Folha de S. Paulo
País tem duas correntes antipolítica, e
ambas se baseiam no horror
Mesmo depois das Trevas
Bolsonaristas, última etapa da fase de devastação da vida pública
nacional que foi motivada por uma enorme onda de sentimento antipolítica, há
ainda quem realmente considere que o desprezo pela política é coisa muito
sofisticada e nitidamente superior.
Mas não foi o antipetismo o
combustível do ciclo de autodestruição que estará completando uma década este
ano e que alimentou as várias camadas de crise que nos levaram quase ao fundo
do abismo?
Certamente, mas o antipetismo é tão somente
uma forma aguda do sentimento antipolítica que emergiu numa circunstância em
que o PT vinha
de três mandatos presidenciais seguidos.
Tanto é verdade que os portadores da atitude antipolítica viraram ferozes anti-Temer apenas seis meses depois de consolidado o impeachment de Dilma, sem nem trocar de luvas ou discurso. E os que permaneceram lúcidos também se tornaram antibolsonaristas quando se deram conta da farsa da "nova política" prometida pelo "mito" e da sua mais completa submissão às velhas raposas do Congresso.