sábado, 29 de setembro de 2018

Maria Alice Rezende de Carvalho*: ‘Reformismo de Esquerda e Democracia Política'

- O Estado de S.Paulo

Em livro politicamente consistente e relevante, coletânea de artigos de Luiz Sérgio Henriques

Acaba de ser publicado um livro politicamente consistente, em dias de volatilidade e inconsistência nesse âmbito. Trata-se do Reformismo de Esquerda e Democracia Política, de Luiz Sérgio Henriques, colaborador frequente de O Estado de S. Paulo, que desde 2010, quando ainda não sopravam ventos tão sinistros, denuncia a fragilidade do conhecimento que a esquerda acumulou sobre nós mesmos e sobre o Brasil. E o faz sem dramaticidade, sem mobilizar o pathos que sempre espreita momentos liminares. A forma que Luiz Sérgio imprimiu à sua reflexão é a da crônica política - uma forma praticada por mestres do jornalismo, que consiste em se debruçar sobre o presente imediato para logo extrapolar essa limitação temporal e trazer à tona questões maiores e mais profundas, de que a conjuntura é apenas um sintoma. Texto maravilhoso, superfície sem crispações, sobre um fundo de temas árduos, que revolve antagonismos e disputas.

O livro contém 60 artigos selecionados entre outros tantos que Luiz Sérgio escreveu no período de 2010 a 2018. Eles foram organizadas cronológica e tematicamente, pois o autor conferiu a cada um desses anos o título de um dos artigos do período, revelando o andamento das suas preocupações ao longo do tempo.

Em 2010, por exemplo, ano em que Lula concluiu seu segundo mandato presidencial e se disse capaz de eleger um poste, destaca-se reflexivamente, para Luiz Sérgio, a narrativa fundacional com que o PT irrompeu na cena política e proclamou a nova história do movimento operário e do País - uma história desde baixo, movida por um partido que se concebe como expressão pura do social “contra a mediação representada pelas formas elitistas da política” (pág. 45). O título Que esquerda é esta? dialoga, então, com a ambivalência do PT em relação às instituições da democracia política e às mudanças processuais, incrementais, que podem advir do alargamento da base de massas do Estado Democrático de Direito. Para o autor, essa ambivalência e suas consequências práticas trazem riscos de retrocesso político, mesmo quando encarnada - ou até por isso - num novo cavaleiro da esperança.

João Domingos: Parto de antagonistas

- O Estado de S.Paulo

Haddad e Lula omitem os dois últimos anos, quatro meses e 12 dias do governo Dilma

Em um encontro com artistas na quarta-feira, o candidato Fernando Haddad (PT) sugeriu que Jair Bolsonaro (PSL) seja encarado como “um parto necessário para o desenvolvimento”. Haddad disse que outras nações, hoje tão respeitadas, “tiveram seus momentos dramáticos”, o que para ele é algo semelhante ao que o Brasil está passando agora.

O voto conservador não é uma novidade nem no Brasil nem em lugar nenhum do mundo. Por aqui faltava-lhe, no entanto, um guia. Guia que se construiu à sombra do governo de 14 anos, quatro meses e 12 dias de um movimento político que ficou conhecido como lulopetismo, o petismo com o culto à personalidade de Lula.

Assim como militantes de vários partidos clandestinos de esquerda, parte da intelectualidade e da academia, do clero progressista e do movimento sindical apostou no final da década de 1970 e início da década de 1980 no surgimento de um líder forte, capaz de unir forças dispersas pela ditadura militar, e esse líder foi Lula, os conservadores fizeram movimento semelhante assim que o PT chegou ao poder, em 2003. A diferença é que Lula e os que o apoiaram fundaram um partido para se tornar força hegemônica na esquerda. Os conservadores preferiram se aglutinar em torno de um deputado que, por suas posições polêmicas, machistas, homofóbicas, xenófobas, contrárias à esquerda e em defesa da ditadura militar, passou a encarnar o anti-PT e o anti-Lula. Se Lula serviu de instrumento para a ascensão de uma força política à esquerda, Bolsonaro fez o mesmo papel, à direita.

Ao longo do tempo, Lula engoliu todos os que o instrumentalizaram, afastou José Dirceu e Antonio Palocci de seu caminho, e impôs as candidaturas de Dilma Rousseff à Presidência da República e de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo e, agora, à Presidência. Bolsonaro ainda terá de provar se tem força para fazer o mesmo.

Merval Pereira: Baixa condição de governabilidade

- O Globo

Quem teria melhores condições de governar na atual crise política e econômica seria um candidato de centro

Dois cientistas políticos da Escola Brasileira Administração Pública e de Empresas (EBAPE), da Fundação Getúlio Vargas do Rio (FGV), Octavio Amorim Neto e Carlos Pereira, fizeram estudos separadamente sobre temas semelhantes que poderiam ser resumidos na pergunta: qual a capacidade de os candidatos à presidência da República construir coalizões políticas estáveis?

Os dois chegaram à mesma conclusão: o petista Fernando Haddad é o que terá maiores dificuldades, enquanto Bolsonaro tem condições médias. Quem teria melhores condições de governar o país na situação atual, de crise política e econômica, seria um candidato de centro, que refletiria melhor a tendência majoritária do Congresso a ser eleito, de centro-direita.

Mas, como essa hipótese parece remota, me fixei nas análises que fizeram dos principais concorrentes, Bolsonaro e Haddad. Octavio Amorim Neto, cujo trabalho foi publicado no Observatório Político do Boletim Macroeconômico da EBAPE, analisou seis dimensões entre muitas possíveis: (1) a probabilidade de ter maioria legislativa estável; (2) o tamanho da coalizão social; (3) política econômica; (4) capacidade de atrair bons quadros técnicos; (5) relações com as Forças Armadas; e (6) capacidade de distensionar o ambiente político.

Com relação a Haddad, Octavio Amolrim Neto tem uma série de interrogações. Diz que se ele seguir a cartilha de Lula, avalia Octavio Amorim Neto, tentará fazer acordos com o centro e a direita varejistas. As feridas deixadas pelo embate eleitoral deverão dificultar uma composição parlamentar com a centro-direita, o que significa que a probabilidade de ter uma maioria estável é de nível médio para baixo.

Paulo Celso Pereira: Efeito teflon preserva votos bolsonaristas

- O Globo

Em 2014, após ser alvo de intensa campanha de TV que associava sua proposta de independência do Banco Central à possibilidade de famílias ficarem sem ter o que comer, Marina Silva derreteu velozmente. Nas últimas semanas, Bolsonaro foi alvo de um intenso bombardeio dos adversários —e manteve-se inabalável do alto dos mesmos 28%, na liderança da corrida eleitoral.

A ampla campanha de artistas, brasileiras e internacionais, nas redes em torno do bordão #Elenão não impactou o eleitor que já havia escolhido o capitão reformado. Tampouco teve efeito sobre os eleitores do deputado a profusão de propagandas de Geraldo Alckmin alardeando a possibilidade de volta da CPMF e o risco de Fernando Haddad vencer Bolsonaro no segundo turno.

Desqualificando moralmente os adversários e dizendo-se alvo de perseguição da imprensa, Bolsonaro parece ter conseguido desenvolver em seus eleitores o que no meio político se chama de “efeito teflon”: nenhuma informação negativa a seu respeito “cola” para quem já aderiu. Isso garante a Bolsonaro sua presença no segundo turno. O problema do capitão reformado hoje está nos cerca de dois terços dos eleitores que não aderiram à sua campanha.

Os números divulgados pelo Datafolha ontem praticamente repetem os que já haviam aparecido na pesquisa Ibope do início da semana. A notícia mais relevante de ambas é que, embora mantenha seu apoio inabalável, Bolsonaro viu sua rejeição crescer fortemente, atingindo 46%.

Míriam Leitão: No ninho goiano dos tucanos

- O Globo

Marconi Perillo tomou algumas boas decisões que foram desfeitas por seus próprios erros e agora precisa explicar dinheiro vivo na campanha

O ex-governador Marconi Perillo, do PSDB, não dormiu ontem numa prisão apenas porque está sob proteção da lei eleitoral. A Operação Cash Delivery mostra que, mais de quatro anos após o início da Operação Lava-Jato, os sinais explícitos de corrupção, inclusive quantia exorbitante de dinheiro vivo na mão de assessores, rondam as campanhas políticas.

A sensação de corrupção generalizada tem alimentado o desânimo e a raiva dos eleitores neste momento perigoso que o país atravessa. Marconi Perillo administrou Goiás por quatro vezes e poderia ter sido a renovação dos tucanos. Houve áreas em que ele tomou decisões corretas que levaram a bons resultados. Na educação, Goiás estava no 16º lugar em 2009.

Os especialistas em educação apontam a melhora na gestão como explicação para o sucesso. Não houve aumento de gastos. Goiás ficou nos mesmos 25% da receita corrente líquida, mas o dinheiro passou a ser mais bem administrado e por isso o estado chegou ao primeiro lugar no Ideb do ensino médio de 2017, divulgado recentemente. Esse sucesso na educação poderia ser usado como plataforma para projetos políticos mais altos. Se ele não tivesse cometido os erros que cometeu.

Na área fiscal, Goiás começou a melhorar depois de ter sido companhia para os estados que estão em pior situação, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. No ranking do Tesouro, esses estados são letra D, Goiás conseguiu subir para C após uma série de medidas corretas na área da administração fiscal. Uma delas foi corrigir um erro que ele mesmo havia cometido.

Adriana Fernandes: Eleições e ilusões

- O Estado de S.Paulo

Reforma previdenciária, nos moldes propostos, não terá o poder de reduzir os gastos

A polarização política e ideológica em torno das eleições que se aproximam está relegando para um segundo plano doe debate a maior parte dos problemas econômicos que terão de ser enfrentados a partir de 1.º de janeiro.

O fato de que o programa dos candidatos e suas propostas de reforma não estejam sendo discutidos com profundidade na campanha aumenta os riscos de um novo “estelionato eleitoral”, ou seja, uma situação em que o eleito promoverá medidas amargas que não tenham sido previamente anunciadas.

Na questão tributária, por exemplo, vários candidatos estão falando em redução de impostos para atrair o voto, mas o espaço fiscal é praticamente nulo. A maior parte do eleitorado, induzido pelo oportunismo político de muitos, acredita que seja possível ajustar as contas do governo apenas combatendo a corrupção e cortando gastos, já que a máquina pública seria um grande elefante branco.

Pelo peso dos gastos e pelas tendências demográficas, a reforma previdenciária será um ponto imperioso. Por isso, preocupa que o tema não tenha sido debatido na campanha.

O que pouca gente se deu conta é que a reforma previdenciária, nos moldes propostos até agora, não terá o poder mágico de reduzir os gastos, mas, no máximo, estabilizá-los como proporção do PIB. Logo, a redução dos déficits ou retomada dos superávits não pode depender apenas dela.

Demétrio Magnoli: O Trump deles e o nosso

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro provoca amores fulgurantes e ódios incontidos em núcleos minoritários

Jair Bolsonaro imita Donald Trump. Bolsonaro sonha ser Trump. Não poucos creem que Bolsonaro é, realmente, o “nosso” Trump —e profetizam ou temem uma surpresa eleitoral semelhante à dos EUA. Contudo, ao menos do ponto de vista eleitoral, o nosso Trump ocupa lugar bem diferente do que ocupou o Trump deles.

Num nível bem simples, a distinção crucial é que o Trump original candidatou-se pelo Partido Republicano, cuja influência estende-se a quase metade do eleitorado, enquanto o Trump tropical representa uma sigla marginal. Num nível mais profundo, a diferença é que eles apelam a eleitorados opostos. O magnata emergiu como representante do “homem sem rosto”, dos órfãos da globalização —os “deploráveis”, no desastroso, preconceituoso termo cunhado por Hillary Clinton. No Brasil, os “deploráveis” rejeitam Bolsonaro e votam em Lula (ôoops, em Haddad).

Uma lenda urbana diz que o Trump original venceu graças às suas declarações machistas, homofóbicas e xenófobas. De fato, elas serviram para aquecer o núcleo minoritário de seus seguidores incondicionais. Mas o triunfo eleitoral deu-se apesar delas. O segredo da vitória trumpiana encontra-se na plataforma do nacionalismo econômico, desdobrada nas vertentes do protecionismo comercial (China) e da proteção do emprego americano (imigrantes hispânicos). O discurso antiglobalização (America First) ofereceu uma falsa resposta a dilemas verdadeiros, seduzindo os eleitores de classe média-baixa concentrados em estados decisivos do Meio-Oeste. Os brancos pobres votaram no Trump deles.

O Trump deles prometeu parar o declínio econômico por meio de uma restauração nacionalista. O nosso Trump promete parar o declínio moral por meio de um governo autoritário, ancorado no conservadorismo de costumes, ignorando as angústias materiais dos “deploráveis”, que ficam com o lulismo. Segundo as pesquisas, Lula (ôoops, Haddad) bate Bolsonaro por 57% a 22% entre eleitores na faixa de até um salário mínimo.

Hélio Schwartsman: Suave fracasso

- Folha de S. Paulo

Não chego a afirmar que o Brasil seja um caso perdido, mas corremos esse risco

A democracia é o pior regime que existe, salvo todos os demais. E um de seus problemas é que ela frequentemente dá ao povo aquilo que ele quer. Assim, se o conjunto dos eleitores de um país decide caminhar voluntariamente para o precipício, não há como impedir que a nação vá para o abismo.

Não chego a afirmar que o Brasil seja um caso perdido, mas corremos esse risco. A situação por que passa o país é gravíssima. Já a partir do ano que vem, quem quer que venha a ser o governante não terá espaço orçamentário para fazer muito mais do que pagar as despesas obrigatórias (aposentadorias, salários, verbas carimbadas).

Pior, com as pressões da demografia, se nada for feito, a Previdência irá morder um naco cada vez maior do Orçamento, comprimindo ainda mais os gastos constitucionalmente não obrigatórios, como investimentos, manutenção, segurança e parte do custeio da saúde e da educação.

Mesmo que, por um milagre, o próximo presidente consiga dar um jeito nas ameaças fiscais mais prementes, nossa situação estrutural é bem pouco animadora. O bônus demográfico já praticamente se fechou. Com isso, nossa melhor esperança de criar um país mais próspero seria o aumento da produtividade. O problema é que ela não cresce de forma significativa há décadas, entre outras razões porque a qualidade da educação básica oferecida à população é muito ruim. E, se a educação deixa a desejar, ficam muito reduzidas as esperanças de o país dar certo.

Julianna Sofia: Dever cívico

- Folha de S. Paulo

Por que a ex-mulher de Bolsonaro nega fatos por ela relatados?

Não é necessário ser militante do movimento #MeToo ou apoiadora do #EleNão para querer elucidar a atitude de negação de Ana Cristina Valle, ex-mulher do candidato Jair Bolsonaro (PSL), às revelações de que ela relatou ao Itamaraty ter sido ameaçada de morte pelo deputado, fato que a fez deixar o país.

Um telegrama assinado pelo então embaixador brasileiro em Oslo e arquivado no ministério —órgão com extremado senso de respeito a protocolos oficiais— é objetivo: “A senhora Ana Cristina Siqueira Valle disse ter deixado o Brasil há dois anos [em 2009] ‘por ter sido ameaçada de morte’ pelo pai do menor [Bolsonaro]. Aduziu ela que tal acusação poderia motivar pedido de asilo político neste país [Noruega].”

Bolsonaro e Ana viviam à época uma separação litigiosa, em que a guarda do filho do casal era disputada. As alusões ao comportamento agressivo do parlamentar foram testemunhadas. Sabe-se agora mais. A querela judicial derivou para outras acusações contra o candidato por ocultação de patrimônio e por furto.

Ricardo Noblat: Bolsonaro ou ele não

- Blog do Noblat | Veja

Eleição da jabuticaba

Salvo um terremoto, o “ele não” definirá a sorte dos candidatos que disputam o primeiro turno da eleição presidencial. Dito de outra maneira: a rejeição a Jair Bolsonaro (PSL) é o que importa a essa altura.

Embora em alta, ela poderá diminuir até o domingo dia 7 de outubro, e então a história será outra. Ou crescer – e assim a história será outra. Bolsonaro ou o “ele não” disputará com Fernando Haddad (PT) o segundo turno.

Bolsonaro já avisou que só aceitará o resultado se vencer. Deve ter sido aconselhado a dizer isso pelo seu vice, o general Mourão, e demais militares da reserva que o orientam a proceder assim.

Se para o PT eleição sem Lula é fraude (ou era), para o seu oposto a derrota de Bolsonaro será uma fraude. Bobagem nos dois casos. Não haverá golpe como não houve quando Dilma caiu.

Mais do que o PT, Bolsonaro tem um problema – ou vários. Concorre de corpo ausente desde que foi esfaqueado em Juiz de Fora. Virou candidato virtual. Em que condições ele estará no segundo turno?

Uma tempestade perfeita abateu-se sobre Bolsonaro desde então. As falas do seu vice; a desativação pública do seu Posto Ipiranga (o economista Paulo Guedes); e a ofensiva dos adversários.

Bolsonaro era uma ideia – a do não político, ficha limpa, candidato da lei e da ordem capaz de derrotar PT. Sem o PT jamais seria nada. E sem ele o PT jamais imaginaria vencer.

Se a jabuticaba é coisa só nossa, esta eleição o provará em definitivo.

O PT quer ‘tomar o poder’: Editorial | O Estado de S. Paulo

Um regime autoritário pode se instalar da maneira clássica, por meio de um golpe, ou como resultado de um paulatino processo de captura do poder por um determinado grupo político, que assegura sua hegemonia a partir do aparelhamento do Estado. De um modo ou de outro, o resultado é sempre o mesmo: a submissão do Estado - e da Nação - aos interesses de quem o controla, o exato oposto de uma democracia. É precisamente isso o que o PT tentará fazer se esse partido conseguir vencer a eleição presidencial.

Para os que ainda concedem ao PT o benefício da dúvida, enxergando naquele partido credenciais democráticas que a sigla há muito perdeu - se é que um dia as teve -, recomenda-se a leitura de uma entrevista que o “companheiro” José Dirceu deu ao jornal El País.

Na entrevista, o jornal pergunta ao ex-ministro, deputado cassado e réu triplamente condenado se ele acredita na possibilidade de que o PT seja impedido de assumir a Presidência caso vença a eleição - ou seja, se pode haver um golpe. José Dirceu considera essa hipótese “improvável”, pois significaria colocar o Brasil na rota do “desastre total”, uma vez que “na comunidade internacional isso não vai ser aceito”. Mas então Dirceu, condenado a mais de 33 anos de prisão por corrupção no âmbito da Lava Jato, deixa claro que, para o PT, as eleições, afinal, são apenas uma etapa na tomada do poder. “Dentro do país é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nos vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”, explicou o ex-ministro.

Líderes e rejeitados: Editorial | Folha de S. Paulo

No Datafolha, crescem as parcelas do eleitorado que descartam votar em Bolsonaro e Haddad

A pouco mais de uma semana da eleição, a mais recente pesquisa Datafolha aponta uma provável disputa entre os presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) no segundo turno.

Do levantamento realizado na semana passada, nos dias 18 e 19, para o atual, o ex-prefeito de São Paulo saltou de 16% para 22% das intenções de voto, enquanto o rival do PSL manteve a liderança e o patamar de 28%.

Haddad isola-se, assim, na segunda posição da corrida ao Palácio do Planalto. Ciro Gomes (PDT) oscilou de 13% para 11%, e Geraldo Alckmin, de 9% para 10%. Ambos estão empatados dentro da margem de erro, enquanto Marina Silva (Rede), com 5%, já se aproxima do pelotão de baixo.

Como se mostrava previsível no atual quadro político polarizado, os dois primeiros colocados são também os líderes em rejeição.

Sob ataque dos adversários, e numa semana em que se defrontou com notícias desfavoráveis, Bolsonaro viu subir de 43% para 46% a parcela dos que dizem não votar nele de jeito nenhum. Já os que descartam Haddad aumentaram de 29% para 32%.

Leilão do pré-sal confirma acerto da nova regulação: Editorial | O Globo

Todas as áreas foram arrematadas, com um ágio médio de mais de 150%, sinal de interesse

O momento para a 5ª Rodada do leilão de áreas do pré-sal para exploração, realizado ontem, é atrativo. O petróleo voltou a subir no mercado internacional, chegando a US$ 80, e pode alcançar os US$ 100, o que significa ampliar as margens de lucro do setor. Assim, as quatro áreas leiloadas foram arrematadas e o bônus total pago pelas empresas chegou a R$ 6,8 bilhões. O ágio médio, calculado em óleo, foi de 171%. E projeta-se em R$ 180 bilhões o que as áreas gerarão em royaltes, participações especiais e impostos durante os 35 anos dos contratos.

Para confirmar o interesse da indústria, inscreveram-se para o certame 12 empresas, entre elas algumas das maiores do mundo — Exxon Mobil, Chevron, Shell, incluindo as chinesas CNOOC e CNPC. O êxito confirma o acerto das alterações feitas no modelo de partilha instituído pelo PT para o pré-sal, com fins estatizantes. O ideal era ter sido mantido o modelo de concessão, já testado e aprovado. Porém, como foi alterado para contratos de partilha — em que o óleo descoberto é do Estado —, ao menos ele foi melhorado, com o impeachment de Dilma e a chegada de Michel Temer. Foi depurado e perdeu excessos estatistas.

A Petrobras deixou de ter o monopólio na operação e de ser obrigada a assumir uma participação mínima de 30% em todo consórcio. Ela mesma não desejava isso, pelas exigências financeiras a que se submeteria, bem como os riscos. Mas passou a ter a prioridade na escolha de áreas para atuar como operadora. Ficou com uma, chamada de Tartaruga Verde.

O fato de o leilão ocorrer a uma semana do primeiro turno ajuda a chamar a atenção de candidatos que, se eleitos, podem patrocinar retrocessos regulatórios. Ciro Gomes (PDT), por exemplo, já disse e repete que vai “retomar o pré-sal”. Fernando Haddad (PT), por sua vez, afirma que o presidente Michel Temer cometeu alegado crime de lesa-pátria ao dar o pré-sal às “multinacionais”.

A resposta conservadora

Por Amália Safatle | Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

SÃO PAULO - No clipe "Lalá", a rapper Karol Conka zomba dos homens que se consideram "os bons", mas mal sabem fazer sexo. Em 2,58 minutos no YouTube, a artista negra que milita nas questões de gênero desmorona milênios de dominação patriarcal e misógina. Com quase 300 mil curtidas, 19 mil reprovações e mais de 17 mil comentários desde o lançamento, no ano passado, o vídeo é emblemático de um movimento que, de maneira explícita como nunca, eleva a uma condição de protagonismo mais da metade da população do planeta: as mulheres.

Esse conjunto numericamente majoritário, mas politicamente ainda minoritário, soma-se a outros dois movimentos capazes de balançar as antigas estruturas de poder da sociedade: o negro e o da comunidade LGBTQI. A visão é de Maria Homem, professora doutora da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), que recentemente mencionou o exemplo de Karol Conka em uma palestra. A pesquisadora enxerga no Brasil e no mundo uma escalada conservadora, destinada a neutralizar as forças disruptivas da velha ordem.

Movimentos de ruptura têm sido gestados durante séculos. Levaram à queda do Antigo Regime e ao florescimento do Estado moderno, período em que se forjou a troca da obediência cega às leis religiosas pelos questionamentos da ciência à luz da razão e a formação do Estado de direito. Entretanto, adventos recentes, como a revolução digital, deram a esses movimentos ritmo e intensidade inéditos, na leitura da psicanalista Viviane Mosé, doutora em filosofia pela UFRJ e diretora da Usina Pensamento. "Como no Renascimento, o momento atual é difícil. Vivemos a revolução do compartilhamento. É uma explosão de trocas e possibilidades. As coisas deixaram de ser binárias, e isso quebra estruturas, além de trazer muita angústia."

Nos momentos de desestruturação, explica Viviane, as pessoas buscam uma âncora movidas pelo medo e pela sensação de insegurança: "Há tendência ao conservadorismo, na tentativa de retornar a um modelo anterior, mas que não voltará." Como diz Maria Homem, que atua no Núcleo de Pesquisa Diversitas da USP e possui experiência nas áreas de psicanálise, cultura e estética, "há tendência em recusar o presente considerado caótico, maluco, deturpado e corrupto, que só tem 'bandido, gay, música indecente'. É uma sensação psíquica de desamparo e medo, daí se almeja uma ordem imaginária".

Segundo o Burke Instituto Conservador - que leva o nome de uma das referências do pensamento conservador, Edmund Burke -, o mundo Ocidental enfrenta a mais profunda crise em sua estrutura moral e de valores. "Diante das abruptas e perturbadoras mudanças que assolam a sociedade, o pensamento conservador tem sido redescoberto e revalorizado. Muitos indivíduos têm-se assumido como conservadores, preferindo, diante das mudanças que lhes são impostas, resguardar os princípios éticos e morais herdados de suas experiências familiares, religiosas e escolares", informa o instituto.

O tiro no pé dos democratas

Por Helena Celestino | Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

Foi sob uma saraivada de críticas que Mark Lilla, professor da Universidade Columbia, lançou nos EUA o livro "O Progressista de Hoje e de Amanhã", editado no Brasil pela Companhia das Letras. Sua tese é que os movimentos identitários - negros, feministas, LBTGQI, latinos - distorceram a mensagem do Partido Democrata, aprofundaram a polarização no país e levaram à vitória de Donald Trump. Rotulando-se como democrata da fase em que o partido estava conectado com os trabalhadores, Lilla ouviu impávido as acusações de que seu livro era só uma defesa dos privilégios de homens e brancos. "Os ataques só provam que eu tenho razão", responde Lilla, que vem ao Brasil em novembro para participar do Fronteiras do Pensamento.

Valor: O senhor diz que os liberais se perderam ao entrar num pânico moral sobre identidade de raça, gênero e sexo. Mas acha justa a luta desses movimentos pela igualdade. Como um partido progressista pode equilibrar isso?

Mark Lilla: Temos de separar dois tipos de política de identidades. Uma são grupos reivindicando seus direitos porque não estão sendo tratados como cidadãos iguais. Nesse caso, a identidade mobiliza as pessoas porque têm experiências comuns a dividir e, juntas, fazem uma reivindicação democrática. O tipo de movimento identitário atual nos EUA não é político, mas cultural. Não é por direitos, mas por reconhecimento e para garantir exceções. Por exemplo: o Black Lives Matter, grupo importante, chamou atenção pública para o fato de a polícia matar negros ilegalmente. Mas depois começaram a protestar contra Hillary Clinton porque não reconhecia as reivindicações específicas deles como grupo. Ou seja, acabaram numa espécie de política narcisista, voltada só para o seu grupo. Tem sido assim: cada grupo exige reconhecimento para a sua reivindicação, sem compartilhar com a sociedade a busca por projeto comum, todos achando impossível viver juntos.

Valor: Para o senhor, a fixação na diversidade criou uma geração narcisista, pouco interessada no resto do mundo. Mas a luta do Black Lives é ampla.

Lilla: Mas não compreendem que política baseia-se em fazer demandas como cidadãos e entender os outros cidadãos, desenvolvendo sentido de solidariedade. Não é questão de construir ideais, o que aconteceu é que houve desconstrução do cidadão para dois tipos de individualismo: o individualismo identitário no lado dos democratas e o individualismo financeiro no lado dos republicanos. Isso significa que ninguém está falando no bem público. Mas nosso destino está ligado, isso é uma realidade, não um ideal. Por isso, o lado democrata deve focar antes no bem público e em coisas que afetam a maioria. Os grupos que querem mudanças deveriam compartilhar suas reivindicações como cidadãos, e não com base em suas diferenças. Por exemplo: um homem branco, ex-empregado da indústria automobilística em Detroit, está zangado com o que aconteceu com a economia. Um homem negro de classe média, em algum outro lugar, é parado pela polícia enquanto estava dirigindo e acha que foi porque é negro. São dois grupos diferentes frustrados em suas identidades. Em vez de focarmos nas diferenças entre eles, podemos articular uma visão maior do país, baseada em princípios básicos, como a solidariedade. Isso seria dizer para o desempregado branco que temos responsabilidade coletiva sobre o seu desemprego e vamos ajudá-lo a achar emprego. E manifestar solidariedade ao motorista negro dizendo que todo mundo deve ser tratado de forma igual pela polícia e pela lei.

As entranhas da política

Por Jorge Felix | Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

SÃO PAULO - A oposição a Getúlio Vargas (1882-1954) é a origem do presidencialismo de coalizão no Brasil. O amálgama inusitado de sistema presidencialista, federalismo e um governo por aliança multipartidária data do fim do Estado Novo, em 1945, com um pequeno interregno entre setembro de 1961 e janeiro de 1963 e, obviamente, os anos de ditadura militar. Em 1988, na chamada Terceira República, o país assistiu à ressurreição do presidencialismo de coalizão em meio à busca por liberdades democráticas.

É assim que o cientista político e sociólogo Sérgio Abranches posiciona no tempo histórico o modelo político brasileiro, sempre culpado de todas as mazelas nacionais, sobretudo a corrupção. Seria isso mesmo? Em 30 anos, o pluripartidarismo cravado no artigo primeiro da Constituição teria sido incapaz de garantir governabilidade e, mais ainda, seus objetivos de melhorar as condições de vida da população?

Depois de estudar o tema há três décadas, quando publicou numa revista acadêmica da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj) o artigo "Presidencialismo de Coalizão: o Dilema Institucional Brasileiro", sobre o período 1945-1964, Abranches considerou oportuno revisitar o modelo político brasileiro para um balanço de sua segunda encarnação. O resultado é o livro "Presidencialismo de Coalizão, Raízes e Evolução do Modelo Político Brasileiro" (Companhia das Letras, 434 págs), uma ampla narrativa histórica-estrutural das duas fases. Diferentemente de detratores, tomados por uma boa dose de visão simplista sobre a política e a construção social, Abranches conclui pela defesa do potencial democrático do presidencialismo de coalizão para dar conta de toda a heterogeneidade brasileira e pede sua refundação por uma nova Assembleia Constituinte.

"Esse modelo político não é um ato de vontade, ele nasce de características sócio-estruturais arraigadas desde o Império no imaginário brasileiro que foram transferidas para a República", afirma. Abranches lembra o fetichismo do brasileiro com uma figura "forte" no poder, um personalismo imperial, mas concomitante a uma multiplicidade de visões da sociedade. O bipartidarismo provocado pela ditadura militar, atesta o sociólogo, é contrário à natureza social brasileira e foi totalmente artificial. "O presidencialismo de coalizão, em 30 anos, mostrou-se resiliente e mais forte do que aquele no qual foi inspirado, surgido em 1945, mas é um modelo que respeita a diversidade brasileira", diz.

Pesquisa indica polarização entre Bolsonaro e Haddad

Capitão perderia para os rivais no 2º turno. Ele diz que não aceitará resultado diferente da vitória

Faltando nove dias para a realização da eleição presidencial, pesquisa Datafolha apontou ontem que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) se manteve estável em 28% das intenções de voto, enquanto o petista Fernando Haddad subiu 6 pontos e alcançou 22%. A pesquisa confirma a polarização indicada em sondagens anteriores, com o pedetista Ciro Gomes aparecendo em terceiro lugar, com 11%. Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro perderia de todos os rivais. Em entrevista na TV, o capitão disse que não aceitará resultado eleitoral que não seja sua vitória.

POLARIZAÇÃO REFORÇADA NA RETA FINAL

Bolsonaro se mantém, Haddad cresce e ambos se isolam dos adversários

Jeferson Ribeiro e Miguel Caballero | O Globo

A oito dias da votação, pesquisa Datafolha divulgada na noite de ontem confirma a polarização da disputa pela Presidência da República entre Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT. Na comparação com o levantamento anterior do instituto, em 20 de setembro, Bolsonaro se manteve com 28% das intenções de voto, na liderança, e o petista cresceu de 16% para 22%. A diferença entre os dois primeiros colocados, de seis pontos, foi a mesma captada pelo Ibope, em pesquisa divulgada na última quarta-feira. 

A distância de Haddad para Ciro Gomes (PDT), numericamente o terceiro colocado com 11%, aumentou de três para 11 pontos na série do Datafolha, reforçando o cenário de predominância de Bolsonaro e Haddad. Ciro está tecnicamente empatado com Geraldo Alckmin (PSDB), que marcou 10%. Marina Silva (Rede) figurou com 5% e está em empate técnico com o pelotão de baixo da pesquisa. O índice dos que pretendem votar nulo ou em branco oscilou de 12% para 10% e os que não souberam responder permaneceram em 5%. 

Haddad foi o único a crescer fora da margem de erro, que é de dois pontos percentuais. Ciro Gomes e Marina Silva oscilaram dois pontos para baixo, cada, e Geraldo Alckmin, um para cima. A incapacidade de crescer nas pesquisas já tem afetado as campanhas pelo menos do tucano e da candidata da Rede. Alckmin tem tido que conviver com aliados declarando ou planejando apoio a adversários, enquanto Marina iniciou a redução de sua equipe de trabalho com vistas a evitar um endividamento maior ao fim da eleição.

REJEIÇÃO DOS LÍDERES SOBE
O Datafolha também mediu a rejeição de cada candidato e as intenções de voto em diferentes cenários de segundo turno. Internado em um hospital de São Paulo, 23 dias depois do atentado a faca sofrido em Juiz de Fora no último dia 6, Bolsonaro voltou a sofrer ataques mais duros de seus adversários nos últimos dias, em especial da campanha de Geraldo Alckmin, dona do maior tempo de televisão. 

Se Bolsonaro se manteve consolidado na liderança e não perdeu intenção de votos, sua rejeição cresceu três pontos, de 43% para 46%. Os pesquisadores do Datafolha entrevistaram os eleitores ontem e anteontem, numa semana em que o candidato a vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, deu declarações que foram reprovadas pela própria campanha do PSL, como as críticas ao 13º salário. 

Também cresceu três pontos percentuais o número de eleitores que respondeu não votar “de jeito nenhum” em Fernando Haddad. A rejeição do petista foi de 29% para 32%. Os dois líderes são mais rejeitados que Marina Silva (28%), Geraldo Alckmin (24%) e Ciro Gomes (21%).

Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro piorou sua performance, e aparece perdendo fora da margem de erro para todos os adversários. Numa eventual disputa com Haddad, o petista vence por 45% a 39% (ambos estavam empatados em 41% no levantamento anterior). Contra Ciro Gomes, a diferença aumentou quatro pontos, e agora o pedetista venceria Bolsonaro por 48% a 38% num segundo turno. Contra Geraldo Alckmin, o empate técnico da pesquisa anterior se transformou em vitória do tucano, por 45% a 38%. 

O cientista político e professor da USP Rubens Figueiredo diz que é preciso ter cautela ao analisar os cenários do segundo turno. — Nessa fase, os dois candidatos terão o mesmo tempo de TV, é possível que a taxa de rejeição de Haddad venha a crescer com os ataques. Isso pode equilibrar o jogo da rejeição. Essa é uma eleição do ele não. A pessoa vota para tirar o candidato inaceitável. O vencedor deve ser aquele que tiver a menor rejeição.

‘Não aceito resultado diferente da minha eleição’

Em entrevista, Bolsonaro põe em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas; acusação já foi rebatida pelo TSE

Jussara Soares | O Globo

O candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, voltou ontem a colocar sob suspeição o resultado das eleições. Em entrevista ao programa “Brasil Urgente”, da Band, disse que não aceitará resultado que não seja favorável a ele. —Não posso falar pelos comandantes (militares). Pelo que vejo nas ruas, não aceito resultado diferente da minha eleição — disse Bolsonaro, negando que sua postura seja antidemocrática. — É um sistema eleitoral que não existe em lugar nenhum do mundo — complementou o parlamentar, voltando a levantar suspeitas sobre o atual sistema que não exige o voto impresso.

Bolsonaro é autor de uma lei aprovada pelo Congresso restituindo o voto impresso, mas que foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, já havia respondido críticas anteriores de Bolsonaro às urnas eletrônicas. A ministra afirmou que as falas do presidenciável eram “desconectadas da realidade” e que as urnas “são absolutamente confiáveis”.

A confiabilidade das urnas eletrônicas também havia sido ratificada pelo ministro Dias Toffoli, que assumiu neste mês a presidência do STF. “Digo que ele (Bolsonaro) sempre foi eleito pela urna eletrônica. As urnas são totalmente confiáveis. São auditáveis para os partidos, Ministério Público e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)”, afirmou na época.

Fala de Bolsonaro sobre resultado das eleições é 'desapreço pela democracia', diz cientista político

Candidato do PSL disse não aceitar resultado diferente à sua vitória

Manoel Ventura | O Globo

BRASÍLIA — As declarações do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, que nesta sexta-feira colocou sob suspeição o resultado das eleições, geraram críticas de cientistas políticos. Em entrevista ao programa “Brasil Urgente”, da Band, o presidenciável afirmou que não aceitará resultado que não seja favorável a ele.

Claudio Couto, professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), classificou a fala do candidato do PSL como “desapreço pela democracia”.

— Isso significa o não reconhecimento do resultado que não lhe satisfaça. Significa que o desejo dele define o que é que resultado legítimo. É como dizer: “ou eu ganho ou viro a mesa. Todos os candidatos devem aceitar o resultado das urnas. Essa declaração poderia ser recebida até como ameaça. O assustador é isso ser falado do candidato que lidera as intenções de voto — disse Couto.

Bolsonaro negou, na entrevista, que a fala seja antidemocrática.

— Não posso falar pelos comandantes (militares). Pelo que vejo nas ruas, eu não aceito resultado diferente da minha eleição — disse Bolsonaro.

David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília, afirmou que falar em “ruas” é genérico.

— Essa declaração é de quem não aceita perder. O Brasil tem mais de cinco mil municípios e umas 300 cidades grandes. Ele não pode afirmar o que está acontecendo nas ruas. As ruas é muito genérico — afirmou o professor.

Para Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o candidato está levantando críticas às urnas eletrônicas. Bolsonaro é autor de uma lei aprovada pelo Congresso para permitir a impressão do voto. A lei foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

— A questão central é a da urna eletrônica. Ele já se pronunciou sobre isso lá atrás, e está firmando essa posição. Ao mesmo tempo que quer ganhar e acha que as ruas estão nessa linha, colocando em suspeição a urna eletrônica — disse Ismael.

Haddad vai a 22%; Bolsonaro perde de todos no 2º turno

Haddad sobe a 22%; Bolsonaro tem 28%, mas se enfraquece no 2º turno, diz Datafolha

Petista se consolida em segundo lugar na corrida eleitoral; Ciro e Alckmin empatam em terceiro

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A nove dias do primeiro turno da eleição presidencial, Fernando Haddad (PT) subiu seis pontos e consolidou-se em segundo lugar na corrida eleitoral, com 22%.

Ela segue sendo liderada por Jair Bolsonaro (PSL), que se manteve estável com 28%, mas perdeu fôlego nas simulações de segundo turno, sendo derrotado em todas elas. A dupla lidera também no quesito rejeição do eleitor, indicando a polarização na disputa.

Os dados estão na nova pesquisa do Datafolha. Nela, Ciro Gomes (PDT)e Geraldo Alckmin (PSDB) empatam tecnicamente no terceiro posto. Marina Silva (Rede) murchou para um distante quarto lugar.

O instituto ouviu 9.000 eleitores em 343 cidades de quarta (26) a esta sexta (28). A margem de erro é de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo. O levantamento foi contratado pela Folha e pela TV Globo. A pesquisa anterior havia sido feita nos dias 18 e 19.

'Não aceito resultado diferente da minha eleição', afirma Bolsonaro

Presidenciável ainda disse que pediu para seu vice ficar 'quieto' porque estava 'atrapalhando"

Guilherme Seto | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) declarou nesta sexta-feira (28) que não aceita um resultado das eleições que não seja a sua vitória. Ele disse isso em entrevista ao programa de televisão Brasil Urgente, da TV Band.

"Não posso falar pelos comandantes militares, respeito todos eles. Pelo que vejo nas ruas, não aceito resultado diferente da minha eleição", disse o candidato, que deu a entrevista em seu quarto no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde está internado desde o começo do mês após sofrer um ataque a faca durante ato de campanha em Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Segundo Bolsonaro, a única possibilidade de vitória do PT viria pela "fraude". O candidato tem afirmado, e repetiu nesta sexta, que as urnas eletrônicas brasileiras estão sujeitas a fraudes que podem prejudicar a sua campanha, que atualmente lidera as pesquisas de intenção de voto. Ele também disse que tem desconfiança de "profissionais dentro do Tribunal Superior Eleitoral". Ele pede para que os votos sejam impressos.

"Em 2015, eu aprovei o voto impresso, mas o Supremo derrubou. Não temos como auditar o resultado disso. A suspeição estará no ar. Se você ver como eu sou tratado na rua e como os outros são tratados, você não vai acreditar. A diferença é enorme", completou.

Bolsonaro é resiliente em classe que avançou com lulismo

Por outro lado, Haddad passa a dividir com o candidato do PSL o protagonismo do cenário eleitoral

Mauro Paulino e Alessandro Janoni | Folha de S. Paulo

Fernando Haddad (PT) converte em intenção de voto parte do potencial de sua candidatura como substituto do ex-presidente Lula e passa a dividir com Jair Bolsonaro (PSL) o protagonismo do cenário eleitoral.

O petista vai ocupando o espaço que lhe era reservado no imaginário do eleitorado vendendo-se como representante das políticas de inclusão que marcaram a gestão de seu principal cabo eleitoral.

Em aproximadamente duas semanas, a taxa dos que dizem conhecer o candidato cresceu 16 pontos percentuais e o apoio ao seu nome subiu, de maneira contínua, 13 pontos.

Nos últimos dez dias, seu desempenho intensificou-se em nichos tradicionais do lulismo, como os menos escolarizados, os de menor renda e moradores do Nordeste.

Apresenta crescimento significativo também entre os mais jovens, que têm até 24 anos. No geral, desidratou a outra candidatura de esquerda, a de Ciro Gomes (PDT), que também se mostrava competitiva nesses estratos.

É um grande feito, mas a proeza ainda não explora, em sua totalidade, a força da figura de Lula nesses segmentos.

O ex-prefeito de São Paulo fica abaixo do potencial gerado por seu padrinho não só entre os simpatizantes do PT (17 pontos de diferença entre os que querem votar no ungido pelo ex-presidente e o percentual dos que efetivamente o fazem).

Em busca do centro, Ciro diz que jamais vai ‘andar’ com o PT

Ciro vê PT como estrutura ‘odienta’ e descarta aliança

Em terceiro lugar nas pesquisas, candidato do PDT tenta se distanciar de petistas na reta final da campanha, numa tentativa de conquistar os votos do centro

Renan Truffi, Gilberto Amendola e Mateus Fagundes | O Estado de S.Paulo

Na reta final do primeiro turno, o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, fez nesta sexta-feira, 28, o gesto mais explícito na tentativa de se distanciar do PT e conquistar votos de eleitores do centro. Em entrevista a uma rádio e durante agenda de campanha, ele chamou o PT de “organização odienta de poder” e disse que não vai se aliar ao partido num eventual segundo turno ou aceitar qualquer convite para assumir um futuro ministério no caso de vitória do candidato petista, Fernando Haddad.

“O PT contou comigo ao longo dos últimos 16 anos. Na medida em que eles se juntam com o Renan Calheiros (MDB-AL), que presidiu o Senado no impeachment que eles chamam de golpe, que estão juntos no Ceará com o (presidente do Senado) Eunício Oliveira (MDB), não é mais possível, para mim, andar com eles na política”, afirmou o pedetista, em entrevista à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul.

A fala de Ciro vem depois de sinalizações de Haddad por uma composição no segundo turno. O pedetista reiterou na entrevista que tem respeito pelo “amigo Haddad”, mas que “tem feito muito mal ao Brasil de um tempo para cá”. “A Manuela d’Ávila (vice de Haddad) foi alvo de chantagem vergonhosa da burocracia do PT. Ela foi brutalmente retirada da disputa política para ser a vice. E ela estava cumprindo um papel muito bonito na pré-campanha”, afirmou Ciro.

A estratégia do pedetista parte da convicção de que Haddad já é um nome certo no segundo turno – e que o adversário que ainda pode sofrer algum revés na última semana de campanha é Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas de intenção de voto.

2.º turno sem Alckmin já divide alas do PSDB

Grupo conservador, que defende apoio a Bolsonaro, diverge dos fundadores da sigla

Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

Diante da dificuldade do ex-governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB nas eleições 2018, de avançar nas pesquisas de intenção de voto, setores do partido já atuam para se aproximar de Jair Bolsonaro e defendem o apoio ao candidato do PSL no segundo turno. Deputados e líderes do PSDB ouvidos pelo Estado temem que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros quadros da legenda atuem para apoiar Fernando Haddad (PT) caso Alckmin não chegue à próxima fase da disputa presidencial.

Reservadamente, tucanos dizem que o PSDB deve enfrentar o pior racha de sua história e pode “implodir” se houver uma guerra entre a ala mais conservadora e liberal e os fundadores do partido. “Vou ser leal ao Geraldo até o último dia, mas, se ele não for para o segundo turno, sou anti-PT e vou encaminhar na bancada o apoio ao Bolsonaro”, disse ao Estado o deputado Nilson Leitão (MT), líder do PSDB na Câmara. “O PT nós já conhecemos e não podemos experimentar de novo”, concluiu o tucano.

Uma das possibilidades ventiladas pela cúpula do partido é liberar os filiados no segundo turno se Alckmin não reagir nas pesquisas de intenção de voto.

Em um movimento que desafiou a direção do PSDB, um grupo de militantes do partido criou um grupo no Facebook chamado “Sou tucano e voto Bolsonaro”, que já conta com 6.986 integrantes.

“O Geraldo fez gestos à esquerda e se aproximou do MST e do MTST. Ele não é um candidato viável. Nunca foi. Por isso, meu voto é para o Bolsonaro”, disse Caíque Mafra, criador e administrador do grupo na rede social. Filado ao PSDB, ele lidera uma corrente interna chamada “Liberdade Tucana”, que se apresenta como liberal e de direita. Mafra chegou a disputar a direção da juventude do PSDB no ano passado por outro grupo interno, o Conexão 45.

O movimento pró-Bolsonaro no PSDB gerou reações. “O PSDB cometeu um erro lá atrás, que foi permitir a filiação pela internet e sem critérios mínimos. Entraram pessoas sem nenhum compromisso com a social-democracia e que se infiltraram no partido”, afirmou o sociólogo Fernando Guimarães, que é integrante do diretório nacional do PSDB e coordenador da corrente tucana Esquerda Para Valer (EPV).

O grupo, que é ligado ao senador José Serra (SP) e ao ex-senador José Aníbal, vai pedir a expulsão de Mafra do partido. “Se algum tucano se posicionar pró-Bolsonaro, não tem outro caminho a não ser a expulsão”, disse Guimarães.

‘É um equívoco se aproximar de Bolsonaro’, diz ex-ministro de FHC

Entrevista com José Gregori, jurista

Jurista José Gregori chefiou pasta da Justiça e a Secretaria Nacional de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso

Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

Ministro da Justiça e titular da Secretaria Nacional de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso, o jurista José Gregori, um dos fundadores do PSDB, disse ao Estado que considera um equívoco a aproximação de alas do partido com Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL.

• Uma ala do PSDB defende o apoio a Bolsonaro caso Alckmin não vá ao 2.º turno. Como avalia?

Isso é um equívoco. Minha posição é diametralmente oposta. O grande sucesso do PSDB e sua justificativa histórica foi sua trajetória de trabalhar pela desradicalização do Brasil. Fernando Henrique sempre foi um moderador, um homem do diálogo. Enquanto não se fecham as urnas, é precipitação. O resultado da eleição está aberto. O PSDB deve mostrar a vantagem da via que oferece ao povo, que é o Geraldo Alckmin.

• O PSDB e Bolsonaro estão em campos opostos?

Houve um avanço nos direitos humanos no País. Isso foi feito por gente que pensa, age, acredita e sonha de maneira diferente do Bolsonaro. A mensagem que justifica o aparecimento do PSDB é ter conseguido a manutenção de uma democracia que não se ajusta à concepção de democracia que Bolsonaro tem.

• Em um eventual 2.º turno sem Alckmin, o que falaria mais alto no partido: o antipetismo ou a rejeição a Bolsonaro?

Não devemos antecipar etapas. Essa é uma eleição de movimentos. O que me preocupa na polarização é que são dois movimentos que se hostilizam de uma forma que atravanca o desenvolvimento.

• Existem mais pontos em comum entre tucanos e petistas do que entre tucanos e o candidato do PSL à Presidência?

Desde o momento que se soube da existência do Bolsonaro, ficou claro que ele é contra a nossa visão de democracia.

Ao TSE, Bolsonaro omitiu bens de R$ 2,6 milhões

Imóveis estão em declaração de patrimônio anexada pela ex-mulher de candidato em ação de partilha. Ana Cristina Valle afirma que fez acusações movidas por mágoa, e presidenciável diz que ‘cotoveladas’ são comuns em separação

Hudson Corrêa | O Globo

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) omitiu das declarações de bens entregues à Justiça Eleitoral, nas disputas de 2006 e 2010, ao menos duas casas avaliadas em R$ 2,6 milhões. Em ambas as campanhas, ele concorria à Câmara dos Deputados. Os imóveis constam da lista de bens apresentada pela ex-mulher de Bolsonaro Ana Cristina Siqueira Valle em processo de partilha, movido após a separação do casal em 2007.

O processo foi publicado pela revista “Veja” na edição de ontem. A ação judicial trata de detalhes da separação entre o deputado federal e Ana Cristina. E revela que Bolsonaro e a ex-mulher detinham, em 2009, um patrimônio que somava R$ 4 milhões. 

Na listagem apresentada à Justiça estão os dois imóveis registrados em cartório no Rio de Janeiro. Procurados, Bolsonaro e Ana Cristina não responderam ao GLOBO. Para a “Veja”, a ex-mulher do presidenciável sustentou que foi movida pelo sentimento de mágoa ao fazer acusações contra o ex-marido no processo judicial, onde também afirmou que Bolsonaro teria furtado um cofre de sua propriedade e que tinha comportamento agressivo. Ela disse que, “brava”, fala “besteira”. Informou também que chegou a um acordo com o ex-marido para dar fim ao litígio. 

Em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da Band, Bolsonaro afirmou que a própria Ana Cristina desmentiu as acusações. Na entrevista, o candidato afirmou que, em processos de separação, “é comum ter problemas” e “as cotoveladas acontecem de ambas as partes”.

LISTA DE BENS
Na lista de 17 itens que aparecem na declaração de bens anexada ao processo judicial, o de maior valor é uma casa avaliada em R$ 1,66 milhão, localizada na rua Maurice Assuf, na Barra da Tijuca. Bolsonaro comprou a casa em 22 de novembro de 2002. O imóvel foi vendido em 2009, porém não aparece na declaração de patrimônio entregue à Justiça Eleitoral em 2006, três anos antes. O levantamento do GLOBO mostra que a casa foi adquirida por R$ 500 mil. O preço da compra, registrado em cartório, difere do valor de mercado, utilizado para o cálculo para a cobrança do Imposto sobre Transmissões de Bens Imóveis (ITBI), que apontava na época que o imóvel era avaliado em R$ 1,66 milhão. Na campanha de 2006, Bolsonaro listou apenas uma sala comercial, três veículos, duas aplicações no banco e um lote, que somavam R$ 433,9 mil.

Fabiana Cozza: Malandro sou eu

Carlos Drummond de Andrade: Ao amor antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.