa relação de vassalagem com Donald Trump. Agora arriscam ficar à deriva se o republicano for derrotado, como indicam as pesquisas.

Quando ainda sonhava em ser embaixador nos EUA, o deputado Eduardo Bolsonaro posou com um boné da campanha de Trump. O pai chegou perto disso. Às vésperas da eleição, ele reafirmou a torcida pelo magnata. “Não preciso esconder isso, é do coração”, declarou-se.

Para bajular o aliado, o bolsonarismo pôs a diplomacia brasileira de joelhos. O Itamaraty abriu mão de protagonismo, deu as costas à América Latina e trocou a defesa do interesse nacional pela subordinação ao interesse americano. Em setembro, permitiu que o secretário Mike Pompeo usasse Roraima como palanque para agredir um país vizinho.

Dorrit Harazim - Um mal já está feito

- O Globo

Nada indica que instituições suportariam mais quatro anos destrutivos com Trump na Casa Branca

O futuro sempre impulsionou o imaginário humano, e é bom que continue assim. Mas, como aconselhou Antoine de Saint-Exupéry em “Cidadela”, não se trata de prevê-lo, apenas de torná-lo possível. É mais ou menos disso que trata a eleição presidencial desta terça-feira, 3 de novembro. Abundam superlativos para sublinhar o peso dessa escolha em ano de crise nos EUA e no mundo. Mas seriam desnecessários. Basta constatar que, muito além das diferenças entre Donald Trump e Joe Biden, é o próprio funcionamento da democracia representativa americana que está sendo votado.

Num certo sentido, o mal maior já está feito. Há meses Trump implantou a semente da invalidade das urnas caso venha a ser derrotado, tornando-se o primeiro ocupante da Casa Branca a informar ao país que não aceitará um resultado saído de “fraude eleitoral”. A semente vingou, injetou a desejada combatividade no eleitorado trumpista, e corre o risco de contaminar a apuração. Não que as acusações conspiratórias e intervenções judicialistas possam inverter radicalmente os números, mas o resultado, exceto em caso de vitória acachapante de Biden, poderá estacionar num limbo perigoso.

A nação já tão esfarelada precisará de um baita esforço para se remendar.

Elio Gaspari - A privataria da saúde não toma jeito

- O Globo / Folha de S. Paulo

Costuraram no escurinho de Brasília um avanço sobre as Unidades Básicas de Saúde do SUS, conseguiram um decreto, que gerou gritaria e acabou sendo retirado

A turma da privataria da saúde desprezou um velho conselho de Tancredo Neves e deu-se mal: “Esperteza quando é muita come o dono”.

Costuraram no escurinho de Brasília um avanço sobre as Unidades Básicas de Saúde do SUS, conseguiram um decreto, provocaram uma gritaria, tomaram um momentâneo contravapor de Bolsonaro e avacalharam o general Eduardo Pazuello. Seu ministério disse que a ideia veio da ekipekonômika. Já o doutor Guedes disse inicialmente que ela veio do ministério do general.

Em 2019, essa turma produziu em segredo um projeto que virava de cabeça para baixo a legislação que rege os planos de saúde. Tinha 89 artigos, nenhum a favor da clientela. A peça havia sido produzida num escritório de advocacia por um consórcio de entidades, seguradoras e operadoras, e a consulta ao seu texto era sigilosa. Divulgada, a armação explodiu e ficou sem pai nem mãe. Covardemente, ninguém saiu em sua defesa, nem os autores.

De lá para cá, veio uma pandemia e roubalheiras público-privadas com a saúde foram expostas em Rio, Amazonas, Pará, Brasília e Santa Catarina. Três secretários de Saúde passaram pela cadeia, e dois governadores estão com o mandato a perigo.

Individualmente, entre os çábios da privataria médica há renomados profissionais, ou respeitados gestores. Coletivamente, eles se misturam com larápios e operadores do escurinho de Brasília, incapazes de botar a cara na vitrine. Se praticassem esse tipo de promiscuidade no tratamento de seus pacientes privados, a medicina brasileira já teria migrado para Miami.

Alexandre Caetano* - As eleições de 1970 e as prisões da Operação Gaiola no Espírito Santo

- Publicado no jornal A Gazeta, de Vitória/ES, 31/10/2020. 

No início do próximo mês de novembro, exatamente quando o Brasil se prepara para a realização de mais uma eleição, um episódio obscuro e quase esquecido da história política dos país estará completando 50 anos. Trata-se da Operação Gaiola, desencadeada pela ditadura que governava o país para garantir a vitória dos candidatos do partido de sustentação do regime, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) nas eleições de 1970. O presidente na época, indicado pelos militares e eleito de forma indireta pelo Congresso Nacional, era o general Emilio Garrastazu Médici.

A ditadura havia sido escancarada desde a decretação do AI-5, em  13 de dezembro de 1968, quando o Congresso foi fechado, com posterior  cassação de mandatos de parlamentares, aposentadoria compulsoria de ministros do STF,  a permissão de prisões sem mandados judiciais e o fim dos habeas corpus para presos políticos. Não existem números oficiais, mas pesquisadores como o brasilianista norte-americano Thomas Skidimore e Maria D’alva Kinzo, estimam que entre 5 mil a 10 mil pessoas consideradas adversárias do regime, foram presas entre o final de outubro e a véspera das eleições de 1970. Não houve inquérito, processo, ordem judicial ou intimação. Era o exercício bruto do arbítrio e da truculência de um regime ditatorial. 

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido da oposição consentida, criado pela própria ditadura em 1965, junto com a sigla governista, estava combalido pelas cassações feitas pelo AI-5 e tinha dificuldades até para montar chapas de candidatos em vários municicípios e Estados. Mas ainda era pouco para o governo militar, que queria uma esmagadora maioria para consolidar a imagem do regime aos olhos do mundo, varrendo para debaixo do tapete o sangue que espirrava das vítimas de torturas, execuções e “desaparecimentos” dentro e fora de instalações oficiais.

O que a mídia pensa – Opiniões / Editoriais

Briga de lavadeiras – Opinião | O Estado de S. Paulo

No momento em que a articulação política é necessária, ministros dedicam energia a trocar ofensas, a maldizer colegas no Congresso e a provocar o presidente da Câmara

O desemprego atingiu 14,4% no trimestre encerrado em agosto e está em franca aceleração – o índice foi de 12,9% no trimestre encerrado em maio e de 11,8% no mesmo período do ano passado. Já são 13,8 milhões de brasileiros procurando emprego sem sucesso. Foram fechados 12 milhões de vagas em um ano, reduzindo a população ocupada em 12,8% em relação a agosto de 2019. Só nos últimos dois trimestres, a população ocupada diminuiu 5%, o equivalente a 4,3 milhões de desempregados, e a maior parte das vagas fechadas era com carteira assinada. 

Considerando-se também os trabalhadores subocupados – que trabalham menos do que podem – e os desalentados – que poderiam trabalhar, mas desistiram de procurar emprego e, por isso, não são considerados desempregados –, chega-se a uma massa de 33,3 milhões de brasileiros em situação crítica neste momento de grave crise.

Enquanto isso, o governo não parece ter se dado conta nem do tamanho nem da urgência do problema que lhe cabe administrar. Nos últimos dias, ministros importantes dedicaram energia a trocar ofensas em redes sociais, a maldizer colegas no Congresso e a provocar em termos infantis o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, justamente no momento em que a articulação política inteligente se faz tão necessária.

Num resumo rápido, mas suficiente para confirmar o baixíssimo nível do governo Bolsonaro, tivemos o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chamando o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, de “Maria Fofoca”, acusando-o de plantar notas na imprensa para atacá-lo. 

“Não satisfeito em destruir o meio ambiente, (o ministro Salles) agora resolveu destruir o próprio governo”, ironizou Rodrigo Maia no Twitter. Em resposta, o perfil de Ricardo Salles no Twitter retrucou chamando o presidente da Câmara de “Nhonho” – personagem rechonchudo do seriado infantil Chaves, que se tornou o apelido maldoso dado pelos bolsonaristas a Rodrigo Maia nas redes sociais. Salles jura que não foi ele quem cometeu a grosseria, mas os bolsonaristas vibraram.

Logo depois foi a vez do ministro da Economia, Paulo Guedes, protagonizar constrangedor episódio. Em audiência pública no Congresso, o “superministro” acusou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) de financiar “programa de ministro gastador para enfraquecer ministro que quer acabar com privilégios”. O “ministro gastador” é Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, e o “ministro que quer acabar com privilégios” é, claro, ele mesmo, Paulo Guedes. Além de voltar à carga contra seu desafeto favorito, o ministro da Economia fez grave acusação de que um colega seu é lobista de bancos para sabotá-lo.

Música | Casuarina | Falso moralista

 

Poesia | Fernando Pessoa - A criança que pensa em fadas

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas 
age como um deus doente, mas como um deus. 
Porque embora afirme que existe o que não existe
sabe como é que as cousas existem, que é existindo, 
sabe que existir existe e não se explica, 
sabe que não há razão nenhuma para nada existir, 
sabe que ser é estar em algum ponto 
só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer