segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Reflexão do dia – José Serra: Oposição e democracia

"Não podemos deixar esse eleitorado sem representação. Precisamos convencer essas pessoas de que não jogaram seus voto fora. Quem votou em nós queria que ganhássemos, mas sabia que poderíamos perder. Logo, a oposição é tão legítima quanto o governo; expressa a vontade do eleitor e qualifica a democracia. "

SERRA, José. cf. Dora Kramer "Oposição e democracia", Estado de São de Paulo, domingo, 6/2/2011.

A Tunísia, o Egito e nós:: Luiz Werneck Vianna

Fora de disputa que os regimes políticos fechados consistem no terreno mais fecundo para a emergência das revoluções, que lhes chegam como catástrofes naturais e com a fúria de elementos irresistíveis contra os quais nada pode a força humana, salvo, na melhor das hipóteses, tentar conduzi-los para a mesma direção dos processos que elas desencadeiam. Revoluções não se fabricam, e são, para lembrar velhas lições, mais próprias dos principados do que das repúblicas, como, mais uma vez, testemunham os regimes autocráticos do norte da África e do Oriente Médio, que, por terem desconhecido canais institucionais de expressão dos seus conflitos, não foram capazes de sentir os sucessivos pequenos abalos que anunciavam as grandes convulsões que ora os abalam.

Seu estopim pode ser um incidente ingênuo e não desejado, tal como no caso da revolução russa de 1905, evento dramático que se iniciou a partir de uma manifestação pacífica, liderada pelo padre Gregori Gapone, um clérigo convicto da magnanimidade do czar Nicolau II, que tentava fazer chegar a ele um documento com algumas reivindicações, evento que culminou com o fuzilamento pela guarda imperial de centenas de manifestantes. Ou, como agora, na Tunísia, desencadeada a partir de uma corriqueira ação repressiva contra pequenos negociantes do comércio informal, que levou um deles, o jovem Mohamed Bouazizi, a se imolar em praça pública, levando a um levante indignado da população contra seu governo, cujo impulso irradiou-se pela costa africana do Mediterrâneo e pelo Oriente Médio, cujas repercussões para os destinos da região e da ordem mundial são imprevisíveis.

A longevidade da maior parte dos regimes, agora por terra ou sitiados por esses levantes populares, concedia-lhes a aparência de estabilidade, daí a surpresa da opinião pública mundial e, pelo que se ora constata, de uma boa parte das chancelarias ocidentais, com os acontecimentos. Surpresa que já se traduz no temor de que, à falta de políticas adequadas, toda uma região em posição estratégica na geopolítica do mundo possa se converter em um bastião do fundamentalismo islâmico.

Os estadistas do Ocidente, entregues à inércia intelectual e com seus interesses confortavelmente instalados e protegidos por regimes anacrônicos, somente agora, depois de muito leite derramado, se dão conta dos equívocos de suas avaliações sobre o efetivo estado de coisas da região. A forma da sublevação popular, a sua escala e seu tempo de duração, é a melhor indicação de que, embora nessas sociedades inexistisse uma esfera pública diferenciada do poder político, germinava a formação de uma esfera pública informal e subterrânea, contestatória dos seus regimes e dotada da capacidade de estabelecer um sistema eficiente de comunicação entre seus participantes. É aí, nessa esfera pública submersa, constituída, em boa parte, por setores das classes médias sem lugar no mercado de trabalho e no sistema político formal, que devem ser buscadas as origens da atual movimentação.

Constatou-se, igualmente, que em meio a sociedades a que faltavam partidos e sindicatos fortes, com a maioria da população subsistindo na informalidade, caracteristicamente retardatárias do ponto de vista econômico, não só os meios usados para os fins de concertar ações comuns têm vindo de recursos modernos da internet, como suas bandeiras e propósitos são igualmente modernos, em particular nas suas demandas por liberdades civis e públicas. Contudo, apesar dos inúmeros sinais animadores emitidos em favor da democracia política e da democratização social, rondam aí ameaças sombrias para uma nova escalada do fundamentalismo religioso.

Essas ameaças afetam a todos, e não deve haver neutralidade em relação a elas, pois, ali no Oriente, a democracia, como sistema de governo e como caminho estratégico de mudança social, joga uma cartada decisiva no tabuleiro do mundo. Exorcizá-las implica participar do movimento da opinião pública internacional, reclamando uma posição ativa dos governantes, pressionando-os no sentido de que mobilizem seus recursos institucionais em favor de uma alternativa democrática que livre aquela imensa e complexa região dos abismos da guerra civil e dos demônios que ela pode liberar. Trata-se da defesa da democracia, sistema de vida e de organização política a que aderimos quando derrotamos o regime autocrático nos idos dos anos 1980, ainda a carecer de não pouco aperfeiçoamento.

Ao contrário do que muitos alegam, nem tudo está por fazer nesses países, que contam com uma rica tradição política em suas histórias de luta contra o colonialismo e em favor da democratização social e da modernização econômica, do que é exemplo a doutrina do pan-arabismo, formulada sob o governo de Gamal Abdel Nasser nos anos 1950, combinando um nacionalismo-desenvolvimentista avant la lettre com a tópica do socialismo, então influente na região. A política de não-alinhamento com as potências polares da Guerra Fria - União Soviética e Estados Unidos - adotada por Nasser ganhou mundo. No seu curto governo, o presidente Jânio Quadros flertou abertamente com ela.

Aquele foi um tempo de forte mobilização, conduzida por forças e ideais seculares, como as da corporação militar e as dos partidos de esquerda, que, nessas novas circunstâncias, conta com a oportunidade de ressurgir a partir de baixo, inclusive, tal como ocorreu na democratização brasileira, também animada por valores das religiões. Aqui, de tão longe, as melhores expectativas se depositam no reconhecimento de que há, naquele teatro de operações onde transcorre um drama, além de local, de alcance universal, uma sociedade civil que, longe de gelatinosa, já tem uma história que ora amadurece velozmente com a sua vigorosa participação nas lutas pelas liberdades e pela democracia.

Ela que se demonstrou capaz de conformar uma esfera pública submersa, será capaz de animar, ou até mesmo promover, a institucionalização de uma esfera pública democrática? Se isso ocorrer, mais um ponto para a teoria que admite as vantagens do atraso na passagem para o moderno.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador da PUC-RJ. Escreve às segundas-feiras

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Esquerda e terror :: Luiz Sérgio Henriques

Cesare Battisti é hoje uma figura razoavelmente presente na nossa vida política cotidiana. Frequenta manchetes, alimenta um conflito entre Itália e Brasil, ocupa os tribunais e a Presidência da República, suscita a mobilização de intelectuais e juristas de peso, na sua maioria - ao menos entre nós - favoráveis a um desfecho positivo para o militante dos Proletários Armados para o Comunismo, um dos inúmeros pequenos grupos que giraram em torno das Brigadas Vermelhas, expressão maior do terror italiano de extrema-esquerda nos anos 1970.

Difícil nos movermos no intrincado labirinto jurídico que, de resto, se complicou durante décadas a fio, com acusações contra Battisti feitas pelos "arrependidos" - aqueles que, por um motivo ou por outro (inclusive a possibilidade de redução da pena), se dissociaram da aventura militarista.

Nesse meio tempo, como se sabe, depois de um curto período de prisão, nosso personagem obteve refúgio na França, ao abrigo da Doutrina Mitterrand, e uma certa simpatia até mesmo em círculos socialistas. Personagem intrigante, cuja história tem enredo rocambolesco e terminou assumindo uma dimensão maior do que a que efetivamente merece.

Fatos e processos bem mais importantes correm o risco de ser obscurecidos e até ignorados pelo relevo atribuído às vicissitudes de Battisti, ressalvado de modo inabalável o sistema de garantias que todas as democracias dignas do nome reconhecem a qualquer indivíduo que alegue real ou suposta perseguição política. Muito particularmente, fica num plano secundário, ou mesmo se torna invisível, o então avançado processo de mudança social numa das sociedades politicamente mais dinâmicas do pós-guerra europeu. Um processo à frente do qual esteve o antigo Partido Comunista Italiano (PCI), o maior do Ocidente, como se costumava dizer, e um dos responsáveis pela construção da Itália moderna, trazendo em massa para o novo Estado republicano amplos setores até então excluídos ou postos numa condição subalterna.

Esse fato de massas não se exerceu no vazio. Num país de formação estatal tardia, historicamente fragmentado em reinos e ducados, teve papel relevante a Democracia Cristã (DC), um partido de centro-direita que, à sua maneira, protagonizou a reconciliação da imensa população católica com o Estado. Sem falar nas outras tradições políticas ativas no pós-guerra - socialistas, republicanos, liberais e mesmo neofascistas -, PCI e DC viveram um conflito áspero, ainda por cima no contexto da guerra fria, com os duros condicionamentos impostos naquele mundo bipolar.

Os anos 1970 foram como o auge de todo esse processo. Seria irrealista pensar que em algum momento a Itália fosse tornar-se comunista - algo então generalizadamente entendido como uma "mudança de campo" (da Otan para o Pacto de Varsóvia, do Mercado Comum para o Comecom, etc.) ou como a construção de uma primitiva (e autoritária) forma estatal baseada no partido único. Ao contrário. O PCI talvez nos tenha dado o último grande dirigente do comunismo histórico, Enrico Berlinguer, a quem devemos a expressão lapidar da "democracia (política) como valor universal". Seus teóricos mais ousados, como Pietro Ingrao, falavam não de estatização dos meios de produção, mas das elaboradas formas de "socialização da política", no quadro das liberdades representativas "burguesas".

Um cenário pleno de novidades, contra o qual se desencadearam as fúrias da guerra fria: serviços secretos de ambas as superpotências, setores desviados do Estado italiano, lojas maçônicas, máfias e camorras. E, não em último lugar, o terrorismo de direita e o de esquerda, sócios siameses da mesma "estratégia de tensão", que devia desestabilizar a Itália e tornar inviável qualquer perspectiva de mudança: os "elementos de socialismo", de que falava Berlinguer.

O primeiro - o terrorismo dito negro - costumava atacar generalizadamente, com bombas em locais públicos e o assassinato de dezenas de pessoas; o terrorismo dito vermelho, mais seletivo, encarregou-se de fabricar "cadáveres excelentes", como o democrata-cristão Aldo Moro, e muitas vezes teve como alvo principal dirigentes e personalidades do próprio campo da esquerda democrática. Afinal, na lógica insana do extremismo de esquerda, os "reformistas" são até piores do que os fascistas. Os Proletari Armati, para citar um exemplo cruel, cometeram muitos atentados atirando nas pernas (le gambe) dos "inimigos do povo". Criou-se um neologismo, gambizzare, para tal infâmia. Sem dúvida, uma forma de tortura, cometida com a certeza sádica de que o "inimigo" estaria fisicamente estropiado para o resto da vida.

Esse é o mundo, essas são as motivações que explicam o personagem Cesare Battisti. Um mundo fosco, turvo, em que se entrelaçavam e se acumpliciavam poderes ocultos, fora da possibilidade de qualquer controle democrático. Tanto tempo depois, à luz de princípios legais e humanitários que uniram políticos tão diversos como Moro e Berlinguer, podemo-nos perguntar se ainda cabe a punição - a extradição e o cumprimento da pena - para os crimes graves de que Battisti é acusado - gravidade admitida até por Toni Negri, também envolvido nos acontecimentos de uma Itália que ainda tem dificuldade para compreender os extremismos que a dilaceraram.

No entanto, não deveríamos ter o direito de nos iludirmos sobre a natureza pretensamente socialista dos objetivos da galáxia extremista mais ou menos comandada pelas Brigadas Vermelhas. O "partido armado", no caso italiano e em outros contextos democráticos, pela própria natureza foi só perversidade recoberta de linguagem pesadamente ideológica. E sempre a um passo da criminalidade comum, passo que provavelmente nunca saberemos se foi ou não dado.

Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das obras de Gramsci em português

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Quem liga?:: Ricardo Noblat

O PMDB não é mais aquele. Adivinha o que Dilma fez com ele...

Se um dia, pelo menos, freou-lhe a intenção malsã, o pudor de crescente número de políticos esvai-se, agora, sem encontrar resistência, assim como a lama que arremeteu morro abaixo na região serrana do Rio. Jamais se saberá quantos mortos são devidos à inépcia dos governantes. No caso de reputações que derretem como gelo, quem se importa?

Nossa expectativa é quase nenhuma. Nosso conformismo, pleno. Indignar-se? Quem há de? Desde que não mexam para pior em nossos bolsos... Se algo nos atazana, para que existe afinal a internet? Basta aderir a algum manifesto de ocasião, repassá-lo à nossa rede de contactos e tocar a vida adiante. Ela, por si, já é severa em excesso.

A mais recente eleição se deu há menos de quatro meses. A próxima será daqui a dois anos. Estamos prontos a renovar a confiança no mesmo tipo de gente, alvo, amiúde, de nossa repulsa retórica. O paradoxo não nos atormenta. O argumento é simples: em que parte do mundo é diferente? No Egito? Nos Estados Unidos? Na China? Na Rússia?

Simplicidade e verdade rimam, mas isso, convenhamos, está longe de ser uma solução. Richard Nixon renunciou à Presidência dos Estados Unidos porque mentiu ao país. Há pouco, deputados ingleses foram obrigados a devolver benefícios ilegalmente auferidos. De resto, sabe o que mais? Quer saber? Às favas com os maus exemplos alheios.

Por serem tolerados em tantos sítios, não deveríamos nos sentir forçados a tolerá-los por aqui. Parece distante o tempo em que padecíamos do complexo de cão vira-lata, feliz expressão cunhada nos anos 50 do século passado pelo escritor Nelson Rodrigues. Na política, admita-se, o complexo ainda sobrevive e estamos confortáveis com ele.

Quem liga se deputados do Mato Grosso pelejam por aposentadorias vitalícias? Se as presidências das mais importantes comissões permanentes da Câmara dos Deputados estão reservadas para sujeitos protagonistas de escândalos? Se o governador de um dos Estados mais pobres do país ganha mais do que o governador do Estado mais rico?

Quem liga se o recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados promete a construção de novos gabinetes para colegas que mal ocupam os seus durante três dias por semana? Se às vésperas da instalação do novo Congresso descobre-se que o governo novinho em folha garantiu a fidelidade do PMDB à custa de maciça liberação de verbas?

Quem liga para a guerra entre os partidos pela ocupação de cargos estratégicos no segundo escalão do governo? Quem se pergunta quais são os planos do PMDB para a Fundação Nacional de Saúde, dona de 250 cargos de confiança, e que somente este ano poderá investir R$ 1,3 bilhão? Na partilha de cargos, a fundação coube ao PMDB.

Bendizemos o gesto da presidente Dilma Rousseff, que negou ao PMDB do deputado Eduardo Cunha (RJ) o controle de Furnas Centrais Elétricas (orçamento de R$ 1,4 bilhão). Pouco se nos damos se uma fatia vital do setor de energia do país foi entregue aos cuidados do prestativo senador José Sarney (PMDB-AP).

Por décadas, o autor de Maribondos de Fogo e Brejal dos Guajas, livros que lhe garantiram o ingresso na Academia Brasileira de Letras, mandou e desmandou na Superintendência da Receita Federal em São Paulo. Por quê? E para quê? Na oposição, o PT perdeu a voz de tanto cobrar respostas. No governo, o PT sabe todas as respostas.

Jaz nos arquivos da Receita Federal, em Brasília, uma carta do deputado Waldemar Costa Neto, ex-presidente do PL, partido cujo apoio à candidatura de Lula em 2002 custou ao PT a módica quantia de R$ 6 milhões. Costa Neto comunicou à Receita que o inspetor do aeroporto de Cumbica, em São Paulo, perdera a sua confiança.

Chocado? Por suposto que não. Quem liga? Um pouco entediado, talvez, com a natureza de um reles texto destinado a ser esquecido daqui a instantes. Assim como gorda parcela de vocês já esqueceu em quais candidatos votou em outubro último.

FONTE: O GLOBO

Terceira via árabe?:: Fernando de Barros e Silva

Ninguém a essa altura ignora que um capítulo importante da história contemporânea está sendo escrito no Egito. Alguns analistas aproximam a revolta contra a tirania de Hosni Mubarak e seu efeito irradiador sobre o mundo árabe (e mesmo além) da onda do ano histórico de 1989, quando ruíram em cascata os regimes autoritários do leste europeu.

A queda do ditador tunisiano semanas atrás e o vetor "ocidentalizante" das demandas das ruas (democracia, liberdades individuais, oportunidades sociais), além do fator econômico, corroboram, em parte, o raciocínio.

Mas nada tem sentido unívoco na caldeira fervente do Oriente Médio. O grande temor dos EUA e, obviamente, de Israel, é que a história venha aproximar o Egito não de 1989, mas de 1979, quando a revolução iraniana instalou no país uma teocracia islâmica ardentemente antiamericana.

Não parece o mais provável. O sentimento antiamericano no Egito não é comparável ao que havia (e há) no Irã, nem o apelo religioso está no centro das manifestações.

A questão é saber se há espaço para uma terceira via no Egito (e no mundo árabe) -um regime que não seja nem uma "ditadura amiga" dos EUA nem uma teocracia mais ou menos fundamentalista. O primeiro passo para construir esse caminho é não satanizar a Irmandade Muçulmana, principal organização religiosa do país, de maioria moderada, na ilegalidade desde os anos 50. Confundi-la com o extremismo, como querem Israel e a direita em geral, é uma tolice.

No horizonte imediato, é preciso ver se as negociações iniciadas serão suficientes para acalmar as ruas. E que papel o Exército, até agora tolerante, jogará em caso negativo. De qualquer forma, ao apostar que Omar Suleiman -chefe dos serviços (sujos) de segurança de Mubarak- seja "o cara" para chefiar esse processo, os EUA indicam que aqui os valores democráticos são a sua última preocupação.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O Egito e a democracia:: Fernando Rodrigues

Democracia não é inata ao ser humano. Ninguém nasce democrata. O sistema está longe de ser consensual para os cidadãos. Não importa o país. Basta observar nações ditas democratas o tempo todo falando em reforma política.

A estagnação econômica do Egito e o custo dos alimentos (gasta-se por lá perto da metade do salário para comer) levaram aos protestos atuais.

Tenho dúvidas de que o desejo por mais democracia seja o motor principal das manifestações. A economia e a sensação (ou falta dela) de bem-estar dos cidadãos são os fatores que contam.

Entre as previsões de analistas, pitonisas e especialistas instantâneos sobre o Egito, o vaticínio mais correto é talvez o mais sombrio: demorará muito até a chegada de uma democracia robusta naquele país. Tem sido assim no mundo inteiro. No Brasil, inclusive.

Depois de 21 anos de ditadura, os brasileiros adotaram um democratismo matusquela que já dura além de um quarto de século. Sem valores republicanos, e por muitos anos sem partidos nem eleições livres, o Brasil passou a dar tempo de TV e rádio -pago com dinheiro público- para todo tipo de embusteiro, como se essa medida elevasse os padrões da política.

No Congresso, escândalos em série são a praxe. Nos Executivos, vigora a fisiologia. A Justiça, sabe-se, só é rápida para endinheirados e com poder de contratar bons advogados.

Quando se olha a linha do tempo, o Brasil tem melhorado. Mas sua democracia segue imperfeita apesar dos mais de 25 anos na estrada -que é desprovida de atalhos.

O Egito e o mundo árabe em convulsão têm uma viagem longa pela frente. A democracia pode ser o ponto de chegada, mas não está claro que será o destino final.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Herança onerosa :: Paulo Brossard

À medida que passam os dias, mais grotesca se torna a legenda que o ex-presidente lançou sob a mais intensa publicidade acerca de seus oito anos de governo, o maior e melhor de todos os governos de todos os tempos.

Basta dizer que a primeira medida tomada sob a atual administração, mas anunciada ao tempo da anterior, foi a que elevou a taxa Selic, com o escopo confesso de frear o avanço da inflação. Importa isto em dizer que o recrudescimento do flagelo foi reconhecido e anunciado pelo maior e melhor de todos os governos, em sua fase terminal.

Não discuto se a medida é adequada nem que era inevitável. Registro o fato. Se era inafastável e apropriada, evidencia, antes de tudo, que os oito anos decorridos não poderiam ser ostentados como modelares. Mas ainda há a ponderar que os continuadores da diretriz anterior não se contentaram com o feito, mas foram explícitos em adiantar que a providência há de ser reiterada em número não preciso. Outrossim, não posso deixar de salientar que, enquanto o governo passado via seus dias encurtarem, gastava cada vez mais, para, quiçá, abafar com o ruído festivo a voz dos ruídos sociais.

Vejo, por exemplo, “que Lula bateu recorde de gastos” (é a manchete de grande jornal), seguida deste subtítulo: “Despesas do Tesouro, INSS e Banco Central, que em 2003 representavam 15,14% do PIB, atingiram 19,14% oito anos depois”; já os restos a pagar, que andam pela casa dos bilhões, é para conversa à parte, tamanha sua significação. Diferente, mas não menos relevante, foi a descoberta e revelação da situação alarmante das quase abandonadas fronteiras que se estendem por milhares de quilômetros, desde o Amapá, acima da linha equatorial, até o sul do país, outro tema a exigir prosa particular.

Entro em outro assunto distinto dos anteriores, apenas indicados. Também no apagar das luzes dos oito anos iluminados, foi divulgado que os créditos tributários federais se elevam a cerca de R$ 400 bilhões. “Cerca de”, não se sabe bem quanto. Contudo, a minúcia não é irrelevante, pois, seja qual for o nome que se lhe dê, será sempre monstrum horrendum.

Pois bem, desses R$ 400 bilhões arredondados, metade não passa de ficção, dado que incobráveis os valores. Apagados ou extintos, não fariam mossa ao erário exatamente porque inexigíveis; pelo menos deixariam de molestar milhares de pessoas todos os dias e por longos dias. Não há quem ignore que cada vez mais pessoas são chamadas a provar, mediante certidão, não serem devedores ao fisco. Já se disse que, entre nós, o tempo que se gasta para abrir um negócio, mesmo pequeno, é maior do que na generalidade dos países, e também é certo que tempo maior é perdido para encerrá-lo, não só perdido, pois ainda impedido de empregá-lo em atividade útil e em proveito próprio e da comunidade.

A pessoa fica como que cadaverizada por longo tempo, ou embalsamada, ainda que não esteja realmente defunta. Vejo que finda meu espaço de jornal e não esgotei outros aspectos do problema, que são ilustrativos. E não podem ser deslembrados os casos em que o fisco exige tributos sabendo que não pode fazê-lo, contando com o tempo e a incúria de muitos, sem falar na gula em usar os depósitos judiciais em seu benefício, cada vez mais utilizados embora seja mero depositário e como tal não tenha o poder de disposição. Continuarei se valer a pena. E vale.

*Jurista, ministro aposentado do STF

FONTE: ZERO HORA (RS)

Custos das escolhas das políticas econômicas :: Antonio Corrêa de Lacerda

Toda escolha de adoção de políticas econômicas envolve, além da necessidade de decidir no timing adequado, incorrer em algum custo. "Não existe almoço grátis", profetizava o monetarista ícone do liberalismo e Prêmio Nobel de Economia Milton Friedman (1912-2006) num outro contexto, mas que pode ser adaptado perfeitamente à questão em tela.

No caso brasileiro tem sido recorrente, porém nem sempre de forma completa, o questionamento de algumas das escolhas das políticas econômicas. É o caso, por exemplo, dos bancos públicos. Diante da escassez de crédito e financiamento internacionais no período imediatamente posterior à crise com a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, o governo brasileiro tomou uma decisão pertinente de ampliar a capacidade de empréstimo dos bancos públicos, especialmente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Antes disso, escolado com a recorrência das crises de balanço de pagamentos, o Brasil, assim como outros países não emissores de moedas não conversíveis, tomou a decisão sensata de ampliar o seu volume de reservas cambiais. Isso não evitava os efeitos das crises, mas os amenizava, como ficou claro.

Não fossem o suporte dos financiamentos públicos, substituindo em muitos casos as linhas de financiamento externas, que secaram, e, por outro lado, o fato de o País dispor de um volume expressivo de reservas cambiais, os efeitos da crise teriam sido muito mais intensos no Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) teria caído muito mais do que o 0,6% verificado em 2009, assim como a recuperação rápida e a expansão de quase 8% em 2010 não teriam sido viáveis.

Como o PIB brasileiro é estimado em R$ 3,5 trilhões, cada ponto porcentual (p.p.) de crescimento representa R$ 35 bilhões de renda. Suponhamos que as decisões de políticas econômicas tenham propiciado 2 p.p. a mais no crescimento econômico. Isso gera uma atividade econômica de R$ 70 bilhões. O exemplo vale para ilustrar que os "custos" das políticas econômicas têm de ser mensurados levando-se em conta o seu benefício.

O cálculo nem sempre é fácil de ser feito, porque muitas vezes envolve fatores de difícil mensuração. Mas isso não pode servir de álibi para desprezar a avaliação do benefício de cada medida. Até porque seria uma análise incorreta. É relativamente simples calcular o custo da escolha e implementação das duas decisões de política econômica citadas. Cálculos simples do "custo" das decisões sempre ganham espaço generoso na mídia!

Que lições podemos tirar da experiência recente na economia brasileira? Esse é o ponto que deveria nortear um debate mais qualificado, menos ideologizado e mais pragmático a respeito das políticas econômicas.

Diante de um alegado risco de elevação da inflação, observa-se um relativo consenso pelo aumento da taxa de juros básica. Até porque a maioria não deseja inflação elevada. Mas qual o custo dessa escolha? Há vários, dentre eles o aumento dos gastos públicos com o financiamento da dívida pública, que custou R$ 195 bilhões em 2010 (5,5% do PIB!).

Outra questão é a política cambial. As vantagens proporcionadas por uma taxa de câmbio valorizado, como a que experimentamos no Brasil, são de curto prazo, enquanto comprometem o futuro. O câmbio valorizado, juntamente com os fatores de competitividade sistêmica desfavoráveis, está provocando dois efeitos deletérios para a economia brasileira: a desindustrialização e a deterioração das contas externas. Isso tem um elevado custo para o desenvolvimento do País.

A questão cambial é um exemplo típico de escolha que favorece só o curto prazo. O dólar barato proporciona a aquisição de produtos importados e a realização de viagens internacionais a um custo baixo, o que é sempre muito apreciado por grande parte da opinião pública. No entanto, nem sempre ficam claros os seus efeitos, que comprometem o longo prazo, pois roubam crescimento da economia, tornam-nos mais vulneráveis e dependentes de financiamento externo e menos diversificados na produção e exportação, excessivamente centradas em commodities.

Precisamos criar mais espaços de discussão das políticas econômicas, seus custos e benefícios, levando em conta não só o curto, mas o médio e o longo prazos. Isso implica democratizar as informações, assim como diversificar as visões, considerando não apenas escolas variadas de pensamento econômico, mas também todos os setores da economia.

A discussão deve ser ampliada, tanto com os Poderes quanto na mídia, na academia e nas demais entidades representativas da sociedade. Não se trata, evidentemente, de uma prática fácil. Os temas em geral são complexos e nem sempre as pessoas estão dispostas a investir seu tempo e sua energia com assuntos áridos. Mas, como não existe visão neutra em política econômica, o mínimo de cuidado que devemos ter é o de diversificar o debate. Até porque, do contrário, o risco é o de nos tornarmos reféns de uma única via, que pode favorecer alguns, mas não o todo.

Economista, Doutor pelo IE/UNICAMP, Professor-Doutor do Departamento de Economia da PUC-SP, é coautor, entre outros livros, de "Economia brasileira" (Saraiva)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Egito chega a consenso para mudar constituição

A urgência de mudanças constitucionais foi o único acordo na primeira grande reunião entre o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, e líderes da oposição, incluindo a Irmandade Muçulmana. Pela proposta do governo, mudam as regras para as eleições, mas o presidente Hosni Mubarak fica no cargo até setembro, ponto que divide opositores. Cairo prometeu revogar a lei de emergência, em vigor há 30 anos.

Constituição, o único consenso

A REVOLTA DO MUNDO ÁRABE

Vice propõe reforma e Irmandade Muçulmana negocia, apesar de rejeitar permanência de Mubarak

Fernando Duarte

Anecessidade urgente de uma reforma constitucional foi o único consenso a emergir ontem da primeira reunião de transição comandada pelo vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, com integrantes do bloco da oposição anti-Hosni Mubarak. Após recusar propostas anteriores de diálogo, a facção islâmica Irmandade Muçulmana cedeu e aderiu às negociações. O líder da Associação Nacional por Reforma (ANR) e Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, também enviou um representante ao encontro, embora tenha criticado a iniciativa horas mais tarde - num sinal de que, apesar do avanço aparente, a oposição à ditadura está mais dividida do que nunca. Segundo a proposta de governo, Mubarak permanece durante a transição.

Nas ruas do centro do Cairo, poucos milhares de manifestantes ainda exigiam a renúncia do ditador. Após 13 dias de paralisação, o país viu ontem faíscas de normalidade. Pela manhã, muçulmanos e cristãos coptas rezaram uma missa na Praça Tahrir. Algumas escolas reabriram, assim como as agências bancárias - ainda que apenas durante três horas, provocando longas filas. Depois de um dia relativamente calmo, à noite, tiros foram ouvidos no centro.

Vacilante, ElBaradei critica propostas

Além da Irmandade, Suleiman levou à reunião representantes dos partidos Wafd (liberal) e Tagammu (de esquerda). O pacote de propostas do governo inclui a permanência de Mubarak no cargo até o fim de seu mandato, em setembro, a criação de um comitê conjunto para a reforma constitucional e o fim da Lei de Emergência de 1981, estabelecida com o assassinato do presidente Anwar Sadat. O porta-voz do governo, Magdi Radi, afirmou à TV estatal que as mudanças serão implementadas até o início de março.

Um dos pontos vitais para o avanço será a alteração dos artigos 76 e 77 da Constituição - que impõem severas limitações à candidatura presidencial e permitem ao presidente concorrer ao cargo infinitamente. Suleiman, inclusive, já teria concordado em limitar a apenas dois mandatos consecutivos o termo presidencial. O governo assegura, ainda, que o comitê de reformas terá apoio do Judiciário - amplamente dominado pelo Partido Nacional Democrata (PND), de Mubarak.

Em outra controvérsia, Suleiman acenou com promessas de criar uma secretaria para registrar queixas sobre violações aos direitos humanos e prometeu respeitar as liberdades de expressão e imprensa - causando desconfiança. Logo após o comunicado, o repórter Ayman Mohyaldin, da al-Jazeera, foi preso, sendo libertado somente após sete horas.

Coube ao ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei, a tarefa involuntária de evidenciar o racha cada vez maior na oposição. Apesar de ter enviado um representante ao encontro com Suleiman, ElBaradei criticou as negociações, alegando que o vice-presidente - ex-chefe da Inteligência e, portanto, da temida Mukhabarat, a polícia secreta - era um problema.

- Este processo é opaco. E comandado por militares, o que é parte do problema - disse ele ao "Meet the Press" da rede americana NBC.

Apesar de querer garantias de reformas mais amplas, muitas facções opositoras já admitem a permanência de Mubarak até setembro.

- Se tivermos garantias de mudanças fundamentais, como uma nova Constituição, eleições livres e o fim do estado de emergência, não há problema em Mubarak permanecer o resto do mandato - afirmou Ahmed Zewail, Prêmio Nobel de Química e outro nome citado como possível sucessor.
A Irmandade, no entanto, vê sua saída como fundamental. A Casa Branca, por sua vez, incentivou o debate.

- O Egito não vai voltar a ser o que era antes. E acho que a Irmandade Muçulmana é apenas uma das facções do Egito - sentenciou o presidente Barack Obama à rede Fox News.

FONTE: O GLOBO

Com ""nacionalização"", PT tem votação que é retrato fiel do eleitorado brasileiro

Daniel Bramatti

Ao completar 31 anos, o PT passa pelo ápice de um lento e gradual processo de "despaulistização" (afastamento do eixo São Paulo) que vem desde a década de 80. Sua votação para a Câmara dos Deputados em 2010 espelhou de forma quase exata a distribuição do eleitorado brasileiro pelas diferentes regiões.

Dados eleitorais, pesquisas de opinião e estudos acadêmicos demonstram que essa descentralização geográfica coincidiu com uma marcha rumo ao centro e uma transformação de base social. Assim como o PT, nas últimas três décadas os simpatizantes do partido se tornaram mais moderados e se interiorizaram. Diferentemente do PT, eles ficaram mais pobres.

Em 1982, na primeira eleição para a Câmara que o partido disputou, nada menos que 89% de seus votos se concentravam na Região Sudeste. No Nordeste, Norte e Centro-Oeste estavam apenas 4%, 2% e 1% dos eleitores petistas, respectivamente. Essa distorção foi caindo a cada quatro anos até que, em 2010, o resultado foi de 42% no Sudeste, 26% no Nordeste, 17% no Sul, 8% no Centro-Oeste e 7% no Norte - com uma margem de erro máxima de dois pontos, esses porcentuais são um retrato fiel da distribuição dos eleitores pelo País.

Ainda que com certas limitações, as eleições legislativas retratam de forma mais precisa a fidelidade dos eleitores aos partidos, já que as disputas presidenciais são centradas em personalidades.

Efeito Lula. A descentralização geográfica do eleitorado petista, marcadamente paulista nos anos 80, é um fenômeno até certo ponto previsível, segundo o cientista político Jairo Nicolau, especializado na análise de dados eleitorais. Ele observa, porém, que a tendência se intensificou a partir da chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2003.

Até 2002, a maioria absoluta dos eleitores petistas para a Câmara (52%) ainda se concentrava no Sudeste. Nas duas eleições seguintes, esse índice caiu para 46% e 42%, respectivamente. No Nordeste, a trajetória foi de crescimento: 18% em 2002, 24% em 2006 e 26% em 2010. No Norte, os índices foram de 4%, 6% e 8%.

Com Lula no poder, o fortalecimento do PT se deu nos Estados onde foi maior o impacto das políticas sociais do governo - das quais o carro-chefe é o programa Bolsa-Família.

Esse eleitorado dependente de benefícios oficiais, disperso e não organizado tem perfil muito diferente dos militantes que impulsionaram o partido em suas origens - sindicalistas, estudantes, intelectuais e religiosos da chamada ala "progressista" da Igreja Católica.

"Para compreender mudanças e continuidade na evolução do petismo, deve-se prestar especial atenção à expansão geográfica do partido", afirmam os cientistas políticos David Samuels, da Universidade de Minnesota, e Cesar Zucco, da Universidade Princeton, no estudo As Raízes do Petismo, 1989-2010. "As regiões brasileiras têm grandes desigualdades socioeconômicas. Por isso, a expansão eleitoral de um partido para novas áreas pode causar mudanças no perfil de seus simpatizantes mesmo sem que ocorra um grande realinhamento socioeconômico."

Jairo Nicolau observa que a expansão nacional do PT coincide com ação planejada dos líderes da legenda. "Após a vitória de Lula houve uma deliberação para organizar o partido nas cidades onde não conseguia entrar." Essa interiorização, para o cientista político, foi acelerada pela distribuição de benesses oficiais, pela cooptação de outras legendas e pelo próprio carisma de Lula entre os eleitores mais pobres.

A trajetória do PT revela um comportamento diferenciado dos eleitores do Sul. Lá, a proporção dos votos petistas para a Câmara não caiu nem cresceu, como no Sudeste e no Nordeste, mas oscilou. O ápice (22%) ocorreu em 1998, no governo Fernando Henrique Cardoso, quando o petista Olívio Dutra foi eleito governador do RS.

"O Sul experimentou o PT primeiro e depois recuou", observa Marcia Cavallari, diretora executiva do Ibope.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Simpatias mudaram, mas sigla não virou ''partido dos pobres''

Estudo mostra que PT perdeu apoio entre ricos, mas ainda tem mais simpatizantes da classe média do que da baixa

Daniel Bramatti

Após conquistar a Presidência da República, o PT se expandiu para áreas menos desenvolvidas e conquistou simpatizantes nas camadas mais baixas da pirâmide social, mas não há evidências de que tenha se transformado no "partido dos pobres". A conclusão é do estudo Raízes do Petismo, 1989-2010, dos cientistas políticos David Samuels e Cesar Zucco.

Ao tabular dados estatísticos de diversas pesquisas de opinião sobre preferência partidária e orientação ideológica, os pesquisadores constataram que, nas primeiras duas décadas de existência do PT, havia uma correlação direta entre renda e simpatia pelo partido. Quanto mais ricos e educados os eleitores, maior a probabilidade de que eles se identificassem como petistas.

A partir de 2007, essa correlação passou a ser negativa: quanto mais alta a faixa de renda, menor o índice de apoio ao PT.

Isso não significa que o partido foi "abraçado" pelos pobres. O estudo constatou taxas similares de "petismo" nas classes baixas e médias e uma exceção entre os mais ricos. "Só na faixa dos que ganham mais de dez salários mínimos o apoio ao PT teve queda significativa."

Mesmo nos Estados considerados periféricos, há mais pessoas identificadas com o PT na classe média do que entre os mais pobres, afirmam os autores. "O PT não está se tornando o partido dos mais pobres nas regiões mais pobres. Tanto nos Estados centrais como da periferia, o petismo é mais presente em cidades com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais alto."

Samuels e Zucco destacam que é preciso distinguir preferência pelo PT e simpatia por Lula. "Na origem (do partido), os petistas eram mais educados e mais ricos do que a média dos brasileiros, mas essas variáveis não indicam mais predisposição de identificação com o PT. Petistas são encontrados em todos os níveis de renda e educação. Apesar de o fato sugerir que o petismo não representa interesses de classes, isso também deixa claras as diferenças entre petismo e lulismo. Lulismo é um fenômeno populista - um sentido de solidariedade e gratidão em relação a Lula que é mais forte entre os mais pobres. O petismo não é mais forte entre os pobres do que em outras camadas sociais, mas tampouco é mais fraco."

As pesquisas analisadas pelos cientistas políticos também permitem avaliar as mudanças do perfil ideológico do petista médio. "A diferença mais óbvia entre o petismo de hoje e o dos primeiros anos é o declínio da importância da ideologia de esquerda." É a partir de 2002 que a probabilidade de um petista se identificar como "de esquerda" passa a cair. "Isso sugere que a moderação da elite do partido se reflete em sua base de apoio."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

''Dança das cadeiras'' opõe Câmara a STF

Levantamento do ""Estado"" mostra que 20 suplentes devem assumir vagas; Casa dá posse a votados das coligações, mas para Supremo vaga é do partido

Eduardo Bresciani

Decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) podem fazer com que a Câmara dos Deputados tenha sua composição alterada em 20 cadeiras, segundo levantamento feito pelo Estado. Isso pode ocorrer porque a Câmara está dando posse aos suplentes de deputados licenciados seguindo a lista dos mais votados dentro das coligações, mas liminares concedidas pelo STF determinam que sejam empossados suplentes do partido daquele deputado que se licenciou.

A Câmara, no entanto, deve analisar cada caso em separado e só vai cumprir as liminares depois de um processo interno.

A nova interpretação sobre a posse dos suplentes surgiu no julgamento de uma liminar em dezembro de 2010. Por 5 votos a 3, o STF decidiu pela convocação do suplente do mesmo partido, e não da coligação, no caso da substituição do deputado Natan Donadon (PMDB-RO), que tinha renunciado ao cargo. A base da decisão é a regra de fidelidade partidária imposta pelo próprio STF, em 2007, segundo a qual o mandato pertence ao partido e não ao parlamentar. Até agora, porém, as decisões foram concedidas em caráter liminar, sem julgamento de mérito.

Na sexta-feira, a ministra Carmem Lúcia decidiu que os suplentes Humberto Souto (PPS-MG) e Carlos Victor (PSB-RJ) devem assumir as cadeiras dos licenciados Alexandre Silveira (PPS-MG) e Alexandre Cardoso (PSB-RJ). O problema é que a Câmara já deu posse a João Bittar (PR-MG) e Dr. Carlos Alberto (PMN-RJ), tendo por base a sequência das coligações.

Tramitação. Diante disso, a tendência é que a Casa abra um processo interno antes de cumprir a decisão do Supremo, da mesma forma que foi feito no caso da substituição de Donadon. Por esse trâmite, cada caso seguirá separadamente para as mãos do corregedor, Eduardo da Fonte (PP-PE), que vai ouvir a defesa do suplente da coligação e levará um parecer para a decisão da Mesa.

No entendimento da área técnica da Câmara, a tendência é de que sejam acatadas as liminares. Apesar disso, a Casa manterá a chamada dos suplentes pela coligação até que o STF tome uma decisão sobre o mérito de algum caso.

Nas trocas ordenadas pela Justiça o suplente do partido do parlamentar afastado tem menos votos do que o que vem em seguida, pela coligação.

Polêmica. Isso torna o assunto polêmico. No Distrito Federal, por exemplo, Augusto Carvalho (PPS), primeiro suplente da coligação de Geraldo Magela (PT), teve 18.893 votos, enquanto João Maria (PT), o petista que vem em seguida, recebeu apenas 2.199 votos.

Em alguns casos, suplentes envolvidos nessas disputas permanecerão com mandato em qualquer um dos critérios. João Bittar, que teve a saída ordenada pelo Supremo, é um deles. O deputado do PR mineiro pode usar o mesmo critério para ficar com a vaga de Bilac Pinto (PR), na qual já foi empossado Jairo Ataíde (DEM). O mesmo acontece com Francisco Escórcio (PMDB-MA), que é segundo suplente da coligação e primeiro de seu partido. Assim, ele ficaria ou com a vaga de Pedro Fernandes (PTB), secretário de Estado, ou com a de Pedro Novais (PMDB), ministro do Turismo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Não vou me candidatar em 2012', diz Serra

Cristiane Agostine

Sem mandato eletivo e sem cargo de destaque no PSDB, o ex-governador José Serra (PSDB) afirma que pretende continuar como liderança da oposição no país e trabalhará para que ela seja mais "viva" e "eficiente". Serra, no entanto, não deixa claro se pretende comandar o PSDB. Diz que não sabe ao certo quando será a eleição interna, mas ressalta que não fará "nenhum gesto" para encurtar o mandato do presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE). Derrotado na disputa presidencial de 2010, Serra descarta candidatar-se em 2012 para a Prefeitura de São Paulo, e desconversa sobre suas pretensões eleitorais para 2014. Abaixo, a entrevista que o ex-governador concedeu ao Valor, por e-mail:

Valor: Como o senhor pretende retornar à cena política nacional? Quais são os seus planos?

José Serra : Eu não vou retornar, pelo simples fato de que não sai dela. É o sentido de vida que escolhi. As formas variam desde que me engajei na política, quando líder estudantil, passando pelo exílio, pela universidade, Congresso e Executivo. O conteúdo é que não varia: servir a nosso povo e ao nosso país. Parafraseando aquele poeta espanhol, o caminho será feito pelo andar.

Valor: O senhor pretende candidatar-se à presidência do PSDB?

Serra : Apesar de todas as especulações sobre isso, devo dizer que a questão é extemporânea. Nem sei bem quando será a eleição. Não vou fazer nenhum gesto que possa, de alguma maneira, encurtar o mandato do presidente Sérgio Guerra. Vou agir como gostaria que agissem comigo. E sempre pensando no interesse do Brasil. E o Brasil precisa de uma oposição com unidade de ação, ideias claras, coragem e disposição para fiscalizar, cobrar, empurrar o governo para as posições que atendam ao interesse dos brasileiros. Vou trabalhar, com minha experiência, meus conhecimentos e minha liderança, para que a oposição seja cada vez mais ágil, mais viva, mais coerente e mais eficiente. Dentro e fora da estrutura partidária. É preciso fazer embate vivo de ideias e propostas. Isso tudo é necessário ao funcionamento da democracia, melhora o país. No Brasil, às vezes, pensa-se que o vencedor leva tudo, "the winner takes all". Mas não é assim. Tivemos o voto de quase 44 milhões de brasileiros. Perto de 44% dos eleitores que votaram, no segundo turno, apoiaram a nossa proposta. Embora tenha perdido, o PSDB cresceu. Temos de honrar esses votos. Temos de representar esses eleitores. Temos de manter esses eleitores informados e orgulhosos de sua escolha.

Valor: Qual a avaliação do senhor sobre a manifestação da bancada do PSDB da Câmara em apoio à reeleição do deputado Sérgio Guerra no comando do partido?

Serra : Criou-se um mal-entendido, um equívoco. Se os deputados estão em uma reunião e alguém propõe uma manifestação de apoio ao atual presidente do partido, é natural que todos apoiem. Todos assinaram. Em nenhum momento se colocou se haveria, ou não, outro candidato. Não era fulano contra beltrano. Eu apoiei a eleição do presidente Sérgio Guerra e o escolhi para coordenar a minha campanha. As assinaturas não devem ser interpretadas como uma manifestação contra mim, ou contra o [senador] Aécio [Neves], ou contra o [ex-presidente] Fernando Henrique [Cardoso], ou contra o [ex-senador] Tasso [Jereissati]. Como disse o [governador de São Paulo, Geraldo] Alckmin, ainda é cedo para se decidir sobre a futura direção do PSDB.

Valor: O senhor pretende candidatar-se a algum cargo eletivo nas próximas eleições, em 2012? E em 2014?

Serra : Não vou me candidatar em 2012. E 2014 ainda está muito longe. Seria burrice especular sobre o que vai acontecer daqui a quatro anos. É um erro grave trazer 2014 a valor presente.

Valor: Caso o senhor não pretenda se candidatar à Prefeitura de São Paulo em 2012, qual nome o senhor apoiaria para a disputa?

Serra : Vou apoiar o candidato que o meu partido, o PSDB, indicar.

Valor: Como poderá ser a relação política entre o senhor e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, caso ele migre do DEM para o PMDB?

Serra : Tenho com o prefeito Kassab uma boa relação, pessoal, de amizade, pessoal e política. Mas seria tolo especular sobre algo hipotético, que pode ou não acontecer num futuro ainda indeterminado.

Valor: Como tem sido a sua relação com o governador Geraldo Alckmin? O senhor aprova a aproximação do governo paulista com o governo federal? E concorda com as mudanças que estão ocorrendo em secretarias estaduais como as de Transportes Metropolitanos, Saúde, Educação, Habitação e Desenvolvimento Social?

Serra : Minha relação com o governador é ótima. Temos conversado com bastante frequência, e vou torcer e ajudar para que ele faça um excelente governo. Tenho certeza de que fará. Qualquer governante, de qualquer partido, tem de trabalhar em cooperação com outras esferas de governo, de qualquer partido. O interesse da população deve prevalecer. É assim que eu fiz quando fui ministro, prefeito e governador. Assim que vejo o governador Alckmin agir. Sobre as ações estaduais, não estou preocupado se há esta ou aquela diferença em relação a eventuais decisões que eu tenha tomado no passado. Cada governante tem o seu jeito, seu "timing", sua visão, sua avaliação e as condições objetivas para trabalhar. Tenho plena confiança de que o governador Alckmin vai fazer uma gestão muito boa. Além da certeza, o governador Alckmin tem o meu apoio, a minha torcida, a minha solidariedade e a minha ajuda, se precisar.

Valor: O senhor tem conversado com o senador Aécio Neves? Acredita que ele poderá ser o grande líder da oposição no Congresso?

Serra : Se ele vai ser ou não um grande líder da oposição no Congresso, depende dele. Ele tem experiência pra isso.

Valor: O senhor disse que passaria a dar palestras, a partir deste ano como forma de obter recursos. O senhor já começou a dar palestras? Quais foram os convites que o senhor recebeu?

Serra : Vou trabalhar para viver, fazendo palestras, dando aulas e escrevendo. Também sei governar e legislar. Mas, no momento, estou sem mandato.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Aliados correm para alçar tucano ao comando do partido

Cristiane Agostine, Ana Paula Grabois e César Felício

A reação dos aliados do ex-governador paulista e duas vezes candidato a presidente José Serra ao abaixo-assinado pela reeleição do deputado Sérgio Guerra (PE) para a presidência nacional do PSDB foi apenas o primeiro lance da ofensiva de Serra para tentar obter o comando da sigla.

Braço direito de Serra no governo de São Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) já verbaliza a possibilidade de o próprio Serra assumir a presidência do partido. "É impossível o PSDB ser vitorioso sem Serra. Não é possível exclui-lo do grupo que deve ter o comando do partido. Ele tem que estar presente. Não sei se formalmente, isso vai depender da disposição dele. Pelo prestígio e pelos votos que ele teve, não é possível desenhar o futuro do PSDB sem Serra", diz.

Senador mais votado do país em uma eleição surpreendente, Aloysio pode vir a ser um instrumento para que Serra se fortaleça no cenário nacional na próxima eleição municipal. O senador é visto por aliados do ex-governador como a única possibilidade de reunir em uma mesma candidatura na eleição para a prefeitura da capital no próximo ano o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM), além do próprio Serra. O ex-governador já visitou tucanos que estão alinhados a Alckmin e dirigentes do PPS para avisar que tenderia a ficar fora da disputa eleitoral de 2012, o que confirma agora em entrevista ao Valor. Não disse que quer se resguardar para a eleição presidencial de 2014, mas deixou esta impressão em pelo menos um interlocutor, dirigente do PSDB.

Na eleição passada, Serra era o líder nas pesquisas de opinião e tido pela oposição ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato natural em 2010. Por isso retardou ao máximo a sua entrada no processo eleitoral, enquanto o competidor interno, o então governador mineiro Aécio Neves (MG), procurava antecipar a definição da candidatura, propondo prévias partidárias.

Agora a possibilidade de reeleição presidencial ou de nova candidatura presidencial de Lula torna menor a possibilidade de Serra aparecer como líder nas sondagens de voto. Começa a ocorrer o fenômeno oposto ao de 2010: os aliados de Serra trabalham para antecipar o calendário de definições internas e recolocar o presidenciável como um formulador das políticas do partido e os de Aécio não demonstram pressa alguma. "A coisa mais preciosa neste momento é a unidade. Não é momento de desviarmos o foco para a discussão intestina. Já perdemos três eleições presidenciais e não temos contingente parlamentar sequer para barrar uma emenda constitucional ou convocar uma CPI", comenta o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG).

Os aliados de Serra avançam na discussão interna acusando os adversários de terem manobrado para isolar o ex-governador. Segundo Aloysio, o apoio de parlamentares à reeleição de Guerra na presidência do PSDB, registrado em um documento, foi um "processo precipitado" e "constrangedor". "A escolha tem que ser precedida por um debate profundo. Precisamos escolher uma direção que seja capaz de implementar as mudanças e isso seguramente não se faz por lista", disse o senador. Para o parlamentar, que foi chefe da Casa Civil no governo paulista, "quem quiser excluir Serra está trabalhando para liquidar o PSDB". O mandato da atual Executiva Nacional do PSDB se encerra em maio.

No DEM, principal parceiro do PSDB, a vitória do deputado ACM Neto (BA) para a liderança da Câmara dos Deputados foi festejada por Aécio e o resultado foi visto como uma prévia para a escolha do novo presidente da sigla, que deve se dar entre o senador José Agripino Maia (RN) e o ex-vice-presidente Marco Maciel, mas aliados de Agripino procuram demarcar distância de Aécio. Afirmam que a prioridade para a nova direção da sigla é não se vincular a nenhuma das facções tucanas.

Internamente, trabalha-se com o cenário de que o mais provável candidato presidencial do PSDB em 2014 é Aécio Neves. O segundo cenário em termos de probabilidade seria o da candidatura de Geraldo Alckmin. Serra hoje é visto apenas como a terceira possibilidade.

A avaliação dentro do DEM é que a grande dificuldade de Aécio em 2014, além da falta de apoio do PSDB paulista, é a mesma que teve na eleição passada: seu nome permanece tendo alcance regional, enquanto tanto Serra quanto Alckmin, por terem sido candidatos presidenciais, têm ressonância nacional.

A proximidade com Serra é maior no PPS. A seção paulista da sigla é profundamente vinculada ao ex-governador e o presidente nacional do partido, Roberto Freire, eleito deputado federal, transferiu seu domicílio eleitoral de Pernambuco para São Paulo. Mas também neste partido a prioridade não é buscar uma definição imediata para 2014.

A sigla encolheu na eleição do ano passado, mas procura estruturar um bloco com o PV da presidenciável Marina Silva, com quem deve buscar coligar-se em algumas eleições municipais no próximo ano. "Não há candidato óbvio para a próxima eleição presidencial. Todas as siglas passam por redefinições internas. O PPS viveu o risco da descaracterização e deve buscar agora a reconexão com as causas e os movimentos da sociedade", disse o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Continuísmo: Fórum Social marca ofensiva para exibir Dilma

Ministros e Lula se revezam na tentativa de promover plataforma de governo da presidente

Dacar - O governo montou uma ofensiva no Fórum Social Mundial, que começou ontem no Senegal, para obter a simpatia de intelectuais, sindicalistas e ativistas internacionais de esquerda à presidente Dilma Rousseff. O Planalto enviou três ministros e tem o empenho do ex-presidente Lula, que chegou ontem ao país, para transmitir parte do seu prestígio à sucessora.

Hoje, a embaixada brasileira em Dacar oferecerá coquetel para apresentar a plataforma de Dilma a líderes de ONGs, integrantes do conselho do Fórum e autoridades senegalesas.

O Itamaraty realizou o encontro a pedido do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), chefe da delegação do país no Senegal. Ele falará sobre os planos de Dilma para o combate à pobreza, a cooperação com a África e outros temas sensíveis ao Fórum.

Ontem, na abertura do evento, Carvalho foi aplaudido ao exaltar a promessa de erradicar a miséria.

– Nossa presidente Dilma, na continuidade da missão iniciada pelo presidente Lula, determinou como prioridade central do seu governo o combate a toda miséria. Essa miséria nos envergonha e ainda vitima milhões de brasileiros – disse.

Ex-presidente recusou carona em avião da FAB

Em discurso de forte tom ideológico, o ministro afirmou que voltará ao Brasil entusiasmado e com “espírito de luta socialista’’. Também integra a comitiva o sociólogo petista Emir Sader, antigo participante do Fórum. Ele organizou o encontro de Dilma com intelectuais na campanha e foi indicado para presidir a Casa de Rui Barbosa, do Ministério da Cultura.

Lula chegou a Dacar à tarde, em voo fretado. Segundo a assessoria do governo, a despesa foi bancada pelo ex-vice José Alencar. O ex-presidente havia sido convidado para pegar carona no avião da FAB, mas recusou para evitar críticas. Lula também teria evitado ofertas de outros empresários que se dispuseram a bancar a viagem.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Caetano Veloso canta "Evocação número 1", de Nelson Ferreira

Cinco Almas, Cinco Rostos:: Graziela Melo

À
cada alma
um rosto

À primeira
por suposto
o rosto triste
do desgosto

À segunda
alegria
o riso fácil
o riso leve
à luz do dia

Bela alma
doce,
calma...

À terceira
o rosto
cínico,
o rosto
frio...

À quarta
inexpressivo,
vazio!!!

À quinta
o mais
mesquinho.
pelos lábios
contraídos
pela inveja
destrutiva

Furtivas
artimanhas
mal urdidas,
pelas teias
da aranha
venenosa...

Alma negra,
escabrosa!!!


É autora do livro Crônicas, contos e poemas. Abaré Editorial/Fundação Astrojildo Pereira, Brasília, 2008