domingo, 25 de setembro de 2022

Merval Pereira - O povo nas ruas

O Globo

Sociólogo e historiador avaliam a importância da participação popular na história

No ciclo de palestras sobre o Bicentenário da Independência, que incluiu uma sessão conjunta com a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira de Letras, através de palestras do seu membro, historiador José Murilo de Carvalho, e do sociólogo Sérgio Abranches, fez uma avaliação do peso da participação popular no nosso processo histórico, tanto do ponto de vista das manifestações de rua quanto da ampliação cada vez maior historicamente do eleitorado.

José Murilo de Carvalho salientou que “aumentos substantivos no número de votantes tiveram início a partir da constituinte de 1946, que iniciou nosso primeiro experimento democrático”. Em 1930 havia 1,8 milhão de votantes, correspondentes a 5% da população, e em 1964 eles eram 15 milhões, apesar de ter sido mantido na Constituição de 1946 o veto ao voto dos analfabetos, cujo número em 1960 ainda era de 57% da população.

"O experimento democrático limitou-se a 19 anos. O sistema não suportou a entrada formal e massiva de povo na política”, analisa José Murilo. Ironicamente, diz ele, houve no período de 21 anos da ditadura militar nosso maior crescimento do eleitorado. Em 1986, já votaram 65 milhões, mais do que a população total do país em 1950. “Criou-se uma situação esdrúxula: aumento do número de eleitores acompanhado da castração do poder do Legislativo”.

Bernardo Mello Franco - A arca de Lula

O Globo

Quem embarcou na arca do ex-presidente elegeu como prioridade livrar o país do dilúvio bolsonarista

Parecia a arca de Noé. A duas semanas da eleição, bichos de todas as espécies políticas se reuniram em torno de Lula. O encontro juntou oito ex-presidenciáveis, do líder dos sem-teto Guilherme Boulos ao banqueiro Henrique Meirelles.

“Existem momentos na História em que há algo muito forte em jogo”, justificou a ambientalista Marina Silva, que rompeu com o PT em 2009 e concorreu ao Planalto nas últimas três eleições. Ela definiu o voto no ex-presidente como um ato de “legítima defesa” da democracia. “É lamentável termos pessoas assassinadas porque pensam diferente, pessoas atirando nas outras dentro da igreja. Isso não pode prosperar”, afirmou.

“Precisamos evitar de qualquer maneira um segundo turno”, disse o professor Cristovam Buarque, candidato à Presidência em 2006. Ele argumentou que seria uma “tragédia” prolongar a disputa até o fim de outubro: “Serão quatro semanas imprevisíveis do ponto de vista de violência nas ruas, de fake news para todos os lados”.

João Goulart Filho lembrou o exemplo do pai, que superou as divergências com Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek para articular a Frente Ampla contra a ditadura. Os militares sufocaram o movimento, e os três morreram sem assistir à queda do regime.

Míriam Leitão - Quem é o brasileiro que vai às urnas

O Globo

A maioria dos brasileiros acha que o governo tem que trabalhar para reduzir as diferenças entre ricos e pobres e só 18% concordam que o crescimento econômico seja feito à custa do meio ambiente. Mesmo entre os que acham a administração Bolsonaro ótima ou boa, só 20% concordam totalmente com a ideia de sacrificar o meio ambiente pelo crescimento. Depois de tanta discussão sobre o voto dos evangélicos, é curioso descobrir que, entre eles, apenas 32% acham que a religião do candidato é relevante na hora de definir o voto, menos do que os 40% que discordam totalmente da ideia de que a religião do candidato é importante. Na população em geral, apenas 23% avaliam que a religião do candidato importa. As pesquisas sobre as opiniões dos brasileiros mostram que poucas bandeiras do bolsonarismo são abraçadas pela maior parte do eleitorado.

Elio Gaspari - O fantasma que ronda Ciro Gomes

O Globo

Ciro Gomes vai para o primeiro turno sabendo que não chegará ao segundo

Ralph Nader foi um tremendo sujeito. Aos 88 anos, está vivo, mas foi. Ele apareceu nos anos sessenta do milênio passado mostrando a falta de segurança dos carros americanos. Daí, tornou-se o rosto de uma figura nascente: o consumidor. Ciro Gomes nunca empunhou uma bandeira universal como Nader, mas os dois têm um ponto em comum: ambos disputaram a Presidência de seus países quatro vezes, sempre com mínimas chances de vitória.

Na última, em 2000, Nader teve três milhões de votos. Não fez maioria em qualquer estado do Colégio Eleitoral, mas teve 97 mil votos na Flórida. Lá, George W. Bush derrotou o democrata Al Gore por uma diferença de 537 votos. Essa margem foi contestada nos tribunais, mas a Suprema Corte suspendeu a recontagem, e o republicano levou a Casa Branca. Desde então, Nader carrega a cruz de ter ajudado a eleição do republicano. É uma acusação aritmeticamente justificada, pois dos 97 mil votos de Nader certamente sairia uma vantagem de 538, o que daria a vitória a Gore.

O fantasma de Nader (que está vivo, é bom repetir), ronda Ciro Gomes. É uma possibilidade lógica, na hipótese de haver um segundo turno e, como em 2018, Bolsonaro sair vitorioso.

Luiz Carlos Azedo - Confronto Lula versus Bolsonaro protagoniza semana épica

Correio Braziliense

O herói pode ser um indivíduo comum que se insere e se destaca no mundo por meio do discurso, se move quando os outros estão paralisados. Precisa fazer aquilo que outro poderia ter feito, mas não fez

Os poemas épicos surgiram na Antiguidade, porém, entraram em decadência no século XVII, quando surgiram as narrativas em prosa, o romance. Dom Quixote, por exemplo, de Miguel de Cervantes, foi uma obra revolucionária porque representou a invenção do romance e, ao mesmo tempo, desnudou a realidade. Quando Miguel de Cervantes mandou Dom Quixote viajar, rasgou a cortina mágica, tecida de lendas, que estava suspensa diante do mundo.

A vida se abriu com a nudez cômica de sua prosa, destaca o escritor tcheco Milan Kundera (A Cortina, Companhia das Letras): “Assim como uma mulher que se maquia antes de sair apressada para o primeiro encontro, o mundo, quando corre em nossa direção, no momento que nascemos, já está maquiado, mascarado, pré-interpretado. E os conformistas não serão os únicos a ser enganados; os seres rebeldes, ávidos de se opor a tudo e a todos, não se dão conta do quanto também estão sendo obedientes, não se revoltarão a não ser contra o que interpretado (pré-interpretado) como digno de revolta.”

Ilíada e Odisseia, de Homero; Eneida, de Virgílio (70 a. C.-19 a. C.); e Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões (1524-1580), são exemplos de poemas épicos. Toda epopeia clássica começa com a revelação do herói e sua temática, invocando uma divindade inspiradora do autor, que narra os feitos heroicos do protagonista. Ou seja, a inspiração é o passado, mas este serve de reverência atemporal para a História, representa o processo civilizatório. Não à toa Virgílio buscou inspiração em Homero. Roma resgatava a cultura e os padrões estéticos da Grécia Antiga, numa narrativa plena de aventuras e heroísmo.

Bruno Boghossian - Depois da vírgula

Folha de S. Paulo

Indefinição do cenário dá peso a números que variam pelos mínimos detalhes

O quadro consolidado da eleição dá peso na semana final de campanha até aos algarismos depois da vírgula. A decisão em primeiro turno ou a ida para o segundo vai depender de grandes números, como a abstenção, mas também de mudanças que podem ocorrer nos detalhes.

Os índices de comparecimento são uma preocupação para Lula e Jair Bolsonaro. O ex-presidente conta cada voto para vencer no próximo domingo (2). Já a campanha de Jair Bolsonaro teme que a chance de derrota desestimule a ida às urnas de parte de seus apoiadores.

Prever o impacto da abstenção sobre a votação de cada candidato é quase impossível. Poucos eleitores admitem a intenção de se ausentar, e outros só tomam a decisão em cima da hora. Uma maneira de buscar pistas sobre esse cenário é saber quem está com vontade de ir às urnas.

O Datafolha fez essa pergunta e apontou que quase 90% dos apoiadores de Lula e Bolsonaro têm ao menos um pouco de vontade de votar. Entre os eleitores de Ciro Gomes, 34% não têm "nenhuma vontade" de ir às urnas. No eleitorado de Simone Tebet, falta vontade a 40%.

Rubens Ricupero* - O dever dos neutros 2

Folha de S. Paulo

Escolha agora é entre a esperança ou o agravamento da barbárie

Entre justiça e injustiça, não se pode ser neutro. Com termos semelhantes a esses, que evocavam a posição de Rui Barbosa na Primeira Guerra Mundial, escrevi artigo publicado nesta Folha pouco antes do segundo turno de 2018 ("O dever dos neutros", 11/10/18).

Encontro-me na mesma posição, com a diferença de escrever antes do primeiro turno. Na época, afirmei que não podia ser neutro entre valores e contravalores, democracia e autoritarismo, meio ambiente e devastação. Tudo o que temia se revelou mil vezes pior. À luz da experiência dos horrores destes quatro anos, nem eu, nem ninguém, tem o direito de não escolher entre a esperança de um governo que salve o pouco que sobrou dos ideais da Constituição de 1988 e a continuação e o agravamento da barbárie que estamos sofrendo.

O princípio de uma terceira via não está em jogo porque ela não existe mais. Existiu antes e se chamou Marina Silva, mas foi triturada pelo moinho dos marqueteiros. Em 2018, ainda se podia ignorar que Jair Bolsonaro encarnaria a mais grave contestação ao sistema eleitoral democrático. Agora não, depois da repetição infinita da ameaça do presidente de não reconhecer nem o resultado do primeiro turno. A prudência aconselha evitar condições propícias à contestação. Quanto mais cedo e mais decisiva for a vitória da democracia, menos espaço haverá para seus inimigos.

Muniz Sodré* - Ferro-velho ao mar

Folha de S. Paulo

Porta-aviões São Paulo é vexame internacional

Tem-se dado pouca atenção à saga vexaminosa do porta-aviões São Paulo, proibido de ancorar em portos estrangeiros.

Mas isso traz à mente uma canção de mais de meio século atrás, inicialmente também proibida, de Juca Chaves: "Brasil já vai a guerra/ Comprou um porta-aviões/Um viva pra Inglaterra/ De oitenta e dois bilhões/ Mas que ladrões". Foi em 1960, quando entrou em operação o Minas Gerais, primeiro no país. A gravação só foi liberada pela censura um ano depois.

Misto de músico, crítico e humorista, o compositor divertia seu público com sátiras, geralmente sobre circunstâncias nacionais. O porta-aviões, considerado obsoleto pelos britânicos após a Segunda Guerra, tinha sido vendido assim mesmo ao Brasil, passou alguns anos de retrofit em um estaleiro e finalmente aqui aportou para gáudio geral: "Comenta o Zé Povinho/ Governo varonil/ Coitado, coitadinho/ Do Banco do Brasil/ Quase faliu". Juca marcava em cima.

Janio de Freitas - O cerco ao golpe

Folha de S. Paulo

Iniciativa fraquejara entre temores do próprio presidente ou prováveis indecisões do bolsonarismo militar

O golpe se antecipa às urnas, sob a forma de uma derrota de Bolsonaro já consumada, mas ainda a se mostrar. Como uma batalha já decidida antes do seu fim reconhecido. O golpe está golpeado de morte.

Seja como alternativa ou preventivo, o golpe de Bolsonaro fraquejara entre temores do próprio ou prováveis indecisões do bolsonarismo militar.

A inutilidade em que terminaram suas situações mais ameaçadoras indicava o improviso na protelação dos planos. E o tempo a mais não os favoreceu.

Comprovada a viabilidade da derrota eleitoral de Bolsonaro e, seguindo o modelo do ultradireitista Steve Bannon, o consequente ataque de militares ao sistema eleitoral, iniciou-se um novo processo: a formação de um ambiente internacional, sobretudo no Ocidente, em defesa da democracia no Brasil.

Até há pouco, e por desatenção ou política, imprensa e TV expuseram os fatos desse processo o mínimo possível, e meio às escondidas. Há países em que liberdade de expressão é o nome social da liberdade também de omitir e deformar.

Vinicius Torres Freire - O risco de ressaca em 2023

Folha de S. Paulo

País pode até tomar rumo, mas tem de enfrentar ajuste duro e mundo em baixa

economia mundial vai crescer menos em 2023, como começa a ficar claro nos números de consumo. Há chutes diversos sobre o tamanho da baixa, se "pouso suave" ou recessão, teses díspares sustentadas por gente igualmente esperta.

O efeito das baixas mundiais no Brasil não costuma ser muito previsível. O risco é alto, até por estarmos podres de viver na lama fria faz quase década. Não é impossível que dê certo, mas não vai chover maná nem vai ter "decolagem". Haverá frustração, não apenas por causa do vento contrário do resto do mundo.

Desde 1960, houve momentos em que a economia brasileira cresceu mais do que a média mundial. Muito mais, como em 1968-1976, no "milagre" da ditadura militar; um tanto mais, como em anos lulianos (2007-2010). Houve anos de pico ilusório, de avanço muito além do mundial, todos causados por uma mistura de exageros, anabolizantes, estelionatos e burrice, para ficar nas causas superficiais, "événementielles".

Rolf Kuntz* - Governo, sim, calango, não

O Estado de S. Paulo

Hoje sem rumo e com milhões empobrecidos, o Brasil poderá retomar o avanço a partir de 2023, se dispuser de um governo de fato

Um bife e uma salada – para todos. Com essas palavras, o ministro francês Valéry Giscard d’Estaing, magro e saudável, contou a um robusto brasileiro, numa charge publicada há algumas décadas, a fórmula da boa alimentação. Desigualdade, pobreza e fome eram temas inevitáveis, naquele tempo, quando o lagarto calango, desconhecido na maior parte do Brasil, se tornou fonte de proteína para nordestinos. A fórmula simples, comida para todos, é requisito básico da ordem civilizada. Com a mesma simplicidade, qualquer candidato poderia desenhar um programa para o novo mandato presidencial. As necessidades, agora, são elementares e singelas. A mais urgente, depois de quatro anos sem rumo, será a implantação de um governo. E governar é muito diferente de mandar e de usar meios públicos, embora esse fato, como tantos outros, seja ignorado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Governar é mais do que executar leis, administrar o dia a dia e manter a ordem. É definir objetivos, atender a demandas, desenhar planos e programas e construir o futuro. A maior parte dessas tarefas foi negligenciada a partir de 2019. O ministro da Economia, Paulo Guedes, nega a fome e acusa até o Banco Central de errar para baixo nas projeções de crescimento econômico. Mas é incapaz de ir além dos ataques e das bravatas e de apontar um rumo para o País. Nada fez, em quase quatro anos, para reverter a desindustrialização do Brasil – um dos primeiros, mais evidentes e mais importantes desafios para quem tiver de cuidar dos assuntos econômicos.

Eliane Cantanhêde - Nas pesquisas, Lula é favorito. Nos debates, Simone Tebet e Soraya Thronicke são vencedoras

O Estado de S. Paulo

As duas são candidatas a sair muito maiores da eleição do que entraram, diferentemente de Ciro Gomes

Mais uma vez, as candidatas Simone Tebet e Soraya Thronicke marcaram boa presença e foram firmes, em geral contundentes, no debate deste sábado promovido pelo consórcio que o Estadão integrou. O ex-presidente Lula fez o papelão de não comparecer, o presidente Jair Bolsonaro foi mais do mesmo, Ciro Gomes atirou a torto e a direito, Luiz Felipe d’Avila foi coadjuvante e o tal Padre Kelmon mostrou a que veio: ser linha auxiliar de Bolsonaro.

A conclusão desse resumo é que Bolsonaro parecia até seguro, mais à vontade do que em debates anteriores, mas não brilhou, como não brilharia, e nem ao menos se destacou, como precisava desesperadamente. Logo, não ganhou um único voto a mais, não reverteu a tendência das pesquisas nem mesmo anulou o risco de derrota em primeiro turno.

Dorrit Harazim - Após um longo inverno, a eleição

O Globo

Será um privilégio duplo estarmos vivos no próximo domingo, 2 de outubro: poderemos saudar a primavera de 2022

Primeiro domingo de primavera no Brasil. Corpo, alma e mente da nação estão com a sensibilidade a mil. E nossas variadas peles e poros cívicos não escondem a ebulição. Hora de acolher a estação imortalizada por Botticelli na Renascença, em tela magnífica. Na Calota Norte, onde os rigores do inverno são inclementes, dá-se valor máximo ao fim da escuridão invernal. Lá, bem antes de a temperatura se mostrar amena, o povo já vai se libertando das muitas camadas de roupa em que ficou aprisionado. Vai logo saindo às ruas — alegrão, de boa, com braços e pernas expostos. Aqui, onde o inverno é relativamente manso, e a temperatura negativa registrada anteontem em Santa Catarina deveria ser mera doideira climática, tivemos um longo inverno de quatro anos. Será, portanto, um privilégio duplo estarmos vivos no próximo domingo, 2 de outubro: poderemos saudar a primavera de 2022 depositando nosso voto na urna eletrônica — aquela que faz um estribilho gostoso de ouvir e é invejada mundo afora.

Cacá Diegues - Falta uma semana

O Globo

Há mais de cinco séculos procuramos um rumo de nação decente para o Brasil, mas sempre somos traídos pelos acontecimentos

Agora só falta uma semana. Domingo que vem, estaremos todos votando no primeiro turno de uma nova eleição presidencial. A coisa vai estar entre a reeleição do presidente Jair Bolsonaro e a volta ostensiva do ex-presidente Lula da Silva. Que o próximo governo possa sanar os males que sofremos nesses últimos quatro anos.

Não posso esquecer do que dizia o filósofo e cientista político Mangabeira Unger, depois da eleição de Bolsonaro, em 2018: aquela era uma “resposta tosca” à aspiração legítima de um Brasil profundo. Passei grande parte do tempo tentando descobrir que “aspiração legítima” era essa. O eleitor se encantara com o estilo, não com o recado do novo presidente. Acho que era isso.

Cristovam Buarque* - Aglutinador

Blog do Noblat / Metrópoles, 24.9.22

Os antigos adversários de Lula agora perguntam por que esperar o dia 30, se o Brasil pode resolver a eleição no dia 02 de outubro

Nesta semana, Lula fez reunião de ex-candidatos a presidente que disputaram com ele no passado, e agora o apoiam desde o primeiro turno. A principal razão para isto, é que desta vez o segundo turno será contra o abismo que representa a reeleição do atual presidente. Os antigos adversários de Lula agora perguntam por que esperar o dia 30, se o Brasil pode resolver a eleição no dia 02 de outubro. Evitando inclusive o imponderável que pode ocorrer durante as quatro semanas entre os dois turnos.

Este foi o principal, mais urgente e mais visível recado daquela reunião. Mas havia outro implícito: mostrar que além da unidade eleitoral contra a reeleição, há um reconhecimento e um otimismo diante da capacidade de Lula para aglutinar forças divergentes.

Ricardo José de Azevedo Marinho* - As Salsichas e as Leis Orçamentárias

Atribui-se a Otto von Bismarck (1815-1898), que foi Primeiro-Ministro da Prússia (1862-1890), Chanceler da Confederação da Alemanha do Norte (1867-1871) e Primeiro Chanceler do Reich Alemão (1871-1890), a famosa frase: “Os cidadãos não poderiam dormir tranquilos se soubessem como são feitas as salsichas e as leis.”

Os amantes de expressões idiomáticas conhecem Bismarck como o criador de inúmeras imagens linguísticas de igual naipe. Algumas metáforas são vinculadas a ele (por exemplo “ferro e sangue”). Outras parecem ser efetivamente dele, conforme o texto e o contexto acabam por se encaixar. No entanto, muitas não podemos comprovar.

Um dos bons motes e mais conhecidos é essa atribuição que se encaixa bem em face a longeva distância (e talvez não totalmente imprecisa) de Bismarck em relação aos procedimentos legislativos parlamentares, para o arrepio de Max Weber (1864-1920). Mas, com um olhar para o mundo gastronômico, Bismarck teria dito mesmo essa frase à qual nos reportamos acima.

Sérgio Augusto - O malandro das letras

O Estado de S. Paulo, 24.9.22

Cronista inimitável, Sérgio Porto se alimentou da cultura do asfalto, dos morros e dos subúrbios

O Portal da Crônica Brasileira, relicário virtual do Instituto Moreira Salles, ganhou uma nova preciosidade: a prosa jornalística de Sérgio Porto (1923-1968) e seu heterônimo Stanislaw Ponte Preta. Lalau é o segundo gaiato incorporado àquele acervo; o primeiro foi Ivan Lessa.

Nenhum outro humorista superou o “filho de Dona Dulce” em popularidade e ubiquidade nas décadas de 50 e 60. Ativo no rádio, no teatro e na televisão, parecia estar em todos os jornais e revistas, a escrever e dizer coisas engraçadas, rindo dos poderosos e levando às últimas consequências sua precoce vocação para gozar o resto da humanidade. Tinha apenas 5 anos de idade quando, ao avistar uma mulher de fartos seios, comentou com a mãe: “Aquela ali tem leite condensado”.

Não livrava a cara de ninguém. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, proporcionaram-lhe duas tiradas memoráveis. Uma escrita e publicada: “Se fosse inocente, não precisaria de testemunha”. Outra apenas dita, no meio da rua, a um grupo de incômodos proselitistas: “Como posso ser Testemunha de Jeová se eu nem vi a briga?”.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

A relevância política dos evangélicos

O Globo

Aproximação entre religiosos e políticos merece atenção quando ameaça o caráter laico do Estado

São óbvias as razões que levam Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro a cortejar o apoio de evangélicos. Como mostrou uma série de reportagens no GLOBO, no começo da década de 1990 havia 30 mil templos em todo o país. De lá para cá, o número pulou para mais de 178 mil. Na ausência de um Censo recente, não se sabe ao certo quantos professam tais religiões. Os institutos de pesquisa estimam em cerca de 25% dos eleitores. Se, há três décadas, políticos em busca de votos já faziam peregrinação por igrejas de diferentes denominações, hoje a atenção se tornou prioridade.

Nem sempre esse interesse é benigno. O proselitismo político em templos deveria ser evitado por todos. Infelizmente não é assim. A Igreja Católica tem regras sobre a participação de sacerdotes em disputas eleitorais. Em várias denominações evangélicas, porém, religião e política se confundem. Não há problema se candidatos defendem valores de sua religião ou se pastores prestam apoio a candidaturas fora de suas atribuições sacerdotais. O problema começa quando se usa o púlpito para pedir votos ou quando se quer influir em políticas públicas em favor de medidas que ameaçam o caráter laico do Estado. É por isso que a aproximação entre os religiosos e a política merece atenção permanente.

Poesia | 5 Frases de Bertolt Brecht

 

Música | Coral Edgard Moraes e Almir Rouche - Além da quarta-feira