terça-feira, 12 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Pedro Malan

As pessoas que têm memória e honestidade intelectual também sabem que as transferências diretas de renda à população mais pobre não começaram com Lula - que se manifestou contra elas em discurso feito já como presidente em abril de 2003. O governo Lula abandonou sua ideia original de distribuir cupons de alimentação e adotou, consolidou e ampliou - mérito seu - os projetos já existentes. O que Lula reconheceu no parágrafo de abertura (caput) da medida provisória que editou em setembro de 2003, consolidando os programas herdados do governo anterior.

(Pedro Malan, no artigo ‘Diálogo de surdos?’ em O Estado de S. Paulo, 10/10/2010)

Tática arriscada:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O que mais chamou a atenção no primeiro debate do segundo turno foi a mudança de atitude da candidata Dilma Rousseff, que atuou como se estivesse atrás nas pesquisas eleitorais, como se estivesse perdendo a eleição. Foi de uma agressividade nunca vista antes nesta campanha, gastou toda a munição que tinha logo no primeiro debate, fez todas as acusações possíveis contra o PSDB.

Levou para o debate todas as denúncias que apareceram nos últimos anos: privatizações, comparações com o governo de Fernando Henrique Cardoso, acusou a campanha de Serra de estar se utilizando de métodos da baixa política para espalhar boatos a seu respeito através da internet.

Uma tática arriscada que pode não dar bom resultado junto à média do eleitorado, embora tenha passado uma imagem de decisão para sua militância interna e para o seu eleitorado, e pelas análises petistas essa nova atitude vai animar a campanha, levantando o ânimo de quem estava abalado — inclusive a própria Dilma — pela frustração de não ter conseguido faturar a eleição já no primeiro turno.

Foi claramente uma estratégia de marketing orquestrada por João Santana, com a intenção de cortar todos os boatos que estão atrapalhando sua campanha, culpar o adversário pelo que considera calúnias que estão sendo espalhadas pela rede de computadores, e sair como se estivesse defendendo a sua honra, como vítima de uma armação política do “baixo mundo”, como classificou.

Para o candidato José Serra havia uma dificuldade adicional: ele não poderia ser agressivo, nem mesmo em resposta a uma acusação, pois enfrentava uma mulher.

O grande problema de Dilma Rousseff em relação à questão do aborto é que ela realmente se declarou a favor da descriminação em entrevistas, inclusive gravadas, cujos filmes estão no YouTube.

Ontem mesmo o arcebispo de João Pessoa, Dom Aldo Pagotto, colocou no ar uma declaração de 15 minutos em que pede que os católicos não votem na candidata do PT.

O arcebispo acusa até mesmo o presidente Lula de ter tentado enganar os bispos reunidos na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), enviando uma carta de próprio punho na qual se comprometia a não apoiar qualquer medida a favor da descriminação do aborto e, meses depois, enviar ao Congresso um projeto nesse sentido.

Mesmo que pessoalmente a candidata Dilma Rousseff se declare agora contra o aborto e a favor da vida, restaria, além da sua própria incoerência, a posição oficial do PT, que até mesmo puniu em 2008 os deputados petistas Luiz Bassuma e Henrique Afonso, acusados de terem ferido a ética do partido, após se oporem à aprovação de um projeto de lei que legalizaria o aborto.

O episódio é lembrado pelo arcebispo na sua declaração no YouTube como demonstração de que o partido tem na descriminação do aborto um projeto prioritário.

Aliás, esse mal-estar já havia surgido na mais recente visita do Papa Bento XVI ao Brasil, quando o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, teve a infelicidade de defender um plebiscito sobre a descriminação do aborto justamente na véspera de sua chegada ao país.

Já na ocasião a oposição tomou para si a bandeira contrária e obrigou o presidente Lula a se manifestar formalmente sobre o tema.

Dizendo-se contra o aborto como cidadão e católico, mas como político admitindo discutir “uma questão de saúde pública”, Lula tentava não ter que assumir posição num debate polêmico.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, do mesmo PMDB que Temporão, defendera o aborto dentro de uma discussão mais ampla sobre violência urbana.

Na ocasião, a direção nacional do PMDB desautorizou a posição de dois de seus mais eminentes filiados.

Mas mesmo que o assunto mais palpitante da noite tenha sido o bate-boca em torno de temas como o aborto, o debate da Bandeirantes proporcionou bons momentos para que os dois candidatos abordassem temas que mais diretamente dizem respeito ao cotidiano dos eleitores: infraestrutura, educação, saúde.

O aborto não pode se transformar na grande questão nacional, porque ele não tem essa prioridade toda, embora seja um tema que envolve paixões e crenças em todos os países em que é discutido, especialmente em sociedades como a brasileira, que é muito religiosa e conservadora.

Além do mais, a pesquisa do Datafolha mostrou que o debate sobre o aborto não teve tanta importância na perda de pontos da candidata oficial na reta final da eleição, corroborando as análises do cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, registradas aqui no fim de semana.

O que pesou mais na mudança de votos dos que saíram da Dilma e foram para Serra ou Marina, ou mesmo continuam indecisos, foram as denúncias de corrupção na gestão da ex-ministra Erenice Guerra no Gabinete Civil.

E o que pode atingir Dilma é o fato de querer dissimular sua verdadeira posição.

Na verdade, o que está afetando o eleitor é a discussão de valores morais e éticos, uma questão básica na campanha política. No mensalão em 2005 aconteceu assim, no episódio dos “aloprados” de 2006 a mesma coisa, e nesta eleição a tendência tem sido a mesma.

Toda vez que esses valores são desrespeitados pelo governo, o eleitorado reage e rejeita.

*********
Na coluna de domingo afirmei, equivocadamente, que o Partido Verde só elegera Alfredo Sirkis deputado federal no Rio, quando na verdade outro candidato, o dr. Aloisio, ex-candidato a prefeito de Macaé, foi o mais votado do partido com 95 mil votos.

Nacionalmente, o PV elegera 13 deputados federais em 2006 e agora elegeu 15. No Rio, havia elegido um estadual e um federal em 2006, e passaram a ser dois de cada este ano.

Nacionalmente, os 34 deputados estaduais em 2006 passaram para 37. Houve, segundo Sirkis, “um modesto progresso”.

Segundo ele, o PV acompanhou precariamente a performance de Marina, da mesma forma que o PT acompanhou apenas precariamente a de Lula em 1989.

Manobra radical :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na definição de um petista "coordenador", Dilma Rousseff não tinha outro jeito: ou partia para o ataque mostrando capacidade de reação ou ficaria a campanha toda na defensiva, arriscando-se a desmobilizar a tropa de aliados políticos, a desmotivar a militância partidária, a inverter a impressão do favoritismo e a perder eleitores entre aqueles que não querem "perder" o voto.

Nesse aspecto, fez o que tinha de ser feito no debate da Band e fez algo ainda mais proveitoso: produziu boas cenas para o horário eleitoral. Editadas conforme a conveniência do freguês - sem o contraditório do adversário -, "disseram" ao eleitorado que a candidata está indignada com as calúnias que se inventam a seu respeito. De quebra, mistura todos os dizeres no mesmo caldeirão de forma a transformar também as denúncias de violação de sigilo fiscal e corrupção na Casa Civil em "infâmias".

Se o PSDB não souber separar as coisas, verá daqui a pouco Lula e Dilma posando de fracos e oprimidos e José Serra carimbado como o algoz retrógrado, forte e opressor.

Portanto, estritamente sob o ponto de vista da campanha eleitoral, é como disse o petista citado acima: não tinha jeito, era tudo ou nada. O efeito será medido de agora e diante na percepção do eleitorado, com bastante ajuda do horário eleitoral para a maioria que não viu o debate de domingo à noite.

O PT, que achava a campanha ótima no primeiro turno, mudou tudo.

Os tucanos, que ao passarem para a segunda etapa anunciaram mudanças, no que diz respeito ao debate, ficaram na mesma: olímpicos, ignoraram o desempenho do candidato, que teve seus bons momentos de revide: nas respostas sobre privatização - ao falar da alforria telefônica no Brasil e ao aludir à "privatização" do patrimônio público via aparelhamento, vide a família de Erenice - e na comparação de apoios: Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco x Fernando Collor e José Sarney.

Dilma aparentemente saiu das cordas em que caiu desde o abatimento decorrente do resultado do primeiro turno. Só que foi obrigada a se despir do modelo amável, sorridente e terno que vestiu na campanha e ficou mais próxima do natural.

O resultado precisa ser analisado sob dois pontos de vista diferentes. Visto do estúdio o desempenho pecava só na confusão do conteúdo: pouco familiarizada com a objetividade, Dilma não conclui raciocínios e nem sempre informa a quem ouve sobre o que está falando.

Visto depois pela tela da televisão, pecava principalmente pela deselegância dos gestos e pela figura hostil. Ficou exposta a construção da Dilma amável, que de agora em diante não tem mais como não conviver com a Dilma verdade, reforçando o discurso das "duas caras" feito pelo adversário.

O carimbo das "mil caras" que tentou imputar a Serra ficou frágil por falta de exemplos concretos e inteligíveis para sustentar o tipo.

Se as pesquisas qualitativas do PT indicarem que o eleitorado gostou do modelo, Dilma tenderá a mantê-lo no dia a dia e nos próximos debates. Arrisca-se, porém, a se tornar agressiva em excesso (note-se o que aconteceu com Lula) e a liberar o adversário para revides mais duros, o que é sempre perigoso face ao passivo acumulado pelo governo Lula.

Baliza. A dosagem da participação do presidente Lula na campanha de Dilma ainda não é questão fechada no PT: há os que acham que deve ser comedida e os que alegam que se Lula não entrar "de sola" a candidata não segura a possibilidade da vitória.

A decisão será tomada de acordo com a indicação dos primeiros 15 dias de campanha. A ideia de deixar Dilma mais "solta", sem muitos artifícios, tampouco é consensual.

Melhorou. O formato do debate da Band agora funcionou muito melhor que qualquer outro do primeiro turno. Os próximos terão de seguir o modelo, mas se os candidatos voltarem à defensiva fica aborrecido de novo.

Apareceu a oposição :: Marco Antonio Villa

DEU EM O GLOBO

A campanha presidencial finalmente começou. Acabou a pasmaceira do primeiro turno. Agora é um combate franco entre duas propostas para o futuro do Brasil. O formato do debate do último domingo facilitou o confronto entre os candidatos. Algumas vezes, porém, pode até ter prejudicado a ampliação do leque dos temas a serem discutidos. Em alguns momentos, o programa ficou monotemático, ora a discussão era sobre a privatização, ora sobre o aborto. Os organizadores poderiam ter sugerido em cada bloco uma questão inicial para ser debatida entre os candidatos, deixando o restante do tempo livre para as perguntas entre eles. Dessa forma, os temas não contemplados acabariam sendo abordados e seria ampliado o leque de propostas discutidas.

Mesmo assim foi o melhor debate da eleição. Os ataques de parte a parte são absolutamente naturais. Eleição precisa ter situação e oposição. É uma obviedade, porém, no Brasil, dado o domínio exercido pelo PT e especialmente pelo presidente Lula, criticar o governo foi considerado algo temerário, perigoso. Temerário devido à popularidade de Lula, que foi superestimada pelos institutos de pesquisa. Se é exequível supor que o presidente é popular, é inimaginável que somente 4% da população achem ruim ou sofrível o governo.

Perigoso pois a crítica foi considerada um comportamento inadequado e que desagradaria ao eleitor. Ledo engano, como vimos após a abertura das urnas.

Com a finalização da disputa para os governos estaduais, nos maiores colégios eleitorais, a eleição presidencial acabou ficando solteira, independentemente das divergências regionais.

E isto é bom, pois valoriza os programas dos presidenciáveis e permitirá uma escolha mais ponderada por parte dos eleitores. Presidente não será somente mais uma escolha na cédula eletrônica: é a única na maioria dos estados.

Dessa forma o pleito acabou adquirindo autonomia e permitindo um reposicionamento dos eleitores. Isto pode favorecer o candidato José Serra, pois diminui o rolo compressor imposto pelo governo federal nos estados mais dependentes da União. Além disso, dificilmente o PMDB de Minas Gerais, Bahia ou Rio Grande do Sul vai fazer uma campanha entusiástica em defesa de Dilma Rousseff. As marcas e as mágoas da derrota são recentes e a neutralidade pode ser uma resposta.

Afinal, no cotidiano da pequena política, o que conta mesmo são as divergências regionais.

Foi necessário um recado explícito dos eleitores — afinal, a maioria dos votos, na eleição presidencial, foi para a oposição — para que ficasse claro que há um considerável espaço para o crescimento de uma candidatura oposicionista. Uma coisa é a avaliação do presidente, outra é a candidatura Dilma. Não há uma relação de absoluta transferência de votos de Lula para a sua candidata.

E seria um caso raríssimo na política mundial: um presidente, mesmo que bem avaliado, eleger uma quase desconhecida no cenário nacional, com a maioria absoluta dos votos, em um só turno.

O discurso lulista foi tão eficaz que pareceu uma surpresa o resultado da eleição do último dia 3. Tudo dava a entender que haveria somente um ato formal, meramente homologatório, do que já se sabia: Dilma seria a presidente do Brasil com uma votação consagradora. Muitos analistas — basta reler os jornais da última semana anterior à eleição — não só apontavam a fácil vitória de Dilma como já discutiam a composição do Ministério.

Agora estamos em um novo momento.

A eleição está indefinida. Somente o receio da derrota pode explicar a virulência de Dilma, no último debate, e a guerra estabelecida na internet. A empáfia foi substituída pela ameaça. E nos próximos 19 dias a campanha vai aumentar a temperatura como nunca na história deste país.

Tudo indica que Lula — que abandonou as funções presidenciais no último mês — percorrerá os principais colégios eleitorais do país, até às vésperas da eleição, intimidando, amedrontando a oposição e desenhando um cenário catastrófico para o país, caso Serra vença. Em cada discurso vai preparar as “deixas” para Dilma. Ele fará o trabalho considerado sujo e ela será encarregada de dar os arremates. Tudo o que não deveria fazer um chefe de Estado. Mas faz muito tempo que ele abandonou suas funções constitucionais para ser simplesmente o maior dirigente da campanha de Dilma.

Uma pergunta que fica é se o encanto do povo brasileiro com Lula está dando os primeiros sinais de esgotamento.

Sem ir para outros terrenos, na política o encantamento também tem prazo de validade.

Marco Antonio Villa é historiador.

PT, ame-o ou deixe-o :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O debate da Band foi um grande momento. Mentores, marqueteiros e palpiteiros detestam debates com debate, como o de domingo, mas o eleitor agradece.

A boa-moça Dilma Rousseff da propaganda evaporou. Como "bater em mulher" seria um desastre, José Serra tentou escapulir da armadilha aproveitando as respostas e suas próprias cotoveladas como escada para martelar propostas.

A experiência e as pesquisas mostram que ataques costumam ter efeito bumerangue, caindo de volta na testa de quem ataca. Assim, se Dilma resolveu mudar de tática, apesar do risco, é porque deve ter pesquisas mostrando que não dá para ganhar mantendo a mesma toada, é preciso ir além. Se nunca fala do PT, seu tom foi de convocação dos petistas para a guerra.

Ela se disse "caluniada", insistiu nas críticas à era FHC e desenterrou o mantra de 2006 de que os tucanos privatizam tudo. Serra reagiu acusando o aparelhamento das estatais e dizendo que vai "reestatizar" a Petrobras, o Banco do Brasil, os Correios, resgatando-os do PT. Para Serra, Dilma tem "duas caras". Para Dilma, ele tem "mil caras".

Lula entrou na história bem menos do que no primeiro turno, e Fernando Henrique, muito mais do que em 2002, 2006 e 2010. Dilma continuou batendo no governo tucano. A novidade foi que Serra topou o confronto e o defendeu.

Dilma corretamente jogou dois fantasmas no colo do rival: a frase infeliz de Mônica Serra, de que a petista era "a favor da morte de criancinhas", e um tal Paulo Vieira de Souza, que teria fugido da campanha tucana com R$ 4 milhões. Ambos ficam pairando na campanha.

E Serra comparou: Collor e Sarney estão com Dilma; Itamar e FHC, com ele. É o tipo de lembrança que fica na caraminhola do eleitor.

Conclusão: Dilma atiçou a militância petista, e Serra aguçou o antipetismo de boa parte do eleitorado. Logo, o PT está no olho do furacão. Tipo assim: ame-o ou deixe-o.

Política e moral: uma nota :: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Liberal na economia e conservadora nos costumes. Marina Silva ouviu essas duas críticas de boa parte da esquerda durante a campanha. Além delas, havia uma terceira ressalva: Marina teria certa dificuldade de lidar com as coisas concretas, de tocar o chão da realidade, como se pairasse acima dos problemas, "au-dessus de la mêlée", vendo do alto o jogo sujo da política. Sua posição seria, segundo essa crítica, ingênua ou hipócrita -nos dois casos "principista".

Mesmo pessoas simpáticas a Marina devem reconhecer que são objeções que fazem algum sentido.

Em entrevista ao jornal "Valor", o sociólogo Gabriel Cohn, um dos grandes intelectuais uspianos, disse o seguinte: "O espantoso é que o fenômeno Marina é fundamentalmente não político. Ela disse que governaria por princípios, não faria alianças". Marina não dizia bem isso, mas que buscava vocalizar um realinhamento histórico de corte progressista, no qual PSDB e PT pudessem atuar juntos.

Voltamos à discussão sobre moral e política. Numa perspectiva de esquerda, a "boa política" deve se colocar entre o principismo e o pragmatismo, rejeitando-os mutuamente. Presa só a princípios, a política se converte em dogma e cai no moralismo; indiferente a eles, se banaliza ou legitima o vale-tudo.

O PT, em sua história, migrou de um polo a outro. No seu início, não fazia alianças, não deu apoio a Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, recusou-se a assinar a Carta de 1988 etc. Hoje, no poder, o partido afaga mensaleiros e aloprados, passeia de mãos dadas com oligarcas etc.

O que é mais necessário no Brasil atual: atacar o principismo (inexistente) da esquerda ou criticar o vale-tudo ético a que a ela sucumbiu sem medo de ser feliz?Como disse o filósofo Ruy Fausto: "A ideia de um partido que, embora participando do processo eleitoral, fosse diferente dos outros, se perdeu". Para parte dos seus eleitores, Marina talvez fosse um pouco a musa viável desse elo perdido.

Temas errados:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O debate da Band foi quente, como os jornalistas gostam, não necessariamente o eleitor. Como isso vira intenção de voto é ciência que ninguém domina. Há a ideia de que agressividade, como a que Dilma exibiu, perde votos. Pode ser lenda urbana. Os temas dominantes não deveriam ser os que foram. Privatização, por ser matéria vencida.

Aborto é sério demais para leviandades.

Quem tratou bem o tema do aborto foi O GLOBO no domingo: 200 mulheres mortas por ano, 183 mil curetagens no SUS. É hipocrisia não reconhecer que é uma questão de saúde pública e que é preciso ter políticas públicas para evitar o pior: reduzir os abortos e os riscos para a mulher.

Tudo é trágico nesse assunto. O ideal é evitar a gravidez indesejada. Mas nada é simples.

Na saída do debate da TV Globo, no primeiro turno, Marina me disse por que não tocou no tema: — Eu tenho minhas convicções sobre o assunto e não quero impô-las. O que me espanta são as opiniões convenientes, mas esse é um Estado laico e o assunto só pode ser decidido pela sociedade. Não quero fazer guerra santa com isso.

As pessoas podem ser contra ou a favor, mas não se pode negar que a maneira arriscada de fazer aborto é o drama das mulheres pobres. Um ex-ministro da Saúde como José Serra não pode fechar os olhos: tem que ter uma solução e não uma visão moralista.

Quando Dilma falou em “descriminalizar” estava tendo a coragem de ser sincera.

Depois passou a encobrir o que pensa. Cedeu a uma visão conservadora que impede que as autoridades de saúde do Brasil encontrem soluções que reduzam os casos e protejam a mulher. Dilma passou a acusar Serra de, ao regulamentar a lei atual, ter feito algo errado. Deu uma volta de 180 graus no que pensa, por razões eleitorais.

No Brasil, mesmo em caso de feto com anencefalia uma mulher foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal a carregar no corpo a dor de gerar um filho sem chance alguma. Os ministros não pensaram na mulher, sua vida e sua dor.

Aborto é tema doloroso e complexo. Não serve para os palanques.

Dilma tentou de novo o truque de campanhas anteriores: demonizar a privatização.

Ela foi boa e modernizou o Brasil. Em 1992, só 19% das casas tinham telefone; hoje, o fixo ou o celular estão em 84% dos domicílios. Para usar uma imagem que está sendo explorada na campanha do PT: antes da privatização, telefone era coisa de rico; depois, passou a ser um serviço que os pobres têm acesso. O Brasil ficou mais eficiente quando as siderúrgicas deixaram de ser estatais. A Vale cresceu e passou a pagar mais impostos.

A lei que quebrou o monopólio do petróleo permitiu que a Petrobras tivesse parceiros internacionais, crescesse, aumentasse suas reservas. Nunca foi proposta a privatização da Petrobras. O que o governo Fernando Henrique fez foi vender ações para os trabalhadores através do FGTS e isso foi bom para a empresa, o país e os trabalhadores. A maneira confusa como foi feita a capitalização e o excesso de politização da Petrobras estão derrubando o valor da companhia. Ela já valeu US$ 310 bilhões e agora vale US$ 215 bi. Dilma quer usar politicamente um risco inexistente.

Faltou discutir programa, mas nenhum dos dois tem programa. Dilma apresentou ao TSE versões de um documento partidário em que cada texto corrigia ou negava o anterior. Serra entregou um texto que era um corte-cola de discursos feitos por ele. O país tem muitos problemas e os que o governaram nos últimos 16 anos têm experiência suficiente, sabem o que dá certo e o que dá errado; o que foi feito e o que falta fazer.

Ambos acertaram ao responder à pergunta de Ricardo Boechat: Serra apontou a educação como o assunto principal a ser enfrentado nos próximos anos; Dilma apontou a erradicação da pobreza e o aumento da inclusão social.

Os dois temas se encontram.

A estabilização da moeda feita pelos dois presidentes que apóiam José Serra — Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso — permitiu o começo da inclusão de pobres à classe média.

Os programas de transferência de renda do presidente Lula aumentaram a inclusão.

Mas sem uma educação de qualidade para os pobres o Brasil pode perder sua grande chance. O governo Fernando Henrique deu um salto extraordinário: universalizou o ensino fundamental. O passo seguinte era o ensino médio, não foi feito no governo Lula. O governo atual expandiu a universidade pública que atende apenas um quarto dos universitários, fez o Prouni, mas fez pouco pelo fundamental e médio. As metas do Ideb para 2021 são de que a escola pública chegará ao nível que a escola privada tinha em 2005. Meta medíocre.

A arrancada é urgente, os programas precisam ser sólidos e ambiciosos.

O debate teve alguns momentos de franqueza, o que é bom; mas houve momentos em que os candidatos, Dilma principalmente, usaram cifras, siglas ou palavras de significado pouco compreensível. Dilma se colocou como vítima de maledicência e ataques, mas essa sempre foi a tática de seus aliados contra adversários.

Ela quis levantar a militância. Ele quis passar serenidade. O tempo dirá quem acertou.

Quando o vento sopra ao contrario:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL (ONLINE)

Não é preciso ser assíduo à leitura das cartas de baralho ou freqüentador de tendas sobrenaturais para saber que nem sempre a tempestade precede a bonança, e que pode perfeitamente ocorrer o contrário. Também vale. Depende até dos ventos. Lula é apontado como o presidente de mais sorte dentre os que passaram pela República e também dos que levaram com eles a intenção de voltar, e a amargura de não terem conseguido.Há fatores que independem dos interessados e recomendam atenção quando o vento sopra ao contrário.

Previsível, por enquanto, apenas que um dos dois, Dilma Rousseff ou José Serra, presidirá a república nos quatro anos pela frente. Antes, porém, naquele curto período entre a eleição e a posse, o vencedor anestesiado pela expectativa se beliscará para confirmar se foi mesmo preferido pelos milhões de votos que reforçam a democracia entre idas e vindas ao Brasil.

Já em relação ao presidente (mais ou menos) de saída, uma luz crepuscular o mostra, aqui e ali, mais reflexivo do que explosivo, interessado em saber onde foi mesmo que errou.Certa indefinição diz mais sobre ele do que as pistas deixadas pelo caminho. No espaço entre uma situação e outra, estará mais sozinho do que nunca. Será a hora em que a solidão oferecerá seus préstimos e os erros operacionais se encarregarão do que tiver de ser quitado.

Conseqüências se apresentam voluntariamente. Principalmente quando deixam de ser pessoais e se tornam assunto de interesse público. Por tudo que fez de diferente do ritual republicano tradicional, o presidente Lula não conseguirá impedir o fluxo do que circulou em voz baixa e ficou reservado para, em alguma altura do futuro, ser reaproveitado (se bem que não chega a ser matéria prima histórica). Até na internet se notou algum cuidado em relação a versões que se tornarão mais aceitáveis pela mão do tempo.

Vitórias dispensam explicações e derrotas se abstêm de oferecer conselhos porque as situações não se repetem com exatidão. A História se recusa a facilitar reincidências.Com a eleição presidencial nos termos em que foi armada, dadas as condições exclusivas que a marcaram, não se pode esperar que aspectos favoráveis prevaleçam impunemente sobre as transgressões ao espírito republicano. As conseqüências se apresentarão quando for a hora. No segundo turno, o presidente da República – interrompendo um simulado cuidado para salvar as aparências _ voltou à campanha eleitoral e pediu pela televisão que os cidadãos elejam a candidata à qual vinculou ostensivamente sua volta ao poder. Lula não interpretou corretamente a ausência de reação pública a atos que mostram, por parte da sociedade, clara consciência da necessidade de preservar a normalidade política.

Da parte dele, o teor ostensivo tem sido de provocação. Desde 1988, felizmente, a maioria absoluta blindou a sucessão presidencial e acabou com os sofismas dos derrotados e as reinterpretações cabalísticas de resultados eleitorais.

O comportamento imprevisível por um lado, mas previsível pelo lado oposto, precipitou a sucessão presidencial e perturbou o presidente Lula, diante da hipótese de insucesso da candidatura Dilma Rousseff. A participação direta dele na campanha se expandiu por omissão da opinião pública e equivoco das vozes que não se fizeram ouvir em tempo. Eram e são previsíveis conseqüências da metamorfose pessoal nele, agravada pela vitória paga com as três primeiras derrotas: Lula aceitou o risco de ser interpretado ao contrário do que pretendeu. Mas, o presidente não está nem aí, nem por perto. Pode haver conseqüências que ainda não passam pelas cabeças.Dessa transição que se desenha por mãos anônimas, e não deixam impressão digital, uma é certa: quem se eleger não escapará da reforma política já na tocaia.

Dilma ou Serra terão de se haver com a reforma política porque nada de bom se pode esperar de políticos, desde que se perdeu a oportunidade oferecida pelo mensalão. Aquela foi a hora de enfrentar os costumes que roem a República no que ela tem de mais delicado, que são as relações entre eleitores e eleitos, cidadãos e representantes políticos, no espaço de responsabilidade compartilhado pelo Executivo e o Legislativo.A vida pública brasileira, no varejo cotidiano, se tornou um campo propício à intermediação de interesses múltiplos no comércio de compra e venda de votos.Um estado de espírito amorfo está no ar, além da sombra que espreita os candidatos e se adianta por conta própria.

Desafinado - Gal Costa

Dilma e Serra mantêm a mudança de tática

DEU EM O GLOBO

Por estratégia eleitoral, candidata petista ficará no ataque e tucano pretende não subir tom

Os presidenciáveis Dilma Rousseff e José Serra inverteram os papéis no debate de anteontem à noite e vão manter essa estratégia no segundo turno, segundo seus marqueteiros e líderes aliados. A petista se mostrou agressiva, como se estivesse atrás nas pesquisas, numa estratégia deliberada para enfrentar o debate do aborto e ouras questões religiosas. Já a campanha do tucano decidiu não subir o tom, apesar da pressão de setores da oposição. O deputado cassado José Dirceu e o deputado Ciro Gomes passaram a opinar mais nessa fase da campanha de Dilma.

Papéis invertidos

Dilma deve partir para o ataque até o fim, enquanto Serra planeja evitar subir o tom

Leila Suwwan e Flávio Freire

SÃO PAULO - O primeiro confronto direto do segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) estabeleceu a tônica das duas campanhas para as próximas semanas, na qual deve perdurar a inversão de papéis dos candidatos. De acordo com as respectivas coordenações de campanha, a petista deve manter a postura “assertiva”, enquanto Serra evitará acompanhar a escalada — a lição foi aprendida quando Geraldo Alckmin despencou nas urnas após atacar o presidente Lula no segundo turno das eleições de 2006.

Mesmo sob pressão do PT, o comando de comunicação da campanha tucana não pretende subir o tom daqui em diante, ao contrário da estratégia adotada até então, quando o foco estava nos escândalos envolvendo a Casa Civil. O publicitário Luiz Gonzalez admitiu que o partido tem preocupação de evitar danos eleitorais. Sobretudo, por conta do rescaldo político da última eleição.

— Na época, vieram me parabenizar, perguntavam até se eu tinha dado Viagra ao Alckmin.

E deu no que deu: dias depois do debate, ele já estava em queda — disse Gonzalez.

“Esse discurso agressivo é para dentro do PT”

A ideia, a partir de agora, é se igualar ao tom adotado por Dilma apenas quando as críticas colocarem Serra numa situação delicada como administrador público. Partir para o confronto apenas com relação a números, e evitar ao máximo cair em provocação da adversária.

— Esse discurso agressivo da Dilma é um discurso para dentro do próprio PT, não replica nos eleitores. E não vamos entrar nessa — afirma o marqueteiro tucano.

Há, porém, pressão da ala política para que Serra parta para o confronto. Líderes tucanos avaliam que o candidato não pode parecer intimidado pela petista. Os dirigentes só esperam uma avaliação do tracking interno para saber se realmente esse tipo de postura não afasta eleitores.

— Temos que mostrar nossa indignação com o descomando deste governo, com toda essa corrupção. O que não podemos é mostrar raiva, ódio, que é o que está acontecendo na campanha do PT — disse Sérgio Guerra, presidente do PSDB.

Já a cúpula da campanha de Dilma Rousseff calculou cuidadosamente a nova postura da candidata ontem, inclusive na montagem da artilharia utilizada no debate.

Apesar da avaliação inicial de que Dilma deveria adotar o “paz e amor”, a campanha decidiu que essa estratégia caberá a Lula, que não pode perder seu capital político. A presidenciável, por outro lado, estaria sofrendo perdas diretas com as críticas que colocam em dúvida sua autonomia, confiabilidade e capacidade. Se não respondesse, poderia estimular a pecha de “cumplicidade” e “fraqueza”.

Segundo a avaliação que o marqueteiro João Santana repassou à campanha do PT, não houve o efeito negativo temido do fator “agressividade”, ou “quem bate perde”.

As palavras de ordem no núcleo petista eram: “incisividade” e “assertividade”.

Os petistas já unificaram o discurso em torno desse tema.

Segundo José Eduardo Dutra, presidente do PT, é esperado mostrar indignação quando se está sob ataque. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, confirmou que esta será a tônica do segundo turno. Até coordenadores mais distantes, como Renato Rabelo (PCdoB), afirmaram: — Será agora uma campanha de embate frontal, onde ninguém poderá dizer que Dilma é uma marionete. Ela é ela mesma. Tem cabeça própria.

Dirceu e Ciro passaram a ser mais ouvidos na campanha

DEU EM O GLOBO

Estratégia de Dilma no debate de domingo foi orientada também por Lula

Adriana Vasconcellos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A postura apresentada pela candidata petista, Dilma Rousseff, no debate da TV Bandeirantes, na noite de domingo, foi uma orientação do presidente Lula. Com isso, a mudança de comportamento da petista, abandonando o figurino “Dilminha paz e amor” do primeiro turno, marca uma nova correlação de forças no comando da campanha com a realização inesperada do segundo turno.

Perde força o comando de marketing liderado com autonomia até agora pelo publicitário João Santana. Diferentemente do primeiro turno, o marketing será subordinado às decisões estratégicas.

Em 7 de outubro, Lula discutiu mudanças na campanha com Dilma e a orientou a fazer ajustes em sua imagem, sendo mais espontânea.

Dentro dessa determinação é que a candidata assumiu o figurino “Dilma como ela é”, nas palavras de um petista.

A nova ordem de Lula foi reforçada pela influência de novos membros da coordenação política, principalmente o deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB/CE).

Numa reunião com Dilma, Ciro foi direto ao afirmar que ela estava muito “engessada” e que neste momento ela deveria falar com mais naturalidade.

Outro que passou a ser mais ouvido nesta fase da campanha foi o deputado cassado José Dirceu.

Muito forte no partido, ele ganhou a tese de que era preciso que Dilma fosse para o ataque para reanimar a militância. Com isso, perdeu força o discurso moderado, defendido pelo deputado Antônio Palocci (PT-SP).

Ontem, numa reunião de coordenação de campanha, a avaliação era de que a participação de Dilma cumpriu três papéis: carimbou em Serra a responsabilidade pela “central de boatos”; resgatou a comparação com o governo FH ao retomar o debate sobre as privatizações; e deu um novo estímulo à militância.

Mesmo assim, segundo um coordenador, a postura mais agressiva pode ser suavizada.

Tudo dependerá das pesquisas quantitativas. Num primeiro momento, os grupos aprovaram o desempenho de Dilma.

Os tucanos viram no gesto de Dilma uma demonstração explícita de desespero de quem está querendo recuperar terreno na disputa. O deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) salientou que a nova postura de Dilma confirma o que as pesquisas diárias encomendadas pela oposição (o chamado tracking) já estariam mostrando: que ela já teria perdido a dianteira da disputa para Serra.

— O debate foi ótimo para a gente. A postura de Dilma foi agressiva, ansiosa e dispersiva.

Ela se colocou como alguém que foi para o tudo ou nada.

Para o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), a candidata petista dominou o debate ao impor os principais temas da noite: — O que Dilma fez foi desmascarar a baixaria, colocando nas cordas José Serra.

Zylbersztajn: acusação é 'má-fé cínica'

DEU EM O GLOBO

Ex-presidente da ANP, acusado por Dilma de defender privatização do pré-sal, critica é o regime de partilha

SÃO PAULO. A exemplo do escritor português Eça de Queirós, o ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP) David Zylbersztajn — primeiro a comandar a agência reguladora, no governo Fernando Henrique Cardoso — costuma qualificar de “obtusidade córnea ou má-fé cínica” as afirmações da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de que ele defenderia a privatização do pré-sal. A acusação ao executivo foi feita no debate de domingo, com base em declarações dele durante o fórum sobre energia realizado pela revista “Exame”, no dia 20 de setembro, em São Paulo. Zylbersztajn afirma que defende a manutenção do atual sistema de contratos de concessão no setor de petróleo, em vez da proposta de partilha, que está em discussão no Congresso.

O ex-presidente da ANP, hoje diretor da DZ Negócios com Energia, tem posição diferente da assumida pelo ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, que, em 2001, defendeu, em palestra também em São Paulo, a privatização da Petrobras. “O governo já deveria pensar na privatização da Petrobras, seguindo a mesma lógica adotada no sistema Telebrás, afirmou Mendonça de Barros, na época. Ontem, ele não foi localizado pelo GLOBO.

Pelo atual modelo, criado pelo governo tucano, o petróleo é propriedade da empresa concessionária, que determina como e de que maneira ele será explorado. Mas as empresas, além do bônus de assinatura pelo direito de explorar uma área, pagam ao governo 10% sobre o valor da produção (royalties) e mais a chamada participação especial (PE), no caso de grandes campos. A PE é uma taxa de 40% sobre a receita obtida com o petróleo, mas que pode subir para qualquer nível por determinação do presidente da República.

Arrecadação pode crescer com concessão, diz Zylbersztajn Pelo modelo de partilha proposto pelo governo e em análise no Congresso, o governo não apenas se mantém dono da maior parte das reservas como sua exploração será feita por uma nova estatal (a Pré-Sal Petróleo S.A.). À Petrobras será garantida uma participação mínima de 30% em cada área de produção, querendo a petroleira ou não. Os royalties sobem para 15%.

Para Zylbersztajn, a arrecadação do governo pode crescer sem que seja necessário mudar o regime de concessões. O modelo proposto, de partilha, diz ele, tira a agilidade e a eficiência da produção petrolífera, que passa a ser regulada e controlada pela nova estatal, entidade que será uma nova ANP. Além disso, pondera, o país terá que dobrar a fiscalização sobre a atividade por conta da forte corrupção associada ao setor quando o Estado passa a se ocupar das atividades de compra e venda de petróleo.

— O atual modelo de concessão já gerou dez rodadas de licitação, das quais seis realizadas pelo atual governo, e ninguém nunca disse que o atual governo está privatizando o setor de petróleo, porque concessão é diferente de privatização — afirmou Zylbersztajn ao GLOBO.

— No modelo atual, que garante a lisura, a transparência e a eficiência da exploração da riqueza petrolífera, o petróleo é da empresa concessionária, mas o risco também é. Se a empresa não acha petróleo, ela assume a perda do investimento. E dois terços da riqueza vão para o governo brasileiro sob a forma de arrecadação (royalties e impostos).

É um sistema testado e cujo funcionamento é tão bom que permitiu que a Petrobras fizesse a descoberta do pré-sal.

Tucano usará telefonia para defender privatizações

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DE SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, deverá insistir no exemplo das telecomunicações como modelo de privatização bem sucedido no governo FHC.

Na madrugada de ontem, após participar do debate da Band, Serra mostrou apreensão com a insistência da adversária Dilma Rousseff (PT) na abordagem do assunto.

E consultou aliados sobre a eficácia do argumento de que, sem a privatização, não haveria tanto acesso a linhas telefônicas e o país ainda se comunicaria via orelhão.

No que depender do comando da campanha de Serra, o candidato irá recorrer ao caso das teles e da siderurgia toda vez que a candidata petista falar em privatização.

Além de ser de fácil compreensão, tem apelo popular. Para os próximos debates, Serra pretende lembrar como o telefone celular facilitou a vida dos menos favorecidos. Outro argumento será o de que o PT também privatizou.

Os elogios de petistas ao legado de FHC continuarão entre as armas para o debate.A pedido do candidato, a campanha reuniu munição também sobre a Petrobras, até falta de autossuficiência para exploração do pré-sal.

Embora tenha em mãos dados como o preço do combustível no Brasil em comparação a outros países, o candidato pretende driblar a discussão sobre a Petrobras.

Na avaliação de tucanos, aprofundar a discussão seria cair na agenda do PT, o que só acontecerá se o assunto cair no gosto popular.

"O Serra sempre esteve na vanguarda. Não conseguem atingir o Serra assim", afirma o governador eleito por São Paulo, Geraldo Alckmin.

O governador Alberto Goldman endossa o discurso de que Serra não pode ser rotulado como privatista.

Jutahy Magalhães comparou a edição do debate no programa do PT à veiculação de jogos na Coreia do Norte. "A seleção perde. Mas só são exibidos seus pontos na TV".

Privatização da Vale e aparelhamento de fundos confrontam Dilma e Serra

DEU EM O GLOBO

Empresa cresceu, está em mais de 40 países e fatura quase R$ 50 bi

Chico Otavio

A privatização da Vale, ocorrida há mais de 13 anos, também opôs, na noite de domingo, José Serra e Dilma Rousseff no debate da Band. A candidata do PT, para associar o candidato à venda de empresas públicas, disse que Serra foi um dos tucanos que mais lutaram pela desnacionalização da Vale. Serra, em resposta, disse que a empresa de mineração continua em poder do setor público, representado pelos fundos de pensão das estatais, e que o PT “está tirando casquinha” da situação.

Hoje, a Vale é um conglomerado atuando em mais de 40 países. De 2002 a 2009, seu faturamento saltou de R$ 15,2 bilhões para quase R$ 49,8 bilhões — mas o número do ano passado ainda foi afetado pela crise, pois em 2008 ela teve receita de R$ 72,7 bilhões.

Vendida em maio de 1997, no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, a Vale é hoje controlada pela Valepar, holding que detém 53,5% das ações ordinárias da empresa (com direito a voto). Com 21,21% da Valepar, a Bradespar é a responsável pela indicação do presidente, Roger Agnelli, que ocupa o cargo desde 2001.

Os outros acionistas são a japonesa Mitsui (18,24%), a BNDESpar (11,51%) e a Litel Participações (49%), um fundo de investimentos que reúne as fundações Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Fundação Cesp.

Opositores acusam o governo, como fez Serra no debate, de aparelhamento político dos fundos de pensão. No escândalo do mensalão, por exemplo, um dos alvos das investigações foi Luiz Gushiken, então ministro da Secretaria de Comunicação, que seria sócio oculto de uma empresa de assessoria de fundos de pensão, a Globalprev.

No ano passado, em meio à crise econômica, os fundos de pensão voltaram ao centro da polêmica. Supostamente disposto a remover Agnelli do cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria pressionado os fundos a construir um cenário para a substituição do presidente, que fica até 2011.

Na ocasião, Lula ficou sabendo da demissão de dois mil trabalhadores da Vale pela imprensa. Se irritou ainda mais com a demissão de Demian Fiocca, ex-braço direito do ministro Guido Mantega, da diretoria da empresa. O Planalto também se incomodou com a presença de tucanos em cargos de comando.

Mas a soma da participação do BNDESpar com a Litel (62%) não é suficiente para garantir uma mudança. O Bradesco quer manter Agnelli.

PT foi que representou contra Serra por declarações sobre as Farcs

DEU EM O GLOBO

Juiz recebeu denúncia, e por isso Dilma acusou tucano de ser réu

Leila Suwwan e João Guedes*

SÃO PAULO e PORTO ALEGRE. O processo por calúnia e difamação contra o candidato do PSDB a presidente, José Serra, que a presidenciável Dilma Rousseff (PT) citou no debate da TV Bandeirantes, tramita no Rio Grande do Sul e é divulgado no site do PT. Segundo despacho de 4 de outubro, o juiz José Ricardo Coutinho Silva, da 111ª Zona Eleitoral de Porto Alegre, recebeu a denúncia da promotora Margarida Teixeira de Moraes, do Ministério Público Eleitoral, com base em representação do PT.

O motivo da denúncia foi uma entrevista do tucano ao jornal gaúcho “Zero Hora” e à Rádio Gaúcha, em 22 de julho.

Para a promotora, o tucano teria difamado o PT ao relacionar a sigla com as Farc, grupo guerrilheiro colombiano ligado ao narcotráfico. As declarações comentavam acusações feitas pelo candidato a vice-presidente na chapa, Indio da Costa (DEM).

A promotora também entendeu que houve calúnia contra Fernando Pimentel (PT), ex-prefeito de Belo Horizonte (MG) e candidato derrotado ao Senado.

Ele foi acusado de violação de sigilo funcional e formação de quadrilha quando Serra falava sobre a quebra de sigilo do dirigente tucano Eduardo Jorge.

“Eles tinham montado um grupo de dossiê sujo. Dossiê limpo não é obrigatoriamente algo criminoso.

Quando é feito com baixaria, você está comprando depoimento.

Isso é jogo sujo, e o PT estava montando isso e foi descoberto. Tudo coordenado por um personagem importante do PT, que é o Fernando Pimentel”, afirmou Serra.


* Especial para O GLOBO

Tucano condena petista por críticas feitas a sua mulher

DEU EM O GLOBO

"Campanha é para discutir propostas", afirma Serra

Isabel Braga

BRASÍLIA. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, reclamou ontem das críticas de sua adversária, Dilma Rousseff (PT), à família dele, no debate de anteontem. Serra afirmou que campanhas devem priorizar propostas e não ser usadas para ataques “à família de candidato”.

Ele se referia ao fato de Dilma ter citado declaração atribuída a sua mulher, Mônica, que teria acusado a petista de querer “matar criancinhas”: — (A atitude ofensiva) é uma estratégia dela. Para mim, foi até uma surpresa ela voltar a atacar a família. Campanha eleitoral é para discutir propostas, comparar os candidatos, para eles (candidatos) apresentarem o que fizeram ou que vão fazer. Não é atacar reiteradamente a família de candidato.

Após participar de evento de campanha no centro de Goiânia, Serra se irritou, ao ser perguntado sobre as referências feitas por Dilma, no debate, sobre a privatização do petróleo da camada do pré-sal e denúncias contra o assessor da campanha tucana Paulo Vieira da Souza. Segundo a Revista “Isto É”, Souza, mais conhecido como Paulo Preto, arrecadou R$ 4 milhões e não repassou a quantia à campanha.

— Nunca ouvi falar disso.

Eles (os petistas) põem factoides para que vocês (a imprensa) perguntem. Não é fácil entender, naquele programa, o que ela estava dizendo. Nunca aconteceu. Por que eu vou gastar horas de um debate nacional com coisas que não tenho ideia, que são bobagens? Sou o candidato, você acha que eu não saberia se tivesse havido isso? Saiu uma matéria vagabunda, não sei do que se trata.

Líder do PTB, que vota em Dilma, recepciona Serra Serra chamou de “factoide do PT” as insinuações de que tucanos querem privatizar o pré-sal, feitas por Dilma.

Antes do evento nas ruas de Goiânia, o tucano recebeu a visita, ainda no hangar do aeroporto, do líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), que apoia Dilma. Jovair disse que continuará votando em Dilma no segundo turno, e que só foi cumprimentar Serra: — Vim cumprimentar o Serra, somos adversários, mas ele é um homem de bem, sério.

Desejo boa sorte aos dois, e quem ganhar está bom para o Brasil. Somos soldados, mas até agora a campanha de Dilma não nos escalou. Se precisarem, irão sinalizar.

Durante cerca de uma hora, o tucano dançou e saudou cerca de mil militantes, cabos eleitorais e populares, incluindo o padre Genésio Ramos, que usava uma batina preta. O padre deu a Serra um terço — beijado pelo candidato — e foi convidado a desfilar com o tucano pelas ruas da cidade, em cima do caminhão de som. Apesar da presença do padre, durante todo o trajeto uma bandeira com as cores do movimento GLS estava bem perto do caminhão de som.

Um dos santinhos distribuídos, em formato de calendário de bolso, continha a frase: “Jesus é a verdade e a Justiça”, com a assinatura de Serra abaixo.

— Estou aqui pelos direitos humanos e pela defesa da vida e das liberdades democráticas.

Estamos com medo de o Brasil virar uma Cuba, uma Venezuela — disse padre Genésio.

O tucano Marconi Perillo, que disputa o segundo turno da eleição ao governo estadual com Iris Rezende (PMDB), estava ao lado de Serra no comício. O candidato a presidente defendeu a construção de um aeroporto melhor para a cidade, além de metrô. E voltou a falar em fé: — Estamos movidos por fé que vem de dentro da gente e vai nos ajudar a construir o Brasil. Nosso povo é de fé, não apenas religiosa, mas fé na mudança e em esperança para o Brasil.

Antes de Serra voltar ao aeroporto, uma estudante, com potes de tinta azul a amarelo, pinto o rosto do tucano, numa lembrança do movimento estudantil “Fora Collor”, em 1992. O candidato, pouco antes de embarcar de volta a São Paulo, disse que gostou do gesto e afirmou: — Eu gostei da cara pintada.

Sou até capaz de ir (assim) a um debate.

Análise: Especialistas opinam sobre o debate

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Com esse debate é difícil decidir:: Marcus Figueiredo

Foi uma luta jurássica em dois sentidos: ambos são fortíssimos candidatos no duelo, mas centraram o debate no passado. Dilma Rousseff criticou os governos do Fernando Henrique Cardoso e, José Serra, os de Luiz Inácio Lula da Silva. Falaram muito pouco sobre o futuro. Apenas disseram que irão dar continuidade e farão melhorias. Ninguém disse como será o governo pós-Lula nem como será o Brasil depois da brutal mudança social que o presidente atual fez com a expansão da classe média etc. Eles ficaram na comparação entre Lula e FHC. É um comportamento previsível adversários elogiaremos seus próprios passados. Os candidatos pouco discursaram sobre o projeto Brasil para o futuro. Nesse particular, a única coisa relevante foi a questão do pré-sal, que o fundo social dele está direcionado para o desenvolvimento da educação e da ciência e tecnologia. Não falaram nada sobre a inserção do Brasil no mundo desenvolvido. Não disseram nada sobre a posição futura do Brasil no desenvolvimento mundial, ou seja, faltou uma posição política do Brasil no cenário mundial. Com este debate é difícil decidir.

Faltou discutir sustentabilidade:: José Álvaro Moisés

Foi sem dúvida o primeiro debate em que houve confronto em questões importantes e ajudou a esclarecer as posições dos dois lados. O perfil das privatizações no governo FHC e o que Dilma acha do assunto. As posições em relação ao aborto, segurança pública e o papel da Petrobrás. Faltou esclarecer melhor os projetos em que estão situadas muitas das questões técnicas apresentadas. Faltou, por exemplo, debater como as forças políticas eleitas para o Congresso vão traba1har a partir de agora. Faltou, também, discutir um dos temas mais importantes da campanha no primeiro turno: sustentabilidade e meio ambiente, questão que rendeu à candidata Marina Silva, do PV, quase 20% dos votos. Os candidatos ignoraram o tema. Fazendo um balanço geral, acho que o candidato José Serra, do PSDB, se mostrou mais preparado do ponto de vista da experiência administrativa e também no que diz respeito ao tratamento das políticas públicas. A candidata Dilma Rousseff, do PT, ficou excessivan1ente na defensiva, numa estratégia de auto-defesa, decorrente do nervosismo.

Dará resultado? Só urnas dirão :: Carlos Melo

O debate de ontem negou a máxima de que o primeiro debate do 2º turno seja um momento em que ninguém quer se arriscar. Como a mãe que defende a cria, Dilma Rousseff partiu para o ataque a José Serra, colocando-o contra a parede sob o impacto da energia com que se postou diante das câmeras.A questão do aborto ocupou espaço significativo nos primeiros blocos. E à menção de "Erenice Guerra", a petista sacou o caso do assessor tucano que teria sumido com dinheiro de campanha do PSDB. Em inúmeras ocasiões, Serra se viu na defensiva, acusando Dilma de estar se vitimizando, como, aliás, ele próprio fez quando da violação da declaração de renda de sua filha. Não podendo ou não querendo revidar na mesma intensidade - debater com mulher, diz o senso comum eleitoral, é desconfortável-, a certa altura, se confessou surpreso com a "agressividade" da adversária. A escolha de Dilma, com efeito, surpreende e de algum modo faz recordar os embates entre Mário Covas e Paulo Maluf (1998), ou Geraldo Alckmin e Lula, em 2006. Dará resultado? Somente as urnas dirão.

Petista repete tática de Alckmin :: Marcelo de Moraes

Em 2006, pressionado pela desvantagem nas pesquisas, o tucano Geraldo Alckmin partiu para o ataque contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro debate entre os dois. Conhecido por sua serenidade, Alckmin assustou até seus eleitores e a tática acelerou a eleição de Lula.

Ontem, Dilma Rousseff repetiu essa estratégia, batendo pesado em José Serra desde a primeira pergunta. Até então, sua tranquilidade nos debates tinha sido uma surpresa positiva para quem apostava que sua inexperiência a faria derrapar.

A gigantesca diferença em relação a 2006 é que, ao contrário de Alckmin, Dilma apareceu na frente na primeira pesquisa feita no segundo turno. Não tinha qualquer motivo aparente para trocar de tática. Deixou no ar a impressão que a corrida eleitoral talvez esteja mais parelha do que as primeiras sondagens indicam.

Aécio viajará o País em nome de Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Puxadores de voto do partido, como o político mineiro e Beto Richa, encontrarão militância e farão articulações no lugar do presidenciável

Julia Duailibi

O comando do PSDB "terceirizou" parte da mobilização da campanha do candidato José Serra para puxadores de voto do partido. A partir dessa semana, o senador eleito por Minas, Aécio Neves, e os governadores eleitos Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR) viajarão pelo País em articulações políticas e contato com a militância em nome do presidenciável.

Embora haja tucanos que veem com desconfiança o mergulho de Aécio na campanha, ele articulou viagens pelo interior de seu Estado a fim de fazer campanha para Serra, nos moldes da que organizou em prol do afilhado político, o governador eleito de Minas, Antonio Anastasia. Na quinta-feira, dá início à mobilização com ato ao lado de Serra. E Alckmin traçou agenda de viagens que incluem Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Na primeira reunião do conselho político, do qual participaram tucanos e integrantes do DEM e do PPS, houve cobranças para que a campanha dê maior atenção ao Nordeste. Também houve o diagnóstico de que é preciso angariar setores rebeldes do PTB e do PP - o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, conversou domingo com o presidente pepista, Francisco Dornelles.

Apesar de a avaliação interna ser de que Serra não deverá ter muito mais do que 30% das intenções de voto na região, senadores do DEM disseram ser importante traçar um discurso social e econômico para o Nordeste. Tucanos e integrantes do DEM acham que as cidades nordestinas estão com a situação econômica bastante frágil e que usar o discurso de fortalecimento do Executivo municipal para os prefeitos poderia ajudar a conquistar votos nos grotões do País.

"Precisamos aumentar a votação no Nordeste. Tivemos uma situação no primeiro turno em que a presença de Lula inibiu a ação dos candidatos nos Estados", avalia o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira (SP). "É uma região onde o governo tem uma proeminência eleitoral maior", afirmou o senador Agripino Maia (DEM-RN).

Para Agripino, a campanha deve assumir "compromissos claros com os trunfos da economia de cada Estado". "Qual é o grande sonho de Pernambuco? A grande aspiração do Ceará? O que é que Serra pensa dessas aspirações? É uma estratégia fundamental o desenho dessas aspirações que significa a manutenção ou a projeção de um crescimento sustentado e o compromisso de Serra com a concretização dessas vocações."

"É desejável que Serra vá a todos os Estados", recomenda o senador. Ele disse que não se planeja combater o Bolsa-Família. "Vamos tentar superar com outras propostas que agreguem mais voto do que isso. Vamos trabalhar para que os Estados tenham emprego sustentado, não emprego de Bolsa-Família."

Agripino disse que já conversou com a prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), coordenadora regional dos verdes no Nordeste. "Eu a ajudei. Já pedi o apoio dela para que trabalhe e convença os diretórios no sentido de dar apoio a Serra."

Na reunião do conselho, ficou definido que, para cada Estado, deve haver um discurso específico, focando as prioridades regionais. Também houve cobrança para enfatizar as promessas de aumento do salário mínimo, reajuste das aposentadorias e a concessão do 13.º para os beneficiários do Bolsa-Família.

Rodrigo Maia, presidente do DEM, disse que a meta é diminuir a diferença onde Serra perdeu e ampliar onde ganhou. "Não estamos disputando contra qualquer máquina, é uma máquina poderosa que não tem limites." O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que ontem recebeu em casa para um almoço lideranças do DEM e o vice de Serra, Índio da Costa, deu início a uma maratona de viagens pelo interior para pedir votos ao tucano. "Eu recebo missões e as executo nas horas de folga e nos feriados até porque não me afastei da Prefeitura."

Colaborou Fausto Macedo

Lula pôs recursos do governo a favor de Dilma, diz FHC

DEU EM O ESTADO S. PAULO

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que Lula "colocou todos os recursos do governo em favor de sua candidata", Dilma Rousseff (PT), "como nunca fez outro presidente". As declarações foram feitas à Agência Efe, em Cartagena das Índias, na Colômbia, onde participa de um seminário sobre relações políticas na América Latina.

FHC afirmou acreditar que o candidato de seu partido (PSDB), José Serra, possa ser eleito em 31 de outubro. Mas desprezou a hipótese de que, com uma possível eleição de Dilma, se reforce na América Latina a tendência que se percebe nos governos de Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador. "Embora haja uma tendência nessa direção, a sociedade brasileira é diferente", disse.

O ex-presidente chamou de "mesquinha" a estratégia de Dilma de fazer "comparações equivocadas"" com sua administração (1995- 2002), "como se tudo tivesse começado no governo Lula". "O mapa da mina foi nosso."

Chefe da estatal tem de sair, avalia Planalto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A crise política nos Correios deve fazer sua próxima vítima em breve: o presidente da estatal, David José de Matos. É consenso no Planalto que sua permanência é insustentável. Matos é o elo que resta entre Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil, e o primeiro escalão do governo.

Presidente da estatal fica em situação insustentável

Bastidores: Leandro Colon e Karla Mendes

A crise política nos Correios deve fazer sua próxima vítima dentro de algumas semanas: ninguém menos que o próprio presidente da estatal, David José de Matos. É consenso no Palácio do Planalto que sua permanência no cargo é insustentável.

Indicado por Erenice Guerra - de quem é amigo pessoal -, Matos é o elo que ainda resta entre a ex-ministra da Casa Civil e o primeiro escalão do governo Lula. É amigo de Erenice desde os tempos em que trabalharam juntos na Eletronorte.

Em junho, a ex-ministra empregou uma filha do presidente dos Correios, Paula Damas Matos, em seu gabinete - um serviço, disse ela, apenas temporário, mas com um salário de R$ 6,5 mil. Um filho de Erenice, Israel Guerra, trabalhava na Terracap, órgão do governo do Distrito Federal que já teve David de Matos como presidente. O chefe dos Correios ainda é afilhado político do deputado Tadeu Filippelli, que dirige o PMDB do DF e é o candidato a vice-governador na chapa do petista Agnelo Queiroz.

A revelação pelo Estado, na edição de domingo, de que David de Matos aprovou um contrato superfaturado em R$ 2,8 milhões para favorecer a Total Linhas Aéreas, foi a gota d" água para o presidente Lula e seus assessores em relação ao presidente dos Correios. Os documentos mostram que Matos comandou a reunião de diretoria que autorizou a contratação numa licitação que só teve uma empresa e cujo resultado financeiro ficou acima do estipulado pelos próprios Correios. Os papéis mostram o esforço do coronel Eduardo Artur Rodrigues, então diretor de Operações dos Correios, para convencer, com sucesso, David de Matos a aprovar o fechamento do contrato.

A dúvida dentro do Palácio do Planalto é se a "cabeça" de Davi de Matos deve ser entregue agora, durante a campanha eleitoral, ou somente após as eleições, quando a pressão externa costuma diminuir. O dilema segue um raciocínio político. A queda de David de Matos antes do segundo turno pode dar munição e criar um fato novo para a oposição desgastar o governo e usar o episódio na campanha contra a presidenciável Dilma Rousseff (PT).

Ao mesmo tempo, porém, a permanência dele no cargo é um risco para novas denúncias de irregularidades envolvendo um amigo e indicado de Erenice Guerra, que era braço direito de Dilma na Casa Civil. Em meio a isso, uma única certeza ronda o Palácio do Planalto: um novo presidente tem de assumir os Correios até o fim do atual governo, em 31 de dezembro.

O destino de David Matos chegou a ser debatido ontem no Planalto. "A Dilma está irritadíssima (com as denúncias sobre os Correios)", revelou uma fonte ao Estado. "O plano do David é segurar-se no cargo até depois das eleições e tentar um emprego no governo do DF, se o Agnelo ganhar as eleições. Ele tem ligações com o Filippelli, que é o candidato a vice", acrescentou.

O governo também está avaliando a demissão do diretor comercial dos Correios, Ronaldo Takahashi, em função da sua ligação com a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra.

Igreja antecipa ida de Dilma a Aparecida

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Candidata pretendia ir hoje, mas foi aconselhada pelos padres a chegar um dia antes para evitar tumulto em encontro com Serra

José Maria Mayrink

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, visitou ontem o Santuário de Aparecida, onde assistiu à missa das 9 horas, deu duas entrevistas e rezou aos pés da imagem negra da padroeira do Brasil, santa de sua devoção, conforme declarou à imprensa ao explicar o objetivo de sua peregrinação.

Dilma, que chegou à cidade de helicóptero numa manhã fria coberta de neblina, entrou na basílica nacional 15 minutos antes do início da cerimônia. Sentou-se na primeira fileira de cadeiras reservadas às autoridades, ao lado de prefeitos e deputados da região do Vale do Paraíba.

"Vamos para a casa da Mãe, vamos celebrar a vida, vamos para a casa da Mãe, Senhora Aparecida", cantavam os devotos com o coral, enquanto o celebrante, padre Rogério Gomes, se aproximava em procissão, conduzindo uma réplica da padroeira. A imagem original, que três pescadores içaram das águas barrentas do rio, em 12 de outubro de 1717, não sai de seu trono de vidro blindado, numa rampa da ala sul do templo.

Acompanhada por dois companheiros de viagem bem familiarizados com a liturgia, o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e o deputado eleito Gabriel Chalita (PSB-SP), a candidata petista seguiu o ritual sem tropeços. Com o folheto da missa nas mãos, ela recitou as orações, acompanhou os cânticos e ajoelhou-se nas horas certas.

Comunhão. Quem estranhou que a candidata do PT não tenha recebido a comunhão, como se a eucaristia fosse obrigatória para todos os fiéis, não deve ter reparado que a maioria dos 14 mil devotos presentes nas quatro naves da basílica também não comungou. "Ela fez bem, pois seria uma hipocrisia comungar apenas para se mostrar", comentou o padre César Moreira, diretor de jornalismo da Rádio e TV Aparecida.

Quando o reitor do santuário, padre Darci Nicioli, anunciou a presença de Dilma Rousseff no templo, explicando que a candidata estava fazendo uma pausa na campanha eleitoral para rezar, "porque rezar é importante", não houve nenhuma reação dos fiéis. O Santuário de Aparecida recebe frequentes visitas de políticos, com uma média de três helicópteros por semana, segundo o reitor.

Serra. Hoje será a vez do candidato José Serra (PSDB) visitar a basílica, que assistirá à missa solene das 10 horas, a mais concorrida de 12 de outubro, festa da padroeira. Serra será acompanhado pelo governador eleito, Geraldo Alckmin, católico fervoroso e natural da vizinha Pindamonhangaba, que visita sempre Aparecida. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, também está sendo esperado.

Antecipação. Dilma Rousseff pretendia vir a Aparecida hoje, mas foi aconselhada pelos padres redentoristas, guardiães do Santuário, a antecipar a viagem. "Seria complicada a presença simultânea dos dois presidenciáveis na igreja", justificou padre César, imaginando a confusão que se criaria, se eleitores de Dilma e de Serra resolvessem aclamá-los durante a cerimônia.

Mesmo assim, não foi fácil armar o esquema para recepção condigna, mas imparcial, dos dois candidatos.

A assessoria de Dilma queria, por exemplo, que ela desse entrevista coletiva junto do altar da basílica, constantemente cheia de romeiros na véspera da festa. Os padres vetaram a ideia da campanha petista e exigiram que a presidenciável falasse aos jornalistas no auditório do subsolo da basílica.

Os textos da missa - uma leitura do Livro de Judith e um trecho dos Evangelhos - exaltavam a coragem da mulher, numa referência à Virgem Maria. Os vizinhos de cadeira da presidenciável petista olharam para ela, como se a citação lhe caísse bem, quando o celebrante disse que "Judith colocou a palavra de Deus em prática para libertar o seu povo".

Depois da missa, Dilma deu uma entrevista exclusiva à TV Aparecida e em seguida uma coletiva à imprensa. Ao descer a rampa do nicho onde foi rezar aos pés da imagem da padroeira, um grupo de romeiros a recebeu na saída da basílica com palmas, cantando a musiquinha de sua campanha.

''Ninguém tem direito de dizer qual é a minha crença''

Petista disse que foi sua primeira visita à basílica, mas expressou devoção a Nossa Senhora por circunstâncias recentes

Aborto, debate na televisão e prática religiosa foram os principais temas de que a petista Dilma Rousseff tratou na entrevista coletiva de ontem de manhã, no auditório do Santuário Nacional de Aparecida, depois de assistir à missa das 9 horas, na véspera da festa da Padroeira do Brasil.

Dilma começou tendo de explicar por que decidiu rezar na Basílica de Aparecida, ao iniciar a campanha do segundo turno para as eleições de 31 de outubro.

"É a primeira vez que venho à basílica, mas tenho devoção especial a Nossa Senhora, mais especial a Nossa Senhora Aparecida, por circunstâncias recentes na minha vida. Preferiria não falar sobre isso, é uma questão pessoal. Prefiro ter uma manifestação (religiosa) mais recatada. Minha religião diz respeito à minha convicção, à imagem de Deus dentro de mim."

Mais adiante, quando um repórter insistiu no assunto, informando que do lado de fora, enquanto ela falava à TV Aparecida, um devoto estranhou sua presença ali - "pois Dilma não é católica e está fazendo do santuário um palanque" - a candidata retomou a questão. "Ninguém tem o direito de dizer qual é a minha crença. Quem pode julgar sobre crença religiosa é Deus. Eu fui por opção para um colégio de freiras. Naquela época, eu queria fazer a primeira comunhão. Sou da época em que era muito importante o retiro espiritual. Tenho uma formação religiosa muito forte.

Nos caminhos que sua vida toma, você muitas vezes faz atalhos, faz desvios, mas você sempre volta a seu caminho. Eu tive um processo recente e esse processo me fez retomar várias coisas." Dilma se referia ao câncer de que tratou há alguns meses, mas insistiu que não queria falar sobre o assunto, quando um jornalista perguntou se estava se referindo à doença.

Debate. Com relação ao debate de domingo na TV Bandeirantes, ela justificou o tom considerado agressivo que adotou ao enfrentar José Serra.

"Passei muito tempo calada, mas quando vi o tamanho que tomou essa central organizada de boatos resolvi tornar público e compartilhado o que estou sofrendo, não indo para a internet em forma de boatos, mas de forma aberta. Sempre me recusei a baixar o nível do debate e vou continuar não baixando. Quando se têm só dois debatedores, as opiniões ficam mais claras. O debate foi em alto nível, ninguém elevou o tom de voz. Meu adversário tem mania de subestimar as pessoas. Esperava que eu não apresentasse minhas propostas, que não criticasse a estratégia dele? Vamos fazer um debate de ideias e não divulgar boatos e calúnias." Dilma disse que, quando se fala que ela é favorável ao aborto, a questão é mais ampla.

"Não é sobre isso a discussão. Não acho que seja algo que se pode atribuir só à religião. A questão são os boatos. As pessoas falam e não aparecem. Tem um conteúdo eleitoral fortíssimo. Surgiu no primeiro turno. É o que faz o candidato a vice da outra chapa (Índio da Costa) e a esposa de José Serra. Quando faço crítica, faço cara a cara, olho no olho. Considero que isso é muito ruim politicamente. Este país que não conhece o ódio tem de ter convivência humana, um valor fundamental. Insistir no ódio para fins eleitorais é imperdoável."

Segundo o reitor do Santuário da Aparecida, padre Darci Nicioli, a questão do aborto tem, sim, incomodado os fiéis. "A gente sabe isso pelas conversas com os romeiros e pelas confissões." Em sua avaliação, o governo e o PT menosprezam o peso dessa discussão entre os católicos.

Ataque a rival na TV visava retirar Dilma da defensiva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A equipe de Dilma Rousseff (PT) avalia que a tática de atacar José Serra (PSDB) no debate da Bandeirantes foi um sucesso por tirar a candidata da defensiva. Para petistas, além de mostrar firmeza, Dilma colou no tucano a imagem de responsável por “baixarias” na campanha, inseriu na pauta as privatizações e mobilizou a militância.

Ataques foram "no limite do limite", avaliam dilmistas

Objetivo de petistas era ligar Serra à "baixaria do submundo da política"

Segundo QG petista, candidata corre riscos por agressividade, mas estratégia era a única saída para o momento

Valdo Cruz

DE BRASÍLIA - A equipe de Dilma Rousseff admite que ela extrapolou no tom agressivo em alguns momentos e ficou no "limite do limite" do aceitável, mas avalia que cumpriu os objetivos traçados para o debate da Band.

A campanha da petista avalia que ela atingiu três metas no debate: 1) colar em José Serra a imagem de responsável pela campanha de "baixaria do submundo da política"; 2) inserir na pauta da eleição temas como privatização de pré-sal e Petrobras e 3) mobilizar a militância.

O desempenho de Dilma foi considerado tão "satisfatório" que cenas do debate foram editadas às pressas pelo marqueteiro João Santana e ocuparam mais da metade do programas de TV de ontem da petista.

O próprio Serra também levou ao ar em seu programa ontem imagens do debate, para tentar colar na petista a imagem de "agressiva".

A expectativa agora é pelo resultado das pesquisas. A campanha petista sabe que entrou numa "zona de risco" ao atacar, mas avaliou que não tinha outro caminho.

Segundo um assessor de Dilma, é preciso trabalhar essa estratégia "com cautela" e não significa que ela será a "norma" da campanha.

A mudança de estratégia foi reforçada por pesquisa Datafolha mostrando queda na diferença entre Dilma e Serra para sete pontos. A própria candidata avaliou que precisava reagir, para expor o tucano e evitar uma desmobilização da militância.

Os petistas não concordam com a avaliação de que possa se repetir o que ocorreu com Geraldo Alckmin em 2006 -depois de atacar Lula num debate, o tucano caiu nas pesquisas.

Para um assessor de Dilma, são situações distintas. Primeiro, trata-se de uma mulher, que atacou para se defender de uma campanha contra ela. E Lula não revidou os ataques de Alckmin. Já Serra buscou contra-atacar Dilma no debate.

Nenhum dos grupos de pesquisas da equipe de Dilma para avaliar o debate classificou a petista como "ostensivamente agressiva", mas "firme e assertiva".

A edição levada ao ar ontem tem sete tópicos do debate, todos com ataques a Serra. Entre eles está a passagem em que Dilma atribui a Monica Serra, mulher do tucano, parte da responsabilidade pela "campanha de ódio" que associa a petista à legalização do aborto.

Segundo Dilma, Monica teria dito que ela é a favor da "morte de criancinhas".

A propaganda de Dilma no rádio seguiu a mudança de tom. Pela primeira vez, o programa foi dominado por ataques, afirmando que Serra não foi responsável pelo seguro-desemprego nem por introduzir os genéricos.

Para justificar o novo tom, um apresentador diz: "Fizemos de tudo pra não chegar a esse ponto. Agora, não dava mais, né? Por respeito a vocês, por respeito à verdade".


Colaborou a Reportagem Local

Homenagem à Ulisses Guimarães (6/10/1916-12/10/1992 - Discurso de Promulgação da Constituição de 88

Emprego não beneficiou os mais pobres

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Enquanto o desemprego geral caiu de 11,4% para 6,7% entre agosto de 2004 e agosto deste ano, a taxa dos 20% mais pobres saltou de 20,7% para 26,27% nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil. Já entre os 20% mais ricos o desemprego caiu de 4,04% para 1,4% no mesmo período. Os dados são de um levantamento inédito do Ipea, com base em dados do IBGE.

Desemprego cresce entre os mais pobres

Segundo estudo do Ipea, taxa na classe baixa subiu de 20% para 26% de 2004 para cá. Entre os mais ricos caiu de 4% para 1,4%

Marcelo Rehder

A parcela mais pobre da população desempregada não foi beneficiada pela reativação do mercado de trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil. Entre agosto de 2004 e agosto deste ano, a taxa de desemprego dos 20% mais pobres (com renda per capita domiciliar inferior a R$ 203,3 por mês) saltou de 20,7% para 26,27%, enquanto o desemprego total caiu de 11,4% para 6,7%.

Entre os 20% mais ricos (com renda per capita domiciliar superior a R$ 812,3 mensais) a taxa de desocupação despencou de 4,04% para 1,4% nesse mesmo período.

As informações são de levantamento inédito feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base nos dados da pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os números apontam para uma realidade mais dramática. Por si só, o forte crescimento da economia e do emprego formal não está sendo suficiente para fazer com que os mais pobres possam ter as mesmas oportunidades que as pessoas com maior renda têm de encontrar uma ocupação.

"As dificuldades enfrentadas por essas pessoas estão diretamente relacionadas com a baixa escolaridade", afirma o presidente do Ipea, Márcio Pochmann.

A questão é que o crescimento do emprego veio acompanhado de uma competição muito grande entre as empresas por trabalhadores qualificados. Quem não está preparado geralmente fica de fora.

De acordo com o levantamento do Ipea, apenas 41,8% dos desempregados mais pobres frequentaram bancos escolares por período de 11 anos ou mais. Entre os mais ricos, o número sobe para 86,1%.

Discriminação. Outro fator que também pesa contra os mais pobres é a discriminação racial, tratamento injusto que ainda persiste em alguns setores do mercado de trabalho, mesmo que de forma velada. Os dados levantados pelo Ipea indicam que só 23,3% dos desempregados pertencentes a famílias de baixa renda são brancos. Já a parcela dos desempregados de famílias mais abastadas é composta por 72,5% de brancos.

Nos últimos seis anos, o número de desempregados no chamado Brasil metropolitano caiu de 2,442 milhões para 1,6 milhão. Mas, a quantidade de desempregados de baixa renda aumentou de 652,1 mil para 667,7 mil.

"A persistir essa desigualdade, o que se pode esperar é que a distribuição dos salários vai voltar a ficar mais desigual", diz o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio. Os salários dos mais ricos vão crescer mais rapidamente do que os salários dos mais pobres. "Vai ter menos gente qualificada se oferecendo no mercado de trabalho, porque está todo mundo empregado, e as empresas vão disputar esse tipo de profissional, que é cada vez mais raro, e mais caro, no mercado", avalia.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo

Leitura de poema por Ferreira Gullar - Jogo de Idéias